Um texto bem bobo como o amor

Um texto bem bobo como o amor

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O dia 25 de setembro — assim como o 4 de janeiro, Bernardo — é uma superdata. É a data de nascimento de minha filha Bárbara. Sou um sujeito como quase todo mundo, então tenho um amor incondicional e oceânico por meus filhos. Mas meus contatos com eles foram drasticamente reduzidos nos últimos meses. O Bernardo está em Berlim e meus encontros pessoais com ele em 2015 ficaram reduzido quase a zero. O Skype não vale. A Bárbara hoje não mora mais comigo e entrou naquela idade maluca em que se trabalha mais do que os pais. Há a faculdade, o estágio, o namorado, as festas, o mundo e o tempo que sobra é pequeno. É a prova de que, mesmo que a biologia pense diferentemente, não fazemos os filhos para nós. Mas creio que o vínculo amoroso permaneça intacto.

Que eu lembre, nunca comentamos a respeito, mas, quando morávamos juntos, éramos uma dupla bastante original. Temos tendência a permanecermos silenciosos e assim ficávamos por horas. Lembro de passarmos finais de semana na mesma casa, apenas conversando na hora das refeições. E era tudo muito leve e agradável. Lembro de nossa viagem para a Europa. Passamos 20 dias juntos sem nenhuma altercação, desentendimento, nada. É claro que não foi por ficarmos quietos. Conversamos muito e recordo do momento em que chegamos a Camden Town, Londres, e eu caí inteiramente no ritmo dela, entrando onde ela queria entrar e fazendo o que ela desejava. Ela subitamente virou-se para mim e disse que estava curtindo muito, mas que a viagem não era só dela, era minha também. Eu assenti em silêncio, feliz, mas segui pensando que a viagem era dela. E era.

2013 foi um grande ano para mim. Além de ter sido o ano em que a Elena entrou na minha vida, foi o ano desta coisa que eu sugiro a todo pai fazer: uma longa viagem com um filho(a). Pode ser para qualquer lugar, não precisa ser necessariamente para paraísos caros. Bem, se a relação for tensa, talvez seja melhor esquecer. Eu e Bárbara aproveitamos aquela que talvez tenha sido nossa última chance. Com os 18 anos que ela tinha em fevereiro de 2013, ainda era possível. Agora, em dezembro, ela voltará à Europa numa viagem que envolve o irmão, mas também o namorado, um calendário mais apertado, etc. Enfim, acho que aquela foi a última oportunidade de pai e filha viajarem sozinhos.

Monumento à Franz Kafka, próximo à rua Dušní em Praga, em frente à Sinagoga Espanhola
Monumento à Franz Kafka, próximo à rua Dušní em Praga, em frente à Sinagoga Espanhola | Foto: Milton Ribeiro

Tenho uma lembrança bobíssima, que certamente só eu acho emocionante. Num dia de nossa viagem, a gente estava mais ou menos próximo do monumento acima, na entrada do Josefov, o bairro judaico de Praga. O Monumento à Franz Kafka foi inspirado em um dos contos de Kafka, Descrição de uma Luta. É Kafka nos ombros de um gigante destituído de cabeça e mãos, representação de uma das cenas da história. No bairro há um monte de sinagogas. Tem a Sinagoga Pinkas, a Velha Nova Sinagoga, a Alta Sinagoga, a Prefeitura judaica, o Antigo Cemitério judaico, etc. E precisávamos comprar ingressos para ver tudo isso. Fui comprá-los e notei que a atendente estava olhando para alguma coisa às minhas costas. Pedi nossos ingressos e a senhora nem me ouviu, continuou olhando. Fui ver o que estava acontecendo e observei que Bárbara girava lentamente sobre si mesma, olhando para o alto e sorrindo. Na hora achei estranho, ela não costuma deslumbrar-se facilmente, que ataque era aquele? O que não sabia é que aquela imagem ficaria gravada tão fortemente em meu cérebro.

A senhora voltou a me dar atenção e me disse em inglês, sorrindo:

— Ela nunca viu a neve… De onde vocês são?

Só então me dei conta de que (1) tinha começado a nevar e (2) que a Bárbara nunca tinha visto aquilo e estava encantada.

Foto: Milton Ribeiro
Foto: Milton Ribeiro

Por alguma razão, toda vez que lembro de minha filha e certamente quando lembro daquela viagem, me vem a imagem da Babi girando. Não tirei fotos daquele momento. Se o fizesse, talvez não lembrasse tão bem. Depois veio mais neve.

Foto: Milton Ribeiro
Foto: Milton Ribeiro

e muito mais neve.

Foto: Milton Ribeiro
Foto: Milton Ribeiro

E veio a zombeteira.

Coisa amada | Foto: Milton Ribeiro
Coisa amada | Foto: Milton Ribeiro

Antes que me torne sentimental e aborrecido, é melhor parar. Feliz aniversário, Babi! Dizem que a gente é parecido, mas eu te acho parecida é com minha irmã. Quando tu te irritas ou logo que acordas, bá, ficas igual. É aquela coisinha intratável. Até bem pouco tempo, eu te acordava com um Nescau no quarto, mas tu ficavas louca da vida quando eu entrava cantando romanticamente Moon river. Então eu mudei para o estribilho de Geni e o Zeppelin. Também sei que não podes ouvir outra canção do Chico Buarque, Cala a boca, Bárbara, música com a qual eu te ninava quando eras bebê. Sim, acho que fui um pai insuportável, mas o resultado comprova que não fui tão mal assim, ao menos te passei metade de uma carga genética bem legalzinha. Por dentro e por fora. (Vê-se e sente-se que a outra metade também é muito boa).

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E jamais esqueça que hoje é também o aniversário de meus ídolos Dmitri Dmitrievich Shostakovich e William Faulkner. Naquele domingo à tarde, tudo foi preparado para que nascesses em boa companhia, viu?

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O dia em que meu avô enfrentou a ditadura

O dia em que meu avô enfrentou a ditadura
Quartel Militar de Cruz Alta

Para meus filhos Bárbara e Bernardo Ribeiro

Da minha perspectiva, meu avô João Cunha, pai de minha mãe, sempre foi um homem muito velho. Nascido em 1888, tornou-se pai de minha progenitora em idade madura, aos 39 anos. Eu, por exemplo, já tinha dois filhos aos 39. Quando nasci, ele já ia pelos 69. Viveu até os 81 anos, idade suficiente para que eu mantivesse bastante contato com seu Mal de Alzheimer. Porém, em 1º de abril de 1964, aos 76 anos, o velho João Nepomuceno Cunha teve uma dessas janelas de lucidez que ocorrem aos que não estão no estágio terminal da doença. Naquele dia, ele compreendeu perfeitamente que o país fora vítima de um Golpe Militar. E resolveu agir para impedi-lo.

Vestido de pijamas, saiu de casa sem que minha vó notasse e dirigiu-se ao quartel mais próximo. Importante dizer que a família de minha mãe é de Cruz Alta e que, a algumas quadras da casa de meus avós, havia um enorme quartel, ao menos na minha ótica infantil. Para lá foi meu avô. Então, com gestos enérgicos, iniciou aos berros um violento discurso. Chamou os militares à ordem com as palavras fortes que fazem parte do folclore familiar e que iniciavam assim:

— Parasitas da nação!

