Neste sábado (24), teremos o lançamento do livro IMITANDO OS NEGRINHOS, HEIN? – UMA HISTÓRIA POPULAR DO SPORT CLUB INTERNACIONAL. De autoria de Fabiano Neme (Condor F.C. – o uso político do futebol nas ditaduras da América Latina), o livro conta a história do Clube do Povo do Rio Grande do Sul pela perspectiva da cultura popular e de arquibancada.
Publicado pela editora De Letra Livros (@deletralivros no Instagram), IMITANDO OS NEGRINHOS, HEIN? inicia com a chegada da família Poppe a Porto Alegre e vai até a reinauguração do Beira-Rio, reformado para a Copa do Mundo de 2014.
Não se trata de um livro de história, mas sim de um livro de histórias. Assim, o leitor terá contato com crônicas que vão desde a uma reconstituição de um dia na vida do torcedor Charuto, passando pelo relato da polêmica entre Bráulio e os mandarins e pelo mítico “Grenal do Daniel Carvalho”.
O time do Grêmio tem dificuldades REITERADAS, então, o jogo de ontem era uma questão de RESILIÊNCIA para o torcedor do Imortal. Ainda mais que o CSA viria com a perigosa LEVEZA de quem não será cobrado se eliminado — ao contrário!, ele seria apenas EXALTADO se classificado.
Gremista, não abandone teu time! Domingo, logo após aquela Missa LIBERTADORA, o Grêmio precisa entrar em campo às 11h para tentar sair da zona onde acaba de entrar outra vez. O Z-4 não pode teu DOMICÍLIO, imortal que és.
Enquanto isso, no sábado, às 16h, na Livraria Bamboletras, a hoje JUBILOSA torcida colorada poderá comparecer ao lançamento do livro de Fabiano Neme “Imitando os negrinhos, hein?”. A OBRA inicia com a chegada da GLORIOSA família Poppe a Porto Alegre e vai até a reinauguração do Beira-Rio em 2014.
Não, não é nenhuma PATACOADA sem humor nem verdades como os livros daquele biógrafo tricolor, também não é um livro de HISTÓRIA, mas sim um de belas CRÔNICAS que vão desde uma reconstituição de um dia na vida do torcedor CHARUTO, passa pelo relato da QUERELA entre Bráulio e os Mandarins e pelo MÍTICO “Gre-Nal do Daniel Carvalho”.
Perdem pontos o Grêmio e Kannemann, ganham SOBREMANEIRA os colorados em beleza e cultura.
Mauvício Saravia
P.S. — Fabiano Neme é co-autor de “Condor F. C.”, sobre o uso político do futebol nas ditaduras da América Latina. Este livro tamém estará à venda.
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O segundo filme da “BamboFilmes” será um clássico do cinema engajado. Baseado na obra de John Steinbeck, “As Vinhas da Ira” é um filme bem diferente do livro que lhe dá origem. No livro, há dois tipos de capítulos que se intercalam e se complementam: há os narrativos, com foco no drama da família Joad; e há os líricos, poéticos e genéricos, que não focam nos Joad, mas expandem o contexto, criando um retrato coletivo e metafórico da crise.
O filme do grande John Ford — um católico conservador que tinha amizades com o pessoal da esquerda — foca-se apenas na história dos Joad e é muito bom. Trata-se de um libelo bem comuna. Durante o Macartismo (década de 1950), “As Vinhas da Ira” foi banido em algumas cidades e chamado de “propaganda comunista”.
Hoje, dia do teu aniversário, Elena, acordei com minha cabeça tocando uma canção que não ouvia há décadas e que pouca gente conhece, apesar dos autores serem famosos. Ela veio completinha: música, letra, cantora e também com seu arranjo um tanto pesado. É de 1971 e devo tê-la ouvido bastante naqueles anos. Em determinada parte, ela diz:
Quero um beijo teu
Teu corpo, tuas mãos
Vamos dormir no chão
Do sul da América
Sabe meu amor
Hoje somos dois
Quase ninguém nos vê
Quase ninguém nos quer
Mas eu vou te amar
Vou te amar
E amar
Então, me virei pra ti na cama e te abracei, sentindo imediatamente que teu sono se aprofundou, o que miraculosamente sempre acontece quando te abraço enquanto dormes. Deve ser um bom sinal.
