Como os amantes de livros italianos estão lidando com o bloqueio de coronavírus

Como os amantes de livros italianos estão lidando com o bloqueio de coronavírus

Leitores de todo o país estão recomendando livros, enquanto editores, escritores, livrarias e bibliotecas tentam manter a alegria na vida das pessoas

Massimo Carlotto — no The Guardian (tradução minha)

A neve cai nos telhados. O silêncio é sinistro. Apenas alguns dias atrás, este campo montanhoso na fronteira com a Áustria estava cheio de turistas. Agora está quase deserto. Suas estações de esqui, hotéis e restaurantes estão fechados. Geralmente atravessamos a fronteira para fazer compras e encher nossos tanques com gasolina que custa menos e é de melhor qualidade, mas agora a alfândega austríaca recebeu ordem de fechar. Não é mais possível passar. Não moro neste vale, mas tenho uma casa aqui para onde fujo quando preciso de paz para me concentrar na escrita — geralmente quando estou atrasada para o prazo de um romance e meu editor está começando a se preocupar. Mas agora eu prefiro ficar aqui. Não apenas porque o contato com outras pessoas é mínimo, mas porque eu quero assistir o que está acontecendo da distância certa. O coronavírus está mudando a imaginação coletiva dos italianos e nós, escritores, devemos estar em condições de registrá-lo. Eu assisto Pádua, minha cidade, via webcam. As belas praças estão desertas. Finalmente, as pessoas estão aceitando a gravidade da situação.

O bloqueio é absolutamente necessário: o sistema nacional de saúde não consegue acomodar o grande número de pacientes em terapia intensiva. A Itália está pagando o preço por cortes. Felizmente, porém, o governo teve a coragem de tomar medidas drásticas em um país que está culturalmente acostumado a interpretar regras com certa elasticidade. Parte da população, confinada em suas casas, está exalando sua ansiedade e frustração nas mídias sociais e houve incidentes como assaltos no supermercado. Mas celebridades e estrelas do esporte se uniram em uma campanha de divulgação chamada #IStayAtHome. A mensagem deles é insistente: não saia de casa.

O establishment cultural se mobilizou contra o medo: escritores, músicos, artistas, mas também editoras, livrarias e bibliotecas públicas. Todos se empenham em tornar este lar forçado menos triste e difícil.

O fechamento das livrarias foi um golpe para o mercado editorial, que está sendo mantido pelas vendas on-line, mas os leitores tomaram a iniciativa, desenvolvendo maravilhosas listas de leitura boca a boca, destacando clássicos esquecidos e autores de pequenas editoras. Houve uma ênfase em romances que se passam em momentos difíceis da história, de A Peste, de Albert Camus, e Ensaio sobre a Cegueira de José Saramago.

O bloqueio deve se tornar uma ocasião para reflexão coletiva, não apenas sobre nossos próprios medos, mas também sobre grandes temas sociais, como a solidão — um dos grandes problemas, que o vírus tornou ainda mais doloroso. Solidão não faz diferença de idade ou classe social; aqueles que sofrem com isso precisam de apoio concreto e consistente, mantido ao longo do tempo. O tempo do vírus é uma página na história da Itália; está sendo escrito por muitos, com tragédias e uma miríade de exemplos práticos de solidariedade.

Foto: Prefeitura de Veneza / Divulgação

Gostou deste texto? Então ajude a divulgar!

Parque da Redenção, ontem pela manhã, 8h30, na chuva

Parque da Redenção, ontem pela manhã, 8h30, na chuva

Gostou deste texto? Então ajude a divulgar!

Locais fechados em Porto Alegre-RS até segunda ordem

Locais fechados em Porto Alegre-RS até segunda ordem

LOJAS:

Mesbla
Lobrás
As Brasileiras
JH Santos
Casas Sloper
Wolens
Taft
Coates
Louro
Armazém Riograndense
Krahe
Masson
Disapel
Cambial
Incosul
Casa Lyra
Bromberg
Saco e Cuecão
Gang
Hermes Macedo
Guaspari
Lojas Alfred
Livraria Sulina
Magazine Alberto Bins
Disco de Ouro
Quick
Yes Discos
King’s Discos
Star Discos
Manlec
Marinha Magazine
Casa Lu
D’Grau
K&K
Lancheria Julinho
Scarpini
Lojas Alfred
Escosteguy
Livraria Kosmos
Adegas
Courolândia
Couro Esporte
Casa dos Gravadores
Gaúcha Car
Importadora Americana (Ford)
Cauduro
Vêneto Confeitaria
Banco Meridional
Banco Sul-Brasileiro
Maisonnave
Sandiz
Sulcolor
Botinha da Zona
Paulistana
Patry`s
Mobycenter
Pernambucanas

CINEMAS:

Cine Guarani
Cine Vitoria
Cine Lido
Cine Cacique
Cine Imperial
Cine Baltimore
Cine Marrocos
Cine Ritz
Bristol
ABC
Pirajá
Avenida
Astor

ESTÁDIOS:

Eucaliptos
Olímpico

Gostou deste texto? Então ajude a divulgar!

Convivendo com o Asperger de Greta

Uma de minhas experiências mais felizes no jornalismo foi a de trabalhar com um menino que sofria do mesmo Asperger da Greta. Um dos donos da empresa onde eu trabalhava me pediu para acompanhá-lo com cuidado e atenção. Leigo, nervoso e um pouco contrariado, li o que podia sobre a síndrome e o menino fez coisas incrivelmente positivas, com sua absurda capacidade de concentração. Ele só falava comigo, os outros só recebiam um oi e olhe lá. Na hora de sair, ele sempre me perguntava sobre sua produção naquele dia. Ela era sempre espantosa. Traduzia, revisava e descobria notícias com uma velocidade diferente do habitual, acompanhada de uma profunda atenção aos detalhes. Certamente devia sofrer com a dificuldade de se relacionar, era mesmo uma pessoa original que raramente olhava para mim e que vinha conversar sobre uns assuntos fora do habitual — eu me divertia com isso, mas tinha enorme respeito por ele e acho que ele gostava de passar aquelas manhãs trabalhando comigo. Sei lá onde anda hoje, espero que bem. Tenho carinho por ele.

