Bamboletras recomenda livros e seminário, todos fora da curva

Bamboletras recomenda livros e seminário, todos fora da curva

A newsletter de amanhã da Bamboletras.

Olá.

Desta vez temos sugestões bem fora da curva. Por “fora da curva”, entendemos aquilo que, em razão de características especiais e únicas, se distingue dos demais, dentro de uma mesma categoria. Pois o que dizer da literatura pantagruélica de Rabelais e do sempre originalíssimo Gonçalo M. Tavares? De quebra, sugerimos o livro da jornalista Ana Garske sobre algo que também deveria ser fora do normal: a luta contra a Covid-19 em nossos hospitais.

E ainda divulgamos o seminário virtual Romance: Modos de Fazer, que tem concepção, montagem, roteiro e direção de Reginaldo Pujol Filho e que é uma das melhores ideias de interação com escritores que temos visto.

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Pantagruel e Gargântua, de François Rabelais (Ed. 34, 448 páginas, R$ 87,00)

Uma obra-prima irresumível. Então lá vai textão: François Rabelais (1483?-1553) estudou direito, tornou-se monge franciscano e depois beneditino, quase foi expulso da Igreja por ter tido três filhos, trabalhou como secretário de um dos homens de confiança do rei Francisco I, publicou traduções de autores gregos e latinos, e formou-se em medicina. Além de tudo isso, teve tempo para escrever quatro obras fundamentais do Renascimento: Pantagruel (1532), Gargântua (1534) — aqui reunidos no primeiro dos três volumes das Obras completas de Rabelais —, o Terceiro livro (1546) e o Quarto livro (1548-1552) de Pantagruel, e também uma miscelânea de almanaques, versos, cartas e outros textos, que inclui um Quinto livro de autoria questionada. Dessa forma, segundo Mikhail Bakhtin, ele ocupa um lugar na história da literatura “ao lado de Dante, Boccaccio, Shakespeare e Cervantes”. As aventuras dos gigantes Gargântua e Pantagruel, pai e filho, e suas peripécias em Paris e outros locais, são um dos pontos altos da ficção humorística ocidental. Sem respeitar nenhuma regra — de verossimilhança, composição épica, hierarquia ou do puro e simples bom senso —, Rabelais revolucionou o romance, parodiando as novelas de cavalaria, os tratados antigos, os preceitos da Igreja e as disputas políticas entre o rei da França e o líder supremo do Sacro Império Romano-Germânico, Carlos V. Alternando os registros popular e erudito, incorporando listas diversas, poemas e textos nonsense, e se utilizando da picardia, do grotesco e do escatológico para satirizar a pompa dos poderosos, Rabelais antecipou recursos estilísticos que só apareceriam séculos depois na prosa moderna — algo que foi captado nesta tradução de Guilherme Gontijo Flores, que também assina a organização, a apresentação e os comentários a cada capítulo de Pantagruel e Gargântua. Completam o volume cerca de 120 ilustrações de Gustave Doré, selecionadas a partir das edições de 1854 e 1873 da obra de Rabelais.

As Cinco Badaladas do Sino, de Ana Garske (Catarse, 128 páginas, R$ 30,00)

Uma jornalista retorna ao hospital onde trabalhou por três anos para registrar a batalha dos profissionais de saúde da instituição na guerra contra a pandemia da Covid-19. À procura da voz e do rosto de anônimos que viraram estatística na coluna dos mortos ou dos recuperados, encontra histórias de superação e alegria pela chance de recomeçar. Na outra margem, familiares recontam a trajetória de entes queridos que tiveram a vida e os sonhos arrancados abruptamente pela fúria do vírus. Buscam, na lembrança de momentos inesquecíveis ao lado desses amores perdidos, resgatar a força para seguir em frente. Quem eram, quais os planos, com o que sonhavam os Paulos, Cristinas, Marias, Josés, até terem suas vidas interrompidas pela Covid 19? Quem eram, até serem infectados pelo coronavírus, e como vivem a partir da superação da doença as Sandras, Eduardos, Veras, Leonardos?

Atlas do Corpo e da Imaginação, de Gonçalo M. Tavares (Dublinense, 528 páginas, R$ 159,90)

Quem já leu alguma obra de Tavares sabe que este angolano é único. Único mesmo! Neste incomparável Atlas, ele atravessa a literatura, o pensamento e as demais formas de arte, da dança à arquitetura, usando palavras e imagens para tratar de temas como identidade, tecnologia, morte e relações amorosas; esmiuçando os conceitos de cidade, racionalidade, alimentação e muito mais. Ampliando fragmentos, o autor mapeia e põe ordem à confusão do mundo, com discurso ilustrado por fotografias d’Os Espacialistas, coletivo de artistas plásticos. Um livro para ler e ver, com sua narrativa delineada pelo próprio leitor-espectador, através de reflexões visuais que nos conduzem pelo labirinto que é o mundo onde vivemos.

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E, para finalizar, olha só que legal: o escritor Reginaldo Pujol Filho está lançando a segunda edição de Romance: Modos de Fazer, seminário virtual que criou no ano passado para debater com romancistas as técnicas, os segredos, os caminhos, as ideias por trás de seus romances. São 8 encontros, com 8 romancistas sobre 8 romances no formato do que Reginaldo chama de “aula-entrevista”. Neste ano, os encontros serão com

Maria Valéria Rezende,
Juan Pablo Villalobos,
José Falero,
Carola Saavedra,
Eliana Alves Cruz,
Luisa Geisler,
Samir Machado de Machado e
Itamar Vieira Júnior.

Mesmo com 8, este timaço faria frente à combalida dupla Gre-Nal, não acham?

Aqui você tem todas as informações: https://reginaldopujolfilho.wordpress.com/romance-modos-de-fazer-vol-2/

O fazer literário de dois gênios e um romance gaúcho para aquecer o clima

O fazer literário de dois gênios e um romance gaúcho para aquecer o clima

A newsletter de amanhã da Bamboletras.

Olá.

Esta é uma semana de grandes lançamentos: a biografia de João Gilberto Noll escrita por Flavio Ilha, os extraordinários Diários de Franz Kafka e um originalíssimo romance que se passa aqui ao lado da Cidade Baixa, no Menino Deus, são três excelentes dicas da Bamboletras para esta semana fria e de algum temor sobre uma terceira onda que esperamos que não ocorra.

Poderíamos mostrar outros ótimos livros, mas mantenhamos nosso número tradicional de três, que está nos três poderes (Judiciário, Executivo e Legislativo), nos Três Mosqueteiros, nos Três Porquinhos, nos três sobrinhos do Pato Donald (Huguinho, Zézinho e Luizinho), na Santíssima Trindade, etc.

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João aos Pedaços, de Flávio Ilha (Diadorim, 248 páginas, R$ 60,00)

Biografia do escritor João Gilberto Noll, resultado de quatro anos de pesquisa do jornalista e escritor Flávio Ilha. A obra traz também quatro contos inéditos e dezenas de fotos de Noll, além de cartas e trechos do romance inacabado que o escritor deixou. Ilha teve acesso a cartas e documentos pessoais de Noll cedidos pela família e amigos. O jornalista e escritor é leitor de Noll desde seu primeiro livro, ‘O cego e a dançarina’, de 1980. Em menor ou maior intensidade, acompanhou de perto seu trabalho, mas só foi conhecê-lo pessoalmente em 2016, ao cursar uma de suas oficinas literárias. Nesta ocasião os dois iniciaram um processo juntos: Flavio propôs a produção de um documentário sobre sua história literária, que seria feito a partir das tradicionais caminhadas do escritor no centro da cidade de Porto Alegre, e também de leituras de trechos de seus livros por pessoas convidadas. “Noll inclusive já havia selecionado alguns trechos para ler, estava empolgado, mas morreu antes de conseguirmos dar início ao projeto. Como não seria possível fazer o trabalho sem ele, decidi transformar em uma biografia. Comecei aos poucos, tateando, procurando pessoas. Só engrenou mesmo em 2019” afirma Flávio Ilha.

Diários, de Franz Kafka (Todavia, 572 páginas, R$ 99,90)

“Tudo que não é literatura me entedia”, anota Franz Kafka em certo dia de 1913. A essa altura, Kafka, um advogado judeu de Praga, era funcionário de um instituto de seguros trabalhistas e começava a receber uma modesta atenção como o autor da novela ‘O veredicto’. Sua glória seria póstuma e por obra do amigo Max Brod, que não destruiu sua obra como lhe fora pedido e fez o contrário, divulgou-a. Uma prova disso são estes ‘Diários’, verdadeiro monumento literário do século XX traduzido integralmente pela primeira vez no Brasil por Sergio Tellaroli. São páginas assombrosas. Constituem aquilo que o escritor argentino Ricardo Piglia qualificou como o “laboratório do escritor”: o espaço em que o autor de ‘A metamorfose’ experimentava e afiava a sua escrita em meio a comentários sobre sua época, suas leituras, suas decepções amorosas, rascunhos de cartas, relatos de sonhos, começos de obras literárias jamais concluídas, bem como diversas de histórias acabadas.

Olivetti Lettera 32, de Carolina Panta (Zouk, 178 páginas, R$ 46,90)

Olivetti Lettera 32 é um romance de 37032 palavras. Um narrador incomum. Três personagens expostas a páginas escritas. Uma máquina de escrever. O romance estrutura-se a partir de um livro recebido. Cada uma das mulheres residentes no prédio do bairro Menino Deus acaba por, em algum momento de um mesmo dia, receber um tomo. Os volumes estampam seus nomes nas capas. O que se cria, a partir da chegada dos exemplares, é um resgate de suas vidas. Um narrador misterioso, aparentemente onisciente, busca métodos de escrita e recursos linguísticos para contar essas mulheres. Descobre-se, assim, durante a leitura das narrativas, um sentimento de culpa transversal ao feminino das personagens. Muito disso é apresentado pelo narrador a partir de bilhetes anexados às obras. Ele conversa, expõe-se também às personagens trazendo os dramas das mulheres aos olhos da leitura, assim como os seus próprios. Diva, Eleonora, Maria Luíza. Três personagens de tempos diferentes, vivenciando a dor e o prazer de se constituir como mulher.

Salman Rushdie mete sua colher na questão do cancelamento da biografia de Philip Roth

Salman Rushdie mete sua colher na questão do cancelamento da biografia de Philip Roth

Por Walker Caplan
Traduzido mal e porcamente por mim

No início desta semana, soubemos que a Skyhorse Publishing está pronta para republicar Philip Roth: The Biography, de Blake Bailey, depois que a editora inicial do livro, a WW Norton, colocou o livro fora de impressão devido a notícias de que Bailey havia assediado e agredido ex-alunos de sua turma da oitava série e estuprou a executiva editorial Valentina Rice .

Antes das notícias sobre a decisão da Skyhorse, críticos, a indústria editorial e leitores estavam divididos sobre a decisão da Norton de retirar o livro. Alguns concordaram, outros condenaram o comportamento de Bailey, mas argumentaram que os livros têm valor além de seus autores (ou argumentaram que as deficiências do livro lhe conferem valor histórico). Alguns temiam que a WW Norton abra um precedente preocupante para retirar os livros da impressão. O último a meter a colher foi Salman Rushdie. Em uma entrevista ao Irish Times, Rushdie compartilhou seus pensamentos sobre a decisão de Norton de tirar a biografia de Roth da impressão:

Eu não li o livro de Bailey, mas, em geral, não gosto da ideia de nenhum livro ser descartado porque o autor possa ser um canalha. Posso entender a repulsa dos editores por tal autor, obviamente. Mas parece censura moral. E eu não gosto das sugestões que foram feitas de que isso, de alguma forma, ‘cancela’ Roth também.

Há um movimento progressista juvenil, muito do qual é extremamente valioso, mas parece haver dentro dele uma aceitação de que certas ideias devem ser suprimidas, e acho que isso é preocupante. Onde quer que tenha havido censura, as primeiras pessoas a sofrer com ela são as minorias desprivilegiadas. Portanto, se em nome das minorias desprivilegiadas você deseja endossar a supressão do pensamento errado, estamos em uma via escorregadia.

Rushdie também teve seu ‘cancelamento’. Passou uma década escondido sob proteção policial depois que o aiatolá Khomeini do Irã emitiu uma fatwa pedindo a morte de Rushdie após a publicação de Os Versos Satânicos. Os Versos Satânicos foram proibidos em vários países; cadeias de livrarias pararam de vender o livro. O tradutor japonês de Rushdie foi esfaqueado e assassinado, seu tradutor italiano foi esfaqueado e gravemente ferido, e seu editor norueguês foi baleado, mas sobreviveu). Rushdie tem sido um defensor da liberdade de expressão, tuitando sua desaprovação aos escritores que se retiraram do evento PEN’s 2015 Gala por causa de sua decisão de homenagear o Charlie Hebdo, assinando a polêmica “Carta sobre Justiça e Debate Aberto” de Harper.

Disse Rushdie ao The Guardian após a controvérsia PEN / Charlie Hebdo: “Se apenas endossássemos a liberdade de expressão para as pessoas de quem gostamos de falar, isso seria uma noção muito limitada de liberdade de expressão”. Para Rushdie, o cancelamento do livro de Blake Bailey é outra ameaça à liberdade de expressão, se sua censura depende de definições prévias.

