No ano passado, tiramos 10 dias no final de julho. Estávamos atrás de tranquilidade, beleza, boa hospedagem e boa comida. Um amigo nos sugeriu Salvador do Sul e lá fomos nós. Encontramos tudo isso — talvez mais — na pequena cidade de 7 mil habitantes. Tanto que agora consegui um dia e meio de folga e vamos novamente em busca de tranquilidade… O resto vocês sabem.
A cidade é tão pequena que, na foto acima, vejo boa parte dela e reconheço as ruas. A foto engloba o local onde almoçamos, a rua principal, quase todo o comércio. Fica de fora o café, a praça principal, a prefeitura, OK, faltou meia cidade, principalmente nosso hotel, o Candeeiro da Serra. Bem do tamanho do nosso modesto bolso. Vamos lá.
Uma amiga advogada me repassou esta página. Ela me disse que faz parte dos autos de um processo real. Como disse minha amiga, “Sob qualquer ideologia, creio que estejamos todos concordes sobre o ‘direito de cagar em paz'”… Sobre a peça, acho que o cara poderia ter caprichado mais na exposição do argumento, mas fica minha solidariedade ao causídico.
Li este livro após enorme insistência do meu amigo de Fortaleza Heitor de Lima, o Rei do Inbox Literário, que só conheço das teclas. É claro que, após a grande propaganda, minha expectativa era muito elevada. Oz não negou fogo, pelo contrário. No início, achei que estava lendo um Dickens moderno, um escritor dedicado a contar uma autobiografia detalhada, uma história familiar que acabaria — isto não é spoiler, está na contracapa e o autor reafirma a cada momento o que acontecerá no final — com o suicídio da mãe de Oz. Os avós, os tios, suas vidas na Europa, a nova diáspora ocorrida antes e durante a 2ª Guerra Mundial, tudo é contado com riqueza de detalhes.
A prosa de Oz é tão viva e humana que o desespero explícito dos filmes de judeus de Hollywood é um item menor em relação à vida interior dos personagens. A tristeza, mesmo o suicídio da mãe, vem digna, sem exageros. O sofrimento é autenticamente judeu, contado sempre com um humor levemente auto-depreciativo. O livro é um sinfonia. Tem momentos de enorme pesar e outros hilariantes. Oz é um mestre. Humor, drama e fatos familiares de então e de agora estão misturados de tal forma que tudo me pareceu potencializado, muito sensível e vivo, mas sem jamais cair na pieguice de um Dickens.
O livro foca a relação de Oz com os pais e as famílias paterna e materna. Vista pelos olhos da criança, as decepções da mãe — uma mulher linda e brilhante do ponto de vista intelectual — e a figura do pai — um erudito árido e chato, espécie de fracassado dentro de uma família com meia dúzia de escritores de peso em Israel — são descritas em pinceladas incompletas, de uma forma onde o leitor compreende o todo por sua própria vivência. Como pano de fundo, está a formação do estado de Israel, fato que encanta o pai de Amós e é visto com indiferença pela mãe.
A autobiografia de Oz é interessante também porque sua vida é muito distinta do comum. Dois anos após a morte da mãe, com apenas 16 anos, Oz saiu de Jerusalém, abandonou a futura carreira de escritor que todos os Klausner — família do pai — previam e foi viver em um kibutz, largando de vez o pai para tornar-se um “um homem do campo”. Mesmo que Oz não fale muito mal do pai, fica claro o motivo pelo qual ele muda o seu sobrenome de Klausner para Oz.
As desajeitadas aventuras sexuais do adolescente também são contadas com especial cuidado e talento. As coisas dos meninos estão lá.
(Já comecei a ler um outro livro hoje, de um escritor gaúcho. Ele logo dá duas opiniões políticas gratuitas e faz uma mal disfarçada autopromoção. Acho melhor voltar a um escritor de virtuosismo arrebatador como Oz. Após mais de 600 páginas de prosa inteligente, bela e modesta, é triste voltar a nossa realidade. E que elegância Oz demonstra em suas considerações políticas sobre Israel!).
Mas Oz é filho de pai e mãe. Afinal, tornou-se o grande escritor que os Klausner prognosticavam e sua relação com a mãe é fundamental. Sua morte marcou as escolhas de Amós de uma forma decisiva. Se numa primeira fase a revolta fez com ele fugisse da literatura, o tempo encaixou os ensinamentos de uma família que se entregava à cultura com intensidade. Também é sugerido que a mãe virou suas opiniões políticas para a esquerda.