Gostou deste texto? Então ajude a divulgar!

É isso

É isso

“Em qualquer situação incompreensível, quando tudo estiver ruim, leia os clássicos russos. Lá, tudo estará ainda pior.”

Gostou deste texto? Então ajude a divulgar!

Bom dia, Coudet (com os lances de Grêmio 0 x 0 Inter)

Bom dia, Coudet (com os lances de Grêmio 0 x 0 Inter)

O Gre-Nal estava muito bom, muito bonito, sendo jogado a morrer por dois times ofensivos. O empate era justo, mas o placar de 0 x 0 era absurdo considerando-se as chances de gol perdidas. Só o Inter colocou duas bolas na trave e Gabriel Boschilia errou um gol cara a cara com o goleiro. O Grêmio não fez menos.

Vi o jogo primeiro no celular, depois no notebook, com muitas interrupções. Estou achando uma droga esse negócio de Facebook.

Pela primeira vez em muitos anos, via-se um Inter corajoso, indo pra cima do Grêmio no Humaitá. O Inter de Coudet não tem nada em comum com o de Odair, Guto, Roth, etc. Não tem nada de apenas defender a casinha. Com jogadores que não são melhores do que aqueles utilizados pelos incompetentes citados, Coudet faz tudo diferente. Faz o time jogar e cada vez mais a hostilidade da imprensa em relação ao argentino fica mais incompreensível, talvez suspeita.

E então, aos 40 min do segundo tempo, quando o Inter seguia melhor, estourou uma briga digna de adolescentes. Uma completa burrice. Como se não bastasse a estupidez em si, sabe-se que quando a gente está melhor em campo quer mais e mais jogo e não fatos novos. Os fatos novos foram as expulsões de Cuesta, Edenílson, Moisés e Praxedes (este no banco). O Grêmio também teve quatro expulsos, mas não eram tão importantes quanto as nossas expulsões. Eles perderam 3 reservas e um lateral meia boca, nós perdemos caras importantes. E passamos a tomar um chocolate, quase perdemos o jogo nos descontos.

Para a partida contra o América de Cali — que tem que ser vencido no Beira-Rio — Moledo entra na de Cuesta e não teremos mais uma boa saída de bola. Bruno Fuchs ERRA MUITO. Melhor sair jogando com Moledão mesmo.

Moisés está fora e Uendel está machucado — não sei do prazo para seu retorno.

Praxedes entra sempre muito bem e…

Edenílson é insubstituível. Considerem também que Musto, o Rei do Cartão, estará suspenso. Deste modo, as expulsões de ontem acabaram com nossa espinha dorsal: Cuesta, Musto e Edenílson. Ah, Marcos Guilherme também está suspenso! Nossa, quanta babaquice só para demonstrar uma macheza que não é apenas tola, está também fora de moda.

Bem, o RS e o Brasil estão fora de moda, mas este é outro papo.

Vejo muitos colorados elogiando o fim do bundamolismo, mas isso não significa cair em provocações de quinta série. Essas só servem se estamos na roda. Renato colocou a culpa da confusão no Inter… Convençam-se que meu filho Bernardo tem razão: Para os gremistas educados e de bom senso, Renato é uma longa penitência.

Olha só o que Rodinei levou pro Beira-Rio ontem!

No mais, sou um otimista. Acho que Coudet está no caminho certo.

Mas sou contra as paralisações de campeonatos. Até a Filarmônica de Berlim, apresentou-se ontem sem público, só no streaming. Qual é o problema de fazer isso? Não venderam tudo pra Fox e pro Facebook? O amor nos tempos de cól… coronavírus tem que continuar aceso.

Gostou deste texto? Então ajude a divulgar!

Para meus amigos não pegarem o tal do coronavírus

Para meus amigos não pegarem o tal do coronavírus

Acho que são simples as providências a serem tomadas contra o coronavírus e espero que todos os meus amigos estejam tomando precauções. Lavar as mãos, usar álcool gel, tossir para o ladinho e não tocar em corrimãos, trincos ou outros lugares onde as pessoas colocam as mãos, esquivar-se 2m de quem tosse, tirar a mão do rosto, etc. Um álcool naquele teclado que todo mundo usa não faria mal. Ah, digitar a senha do cartão em farmácias e outros locais também merece uma boa lavada.

No RS, há quatro casos confirmados e, sei lá, imagino que haja mais umas 40 pessoas incubando a coisa. Você provavelmente não irá cruzar com esses caras, mas é não bom apertar o botão do elevador e depois lamber o dedo para virar a página de seu livro sem lavar as mãos direito.

Vocês sabem que a peste bubônica matou 100 mil pessoas em Londres lá por 1665? 100 mil era 20% da cidade. E eles não sabiam porque morriam. Isolavam os pacientes, mas era bobagem, porque a doença contaminava os ratos, as pulgas sugavam o sangue deles contendo bacilos e picavam os homens, inoculando-os. A contaminação dava-se de rato para homem através da pulga. Em 70% dos casos, a morte acontecia entre três e quatro dias.

Nossa situação é muito melhor, basta não ser burro. Ei, tira o dedo do nariz, idiota!

Gostou deste texto? Então ajude a divulgar!

Adam e Evelyn, de Ingo Schulze

Adam e Evelyn, de Ingo Schulze

Um bom livro da finada CosacNaify.

Quando Adam e Evelyn inicia, estamos em 1989 em algum lugar da Alemanha Oriental. Adam é um cara de uns 30 anos que ganha a vida como alfaiate. Muito bom em seu ofício, deixa deslumbrantes mulheres comuns. É considerado por elas um artista e isso lhe traz uma satisfação tranquila. Vive satisfeito.