Biografia de Philip Roth escrita por Blake Bailey foi “cancelada”

Biografia de Philip Roth escrita por Blake Bailey foi “cancelada”

(Traduzo rápida, mal e porcamente este artigo para mostrar como a cultura de cancelamento norte-americana está atingindo gente como Philip Roth. Não quero saber muito sobre a vida pessoal de Bailey, mas fico perplexo com a vontade de destruir a obra de alguém através de sua vida. Já temos Allen, não? Se o artigo cancela o biógrafo — talvez ele mereça –, atinge também Roth de maneira profunda. Por exemplo, a foto que acompanha o artigo é inequívoca. Para quem lê inglês, será melhor clicar no link porque minha a tradução é quase sem revisão).

O novo livro de Blake Bailey sobre Philip Roth foi retirado por sua editora nos Estados Unidos após várias alegações de má conduta sexual contra o biógrafo. O trabalho deve ser julgado pelos padrões de sua vida?

Por Leo Robson
Tradução mal feita por mim

Um dos elementos mais impressionantes das acusações contra o célebre biógrafo literário Blake Bailey foi a rapidez e o veemência de sua negação. Ao longo das últimas semanas, Bailey, 57, cuja biografia de Philip Roth foi publicada no mês passado, foi acusado de vários atos de agressão sexual. As alegações abrangem um período de 20 anos, desde meados da década de 1990, quando Bailey começou a dar aulas de inglês para a oitava série na Lusher Charter School em New Orleans, até 2015, quando Valentina Rice, uma executiva editorial da Bloomsbury USA, afirmou que ele a estuprou na casa do crítico do New York Times Dwight Garner. Bailey foi imediatamente dispensado por seu agente e sua editora americana, WW Norton (que, ao que constava, já havia sido informada sobre o relato de Rice) e interrompeu uma segunda impressão de seu livro sobre Roth, que já era um best seller.

Uma declaração do advogado de Bailey enfatizou que seu cliente nunca “recebeu qualquer reclamação sobre seu tempo em Lusher”. Na era pós-#MeToo, essa defesa tem pouco peso; Bailey estava em uma posição de poder e há várias alegações de que ele se envolveu em um comportamento excessivamente familiar para um ambiente escolar. Embora ele tenha rejeitado todas as acusações recentes contra ele como falsas, Bailey admitiu no passado ter relações com ex-alunas.

Até que os detalhes do contrato de Bailey sejam conhecidos, a retirada feita pela editora do livro, a Norton, da biografia de Roth, parece uma decisão estranha ou pelo menos arbitrária, uma vez que o livro não defende a violência sexual e sua escrita não depende nem foi facilitada pelos supostos crimes de seu autor. (Uma explicação pode ser simplesmente que o editor tomou a decisão à luz da revelação de que já sabia das alegações de Rice.)

Como escândalo literário, a história lembra a de Paul de Man, o crítico belga conhecido por seu trabalho sobre a indeterminação da linguagem que, depois de sua morte, publicou postumamente uma série de artigos em jornais pró-nazistas.

Como escritor, Bailey se especializou nos supostos paradoxos do caráter humano — como alguém pode ser sábio ou emocionalmente intuitivo ou encantador e também agressivo, frio, violento, irresponsável? À primeira vista, parece óbvio o que une os sujeitos das três primeiras biografias de Bailey. Richard Yates (2003), John Cheever (2009) e Charles Jackson (2013): eram todos, em uma frase preferida, “alcoólatras colossais”. O irmão mais velho de Bailey, Scott, era multiplamente viciado e um predador sexual — ele agrediu Bailey pelo menos uma vez — que passou um tempo na prisão e acabou se matando. (Ele foi diagnosticado como esquizofrênico, mas parece mais provável que ele sofresse de um transtorno de personalidade.)

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O próprio Bailey foi um alcoólatra durante vinte e trinta anos, e ele disse que o fato de Yates e Cheever escreverem sobre “famílias suburbanas aparentemente prósperas e felizes que são realmente afetadas pelo álcool e doenças mentais e assim por diante, pode ter algo a ver com o porquê fiquei atraído pelo trabalho deles ”. Ele também observou que “o que realmente me atrai são personalidades compartimentadas”. Se a atração pela primeira categoria tem suas origens nos fatos de sua experiência, então o apelo da segunda certamente se relaciona com a sensação de Bailey de que “há aspectos de minha natureza que são desprezíveis”. (Ele acrescentou: “Mas eu não sou a soma das minhas qualidades desprezíveis.”)

Ele descreveu John Cheever como “uma espécie de meu sujeito por excelência”, acrescentando que ele tinha uma “ personalidade muito compartimentada”. Cheever se imaginava, Bailey disse, como “um brâmane de Massachusetts que desempenhou o papel de um “paterfamilias do condado de Westchester”. Ele era “um homossexual enrustido que gostava de companhias muito rudes” e, como Bailey disse em outro lugar, estava “apavorado o tempo todo” de que as pessoas descobrissem a verdade. Cheever era “charmoso” e “um mentiroso sem vergonha”. Bailey disse que gostaria de “resolver esse quebra-cabeça”: como um componente de uma personalidade se relaciona com outro que parece diametralmente oposto? Ele disse que “os monstros são fascinantes”.

O retrato da divisão de Bailey carrega uma dimensão ética. Ele revelou que ouviu coisas dos detratores de Cheever “fariam absolutamente você ficar de cabelos em pé”. Mas ele tende a procurar “as coisas atenuantes”, e que saber tudo é perdoar a todos. “Nunca odiei remotamente meus súditos”, disse ele há não muito tempo. “Na verdade, sempre senti uma afinidade calorosa … Tenho uma visão muito sombria de mim mesmo como ser humano, então realmente não é minha função lançar calúnias.” Bailey citou o método de Albert Goldman em sua biografia cruel de Elvis Presley como o “oposto de como eu trabalho”. (Ele elogiou as memórias de Michael Mewshaw de Gore Vidal por revelá-lo como uma “gárgula bêbada”, mas também um “amigo generoso e constante”.)

Mas há um desvio nos comentários de Bailey entre tentar entender o mau comportamento e decidir que, afinal, não era um mau comportamento. Bailey mencionou o caso do protegido de Cheever, um contista chamado Max Zimmer. Na biografia de Cheever de Bailey, há um momento em que Cheever tira o pênis da calça. Zimmer disse: “Aqui estava eu. Com um homem com seu pênis em um lugar totalmente estranho para mim.” Zimmer temia que, se recusasse, Cheever iria “causar confusão”. Bailey afirma que isso não era o estilo de Zimmer — então “Eu o masturbava. E era uma coisa horrível de se fazer. ” Mas Bailey mais tarde viu no diário de Cheever que o escritor estava “terrivelmente atormentado” com o relacionamento: Não era mesquinho ou explorador. Estava apaixonado por Max.

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A acusação de misoginia contra a escrita de Bailey remonta a pelo menos 2016, quando sua crítica irritada da biografia da escritora Shirley Jackson por Ruth Franklin foi publicada no Wall Street Journal. Ele discordou do que chamou de “tese principal” de Franklin — que Jackson havia sido explorada e maltratada por seu marido, o crítico Stanley Edgar Hyman. A história de “uma feminista pioneira”, escreveu ele, “precisa de um homem mau”. Há uma passagem especialmente reveladora. Franklin descreve como “cruel” uma passagem das memórias de Brendan Gill aqui na New Yorker na qual ela se refere a Jackson como uma mulher cujo “ar de garota gorda de palhaçada frivolidade” mascarava sua “aversão a si mesma não examinada” — uma observação que Bailey defende como “astuta”. Mas então ele resiste fortemente à sugestão de que Hyman tenha conspirado nos excessos de Jackson. Não, ele diz, eles simplesmente gostavam de comer juntos: “Isso os unia mais fortemente do que a literatura”. Bailey está ansioso para aplicar uma estrutura psicológica que acomode a insegurança feminina, mas uma que introduza agressão ou abuso masculino é um passo longe demais.

O livro de Bailey sobre Philip Roth revela seu animus de maneiras semelhantes. Laura Marsh no New Republic escreveu que a animosidade de Bailey em relação à primeira esposa de Roth, Margaret Martinson, era “algo mais do que uma questão de tomar partido em um divórcio amargo”. (Parul Sehgal, no New York Times, também foi fortemente crítico: “Com pouco menos de 900 páginas, o livro é uma extensa apologia do tratamento que Roth dava a suas mulheres.”) Frequentemente, há uma mulher má ou que faz bobagens no relato de Bailey sobre a vida de Roth e sua carreira. No final, em uma passagem muito estranha, Bailey argumenta que a proeminente feminista Carmen Callil, que se opôs a Roth como vencedor do Prêmio Internacional Man Booker de 2011 por motivos artísticos, fez todo o possível para elogiar a personagem feminina do romance Pastoral Americana para parecer despreocupada com a “alegada misoginia” de Roth.

O problema com o livro de Roth — facilmente o pior de Bailey — é que ele se inclina demais para a simpatia. Ele está irritado com a ideia de que Roth seja um misógino, apresentando isso como uma reação a Leaving a doll’s house (1996), onde a segunda esposa de Roth, Claire Bloom, dá vazão a memórias depreciativas de seu relacionamento com Roth. Bailey sofre com o equivalente biográfico da afirmação de Freud de que o psicanalista só pode levar o cliente até onde ele mesmo chegou. Ele nunca, por exemplo, levanta a possibilidade de que Roth justificou sua própria misoginia embarcando em relacionamentos com mulheres com vícios e problemas de saúde mental, ou que os atos de munificência de Roth foram controladores, digamos, ou foram oferecidos no lugar de intimidade emocional. Mais uma vez, a noção de equilíbrio de Bailey, o desejo de compreender ou perdoar, se confunde com a tendência de deixar as pessoas fora de perigo.

Em uma entrevista, Bailey simplesmente não conseguiu reconhecer a legitimidade das objeções ao seu retrato. Se Roth parecia um monstro, como a biografia também poderia ser branda ou censuradora? A resposta é que Bailey muitas vezes parece não apreciar a importância do que está contando. A força das biografias de Bailey é baseada em sua conexão intuitiva com seus temas — algo que ele enfatiza. Mas também existe uma atração inconsciente, e isso não é menos revelador.

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A própria história de vida de Bailey, conforme ele a conta, traça um arco familiar. Ele foi criado em uma família disfuncional e saiu dos trilhos. Ele se autodenomina “um jovem muito confuso e atrofiado”, mas não dá detalhes sobre conduta manipuladora ou agressão contra as mulheres, mesmo em um espírito de confissão. Bailey afirma que em seus trinta e poucos anos foi salvo ao conhecer sua futura esposa, Mary, que era estudante de graduação na época, e descobrindo sua vocação como biógrafo. Ele ainda tem cicatrizes e memórias ruins e permanece, ele disse, “muito bem conectado”.

Ele se pergunta em suas memórias de família The splendid things we planned (2014), referindo-se a seu irmão Scott: “Por que fui assim, e por que ele foi assim?” A tragédia de Scott, diz ele, é a história “do que eu poderia ter sido, ou do que, pelo menos, ainda não me tornei”, embora a referência seja à autodestrutividade de Scott. Scott, por sua vez, disse a Bailey: “Você vai ser exatamente como eu. Você vai piorar” — especulação considerada absurda pelo autor. Quando a mãe de Bailey diz a ele que Scott só precisa parar de beber, ele responde que não adianta; ele é simplesmente “um lunático sóbrio”. A mesma conclusão não ocorre a Bailey sobre sua própria recuperação.

Em um e-mail de 2020, visto pelo New York Times, Bailey escreveu para uma de suas supostas vítimas, Eve Peyton, uma ex-aluna, sobre “o horror” de uma noite em junho de 2003, na qual, ela afirma, ele a estuprou. Ele disse a ela que estava sofrendo de uma doença mental não especificada na época. Mas então o próprio relato de Bailey sobre seu progresso pessoal contém sinais preocupantes — notadamente, um descarado desprezo pelos limites que permaneceram evidentes no momento da escrita. Como ele explica, ele conheceu Mary em Lusher quando ela veio pegar o dever de casa de sua irmã de 13 anos. “Isso foi durante meu período de planejamento”, escreveu ele, “então tive tempo para flertar com ela”. Quando ele voltou a topar com ela, ela mencionou que vinha trabalhando meio período como auxiliar de professora, então ele a convidou para dar uma aula como convidada — “depois disso eu a levei para tomar um drink”. (Bailey, em suas memórias, lembra de ter dito a seu irmão que nunca tivera relações com seus alunos. Ele também disse a um entrevistador que as linhas de abertura e encerramento do romance Lolita de Nabokov, um texto que ele costumava ensinar em Lusher, “fazia meus cabelos dorsais tremerem”.)

Em uma entrevista, Bailey citou em êxtase a história de Tchekhov Dama com Cachorrinho, enfatizando a noção de que as aparências são falsas. Ele deu, a título de exemplo, a “versão recebida” dos últimos anos de Cheever, que John Updike chamou de “redentora” em que Cheever se recuperou do alcoolismo, chegou a um acordo com sua homossexualidade e criou alguns best sellers. “Nada poderia ser mais falso”, disse Bailey. “A vida superficial teve sucesso e a vida interior foi mais torturada do que nunca.”