A elegância e o perfeito senso de estilo de Oz estão por todo lado. Aqui vou dizer, ali omitir.
O final, que não contarei, é de extrema simplicidade, é comovente, curto e exato. Oz escolhe um lamento, um apelo, um rogo inútil e impotente que torna complicada a leitura das últimas linhas com aquelas letras dançando enquanto a gente tenta se controlar.
De Amor e Trevas é grande literatura. Recomendo fortemente.
“Pai, a mamãe amassou o teu carro novo”, disse o menino, deixando a mãe sem chances de explicar ao marido, com calma, o que tinha acontecido. Numa outra ocasião, enquanto o irmão contava que tinha perdido o aparelho dos dentes, ele logo entregou: “É mentira! Eu vi ele pisar em cima do aparelho no banheiro”. Bonitinho, não? Mas depois eles crescem.
Na empresa, o dedo-duro invariavelmente será ou um bajulador do chefe ou um alpinista que vê nos deslizes de alguém a oportunidade para depreciá-lo e, desta forma, conquistar a confiança dos superiores. Quando questionado sobre suas razões, irá enaltecer a necessidade de qualidade e a importância do trabalho. Mais pressionado, invocará princípios éticos e morais…
Não sei fazer isso. Na minha escola, o Colégio Júlio de Castilhos, quem dedurasse recebia a mesma punição do dedurado. Recebi péssima educação, vai ver. Tenho visto muita gente da nova geração dedurando, mesmo que não saiba da missa a metade. Fico chocado.
Mas é claro que há dedos-duros de todas as idades, não é um fenômeno geracional, minha amostragem é que é viciada.
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Ao acusado, opino: “É censurável usar de arrogância para com o humilde. Mas talvez seja ainda pior seguir humilde frente a arrogância”. Outra coisa: a acusação era falsa. Tu não tinhas feito nada, apenas tinhas feito pouco.
Mudando de assunto: Mas e quando a gente vê um colega fazendo algo muito errado? Criminoso até?
Aí conta, né? Há uma diferença entre delação e denúncia. Quando for coisa do dia a dia, o melhor é manter uma conversa privada com quem errou e lembrá-lo da regra que está sendo infringida. Havendo persistência no erro, teimosia ou sacanagem, aí, sim, é cabível uma denúncia aos superiores. Se for CRIME, o caso é outro.
Antes do jogo, a discussão era bobíssima. Camilo e Dale podem jogar juntos? Claro que sim. Na minha opinião, Camilo, Dale e Sasha são titulares, só que apenas dois podem jogar. Entram em duplas. O mesmo digo sobre Damião, Pottker e Nico López. Os três são titulares, só que jogam em dupla. O que é importante é esquecer de vez os Carlos e Diegos da vida. Todos os seis têm jogado muito bem, ninguém precisa receber carteirinha de titular imexível. Na minha opinião, um bom time tem uns 18 titulares, gente que pode entrar e sair sem prejuízo do conjunto.
Essa minha opinião apenas se solidificou observando a partida de hoje. Tomamos um sufoco no início. Normal, basta ver que o Guarani tinha uma média de 2,22 pontos por jogo no Brinco de Ouro. Ou seja, o habitual é que vençam em casa. Seguramos o time deles e marcamos o primeiro gol em boa jogada de Pottker e Sasha. O segundo tempo foi tranquilo. Desperdiçamos várias oportunidades — uma inacreditável com Damião — e acabamos marcando o segundo gol após uma notável jogada de Nico López. O gol foi de Winck.
Damião perdeu várias oportunidades hoje. Isso é normal num centroavante participativo. Diego perde muito menos gols, pois está sempre fora do lugar. Também não faz nenhum.
O Inter está se acertando. No inicio do campeonato só tinha goleiro… Começa a ter boas jogadas, defesa sólida, volantes no lugar, peças de reposição, armação de jogadas, ataque e lateral direito — Winck é o melhor que pareceu desde que William começou a fazer corpo mole.
A tendência é que, mesmo que não seja uma Brastemp, o time comece a ganhar pontos e obtenha uma classificação tranquila. (Escaldado, tive medo de escrever isso).
Fechamos o primeiro turno em 2º lugar com 33 pontos em 19 jogos, 58% de aproveitamento. É pouco, mas o campeonato é fraco, um interminável perde-ganha. Se aparecer um time melhorzinho, dispara. Esperamos que seja o Inter.