Sua namorada, Evelyn, tem aspirações mais vagas e acaba de demitir-se do local onde era garçonete. Eles talvez estejam apaixonados, mas Evelyn pega Adam literalmente sem calças, aceitando agradecimentos excessivos de uma cliente. Ela faz as malas e some.

A sonhada viagem de férias do casal ao paradisíaco lago Ballaton, na Hungria, cai por terra, mas eles acabam empreendendo a jornada ao país vizinho separadamente. Evelyn pega carona no Passat vermelho de um amigo da Alemanha Ocidental, enquanto Adam os segue em seu velho carro. A empreitada acaba tomando dimensões maiores quando as fronteiras da Hungria se abrem para o Ocidente e o muro de Berlim cai. Ingo Schulze cria aqui uma bonita história de amor encenada nos últimos suspiros da República Democrática Alemã e acompanha a entrada traumática deste casal em crise num mundo totalmente novo.

O que Adam empreende não é bem uma perseguição, porque ele não é nada agressivo nem insistente, apenas fica por ali pois a quer de volta e a negativa dela não é assim tão definitiva.

Na Hungria, eles estão indo para uma reconstrução bastante espetacular.

Durante a colorida viagem, ambos atraem amigos — ou admiradores. Evelyn inicia amizade com um cara chamado Michael (o dono do Passat), um sujeito esperto que Adam odeia. Michael quer Evelyn, que falsamente protesta que nada poderia estar mais longe da verdade. E há uma garota chamada Katja que faz amizade com Adam.

Ambos viajam carregados de coisas como mapas, passaportes de um país em extinção e, curiosamente, uma tartaruga. Eles se esforçam para obter os documentos para entrar na Hungria, mas esses documentos não são necessários. “Eles abriram a fronteira, algumas centenas de pessoas correram para lá e foram embora”, diz Katja. Aliás, Katja já arriscou a vida tentando atravessar o Danúbio a nado, só que aqui estamos quase no terreno da comédia romântica, então não há nada trágico na tentativa. A verdade é que ninguém sabe qual fronteira é melhor atravessar ou para onde ir. Só Adam quer voltar, os outros aspiram a doce vida ocidental.

Enquanto isso, Adam e Evelyn entram em intermináveis ​​sessões de discussão. Quem é mais infiel? Mais sério? Mais divertido? Mais atrativo? Eles ficam em pousadas e com amigos aqui e ali. Lá pelo meio do livro notamos que eles realmente não querem ir para casa, nem têm mais certeza de onde fica sua verdadeira casa.

Adam voltará a ter uma carreira satisfatória? De que serve um alfaiate no Ocidente?

A história é ótima, com muitos diálogos. Porém, por detrás do ritmo alegre se encontram vidas sem rumo. É clara a intenção de Schulze de nos mostrar que Adam e Evelyn são como Adão e Eva de um novo mundo. Ele até encontra uma Bíblia num quarto de hotel e lê para ela a cena da maçã, da serpente, de Deus, etc. Ela fica pasma de como um adulto pode acreditar naquela baboseira, mas Schulze usa e abusa da história como metáfora.

Bom e despretensioso livro.

(Dizem que a obra-prima do autor é Vidas Novas, que também foi publicado pela defunta CosacNaify).

Gostou deste texto? Então ajude a divulgar!

Onze fatos curiosos sobre Onde os Homens são Homens (McCabe & Mrs. Miller)

Onze fatos curiosos sobre Onde os Homens são Homens (McCabe & Mrs. Miller)

Hoje, na Sala Redenção, às 19h, haverá a apresentação da obra-prima de Robert Altman McCabe & Mrs. Miller (Onde os Homens são Homens ou Quando os Homens são Homens no Brasil). O filme é de 1971 e é espantosamente belo. Ele recebe nota 7,7 no IMDB, 8,7 no Rotten Tomatoes e 5 estrelas no NY Times e na Rolling Stone.

Altman era um iconoclasta que virou uma série de gêneros de cabeça para baixo. M*A*S*H era uma comédia anti-bélica. O Longo Adeus foi uma revisão do noir. E o que dizer de seu Popeye? E, é claro, há McCabe & Mrs. Miller, um “western revisionista” que substitui o tiroteio habitual por sequências em que o herói se esconde e se esconde, tentando ficar de fora. O filme ficou restrito ao sucesso cinéfilo. A maioria do público torceu o nariz. Porém, sua reputação foi inflando ano após ano e agora é considerado um dos melhores Altman. Aqui estão alguns fatos dos bastidores da filmagem.

1. O título inicial era A Aposta de Igreja Presbiteriana.

Embora o filme tenha sido baseado em um romance de 1959 de Edmund Naughton chamado McCabe, o título do trabalho era A Aposta de Igreja Presbiteriana (…), referindo-se a uma aposta de alguns moradores da cidade sobre se McCabe seria morto depois de se recusar a vender seus negócios. É que a cidade se chama Igreja Presbiteriana, em homenagem a sua estrutura mais proeminente. Robert Altman disse que, durante a produção, a Warner Bros. foi contatada por líderes da religião, pedindo que não usassem o nome da instituição em uma história sobre bordéis e jogos de azar. O título foi alterado para John McCabe e, depois, para McCabe & Mrs. Miller.

2. Os atores principais eram um casal da vida real que nunca havia trabalhado junto antes.

Warren Beatty e a grande atriz britânica Julie Christie mantiveram um relacionamento amoroso intermitente por vários anos. Em McCabe & Mrs. Miller, eles aparecem juntos nas telas pela primeira vez. Uma biografia de Christie diz que ela foi contratada antes de Beatty. Outra de Altman diz a mesma coisa, acrescentando que a participação de Beatty foi necessária para garantir o financiamento. Mas uma biografia de Beatty conta que ele concordou em fazer o filme depois de se encontrar com Altman e, posteriormente, “convenceu Christie também”. Então, quem sabe?

