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Boa tarde, Argel Fucks
Como bem assinalou o Corneta Colorada, nenhuma previsão é demasiadamente pessimista quando o assunto é o Internacional. Sabemos que o Campeonato Gaúcho caiu em nossas mãos em razão da incapacidade do Grêmio de chegar a outro lugar que não seja a Arena e sabemos que tu, Argel, és é ainda nosso técnico em razão… Bem, aí eu já desconheço o motivo.
Ontem, tu bateste todos os recordes. Com Anderson fora, recuaste Sasha para colocar Aylon. Ora, isso é mudar a característica do time, é mudar o esquema. Por pior que esteja, o substituto de Anderson é Alex, sempre Alex. E ele não estava nem no banco… Mais: em vez de colocar 12 reservas, como o regulamento do Brasileiro permite, colocaste só 7… E ainda cometeste mais duas piadas dignas de um verdadeiro pateta.
(1) Escalaste Paulão para bater o pênalti. Ora, Paulão é um de nossos melhores jogadores de 2016, mas convidá-lo para bater pênaltis é uma absoluta demasia. Ele não é bom do ponto de vista técnico e ontem estava especialmente atrapalhado, com saudades dos atacantes mansinhos do Gauchão.
(2) Retirar o centro-avante Aylon para colocar William na lateral esquerda e Gustavo Ferrareis no ataque (com a saída de Artur) foi digno da imensa gargalhada que dei na hora.
O Inter fez 30 cruzamentos para a grande área. Este talvez seja outro recorde, mas é antes outro absurdo, considerado-se que visavam Aylon e um grupo de jogadores não muito altos. O goleiro da Chapecoense consagrou-se, é claro.
E houve aquele momento-vexame dos times sem comando: em uma falta a favor do Inter, ninguém foi fazer a cobrança. O árbitro mandou que o mais próximo desse continuidade ao jogo. Ou seja, assim como qualquer um bate pênalti — e erra –, qualquer um serve para bater faltas no meio-de-campo.
Nosso time é uma pândega e só estou aguardando que tu caias, Argel. Já são 10 meses que nosso clube — altamente profissional em algumas áreas — deixa o futebol nas tuas mãos, um amador que faz marketing de suas qualidades nas entrevistas coletivas pós-fiascos.
Na boa, #ForaArgel.
https://youtu.be/r1kTsWGjDXQ
Momento Bolsonaro: Este é um país que vai pra frente / Eu te amo, meu Brasil
O primeiro vídeo é uma propaganda cívica da época da ditadura militar, desencavada pelo meu amigo Fernando Guimarães. Passava na TV a cada intervalo comercial e todos a conheciam de cor. Coloquei-a ontem no Facebook e um bando de gente veio dizer que lembrava da letra… “Este é um país que vai pra frente, Ô Ô Ô… De uma gente amiga e tão contente Ô Ô Ô… Este é um país que vai pra frente / De um povo unido de grande valor / É um país que canta, trabalha e se agigante / É o Brasil de nosso amor”. É inesquecível para quem tinha via televisão na época. Que morte horrível.
https://youtu.be/3H8Q5ONl3IA
O segundo vídeo é mais longo e entrava só pelo rádio, acho. Ouvíamos a toda hora “Eu te amo, meu Brasil” com Dom e Ravel (primeira versão) e depois com Os Incríveis que, aparentemente, quiseram gravá-la. Como a primeira, é uma marchinha. Fez enorme sucesso, embora jamais tocasse em minha casa, é claro. Era uma “arte” paralela incentivada pelo governo numa época de ouro de nossa MPB. Enquanto algumas rádios tocavam Chico, Tom, Caetano, Milton, etc., outras, mais populares batiam no civismo, e na promoção do amor ao país. Enquanto isso, havia o bipartidarismo que deu origem ao atual PMDB e a tortura grassava..
Porque hoje é sábado, agora é que são elas
Ashley Ann Vickers não é Ministra do Desenvolvimento Social e Agrário
quem ocupa este cargo é Osmar Terra,
que foi ao Uruguai advertir Mujica sobre os perigos da maconha.
Cristina del Basso não é Ministra da Justiça e Cidadania no governo Temer,
mas sim o linha-dura liberticida Alexandre de Moraes.
Trata-se de um rolo compressor, tem a cara da ditadura, parece o ovo da serpente.