E depois passou a desafiar os milicos, sempre aos gritos. O pessoal do quartel ficou em dúvida se deveria prender meu avô. Na verdade, prendê-lo era complicado. Em primeiro lugar, por ser um velho doente; depois, por ser uma figura muito conhecida e respeitada na cidade. Além de ser o construtor de muitíssimas das casas de açorianos da cidade, ele fora um importante maçom, tendo chegado ao mais alto grau na organização. E, na época, ser maçom era dispor de uma inesgotável reserva moral…

O comandante do quartel resolveu ligar para meu tio João Cunha Filho, dando-lhe um ultimato.

— O seu pai está aqui na frente do quartel acusando os militares de quererem entregar o país aos americanos e outras bobagens.

— Como? O Sr. tem certeza que é ele?

— Sim, ele está vestindo pijamas e já tem uma plateia de imbecis ouvindo, aplaudindo e rindo de nós. Nós teremos que tomar providências, a menos que o Sr. venha AGORA a fim de levá-lo para casa.

E lá foi meu tio, em pânico, salvar seu velho pai das garras dos militares. Enfiou-o em seu carro sob vaias dos populares que queriam ver e ouvir mais. Foi um momento de glória para toda nossa família.

Antes de mergulhar nas brumas definitivas da doença, ele ainda alternou bons e maus momentos. Nos bons, sentava-se em sua cadeira de balanço para recitar de memória poesias de Casimiro e Machado. Eu achava aquilo muito estranho, mas notava a beleza. Nos maus, ele me perseguia com pedras na mão pelo quintal do pátio. Depois, era advertido aos berros por minha avó e literalmente chorava, dizendo que não reconhecera seu neto.

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Após um luto tranquilo e cheio de boas lembranças

Após um luto tranquilo e cheio de boas lembranças

Venho de uma família absolutamente convencional e média em todos os quesitos. Porém, há um fato para o qual só dei atenção na vida adulta. Dizem que minha mãe foi uma das primeiras dentistas do Rio Grande do Sul (formada em 1948, aos 21 anos). E ela nunca foi “do lar”, sempre esteve batalhando e sustentando a casa parelho com meu pai.

Quando dei-me conta disto lá pelos anos 70 e falei-lhe a respeito. Ela respondeu que muita gente se admirava que uma “mulher de dentista” trabalhasse ou “fosse obrigada a trabalhar”, conforme o dizer da época. Era como se meu pai não fosse o marido de uma dentista, mas um explorador de seu trabalho. Ela não concordava, apesar de que sua participação fosse efetivamente fundamental no orçamento familiar. Trabalhou a vida inteira e só parou aos 72 anos.

Essa mulher, que sempre achou muito natural o fato de ser independente, faria 88 anos hoje. A Dra. Maria Luiza morreu há quase três anos e mereceria uma festa daqueles que a conheceram. Infelizmente, este não é um hábito em nosso país. Mas vou dar um jeito de, privadamente, fazer-lhe um brinde hoje à noite. Merece.

Minha mãe e minha filha Bárbara em 2003
Minha mãe e minha filha Bárbara em 2003

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Meu primeiro toque retal

Meu primeiro toque retal

toque retalPisando a linha do vulgar, sem jamais ultrapassá-la.

Foi no início dos anos 90. Repentinamente, eu passei a sentir fortes dores. Não conseguia sentar direito, era obrigado a sentar de lado, levantar da cama exigia um esforço de rolamento especial, qualquer caminhada de uma quadra era difícil e ir aos pés era algo indizivelmente desagradável e penoso. O alívio só vinha mesmo se eu ficasse deitado de bruços.

Meu pai logo fez o diagnóstico: era uma crise hemorroidária. Vocês sabiam que por culpa de suas hemorróidas Napoleão ficou impedido de montar em seu cavalo e que, para aliviar as dores, ele teria ficado por horas e horas em posição fetal, ou genupeitoral, perdendo com isso tempo precioso para aplicar sua estratégia militar em Waterloo? Vocês sabiam que essa posição acabou conhecida como “a posição em que Napoleão perdeu a guerra”? Vocês sabiam que tal posição apenas agrava o problema? Pois é. Resolvi marcar uma hora no proctologista. Perguntei a uma amiga médica o nome de um. Ela me disse:

— Vai no Ignácio Mallmann. É muito bom.

Confesso que queria evitar, mas a dor era violenta e persistente.

— Sabe qual é o apelido do Ignácio?

— Não — respondi.

— É tala larga… Ele tem mãos grandes!

Arrã. Engraçadinha. Fui perguntar para minha irmã, que também é médica e ela confirmou que Ignácio era excelente médico.

— Diziam que ele era apaixonado pela M., mas não deu certo.

Eu não estava nada preocupado com a vida sexual do Dr. Ignácio… Ou deveria?

— Ele é muito hábil. O apelido dele é Paganini.

Sempre foi assim, sempre estive cercado de piadistas que não me levam a sério nem quando caminho todo torto, de lado, tentando não movimentar as pernas.

— Ah, é?

— Sim, ele é bom com dedos, além de acromegálico.

— Que interessante!

— Ele tem as mãos, os pés, o nariz e todas as extremidades gigantescas!

Ri de minha adorável irmã e marquei hora com o já lendário Ignácio. Devo ter chegado lá com ar de súplica. Contei para ele a desgraça enquanto media seus dedos. Não eram nada excepcionais e só naquele momento dei-me conta de que deveria ter ido numa doutora tamanho mignon, de delicadas e diminutas mãos. Se fosse um pouquinho inteligente, nunca escolheria um homem. Ele era simpático e eu nem por sonho falaria na sua paixão adolescente por minha amiga M. Imagina se ele pensasse nela durante o exame? Seria empalado.

Depois daquela conversinha que para mim assemelhava-se àqueles acertos que alguns fazem com as putas na janela de seus carros. Entrei no car…, digo, fui para uma salinha auxiliar onde havia uma espécie de poleiro de formato ameaçador. Logo imaginei a posição que ficaria, já a tinha visto no Kama Sutra. Olhei em volta procurando correntes, roupas de látex, chicotes ou algemas, mas era mesmo só o poleiro.

Deveria ter pedido um mordedor, mas nem pensei nisso. Tirei a roupa e fui para o poleiro ouvindo vozes do filme A Vida de Brian.

Crucifixion?

Yes, please.

Good!

Ignácio começou a rir. Eu recém tinha me empoleirado, de pernas abertas, mostrando com toda a clareza o problema para ele. Mas ele estava rindo de pena.

— Nossa, deve estar doendo muito. É aparente e está muito inchada. Dá para ver daqui.