3. Os prédios da cidade foram construídos por pessoas que fugiam da Guerra do Vietname.

O filme foi filmado perto de Vancouver em 1970, quando muitos jovens americanos estavam fugindo para o Canadá para escapar da Guerra do Vietnã. Alguns desses homens foram contratados para ajudar a construir a cidade Igreja Presbiteriana e até moraram nela.

4. Alguns dos cenários ainda estavam sendo construídos enquanto o filme estava sendo filmado.

Como o filme foi filmado em ordem cronológica, e como a cidade da virada do século deveria ir se expandindo ao longo da história, fazia sentido economizar tempo realizando o filme durante a construção da cidade. Carpinteiros, vestidos com roupas de época, podem ser vistos em segundo plano em algumas cenas, fazendo trabalhos de construção.

5. O filme foi fotografado de maneira incomum e arriscada.

Altman e seu diretor de fotografia, Vilmos Zsigmond, queriam um visual áspero e antiquado. Eles chegaram a um método que os chefes do estúdio nunca teriam aprovado, se soubessem. A técnica mandava expor levemente o negativo do filme antes de fotografar. Isso dificulta a definição da exposição e aumenta as chances de todo o lote ser danificado. O estúdio não gostou do resultado, mas não havia nada que pudesse ser feito depois de pronto — esta é outra razão pela qual Altman fez assim.

6. A fotografia era inelegível para o Oscar.

A elogiadíssima fotografia ganhou menções em muitas críticas, mas foi ignorada quando as indicações ao Oscar apareceram. Acontece que Zsigmond não era sindicalizado. Ele ingressou na Sociedade Americana de Cinegrafistas em 1973 e foi posteriormente nomeado para quatro Oscars, vencendo em 1978 por Encontros Imediatos de Terceiro Grau, de Steven Spielberg.

7. Entre os custos de produção há o replantio do gramado de um morador.

O local das filmagens, uma área rural perto de Vancouver, era escassamente povoada, mas tinha vizinhos. Um desses vizinhos teve que ser reembolsado pelo custo de ter que replantar seu gramado depois que um burro da produção ter se soltado. Ele comeu a grama do cara. Os funcionários da Warner ficaram surpresos ao ver as despesas listadas, embora certamente não tenha sido a primeira vez que um filme de Hollywood incorreu em despesas por causa de algum animal.

8. As cenas de negociação reproduzem as experiências de Altman com produtores.

Altman disse no comentário do DVD que as cenas de McCabe discutindo valores e preços de venda de seus negócios foram inspiradas por suas próprias negociações com produtores e atores.

9. Os atores escolhiam seus próprios trajes, que não poderiam ser trocados.

O pessoal de figurino de Altman montou uma vasta coleção de roupas de época de todos os tipos, penduradas em prateleiras em um dos edifícios da “cidade”. Os atores, desde os protagonistas até os extras, tiveram liberdade para escolher seus próprios trajes, dentro de certas diretrizes: um par de calças, talvez duas camisas, um casaco, etc. Então eles tiveram que usar essas roupas durante toda a filmagem, e cuidar delas como pessoas do velho oeste, sem a assistência de um departamento de guarda-roupas.

10. Tudo bem se você não conseguir ouvir parte do diálogo.

Como a maioria dos filmes de Altman, McCabe & Mrs. Miller têm diálogos naturalistas e sobrepostos. Em vez de uma pessoa dizer uma linha e depois outra pessoa dizer outra, os personagens falam como pessoas reais, interrompendo-se, gaguejando, falando ao mesmo tempo e parando. Zsigmond perguntou a Altman sobre isso. “Não entendo o que as pessoas de segundo plano estão dizendo”, lembrou o diretor de fotografia húngaro. “‘Bem, Vilmos, você já esteve em bares barulhentos. Você ouve o que essas pessoas estão falando ao fundo? Quero uma trilha sonora real. Às vezes você não entende o que elas estão dizendo.”

11. Altman pode ter sido influenciado por Leonard Cohen.

Altman comprou o álbum Songs of Leonard Cohen em 1967, ouviu-o muito, apaixonou-se por ele e depois largou de mão… Dois anos depois, ele estava em Paris pensando em McCabe, e já sabia que não queria uma trilha de música orquestral. Um amigo tocou o tal álbum de Leonard Cohen e Altman disse: “Essa é a música!” Ele imediatamente procurou Cohen a fim de obter permissão para usar algumas das músicas, que os fãs do filme sabem que são assustadoramente apropriadas. “Foi estranho como as letras dessas músicas se encaixavam no filme”, ​​disse Altman. “Eu acho que inconscientemente, elas devem ter estado na minha cabeça.”

 

Gostou deste texto? Então ajude a divulgar!

Duas cenas de O Passageiro – Profissão Repórter, de Michelangelo Antonioni

Duas cenas de O Passageiro – Profissão Repórter, de Michelangelo Antonioni

Primeiro, Jack Nicholson encontra Maria Schneider na Casa Milà, edifício de Gaudí.

Depois, a cena clássica do final do filme. Notem bem: trata-se de um único plano sequência. Tentem descobrir onde diabos Antonioni enfiou a maldita grade. Hein?

Schneider & Nicholson

Gostou deste texto? Então ajude a divulgar!