A lembrança não pode ter sido apenas uma coincidência (apesar de que dormir no chão, na minha idade, não é uma boa).
Feliz aniversário, Elena. Continua rindo das minhas piadas bobas, por favor.
A foto é minha, da Elena brincando na Pinacoteca de São Paulo
“Sentir certo desconforto é parte da experiência de ler um livro; há muito mais pedagogia na inquietação do que no alívio. Podemos submeter toda a literatura do passado a uma cirurgia estética [ou politicamente correta], mas nesse caso ela deixará de explicar-nos o mundo”.
Mardi vamôs joguê contre C’est Èsse A, timê de Alagoá. Vai sê très difficile. La cobre vai fumê. Notrô campeonatô estamos en la Zoná de Rebaixamentô, c’est très tragique, maman. Le professeur só parle en fermer la casinhá. Je ne comprends rien. Je querrô retourner à Belgique, maman! Je n’aime pas la Zoná de Rebaixamentô.
A pintura, datada do século XVI, é de autoria desconhecida, pintada a óleo sobre madeira e mede 86,5 x 56 cm. Representa uma mulher, vestida com o traje habitual da época: touca redonda, gola branca, cintura rígida, e com um título… Bem, é “A Virtuosa Donzela” (“La Donselle Virtuosa”).
Uma mulher está em pé sobre uma grande bola, numa posição de equilíbrio um tanto incômoda. Ao seu redor estão representados uma série de objetos que, com legendas, indicam as virtudes desta mulher ideal, apontando as partes do corpo às quais se referem. As legendas estão em latim e dizem:
Quieta: uma corrente amarrada aos pés
Solícita: um fuso na mão direita (fuso: instrumento de madeira usado para fiar)
Fiel: uma vela acesa no peito
Tácita: um cadeado fechando os lábios
Subieta: um jugo na cabeça (jugo: peça para atrelar bois a uma carroça ou arado)
Pudica: um gorro branco na cabeça
Caridosa: uma abertura no coração
Casta: um cinto bem apertado
Honesta: a cintura longa e espartilhada
Humilde: uma vassoura ao lado
A pintura está no Museu Etnológico e das Culturas do Mundo de Barcelona.
Um dia, faz quase 30 anos, fui buscar meu filho Bernardo Jardim Ribeiro no Maternal e ele me contou que sua professora estava falando em deus e em como ele mora no céu, essas coisas.
— Sabe, pai, eu não quis deixar ela triste, mas quase disse pra ela que já andei de avião e que não tem ninguém lá.
Não preciso dizer que ele era um pagãozinho. Nem batizado foi, óbvio.
Depois de fazer pose saindo do mar com seu corpanzil malhado, depois de cantar jazz (cantando, até parecia um governador), depois de aparecer tocando pandeiro (Ok, no ritmo), depois de não utilizar nem 1% dos 111 bilhões repassados pelo governo federal para a prevenção de enchentes e reconstrução do RS, depois de mudar de partido para se candidatar à presidência do país (aqui, ó), o governador Leite resolveu estrelar um filme onde se torna o super-herói da enchente, uma espécie de Milky Batman Guasca.
O filme tem 42 minutos, foi feito com dinheiro público e, pasmem, está passando um trailer de 2 minutos nos cinemas gaúchos. Ou seja, o governo paga aos cinemas para passar a coisa.
O cara é talhado, mas não para o cargo. Na boa, nós somos um bando de trouxas mesmo. Uns trouxas acomodados. Uns indignadinhos de internet. VSF.
Quando Mark Twain criou o termo “Era Dourada”, não foi um elogio. Ele quis dizer que sua época era um cocô envolto em uma película de ouro de mau gosto. Isso porque o final do século XIX foi uma época de pobreza extrema, degradação ambiental, ausência de direitos trabalhistas, corrupção política e clientelismo desenfreados. Foi também uma época de riquezas astronômicas e ostentação desmedida para uns poucos sortudos. Parece familiar a ti, querido(a) leitor(a)?