Não sei a quantos metros ele estava de mim, mas achei que, já que era visível a olho nu, podíamos encerrar sem utilizar a luneta. Mas vocês conhecem os médicos. Como eu não estava ali pelo SUS, ele faria o serviço completo. Senti algo. Olha, a coisa doía tanto que não vou negar que a luva úmida e gelada do médico foi até agradável. O local parecia queimar. Ele disse que não era grave. Limpeza local e uns quinze meses de antiinflamatório resolveriam. Não, nada a ver com comida. Era constitucional, ou seja, a culpa era minha. Em três dias eu estaria bem.

Seu discurso era tranquilizador e eu ia pouco a pouco relaxando, entrando no clima. No clima de Waterloo. Olha, conversamos muito. Eu na posição napoleônica, ele na do Duque de Wellington. Mal sabia eu que aquelas eram as preliminares, pois, sem maior aviso, enquanto eu sustentava uma opinião qualquer, ele subitamente pontificou com tudo, ao mesmo tempo que dizia animadamente

— vamos aproveitar para dar uma olhada na tua próstata!

Não lembro se doeu muito ou não, só sei que pensei

— que merda, esse cara está me enrabando!

E acho que pus as mãos no rosto em gesto de absoluto pasmo. Minha honra, meu reto antes inexpugnável! Ele ainda falava, agora dizendo maravilhas de minha próstata, tão pequenininha em comparação a seu dedo. Eu devia ser muito bonito por dentro pois seu entusiasmo era realmente contagiante, se houvesse por ali alguém a fim de contágio. O exame finalizou como finalizamos qualquer ato sexual, com a retirada do dito cujo.

Após a curra, podia vestir-me, mas havia um problema. Eu ficara sem graça, meu rosto deixara de se mexer e a fala tornara-se monocórdica. Passei a responder a tudo sem sorrir, pensando porque diabos M. não curara aquele tarado em seus dias de juventude. Saí de lá direto para meu trabalho na Hewlett Packard. Sentei na minha mesa. Nem sentia mais dor. Ou não me importava mais. Foda-se… quero dizer… Ah, sei lá. Olhei para o lado e disse para meu amigo Dario:

— Porra, Dario, fui enrabado!

Quase vinte anos depois, no ano de 2007, durante a festa de aniversário do Dario, estávamos numa situação em que faríamos qualquer bafômetro acender a luz vermelha a cinquenta metros. E ainda havia aquele narguilé… Bom, o fato é que tínhamos nadado num mar de espumante da melhor qualidade. Repentinamente, o Dario olhou para mim e deu uma trovejante gargalhada. Não sei por quê, adivinhei na hora o motivo. E ele começou a contar para TODOS minha reação ao Dr. Ignácio Mallmann e, pior, confessou que rira alto quando fizera seu primeiro exame de toque retal. Por quê?

Ora, porque lembrara de minha cara ao chegar na HP.

Podemos, todos nós, fazer suposições sobre o que o médico dele pensa de uma pessoa que dá risadas durante o ato, digo, exame, mas não explicito as minhas em respeito a um grande amigo.

Dedicado ao Dario. Abaixo, uma foto muito bonita de seu casamento.

Obs.: Ignácio Mallmann é excelente médico e espero que, se ele vier um dia aqui, perdoe-me a brincadeira. Afinal, o primeiro a gente nunca esquece.

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Feliz aniversário, Elena

Feliz aniversário, Elena
Elena e eu
Elena e eu

Hoje a Elena está de aniversário. Cioran disse que a arte de amar — é meu caso em relação a ela — é saber unir o temperamento de um vampiro à discrição de uma anêmona. Hum… É verdade. Neste belo tempo em que estamos juntos a gente fez e cumpriu planos, ficou doente e se recuperou, rimos tanto de nós e dos outros que deveria ser proibido agir tão bobamente assim, fizemos tantos passeios juntos que talvez já tenhamos ido a pé a Bielorrússia, entendemos na prática que só se é feliz dentro da liberdade e fizemos tantas declarações de amor um para o outro que fomos muito, mas muito ridículos. E Cioran, é claro, tem toda a razão, porque faz parte.

Só que me perdi. É ela que está de aniversário, não nós! Milton burro.

Feliz aniversário, Elena. Te desejo muitas alegrias e disposição para me aguentar neste novo ano que se abre. Acho que estaremos juntos por muitos deles, sempre como amadores.

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Eu e minha mãe, não sei em que ano

Eu e minha mãe, não sei em que ano

Um feliz Dias das Mães para quem as têm e belas e felizes lembranças para quem não tem mais.

Milton Ribeiro e Maria Luiza

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Gremista por um dia: sim, me aconteceu

Gremista por um dia: sim, me aconteceu
O vô Manuel
O vô Manuel

Eu era muito pequeno, tinha uns 4 anos. Meu avô faleceu quando eu tinha cinco. Eu adorava o velho Manuel que, hoje sei, não podia ser mais típico. Era chamado Manuel, dono de uma padaria chamada Lisboa, na Av. Azenha. Ele só seria mais típico se tivesse ficado no Rio de Janeiro. Chegara da região de Aveiro, fora primeiro estivador no porto, era brincalhão, tinha inesgotável paciência comigo e habitava um lugar cheio daquelas maravilhas às quais meus pais dificultavam o acesso — balas, refrigerantes, doces, sonhos e pães, os pães que amo até hoje.

Hoje sei o que significa a palavra que minha mãe dizia a respeito dele, a palavra terrível. Ele era mulherengo. Com enorme sucesso, fazia graça para as moças atrás do balcão. A mãe dizia que minha vó Maria era uma santa para aguentar tudo aquilo do marido.

Um dia cheguei com meu pai à padaria e ele pediu para que eu contasse a última novidade para meu avô.

— Vô, sou gremista!

Ele ficou imediatamente sério e tudo o que eu não queria era deixá-lo assim. Devia ter uns 4 anos de idade e era assustador decepcionar o velho. Logo pensei: toda nossa família é colorada, será que é muito errado ser gremista?

— Milton Luiz — eu era Milton Luiz e meu pai, Milton –, sinto-me no dever de fazer-te ver a verdade.

E, cada vez mais sério, seguiu:

— Ser do Inter em Porto Alegre e do Benfica em Lisboa é estar perto da verdade, do absoluto. O Grêmio é uma mentira.

— Mas meus amigos são gremistas fanáticos e o Grêmio ganha tudo!

Estávamos nos anos 60 e, realmente, a superioridade do Grêmio era o que nunca foi depois.

— Saltar do Inter para o Grêmio é como ir de Eça de Queiróz para Cardoso Filho.

Cardoso Filho era um parente nosso que era escritor no Rio de Janeiro. Escrevia uns livros melodramáticos, xaroposos mesmo. Meu pai saiu da padaria, rindo. Não entendi. Como meu avô parecesse cada vez mais contrafeito, eu estava em pânico, confuso, louco para correr atrás do pai, mas não ousava.

— Mas eu gosto…

— OLHA LÁ RAPAZINHO, TU NÃO SABES TER UMA CONVERSA SEM PÔR A PATA NA POÇA? Além do mais, associado ao nome Internacional, há coisas sagradas, coisas da vida, da política! O vermelho é o povo, o vermelho é a cor de quem está do nosso lado!