Emily Blunt não é Ministra da Casa Civil
Emmy Rossum não é Ministra do Trabalho.
O Ministro que vai tentar pulverizar a CLT é Ronaldo Nogueira do PTB, Read More
Porque hoje é sábado, Maria Schneider
Se a vida tivesse alguma lógica
jamais deixaria sucumbir tão cedo
Jack Nicholson deve tê-lo amado.
Antonioni reconheceu-o (Clapton também?).
que parecia preferir esconder. Read More
Antecipamos a foto oficial do presidente Temer
Maquiavel já sabia
Maquiavel ensina que o pior tipo de principado é o herdado porque o príncipe não teve qualidades pessoais para conquistar o poder. Ele lhe caiu nas mãos e seu reinado será marcado pela instabilidade, já que diante da crise o príncipe não saberá como agir, pois não foi preparado para isso.
E Carla Bley faz 80 anos…
Se há uma artista que amo e com quem gostaria de passar horas conversando, esta é Carla Bley, que hoje completa injustos 80 anos. Nunca vou esquecer do dia em que ouvi pela primeira vez o som de uma das suas Big Bands. Cheguei tarde. Eu a conheci apenas em 1996, quando comprei o CD The Carla Bley Big Band Goes to Church. E eu tinha comprado aquele disco da ECM só para experimentar, nem sabia direito quem era ela e aquele nem era o melhor de seus discos. Depois, comecei a ouvir todo o resto. Desconheço artista capaz de maior variedade. Ela vai do tradicional ao nunca dantes, do tango ao hip hop, do camerístico ao sinfônico, do clássico ao popular com absoluta naturalidade, classe e humor. A amplitude do que escrevo não é exagerada, é bem calculada, ouça e comprove.
Um dos fatos que garante minha profunda admiração por esta extraordinária artista criativa — e quem a conhece sabe porque faço questão de chamá-la de criativa — ocorreu ontem. Fiquei na rua durante um concerto da Ospa porque Paulo Moreira estava apresentando algumas de suas obras na FM Cultura. Querem mais? Quando eu estava ali, o trombonista Julio Rizzo passou por mim e perguntou o que eu estava fazendo. Depois de informado, ele pôs a mão na boca, contraiu o rosto e disse:
— A Carla é muito foda, cara! Mas 80 anos??? Já?
Pois é, quem ouve a música e as entrevistas de Carla Bley sabe de sua juventude. Hoje é um dia triste para democracia brasileira. Imaginem que acabo de ouvir um discurso 100% filha-da-puta e mentiroso da senadora Ana Amélia, mas vou tentar abrir um espaço para Carla Bley. Pois, como escreveu hoje o Sérgio Karam em seu Facebook:
É provável que hoje seja o dia da institucionalização definitiva (?) do golpe, com uma votação no Senado que tem toda cara de tragédia anunciada. Lamentável, portanto, que esse dia coincida com o aniversário de 80 anos de uma das mentes mais criativas, generosas e libertárias do mundo musical, a querida Carla Bley, compositora inimitável e ser humano especialíssimo. Um brinde carinhoso a ela, apesar de tudo, desejando que possa ainda escrever muitas outras obras-primas, para alegria de seus ouvintes. (A foto, recente, é de Lauren Lancaster neste artigo do NYT.) Cheers!!!
O golpe está dado, resta-nos a reação
O golpe está dado. Vivemos numa republiqueta latino-americana onde um gangster, Eduardo Cunha, aglutina interesses da Fiesp, bancos privados, empreiteiras, EUA, multinacionais do petróleo, fundamentalistas evangélicos, etc. — todos auxiliados por uma imprensa que os governos petistas só fizeram adubar — e faz cair um governo. E não pensem que morro de amores por Dilma.
As forças econômicas atuam à revelia da democracia e da sociedade. Alguns ridicularizaram Paraguai e Honduras. Hoje, somos iguais. O desfecho da história está decidido há meses. O que nos resta agora é a luta diária em todos os espaços.
Espero que o governo Temer não tenha paz, pois se tiver, meu amigo, prepare-se. A insegurança jurídica já está aí, tendo em vista a posição facciosa das instituições que deveriam zelar pela ordem democrática. Haverá forte tentativa de retrocesso social.