Você já viu o tamanho do Iate de Jeff Bezos — de 127m, custando US$ 500 milhões –, enquanto seus “empreendedores” correm pelas ruas fazendo entregas e ganhando rios de dinheiro?
Em fevereiro de 1844, Charles Dickens (1812-1870) pôde entender, feliz, que seu filho era um sinal da alegria universal. Anos antes, o mundo parecia mais inclinado a outra coisa. Em 1823, com menos de doze anos e “tão pequeno”, como lamentosamente disse, Charles foi retirado da escola e enviado para trabalhar a fim de ajudar a pagar as dívidas de seu pai.
John Dickens e a esposa, presos por dívidas em Marshalsea até se acertarem com seus credores, deixaram Charles com uma velha rabugenta que alugava quartos para crianças. De segunda-feira de manhã até sábado à noite, ele colava rótulos em garrafas de graxa de sapato em um armazém no Strand (Londres), guardando um pãozinho e um pedaço de queijo no armário da velha para suas refeições. Seu passatempo de domingo era visitar os pais na prisão. Depois de um ano, uma herança permitiu que seu pai pagasse o que devia. Libertado de Marshalsea, ele libertou Charles da fábrica de graxa, embora sua mãe preferisse deixá-lo lá…
Dickens pensava na infância como um inferno que sempre estava sujeito a retornar do passado para prendê-lo.
Envergonhado e profundamente ferido por sua provação, Dickens manteve-a em segredo e só revelou os detalhes em um livro de memórias que confiou a John Forster em 1847. Seu tom neste fragmento de autobiografia é desanimadamente irônico. “É maravilhoso para mim”, escreveu ele, “como pude ter sido tão facilmente rejeitado em tal idade”.
Com o mesmo ressentimento afiado, ele descreveu seu trabalho árduo como uma iniciação profissional, o início de sua “vida empresarial”. Sua tarefa era cobrir os potes com camadas de papel, aparar as bordas e, então, uma vez atingido o “nível de perfeição”, aplicar os rótulos impressos. “Perfeição” era sua piada amarga sobre um padrão estético. Ele declarou que, durante esse período, não recebeu “nenhum conselho, nenhuma orientação, nenhum encorajamento, nenhum consolo, nenhum apoio, de ninguém que eu possa lembrar, que Deus me ajude”.
Quinze anos depois, ele se referiu em uma carta à “miséria inesquecível daqueles tempos antigos” e tentou esquecê-la transferindo-a para “uma certa criança malvestida e mal alimentada” — uma criança abandonada, indigente e anônima que ele talvez tivesse visto na rua, seu Doppelgänger de tamanho reduzido. Invertendo a precedência biológica, Wordsworth sustentou que “a criança é o pai do homem” e esperava nunca perder o espírito infantil de “piedade natural” do qual sua poesia dependia. Dickens parafraseou essa declaração, mas frustrou sua alegre esperança em um relato de um passeio de infância no Household Words, quando descreveu um menino desleixado que então identificou como o “pai extremamente desconfortável e desonroso do meu eu atual”.
Foto de uma parede do Museu Dickens (a casa onde o escritor viveu), de Londres | Foto: Milton Ribeiro
Dickens manteve a visão fresca e vibrante que Charles Baudelaire invejava nas crianças, que “veem tudo como novidade” e parecem “sempre embriagadas”, mas sua euforia era sempre marcada pelo pavor. Em um dos poemas de Wordsworth sobre seus primeiros anos, um menino coloca as mãos em concha sobre a boca e sopra “piadas mímicas para as corujas silenciosas / Para que elas possam lhe responder”; o grito se transforma em gritos de alegria que Wordsworth resume sobriamente como “confluência selvagem / De estrondo alegre!”
Os garotos de Dickens são mais propensos a mendigar ou furtar bolsos do que a brincar pela paisagem em dueto com pássaros, e seu equivalente mais próximo a esses gritos poéticos surge em David Copperfield, quando um imundo negociante de roupas usadas — um “louco bêbado” que dizem ter se vendido ao diabo — apimenta cada uma de suas declarações a David com uma exclamação louca e estende essa explosão áspera a “uma espécie de melodia… como uma rajada de vento”.
