Publicado em 14 de março de 2007
Sim, pedi-lhe uma mini-bio. Recebi como resposta:
Olá, Milton.
Veja se serve a minha biografia oficial. Normalmente não serve, mas é a oficial… Nessa Era de Kali-Google, talvez seja até excessiva:
“Luigi Augusto de Oliveira é mineiro.”
Bem, aí está. Porém, fui ao Kali-Google e, de cara, encontro Luigi Augusto de Oliveira (Brasil, 1969). Poeta e romancista. Autor de livros como Dalma, na rede (1997), Solo para ti (2001), e Crucial e vão (2001)..
Tento de novo e leio Luigi Augusto Oliveira foi vencedor na categoria romance do 1º Prêmio Redescoberta da Literatura Brasileira, que teve como júri o romancista Cristóvão Tezza e os escritores André Sant´Anna e Bernardo Ajzenberg. Também fico sabendo que ele foi menção honrosa no Concurso de Narrativas Breves Haroldo Maranhão.
E há coisas como esta e esta por aí. Conheço-o apenas de e-mails trocados. Suas respostas são excelentes. Confiram.
Ah, e seus livros também estão por aí.
Qual é o defeito que você mais deplora nas outras pessoas?
Não creio em defeitos. Creio em atitudes e omissões, adequadas ou não a um contexto.
Como gostaria de morrer?
Sem sofrer senão o imprescindível, mas sem inconsciências ou distrações. Não quero perder o espetáculo, afinal é único e exclusivo.
Qual é seu estado mental mais comum?
A esperar. Mas sem saber o quê, e sem nunca ser o que eu supunha que seria, ou como seria, quando posteriormente me ocorre imaginar que eu supunha algum objeto um pouco menos impreciso. Desculpem a confusão: é frustrante para mim também, e assim eu comunico um pouco desse estado.
Qual é o seu personagem de ficção preferido?
Menos o preferido que o mais obsedante: eu.
Qual é ou foi sua maior extravagância?
Entre as que continuam a ser, a biblioteca exagerada que não viverei pala ler/reler bem. Entre as finadas, ter um dia levado a sério o que a grande mídia (e as menores que apenas a acompanham) considera ser a cultura, a arte, o merecedor de atenção.
Qual é a pessoa viva que mais despreza?
Não desprezo pessoas, mas atitudes e omissões, e nem sempre por serem inadequadas ao contexto: ao contrário, tendo a admirar estas e a desprezar as demasiado adequadas, eficientes, as que dão “sucesso”… já que o Grande Contexto é um fracasso em todos os sentidos.
Qual é a pessoa viva que mais admira?
Não admiro pessoas, etc.
Se depois de morto tivesse de voltar, em que pessoa ou coisa retornaria?
Um violoncelo.
Em quais ocasiões costuma mentir?
Só quando falo ou escrevo.
Qual é sua idéia de felicidade perfeita?
Quando já nem sequer ocorrerá pensar nisso, ou desejá-lo ou a seus subterfúgios.
Qual é seu maior medo?
Que nada mude. Nem mesmo para pior. Que na velhice eu veja que nem um pouco “disso” que aí está sequer começou a acabar.
Qual é seu maior ressentimento?
Não ter sabido mais cedo e jovem das coisas que eu devia desprezar – e isso era quase tudo.
Que talento desejaria ter?
Ouvido absoluto. Menos pelo ouvido que por ter algo concretamente absoluto.
Qual é seu passatempo favorito?
Desprezar passatempos e cada vez mais aprender a enxergar como quase tudo que nos é ofertado fazer é mero passatempo.
Se pudesse, o que mudaria em sua família?
O mesmo que em todas as demais: a visibilidade. Maria Zambrano disse que, pela etimologia, família são aqueles que enfrentam a fome juntos. Mas as fomes só podem ser bem enfrentadas na quietude, na moita, o que se torna a cada dia mais difícil e condenável socialmente.
Qual é a manifestação mais abjeta de miséria?
A sofreguidão por passatempos ou por diversão, ou por visibilidades (o “vejam que eu também estou a fazê-lo!”), se não for tudo a mesma coisa.
Onde desejaria viver?
Na mais ensolarada entre as cidades da Escandinávia, mas não das grandes nem das lembradas em qualquer mapa.
Qual a virtude mais exagerada socialmente?
Inteligência. Cada vez mais inútil e mesmo prejudicial, socialmente e para o indivíduo em sua inserção social.
Qual é qualidade que mais admira num ser humano?
Não creio em qualidades etc.
Quando e onde você foi mais feliz?
No ventre. O “mais” da pergunta é dispensável.
Próximo: Marconi Leal
Obs. do Milton: Sobre a última pergunta, a grande Iris Murdoch diz o seguinte: “A tranqüilidade de espírito, a ausência de ansiedade, a ausência de medo: são estes os ingredientes da felicidade.” Retirado deste excelente blog.