A Intimação

A Intimação

O Oficial de Justiça toca a campainha e aguarda. A porta da casa é aberta:

– Bom dia.
— Bom dia.
– Eu procuro pela senhora Alexandra Linden Silva.
– Sou eu mesma.
– Sou o Oficial de Justiça Luiz Cunha e trago uma intimação para a senhora. Trata-se de uma ação impetrada por Olavo Carvalho Silva.
– Meu marido!
– Seu marido?
– Sim. Ele está no trabalho. Deve haver algum engano.
– Não, o nome é este mesmo. Exatamente, Olavo Carvalho Silva contra Alexandra Linden Silva.
– Estou pasma. Cada uma…
– É isto mesmo. Olavo Carvalho Silva processa Alexandra Linden Silva por danos morais.
– Danos morais? Que loucura! Que danos?
– A senhora tem que abrir o envelope e verificar.
– Eu não. Abra o Sr.
– Eu não posso.
– Pode sim, o senhor não é maneta, abra e leia!
– Bem, eu não devo fazer isso, mas vá lá. Bem… Ele lhe acusa de ter fingido orgasmos por 24 anos…
– …
– … e que ficou com graves problemas psicológicos ao descobrir. Teme que sejam irreversíveis.
– Mas ele dormiu comigo hoje!
– Bem, diz aqui que sofreu tal decepção, frustração e choque que não consegue mais.

Alexandra começa a chorar. O Oficial de Justiça olha para os lados. Ela o convida para entrar. Sentam-se na sala e ela continua:

– Danos morais? Por que não pediu separação?
– …
– Bom, é que não fazemos há algum tempo. Mas eu não sabia de maiores problemas.
– Ele pede uma indenização para se recuperar e recomeçar nova vida.
– Recomeçar? Ele é um velho! Tem 62 anos e quatro filhos!
– Eu mesmo tenho 59.
– Desculpe. Mas somos uma família evangélica e não haverá separação.
– Isto é com vocês.
– O que o Sr. acharia se recebesse uma intimação dessas?
– Eu não receberia, minha senhora.
– Ah, é? Você tem uma varinha de condão?
– Não, minha senhora. Sou normal… Eu e minha esposa nos entendemos.
– Você consegue segurar?
– Quase sempre.
– Quanto tempo?
– Nunca cronometrei, minha senhora, mas minha esposa é rápida.
– Rápida? E eu devo ser lenta, não?
– Eu não disse isto, Dona Alexandra, repito, eu não disse isto. E mais: eu nem deveria estar tendo esta conversa com a senhora. Eu só entrego papéis e colho assinaturas.
– Mas agora EEEEEUUU quero conversar e não assino este papel sem que o senhor me diga.
– Diga o quê?
– Olhe, eu sou católica desde pequena, depois virei evangélica, tinha vergonha até de olhar para minhas partes íntimas. No banho, só lavava. Não aprendi a me conhecer. Aquilo era para meu futuro marido. Nunca me masturbei.
– Bem…
– Quando casei, foi uma decepção. Ele vinha e me comia, só. Depois, comecei a fingir orgasmos e ele ficava satisfeito, todo pimpão. Comecei a fingir sempre; para apressar, entende? Tivemos quatro filhos.
– Neste caso…
– Aí, alguns dias atrás, quando minha filha mais velha começou a transar com o namorado e anunciou a todos, falei num jantar que não via graça naquilo, que era um sacrifício.
– Sim.
– Aí, naquela noite, o Olavo resolveu me comer e perguntou se eu não estava achando bom. O Olavo movimentava os quadris e perguntava “Você não gosta, Alejandrita? Vai dizer agora que é um sacrifício?”
– E aí?
– Disse-lhe que não gostava daquilo. Que tinha fingido sempre. E que sempre dera graças a Deus quando chegava no quarto e ouvia seu ronco. Ele broxou.
– Aí está o motivo da frustração, da mágoa e da depressão de seu hom… de seu marido, minha cara senhora.
– Depressão? Quem falou em depressão? Você é Oficial de Justiça ou psiquiatra?
– Oficial de Justiça.
– …
– …
– E então? Não gostaria de tentar?
– Tentar?
– Sei lá, tentar comigo. Talvez minhas dificuldades estejam ligadas a esta coisa de pele, de cheiro. As revistas falam nisso. Sou de origem alemã, o Olavo veio de Portugal, você tem carinha de judeu. Alemães e judeus, sei lá.
– Minha cara senhora, eu só vim aqui colher sua assinatura.
– Pois, meu prezado senhor, vou lhe dizer uma coisa: olhe, sinceramente, eu acho um absurdo alguém trazer à baila um problema e nem tentar resolvê-lo…
– Não é problema meu.
– Você entra em minha casa,…
– A senhora…
– …senta no meu sofá…
– …é uma histérica!
– …e nem quer conversar. Venho de uma família de posses, temos um tabelionato, posso colocá-lo lá. Você gosta do serviço burocrático, gosta de carimbos, não? Não quer ir lá brincar com eles? Ou aqui em casa?
– Eu preciso apenas de sua assinatura.
– Os burocratas não têm fetiche por carimbos? Você não quer me carimbar? Chega do Olavo, ele é insatisfatório, entende?
– Senhora! A senhora perdeu o controle!
– É exatamente o que preciso. Perder o controle… Me abandonar…

Alexandra olha para o vazio e diz:
– Está na hora de me separar mesmo. Os filhos estão grandes, ao menos serei autêntica!
– Assine aqui, por favor, e eu vou embora.
– Depois.
– A senhora não pode negar-se. Posso pedir à polícia para levá-la à força ao tribunal.

Ela olha ironicamente para o Oficial e pergunta:
– Quantos virão aqui? Os policiais são jovens? Se forem, quero muito ser levada.
– Assine logo, por favor!
– Está bem.
– Aqui.
– A tinta me excita.

Ela assina, torna-se imediatamente séria e aponta a porta ao Oficial.
– Tenha um bom dia, Dona Alexandra.
– Arrã, terei. Vá, vá!

Gostou deste texto? Então ajude a divulgar!