Para Wordsworth, a infância era um paraíso perdido no tempo, mas que poderia ser recuperado no espaço, e ele o recuperava em suas perambulações pelas paisagens em que cresceu em Cumberland. Dickens, no entanto, considerava a infância um inferno sempre propenso a retornar do passado para prendê-lo. Na meia-idade, ainda olhava para o outro lado ao passar por Charing Cross, para não ver a rua que descia até o rio onde ficava a fábrica de graxa.
Duas trocas em Dombey e Filho transmitem sua convicção de que sua infância, em vez de ter sido perdida, lhe foi roubada. O Doutor Blimber, diretor da escola onde o desconsolado Paul está matriculado, faz uma pergunta retórica sobre seu aluno doente: “Vamos fazer dele um homem?” Paul responde: “Eu preferiria ser criança”, mas isso não é uma opção. Nem para Edith, que cinicamente se casa com o pai de Paul após a morte de sua primeira esposa. “Quando eu fui criança? Que infância você me deixou?”, ela pergunta à mãe, a coquete esfarrapada Sra. Skewton.
Uma infância alegre como a de Wordsworth era um luxo, como Dickens reconheceu ao escrever duas frases que acabou apagando do manuscrito de A Pequena Dorrit porque a verdade que contavam era cáustica demais: “Os pobres não têm infância. Ela precisa ser comprada e paga.” Na ausência de alguém para pagar, seu conto de Natal O Homem Assombrado e a Barganha do Fantasma nos mostra a criança desacomodada. Um fantasma tutelar aponta para um menino adormecido e o chama de “a última e mais completa ilustração de uma criatura humana, abandonado a uma condição pior que a dos animais, sem alívio de qualquer toque humanizador”. A criança é o fantasma quando jovem e, ao olhar para trás, ecoa o lamento de Dickens em suas memórias. “Nenhum amor abnegado de mãe, nenhum conselho de pai me ajudaram ”, diz ele. Ou seja, ele se compara, como Dickens poderia ter feito, a um pássaro expulso do ninho.
Dickens dota as crianças em seus romances com uma desolada presciência do que as aguarda. O Sr. Chillip, o médico que faz o parto de David Copperfield, mais tarde tem um filho, “um bebezinho franzino, com uma cabeça pesada que não conseguia sustentar e dois olhos fracos e arregalados, com os quais parecia estar sempre se perguntando por que havia nascido”, e em Bleak House, o bebê de Caddy Jellyby é um “pequeno neném de rosto velho”, tristemente pensativo em seu berço. Um dos Espíritos que visita Scrooge transita entre a primeira e a última era do homem. Ele é “uma figura estranha — como uma criança; porém, não tanto como uma criança, mas como um velho, visto por algum meio sobrenatural, que lhe dava a aparência de ter desaparecido de vista e estar reduzido às proporções de uma criança”.
Dickens foi repreendido por não permitir que seus personagens crescessem e mudassem; ele dificilmente conseguia fazer isso, pois via a vida como circular, em vez de evolutiva. Começo e fim se unem para comprimir o meio. A Sra. Skewton, por exemplo, usa um manto de viagem “bordado e trançado como o de um bebê velho”, e o avô da Pequena Nell ingenuamente se torna vítima de jogadores por ser uma “criança de cabelos grisalhos”. A emocionalmente adormecida Sally Brass em The Old Curiosity Shop “passou a vida em uma espécie de infância”; ao longo do caminho, ela consegue gerar uma filha ilegítima, que é igualmente atrofiada — “uma criança antiquada”, ela aparentemente esteve “trabalhando desde o berço”. Uma segunda infância talvez seja mais feliz do que a primeira, já que pelo menos terá um término definitivo.