Por que esperei tanto para ler Jane Austen?

Por que esperei tanto para ler Jane Austen?

Por Joshua Raff
Tradução mal feita por mim

Cheguei tarde a Jane Austen. Como velho e fiel leitor vitalício, não tenho uma explicação simples para essa omissão, mas quando minha família decidiu ler Orgulho e Preconceito como um projeto de leitura familiar logo após a pandemia nos forçar ao isolamento, aproveitei a chance de preencher esta lacuna na minha alfabetização.

Depois que encontrei meu equilíbrio em sua linguagem, fiquei viciado. Deixei de lado os outros livros que estava lendo e me dediquei a Jane. Segui Orgulho e Preconceito com Emma e depois Persuasão em rápida sucessão. Cada um tem ótima narrativa, com o peso adicional de comentários sociais nítidos em uma linguagem que é elegante, intrincada e reconfortante ao mesmo tempo, uma combinação que parecia faltar nos outros livros que eu tinha lido durante o pandemia. E, como pai de duas filhas, senti um tipo especial de admiração pelas jovens heroínas de Austen, que parecem ter sua idade e serem modernas ao mesmo tempo. Particularmente Elizabeth Bennet em Orgulho e Preconceito, que se encaixa mas não se encaixa, que lê, que observa com algum humor as pessoas ao seu redor e o mundo em que habitam. E que, em uma das cenas favoritas de todos, enfrenta a imperiosa Lady Catherine de Bourgh, de uma forma que as heroínas ainda mais modernas teriam orgulho de imitar.

Por que levei tanto tempo para ler Austen? Foi o preconceito masculino da minha educação? Eu comprei a percepção dela como muito feminina… E o que há em seus romances que oferece fuga e consolo para esses tempos estressantes?

Jane Austen

Antes de começar minha busca por Jane, eu sabia ainda menos sobre Austen e sua vida do que sobre seus livros. E eu não apreciava sua base de fãs obsessiva. Testemunhe as legiões de leitores de todas as idades, todas tomadas por histórias ambientadas quase inteiramente no mundo estultificante e aparentemente estreito das classes superiores da Inglaterra da Regência. Ela é popular no Japão, por exemplo, onde existem até versões em mangá de seus livros, de acordo com a estudiosa de Austen, Catherine Golden. Além de sua base de fãs japoneses, suas histórias foram transferidas para a Índia (Noiva e Preconceito) e para a Los Angeles contemporânea (Clueless, um favorito da família), para mencionar apenas alguns. Seus livros foram até mesmo reformulados como histórias de vampiros e zumbis. Existem Sociedades Jane Austen em todo o mundo celebrando todas as coisas relacionadas a Jane.

As mulheres parecem constituir os principais leitores de Austen. As aulas de Catherine Golden em Austen no Skidmore College, onde ela detém a Tisch Chair in Arts and Letters, são predominantemente ocupadas por mulheres. Estou supondo que o mesmo se aplica a muitas outras faculdades e universidades. “Os fás são tipicamente mulheres e principalmente bebem chá”, Jeanne Kiefer conclui na pesquisa mais recente de Jane Austen (Anatomy of a Janeite: Results from The Jane Austen Survey 2008). Existe uma conexão? Estou muito feliz por finalmente ler Austen, mas você não pode me fazer beber chá.

Os homens que encontram Austen tendem a fazê-lo mais tarde na vida do que as leitoras, de acordo com Kiefer. Isso certamente é verdade para mim. Mas a resistência do leitor masculino a Austen parece ser um fenômeno relativamente recente. O professor Golden me disse que até meados do século 20, os homens eram grandes leitores de Austen. E os romances de Austen foram até enviados para soldados britânicos no front em ambas as Guerras Mundiais, em edições feitas especialmente para caber no bolso de seus uniformes.

Os leitores veem em Austen “mulheres jovens bonitas, casas grandes e dramas recatados em salas de estar…”, de acordo com Helena Kelly. Essa é a versão de Austen apresentada em muitas adaptações para cinema e televisão de seus romances, com as bordas de Austen suavizadas. Mas se é assim que conhecemos Austen, Kelly diz: “Sabemos errado”.

Enquanto os romances de Austen acontecem em “espaços feminizados”, nas palavras do escritor e crítico literário William Deresiewicz, Jane é frequentemente caracterizada como “um expoente de grande paixão”. É possível que eu tenha colocado Austen em uma caixa reservada para escritoras particularmente femininas, embora eu leia pelo menos tantos romances de escritoras quanto de homens. É a própria existência de tal caixa (se é que existe uma) evidência de misoginia inconsciente?

Ao contrário das leitoras mulheres, que foram forçadas a se identificar com personagens masculinos durante anos, os homens não tiveram que encontrar coisas em comum com personagens femininas e simplesmente não são bons nisso, diz Deresiewicz. Seu livro, A Jane Austen Education, descreve sua transformação tanto como homem quanto como pessoa, uma vez que ele rompeu essa barreira. Por mais que me deliciasse com o trabalho de Austen, não posso dizer que passei por tal transformação ou, se passei, não percebi, nem minha família ou meus companheiros de zoom. Nunca é tarde demais, suponho.

Pode ser que “homens que lêem”, leitoras de Jane em potencial, sejam afastados pelo tratamento às vezes brutal de Austen para seus personagens masculinos. Eu, pelo menos, fico mais envergonhado, às vezes chocado, com os homens frequentemente vaidosos, insípidos, arrogantes e mesquinhos que povoam os livros de Austen, personagens como Sir Walter Elliot em Persuasão ou o Sr. Collins em Orgulho e Preconceito. Mas Austen não poupa ninguém e há muitas personagens femininas que também se enquadram nessa descrição. E, por necessidade, existem alguns bons homens, muitas vezes pares para as heroínas, uma vez que os livros terminam em casamentos tradicionais. Mas a descrição de Sir Walter que abre Persuasion foi quase o suficiente para eu abandonar totalmente o livro. Obcecado por posição social, seu lugar na sociedade, e impossivelmente vaidoso, “Ele [Sir Walter] considerava a bênção da beleza inferior apenas à bênção de um baronete; e o Sir Walter Elliot, que uniu esses dons, foi o objeto constante de seu mais caloroso respeito e devoção.” E essa é uma das descrições mais brandas de Austen desse homem ridículo. Superei meu desconforto para continuar lendo e estou muito feliz por ter feito isso.

Os poderes curativos ou calmantes da escrita de Austen foram reconhecidos há muito tempo, de acordo com o professor Golden. Não só os soldados britânicos no front receberam cópias de Austen, mas também os soldados em processo de reabilitação. Rudyard Kipling, um grande admirador da obra de Austen, até escreveu uma história sobre um grupo de soldados lendo Austen (The Janeites, publicado em 1924).

O que torna Austen tão atraente em tempos como estes, tempos de isolamento e estresse? É, pelo menos em parte, uma fuga para um mundo, por mais fechado e protegido que possa ter sido, no qual as principais preocupações parecem ser bailes, chás e casamentos, sugere Golden. Mundos ordenados e estáveis, como William Deresiewicz os descreve, ambientados em ambientes rurais e domésticos. E para aqueles soldados nas trincheiras, uma imagem de casa, uma Inglaterra idealizada. Um dos soldados na história de Kipling descreve os romances de Austen: “Eles não eram aventureiros, nem obscenos, nem o que você chamaria de interessantes, mas parece que em tempos particularmente estressantes, a fuga ideal deve ter peso suficiente para enfrentar a crise. Jane tem esse peso.

Seus romances são mais do que boas histórias, mesmo para o leitor casual. Seus comentários cáusticos sobre classes sociais e alguns outros males de seu tempo transcende o mero escapismo e torna seus livros uma diversão digna em dias difíceis. O comentário de Austen sobre o papel e a situação das mulheres, mesmo das mulheres privilegiadas, é tão relevante hoje quanto era há duzentos anos. O que eu suponho que seja triste por si só. Seus insights sobre as emoções humanas, “discurso livre e direto”, de acordo com o professor Golden, nos levam diretamente para a mente de seus personagens e fornecem um imediatismo que fala aos leitores hoje, prova de que a natureza humana e a emoção não mudaram tanto desde a época de Austen.

A linguagem de Austen costuma ser mordaz, mas também é um alívio da alta vulgaridade de hoje. Talvez pareça antiquado, mas há paz a ser encontrada ali, no ritmo, na contenção, na poesia e na elegância que é produto de outra época, inteiramente. E, claro, há o gênio de Austen. Austen retrata uma sociedade altamente regulamentada, seus personagens limitados por uma intrincada teia de regras. Eu não gostaria de viver naquela época, mas como ficção é um contraponto bem-vindo ao caos que parece nos cercar hoje. Existe uma polidez ou etiqueta que é sufocante e atraente, exigindo que seus personagens permaneçam no controle de seu comportamento, não importa o quão turbulento seja seu tumulto interno. Os vilões de Austen violam essas normas sociais aceitas de forma grosseira, enquanto as heroínas (e alguns heróis) se perdem em pequenos caminhos que se avultam no mundo estreito em que seus personagens vivem. E em um estranho paralelo com nossas vidas circunscritas durante a pandemia, o mundo de Austen, como o nosso, é limitado, tanto geograficamente quanto por ordem social.

Acontece que o resto da minha família está deliciada com minha conversão a Austen. E embora algumas coisas pareçam estar melhorando em nosso mundo desde que terminei de ler Persuasão , os eventos recentes são terríveis o suficiente para exigir uma distração valiosa, embora ocasional, da seriedade mortal dos eventos ao nosso redor. Jane Austen é a coisa certa. Estou saindo para ler a Abadia de Northanger .

Três excelentes livros brasileiros são as sugestões da Bamboletras

Newsletter de 19 de maio de 2021

Olá.

As sugestões da semana são bem diferentes entre si. A biografia da arquiteta modernista e Lina Bo Bardi é luminosa e guarda um imenso leque de surpresas. Andarilhos é uma reinvenção do pampa, quase um faroeste tardio. E uma nova biografia, desta vez da filósofa, escritora e ativista antirracismo Sueli Carneiro. Ela é fundadora e diretora do Geledés — Instituto da Mulher Negra e considerada uma das principais autoras do feminismo negro no Brasil.

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Lina – Uma Biografia, de Francesco Perrotta-Bosch (Todavia, 575 páginas, R$ 89,90)

Poucas figuras públicas foram mais brasileiras do que a arquiteta italiana Lina Bo Bardi. Chegando ao Brasil logo após a Segunda Guerra, ela se afeiçoou à cultura brasileira de tal maneira que se tornou uma de suas principais intérpretes, capaz de uma leitura das tradições locais ao mesmo tempo rigorosa e abrangente. Crítico de arquitetura e ensaísta de mão-cheia, Francesco Perrotta-Bosch examina a trajetória dessa artista brilhante à luz da seguinte questão: para além de sua participação política, como uma estrangeira foi capaz de enxergar tanto de um país que não era o seu, a ponto de traduzi-lo para os próprios brasileiros?

Andarilhos, de R. Tavares (Zouk, 200, páginas, R$ 46,00)

Andarilhos já pode ser considerado um novo clássico da literatura regional brasileira. Tavares traz frescor e contemporaneidade a um dos gêneros mais amados pelos brasileiros – mostrando a força e a representatividade das pessoas que moram no vasto território campesino da América Latina.

 

 

 

Continuo Preta, de Bianca Santana (Cia. das Letras, 286 páginas, R$ 59,90)

Sueli Carneiro é uma das maiores intelectuais públicas do Brasil, referência histórica do movimento negro, biografada por uma das mais promissoras vozes da nova geração. Em mais de quarenta anos de ativismo, ela vem combinando escrita, academia e intelectualidade para qualificar uma luta política que enegreceu o feminismo no Brasil e, ao mesmo tempo, colocou as mulheres como protagonistas do movimento negro.

Quem precisa de um estado totalitário quando pessoas zelosas garantem que livros com ‘opiniões inválidas’ nunca sejam publicados?

Quem precisa de um estado totalitário quando pessoas zelosas garantem que livros com ‘opiniões inválidas’ nunca sejam publicados?

Eu não concordo 100% com o autor, mas muitas vezes me deparei com casos semelhantes na Livraria Bamboletras, da qual sou proprietário. Discordando do texto abaixo, nego-me a vender Olavo de Carvalho e outros fascistas em minha livraria. Também não venderia autores de textos transfóbicos. Mas tenho este problema quando o cliente quer literatura de baixa qualidade. Alguns de nossos funcionários dizem: “Mas isso não é livro para nós vendermos!”. E, bem, é verdade que temos um acervo muito bem cuidado de bons autores que é nossa mais cultivada qualidade — a dedicada curadoria –, mas não podemos nos dar ao luxo de rejeitar vender best-sellers que não agridam nossos valores éticos, mesmo sendo ruins… 

De Frank Furedi (*)
Tradução mal feita por mim

A indústria editorial está encorajando a censura popular e cada vez mais cedendo aos funcionários que exigem que certas opiniões nunca devam ser expressas — especialmente aquelas que envolvem questões trans.

Parece que a área editorial está rapidamente se tornando uma escolha de carreira para ambiciosos aspirantes a censores. A ala mais ambiciosa e agressiva do movimento de censura de base são as publicações de policiamento de lobby que tratam de questões relacionadas a trans. Recentemente, um grupo de indivíduos de toda a indústria editorial associada a este lobby escreveu uma carta ao The Bookseller exigindo a censura de livros que considere desfavoráveis ​​à sua causa.