Era grave mesmo. Melhor recuar. Comecei a chorar. Onde estava o pai? Acontece que no dia anterior, a família do meu melhor amigo, João Batista, tinha me convencido a aderir ao Grêmio. Eram vencedores, triunfantes. Mas não podia viver como um proscrito, detestado pela própria família. E virei a casaca pela segunda vez em dois dias.

***

Com este tipo de pressão, acabei herdando do velho Manuel o amor pelo Inter e pelo Benfica. Alguns dias depois, ele me disse que havia uma coisa que unia os clubes de forma umbilical:

— A tendência à tragicomédia.

Como aquele assunto o deixava brabo e ele parava de brincar, achei melhor fingir que tinha entendido. Repetia para mim mesmo suas últimas expressões: “Somos radicalmente tragicômicos”.

Por favor, que não o sejamos hoje!

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Nosso encontro com João Bez Batti

Nosso encontro com João Bez Batti

Eu estava recém separado quando resolvi pegar as crianças e tirar uns dias num hotel fazenda. Escolhi a pousada da Don Giovanni. Nunca tinha ido lá e deixei meu filho Bernardo ser nosso navegador. Perdemo-nos várias vezes, dávamos risadas, mas chegamos. Lugar lindo, acomodações perfeitas. Era uma quarta-feira gelada de inverno, quase zero grau. Ficaríamos até o domingo seguinte. No primeiro passeio, descobrimos algo que me pareceu do outro mundo. O escultor João Bez Batti tinha seu atelier numa casa dentro da fazenda. Já conhecia alguns de seus trabalhos. Havia algumas peças em exposição e fomos examinar cada uma delas quando o escultor chegou-se a nós timidamente, ouvindo e sorrindo do que dizíamos, principalmente do que diziam Bárbara e Bernardo. Ele puxou conversa com as crianças enquanto crescia em mim aquela conhecida dúvida de pai: estaríamos ou não incomodando?

bez battiMais um pouco e fomos embora. Depois do almoço, fui babar no travesseiro, mas depois soube que os dois tinham voltado ao atelier e, mais, que passaram horas com o João. No dia seguinte, ele veio me comunicar que tinha comprado pão, leite, nescau, bolachas, sucos naturais, iogurtes para eles e comida para a Bárbara dar para seus gatos. Queria que os guris se sentissem “mais em casa”. No hotel, houve certo pasmo. Bez Batti não costumava disponibilizar seu tempo tão generosamente, ainda mais para crianças. Enchi-os de recomendações e eles foram para o atelier. Às vezes eu conferia a bagunça e era sempre a mesma coisa. João estava seduzido pela Bárbara, que brincava com os gatos e comia (sempre perguntando para o João rir: “Eu sou magra de ruim, né?”), enquanto o Bernardo contava histórias — sempre foi insuperável neste quesito — e fazia perguntas sobre as pedras. Eles também levavam centenas de girinos do lago ao lado para o escultor observar… Voltavam para o hotel molhadíssimos e eu colocava as roupas cheias de barro no secador de toalhas do quarto. Guardei uma muda de roupa limpa e o resto era para encher de terra. A mãe deles que depois lavasse. Só ia chamá-los para o almoço ou algum passeio; a maior parte do tempo eles ficavam com o João. Ficamos amigos, claro.

Nos últimos dias, eu também permanecia no atelier. Passamos a falar sobre pedagogia e literatura. Tínhamos concepções “muito iguais” sobre como criar e acompanhar os filhos. Ríamos a respeito de ambos sermos pais-problema. Ríamos ainda mais porque ambos tínhamos, como ex-mulheres, ex-militantes de esquerda que se tornaram competitivas amantes do dinheiro. Na literatura, João descrevia uma vivência inteiramente diferente da minha. Tinha referências sempre muito interessantes sobre o ambiente dos livros. A cidade, os espaços, os quartos dos personagens, o campo. Ele foi capaz de descrever os ambientes das cenas principais de vários romances, coisa absolutamente distinta de minhas impressões, muito mais factuais e psicológicas. Era um outro gênero de sensibilidade e eu pensava que tudo o que ele me dizia era tão original e estranho que tinha certeza de sua absoluta inutilidade para mim. Mas nunca esqueci o quarto de Raskolnikov de que ele falava, os navios — cada um deles — de Somerset Maugham, as cenas em praças abertas, na rua ou em ambiente fechado. Tudo muito diferente do que lia. Em sua opinião, o bom escritor evita as longas descrições, pois são sempre decepcionantes e limitadoras. Bastava duas ou três coisas e o resto o leitor criava através da experiência. Tem que deixar para a gente, dizia.

Domingo, logo após o almoço, fomos procurá-lo para nos despedir. As crianças já estavam emocionadas e saudosas por antecipação, procurando o João para exporem sua confusão, provavelmente na forma de lágrimas. Eu sabia que a cena seria dramática. Só que não o encontramos. Porém, no momento em que pus o carro em movimento, o grande João Bez Batti veio correndo aos gritos atrás de nós, com uma pequena escultura em cada mão. Parei e saímos. Ele entregou os objetos, um para a Bárbara, outro para o Bernardo. O dono da pousada e os funcionários ficaram novamente pasmos. Nunca antes ocorrera algo assim. Notei que João represava alguma coisa em seus olhos e despediu-se rapidamente. Então voltou, deu-me um abraço e, com dificuldade, falou em meu ouvido direito: “Milton, não me estraga esses guris. Não quero me despedir deles porque tenho que manter minha fama de durão, tá?”.

João, acho que atentei contra tua fama hoje.

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Penso que as obras abaixo, com exceção de Operária, estavam no atelier durante nossas visitas:


O Visionário


Operária


Pomba Várzea


Rio das Antas


Cabeça cubista


Caminho das águas

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Hoje, João Bez Batti reside e trabalha na Casa Gilmar Cantelli (três links diferentes), a qual restaurou em 2002.

Ele segue realizando trabalhos em basalto. Em sua nova casa, também estão expostos os trabalhos em pintura e cerâmica de Diego Bez Batti, filho que ele certamente não “estragou”.

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Eu e a Márcia, minha babá, na feira

Eu e a Márcia, minha babá, na feira

No entardecer de sábado, eu estava na feira da Vasco quando um sujeito bateu no meu ombro perguntando se eu era o Milton Ribeiro. Ele se apresentou rapidamente como Jacó, filho da Márcia. Disse mais algumas coisas, mas nem precisava, pois a Márcia é a Márcia e só houve uma em minha vida. A Márcia foi a minha babá, ora. Ela é a responsável por boa parte desta peste que vos escreve. O que me surpreendeu foi o que ele disse logo a seguir: “Ela está conosco aqui na feira”.