Em Um Conto de Duas Cidades, Sydney Carton pergunta ao velho banqueiro Lorry se, na velhice, a infância parece distante. Lorry responde, comovente, que quanto mais se aproxima do fim, mais próximo se sente do começo: é “um daqueles gentis aplainamentos e preparativos do caminho”. O sentimento é recorrente em O Mistério de Edwin Drood, onde as lembranças carinhosas da “época da creche” em Cloisterham têm uma segunda volta quando aqueles que cresceram lá chegam às suas “horas da morte”.
Em um ensaio sobre suas frequentes visitas ao necrotério parisiense, Dickens fala da infância como um “período impressionável”. “A observação de uma criança inteligente”, diz ele, é notável por sua “intensidade e precisão”, e — certamente desnecessariamente — ele alerta “alguns que cuidam de crianças” contra levar seus pequenos protegidos em passeios para ver os cadáveres inchados pescados no Sena. Já é ruim o suficiente, acrescenta, mandar crianças para o escuro ou enclausurá-las sozinhas em um quarto como presas do “grande medo”; se você trata uma criança dessa maneira, “é melhor assassiná-la”.
Quando Wordsworth disse em O Prelúdio que “cresceu / Criado tanto pela beleza quanto pelo medo”, ele estava pensando em uma “impressionante disciplina do medo” muito mais branda do que o horror incapacitante experimentado por Pip no cemitério em Grandes Esperanças, quando o condenado Magwitch se ergue atrás das lápides, ou por Oliver Twist quando é levado para visitar Fagin na cela dos condenados. A disciplina de Wordsworth não se estende aos açoites administrados a David Copperfield por seu padrasto Murdstone; na pior das hipóteses, o medo de Wordsworth é sua sensação de reverência de que a natureza o repreende silenciosamente quando ele devasta uma árvore para se banquetear com sua colheita de avelãs.
O relato de Wordsworth sobre sua “época de semeadura” presta homenagem grata à terra verde como “a ama, / A guia, a guardiã do meu coração e alma / De todo o meu ser moral”. Aos seis anos de idade, Dickens tinha um equivalente amoral em sua ama, Mary Weller, que tinha apenas treze anos quando foi contratada para cuidar dele. Ele a homenageava como uma “barda” e pensava que ela devia ser descendente “daqueles terríveis e velhos Skalds”, os Skalds que recitavam poemas sobre heróis nórdicos.
À noite, como ele afirma em The Uncommercial Traveller, ela lhe contava histórias que eram “completamente impossíveis… mas nem por isso menos alarmantemente reais” — sagas sobre um assassino em série aventureiro, ou um construtor naval que faz um pacto diabólico e, como resultado, é forçado a navegar em um navio infestado de ratos, que roem as tábuas e o afundam, afogando todos os tripulantes. A natureza cuidou de Wordsworth “com uma espécie de mente maternal”, mas em vez de acalmar Dickens maternalmente, Mary o enviou para “os cantos escuros para os quais somos forçados a retornar, contra a nossa vontade”. Ele se referia aos cantos mais obscuros de sua mente: o que pode soar como uma punição também era uma iniciação literária.
Caneca vendida no Museu Dickens. Ela se refere a uma frase de Oliver Twist que ainda estava com fome e desejava comer mais. Claro que a comida lhe foi negada. Em resposta, ele recebeu risadas sarcásticas | Foto: Milton Ribeiro
Elaborando a Sra. Dalloway : como Virginia Woolf começou sua obra-prima
Por Mark Hussey, em 14 de maio de 2025 (na Literary Hub)
Virginia Woolf era desorganizada. Seus rascunhos remanescentes costumam estar manchados de cinza de cigarro ou de pegadas de cachorro. As grandes mesas de madeira que ela preferia em seus escritórios estavam cobertas de manuscritos, tinteiros, cinzeiros transbordando e os cadernos que ela mesma fazia, contornando cada página com um lápis azul grosso. Ela não escrevia à mesa, porém, sentava-se todas as manhãs em uma poltrona baixa, com uma tábua na qual colava um tinteiro equilibrada sobre os joelhos para apoiar o caderno no qual escrevia seus rascunhos. Ela acompanhava seu progresso, datando o trabalho do dia, às vezes somando quantas palavras havia escrito e anotando onde estava quando rascunhou um trecho específico.
