E não é que o Rio ganhou?

Eu queria.

Comentário do crasso e civilizadíssimo carioca Marcos Nunes:

Queres morrer de rir? leia os comentários furibundos dos leitores da Folha SP. Putz, os cara e as mina moram em São Paulo e falam do Rio com uma propriedade que tô até com medo de ir à rua no final do expediente… Assaltos, balas perdidas, políticos a roda, favelas desabando sobre as avenidas… Vou ignorar que, à minha frente, tenho a plácida (e, ainda bem, distante – pelo mau cheiro) Baía de Guanabara, cercada pelo Aterro do Flamengo, verdejante, e, numa pequena enseada, os barquinhos circulando em torno da Marina da Glória. Atrás de mim, Santa Teresa, seu burburinho riponguístico, artistas cercados de favelas por todos os lados, cujos habitantes são ainda mais artistas, apesar de nada riponguísticos… Ah, quanta depressão forçada, dor-de-cotovelo porque teremos Copa, Olimpíadas, temos “o cara”, crise virou marola e o mercado interno cresce, cresce… Ah, tem uns probleminhas de distribuição de renda, corrupção, depredação ambiental, privilégios concedidos a latifundiários, e… e… e… e… e…, por aí vai, mas sempre lembro às pessoas, ô, cambada, lembram de fato os anos Efeagagá? Mas lembram mesmo? Pô, tá ruim, mas, putz, olha lá dez anos atrás, o que a gente tinha pela frente? Nada, cara, nada. Hoje a gente pode ter só ilusão, mas nem isso dava pra ter naquela época. Então deix’eu rumar pr’as ruas e pr’o meu bar beber meu vinho e, sim, comemorar mais essa, que será bom, será caótico, será o que será caralhos!

Quinteto Villa-Lobos de graça em Porto Alegre

O Quinteto Villa-Lobos traz de volta seu amor, desata macumbaria, doenças mandadas e da carne. Traz seu emprego de volta — assim como o desejo –, cura doenças e faz com que ela chame seu nome mesmo que esteja junto de outro homem. Faz tudo ao contrário e vice-versa se você for mulher.

Não perca, imbecil!

Anúncio copiado de PQP Bach.

A "ditabranda" da Folha de São Paulo

Talvez por falta de assunto ou precisando de uma polêmica, o jornal Folha de São Paulo resolveu qualificar, em editorial, a ditadura brasileira de uma “ditabranda”, neologismo que seria de uso comum para qualificá-la. Eu vivo no Rio Grande do Sul, ouço notícias, converso com pessoas informadas e via de regra mais qualificadas do que eu, leio também alguns poucos jornais (são tão ruins), leio livros, blogs e confesso que o termo — além de mentiroso — me era desconhecido. Mas a Folha resolveu ampliar o erro ao colocar uma cereja consideravelmente podre sobre seu editorial. Ao ser veemente e educadamente questionada pelos professores Fabio Konder Comparato e Maria Victoria Benevides sobre a utilização do termo “ditabranda”, de uso tão corriqueiro entre nós, o jornal saiu distribuindo saraivadas a esmo, atribuindo simpatias aqui e ali e chamando os professores de cínicos e mentirosos. Um ataque e uma injustiça intoleráveis vindas de um jornal com milhares de assinantes e que, diga-se de passagem, de um jornal que saiu-se muito bem durante a “ditadura militar”, termo mais conhecido por mim.

Acho que a ditadura brasileira nunca antes havia sido qualificada como ditabranda, mas eu já vira a sigla da Folha, FSP, ser citada como Façamos Serra Presidente. Acho que nem o candidato concordaria com os ataques realizados por seu Comitê Eleitoral.

Por tudo isso, foi marcado para o dia 07/03, às 10h, um ato público bem na frente do Comitê Eleitoral de José Serra, na Alameda Barão de Limeira, 425, em São Paulo. É necessário? Sim, é; pois não podemos reduzir o incidente a um ataque à honra e à titulação de dois importantes professores, verdadeiros falos acadêmicos extra large. O que a Folha fez foi um ataque à memória do país e daqueles que sofreram nas mãos e sob a tortura e chumbo militares. Isso sem falar na censura, que parece não ter incomodado a indomável Folha de São Paulo. Então, quem estiver em São Paulo, procure agendar-se para o dia 7. O que a Folha fez foi transformar isto aqui…

… nisto aqui:

Obs.: Agradecimentos ao Latuff, ao Idelber Avelar que escreveu dois posts sobre o assunto (1 e 2) e aos numerosos blogs e fontes citadas por ele.

Atualização das 17h05: De forma mais ampla, Rachel Nunes também escreve hoje sobre o mesmo assunto. Neste post.

Atualização dos 15 minutos do dia 05/03: O Hipopótamo Zeno, o homem que jamais estará em posição digna de suborno…, fala com proximidade, inteligência, carinho e ironia a um importante jornalista que escreve para a Folha de São Paulo e que produziu uma monumental série de livros chamados A Ditadura Envergonhada, A Ditadura Escancarada, A Ditadura Derrotada e A Ditadura Encurralada. Nada de Ditabranda, ao menos nos títulos. Ler aqui.