O ponto principal da carta é afirmar que a trans cultura não pode ser um assunto de debate e que os editores devem evitar que opiniões contrárias a ela sejam publicadas. Afirma:

A transfobia ainda é perfeitamente aceitável na indústria de livros britânica. Nossa indústria desculpa, diz que ver os indivíduos trans como tendo menos do que direitos humanos plenos está OK e uma opinião tão válida quanto as outras. Nossa indústria ainda está muito confortável em dar a essa forma de preconceito uma plataforma poderosa. Precisamos nos afastar do paradigma de que todas as opiniões são igualmente válidas.

A exigência de rejeitar o paradigma de que todas as opiniões são válidas é uma forma indireta de dizer que as opiniões “inválidas” podem ser legitimamente censuradas e os autores que defendem tais opiniões devem ser cancelados e silenciados.

Pedidos de censura por inquisidores autônomos que trabalham no setor editorial também têm estado sido uma tônica nos EUA. Os funcionários da Simon & Schuster recentemente entraram com uma petição insistindo que a editora cortasse seus laços com escritores associados à administração Trump. A petição, assinada por 216 funcionários, ganhou o apoio de mais de 3.500 apoiadores externos, incluindo renomados escritores negros, como Jesmyn Ward, duas vezes vencedor do National Book Award for Fiction.

Quando escritores famosos se juntam à fila de censores entusiastas, torna-se evidente que a cultura literária americana está em apuros.

Um dos alvos dos inquisidores Simon & Schuster é um acordo de dois livros que a empresa assinou com o ex-vice-presidente Mike Pence. Por acreditarem que as opiniões de Pence não são tão válidas quanto as deles, fechar uma das principais vozes do Partido Republicano é um serviço público à sociedade.

Uma das características mais perturbadoras do movimento inquisitorial na indústria editorial é a maneira casual com que procura corromper os ideais de tolerância e liberdade de expressão.

É importante notar que a carta enviada é intitulada ‘O Paradoxo da Tolerância’. Uma vez que rejeita a tolerância por pontos de vista com os quais discorda — afirma, “claramente não é apropriado dizer simplesmente ‘todos têm direito à sua opinião’” – deveria ser intitulado ‘Pela intolerância’!

A hipocrisia dos defensores da censura na publicação foi destacada em junho de 2020, por um grupo denominado Pride in Publishing. Eles escreveram uma circular, ‘Vamos esclarecer o que a liberdade de expressão é e o que não é’. O objetivo desta carta era apoiar os funcionários da Hachette Children’s Books que se opuseram a trabalhar no último livro de JK Rowling. Rowling — a autora da série Harry Potter — havia cometido, na opinião desses funcionários, o pecado imperdoável de se recusar a aceitar a definição de sexo e gênero promovida por ativistas trans.

A carta dizia: “Vamos esclarecer o que é e o que não é liberdade de expressão. A liberdade de expressão não dá ao autor o direito a um contrato de publicação. Mas protege o direito de um trabalhador de soar o alarme quando é convidado a participar de algo que pode causar dano ou trauma a ele ou a outra pessoa. Os autores transfóbicos não são um grupo protegido. Pessoas trans e não binárias são. ”

Na lei britânica, quem usa palavras que expressam hostilidade para com os chamados grupos protegidos com características protegidas — como raça, religião, orientação sexual, status de transgênero e deficiência — pode ser acusado de crime de ódio . A implicação da declaração da Pride in Publishing é que o direito de exercer a liberdade de expressão é qualificado em circunstâncias quando é dirigido a um grupo protegido. Esta carta também destaca o que se tornou uma das características mais distintivas do policiamento linguístico do século 21 — a doença da liberdade de expressão.

Na verdade, a implicação da declaração Orgulho na Publicação é que o livro de Rowling representa uma ameaça à segurança e à saúde mental das pessoas trans e não binárias que trabalham na Hachette. Afirma que “os funcionários nunca devem ter que trabalhar em conteúdo que seja prejudicial à sua saúde mental ou que lhes cause turbulência desnecessária”. Esse sentimento ecoa a visão amplamente aceita que insiste que as comunicações verbais e publicadas são um perigo potencial para o bem-estar das pessoas e, portanto, precisam ser regulamentadas para proteger certos grupos de ofensas, traumas psicológicos e problemas de saúde mental.

Esta medicalização da liberdade de expressão, levando à sua doença, tornou-se um dos argumentos mais eficazes usados ​​para minar a liberdade de expressão.

Os ativistas têm, com efeito, reforçado seu apelo à censura, alegando que a publicação de opiniões equivocadas de parte de autores os ofendem e causa-lhes sofrimento psicológico e trauma.

A indústria editorial reconheceu que sua nova geração de funcionários não espera trabalhar com material que os perturbe. David Shelley, o CEO da Hachette, e Clare Alexander, uma agente literária, disseram recentemente ao Lords Committee que os novos empregados da indústria editorial devem ser avisados ​​de que podem ter que trabalhar em livros de pessoas com as quais não concordam!

O fato de as editoras precisarem alertar os funcionários de que talvez tenham de trabalhar com autores cujas opiniões não gostam destaca a posição precária de liberdade de expressão e tolerância nesse setor.

Era uma vez, os editores estavam preocupados com a ameaça representada pela censura do Estado e temiam provocar a ira de censores autoritários de cima. Hoje, a indústria editorial tornou-se cúmplice em consentir em cancelar a cultura e a pressão para policiar o que o público consegue ler vem de baixo, de uma nova geração de funcionários intolerantes.

Quem precisa de um estado totalitário quando trabalhadores zelosos e frágeis estão determinados a garantir que as ‘opiniões inválidas’ nunca sejam divulgadas?

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(*) Professor emérito de sociologia na Universidade de Kent em Canterbury.

A volta de Han Kang e dois autores brasileiros são as dicas da semana da Bamboletras

Newsletter de 12 de maio de 2021

Olá.

Três livros muito sérios neste começo de maio. Todos eles tratam de violência. Aquela mesma que, infelizmente, parece ser nosso dia a dia. Um é coreano e tem muito em comum com nosso passado recente, os outros dois são brasileiros e falam a nossa língua de perplexidades e impotência. É a literatura nos ajudando a vermos a nós mesmos.

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Atos Humanos, de Hang Kang (Todavia, 192 páginas, R$ 59,90)

Em maio de 1980, na cidade sul-coreana Gwangju, o exército reprimiu um levante estudantil, causando milhares de mortes. O evento de trágicas consequências foi transfigurado nesta ficção extraordinária, poética, violenta e repleta de humanidade. Construindo um mosaico de vozes e pontos de vista daqueles que foram afetados, Atos humanos é a demonstração dos enormes recursos literários de Han Kang, uma das autoras mais importantes da cena contemporânea. Lembram do excepcional “A Vegetariana”? Pois é. Este é segundo livro de Kang a chegar ao Brasil.

 

Ensaio Sobre o Grito, de Rafael Valles (Metamorfose, 92 páginas, R$ 40,00)

O escritor, pesquisador e documentarista Rafael Valles lança seu livro de contos “Ensaio sobre o grito”. A obra traz histórias com personagens que se deparam com ânsias de mudarem suas vidas para não ficarem condenadas ao silêncio. Só que, para tanto, precisam encarar a realidade, as perdas e as escolhas pessoais. Entre as personagens, uma dona de casa que resolve aceitar ser dublê, um professor… Sem spoilers, né?

 

 

O Riso dos Ratos, de Joca Reiners Terron (Todavia, 208, páginas, R$ 62,90)

Nesta epopeia sobre a obsessão, um homem acometido por uma doença fatal promete vingar a filha da brutalidade de que foi alvo. No entanto, o agressor está fora de alcance, assim como a própria filha desaparecida, e o mundo que o homem conhecia não existe mais. Desse modo, ele mergulhará num inferno de violência, no qual as lembranças e o absurdo vão se sobrepor aos horrores da realidade e da existência. Um romance original e surpreendente.

Quais são os livros mais discutidos na Internet?

Quais são os livros mais discutidos na Internet?

Por Emily Temple, na Literary Hub
Mais ou menos traduzido por este blogueiro...

Como uma pessoa que discute livros na internet para ganhar a vida, às vezes tenho pensamentos estranhos e aleatórios, como “quais são os livros mais discutidos na internet?” Ou então, “como posso descobrir quais livros são mais discutidos na Internet?” Bem, “por que não procuro no Google?” Depois disso, paro de pensar e começo a pesquisar no Google. No final, na tentativa de responder à minha pergunta, pesquisei 275 livros diferentes para comparar o número total de resultados, de acordo com a ferramenta.

Esse número, a propósito, é uma estimativa — um webmaster do Google o descreveu como “um valor aproximado”, mas pode ser ainda menos preciso do que isso. Até mesmo a estimativa pode variar muito, com base em uma série de fatores diferentes, como onde você está e o que mais você pesquisou (em toda a sua vida). Mas mesmo que os próprios números sejam aproximados, eles ainda podem ter significado relativo, especialmente quando acessados ​​do mesmo computador, usando o mesmo navegador, no mesmo dia: no mínimo, eles devem ser capazes de nos dizer, de uma forma geral forma, quais livros foram referenciados mais ou menos do que outros online.

É importante lembrar que isso não é exatamente o mesmo que a popularidade verdadeira — muitos best-sellers, especialmente os mais antigos, publicados quando a internet não era uma força motriz no marketing de livros, tinham uma classificação relativamente baixa aqui. As recentes adaptações de grande orçamento obviamente ajudam. O mesmo acontece com o drama. Assim como estar maduro para a investigação acadêmica. O fato de o livro de Rupi Kaur estar apenas no meio dessa lista me prova que o Google não faz um bom trabalho de busca no Instagram. Ainda assim, admito que fiquei surpresa com alguns deles – particularmente com a classificação relativamente baixa de alguns dos livros que para mim, no meu canto da internet, parecem ser discutidos até a morte.

Uma nota sobre estratégias de pesquisa: minha técnica básica era pesquisar o nome do autor e o título do livro juntos, ambos entre aspas. Ajustei um pouco se o título ou nome fosse muito comum; quando relevante, muitas vezes omitia o artigo em um título para acomodar referências casuais (muitas vezes eu tentei isso, não importava, mas às vezes sim). Dito isso, quem sabe o que pode estar escondido nesses milhões de resultados? Outra razão para pensar nesses números apenas em termos aproximados.

Uma nota sobre os livros: a única maneira de abordar isso era procurando livros que achei serem de alto nível, um por um. Isso significa que se eu não pensei no livro, ele não entrou na lista. Provavelmente esqueci uma série de best-sellers populares publicados nos últimos cem anos ou mais. Mas olha, eu tinha que parar em algum lugar. Ao contrário do Google, o tempo é finito.

Portanto, seja o que for que valha (ou não), aqui está o que os senhores da máquina me retornaram:

(Títulos em inglês)