À tarde, ela digitava na máquina de escrever o que havia escrito, revisando-o à mão e, em seguida, redigitando as páginas até que estivessem prontas para serem enviadas a um datilógrafo profissional e, em seguida, à gráfica. Ela também continuava revisando a fase de provas — uma vantagem de ser sua própria editora.
A vida de Leonard e Virginia Woolf tinha um ritmo definido pelo trabalho e pelas viagens entre suas casas em Londres e sua casa de campo. A Sra. Dalloway foi escrita em três lugares: Monk’s House, na vila de Rodmell, em Sussex; Hogarth House, na Paradise Road, em Richmond; e Tavistock Square, 52, em Bloomsbury (Londres). Anos antes de ela ou sua irmã encontrarem as casas em Sussex onde se estabeleceriam, Virginia imaginou para Vanessa um refúgio no campo com “uma pequena casa de campo entre as árvores, no fundo do jardim”.
Naquela casa de sonho, Virginia esperava ter um quarto com uma mesa, livros, um espelho e “um armário curioso, cheio de pequenas gavetas”, onde os filhos de sua irmã procurariam segredos. Woolf nunca teve um quarto na casa de sua irmã, mas no verão de 1921, ela ficou emocionada ao relatar que ela e Leonard estavam convertendo um galpão de ferramentas na Casa de Monk em um quarto de jardim. Teria grandes janelas através das quais ela poderia ver os prados de South Downs até o Monte Caburn.
Naquele quarto de jardim na Monk’s House, em agosto de 1922, Woolf anotou em seu diário alguns planos para o trabalho que desejava realizar naquele verão antes de retornar a Richmond no outono. Ela e Leonard voltaram para Londres de trem de Lewes em 5 de outubro. No dia seguinte, ela abriu uma nova página em um dos cadernos em que havia rascunhado seu terceiro romance, “O Quarto de Jacob” , para registrar algumas ideias sobre “um livro que talvez se chamasse ‘Em Casa’ ou ‘A Festa’. “O Quarto de Jacob” estava prestes a ser publicado, mas a mente de Woolf estava cheia de ideias para seu próximo romance. Ela pretendia que fosse um livro curto que terminasse com uma festa. O primeiro capítulo se basearia em uma história que ela acabara de escrever, “A Sra. Dalloway em Bond Street”. Isso, ela pensou, poderia ser seguido por outra história em que ela estava trabalhando, intitulada “O Primeiro-Ministro”.
Mas se os escritores modernistas nos ensinaram alguma coisa, é que nossa experiência do tempo raramente é linear, que sob a superfície de cada momento presente as correntes da memória correm profundamente. A própria Woolf escreveu que a vida “não é uma série de lâmpadas, dispostas simetricamente”, mas sim como “um halo luminoso… que nos envolve do início da consciência ao fim”. Portanto, embora aquele esboço em seu caderno represente Woolf começando a planejar seu próximo romance, reunindo ideias que vinham fermentando há algum tempo, não seria preciso vê-lo como “o” início de Mrs. Dalloway.
Podemos identificar muitas fontes para o mundo criado por Woolf em seu quarto romance, mas nenhuma inspiração original específica. Os personagens que povoam Londres em um dia de junho de 1923, dia em que Clarissa Dalloway dá uma festa e Septimus Warren Smith tira a própria vida, emergiram da imaginação da autora, moldada por suas memórias de crescer em Kensington, de viver a Primeira Guerra Mundial, de seus próprios colapsos mentais e até mesmo, como Clarissa diz no romance, de “pessoas com quem ela nunca havia falado, alguma mulher na rua, algum homem atrás de um balcão — até mesmo árvores ou celeiros”.
Na época em que a Sra. Dalloway começava a tomar forma, Virginia Woolf só recentemente começara a se sentir confiante como escritora, apesar de já praticar seu ofício por duas décadas. Quando Leonard leu o texto datilografado de O Quarto de Jacob em um dia de verão de 1922, ele disse a ela que era “uma obra de gênio”. Ela escreveu em seu diário que finalmente havia descoberto “como começar (aos 40) a dizer algo com minha própria voz”. Depois de “O Quarto de Jacob”, ela sentiu que poderia continuar como escritora sem precisar de elogios. Ela estava animada com o desafio de desenvolver o tipo de ficção experimental curta que vinha escrevendo desde 1917 na forma mais longa de um romance. “O Quarto de Jacob” mostrou a ela como ela poderia fazer isso.