Três vezes ao amanhecer, de Alessandro Baricco

Três vezes ao amanhecer, de Alessandro Baricco

Eu adoro os pequenos livros de Alessandro Baricco. Três vezes ao amanhecer (Alfaguara, R$ 39,90) pode ser lido em uma sentada (ou deitada) e é entusiasmante, de deixar feliz mesmo. São três histórias que ocorrem ao amanhecer, claro. A primeira é sobre um homem solitário que conversa com uma mulher no saguão de um hotel, ela o convence a fazer certas coisas. A segunda é a respeito de um porteiro idoso que tenta persuadir uma adolescente muito louca a abandonar o namorado violento. E a terceira é a linda história de uma policial de meia-idade que decide levar um menino órfão até a casa do homem que ama e que não vê há anos.

As histórias são habilmente entrelaçadas, os diálogos são rápidos, com alternância entre os discursos direto e indireto. São descritos três fatos onde os personagens dão de cara com a possibilidade de alterar o rumo de suas vidas ao amanhecer.

Três vezes ao amanhecer era um livro imaginário, criado em outro romance de Baricco, Mr. Gwyn. Perto do final de Gwyn, há uma discussão sobre um livro intitulado Three Times at Dawn, atribuído a Akash Narayan. Como a nota inicial sugere, Three Times at Dawn é o trabalho que o escritor ficcional Jasper Gwyn achou mais difícil de abandonar…

Três vezes ao amanhecer foi escrito por Baricco aparentemente após Mr. Gwyn, mas não há maiores ligações os ou continuidade entre os dois livros. São obras independentes.

Como escrevi no início, o livro é formado por três episódios separados, mas eles são conectados por intervalos de tempo bastante longos. Cada parte centraliza-se em um encontro entre uma figura masculina e feminina. Outras figuras também aparecem, mas são incidentais. Um dos personagens está de alguma forma fugindo, às vezes sem ser encorajado, outras vezes sendo trazido à segurança.

O primeiro encontro acontece no saguão de um hotel, com uma mulher entrando ali nas primeiras horas da madrugada e encontrando apenas um homem sentado, esperando a hora de sair para uma importante reunião de negócios. Ela parece ter se divertido um pouco demais à noite e puxa conversa, encontrando uma série de desculpas para mantê-lo ali. É um episódio que tem uma conclusão muito inesperada, com o encontro adquirindo uma natureza muito diferente daquela que fomos levados a acreditar. A primeira história fica um pouco mais explicada no episódio seguinte, que ocorre muitos anos antes e que começa com outro encontro no lobby do hotel nas primeiras horas do dia.

Não são exatamente os “retratos” que se poderiam esperar que Gwyn tenha escrito… “Você teria se esforçado para descobrir a história, vendo-a”, observa Baricco enquanto um dupla de personagens caminha nas primeiras horas da manhã. Sempre inteligente e sutil, Baricco nos apresenta os detalhes certos para que as peças se encaixem, aqui e lá adiante.

Recomendo!

Gostou deste texto? Então ajude a divulgar!

Babi Yar, de Anatoly Kuznetsov

Babi Yar, de Anatoly Kuznetsov

O Massacre de Babi Yar foi um enorme fuzilamento em massa conduzido pelos nazistas, durante a ocupação de Kiev na Segunda Guerra Mundial. A parte mais sangrenta do episódio aconteceu entre 29 e 30 de setembro de 1941, quando foram fuziladas 34 mil pessoas em 36 horas. Babi Yar é uma ravina existente em Kiev.

Em 28 de setembro, um aviso foi afixado nos postes e muros de Kiev, dirigido aos judeus:

Ordena-se a todos os judeus residentes de Kiev e suas vizinhanças que compareçam na esquina das ruas Melnyk e Dokterivsky, às 8 horas da manhã de segunda-feira, 29 de setembro de 1941 portando documentos, dinheiro, roupas de baixo, etc. Aqueles que não comparecerem serão fuzilados. Aqueles que entrarem nas casas evacuadas por judeus e roubarem pertences destas casas serão fuzilados.

Os judeus levados à ravina esperavam ser embarcados em trens. A multidão e a confusão de homens, mulheres e crianças era grande o bastante para que ninguém tomasse conhecimento do que estava para acontecer. Levados para a ravina, todos passavam por um corredor de soldados em grupos de dez e fuzilados. Ao escutarem o som das metralhadoras que matava o grupo logo à frente, não tinham mais como escapar.

Babi Yar, de Anatoly Kuznetsov, é um tremendo romance e documento autobiográfico em que o autor narra suas experiências naquela Kiev. Fica claríssimo contra quem foi e quem ganhou a Guerra. No total, em Babi Yar foram mortas 200 mil pessoas, com esmagadora maioria de judeus. Kuznetsov abre sua obra-prima com o famoso poema de Evgeny Evtushenko — também chamado Babi Yar e que foi musicado por Shostakovich — e que não foi nada apreciado pelos fascistas. Nem pelos soviéticos.

Kuznetsov começou a escrever suas memórias de guerra aos 14 anos, em um caderno. Ao longo do tempo, seguiu trabalhando nele, acrescentando novos documentos e testemunhos.

O romance foi publicado com cortes — feitos pela censura soviética — pela primeira vez em 1966, na revista literária mensal Yunost. Os editores reduziram o livro em um quarto do tamanho original e introduziram material adicional politicamente mais adequado.

Em 1969, Kuznetsov partiu para o exílio — foi para o Reino Unido — e conseguiu contrabandear filmes fotográficos de 35 mm, contendo o manuscrito completo. O livro foi publicado no Ocidente em 1970 sob o pseudônimo de A. Anatoli. Naquela edição, a versão soviética editada foi colocada em fonte normal, o conteúdo cortado pelos editores em negrito e o material recém-adicionado entre parênteses. Uma loucura. No prefácio à edição da editora Posev , com sede em Nova York , Kuznetsov escreveu:

“No verão de 1969, escapei da URSS com filmes fotográficos, incluindo filmes contendo o texto completo de Babi Yar. Publico-o agora como meu primeiro livro livre de toda censura política, e estou pedindo que você considere esta edição de Babi Yar como o único texto autêntico. Ele contém o texto publicado originalmente, tudo o que foi expurgado pelos censores e o que escrevi após a publicação, incluindo o polimento estilístico final”.