George Orwell, Nineteen Eighty-Four – 12,997,000*
J.R.R. Tolkien, The Lord of the Rings – 8,630,000**
William Shakespeare, Hamlet – 8,240,000
Harper Lee, To Kill a Mockingbird – 5,600,000
William Shakespeare, Macbeth -5,540,000
Jane Austen, Pride and Prejudice – 5,530,000
J.R.R. Tolkien, The Hobbit – 4,690,000
William Shakespeare, Romeo and Juliet – 4,680,000
Laura Ingalls Wilder, Little House in the Big Woods – 4,440,000
Michelle Obama, Becoming – 4,410,000
J.K. Rowling, Harry Potter and the Sorcerer’s Stone – 4,310,000***
Herman Melville, Moby-Dick – 4,260,000
Henry David Thoreau, Walden – 4,180,000
E.L. James, Fifty Shades of Grey – 4,130,000
Karl Marx and Friedrich Engels, The Communist Manifesto – 3,800,000
Plato, The Republic – 3,690,000
Charlotte Brontë, Jane Eyre – 3,450,000
Alan Moore, Watchmen – 3,400,000
F. Scott Fitzgerald, The Great Gatsby – 3,300,000
Homer, The Odyssey – 3,050,000
Homer, The Iliad – 2,920,000
Frank Herbert, Dune – 2,670,000
Diana Gabaldon, Outlander – 2,660,000
Stephenie Meyer, Twilight – 2,620,000
Stephen King, The Shining – 2,540,000
Gustave Flaubert, Madame Bovary – 2,490,000
George Orwell, Animal Farm – 2,460,000
Adam Smith, The Wealth of Nations – 2,300,000
Frances Hodgson Burnett, The Secret Garden – 2,280,000
Louisa May Alcott, Little Women – 2,260,000
Suzanne Collins, The Hunger Games – 2,080,000
James Joyce, Ulysses – 1,850,000
Margaret Atwood, The Handmaid’s Tale – 1,800,000
Charles Dickens, David Copperfield – 1,780,000
Lewis Carroll, Alice’s Adventures in Wonderland – 1,630,000
Barack Obama, A Promised Land – 1,610,000
Ray Bradbury, Fahrenheit 451 – 1,600,000
Roald Dahl, Matilda – 1,560,000
John Green, The Fault in Our Stars – 1,480,000
Geoffrey Chaucer, The Canterbury Tales – 1,460,000
Vladimir Nabokov, Lolita – 1,430,000
Veronica Roth, Divergent – 1,410,000
Miguel de Cervantes, Don Quixote – 1,380,000
William Shakespeare, A Midsummer Night’s Dream – 1,340,000
Joseph Heller, Catch-22 – 1,320,000
Jack Kerouac, On the Road – 1,320,000
Neil Gaiman, American Gods – 1,300,000
Delia Owens, Where the Crawdads Sing – 1,290,000
Charles Dickens, Great Expectations – 1,270,000
Niccolo Machiavelli, The Prince – 1,270,000
J.D. Salinger, The Catcher in the Rye – 1,260,000
Aldous Huxley, Brave New World – 1,240,000
Michelle Alexander, The New Jim Crow – 1,230,000
Leo Tolstoy, Anna Karenina – 1,100,000
Toni Morrison, Beloved – 1,090,000
Leo Tolstoy, War and Peace – 1,060,000
Joseph Conrad, Heart of Darkness – 1,040,000
Dan Brown, The Da Vinci Code – 998,000
Sylvia Plath, The Bell Jar – 986,000
Mark Twain, The Adventures of Huckleberry Finn – 984,000
Daphne du Maurier, Rebecca – 984,000
Dante Alighieri, The Divine Comedy – 979,000
Roald Dahl, Charlie and the Chocolate Factory – 972,000
Neil Gaiman, Good Omens – 905,000
John Steinbeck, Of Mice and Men – 888,000
C.S. Lewis, The Lion, the Witch and the Wardrobe – 791,000
Anne Frank, The Diary of a Young Girl – 791,000
Albert Camus, The Stranger – 790,000
Arthur Miller, The Crucible – 790,000
Ernest Hemingway, The Old Man and the Sea – 782,000
Margaret Mitchell, Gone with the Wind – 782,000
Gillian Flynn, Gone Girl – 776,000
Chinua Achebe, Things Fall Apart – 771,000
Virgil, The Aeneid – 760,000
Emily Brontë, Wuthering Heights – 756,000
Upton Sinclair, The Jungle – 753,000
Richard Adams, Watership Down – 753,000
Douglas Adams, The Hitchhiker’s Guide to the Galaxy – 735,000
Ta-Nehisi Coates, Between the World and Me – 725,000
Cormac McCarthy, The Road – 719,000
Frederick Douglass, Narrative of the Life of Frederick Douglass – 713,000
Agatha Christie, Murder on the Orient Express – 713,000
George Eliot, Middlemarch – 703,000
Sylvia Plath, Ariel – 695,000
Jonathan Swift, Gulliver’s Travels – 690,000
Franz Kafka, The Metamorphosis – 682,000
Ayn Rand, Atlas Shrugged – 681,000
Virginia Woolf, Mrs. Dalloway – 660,000
Edward Said, Orientalism – 650,000
Walt Whitman, Leaves of Grass – 649,000
Stephen Hawking, A Brief History of Time – 640,000
Art Spiegelman, Maus – 638,000
John Steinbeck, The Grapes of Wrath – 637,000
Rupi Kaur, Milk and Honey – 633,000
Harriet Beecher Stowe, Uncle Tom’s Cabin – 633,000
Khaled Hosseini, The Kite Runner – 611,000
Alexandre Dumas, The Count of Monte Cristo – 607,000
John Grisham, A Time to Kill – 603,000
Virginia Woolf, To the Lighthouse – 592,000
Lucy Maud Montgomery, Anne of Green Gables – 585,000
Jorge Luis Borges, Ficciones – 584,000
John Green, Looking for Alaska – 583,000
Haruki Murakami, Norwegian Wood – 580,000
Stephen Hawking, A Brief History of Time – 579,000
Markus Zusak, The Book Thief – 573,000
Edith Wharton, The Age of Innocence – 551,000
Hilary Mantel, Wolf Hall – 541,000
Angie Thomas, The Hate U Give – 541,000
Chuck Palahniuk, Fight Club – 539,000
Malcolm Gladwell, Blink – 538,000
Truman Capote, In Cold Blood – 521,000
Stieg Larsson, The Girl With the Dragon Tattoo – 516,000
Maya Angelou, I Know Why the Caged Bird Sings – 515,000
Alice Walker, The Color Purple – 513,000
Paula Hawkins, The Girl on The Train – 509,000
Kurt Vonnegut, Slaughterhouse-Five – 506,000
Agatha Christie, And Then There Were None – 505,000
Sigmund Freud, The Interpretation of Dreams – 500,000
Marjane Satrapi, Persepolis – 495,000
P. L. Travers, Mary Poppins – 469,000
Helen Fielding, Bridget Jones’ Diary – 468,000
Trevor Noah, Born a Crime – 449,000
Donna Tartt, The Secret History – 445,000
Ralph Ellison, Invisible Man – 439,000
John Williams, Stoner – 435,000
Yann Martel, Life of Pi – 420,000
Ernest Hemingway, The Sun Also Rises – 411,000
Kazuo Ishiguro, Never Let Me Go – 409,000
Antoine de Saint-Exupéry, The Little Prince – 397,000
William Gibson, Neuromancer – 397,000
Mark Haddon, The Curious Incident of the Dog in the Night-Time – 394,000
Bryan Stevenson, Just Mercy – 389,000
Franz Kafka, The Trial – 387,000
Zora Neale Hurston, Their Eyes Were Watching God – 381,000
James Joyce, A Portrait of the Artist as a Young Man – 375,000
Kathryn Stockett, The Help – 372,000
Hunter S. Thompson, Fear and Loathing in Las Vegas – 368,000
Fyodor Dostoevsky, Crime and Punishment – 361,000
Elena Ferrante, The Neapolitan Novels – 356,000
Umberto Eco, The Name of the Rose – 353,000
Alex Haley, Roots – 352,000
Chimamanda Ngozi Adichie, Americanah – 350,000
Jonathan Franzen, Freedom – 344,000
Toni Morrison, The Bluest Eye – 341,000
W.E.B. Du Bois, The Souls of Black Folk – 323,000
Ian McEwan, Atonement – 319,000
Toni Morrison, Song of Solomon – 317,000
Rabindranath Tagore, The Home and the World – 315,000
Marcel Proust, In Search of Lost Time – 305,000
Colson Whitehead, The Underground Railroad – 302,000
Tim O’Brien, The Things They Carried – 300,000
David Foster Wallace, Infinite Jest – 293,000
Larry McMurtry, Lonesome Dove – 291,000
Philip K. Dick, Do Androids Dream of Electric Sheep? – 284,000
Shirley Jackson, The Haunting of Hill House – 282,000
Richard Wright, Native Son – 280,000
Harriet Jacobs, Incidents in the Life of a Slave Girl – 280,000
David Mitchell, Cloud Atlas – 279,000
Solomon Northup, Twelve Years a Slave – 273,000
André Aciman, Call Me By Your Name – 272,000
Don DeLillo, Underworld – 263,000
D.H. Lawrence, Lady Chatterley’s Lover – 258,000
Lorraine Hansberry, A Raisin in the Sun – 246,000
Haruki Murakami, Kafka on the Shore – 243,000
William Faulkner, The Sound and the Fury – 242,000
Amy Tan, The Joy Luck Club – 241,000
Toni Morrison, Sula – 239,000
Edith Wharton, The House of Mirth – 239,000
Arundhati Roy, The God of Small Things – 239,000
Gabriel García Márquez, One Hundred Years of Solitude – 238,000
Betty Friedan, The Feminine Mystique – 235,000
Cormac McCarthy, Blood Meridian – 234,000
Erich Maria Remarque, All Quiet on the Western Front – 232,000
J. M. Coetzee, Disgrace – 230,000
Fyodor Dostoevsky, The Brothers Karamazov – 226,000
Milan Kundera, The Unbearable Lightness of Being – 226,000
Salman Rushdie, Midnight’s Children – 224,000
Amor Towles, A Gentleman in Moscow – 223,000
James Baldwin, The Fire Next Time – 219,000
Banana Yoshimoto, Kitchen – 218,000
Raymond Chandler, The Big Sleep – 217,000
Djuna Barnes, Nightwood – 215,000
Frank McCourt, Angela’s Ashes – 211,000
Alice Sebold, The Lovely Bones – 208,000
Jeffrey Eugenides, Middlesex – 203,000
Mitch Albom, The Five People You Meet in Heaven – 199,000
Kazuo Ishiguro, The Remains of the Day – 198,000
Booker T. Washington, Up From Slavery – 197,000
Yaa Gyasi, Homegoing – 197,000
Erik Larson, The Devil in the White City – 191,000
Betty Smith, A Tree Grows in Brooklyn – 191,000
William Faulkner, As I Lay Dying – 187,000
Roberto Bolaño, 2666 – 187,000
Roxane Gay, Hunger – 187,000
Evelyn Waugh, Brideshead Revisited – 186,000
Ursula K. Le Guin, The Left Hand of Darkness – 186,000
Zadie Smith, White Teeth – 181,000
Sandra Cisneros, The House on Mango Street – 177,000
Robert A. Heinlein, Stranger in a Strange Land – 175,000
Jean Rhys, Wide Sargasso Sea – 173,000
Dashiell Hammett, The Maltese Falcon – 171,000
Audrey Niffenegger, The Time Traveler’s Wife – 170,000
E.M. Forster, Howards End – 170,000
Audre Lorde, Sister Outsider – 168,000
Nella Larsen, Passing – 168,000
Stendhal, The Red and the Black – 165,000
Marilynne Robinson, Gilead – 165,000
Alex Haley and Malcolm X, The Autobiography of Malcolm X – 164,000
James Baldwin, Notes of a Native Son – 163,000
J.M. Barrie, Peter and Wendy – 162,000
Michael Ondaatje, The English Patient – 160,000
John Kennedy Toole, A Confederacy of Dunces – 160,000
Willa Cather, My Ántonia – 158,000
Italo Calvino, Invisible Cities – 157,000
Thomas Pynchon, Gravity’s Rainbow – 156,000
Iris Murdoch, The Sea, The Sea – 154,000
Patricia Highsmith, The Talented Mr. Ripley – 150,000
Isabel Allende, The House of the Spirits – 148,000
James Baldwin, Giovanni’s Room – 147,000
Terry McMillan, How Stella Got Her Groove Back – 143,000
Haruki Murakami, Kafka on the Shore – 139,000
Angela Carter, The Bloody Chamber – 139,000
Don DeLillo, White Noise – 139,000
A.S. Byatt, Possession – 139,000
Philip Roth, American Pastoral – 138,000
Mark Z. Danielewski, House of Leaves – 137,000
Pearl S. Buck, The Good Earth – 136,000
William Faulkner, Absalom, Absalom! – 136,000
Sherwood Anderson, Winesburg, Ohio – 133,000
Jhumpa Lahiri, The Interpreter of Maladies – 133,000
Flannery O’Connor, A Good Man is Hard to Find – 132,000
Marilynne Robinson, Housekeeping – 129,000
Octavia Butler, Kindred – 128,000
Willa Cather, O Pioneers! – 127,000
Sojourner Truth, The Narrative of Sojourner Truth – 127,000
Vladimir Nabokov, Pale Fire – 126,000
Shirley Jackson, We Have Always Lived in the Castle – 126,000
Vikram Seth, A Suitable Boy – 125,000
Jonathan Safran Foer, Everything is Illuminated – 125,000
Tom Wolfe, The Bonfire of the Vanities – 122,000
Jean Toomer, Cane – 118,000
Carlos Ruiz Zafón, The Shadow of the Wind – 118,000
Jonathan Franzen, The Corrections – 115,000
Susanna Clarke, Jonathan Strange & Mr. Norrell – 115,000
James Baldwin, Go Tell It On the Mountain – 115,000
Jennifer Egan, A Visit From the Goon Squad – 113,000
Philip Roth, The Plot Against America – 112,000
John le Carré, Tinker Tailor Soldier Spy – 109,000
Sarah Waters, Fingersmith – 109,000
Curtis Sittenfeld, Prep – 108,000
Philip Roth, Portnoy’s Complaint – 104,000
Leslie Marmon Silko, Ceremony – 102,000
Richard Yates, Revolutionary Road – 101,000
José Saramago, Blindness – 101,000
Marguerite Duras, The Lover – 96,300
Carson McCullers, The Heart is a Lonely Hunter – 95,700
Maxine Hong Kingston, The Woman Warrior – 87,100
Joan Didion, Slouching Towards Bethlehem – 86,600
Dave Eggers, A Heartbreaking Work of Staggering Genius – 84,700
Raymond Carver, What We Talk About When We Talk About Love – 83,400
Jacqueline Susann, Valley of the Dolls – 80,200
Robert Pirsig, Zen and the Art of Motorcycle Maintenance – 76,600
Junot Díaz, The Brief Wondrous Life of Oscar Wao – 69,400
Annie Dillard, Pilgrim at Tinker Creek – 67,300
Louise Erdrich, Love Medicine – 66,300
Jeffrey Eugenides, The Virgin Suicides – 66,200
Rudolfo Anaya, Bless Me, Ultima – 60,700
Maggie Nelson, Bluets – 57,300
Michael Chabon, The Amazing Adventures of Kavalier & Clay – 56,000
Denis Johnson, Jesus’ Son – 53,700
Jamaica Kincaid, A Small Place – 51,300
Edwidge Danticat, Breath, Eyes, Memory – 51,000
Samuel R. Delany, Dhalgren – 42,900
Edward P. Jones, The Known World – 40,100

* Como o título é regularmente escrito de duas maneiras diferentes, esse número foi alcançado pela combinação de 11.800.000 instâncias de “ 1984 ” e 997.000 de “ Mil novencentos e oitenta e quatro ”

** Sei que são tecnicamente três livros (embora ele sempre quisesse que fossem publicados como um); para o bem ou para o mal, pensei que faria mais sentido funcional ir com o título da trilogia neste caso.