Mais: o governo Temer procurará reduzir em muito os direitos sociais e trabalhistas conquistados em lutas de várias décadas. Infelizmente, prevejo greves, perdas, instabilidade e violência.
E, mesmo com a notória exceção dos EUA, o mundo já nos trata como merecemos: como um paisinho instável de segunda classe. Com nosso Congresso BBB (Bala, Boi, e Bíblia), votado por uma maioria inteiramente apolítica, é o que somos mesmo.
As especulações sobre os futuros Ministérios são de arrepiar. Vai dar até para esquecer Katia Abreu na Agricultura, que será substituída por Blairo Maggi, o Rei da Soja… O nível é rasante, cheio de velhos conhecidos nossos.
Hoje não é dia do enterro do PT, é o dia do enterro de 24 anos de estabilidade de um discutido presidencialismo de coalizão. Por ironia, esse período teve um impeachment em seu início e terá outro em seu final.
Os próximos dois anos podres, violentos e, fundamentalmente, necessários apenas para que permaneçamos como nação periférica e desigual.
Uma pena.
Ao comentar o golpe no Paraguai, em 2012, Galeano descreveu o golpe no Brasil
Faltando poucas horas para a deposição de Dilma pelo Senado, vale recordar as palavras do já falecido Eduardo Galeano registradas em 2012. Ao tratar do golpe realizado no Paraguai, o intelectual fez ponderações dignas de um exímio observador político e que se aplicam perfeitamente ao atual quadro brasileiro. Os processos são idênticos, assim como as forças que os regem. Seria o Brasil capaz de trilhar outro destino, ou se trata de uma luta perdida contra poderes inabaláveis?
Neste momento é bom recordar uma entrevista de Eduardo Galeano, do ano de 2012, para a revista La Garganta.
Ao tratar dos golpes realizados no Paraguai e em Honduras, quando os presidentes Fernando Lugo e Manuel Zelaya foram depostos, o falecido escritor fez ponderações dignas de um exímio observador político e que se aplicam perfeitamente ao atual panorama brasileiro. Os processos são muito semelhantes, assim com as forças que os regem.
Neste contexto, considerando que Dilma ainda terá 180 dias para se defender e tentar voltar à Presidência, cabe a reflexão: seria uma Brasil capaz de trilhar outro destino, ou se trata de uma luta perdida contra poderes inabaláveis?
Relembre as palavras de Eduardo Galeano:
Historicamente, o Paraguai foi arrasado por crimes de independência por ser o único país de fato livre, de fato independente, que não nasceu da dívida externa como nasceram outros países da América Latina.
Paraguai tinha uma organização interna do trabalho e dos direitos dos trabalhadores, que era inviável para o resto dos latino-americanos.
No Paraguai, não havia fome, nem analfabetismo e o que havia era um sentido de dignidade nacional. Depois da derrota, quando a Tríplice Aliança arrasou o país, perderam isso. Os poucos sobreviventes do extermínio do Paraguai receberam o país mais heroico de todos. E os invasores desenvolveram uma enorme dívida com os banqueiros que financiaram o extermínio.
O golpe que acontece agora [2012] no Paraguai ocorre porque houve um governo que quis recuperar essa tradição de dignidade, que como dissemos, não estava morta.
Então Fernando Lugo [presidente deposto] tentou, muito timidamente, iniciar algumas tímidas mudanças para que o Paraguai voltasse a ser o país mais independente, mais justo, e isso foi um pecado imperdoável, do ponto de vista dos donos do poder.
Simplesmente ocorre algo similar cada vez que há tentativas de mudar as coisas, porque isso se vive como uma ameaça sob o enfoque dos donos da ordem estabelecida, que não querem que nada mude.
Eles vêem como um perigo, uma ameaça, ainda que na realidade não fosse um perigo grave, porque nem em Honduras, nem no Paraguai havia presidentes envolvidos em revoluções muito profundas.
Apenas anunciaram que começavam a fazer, ou que tinham a intenção de fazer alguma reforma. Se isso bastou para derrubá-los, o que quer dizer é que é um veto, que suponho que vem de cima, que está para além dos governos, ou que há quem governe esses governos, governados do exterior e de cima.
Os golpes vão se incubando aos poucos e com o apoio dos meios dominantes de comunicação.