O próximo compromisso é contra o Londrina, no Beira-Rio, sábado, dia 12, às 16h30.
É jogo para ganhar, mas é bom abrir o olho. O Londrina faz mais pontos fora de casa. Tem uma média de 1,78 ponto atuando fora. É mais do que o Inter tem. Deve se retrancar que é uma beleza. Mas acredito.
A Filoca chamava-se Orfila, tia Orfila. Ponho a mão no fogo por ela: foi a pessoa que mais certamente morreu virgem na ala cruz-altense da família. Por algum motivo, ela ocupava o cargo de “reserva moral”. Perfeitamente mal-humorada, era digna do posto. Cada vez que algo parecia fora do lugar, a família ia lá consultar a Filoca. E a Filoca dava seus palpites. Normalmente era obedecida pelos meus pais e tios. Já nossa geração… No final dos anos 60, lembro dela reclamando das minissaias, recordo das meninas da família puxando suas saias para baixo quando a Filoca se aproximava, das piadas sobre ela. Eu a evitava como se ela fosse um bolsonaro. Era a única coisa ruim em minhas férias em Cruz Alta.
Ela jamais casara, mas dava palpites nos casamentos de todos. Pior, dava soluções. Nunca tivera filhos, mas sabia tudo sobre a educação das crianças. Hoje, lembrando de algumas de suas observações, dou risadas.
Depois, o mundo evoluiu e a revolução sexual deixou as coisas em patamares não ideais, mas muito melhores. Mesmo durante a ditadura, o discurso foi ampliado em assuntos tabus como sexo, comportamento e doenças. Houve maior liberdade. A educação também mudou e, trinta anos depois, nos anos 90, criei meus filhos muito mais razoavelmente do que fui criado. Mas, burraldo que sou, pensava que o mundo sempre evoluiria para melhor.
Como diz Carpeaux a respeito da época de Laurence Sterne, nosso início de século também tem uma parte importante da juventude que é dotada de um discurso bem mais pudico do que os das gerações anteriores. Há o que não deve ser visto, há o que não deve ser ouvido, há o que não deve ser mostrado. O medo às representações impõe coisas que a realidade, essa boba, insiste em mostrar.
Essa semana tive frouxos de riso ao saber que esta propaganda cazaque tinha sido criticadíssima naquele país:
Só que a agência de propaganda sabia que as redes sociais iriam gritar indignadas — criar escândalo era uma estratégia da agência — e, menos de dois dias depois, já tinha um contra-ataque preparado:
Se o mau gosto é óbvio, muito melhor é a explicação da empresa: “Os vídeos não mostram nada que não se veja em qualquer praia ou piscina”. Caramba, é mesmo! Sim, senhores, a hipocrisia está cada vez mais ampliada, e não somente no governo Temer.
Porém, para mim, o mais engraçado é que, após caírem na estratégia comercial da empresa, as redes sociais disseram que os homens usam chapéus de comandantes e as mulheres de comissárias. Sim, referiam-se ao tapa-sexo! OK, é verdade, mas… A realidade não é quase essa? Ou o comercial deve ser educativo e apontar novos caminhos? É essa sua função? Pensei que o objetivo fosse a venda de passagens aéreas… Ou será que ele vai impedir o correto e inevitável percurso das mulheres às posições mais importantes?
E aqui fala um dos defensores das maestrinas, um cara que traduz artigos feministas, um cara que escreveu sobre a lamentável sujeição de Clara Schumann ao marido, um cara que fez o mesmo sobre Camile Claudel, um cara que publicou sobre Fanny Mendelssohn quando ninguém sabia de sua existência, que apresentou a muita gente boa o notável ensaio feminista Um teto todo seu, de Virginia Woolf, que é um sujeito que se orgulha de ser filho de uma das primeiras dentistas do RS, talvez a primeira. Lembrem bem disso. Meu problema é com a nova moralidade.
Bem, mas sou burro mesmo: meu exemplo veio do Cazaquistão, terra onde grassa o sexo. Aqui, isto jamais ocorreria. Imaginem se vamos retornar àquela época triste da Filoca? De jeito nenhum.