*** Este número foi alcançado combinando os resultados para os títulos dos EUA e do Reino Unido para este livro: Harry Potter e a Pedra Filosofal (Reino Unido) teve 2.720.000 menções e Harry Potter e a Pedra Filosofal (EUA) teve 1.590.000.

.oOo.

Emily Temple é editora-chefe da Lit Hub. Seu primeiro romance, The Lightness , foi publicado por William Morrow / HarperCollins em junho de 2020.

Os livros mais vendidos de abril na Bamboletras

Os livros mais vendidos de abril na Bamboletras

Aqui está a lista dos mais vendidos de abril aqui na Bamboletras!

1. Torto Arado, de Itamar Vieira Junior (Todavia)
2. O Avesso da Pele, de Jeferson Tenório (Companhia das Letras)
3. Os Supridores, de José Falero (Todavia)
4. Vista Chinesa, de Tatiana Salem Levy (Todavia)
5. O Oráculo da Noite, de Sidarta Ribeiro (Companhia das Letras)
6. Marrom e Amarelo, de Paulo Scott (Alfaguara)
7. A estrangeira, de Claudia Durastanti (Todavia)
8. Talvez você deva conversar com alguém, de Lori Gottlieb (Vestígio)
9. O som do rugido da onça, de Micheliny Verunschk (Companhia das Letras)
10. A vida não é útil, de Ailton Krenak (Companhia das Letras)

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Um Dyonelio reeditado, jovens mulheres e o elogiado Meia Siza as dicas da Bamboletras

Newsletter de 3 de maio de 2021

Olá!

Toda semana são nova surpresa. “Fada” é um romance imerecidamente pouco divulgado do grande Dyonelio Machado que a Zouk nos traz de volta. “Meia Siza” é uma história familiar pós-abolição, ilustrado por fotos e documentos e “Elas marchavam sob o sol”, um romance sobre a formação de duas jovens. Mais detalhes abaixo.

Boa semana com boas leituras!

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Fada, de Dyonelio Machado (Zouk, 262 pág., R$ 49,90)

Última obra editada em vida, em 1982, aos 87 anos de Dyonelio Machado, “Fada” é uma história de amor entre jovens que buscam romper com os ditames patriarcais do padrasto de Jafalda, apelidada Fada, e o casamento arranjado que ele planejava. Ambientado na campanha gaúcha, e por vezes no ambiente universitário, Fada dialoga com o universo fantástico próprio do imaginário local, desmistificando-o a partir de uma análise racional. Uma característica da narrativa é seu caráter metaficional, seja para pensar o ofício literário e a criação artística, seja para sublimar as dificuldades que o próprio Dyonelio sentiu num período de ostracismo que viveu.

 

Elas marchavam sob o sol, de Cristina Judar (Dublinense, 168 pág., R$ 44,90)

Ana e Joan. A primeira é diurna e contemporânea, bombardeada pelo consumismo e por pressões estéticas e comportamentais. A segunda é noturna, influenciada por noções de ancestralidade, ritos de passagem e intuições do inconsciente. Ambas estão prestes a completar dezoito anos e acompanhamos suas histórias em paralelo, mês a mês, até a data de seus aniversários. Mas não se engane: mais do que o relato da jornada de duas jovens mulheres, “Elas marchavam sob o sol” é um romance sobre violência, perseguição religiosa, perda de liberdade e direitos.

 

Meia Siza, de Marieta dos Santos da Silveira (Pradense, 143 pág., R$ 30,00)

Através de ”Meia Siza – Ignácia e Aramis: Mãe e filho na luta pela sobrevivência no pós-abolição”, Marieta dos Santos da Silveira leva ao público seu primeiro trabalho, que são suas memórias de família, desde um tempo em que pessoas eram objetos de compra-e-venda, operação que gerava, a favor do governo, o imposto ”meia siza”. Pelo relato de Aramis, desvelam-se valores, crenças, compromissos e afetos nos quais, certamente, o público leitor se reconhece. Marieta nos convida a acompanhar seu exercício de memória que (re)constitui vivências, materializa lembranças pessoais e também coletivas, desenhando um ambiente, tanto geográfico quanto social e histórico, que nos é relevado de maneira muito envolvente pelas histórias dos diversos personagens.

 

A Autobiografia, de Woody Allen

A Autobiografia, de Woody Allen

Charles Dickens difamou sua esposa porque desejava se separar. J. D. Salinger era esquisito com as meninas adolescentes… George Orwell denunciou stalinistas para o serviço secreto inglês — alguns denunciados eram “amigos” seus e dizem que foi pago por isso. (Não sou stalinista, OK?). Gertrude Stein parecia admirar fascistas. Ernest Hemingway foi espião da KGB. Jack London era racista. Monteiro Lobato também. Roald Dahl era antissemita e todo mundo lê seus livros e vê A Fantástica Fábrica de Chocolates. William Golding tentou estuprar uma garota de 15 anos. Norman Mailer quase assassinou sua esposa — apunhalou-a no estômago e nas costas. Céline era um fascista de 4 costados. Muita gente lê estes autores e, olha, Woody Allen me parece ser bem mais tranquilo, além de ter sido profundamente investigado e inocentado. É estranha a perseguição que ainda sofre.

OK, não é muito normal casar-se com a filha da namorada — ela era filha adotiva de Mia Farrow e André Previn –, admito. Mas não vou me preocupar com isso.

Antes de escrever algo sobre o livro, digo que o editor brasileiro foi desrespeitoso para com seu título original, coisa que não aconteceu em Portugal, como vemos ao lado. O nome do livro em inglês é Apropos of Nothing. Este é o primeiro problema, o segundo é a tradução, que apenas eventualmente traz integralmente a voz e o estilo de Allen e usa certas gírias que ou são antiquadas ou muito Região Sudeste, não sei bem. Conheço mais 3 pessoas de Porto Alegre que leram o livro e todas reclamaram do trabalho do tradutor.

Apesar de tudo isso, curti o livro. A cada página há piadas hilariantes e boas histórias sobre conhecidas personalidades do cinema. Meu interesse só caiu quando a autobiografia foi interrompida pelo Caso Mia. É claro que o caso é incontornável — afinal, o fato interrompeu a vida profissional do cineasta, mas eu já conhecia bem a história e o texto não acrescentou muita coisa ao que eu já sabia, só preencheu algumas lacunas. Porém, fica claro que o livro só existe porque ele queria deixar clara sua visão.

Antes, ele descreve sua infância e nos leva pelo caminho através do qual se estabeleceu como um dos grandes cineastas americanos da década de 70 em diante. É um deleite ler sobre as décadas de 70 e 80, onde produziu filmes inesquecíveis como Annie Hall, Manhattan, Hanna e suas irmãs e outros. Os filmes mais recentes, mesmo os excelentes Match Point e Meia-Noite em Paris, recebem menor destaque. O texto de Allen é muitíssimo engraçado e ele releva-se modesto, sempre falando na sorte que teve. Seu único motivo de orgulho parece ser o fato de ter nascido cômico e de ter uma incrível capacidade de trabalho. Imaginem que ele assinou mais de 50 filmes, atuando em muitos deles. Filho de um livreiro e descendente de judeus de origem alemã, Woody Allen frequentou a Universidade de Nova Iorque, mas não completou os estudos. Muito jovem, começou a vender textos de humor para comediantes. Os primeiros filmes que o tornaram famoso foram as comédias leves, como Bananas (1971), Tudo o que você sempre quis saber sobre sexo mas tinha medo de perguntar (1972) e O Dorminhoco  (1973). Só depois vieram seus clássicos, que permitiram a Allen explorar alguns dos seus temas preferidos: a cidade de Nova Iorque, a religião judaica, a psicanálise e a burguesia intelectual norte-americana. Ele também analisa sua tendência e admiração pelos filmes sérios, mas que se sai melhor provocando risadas, para o que sua figura ainda contribui.

Fica óbvio que, como cineasta, a imagem que Allen tem de si é bastante diferente daquela que percebemos como cinéfilos. E é interessante entender isso.

Penso que o livro seja altamente recomendável para fãs do cineasta. Para os demais, vale a leitura para conhecer de perto este episódio inacreditável criado pela “moral” estadunidense. Tudo faz crer que o cancelamento de Woody seja apenas um protesto contra a sua relação com Soon-Yi, que a maioria da sociedade americana, em sua hipocrisia religiosa, considera um “pecado” mais que um fato pouco comum. Sim, é um fato pouco comum e nada muito além disto. Certas coisas, definitivamente, só acontecem nos Estados Unidos. Seus filmes continuam sendo vistos na Europa e em muitos outros países, mas não nos EUA. Curioso.

Woody Allen, o cineasta interrompido | Foto: Divulgação

Presidente de Portugal defende leitura como impulso à economia: ‘É aposta no desenvolvimento a longo prazo’

Em entrevista exclusiva, Marcelo Rebelo de Souza relata suas doações de mais de 200 mil livros e títulos e comenta a polêmica sobre tributação no Brasil

De O Globo.

PORTO, Portugal — Presidente dos Afetos, como é carinhosamente conhecido em Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa defende com ternura a educação e a leitura como principal caminho para o desenvolvimento econômico de longo prazo.

Em entrevista à coluna Portugal Giro, ele conta como suas doações de livros ajudaram a tornar Celorico de Basto, terra de sua avó e então município mais pobre de Portugal, em um celeiro de cultura.

Chamada: ‘Há qualidade de vida no interior de Portugal, faltam pessoas. É o momento de os brasileiros virem’, diz ministra do país

— Havia de encontrar onde apostar no desenvolvimento. E eu entendi que era a longo prazo, na cultura e na educação.

A cidade ganhou notoriedade e melhorou a infraestrutura. Depois da biblioteca, Marcelo apadrinhou uma feira do livro, que atraiu ao longo dos anos políticos, escritores, jornalistas, turistas e potenciais investidores.

Imigração: Inscrições de médicos brasileiros em Portugal aumentam 12% na pandemia

O presidente português comentou ainda a recente polêmica sobre o acesso a livros no Brasil, após estudo da Receita Federal defender a tributação no setor sob o argumento de que os pobres leem menos do que os ricos:

— É evidente que há uma clivagem econômica e social muito acentuada. Quem lê mais, escreve mais e melhor. Marca o começo da vida. As escolas públicas e particulares têm o dever de corrigir essa desigualdade — afirma Marcelo, que já fez mais de 200 mil doações.

O bolsonarismo e a taxação dos livros: hipocrisia, mentira e anti-intelectualismo

O bolsonarismo e a taxação dos livros: hipocrisia, mentira e anti-intelectualismo

Do Esquerda Online.

A isenção tributária sobre os livros é uma garantia constitucional, consagrada no artigo 150, daquela que ficou conhecida como a Constituição Cidadã. De certo modo foi um gesto de um Brasil que, recém-saído de 21 anos de Ditadura, buscou valorizar o papel da educação e da cultura – e dos livros como um de seus instrumentos – para construção de uma sociedade democrática.

Não nos deveria causar espanto um governo odioso como o de Bolsonaro voltar suas armas também contra essa garantia constitucional. Afinal, cultura e educação, já sabemos bem, são um dos principais alvos do bolsonarismo. Nesse caso específico, o argumento utilizado pelo Ministro Paulo Guedes, segundo o qual a leitura de livros seria um hábito de luxo, apenas para ricos, e que a sua taxação seria uma espécie de justiça social ao poder com isso destinar mais recursos aos pobres – ao bolsa família por exemplo – é também típico da hipocrisia e superficialidade do desgoverno federal.

Basta uma rápida ida ao texto da Constituição e veremos, por exemplo, que no mesmo artigo 150, que veda à União, Estados e Municípios a instituição de imposto sobre os livros; também há, algumas alíneas acima, a mesma garantia em relação aos templos religiosos de qualquer culto. Se você que lê essas linhas mora no Brasil, deve ter conhecimento dos verdadeiros impérios construídos com base na exploração econômica da fé.

É de conhecimento público a intensa e diversa atividade econômica que ultrapassa as paredes dos templos. E por óbvio, também sabemos que esses impérios há muito criaram raízes na política institucional brasileira, vide a própria bancada da bíblia no congresso federal com sua Frente Parlamentar Evangélica (FPE) composta de 182 parlamentares. Ao que parece, os únicos que não sabem disso são Paulo Guedes e sua equipe econômica, que ao se debruçar sobre o mesmo artigo da Constituição preferiram centrar fogo nos livros. Sabemos bem o porquê, não é mesmo?