Mendelssohn — A Sinfonia Nº 5, "A Reforma"
Se há uma obra que me emocione ao ponto de eu ficar me controlando é esta “A Reforma” de Felix Mendelssohn-Bartholdy. Isso por várias razões: a primeira é sem dúvida a forma como o compositor faz a releitura do Bach sacro. A obra é um elo entre o barroco perdido e o classicismo, tendo sido composta para comemorar os 300 anos da Reforma Religiosa, em 1830. É a sinfonia mais austera de Mendelssohn, que tratou de olhar para o passado da música alemã e nele viu a imensa e protetora sombra de Bach. Não apenas o movimento final é baseado no hino luterano Ein’ feste Burg ist unser Gott — também utilizado por Bach na célebre Cantata BWV 80 e aqui anunciado por uma flauta — , como o primeiro movimento leva o chamado “Amém de Dresden”, depois utilizado por Wagner no Parsifal. “A Reforma” foi publicada em 1868, depois da morte do autor, e sua estreia foi somente em 15 de novembro de 1832. A intenção de estreá-la em 1830, nas comemorações do tricentenário da Confissão de Augsburgo (1530), fracassou por motivos políticos. Ficou uma belíssima sinfonia, séria e cheia de elementos retirados da liturgia protestante. Curiosamente, Mendelssohn dizia-se insatisfeito com a obra, mas ainda bem que não sofria da Síndrome de Bruckner, deixando-a chegar até nós sem revisões. Nos movimentos rápidos, há claros ecos de beethovenianos. Compreensível. Afinal, o mestre tinha falecido 3 anos antes.
É incrível a sensação que tenho no final do primeiro minuto do terceiro vídeo. Parece que vai surgir um coral de Bach. Confiram.
Mesmo para um incondicional ateu como eu, a música, além de bela, tem tamanho referencial histórico que é irresistível ouvi-la e reouvi-la como se estivessem me ditando uma História de Música com a mais alta temperatura emocional. O grande Ton Koopman, experiente regente de Cantatas de Bach e da música barroca, está inteiramente à vontade. E muito feliz.
Bom concerto!
Inter é hexa e Sasha dança a valsa dos 15 anos com a bandeira de escanteio
A Elena disse que eu vibrei mais com os gols do Rosario Central do que com os do Inter ontem. Deve ter razão. O gol de Sasha foi um alívio, foi a obrigação cumprida, a certeza de que não passaríamos por um fiasco. Já os do RC foram puro divertimento.
Ainda considero o Gauchão uma espécie de antepasto. Só que o jantar, meus amigos, não vem há décadas. Então gostaria de projetar o Brasileiro e a Copa do Brasil.
O Inter não joga bonito. É um time realista, pragmático. Marca bem, tem uma defesa que foi se consolidando durante o campeonato e que hoje é complicada de suplantar. Paulão e Ernando acertaram-se, apesar de não terem bons reservas. Fernando Bob e Fabinho são excelentes (e temos Dourado voltando). E, quando a coisa aperta, temos-tínhamos Alisson, um goleiraço. Os laterais William e Artur passaram a jogar e, se fossem todos acompanhados por atacantes de bom nível, teríamos um time bem perigoso.
E a tendência é esta: a de termos um time difícil de ser vencido e que explora o contra-ataque e a bola aérea para chegar aos gols. (Detesto hexas equipes duras de matar, principalmente quando estão do outro lado…) Neste sentido, a contratação de Ariel não é uma esquisitice, mas uma declaração de princípios. Não vamos jogar bonito. Ponto.
Acho que a contratação de Danilo Fernandes para o lugar de Alisson foi perfeita. Era a melhor opção dentro do Brasil. Nilton deve retornar e espero que não tome mais remédios para emagrecer. Mike talvez se una a um grupo de atacantes que deve ter seus destaques em Vitinho, Valdívia e Andrigo. A contratação de Anselmo preocupa, pois talvez signifique a venda de Dourado. Seijas é um excelente armador para alternar com Anderson.
Há que ter grupo para levantar as taças do segundo semestre. Grupo bom e grande. O Brasileiro não é nosso há 37 anos, a Copa do Brasil há 24. Já entramos como favoritos diversas vezes e quase sempre ficamos em nossa posição natural e desconfortável de oitavo clube do país. Talvez seja bom entrar como coadjuvante esforçado este ano.