Quando concebeu O Quarto de Jacob pela primeira vez , em 1920, Woolf era autora de dois romances mais ou menos convencionais (embora o aparente enredo de casamento do primeiro, “The Voyage Out”, seja descarrilado pela morte prematura de sua heroína), dezenas de ensaios e resenhas, e também cofundadora da Hogarth Press. Ela e Leonard lançaram sua editora com um panfleto contendo uma história de cada um deles, “A Marca na Parede”, de Virginia, e “Três Judeus”, de Leonard.
Ao começar a pensar na obra que se tornaria “O Quarto de Jacob”, Woolf também estava relendo seus dois primeiros romances, pois uma editora americana havia acabado de concordar em publicá-los nos Estados Unidos (ambos haviam sido publicados na Grã-Bretanha pela Duckworth, a empresa fundada por seu meio-irmão Gerald). Ela pediu a amigos que a avisassem, antes de enviar os livros para a América, se tivessem notado algum erro de digitação. Lytton Strachey a encantou ao dizer que, ao reler “The Voyage Out”, achou-o “extremamente bom”. Ele gostou particularmente da “sátira dos Dalloway” dela.
Clarissa Dalloway, a personagem mais famosa de Woolf, faz uma breve mas significativa aparição em “The Voyage Out”, uma figura glamorosa pegando carona com seu marido político, Richard, em um navio mercante com destino à América do Sul. Woolf disse a Vanessa Bell que Clarissa foi baseada em uma amiga de juventude, Kitty Maxse (nascida Lushington). Ela se lembrou em um livro de memórias de como a mesa de chá na casa alta de seus pais no número 22 do Hyde Park Gate havia sido “fertilizada por um fluxo arrebatador de beleza feminina” cujo “modelo de sagacidade, graça, charme e distinção era, sem dúvida, a adorável Kitty Lushington”. Kitty foi uma das que desaprovaram a mudança dos jovens irmãos Stephen para Bloomsbury em 1904, após a morte de seu pai, o eminente homem de letras do final da era vitoriana, Sir Leslie Stephen. Por meio de boatos, Woolf ouviu que Kitty não gostava de seu segundo romance, “Noite e Dia” — algo que Leonard ironicamente achou um grande elogio.
Diário de 6 de outubro de 1922:
Reflexões sobre o início de um livro que talvez se chamará “Em Casa” ou “A Festa”: Este será um livro curto, composto por seis ou sete capítulos, cada um completo separadamente, mas deve haver algum tipo de fusão. E todos devem convergir para a festa no final. Minha ideia é ter alguns personagens muito [ ], como a Sra. Dalloway em grande relevo: depois, ter interlúdios de pensamento, reflexão ou pequenas digressões (que devem estar relacionadas, logicamente, ao resto), todos compactos, mas não espasmódicos.
Os capítulos podem ser,
1. Sra . Dalloway na Bond Street.
2. O Primeiro Ministro.
3. Antepassados.
4. Um diálogo.
5. As velhinhas.
6. Casa de campo?
7. Flores cortadas.
8. A festa.
Um, mais ou menos, para ser feito em um mês: mas este plano é permitir algumas páginas bem curtas : intervalos, não capítulos inteiros. Deve ser divertido —
Ontem tivemos uma bela e amorosa noite de cinema aqui na Bamboletras. Tudo funcionou. O cinema é isso: um ritual coletivo. Vieram cinéfilos que já tinham visto 5 vezes Sunset Boulevard, assim como curiosos. Todo mundo saiu satisfeito.
Atendendo aos primeiros pedidos, pensamos numa próxima sessão com As Vinhas da Ira, de John Ford. Um monumento do cinema humanista e uma obra poderosa baseada no romance de John Steinbeck, que captura a dor e a dignidade dos marginalizados durante a Grande Depressão nos EUA.