Foto: Elena Romanov

E fui na direção daquela diminuta e respeitável senhora de 90 anos que, apoiada numa bengala, caminhava rapidamente olhando frutas e verduras. Uma onda de carinho me invadiu. Eu não a via há algumas décadas. Faz poucos anos, o mesmo Jacó tinha me ligado e eu anotei todos os dados da Márcia na última página de um livro. Pretendia visitá-la, mas… perdi o livro. Volta e meia vinha-me à mente o que ele pensaria de mim. Afinal, tinha prometido entrar em contato e simplesmente…

Minha família diz que fui uma criança agitadíssima, complicada de suportar. Porém, para a Márcia, eu sempre fui um amor, tudo o que eu fazia era maravilhoso e ela, na feira, me contou que me dava comida e depois não conseguia se alimentar, porque eu ficava na volta dela dizendo, “Dá, dá, dá” com o espírito pantagruélico de sempre.

Ela sabe muito mais de mim do que eu dela. Sei que minha mãe sempre foi só elogios para a Márcia. Repetia que eu fora uma criança privilegiada, cuidadíssima, amadíssima. Dá para notar o mesmo espelhado no filho advogado, no cuidado que tem com a mãe. E algo da Márcia certamente está presente no ser grudentinho que me tornei e na forma com que criei os guris, sempre com interesse, atenção e amor incondicionais. Como dizia, lembro de pouca coisa consistente da época de minha infância, o que sei é de ouvir minha mãe contar de sua paciência e amor. Minha mãe trabalhava muito e, sempre que reclamava de mim, a Márcia contra-argumentava a meu favor. Só ela sabia que eu era perfeito…

Não sei quantos anos ela ficou lá em casa. Depois casou, teve o Jacó. Algumas vezes ela veio nos visitar pois tornara-se amiga de minha mãe e eu sentia uma estranha necessidade de tratar muito bem aquela mulher, isto justo numa época em que ainda não dava aos adultos a contrapartida de amor e atenção que recebia. (Aprendi a fazê-lo mais tarde, ainda a tempo de fazer declarações de amor aos meus pais). Mas a Márcia sempre foi diferente. Ela tinha uma coisa tão francamente afetuosa em relação a mim que eu só podia responder da mesma forma. Eu sentia que ela me adorava e que era uma coisa muito verdadeira.

A Elena observou que as pessoas sempre se referem a meus pais como muito especiais, com emoção. Talvez eu nunca os tenha valorizado como os outros. Ao saber que minha mãe tinha falecido em 2012, a Márcia falou muito bem do casal e afirmou algo que eu já sabia: que a morte do meu pai fez um mal enorme à Maria Luiza. Quando falam bem dos meus pais, o peito aperta e começam a me vir lágrimas. Fiquei assim depois dos cinquenta. Então, quando a Márcia começou a falar deles, tive que me controlar e não sei se me saí lá muito bem.

Mas tergiverso. O que interessa é que fiquei muito feliz em vê-la bem aos 90 anos. Estava com seu filho nora e netos, recebendo deles o que me dera. Uma história feliz. Curioso, ela que me conheceu com menos cabelo do que ela e viu o mesmo acontecer novamente agora! Mas o que interessa é que tiramos uma foto juntos — ideia da Elena, realização do Jacó — e o este me escreveu no Facebook:

Puxa, eu que agradeço pelo momento de felicidade que proporcionaste para a minha mãe. Tu não imaginas o que este reencontro rendeu de conversa para ela…

(Tenho um romance quase pronto e parado há anos. Na história tem uma babá e, sim, vocês já sabem o nome dela).

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Palmeiras sem Raízes e Gatos Voadores

Palmeiras sem Raízes e Gatos Voadores

Apertado ao lado de minha mãe na poltrona marrom, eu a ouvia dizer que as árvores tinham profundas raízes e que se alimentavam da terra, da água e da luz. Ficava imaginando as raízes penetrando lentamente na terra. O que seria mais comprido – a árvore do chão até a última folha balançando ao vento ou a árvore do chão até a mais solitária raiz que tivesse penetrado, talvez inadvertidamente, mais fundo na terra? Como a raiz encontraria seu caminho sem ver nada, na escuridão onde também seríamos enterrados? E se a terra fosse muito dura? E como era aquele negócio de se alimentar de luz? Minha mãe me explicou inutilmente a fotossíntese, a produção de oxigênio durante o dia e de alguma coisa ruim à noite, mas eu, como quase não saía de casa depois que o sol se punha, não achei aquilo digno de preocupação. O que eu entendi perfeitamente foi a questão da água: quando chovia, as raízes bebiam tudo. Dava para notar porque as poças d`água não duravam muito tempo. Era óbvio que as árvores chupavam tudo.

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Certo dia, estava chegando em casa com meu pai e dei-me conta de que tinha que conversar tudo de novo com minha mãe. Acontece que nossa rua, a Av. João Pessoa, atravessava o Arroio Dilúvio através de uma ponte não muito bonita. Claro que eu sempre soubera que havia palmeiras sobre a ponte, mas como não dispunha de tanta informação sobre as árvores, nunca pensara no problema das raízes. Concluí que tinha que informar minha mãe que nem todas as árvores precisavam delas e que as da nossa ponte viviam apenas de luz e água.

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Falei com ela. Estranho, sua reação esteve longe de ser uma admissão de seu erro. Antes ficou assustada com as palmeiras: afinal, elas poderiam cair durante uma ventania e eu e meus amigos costumávamos brincar pelas redondezas. Os adultos eram mesmo desatentos -– será que ela nunca vira as palmeiras sobre a ponte e nunca pensara no perigo? E ela morava ali desde 1951!

Mais vivas que o time do Palmeiras
Mais vivas do que o time do Palmeiras

Comentei o assunto com meus amigos, mas logo esquecemos daquelas coisas arbóreas que, comparadas com nossas novas descobertas, não tinham nenhum atrativo. Descobrimos que a ponte era uma tremenda diversão. Dava para descer por suas laterais e caminhar sob ela! A brincadeira de esconde-esconde logo mudou muito. Todos queriam se ocultar ali e, muitas vezes, vi meninos negociando se era permitido ou não se esconder debaixo da ponte. Quem estava procurando tinha pouca chance. O cara descia por um lado e nós, vendo sua sombra, fugíamos a toda velocidade, subindo pelo outro lado.

E a ponte logo despertou outras idéias: como quase todas as pontes, ela passava sobre água e nós tínhamos muitos gatos em nosso bairro. Os gatos eram aqueles bichos que arranhavam nossos cães e que tinham a fama de serem limpos e de saberem cair. Ora, a ponte sobre a água lamacenta e ainda pouco poluída – estamos falando sobre o período entre os anos de 1966 e 1970 -, serviria para que os gatos pudessem comprovar se sabiam mesmo cair e para que constatássemos em quanto tempo eles voltariam a ser os bichos limpinhos de sempre.

Acredito que nunca outra geração de gatos teve tanto medo dos meninos da avenida João Pessoa. Hoje, sou indiferente a eles — amo os cães! –, porém, naquela época, entre meus amigos, participava feliz das espetaculares caçadas àqueles animais. Encontrávamos os gatos onde estivessem, trabalhávamos arduamente por nossa diversão e pelo progresso do conhecimento humano. Havia um, bem branquinho, que ficava hesitando entre mendigar comida na frente da casa de um casal de velhos e correr o perigo de ser capturado por nós. Aos amantes dos gatos, asseguro que nunca batemos neles, nunca os maltratamos. Mesmo! Sempre os levávamos em segurança, apenas procurando escapar dos arranhões, mordidas e ouvindo com altivez aquele som ridículo que emitem com a finalidade de avisar quando estão a fim de briga.