A gozação de Sasha ao dançar uma valsa pelos 15 anos sem títulos do Grêmio foi muito engraçada, mas lembremos que o Gaúcho não faz parte da contabilidade gremista sem títulos. Então não pode fazer da nossa e estamos há 5 anos sem nenhum título…
Porque hoje é sábado, Sharon Tate na cama elástica
Don’t Make Waves (1967), de Alexander Mackendrick. Além de Sharon, o filme traz Claudia Cardinale e Tony Curtis, que pode também ser visto abaixo. Sharon Tate, mulher de Roman Polanski, foi brutalmente assassinada em 1969, grávida de oito meses, durante um “ritual satânico”, por Charles Manson, até hoje preso na California.
https://youtu.be/zu62I9Pi_UQ
Porque hoje é sábado, Lídia Brondi
Trabalha comigo o fauno e viking deísta Igor Natusch.
Ele me fez uma singela encomenda: um sábado com Lídia Brondi.
Já que não posso satisfazê-lo em 3 dimensões, faço-o em duas e espero
que ele aprecie. Os anos 70 e 80, Igor, eram bem diferentes.
Não se falava tanto em desmatadamento da Amazônia,
não se usavam camisetas pretas de bandas heavy
e o mundo da TV contrastava de forma peculiar dos porões da ditadura.
Lídia Brondi — como ninfeta, jovem e mulher — é um dos mais fortes e duradouros
símbolos sexuais da época. Creio que tu, hoje na faixa dos 30 anos,
deves tê-la conhecido num desses “Vale a pena ver de novo” vespertinos
de tua adolescência. Read More
Larry Pinto de Faria (1932-2016)
Hoje, o Inter anunciou a morte do grande centroavante Larry (Pinto de Faria). Ele fez 176 gols pelo Inter e participou do surpreendente Gre-Nal de inauguração do Estádio Olímpico. O Grêmio esperava ganhar e tomou 6 x 2, em um fiasco que os antigos não esquecem. Naquela partida, Larry marcou quatro vezes. Meu pai ria muito descrevendo o jogo. De estilo clássico e cerebral, Larry marcou época no clube. Lembrei desta excelente reportagem que o Impedimento fez com o ex-atacante em 2012, quando ele estava prestes a completar 80 anos e enquanto seu palco, o Estádios dos Eucaliptos, era derrubado.
O cerebral Larry no Estádio dos Eucaliptos – um documento
De repente, não mais que de repente, sem cerimônia nem anúncio no jornal, as máquinas adentraram o campo santo dos Eucaliptos e começaram seu trabalho. Deve ter sido numa sexta-feira, quando as preocupações de todos estão mais voltadas ao que fazer do fim de semana. De forma mecânica, rápida e compassada, as máquinas arrancaram gomos espessos de tijolo e concreto do mítico estádio do Internacional, processo que não durou mais que cinco dias. Desaparecia, fisicamente, a memória do Rolo Compressor, do Rolinho, do gol em plano inclinado de Carlitos, da Copa do Mundo de 1950, das arrancadas de Tesourinha, das pestanas tiradas por Charuto durante as partidas, da entrada triunfal da cabrita Chica no meio da torcida, da zaga intransponível de Alfeu e Nena, das tabelas fatais entre Bodinho e Larry, que ficou para contar a história.
Fazia muito calor e não havia nuvens naquele começo de tarde de terça-feira, 14 de fevereiro, quando Larry Pinto de Faria desceu do automóvel, que dirigia de próprio punho, reclamando em tom de brincadeira do horário da entrevista, que lhe obrigara a encurtar a sesta sagrada. Aos 79 anos, Larry merece que lhe respeitem o horário de descanso. Mas fora o contratempo, encontrou uma sombra no meio do canteiro de obras, sentou e conversou por quase uma hora com o Impedimento.
O gol que considera o mais bonito, a estreia nos Eucaliptos, a ovação da torcida, a convivência com os colegas no alojamento do estádio, a vida construída em Porto Alegre, o amor por apenas um clube e por que no futebol há coisas mais importantes que o dinheiro. Tudo isso foi dito por Larry neste documento de 30 minutos, gravado com o microfone “vazando” na imagem por conta do barulho das máquinas, que durante a entrevista destruíam o que restava da casa e do palco principal do cerebral Larry.