E tem mais, quando alega que os recursos da taxação dos livros poderão ser utilizados para distribuição de renda, Guedes mente desavergonhadamente sobre a natureza da reforma tributária que está sendo planejada. No Brasil, toda a carga tributária está sustentada em cima do consumo, e não da renda ou patrimônio. Isso faz com que, ao contrário do que se pensa, sejam os mais pobres que pagam proporcionalmente mais impostos. É o que se chama de carga tributária regressiva. É justamente esse mecanismo perverso e, considerando as profundas desigualdades sociais e raciais brasileiras, racista, que o governo federal não tem a menor intenção de alterar. Nesse sentido, o discurso de Guedes não passa de um engodo.

Autoritarismo e anti-intelectualismo

Esse episódio da taxação dos livros deve ainda nos fazer pensar sobre outra lição que a História há muito nos ensinou. O Anti-intelectualismo é marcadamente um dos traços dos governos de viés autoritário. Os fascistas, particularmente, abominam a ciência com o mesmo fervor que cultuam os mitos. Num recente e necessário livro publicado em 2018, sob o título “Como funciona o fascismo”, o filosofo estadunidense Jason Stanley sustenta que:

“A política fascista procura minar o discurso púbico atacando e desvalorizando a educação, a especialização e a linguagem. É impossível haver um debate inteligente sem uma educação que dê acesso a diferentes perspectivas, sem respeito pela especialização quando se esgota o próprio conhecimento e sem uma linguagem rica o suficiente para descrever com precisão a realidade.”

Stanley ainda argumenta que, para os fascistas, o debate público deve ser ocupado não com a ciência, ou com formulações balizadas por pesquisas, pluralidade de perspectivas, experimentação e formulação de hipóteses; mas sim pela propaganda doutrinária. E para isso, recorre a ninguém menos que o próprio Adolf Hitler, que escreveu na sua biografia Mein Kampf que:

“A capacidade receptiva das massas é muito limitada, e sua compreensão é pequena; por outro lado, elas têm um grande poder de esquecer. Sendo assim, toda propaganda eficaz deve limitar-se a pouquíssimos pontos que devem ser destacados na forma de slogans.”

Num país que desgraçadamente tornou-se o epicentro mundial da pandemia, estamos experimentando da pior maneira possível a consequência do Anti-intelectualismo, da vulgarização da importância da leitura e negação da ciência. Esse governo genocida negou a gravidade da Covid-19, a apelidou de gripezinha, sabotou as medidas sanitárias e implementou uma verdadeira política anti-vacina. O preço de tudo isso está sendo cobrada em vidas e, com os sucessivos reveses do plano de vacinação que aponta para uma indefinida escassez de vacinas, ainda estamos longe de saber qual será a extensão dessa fatura sinistra.

A Idiota, os Russos e o Rei são as dicas da Bamboletras

Newsletter de 26 de abril de 2021

Olá!

A Todavia chega com Roberto Carlos, uma figura da qual nem todo mundo gosta, mas que desperta paixões a favor e contra. A Cia. vem com “A Idiota”, um livro cômico que poderia se chamar “Retrato da artista quando jovem”. E temos um belo ensaio sobre a literatura que todos nós amamos: a russa.

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A Idiota, de Elif Batuman (Cia das Letras, 488 pág., R$ 99,90)

Neste romance finalista do prêmio Pulitzer, acompanhamos o amadurecimento de uma jovem universitária nos anos 1990 que se descobre como escritora enquanto vive as agruras e as delícias do primeiro amor. Selin, filha de imigrantes turcos, começará seu primeiro semestre em Harvard. O ano é 1995 e a internet, uma novidade. Ela se inscreve em matérias de que nunca ouviu falar, faz amizade com a carismática e cosmopolita colega sérvia, Svetlana, e começa a se corresponder por e-mail com Ivan, um estudante de matemática húngaro, mais velho. Selin falou pouco com Ivan, mas a cada e-mail que trocam, o ato de escrever parece assumir significados novos e cada vez mais misteriosos.

Como ler os russos, de Irineu Franco Perpetuo (Todavia, 304 pág., R$ 69,90)

Feito para todos que se interessam por literatura russa, este ensaio busca responder uma pergunta: por que seguimos, ao longo de décadas, lendo, discutindo e admirando os russos? Dos precursores até a literatura pós-soviética e dos emigrados, abordando teatro, prosa e poesia, Irineu Franco Perpetuo nos conduz por séculos de criação artística, iluminando e contextualizando a obra de autores como Púchkin, Dostoiévski, Tolstói e Tchékhov.

 

 

Roberto Carlos — Por isso essa voz tamanha, de Jotabê Medeiros (Todavia, 512 pág., R$ 84,90)

Ninguém na música brasileira foi – e ainda é — mais popular do que Roberto Carlos. As dezenas de milhões de discos vendidos, a onipresença na televisão desde os anos 1960, os hits que marcaram gerações, os dramas pessoais, a figura pública reservada, as brigas na justiça – todos esses fatos são públicos e notórios. Mas são poucas as fontes acessíveis capazes de traçar, sem arroubos de tiete ou cores sensacionalistas, o percurso desse artista singular. Publicada no momento em que o artista completa 80 anos, esta biografia de Jotabê Medeiros consegue justamente isso. Autor de consagrados livros sobre Belchior e Raul Seixas, Jotabê se aprofunda na formação musical do artista, desde a infância em Cachoeiro do Itapemirim e os primeiros passos cantando à moda de João Gilberto, até a explosão como líder do incipiente rock nacional e os hits que ao longo de décadas emplacou entre os mais ouvidos do país.

Um romance histórico, outro que é só romance e um espetacular livro de crônicas são as dicas da Bamboletras

Newsletter de 19 de abril de 2021

Olá!

Semana boa para ler! Imaginem que tem um feriado encravado bem no meio dela! Nossas sugestões só incluem livros deliciosos — bons de cama, cadeira, mesa, rede e sofá.

Boa semana com boas leituras!

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O Último Processo de Kafka, de Benjamin Balint (Arquipélago, 272 pág., R$ 64,90)

Franz Kafka, pouco antes de morrer, deixou ao seu melhor amigo, Max Brod, também escritor, a tarefa de queimar seus manuscritos — muitos deles inéditos. Para nossa sorte, Max traiu Franz transformando seu amigo em um dos maiores nomes da literatura do século 20.”O Último Processo de Kafka” é um mergulho fascinante na origem, na importância inestimável e no destino de grande parte destes documentos, que por quase meio século, juntaram pó num apartamento pequeno em Tel Aviv. Nos dias atuais, combinando seus talentos de pesquisador, ensaísta, biógrafo e repórter, Benjamin Balint alterna seu olhar entre a grande amizade de Kafka e Brod e a longa batalha judicial de uma velha senhora solitária contra poderosos interesses nacionais.

A Cachorra, de Pilar Quintana (Intrínseca, 160 pág., R$ 39,90)

Desde muito cedo, a vida de Damaris é marcada por tragédias. Ela carrega uma solidão que talvez tivesse sido aplacada pelo filho que nunca conseguiu ter. Cuidar da casa de veraneio há muito abandonada pela família Reyes ocupa seus dias, aliviando sua consciência pelo que sente ter sido uma omissão sua no passado, mas nada disso lhe traz conforto. Quando, num rompante, decide adotar a cachorra da ninhada de uma vizinha, Damaris tem a chance de desviar um pouco o foco das tentativas frustradas de engravidar. A fêmea que agora circula pela casa modesta faz aflorar instintos protetores e violentos, emoções díspares e profundas que supostamente só poderiam ser despertadas pela maternidade.

Ingresia, de Franciel Cruz (P55, 260 pág., R$ 40,00)

Ingresia é um livro de crônicas sobre a província da Bahia lambuzada de dendê e de exclusões. O autor, Franciel Cruz, é um jornalista e personagem deste livro espetacular. São crônicas e mais crônicas, uma melhor que a outra, todas muito bem escritas, todas em rigorosa forma franceliana — uma linguagem barroca e desbocada, irreverente e ateia, altamente pessoal, cheia de surpresas e beleza. Sim, beleza, esta fugidia menina. Tanto que às vezes temos que lê-las duas vezes por pensar que perdemos algo da forma no afã (recebam meu afã no peito) de não perdemos a linha do pensamento original e bêbado do autor que escrevia bêbado, mas editava sóbrio (beijinho no ombro, Hemingway). E a capa? Que capa, senhores!

Só rico lê? Federici, um clássico moderno e um romance brasileiro são as dicas da Bamboletras

Newsletter de 12 de abril de 2021

Olá!

Numa semana em que a Receita Federal declarou que “só rico lê”, devemos apontar o desconhecimento que esta tem de nossa “elite”.

O estudo ‘Retratos da leitura no Brasil’, realizado pelo Instituto Pró-Livro, mostra que as pessoas leem mais hoje do que em 2007 e 2015.

O interesse crescente pela leitura no conjunto da população apenas cai justamente entre os entrevistados definidos como “classe A”, conforme a faixa de renda.

Nesse grupo, que reúne os mais ricos, os que “gostam muito” de ler eram 48% em 2015, e caíram para 42%. Os que gostam “um pouco” eram 42%, e passaram a 41%. E os que não gostam saltaram de 10% para 17%.

Ademais, se os ricos lessem, não estaríamos na situação em que estamos.

Francamente…

Mesmo aos trancos e apesar do governo, a Bamboletras segue e seguirá. E ainda dando dicas. Confira abaixo.

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O Jardim dos Finzi-Contini, de Giorgio Bassani (Todavia, 280 pág., R$ 69,90)

Um clássico moderno. O destino de parte dos protagonistas deste livro está anunciado nas primeiras páginas: os campos de concentração nazistas. Mas tudo se passa num enorme jardim na cidade italiana de Ferrara. À medida que a Segunda Guerra desponta, a relação da jovem Micòl Finzi-Contini com o narrador deste livro mostra suas limitações. Mas são essas mesmas limitações que fazem desse caso de amor não correspondido um dos mais pungentes da literatura moderna.

 

 

O Patriarcado do Salário, de Silvia Federeci (Boitempo, 208 pág., R$ 49,00)

‘O patriarcado do salário’, da filósofa italiana Silvia Federici, traz ao leitor uma série de artigos que abordam a relação entre marxismo e feminismo do ponto de vista da reprodução social. Retomando diversas discussões presentes nas obras de Karl Marx e Friedrich Engels, a autora aponta como a exploração de trabalhos como o doméstico e o de cuidados, exercido sem remuneração pelas mulheres, teve e tem papel central na consolidação e na sustentação do sistema capitalista. Revisitando a crítica feminista ao marxismo e trazendo para o debate perspectivas contemporâneas sobre gênero, ecologia, política dos comuns, tecnologia e inovação, Federici reafirma a importância da linguagem, dos conceitos e do caráter emancipador do marxismo.

Os tais caquinhos, de Natércia Pontes (Cia. das Letras, 144 pág., R$ 64,90)

Faltava muita coisa no apartamento 402. Mas sobravam muitas outras: caixas de papelão, bandejas de isopor, cacarecos, baratas, cupins, muriçocas, poeira, copos sujos. Abigail, Berta e Lúcio formam um trio nada convencional. Duas adolescentes dividem o apartamento com o pai, um homem amoroso, idiossincrático, acumulador, pouco afeito à vida prática, que torce para que a morte venha logo lhe buscar e dá conselhos incomuns às filhas: “É muito bom sentir fome”. Os tais caquinhos é um romance de formação trágico e comovente, capaz de arrancar risos nervosos. Ao descrever o dia a dia de uma família simbiótica em meio a uma cordilheira de lixo que só faz crescer, Natércia Pontes desenha um fascinante romance.

Estudiosos italianos descobriram a verdadeira identidade de Elena Ferrante?

Estudiosos italianos descobriram a verdadeira identidade de Elena Ferrante?

Elisa Sotgiu faz uma leitura de gênero e classe sobre um dos grandes mistérios literários de nosso tempo.

Traduzido por Milton Ribeiro. Daqui, ó

Quando Claudio Gatti publicou uma investigação sobre a identidade de Elena Ferrante, há alguns anos, ele levantou protestos na Itália e no exterior. Ele havia invadido a privacidade da autora e violado seu direito de permanecer anônima. Era injusto, era irrelevante, não queríamos saber.

Verdade? Sim e não. Havia uma conclusão importante no artigo de Gatti: quem escrevia os romances de Ferrante era a tradutora Anita Raja, uma mulher.

Isso foi um alívio. Se você não sabe como os acadêmicos e jornalistas italianos podem ser sexistas, fica difícil imaginar a importância do gênero de Ferrante para todos nós que estudamos seu trabalho ao longo dos anos. Antes mesmo de Minha Amiga Genial ser publicado, correram rumores de que a obra de Ferrante tinha sido de autoria de um homem, e eles se intensificaram após o sucesso dos romances napolitanos nos Estados Unidos. Lembro de meu orientador me contando sobre essas especulações quando comecei a trabalhar com Ferrante em 2015; nós dois zombamos da misoginia que esse tipo de fofoca implicava, sentindo-nos como se estivéssemos nas trincheiras de uma mini guerra cultural.