Aquele momento em que um autor abre teus olhos para as maravilhas insuspeitadas de outro. Shostakovich me convenceu que a fase neoclássica de Stravinsky foi a forma mais bonita e inteligente de conter o descabelamento romântico. A Suíte Pulcinella e Apollon Musagète salvaram minha sexta-feira, não obstante todas as idiotices que ouvi depois e que somem como folhas levadas pelo vento. Uma música profundamente inteligente, leve e ousada, que é tudo o que espero da vida.
Por Bernard Shaw (*)
Traduzido muito livre e irresponsavelmente pelo autor do blog Aqui, a primeira parte
Vale a pena assinalar aqui — eu não consigo resistir em mencionar isso — que o editor geralmente acha que o crítico de música é um inútil dentro do jornal. Ele sempre pensa que tem disponíveis críticos que servem a todo e qualquer propósito. Ele tem certeza de que o crítico cujos artigos são do interesse de pessoas que só querem informação cultural ou se divertir é um impostor. Sim, o editor tem certeza absoluta disso. Quando meus artigos sobre música começaram a atrair um pouco de atenção, a piada na redação dava conta do fato indiscutível de eu não saber nada sobre música. Muitas vezes aconteceu de eu ser apresentado a admiradores que, ao ouvirem minha resposta à pergunta: “O que você aprendeu para poder escrever sobre música?” — ficavam decepcionados, desiludidos, certos de meu nenhum mérito em razão de minha explicação sincera e prosaica. Minha resposta: “Nada em especial, a música é a forma de arte que eu mais conheço”.
Quando a hipótese de minha total ignorância consolidou-se, mesmo assim eu encontrava pessoas que candidamente pediam que eu admitisse publicamente que meus conhecimentos de música não se estendiam a aspectos técnicos. Eles tinham certeza de que eu apenas fazia exercícios parvos de análise para impressionar leigos, mais ou menos como um cavalo bem treinado impressiona o pessoal da cidade em uma feira.
Um mau crítico tem duas vantagens. Primeiro, se ele escreve para um jornal diário e precisa de assunto, ele pode fugir de análise, tornando-se útil e interessante coletando as últimas notícias sobre os próximos eventos e o escândalo mais divertido sobre os últimos. Em segundo lugar, sua incompetência só pode ser comprovada comparando-se suas opiniões de um mês atrás com as de hoje, coisa que ninguém vai se dar ao trabalho de fazer. Um jornalista pode descrever de forma imponente A ou B, mas se você ler a descrição feita um mês atrás para X ou Y, se ele não for crítico, será quase a mesma. Quando ele tentar particularizar as qualidades especiais dos artistas que ele analisa, você o encontrará louvando Sarasate e Paderewski pelos mesmas características presentes na forma de tocar de seus alunos…Mesmo que ele esteja louvando ou arrasando o artista, ele sempre se ocupará de algumas das centenas de pontos que todos os executantes têm em comum, e perderá os detalhes que fazem toda a diferença entre a mediocridade e o gênio. Vai escolher ao acaso, destacando quase sempre o que não distingue um artista do outro.
Eu conheço isso por experiência própria. Há quase vinte anos, um músico queria me ajudar a assumir um posto como crítico de música em um jornal de Londres. Eu escrevia as críticas, ele assinava e me repassava o dinheiro recebido sem descontos, contentando-se com o fato de me auxiliar financeiramente. Eu era um jovem literato desamparado. Ele ficava com a honra e a reputação decorrente de meus artigos. A tais textos devo todo o meu conhecimento sobre as características da má crítica musical. Não posso aqui transmitir uma impressão adequada de seus deméritos sem ultrapassar os limites do decoro. Eu ficava muito triste na época, sem saber o que acontecia comigo. O fato é que eu não era maduro o suficiente para entender que o que estava me torturando eram a culpa e a vergonha que acompanham a ignorância e a incompetência.
O jornal, com minha ajuda, morreu, e meus pecados estão enterrados com ele. Mas eu ainda mantenho, em um esconderijo seguro, um conjunto dos crimes de crítica que escrevi, mais ou menos como um assassino mantém a faca manchada de sangue, sob a qual sua vítima caiu. Sempre que sinto que estou muito presunçoso ou atribuindo-me uma superioridade natural junto a um irmão mais novo no ofício, releio algumas dessas coisas antigas. E vejam, eu não era deficiente nem na habilidade literária, nem no conhecimento da música.