Natural de Nova Friburgo e oriundo do Fluminense, Larry chegou ao Inter em 1954 para pegar experiência. Acabou ficando no clube até 1961, marcando 176 gols e se tornando um dos maiores artilheiros da história colorada. É também o último remanescente do Rolinho, como ficou conhecido o time que foi a sequência do grande Rolo Compressor. Depois de encerrada a carreira de jogador, ainda foi vereador por quatro mandatos e secretário municipal de Porto Alegre. Nos dias atuais, desempenha com cortesia e generosidade o papel de memória viva do Internacional dos anos 50 e do Estádio dos Eucaliptos, o grande estádio do futebol gaúcho naquela época.
Assistam o vídeo, dividido em três partes:
Cunha caiu no dia do aniversário de Marx
Em nova humilhação aos cientistas brasileiros, Ciência e Tecnologia irá para um Bispo da Universal
O homem que está com o microfone na mão na foto acima chama-se Marcos Pereira. É presidente nacional do PRB, bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus e será o ministro de Ciência e Tecnologia do governo Michel Temer / Eduardo Cunha. A pasta parece ser uma permanente humilhação aos cientistas brasileiros. Há sete meses, Dilma entregou o Ministério da Ciência e Tecnologia a Celso Pansera, do PMDB fluminense. O deputado entendia pouco da área, mas tinha um restaurante chamado Barganha.
Agora, Temer ofereceu a pasta da ciência a um bispo da Igreja Universal, que prega o ensino do criacionismo e nega a teoria da evolução. O objetivo do vice é garantir o apoio da igreja e de seu partido, que tem 22 deputados e um senador. O PRB era aliado de Dilma, mas mudou de lado às vésperas do impeachment. É novíssima República Teocrática do Brasil, gente!
Ao ser perguntado sobre o que ele achava da Teoria do Evolucionismo, o futuro Ministro respondeu:
— Eu respeito.
Concerto da Ospa tem desnecessários insultos de cunho sexista
É claro que Carla Cottini é bonita e eu estou longe de ser insensível à beleza das mulheres, só que há limites para as expressões de admiração, ainda mais dentro de um teatro. Quem chama de gostosa na rua ou assobia, na verdade está proferindo um insulto. Não tem graça, não aproxima, não nada, é pura ofensa, é dizer e sair correndo. Dia desses, uma colega reclamou que, toda vez que come um picolé na rua, ouve as óbvias grosserias associadas ao ato de lamber. Chamar de gostosa num momento íntimo é uma coisa, ser chamada de gostosa por desconhecidos é outra. É a falsa cantada que revela não somente descontrole e impaciência, mas também desinteresse real, agressividade, frustração e raiva por não poder meter a mão. E não pode mesmo, meu amigo. Acreditava que tudo isto estava claro, ainda mais para uma plateia que vai ver uma Cortina Lírica no Theatro São Pedro.
Pois ontem o soprano Carla Cottini apresentou-se no velho teatro com a Ospa. Linda, num raro vestido de bom gosto, ela ia mostrar sua arte e oferecer sua voz, não seu corpo. (Explico o “raro”: as divas costumam exagerar e ultrapassar por metros a linha da elegância. Ela não.) Mas recebeu assobios de significado inequívoco em sua primeira entrada e, depois, quando concentrava-se para soltar a voz, um espectador atroz largou um suspiro daqueles bem vulgares e inoportunos. Carla respondeu com um sorrisinho sem graça e tratou de ser profissional. Conseguiu.
Intermezzo: O público do Theatro São Pedro é de contumaz baixo nível. Aplaude entre os movimentos, faz comentários em voz audível, etc. É bem diferente do que acontece na Ufrgs. Fim do intermezzo.
Para mim, é um prazer ver uma bela mulher, ainda mais quando canta maravilhosamente como Carla. Também é um prazer ver qualquer um ou uma cantando maravilhosamente, mas confesso preferir o primeiro caso. Porém, quando um machinho imbecil assobia ou faz sons pseudo-sensuais em pleno teatro, não é engraçado e ainda faz com que todo fascínio caia escada abaixo. É bagaceiro, nada tem a ver com a arte. Agora, meu amigo, se tu precisas mesmo homenagear a moça, há bons banheiros no Theatro São Pedro e eles aceitariam silenciosamente tua masturbação. E seria menos escroto.
.oOo.