O romance começa da seguinte forma:

Tudo neste livro é verdadeiro. Quando contei episódios dessa história para pessoas diferentes, todos disseram que eu tinha que escrever o livro. A palavra ‘documento’ na legenda deste romance significa que forneci apenas fatos e documentos reais sem o menor trabalho de inventar como as coisas poderiam ou deveriam ter acontecido.

Kuznetsov descreve suas próprias experiências, complementando-as com documentos e testemunhos de sobreviventes. A tragédia de Babi Yar é mostrada no contexto da ocupação alemã de Kiev desde os primeiros dias de setembro de 1941 até novembro de 1943.

É também sobre o fato curioso de que um garoto de 14 anos pudesse aparecer em qualquer lugar sem que os adultos — soldados alemães — se importassem especialmente. Por acidente, então, vi o que os outros não tinham permissão para ver. E por acidente, ele sobrevivi à ocupação e vivi para escrever sobre ela.

O capítulo “Quantas vezes eu deveria ter sido baleado” lista 20 razões pelas quais os fascistas deveriam ter atirado nele de acordo com ordens emitidas pelos ocupantes nazistas. Quando fala sobre sua própria família, o autor não se esquiva de criticar o regime soviético.

Uma das partes mais citadas do romance é a história de Dina Pronicheva, atriz do Kiev Puppet Theatre. Ela foi uma das ordenadas a marchar para o barranco. Foi baleada. Gravemente ferida, ela se fingiu de morte sobre uma pilha de cadáveres e, finalmente, conseguiu fugir. Ela foi um dos poucos sobreviventes do massacre. Mais tarde, ela contou sua história a Kuznetsov.

O livro é notavelmente bem escrito. Kuznetsov não usa grandes frases e a indignação é até controlada. As formas de sobrevivência, as formas que a fome pode ter em contraste com um inimigo bem fornido são descritas com riqueza de detalhes.

Lembrei de Bolsonaro e de Guedes neste trecho:

O romance termina com um aviso:

Deixe-me enfatizar novamente que não contei nada excepcional, mas apenas coisas comuns que faziam parte de um sistema; coisas que aconteceram ontem, historicamente falando, quando as pessoas eram exatamente como são hoje.

Só, por favor, não confundam Kuznetsov com Soljenítsin. O primeiro é muito mais escritor. E não é doido varrido.

P.S. — Li na edição portuguesa da Livros do Brasil. Há uma edição brasileira da Civilização Brasileira, publicada em 1969. Acho que ambas as edições são as censuradas pelos soviéticos.

Anatoly Kuznetsov (1929-1979)

Gostou deste texto? Então ajude a divulgar!

Kamasutra da leitura

Kamasutra da leitura

Gostou deste texto? Então ajude a divulgar!

Bom dia, Coudet (com o melhor de Inter 3 x 0 Católica)

Bom dia, Coudet (com o melhor de Inter 3 x 0 Católica)

Coudet tem a enorme tarefa de limpar da cabeça dos jogadores do Inter os anos em que marcávamos um gol e íamos “proteger nossa casinha”. E, ao menos ontem, essa nojeira implantada por Fernando Carvalho, Roth, Argel, Odair e outros menos votados não apareceu no Beira-Rio.

A personalidade do SC Internacional é vermelha, viva e alegre. Fica mal calcular. Não nos cai bem. Enfiem a calculadora onde quiserem, porque agora, com Coudet, a gente joga 90 minutos do mesmo jeito, dentro e fora de casa.

Alívio | Foto: Ricardo Duarte (Divulgação / SC Internacional)

Dia desses, estava com saudades de Minelli — até lembrei de seus 91 anos — ou seja, estava com saudades de um técnico que não parecesse um inimigo na casamata.

Escrevam: acho que Coudet acabará sendo muito amado pela torcida. Enquanto isso acontece, nos últimos dias, parte da imprensa dedicava seu desconhecimento futebolístico a atacar Coudet.

Por exemplo, ontem, ficou claro para mim que Musto (ou quem jogar naquela função) é um líbero, mas quantos da imprensa gaúcha sabem sobre como jogavam Giacinto Facchetti ou Franz Beckenbauer, que faziam funções atrás, ao lado e à frente da zaga? Não, minha gente, ele não joga de volante, joga como LÍBERO. Quantos viram Figueroa fazendo o mesmo com Minelli?

Só que no passado havia o volante. O volante de Coudet avança conforme o líbero avança. O líbero o empurra à frente. E vou contar um segredo pra vocês: daqui algumas semanas esse cara — o volante móvel — será Praxedes, OK?

Bem, ontem foi um jogo muito enervante. Juca Kfouri disse que a partida deveria ter sido 9 x 0. Pois é. Poderíamos ter feito uns 3 já no primeiro tempo, mas a bola não entrava ou não caía no pé de quem tem intimidade com as redes. Falta-nos artilheiros. Marcos Guilherme é bom jogador, mas me parece exímio em perder gols.

E então, após 60 minutos de massacre, com as nuvens da desgraça do 0 x 0 se aproximando do Beira-Rio, finalmente Guerrero marcou. E poderíamos ter feito mais 5, tal o volume de jogo e a surpresa dos chilenos, que nunca viram atacantes marcando como se fossem defensores. Não, não fomos proteger a casinha. Ganhávamos o jogo, atacávamos e marcávamos na área do adversário. Lembro que no Gre-Nal que perdemos também pressionamos. Com 10 jogadores, pressionamos e atacamos.  É outro treinador.