Eu teria sido um crítico excelente para aquela idade, se soubesse como fazê-lo. Não sabendo, meu conhecimento musical e poder de expressão literária tornaram-me um ser muito mais nocivo do que se eu fosse um mero jornalista. Quando eu retornei ao ofício de crítico, cerca de dez anos depois, já era um cidadão (item muito importante) pelo trabalho constante como autor, crítico de livros, palestrante e político. Tudo isso não tinha nada a ver com a música, mas a experiência fez toda a diferença. Eu fui enormemente ajudado como crítico pelos meus estudos econômicos e minha prática política de reformador social. Isto me deu uma inestimável compreensão das condições comerciais a que a arte está sujeita.
Uma das funções do crítico é a de agitar, a de promover reformas e mudanças. E a menos que ele saiba o quanto as reformas irão custar, e se elas valem esse custo, e quem terá que pagar a conta, e uma dúzia de outras questões geralmente não incluídas em tratados sobre harmonia, ele não fará nenhuma impressão efetiva nas pessoas descansadas, conformadas e confortáveis com as situações. Na verdade, ele nem saberá quem são os responsáveis. Mesmo os seus vereditos artísticos serão muitas vezes destinados à pessoa errada. Um gerente ou um artista não podem ser julgados de maneira justa por qualquer crítico que não compreenda os movimentos econômicos que envolvem a arte. Uma coisa é criar um ideal de perfeição e reclamar que não são alcançados. Mas culpar os indivíduos por não alcançá-lo quando a coisa é economicamente inatingível é um absurdo. Por exemplo, o mau crítico culpa o artista quando a culpa é do gerente, ou o gerente quando a culpa é do público. Tais erros vão destruir metade da sua influência como crítico. Todo o contraponto ou brilho literário no mundo não salvará um crítico de erros deste tipo, a menos que ele entenda a economia da arte.
O salário de um crítico de música não é grande. Os proprietários de jornais oferecem de uma a cinco libras por semana para críticas de música, sendo o valor mais alto um caso excepcional, envolvendo a entrega de umas duas mil palavras de prosa extra brilhante todas as semanas. E, exceto na baixa temporada, o crítico deve passar a maior parte de suas tardes e noites, de três a meia-noite, em salas de concertos ou na ópera. Não preciso dizer que é praticamente inviável obter os serviços de um crítico de música qualificado nestes termos. É mais ou menos como obter um quilo de morangos frescos em todos os dias do inverno. Consequentemente, para todas as qualificações que sugeri, devo insistir que uma renda independente para sustentá-lo é fundamental. Também é basilar a crença no valor da crítica musical. E uma vez que a boa condição financeira do crítico é tão improvável, tão completamente fora do alcance do praticável, posso parar de pregar. Meu sermão terminaria, como todos os sermões que tenho feito, em mais uma demonstração de como nosso sistema econômico falha miseravelmente em proporcionar os incentivos necessários à produção de resultados de primeira linha.
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Este artigo foi apresentado a mim por Augusto Maurer. Foi publicado primeiramente no Scottish Music Monthly em dezembro de 1894. Foi reimpresso no New York New Music Review em outubro de 1912 e em Bernard Shaw, How to become a Music Critic, ed. Dan H. Laurence (Londres: Rupert Hart-Davis, 1960), pp. 1-6.
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(*) George Bernard Shaw (1856-1950) foi um dramaturgo, romancista, contista, ensaísta e jornalista irlandês. Cofundador da London School of Economics, foi principalmente autor de comédias satíricas de espírito irreverente e inconformista. Ele e o cantor Bob Dylan são os únicos premiados com um Prêmio Nobel de Literatura (1925) e um Oscar (1938), por suas contribuições para a literatura e para o seu trabalho no filme Pigmalião, respectivamente. Uma curiosidade: Shaw quis recusar o Prêmio Nobel, pois não gostava de honrarias públicas, mas aceitou-o a mando de sua esposa. Ela considerou uma homenagem à Irlanda. Então, ele rejeitou o prêmio em dinheiro, pedindo que fosse utilizado para financiar a tradução de livros suecos para o inglês.
Por Bernard Shaw (*)
Traduzido muito livre e irresponsavelmente pelo autor do blog
Meu plano era simples. Entrei na equipe de um novo jornal como uma estrela. Nos primeiros tempos, minhas proezas espalharam tanto terror e confusão na redação que minha proposta de voltar minha atenção para a crítica musical foi aclamada com um alívio inexprimível. Na opinião geral, a música era um assunto que precisava de um lunático como responsável. Então me deram uma coluna de música como poderiam ter me dado uma sala confortável em um asilo e, desde aquele dia até hoje — um período de quase sete anos –, escrevi todas as semanas, nesse jornal ou em outro, um artigo sob o título geral de “Música”.