O clarinetista da Ospa Augusto Maurer, presente no concerto, já tinha escrito o mesmo em seu perfil do Facebook:
Sabem quando se sente vergonha alheia? Como ontem, no apupo à soprano por parte de um engraçadinho na cortina lírica da OSPA no Theatro São Pedro.
Só hoje li, ao arquivar o programa (pois presto pouca atenção a currículos artísticos, facilmente maquiáveis), que a moça, assídua solista nas raras casas de ópera nacionais, estudou canto na Espanha e também tem formação em artes cênicas, ballet clássico e jazz. Juro que não sabia onde me esconder. Orgulho de ser gaúcho.
Teoria Geral do Esquecimento, de José Eduardo Agualusa
“Os dias deslizam como se fossem líquidos. Não tenho mais cadernos onde escrever. Também não tenho mais canetas. Escrevo nas paredes, com pedaços de carvão, versos sucintos. Poupo na comida, na água, no fogo e nos adjetivos.”
Tive minha atenção chamada para este livro de José Eduardo Agualusa em função da shortlist do prêmio literário britânico Man Booker International, que premia o melhor livro lançado no ano anterior em língua inglesa, incluindo as traduções. Ele ficou entre os seis melhores de 2015. Uma lista absolutamente entusiasmante, segundo o The Guardian. Este livro de Agualusa é de 2012, mas foi traduzido para o inglês apenas no ano passado.
Teoria Geral do Esquecimento conta a história de Ludovica, ou Ludo, uma portuguesa que vive em Angola em 1975. Quando ocorre a independência do país, ela se vê sozinha sem saber o que aconteceu à irmã e ao cunhado, com quem mora. Eles, como tantos outros, somem. E ela se isola de forma inusitada, evitando que seu enorme apartamento seja invadido. Para conseguir isso, ergue uma parede que a mantém fechada em casa durante 28 anos. De forma distorcida, porém estranhamente clara, o que acontece em Luanda, capital de Angola, ainda lhe chega. Bela parábola, Teoria Geral do Esquecimento é um romance sobre a sobrevivência, o medo do outro, o racismo e a xenofobia, tudo isso milagrosamente condensado. A violência da Guerra Civil — que durou de 1975 a 2002 — não está ausente do livro.
O curioso é que Agualusa concebeu este romance para ser filmado. O filme nunca saiu, mas o romance-filme pode ser pressentido, tanto em seu conteúdo como na forma que monta seus personagens em cenas sem nexo aparente num primeiro momento. Essas histórias aparentemente isoladas, no caos de uma guerra civil, vão se unindo. Cada capítulo amarra um ponto a outro, construindo relações e uma história de poesia dura e sensível. Tudo acaba num vaudeville que não pretendo contar… A impressão causada é espantosa. Apesar de tecido sobre as dores, a violência e o preconceito de uma guerra, é um romance leve, um livro que poderia ter sido escrito no Brasil, se tivéssemos Agualusas por aqui.
Recomendo.
(Livro comprado na Ladeira Livros).
Prince era um músico
Vamos a um auto-elogio? Eu estou longe de ter o melhor ouvido do mundo, mas se há algo que consigo fazer no mundo dos sons é reconhecer um bom músico. Eu não acompanho a música pop, só que quando Prince me bateu no ouvido, ficou. Cheguei a comprar três ou quatro discos seus. Tinha quase vergonha de carregá-los pela rua por causa de meus amigos, que poderiam fazer esgares de escárnio. Hoje, é óbvio, perdi totalmente qualquer pudor. Tendo por instrumento preferencial a guitarra, o vídeo abaixo demonstra a aguda musicalidade de Prince, um ícone do rock, ao piano. Ele comete um erro no início, mas depois vai tocando Summertime, de Gershwin, enquanto dá instruções ao pessoal do som. Claro que era uma diversão — ele nem parece prestar atenção ao piano –, e é justamente aí que está a demonstração.
O autor do vídeo é o produtor Steve Purcell. Ele escreve: “Isto é uma passagem de som feita em 2 de agosto de 1990, em Osaka, no Japão. Passei seis anos da minha vida trabalhando para Prince. Com ele, criei e estabeleci as bases para o resto da minha carreira. Aqueles anos foram e sempre serão meu auge. Obrigado pelos bons tempos. RIP Kid”.
https://youtu.be/MxVeUvo5COI