Portanto, quando me deparei com uma série de artigos acadêmicos que, por meio de uma análise estilométrica, identificaram Elena Ferrante como o romancista italiano Domenico Starnone (marido de Anita Raja), não estava pronta para depor minhas armas. Naquela época, eu não tinha lido nenhum dos romances de Starnone. Eu sabia que ele era um autor prolífico, que havia escrito bastante sobre o ensino médio e que seu longo romance semiautobiográfico sobre sua juventude em Nápoles, Via Gemito, ganhara o prestigioso Prêmio Strega. Mas eu realmente não me importava com ele. Quando confrontado com a ideia de que ele poderia ser o autor de meus amados romances napolitanos, meu primeiro impulso foi deixar essa informação de lado, não falar sobre ela, e nem pensar muito a respeito.

Eu não estava sozinha. Embora o primeiro desses artigos estilometricos, de Arjuna Tuzzi e Michele A Cortelazzo, tenha saído em 2018 — exatamente no momento em que as publicações internacionais sobre Ferrante se multiplicavam exponencialmente –, quase nunca era citado fora do campo das humanidades digitais. Nas raras ocasiões em que foi mencionado, foi rapidamente descartado: abordar o problema da identidade de Ferrante, ao que parece, seria bastante prejudicial para qualquer análise séria de seus escritos, na opinião de alguns estudiosos.

É uma boa prática entre os estudiosos de Ferrante declarar que, seja qual for o seu gênero, o que conta é que ela escolheu adotar a persona de uma mulher. Mas permanece o fato de que os críticos frequentemente (embora com reprovação) citam Gatti quando querem discutir as ideias de Anita Raja sobre tradução em relação a Ferrante, enquanto ignoram cuidadosamente Tuzzi, Cortellazzo, Jacques Savoy e os outros nove estudiosos que confirmaram que os estilos de Ferrante e Starnone costumam ser indistinguíveis. Rachel Donadio foi a única que tentou (com sucesso) comparar os romances de Ferrante e Starnone, mas o fez nas páginas do The Atlantic e do The New York Times, pois a comparação é um tabu na academia.

Comecemos do início, então, e vejamos que quadro de Ferrante esses artigos nos permitem traçar. Em primeiro lugar, é útil saber que Tuzzi e Cortellazzo montaram um grande corpus para suas análises: 150 romances de 40 romancistas italianos contemporâneos, equilibrados por gênero e origem regional. Este corpo de textos foi então usado por um grupo de especialistas internacionais que participaram de um workshop de verão na Universidade de Padova em 2017. Eles trabalharam de forma independente e com abordagens metodológicas diferentes, mas chegaram a conclusões semelhantes (os anais do workshop foram publicados pela editora da Universidade de Padova). Georgios Mikros, da Universidade de Atenas, por exemplo, usou o corpus textual para treinar um algoritmo (aplicativo) de aprendizado de computador para criar perfis de autores (ou seja, identificar seu sexo, idade e procedência) com um alto grau de precisão. Este algoritmo concluiu que a pessoa por trás de Elena Ferrante era um homem com mais de 60 anos da região da Campânia, onde fica Nápoles).

E aquele velho napolitano se parece suspeitosamente com Domenico Starnone: na representação visual do corpus de Maciej Eder e Jan Rybicki, os romances de Ferrante e Starnone ocupam o mesmo lugar marginal, distante da maioria dos outros textos e conectados a eles apenas pelos três primeiros romances de Starnone, que foram escritos entre 1987 e 1991. Em outras palavras, Starnone e Ferrante são autores altamente originais, diferentes de todos os outros escritores italianos, mas muito próximos um do outro.

No estudo de Margherita Lalli, Francesca Tria e Vittorio Loreto (Universidade La Sapienza de Roma), um algoritmo de compressão de dados atribui erroneamente Um Amor Incômodo, de Ferrante, a Starnone, e Excesso de Zelo, Via Gemito e A Primeira Execução, de Starnone, a Ferrante. Em sua introdução ao volume, Tuzzi e Cortellazzo também fornecem uma lista muito longa de termos e expressões que podem ser encontrados apenas (e frequentemente) nos escritos de Starnone e Ferrante, mas em nenhum trabalho de outro escritor.

Em seu último estudo, Tuzzi e Cortellazzo também nos permitem delinear uma evolução paralela no tempo: depois de seus primeiros romances relativamente convencionais, Starnone desenvolve um estilo muito reconhecível no início dos anos 1990. Entre 1992 e o início dos anos 2000, diferentes romances são publicados com os nomes de Ferrante e Starnone, mas todos parecem pertencer à mesma família: o romance de Ferrante de 1992 (Um Amor Incômodo) é semelhante aos romances de Starnone de 1993 e 1994 (Excesso de Zelo e Dentes), a Ferrante de 2002 e 2006 (Dias de Abandono e A Filha Perdida) são mais semelhantes ao Starnone de 2005 (Responsabilidade). Então, por volta da década de 2010, vemos um desenvolvimento estilístico: tanto Ferrante quanto Starnone adquirem um certo distanciamento de seus eus mais velhos. Os romances napolitanos são mais semelhantes entre si — compreensivelmente, já que são um longo romance dividido em quatro volumes — e com o romance de Ferrante de 2019, A vida mentirosa dos adultos. Além disso, os romances mais recentes de Starnone podem ser agrupados, pois suas características são mais marcadamente únicas.

Esses dados podem ser interpretados de diferentes maneiras. No início, parece claro que Starnone está usando o nome de Ferrante quando quer adotar uma narradora feminina em primeira pessoa, sem se preocupar em mudar sua voz característica. Mais tarde, ele pode ter trabalhado para uma diferenciação mais acentuada dos dois estilos — ou outra coisa pode ter acontecido. Talvez uma colaboração com Raja. Um autor, Rybicki, que teve experiência anterior em analisar os esforços de escrita de um casal, não exclui essa possibilidade. Tuzzi e Cortellazzo também mostram que os escritos de não ficção de Ferrante — aqueles reunidos no volume Frantumaglia –– não são tão estilisticamente coerentes quanto sua ficção. Seu algoritmo atribui os diferentes ensaios, cartas e entrevistas a três autores diferentes: Starnone, Raja e um autor coletivo que representa os proprietários e materiais de publicidade da editora E/O (a editora de Ferrante desde o início). Em todo caso, parece quase fora de dúvida que Starnone, sozinho ou em dupla com sua esposa sentou-se e datilografou os romances que foram publicados sob o nome de Elena Ferrante.

Mas esta é uma história que vai além de Starnone. Para quem se interessa, como eu, pela história cultural do nosso presente, a criação de Elena Ferrante é um caso notável.

No início da década de 1990, Domenico Starnone tinha contrato com uma das principais editoras italianas, a Feltrinelli, para a qual havia publicado três romances entre 1989 e 1991. Nesse ponto, começou a colaborar com a jovem e pouco conhecida editora a casa Edizioni E/O, onde sua esposa Anita Raja trabalhou como tradutora freelancer de alemão durante os anos 1980. No catálogo da E/O, o nome de Starnone aparece apenas entre 1991 e 1992. Ele escreveu um posfácio para uma coleção de contos de Mark Twain, um ensaio em um volume sobre literatura infanto juvenil, e Sottobanco, uma adaptação teatral de seu primeiro livro, o único que Feltrinelli não publicou. 1992 foi também o ano em que O Amor Incômodo, o primeiro dos romances de Ferrante, saiu pela E/O.

Sandro Ferri e Sandra Ozzola, os fundadores da editora, devem ter feito questão de manter Starnone entre seus autores, mas Starnone — talvez por causa de obrigações contratuais, talvez por escolha — decidiu continuar a publicar em seu nome real para a Feltrinelli e sob o pseudônimo de Ferrante para a E/O. Afinal, uma escritora estava mais de acordo com o projeto editorial de Ferri e Ozzola, e a escolha de Starnone de escrever como homem para uma editora de prestígio e como mulher para uma editora marginal era consistente com a estrutura do espaço literário italiano dominado por homens.

O segundo capítulo dessa história começa em 2005, quando Ferri e Ozzola fundaram a Europa Editions em Londres e Nova York. Sua missão — de publicar autores periféricos e servir como ponte entre diferentes nações e culturas — não encontrou muita ressonância na Itália, mas estava perfeitamente alinhada com o novo entusiasmo pela “literatura mundial” que estudiosos, críticos culturais e editores independentes compartilhavam no mundo anglófono. Para conquistar seu nicho neste mundo, Ferri e Ozzola decidiram apostar em Elena Ferrante: Dias de Abandono foi um dos dois livros que a Europa Editions publicou em seu primeiro ano, e todos os seus outros romances foram traduzidos para o inglês imediatamente depois que eles saíram em italiano.

Foi uma aposta vencedora, mas eles não tiveram apenas sorte. Se ser uma autora era uma desvantagem na Itália, era muito menos nos Estados Unidos. Na década de 2010 a 2019, as mulheres constituíram 60% dos autores selecionados e 60% dos vencedores do National Book Award for Fiction, 52% dos indicados e 60% dos vencedores do Prêmio PEN / Faulkner e 80% dos vencedores do National Book Critics Circle Award, só para citar alguns dos reconhecimentos mais importantes. Enquanto Ferrante levou seus leitores globais a uma “febre”, Domenico Starnone recebeu atenção da crítica nos Estados Unidos apenas com seu romance de 2014, Laços, que pode ser lido como uma sequência de Dias de Abandono, de Ferrante.

Não estou sugerindo que a invenção de Elena Ferrante foi apenas um empreendimento editorial astuto. Um pseudônimo feminino pode ter sido uma forma de evitar críticas: se você pesquisar no Google “escritores masculinos que escrevem personagens femininos”, os primeiros resultados (com títulos como “30 vezes que autores masculinos mostraram que mal sabem alguma coisa sobre mulheres” e “escritores masculinos não têm nenhuma ideia de como escrever sobre personagens femininos”) deixam claro que essa prática sofre de enorme má reputação. Escrever sobre gênero da perspectiva de uma mulher também poderia ter sido uma forma de chamar a atenção para a questão da dinâmica de classe e mobilidade social que muitas vezes esteve no centro da escrita de Starnone. Perto do final do Quarteto Napolitano, a protagonista Elena Greco diz que sem sua brilhante amiga Lila, toda a sua vida “seria reduzida apenas a uma batalha mesquinha para mudar de classe social”.

Poderia ser útil, então, redirecionar nossa atenção do assunto de gênero para o de classe. O último romance de Ferrante, A Vida Mentirosa dos Adultos, tem pouco a acrescentar sobre a questão da identidade das mulheres. Especialmente no início, a história parece se repetir com pequenas variações a todos os tropos de Ferrante: a ideia de não ser nada além de “um nó emaranhado”, o apagamento de mulheres em fotos e na carne, a ideia de mães espiando através de suas filhas, a amizade feminina baseada na emulação e desejo de fusão, o ciúme e possessividade em relação à mãe, a sexualidade dos filhos. Frases de livros anteriores, e especialmente do Quarteto Napolitano, são repetidas quase inalteradas. A única diferença é que desta vez o ponto de vista parece ser o de uma reencarnação mais jovem de Lila em vez de outra Elena.

A principal novidade da história, ao contrário, é o que ela diz sobre classe social. Os romances napolitanos foram construídos na contraposição dos bairros proletários e subproletários de Nápoles ao centro da cidade burguesa. Uma ética de responsabilidade e realização educacional e um grande investimento em status eram as pedras angulares das crenças de Elena Greco. Em A Vida Mentirosa, porém, a protagonista Giovanna e seus amigos abraçam valores pós-materialistas e se atualizam: eles podem viajar livremente e ainda reconhecer a importância das periferias mais pobres de Nápoles, eles não se preocupam com boas notas, mas estão interessados ​​em ler e escrever como um meio de cultivar seu eu autêntico. Eles são a nova classe média cosmopolita e rejeitam as dicotomias de classe da geração mais velha.

Estudar os romances de Ferrante junto com os de Starnone pode nos tornar melhores leitores de ambos e abrir novos caminhos para os estudiosos. Mas reconhecer que Elena Ferrante é provavelmente um homem também pode mudar as coisas para pior. Ela nos serviu bem: as acadêmicas que se dedicam a estudos italianos de repente tiveram um ingresso confiável em conferências internacionais, revistas online, edições especiais, em editoras. Essas vantagens podem chegar ao fim. Mas isso não é motivo para ficar triste; Elena Ferrante ainda é um prazer de ler. E ela também é o maior mistério literário de nosso tempo.

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Elisa Sotgiu é candidata ao doutorado em Literatura Comparada em Harvard. Ela estudou na Scuola Normale Superiore em Pisa e publicou sobre Edoardo Sanguineti, Henry James e Elena Ferrante.

Anita Starnone e Domenico Ferrante? Ou Elena Raja?

Poesia, História e Suspense são as dicas da Bamboletras desta semana

Newsletter de 5 de abril de 2021

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Joël Dicker retorna com um mistério ambientado na Suíça. Em uma noite de dezembro, o sofisticado hotel Palace de Verbier, nos Alpes Suíços, é palco de um assassinato sem solução, já que a investigação do crime nunca é concluída pela polícia. Anos depois, o escritor Joël decide tirar alguns dias de férias e se hospeda nesse mesmo local. Lá, uma surpresa o aguarda: seu quarto é o 621 bis, a nova nomenclatura do agora estigmatizado 622, e a curiosidade o leva a mergulhar em uma investigação sobre o caso emblemático.