A condição que me impus era que a coluna de música deveria ser tão atraente para o leitor geral, músico ou não-músico, como qualquer outra seção. A maioria dos editores não acreditava que isso pudesse ser possível. Mas a maioria dos editores não sabe editar. O falecido Edmund Yates acreditava que uma boa coluna de música seria um reforço importante para seu jornal. Então ele disponibilizou uma página inteira do The World para tanto. O sucesso desta página provou que, nas mãos de um escritor capaz, a música é tão boa como assunto jornalístico como a pintura ou o drama, e que o interesse sobre ela é muito mais geral do que o da política partidária, a bolsa de valores ou mesmo a polícia. Deixe-me acrescentar que Edmund Yates não tinha mais interesse pela música do que tinha pela química. É claro que se a crítica musical ganhasse, em todos os jornais, o espaço e a consideração lhe foram dadas no The World, seria uma conquista incrível.
Para os jovens críticos, aviso que aquele jornalista que é apenas amante da música não serve para fazer frente à tarefa. Existem três qualificações principais para um crítico de música, além da qualificação geral de bom senso e de conhecimento do mundo. Ele deve ter um cultivado gosto musical, deve ter bom texto e deve ter experiência. Qualquer um destes três predicados pode ser encontrado sem os outros, mas a combinação de todos os três é indispensável para um bom trabalho. Pegue todas as nossas publicações de música e você encontrará muitos artigos escritos por homens com competência inquestionável em música, até mesmo encontrará verdadeiras eminências… como músicos. Vários desses cavalheiros escrevem sem encanto porque não aprenderam literatura. Eles podem se expressar e serem respeitados em seus respectivos ambientes mas jamais o serão para o público em geral. Ou seja, a eles, não adiantará nada conhecer seu ofício se não tiverem bom texto. Por que são tão impossíveis como críticos de música? Porque se expressam mal e não podem criticar. Para piorar, eles normalmente trabalham como se fossem professores de escolas que querem provar que isso ou aquilo é “certo” ou “errado”.
Eles debatem pontos importantes para autoridades como eles são, mas que têm tanta importância na república de arte quanto um mendigo tem na Câmara dos Comuns. Eles defendem com ciúmes suas teses e compositores de estimação contra os rivais mais ou menos como senhoras em um sarau musical doméstico. Eles não veem a diferença entre um professor ensinando a sua classe a resolver um acorde maior de sétima dominante e um crítico na presença do mundo inteiro. Ele pode ser uma sumidade, mas se tratar de forma petulante as coisas das quais discorda, ele obviamente será inaceitável como membro da equipe de qualquer jornal ou revista.
Não é tão fácil citar casos de críticos que falham porque não possuem habilidade literária ou cultura musical. Quando o bom escritor não é nem músico nem crítico, ele deve se dedicar à literatura pura, como o Srs. Stevenson ou Rudyard Kipling, e jamais à crítica. Mas uma vez que, para fins de jornalismo, a qualificação literária é o principal, não faltam casos de jornalistas que tomam a crítica de música apenas porque é a única abertura que lhes é apresentada. Estes ocultam suas deficiências por meio de relatórios descritivos e notícias sobre música e músicos. Porém, se tal crítico tiver um talento ou interesse musical latente, ele aprenderá seu ofício em alguns anos. Se não tiver, nunca aprenderá.
(*) George Bernard Shaw (1856-1950) foi um dramaturgo, romancista, contista, ensaísta e jornalista irlandês. Cofundador da London School of Economics, foi principalmente autor de comédias satíricas de espírito irreverente e inconformista. Ele e o cantor Bob Dylan são os únicos premiados com um Prêmio Nobel de Literatura (1925) e um Oscar (1938), por suas contribuições para a literatura e para o seu trabalho no filme Pigmalião, respectivamente. Uma curiosidade: Shaw quis recusar o Prêmio Nobel, pois não gostava de honrarias públicas, mas aceitou-o a mando de sua esposa. Ela considerou uma homenagem à Irlanda. Então, ele rejeitou o prêmio em dinheiro, pedindo que fosse utilizado para financiar a tradução de livros suecos para o inglês.