Vista da plataforma de arremesso de gatos
Vista da plataforma de arremesso de gatos

Os vôos eram lindos. Eventualmente, caíam com certa elegância. Porém, o mais das vezes, caíam mexendo desesperadamente as pernas — como se corressem no ar — e muitas vezes entravam na água de costas, de uma forma que desnudava a mentira que nos tinham ensinado. O que valera para as raízes das árvores, passara a valer para os gatos. Eles caíam como caíam. E nadavam de uma forma muito mais feia do que os cães. Nós dávamos risadas, descansávamos um pouco e íamos procurar outros. Afinal, precisávamos de uma boa amostragem para confirmar nossas teses.

Asseguramos que nenhum animal foi maltratado ou veio a falecer durante a pesquisa. Não consideramos como tortura o estresse e a adrenalina… Éramos crianças. Os que saíam lanhados ou com rinite alérgica eram humanos. Aprecie com moderação. Se persistirem os sintomas, vá a outro blog. Este texto foi desenvolvido a partir de material reciclável.

Obs.: Nota-se, por sua baixa qualidade, que as fotos foram tiradas por mim.

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17 de abril

17 de abril

Hoje é aniversário de meu melhor amigo de infância, o João Batista. Às vezes, encontro-me com ele durante suas caminhadas com seus dois cachorros na Vasco da Gama. Conversamos. A Elena gosta dele. Diz que a gente deveria se encontrar mais e que ele é a pessoa mais calma do mundo. Não deve estar muito longe da verdade. Ele tem fala mansa, fino humor e é muito cortês, dando a impressão de que faltou alguma coisa na minha educação. Minha família morava no apartamento 11 do número 1891 da Av. João Pessoa, em Porto Alegre. A dele, no apartamento 31. Jogávamos futebol todos os dias e, quando chovia, ficávamos em torno de uma mesa de botão (futebol de mesa). Lembro bem, ele era melhor do que eu em tudo, inclusive nos estudos.

Há uma ex-amiga que também faz aniversário hoje. Um amigo deu-lhe o melhor dos apelidos: PMDB, em razão da facilidade para aderir a quem lhe der maior vantagem no momento. A atuação do partido em 2015 só atribui maior exatidão à alcunha.

17 de abril. Por essas e outras é que acho que a astrologia nada mais é do que constelações. Na verdade, quando duas estrelas parecem estar lado a lado, uma pode estar a 50 anos-luz, e outra a 500. Além disso, não vemos as estrelas como elas estão agora, mas através do tempo. Se uma se situa a 200 anos-luz, isso quer dizer que a luz observada partiu de sua fonte há duzentos anos. A rigor, ignoramos até se essa estrela ainda existe.

Então, uma figura tranquila e outra hidrófoba — sei do que falo — podem parecer estar lado a lado, mas é uma mentira. É muito perturbador ver alguém tão querido ao lado de outra detestável no céu (equivocado) de minha memória.

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Do medo do Alzheimer, de meu não-casamento com Tolstói

Do medo do Alzheimer, de meu não-casamento com Tolstói

Minha mãe teve a doença e sua possibilidade é algo que me assusta, como não? É terrível a convivência e a manutenção de uma pessoa assim. Não quero ser um peso para os outros e a Elena e meus filhos não merecem. Então, trato de exercitar o cérebro. Faço contas de cabeça, leio, busco coisas na memória a cada momento.

E ontem dormi ouvindo a Rádio da Universidade. Eu e meu pai tínhamos um jogo que durou da minha infância até sua morte. Toda a vez que ligavávamos na Rádio da UFRGS — especializada em música erudita –, tratávamos de identificar o mais rapidamente possível qual era a música que estava sendo executada. Isto podia acontecer várias vezes ao dia. Com isto, sou supertreinado em descobrir tudo o que ouço de clássico. Só que, lamentavelmente, hoje brinco sozinho, treinando contra o Alzheimer. Ontem à noite, começou a tocar uma obra complicada de adivinhar, mas eu, após, alguns minutos, pensei ter descoberto: era o Septeto de Franz Berwald. Quando terminou, aumentei o volume do rádio, mas ninguém disse nada. Logo entrou um concerto para violino. Fiquei puto, mas logo lembrei da greve e do direito e da boa razão dos trabalhadores. Então me atirei no meio dos discos e, depois de respirar muito pó, encontrei o Berwald e pus para tocar. Ufa, tinha acertado!

Os primeiros minutos depois de acordar são confusos para mim. Não sei em que dia estou nem o que tenho que fazer. Também a tristeza me invade com muita facilidade nestes momentos. Então, viro-me para o lado a fim de ganhar aquele “chorinho” de sono que me é certamente devido. Como complemento e para ganhar ainda mais tempo de consolo, abraço-me na Elena e a aceitação do abraço vai me arrancando da tristeza e dos pensamentos sobre a inutilidade de acordar e da vida. Mas hoje, virei-me, estendi o braço e nada. Tateei. Nada. Abri os olhos. Nada. Porra, mas o que houve? Querem me enlouquecer? Cadê a Elena? Revisei a memória pensando na chegada do alemão. Ela estava em casa ontem, não viajou. Ah, e está se recuperando de uma cirurgia! Será que teve uma crise de Tolstói e está numa estação da Trensurb? Saí da cama meio tonto atrás das alpargatas, abri a porta e lá estava ela, linda, dormindo na sala. Quando me aproximei, ouvi meu querido sotaque russo. Bom dia. Dormi às vinte para as seis e não quis te acordar. Vi toda a primeira temporada de Game of Thrones. Uma maratona. 

game of thrones

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Festa de despedida do Bernardo

Festa de despedida do Bernardo

Um dia antes, a gente não sabia como ia ser nossa pequena festa de despedida do Bernardo, uma das tantas que ele teve nos últimos dias. Explico: após dois anos trabalhando brilhantemente como fotógrafo estagiário do Sul21 e de se arrastar numa Faculdade de Jornalismo — palavras e opiniões todas minhas — ele está indo para um um curso de Fotografia Documental em Berlim. OK, ele ainda tem que passar na entrevista e tudo, mas acho que vai ser aprovado. Se não for, o que o mundo dirá dos alemães? Mas eu dizia que não imaginávamos como seria a coisa. Então, novamente a Astrid e o Augusto abriram generosamente sua casa, ofereceram-nos um churrasco, eu levei uma população inútil de cervejas — pois o Augusto tem um exército de artesanais –, e a coisa toda aconteceu.