As férias possíveis / Ensinando criacionismo na escola

Volto ao blog terça-feira, tá?

Não, não adianta ligar para o celular, estarei num hotel fazenda sem cidades num raio de 40 Km.

Por necessidades profissionais, devo estar em Porto Alegre entre segunda e quarta (ou terça ou quinta). Depois reencontro a família no hotel.

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Gostaria de ter escrito o texto abaixo. Mas o Prof. Darwin poupou-me o esforço, escrevendo um claríssimo texto sobre a questão que gostaria de abordar na semana em que um dos maiores gênios da humanidade, Charles Darwin, completa 200 anos de nascimento e no ano em que seu livro “A Origem das Espécies” (do original inglês On the Origin of Species by Means of Natural Selection, or The Preservation of Favoured Races in the Struggle for Life) completará 150 anos.

Ensinando criacionismo na escola, por Prof. Darwin (um pseudônimo, por supuesto)

É assustador que, às vésperas do bicentenário do nascimento de Charles Darwin, pai da teoria da evolução, escolas brasileiras estejam ensinando criacionismo nas aulas de ciências. Já se sabia que as escolas adventistas fazem isso. A novidade é que o negócio está se propagando. Em instituições tradicionais de São Paulo, como o Mackenzie, inventou-se até um método próprio para o ensino. “Antes, usávamos o material que havia disponível no mercado”, explica um dos diretores da escola, Francisco Solano Portela Neto.

O criacionismo é ensinado como ciência da pré-escola à 4ª série.

Não há problema em que o criacionismo seja dado nas aulas de religião, mas ensiná-lo em aulas de ciências é deseducador. Criacionismo é a explicação bíblica para a origem da vida. Diz que Deus criou tudo: o homem, a mulher, os animais, as plantas, há 6 000 anos. Quem estuda religião precisa saber disso. É uma fábula encantadora, mas não é ciência. É inaceitável que o criacionismo seja ensinado em biologia para explicar a origem das espécies. Em biologia, vale o evolucionismo de Darwin, segundo o qual todos viemos de um ancestral comum, há bilhões de anos, e chegamos até aqui porque passamos no teste da seleção natural. É a melhor (e por acaso a mais bela) explicação que a ciência encontrou sobre a aventura humana na Terra.

Quem contrabandeia o criacionismo para as aulas de biologia diz que, em respeito à “liberdade de pensamento”, está “mostrando os dois lados” aos alunos. Afinal, são escolas religiosas, confessionais, e os pais podem ter escolhido matricular seus filhos ali exatamente porque o criacionismo é visto como ciência. Pode ser, errar é livre, mas que embrutece não há dúvida. Embrutece porque ensina o aluno, desde cedo, a confundir crença e superstição com razão e ciência. É desnecessário. Que cientistas saem de escolas que embrulham o racional com o místico? Também é cascata, porque, fosse verdade, a turma estaria ensinando numerologia em matemática. Ensinaria alquimia em química, dizendo, em nome da “liberdade de pensamento”, que é possível transformar zinco em ouro e encontrar o elixir da longa vida…

Há pouco, na Inglaterra, um reverendo anglicano defendeu o estudo do criacionismo na educação básica. Era diretor de educação da Royal Society. Queria colocar Deus no laboratório da escola. Cortaram-lhe o pescoço. A Suprema Corte americana já examinou o assunto. Mandou o criacionismo de volta às aulas de religião. No Brasil, terra do paradoxo, o atraso avança.

Darwin foi um gênio. Em seu tempo, não se sabia como as características hereditárias eram transmitidas de pai para filho. Nem que a Terra tem 4,5 bilhões de anos e que os continentes flutuam sobre o magma. No entanto, a teoria da evolução se encaixa à perfeição nas descobertas da genética, da datação radioativa, da geologia moderna. Só um cérebro poderosamente equipado, conjugado com muito estudo, pode ir tão longe. Confundido com criacionismo, Darwin parece um macaco tolo. É assustador.

MAIS, E AINDA MELHOR, AQUI NO GRANDE GRIJÓ.

E-mail do Conselho Estadual de Cultura / RS

Prezado Senhor,

O Conselho Estadual de Cultura, tendo em vista a “gestão democrática da política cultural” constante de suas funções específicas (Const.do Estado, art.225) e do estabelecido na Lei 11.289/98, art.11º,§2º, tem a honra de convidar Vossa Senhoria para, em conjunto com pessoas ligadas à área cultural, comparecerem a uma reunião de caráter público com a finalidade de debater e fixar posições comuns em defesa dos interesses da comunidade cultural, da funcionalidade e transparência do Sistema LIC e da soberania do Conselho em face das distorções contidas no PL n°294/2008, que visa a instruir o “Sistema Unificado de Apoio e Fomento às Atividades Culturais – Pró-Cultura”.

Encarecemos a necessidade e importância da presença de todos.

Local: Rua Carlos Chagas nº 55, 11º andar – Auditório
Data: Quarta-Feira, 26 de Novembro de 2008
Horário: 18hs

Atenciosamente,

Mariangela Grando
Cons. Presidente