Tudo começou mal ontem, com a torcida vaiando Guto Ferreira como poucas vezes se viu, mesmo nos últimos anos. É que a punição que Guto impôs a Nico López é incompreensível por várias razões: (1) Nico é o artilheiro do ano, (2) é mais importante do que Guto, e (3) a punição pune a equipe para dar maior respeitabilidade a Guto… Imagine que os reservas de Damião e Pottker são Carlos e Diego, caras que só com muito alongamento podem ser chamados de jogadores de futebol.
Após um primeiro tempo discreto, só erguendo bolas para Damião tentar de cabeça, o Inter botou a bola no chão e goleou o Goiás ontem à noite. Sem D`Alessandro — que já recebeu o sexto (!) cartão amarelo na série B — e a atividade incessante de Nico, criamos muito pouco. Uma cabeçada de Damião, uma cobrança de falta de Camilo, um gol perdido por Sasha, outro anulado e só. Não adiantaram os 35 mil colorados apoiando um Inter voluntariamente enfraquecido por ti, Guto.
O Goiás tinha Argel do outro lado, garantia de retranca. Sua grande figura era Carlos Eduardo, um baita jogador que eu desconhecia. (Aliás, a entrevista de Argel após o jogo foi antológica em seu ressentimento e total falta de lógica. Acho que deste sujeito estamos livres. Viram a vaia que ele levou ontem?).
No início do segundo tempo, Uendel cruzou, Sasha desviou, Damião quase fez e Pottker marcou no rebote. O Inter realmente acelerava e pressionava o Goiás.
Jogando desta forma, com a bola no chão e marcando muito, a diferença de nível técnico aparecia claramente. E goleamos. Damião fez de pênalti e Carlos, após bela combinação entre Gutiérrez e Pottker, fez o terceiro.
Camilo e Damião fizeram boas estreias. Uendel e Pottker foram os melhores.
Antes deste jogo, o Chance de Gol dava 80% de chances do Inter subir para a Série A. Já o Infobola dava 31%. É o momento David Coimbra do Prof. Tristão Garcia. Eles está super científico, nossa! Agora, já temos 47% no Infobola do profe (menos da metade! Oh, vamos ficar na Série B!) e 89,5% (quase o dobro!) no Chance de Gol.
O próximo compromisso do Inter requer cuidados, o Guarani vem de três empates e duas derrotas, mas tem uma média de 2,22 pontos jogando em casa. Isto é, junto com o Paraná, faz a melhor campanha em casa de todo o campeonato, mas atuando como no segundo tempo de ontem, dá. O jogo será em Campinas, no próximo sábado, às 16h30.
Com 30 pontos em 18 partidas, ocupamos um segundo lugar meio embolado. O América-MG disparou na liderança com 36 pts.
As pessoas que apoiam ideologias políticas de direita tendem a ser menos inteligentes do que as pessoas que apoiam ideologias de esquerda…
Bem, digamos que o estudo, feito pela Universidade de Ontario, no Canadá, é muito provocativo.
A pesquisa chegou à conclusão de que pessoas menos inteligentes são mais conservadoras, preconceituosas e racistas. De mesma forma, também revela que crianças com baixo QIestarão mais dispostas a tomarem posições preconceituosas quando se tornarem adultas. A pesquisa foi publicada na revista Psychological Science.
A descoberta aponta que as pessoas com menos inteligência orbitariam em torno de ideologias socialmente conservadoras, resistentes à mudança, o que gera preconceitos e resistências. As ideologias conservadoras ofereceriam estrutura e ordem, o que dá um certo conforto para entender um mundo incompreensível.
“Infelizmente, parece que é assim”, disse Gordon Hodson, pesquisador chefe do estudo, ao siteLive Science.
Ele salientou ainda que, apesar da conclusão, o resultado não significa que todos os liberais esquerdistas sejam brilhantes e nem que todos os conservadores são estúpidos. A pesquisa é um estudo de médias de grandes grupos, sublinhou Hodson.
Este último parágrafo é fundamental, não? Vemos cada coisa no Brasil… Uma esquerda sem programa assiste uma direita toda pimpona. Bem, e burra. Porém, como temos muita gente de direita que se diz de esquerda, daremos respaldo ao estudo.
Na tarde do último domingo, eu e Elena estávamos deitados na grama do Parque da Redenção. Dormimos um pouco, fomos acordados por um cãozinho que veio nos saudar a fim de dizer que o parque estava lindo para ficarmos só dormindo, dormimos novamente. Então, precisamente às 17h25, a Elena ergueu a cabeça e perguntou:
— E o Guigla? A gente viaja para fazer turismo sinfônico e, quando vem um cara desses a Porto Alegre, a gente não vê?