Esta festa aconteceu domingo, 15. Foi pequena para os padrões habituais: estavam lá os donos da casa, eu, Elena, Bernardo e Bárbara (com o namorado Vicente), os filhos da Elena Liza (com o namorado Santiago) e Nikolay e os do Augusto, Pedro e Arthur. Espero que os namorados não se importem por terem sido colocados entre parênteses (encarem, por favor, como estilo). Estava tão bom que aconteceu uma coisa inédita. Começamos o churrasco às 3 da tarde, bebemos, conversamos, conversamos, bebemos e acabamos comendo o carreteiro de Astrid, feito das sobras do almoço. Ficamos tanto tempo lá que duvido que nos convidem novamente.

Ontem, o Bernardo veio aqui em casa para se despedir. Eu pedi para não ir ao aeroporto e ele concordou na hora. Eu sou um chorão; ele me sugeriu que também é. Imaginem, nos últimos dois anos vi-o diariamente na Redação e, além disso, não sei quando o verei novamente. Há fiascos desnecessários.

Abaixo, as fotos do super-churrasco.

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Nikolay, Elena, Liza e Santiago em foto nada pousada. Eles andam assim na rua.

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Bárbara, Bernardo e eu. Minha cara de besta se justifica pelo Festival de Cervejas Artesanais. Notem a camiseta retrô do Benfica anos 60 que Bernardo veste e meu Valderrama by Impedimento.

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Bárbara, Bernardo e Vicente. Vicente encarna um bolchevique qualquer. Terá sua imagem retirada das próximas horas por ordem do Partido.

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Os olhares perdidos de Nikolay e Elena.

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O olhar perdido de Santiago.

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Quem olha a foto pensa que eles estão esperando mais comida. Engano, este é um registro daquela burrice pós-prandial — obrigado, Iracema! — que ocorre a todo ser humano que acaba de engolir um boi.

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O setor intelectual-amoroso do encontro com Bernardo, Augusto, Vicente e Bárbara..

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Ainda em Bombinhas, Jack Vettriano, duas cervejas, quatro poemas e um ogro

Ainda em Bombinhas, Jack Vettriano, duas cervejas, quatro poemas e um ogro

Ontem foi um dia perfeito. Sono esticado pela manhã; mar calmo, limpo e lindo, permitindo o namoro dos casais entre ondas que se sucediam como carícias; depois, um belo jantar em nossa varanda, seguido de longo passeio. Um dia amoroso. Tudo isso para comemorar nosso um ano e cinco meses de namoro. Pois, sim, comemoramos mensalmente, ora.

Em meio a isso, numa navegada pela internet, uma tia da Elena postou numa espécie de facebook russo uma série de gravuras do escocês Jack Vettriano, que tem como pano de fundo o mar. Isso justo quando estamos no litoral tirando fotos profundamente amadoras como as de anteontem, com a Elena e eu à beira d`água.

Abaixo, duas imagens de Vettriano e nossas fotos fora de foco, já um pouco tristes porque vamos embora na quinta-feira e aqui estava — puxa, e ainda está — muito bom.

Jack Vettriano - The_Singing_Butler__finished

Jack Vettriano - In Conversation

Abaixo, ontem à noite, eu bebia uma Baden Baden Golden, enquanto a Elena por companheirismo, bebia cerveja sem álcool só para me acompanhar. E sem vodka, amigos.

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Depois as fotos fora de foco, mas das quais gosto muito. É claro que a última foto é uma brincadeira, creiam, mas que revela uma tendência de 2015.

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Elena Romanov DSC02173

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Elena Romanov DSC02177

Milton Ribeiro DSC02185

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Qualquer coisa sobre o encantamento amoroso

Qualquer coisa sobre o encantamento amoroso
Ela e um bobalhão aí
Ela e um bobalhão aí

Ninguém tem vontade de falar de amor, se não for para alguém.
Roland Barthes — Fragmentos do Discurso Amoroso

O psiquiatra Flávio Gikovate tentou explicar o encantamento amoroso ou aquela mágica que nos dá o clique da fascinação e do arrebatamento. É um assunto que me interessa, pois, quando não esperava mais, tive o maior clique amoroso de minha vida no ano passado, aos 56 anos. Repentinamente, voltei a meus anos jovens. Quando não estava trabalhando ou fazendo algumas dessas coisa chatas a que nos obriga a maturidade, esquecia-me do restante da vida e passava a divagar longa e apaixonadamente sobre o ser amado. E passaram a acontecer coisas que eu quase já havia esquecido, como o prazer de apenas observá-la fazendo qualquer coisa. Ela não precisava estar tocando violino para ser admirada, poderia estar apenas cortando o pão durante o café da manhã ou fazendo outra coisa única e maravilhosa, como amarrar seus tênis. Pois o ser amado insiste em apresentar-se como algo novo e exclusivo. A característica mais marcante do ser amado, seja ele qual for, é ser “totalmente único e totalmente original”, ao passo que o amante, eu, no caso, é sempre ordinário, comum, não merecedor do ser que ama, como talvez tenha dito Barthes.

Flávio explica que o encantamento amoroso “não acontece por acaso e de modo mágico”. E coloca três ingredientes que considera fundamental na escolha sentimental: “o fato daquela pessoa despertar algum tipo de entusiasmo erótico, a presença nela de alguns ingredientes particularmente agradáveis para o aquele que se encanta e também um aspecto claramente racional relacionado com a admiração. Cada um desses elementos tem seu peso e, de alguma forma, todos participam do fenômeno, aparentemente mágico, que faz com que uma pessoa neutra se transforme, em pouco tempo, em alguém essencial e único, longe de quem parece impossível imaginar a continuidade da vida”.

Não vou falar do componente erótico, pois não creio que meus sete leitores estejam preparados para isso. Mas é claro que ele é fundamental e facilmente confundido com o amor. Também costuma ser péssimo conselheiro. Muitas vezes, o interesse que é detonado por uma característica física é pulverizado por um erro crasso de conjugação verbal, por exemplo. Então passemos aos próximos itens.

Às margens do puramente sexual estão a aparência, a voz, o caminhar, o olhar, os gestos, o modo de abraçar, o cheiro. Há outras admirações no campo intelectual. O humor, a resposta inesperada, e tudo que envolve a expressão, incluindo a roupa, que tem de ser colocada no campo da expressão, pois ela nos agrada e desagrada tanto quanto o que diz o ser amado.

Aos itens acima são somados outros ingredientes mais, digamos, psicológicos (ou patológicos). Pessoas com baixa autoestima admiram os mais seguros? Os tímidos admiram os expansivos, os apaziguadores valorizam os agressivos? Não sei. Sempre achei estranha aquela coisa de alguém ver um casal que não tem nada a ver um com o outro e dizer: “Como eles se completam!” Com minha habitual delicadeza interna, costumo pensar: “Se completam uma merda! Vão se detestar em um ano!”. Esse negócio de se completar, de preencher um ao outro, deve ser muito chato fora da cama. Gera atritos. Acho que um casal que cultiva gostos semelhantes deve estabelecer mais e melhores diálogos, tornando a relação mais interessante.

Apesar de seu total desconhecimento — “Um Gre-Nal é Grêmio contra quem?”, perguntou-me ela no ano passado — ela tem suportado até meu futebol. E ajudamo-nos mutuamente. E dividimos os gastos. E vamos muito bem. E não sei como acabar este texto improvisado. Até porque nada acabou e tenho ainda a sensação de que a procurava há incontáveis anos.