Pensávamos em sessões mensais, mas já estou achando que podem ser quinzenais. E assim a gente vai resistindo.
O Grêmio já levou 4, o Juventude 5 e 6, e o Inter levou 4 e mais 4. Por que não voltamos ao semiamador Gauchão a fim de vermos os grandes de nosso estado voltar a vencer? O Brasileiro é um campeonato malvado, difícil demais para gente que reelege o Leite. Se assim o fizéssemos, ganharia o RS e ganharia sobremaneira o futebol guasca.
Haydn: Quarteto de Cordas, Op. 54 Nº 2
Mozart: Quarteto K. 465 (das Dissonâncias)
Beethoven: Quarteto de Cordas, Op. 59, Nº 3 (um dos Razumovsky)
Beethoven: Quarteto de Cordas, Op. 132 (o campeão)
Schubert: Quarteto de Cordas Nº 12, D. 703, “Quartettsatz“
Schubert: Quarteto de Cordas Nº 13 “Rosamunde” (o terceiro)
Schubert: Quarteto de Cordas Nº 15 in G major, D. 887
Borodin: Quarteto de Cordas Nº 2
Janáček: Quarteto de Cordas Nº 2 “Cartas Íntimas”
Ravel: Quarteto de Cordas
Bartók: Quarteto de Cordas Nº 4 (o segundo colocado)
Bartók: Quarteto de Cordas Nº 5
Shostakovich: Quarteto de Cordas Nº 3
Shostakovich: Quarteto de Cordas Nº 8
Ligeti: Quarteto de Cordas Nº 2
Crumb: Black Angels
A Elena chama a Segunda Guerra Mundial traduzindo a expressão utilizada na Rússia, Grande Guerra Patriótica. Não que ela pareça muito saudosa de Belarus ou se ufane especialmente de sua origem — acho que ela se ufana apenas da língua russa –, é que aprendeu assim, Grande Guerra Patriótica.
O dia da tomada de Berlim pelos soviéticos, o 9 de maio, dez dias antes do aniversário dela, é um feriado muito importante no país, uma grande festa, e, neste ano, comemora-se 80 anos do fim do nazismo. Morreram 27 milhões de soviéticos.
Muita gente importante estará em Moscou sexta-feira e é certo que Putin, Xi Jinping e Lula terão um assunto: Trump. Sempre desinformando, o Laranjão disse a Guerra só foi vencida graças aos EUA. Bem, sabemos que história não é o seu forte. Aliás, em que ele é forte? Em taxações e fascismo?
Eu disse para várias pessoas após a vitória casual contra o Atlético Nacional e o empate com o Nacional no Beira-rio: o Inter vai ser terceiro e cairá fora na primeira fase da Libertadores. Depois da rodada desta semana, constato que errei: o Inter ficará em último em seu grupo.
Nosso time é uma curiosa mistura de mau futebol, desatenção e falta de elã. Ou seja, é tudo o que NÃO pode ser numa Libertadores.
Quem estava no RS durante a enchente de 2024 compreende perfeitamente a angústia das pessoas com a previsão do tempo para os próximos dias. A parte que será mais afetada será o sul e o oeste do estado. Parece que vem muita chuva.
Desde a enchente, apesar dos bilhões despejados aqui pelo Governo Federal, quase nada foi feito. Nosso bonitinho governador não apresentou projetos e parece desprezar o dinheiro vindo do Governo Lula como se fosse Ouro de Moscou que lhe pudesse transmitir uma ideologia de esquerda, cruz credo.
O pouco que foi feito foi ridicularizado por especialistas. E este cara quer o Planalto…
O bolsonarista prefeito Melo também não reformou as casas de bombas que evitam os alagamentos e, cada vez, que um cachorro mija num poste, há riscos para a cidade. Quando a excelente meteorologista Estael Sias aparece na minha TL, já fico meio desconfiado. Só que ela não é culpada.
A enchente faz um ano e pouco foi feito. Leite e Melo apostam na sorte. Devem jogar com responsabilidade na KTO.