Saímos correndo, passamos em casa — era caminho — e chegamos à Casa da Música, na Gonçalo de Carvalho, exatamente às 18h. O valor do ingresso era espontâneo e foi necessário juntar algum dinheiro em casa nestes tempos de cartões.
O georgiano Guigla Katsarava já se apresentou duas vezes com a Ospa e costuma vir ao Brasil como professor de alguns dos Festivais de Inverno que ocorrem em julho, apesar de não termos mais invernos. É um pedagogo muito requisitado — professor titular na “Ecole Normale de Musique de Paris Alfred Cortot” — e grande concertista. Coisa rara. Ele apresentaria obras de Schumann, Liszt, Rachmaninov e Prokofiev.
A notável técnica de Katsarava tornou mais suportáveis os Intermezzi, Op. 4, de Schumann. Já Widmung, de Schumann-Liszt melhorou muito o panorama. A Elena chorou de emoção durante os Momentos Musicais, Op. 16 de Rachmaninov. Eu fiquei abobado pelo forma com que Guigla tocou a sensacional Sonata Nº 6 de Prokofiev.
As interpretações de Katsarava foram de alto nível, mas, como já notaram os meus sete leitores, minha preferência vai toda para Prokofiev. O resto nem bem existiu.
Importante dizer que a Casa da Música têm programados excelentes recitais a cada domingo às 18h. No próximo, dia 6 de agosto, às 18h, haverá o duo formado pelos violonistas Daniel Wolff e Fernanda Krüger que fará um recital com obras de Ernesto Nazareth, Thiago de Mello, Tom Jobim e Vinicius de Moraes. O valor do ingresso é, novamente, espontâneo.
Sou todos os autores que li, todas as pessoas que conheci, todas as aventuras que vivi.
Jorge Luís Borges
Certa vez, um crítico contou o número de plágios de Shakespeare. Ele vasculhou 6.043 versos. Destes, 1.771 foram copiados, 2.373 foram reescritos (na verdade foram muito melhorados) e os restantes 1.899 pertencem a Shakespeare. Entre os plagiados, há autores como Robert Greene, Marlowe e muitos outros. Mas, meus amigos, a obra é de Shakespeare. Afinal, só ele juntou e alinhavou tudo aquilo.
Shakespeare brincava que às vezes boas filhas nascem em más familias e que cumpria corrigir a natureza… Mas ocorre também o contrário de uma filha estabelecida em boa família migrar para uma pior ou para uma de mesmo porte.
Deste modo, se um autor rouba ideias de outro, é plágio; se rouba de muitos autores, é pesquisa. Esta frase é minha? Sei lá, entende? Ah, Chaucer, Sterne e De Quincey também foram grandes ladrões. A grande, a imensa literatura inglesa está cheia deles.
Dentre os músicos, Bach, mas principalmente Rossini e Händel, faziam algo mais lícito, mas que às vezes enche o saco. Eles faziam o autoplágio, complicado de ser descoberto numa época em que as músicas eram apenas escritas em partituras, mas facilmente descoberto hoje, mesmo por meros melômanos como eu.
Meu blog já foi plagiado. Ontem descobri mais um. Eram duas frases. Olha, quando é uma frase, um trecho, fico até honrado. Agora sei que é sabedoria…
Uma comédia deve ser… engraçada. Mas quase não ri por mais de uma hora. Inseparáveis, Avril (Camille Cottin) e sua mãe, Mado (Juliette Binoche), não podem ser mais diferentes uma da outra. Avril, 30 anos, é casada, tem um emprego fixo e é organizada. Sua mãe, de 47 anos, é uma eterna adolescente que vive às custas de sua filha desde o seu divórcio. Quando as duas mulheres se veem grávidas ao mesmo tempo e sob o mesmo teto, o choque é inevitável. Tal Mãe, Tal Filha é tão ruim que entra em ressonância, reverbera e acaba bom, numa cena tão absurda que rimos sem parar e saímos felizes do cinema. Juliette Binoche arrasa dançando com véus a terceira de Brahms. É uma imagem que se leva para a vida. Uma atriz que sabe rir de sua (alta) respeitabilidade e protagoniza algo 200% brega é muito digna. E salva o filme.