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Pequenas férias

Pequenas férias

Encomendei umas pequenas férias até o dia 7 de dezembro. Na verdade, era obrigado a tirar esses 10 dias, pois neste mês já tenho direito a mais 30. Programei ficar em Porto Alegre para resolver uma coleção de pentelharias pendentes. O problema é que faltam só dois dias úteis e as pequenas obrigações são muito maiores do que o tempo disponível. Fracassei fácil fácil. O dia de amanhã, por exemplo, já está inteiramente tomado. Tenho pequenos compromissos de manhã à noite e, se quiser, morro na sexta ainda correndo atrás da máquina.

Tenho a impressão de que se houvesse um turno livre da semana destinado a que resolvêssemos o problema com a Net, com o novo telefone, com o marceneiro ou com o diabo, a vida toda seria vivida sob um algoritmo menos pesado. O bom é que as filas fizeram com que eu lesse mais o excelente e verboso O homem que amava os cachorros, do cubano Leonardo Padura. Com 600 páginas, não é um livro adequado para filas — é quase musculação –, mas a trágica e triste história de Trotski e de seu algoz Mercader é realmente fascinante e, às vezes, chego a desejar maior lentidão. Sim, lentidão nas filas. Como dizia um amigo, não me cobrem coerência.

Além das coisas burocráticas, também tenho me sentido um verdadeiro homem ao resolver coisas mínimas em casa. Também, quando a gente vê que em casa de músicos as mangueiras dos gases estão com os prazos de validade vencidos há 13 anos, aí alguém tem que tomar alguma iniciativa, né? Gosto de avião, não de voar pelos ares, se me entendem.

É o momento de fazer aflorar o homem que há em nós!
Este é  o momento de fazer aflorar o homem que há em nós!

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Há um ano, a cidade estava assim

Há um ano, a cidade estava assim

E eu caminhava por aí no final da tarde sem saber em que cama dormiria. Havia vários convites, mas um me seduziu imediatamente.

— Não te preocupa com a chuva, vem para cá. Tenho lavadora e secadora. Amanhã, terás tudo limpo. És meu convidado.

Um ano depois, está um dia lindo, sem nuvens e de temperatura amena. E a vida vai bem.

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Elena lendo no fosso

Elena lendo no fosso

Aí está a Elena no intervalo dos ensaios do musical Chimango. Querem saber de uma coisa? Eu acho que nunca deveriam colocar a mulher que eu amo num fosso, nem de orquestra. Muitas vezes, durante o dia, fico pensando no que ela estará fazendo e tenho que parar tudo porque começo a querer tê-la perto de mim. Em minhas fantasias, jamais estou atirando cordas para retirá-la de um fosso. Por favor, parem com isso, voltemos aos palcos.

Foto: Augusto Maurer
Foto: Augusto Maurer
 Foto: Augusto Maurer
Foto: Augusto Maurer

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Milton Ribeiro faz uma tentativa de conversação em russo (*)

Milton Ribeiro faz uma tentativa de conversação em russo (*)

Então a mãe da Elena, que só fala russo, liga pra cá:

— Kjnskdnamcxnsajjn niad nhiudq dqud hbdiwdsx Liena?

Eu pergunto, rindo:

— Elena, Liena, Liênatchka?

Ela também ri e responde:

– Jjhbxhj wsbsxjha xswjudys.

E eu esclareço, pois sua filha não estava em casa:

— Elena NIET.

Isso parece tranquilizar dona Klara Zlatin, que diz:

— Hyys hsaidk ysgqa djdç oljkls çdlf oifdajdwql, OK?
— OK.
— OK.
— Pacá.
— Pacá.

Olha, acho que me saí super bem na minha primeira conversa com a sogra.

(*) O título deste post é uma modesta homanagem a uma dois maiores capítulos da literatura mundial.
(*) O título deste post é uma modesta e inútil homenagem a um dos maiores romances da literatura de todos os tempos: “A Montanha Mágica”, de Thomas Mann. Neste livro, há um esplêndido capítulo chamado “Hans Castorp faz uma tentativa de conversação em francês”. Nele, Hans tenta conversar com a bela russa Clawdia Chauchat, a qual costumava bater as portas do Sanatório Berghof com calculada violência… A foto acima é da personagem de Clawdia, vivida por Marie-France Pisier, no filme de Hans Geissendörfer. E o prêmio de maior legenda de foto vai para…

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Bárbara aos 20 anos

Bárbara aos 20 anos

hipófise

Filhos… Filhos?
Melhor não tê-los!
Mas se não os temos
Como sabê-lo?
(…)
Porém que coisa
Que coisa louca
Que coisa linda.
Que os filhos são!

Vinícius de Moraes — Poema Enjoadinho

Sem comprovar, os cientistas sugerem que amamos nossos filhos em razão de um hormônio chamado ocitocina que é produzido no cérebro e armazenado na hipófise. Tenho certeza de que minha hipófise está lotada dele. Ele seria produzido ou durante a gestação ou nos primeiros meses de vida da criança ou — importante! — a qualquer momento, porque a ocitocina não diferencia os filhos naturais dos adotivos. A natureza é sábia, li isso em algum lugar.

Hoje minha hipófise fez a verificação quantidade (alta) da ocitocina, acendeu as luzes (pois embaixo do cérebro é muito escuro) e partiu para uma comemoração íntima. Afinal, apesar de termos perdido o contato diário, sempre que vejo a Babi me invade grande amor e tranquilidade. Talvez esteja enganado, mas acho que ela está muito bem. Vê-la me faz sentir que a vida é uma aventura e que “Somos feitos da mesma matéria dos sonhos e, entre um sono e outro, decorre nossa curta vida”, como disse Próspero para Miranda, pois, para mim, é simplesmente impossível vê-la sem pensar no passar do tempo, este irreversível.

E como lembro de seu primeiro dia! Veio aos berros e cheia de saúde num domingo à noite. Mas estes textos de pai apaixonado são muito chatos e óbvios. Melhor dizer logo que eu fico lotado de orgulho por ela ser a pessoa inteira (*) que é, que fico feliz por ela me suportar com tanta tolerância, por ser amorosa, por ter passado poucas e boas sempre a meu lado, por sempre opinar com calma, por ser mais propositiva do que destrutiva, por termos feito a mais maravilhosa e irrepetível das viagens no momento mais correto, e, fundamentalmente, por ela me abraçar e deixar-se abraçar a toda hora.

Muitas felicidades e aproveite todos os dias porque a coisa é curta.

bárbara 20 anos

(*) Pessoa inteira: jargão da área psi. Trata-se de uma pessoa centrada, mas não auto-centrada ou em faixa própria. Alguém que possui uma trajetória com um conceito, com uma essência que o apoia. Pessoa de ética inabalável e que não pula de galho em galho. Simplificando, o “inteiro” é o mesmo em qualquer circunstância, não diz uma coisa e faz outra, nem tem duas caras.

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