A atuação de Thiago Galhardo fará Coudet coçar a cabeça em dúvida. Ele pressionou a defesa, armou, correu, chutou, foi inteligente e me pareceu uma boa alternativa a nosso craque D`Alessandro. Essa tem toda a pinta de ser a nova “crise” a ser adubada por jornalistas com pouca farinha no saco: Galhardo ou Dale? Dale no banco? Oh, meu deus!

Na verdade, bom era quando Parede substituía Dale… Não achas, Roberto Melo?

Para terminar, digo que Coudet sabe lançar os guris da base. Faltavam 15 minutos, o jogo era importante e estava ganho. Quem entra? O menino Praxedes. Lembram de como Odair queimava os guris? Colocando-os nos minutos finais a fim de virar jogos. Quantas vezes Papito lançou Sarrafiore e outros no crematório? Pois é.

Até Rodinei jogou bem. O único senão foi Bruno Fuchs. Ele estava nervoso, hesitante e errando passes. Mas nada que não possa ser corrigido. Ele não é Bruno Silva.

Desculpem as referências a treinadores anteriores. É que aguentei anos essas pragas. É natural que lembre do holocausto.

Abaixo, os melhores lances de ontem à noite:

Gostou deste texto? Então ajude a divulgar!

Bach é Deus, de Sheila Blanco

Bach é Deus, de Sheila Blanco

A letra de Bach es Dios — cantada sobre a Badinerie da Suíte para Orquestrs Nº 2 — é da própria cantora Sheila Blanco. Confiram aí:

Cuando se habla de composición,
hay muchos autores que merecen un programa:
Mozart, Beethoven, Chopin, Debussy,
todos ellos son irrepetibles.

Pero hay uno que es inigualable
porque su legado musical es colosal.

Es barroco, fastuoso, espiritual, indescriptible,
es la música de Dios, Johann Sebastian Bach.

Si tú te fueras a Marte a vivir,
llévate contigo la pasión de San Mateo.

Si necesitas relax y fluir,
escucha las variaciones Goldberg
y los conciertos de Brandenburgo.

No olvides la Suite número 2 menor en Si,
que te atrapa, te subyuga, te ilumina,
te sublima, te alucina, terminando este Badinerie.

¡Qué tío currante que fue Mister Bach!
todo el día compone que compone,
pero ahí no acaba la cosa ¡no, no!

Además de componer y 20 hijos tener,
fue cantor, clavecinista, violinista, organista y violista
y alemán y luterano.

Pero lo más loco de su historia
es que cuando murió J.S.
su inmenso legado
quedó sepultado
y tuvo que llegar Felix Mendelssohn
a hacer valer la obra de Juan Sebastián Bach
y construir casi de cero su reputación.

Hace ya más de tres siglos nació
y sus obras se escuchan cada día.

¡Qué habría hecho Bach con un buen Instagram!
Si en el XVII hubiera habido internet,
Bach tuiteando sus partitas, más retuits que Rosalía,
y con su peluca blanca de youtuber.

Si estás cansado del reguetón,
escucha a Bach y pon atención,
en sus corcheas
y semicorcheas
está la historia de nuestra Humanidad.

No pierdas el tiempo y vete a disfrutar,
si hubo alguna vez un Dios fue Juan Sebastian Bach.

Gostou deste texto? Então ajude a divulgar!

Resumo do início de Coudet

Resumo do início de Coudet

O ranço de parte da imprensa a respeito da presença de Eduardo Coudet na casamata do Inter — e que é amplificado pela parte toda da torcida — é incompreensível.

OK, também acho que a retirada de Moledo foi precipitada, Bruno Fuchs ainda não é melhor que Moledão, mas a postura do time, hoje, está muito mais próxima daquela esperada em um time grande.

Vejamos quais foram os treinadores desde o último título importante do Inter: Fernandão (2012), Dunga (2013), Clemer (2013), Abel Braga (2014), Diego Aguirre (2015), Argel (2015-2016), Falcão (2016), Celso Roth (2016), Lisca (2016), Zago (2017), Guto Ferreira (2017), Odair (2017-2019) e Zé Ricardo (2019).

Destes, quem é realmente do tamanho do clube? Abel, certamente. Aguirre, quem sabe. Os outros eram um bando de medrosos que davam entrevistas falando em “proteger a casinha”.

Ademais, Coudet sofreu zero gols na pré-Libertadores e teve o melhor início de treinador desde Dunga, considerando estes dez primeiros jogos. Só que Dunga jogava apenas o Gaúcho em 2013.

E Coudet está modernizando — na verdade, está alterando radicalmente — o modelo tático do clube. Hoje, estamos jogando no campo adversário, projetados à frente. Nada de “time reativo” como o de Odair. Estamos marcando forte no campo adversário, sem recuar. Em quase todos os jogos tivemos mais posse de bola e oportunidades de gol.

O planejamento é claro e objetivo. Há um conceito por trás de cada ação. Quem não vê… Olha, só lamento, porque quem não vê… Tem problemas de observação no futebol e talvez fora dele.

Há falhas? Sim! Os laterais não foram bem, o armador central não funcionou, mas dizer que Coudet está no caminho errado é uma completa tolice.

Com o grupo em formação, com jogadores que preocupam por sua idade e implantando uma mentalidade de time grande num grupo acostumado a fazer um gol e recuar ou a apenas especular fora de casa, acho que Coudet vai muito bem, obrigado.

Vejamos hoje.

.oOo.

Alexandre Ernst, no Twitter:

Coudet rasga elogios ao Praxedes, que passará por um processo de fortalecimento muscular e não arregou quando perguntado se jogaria uma Libertadores com a camisa do #Inter. Acaba, ainda, com a questão Musto-Lindoso: quando o time engrenar, será UM ou OUTRO!

Coudet é DE LONGE o treinador com maior entendimento do “novo futebol” que o #Inter contrata desde Tite. Vou seguir dizendo e fazendo voz por aqui: DEIXEM O CARA TRABALHAR!!!! De Argel a Odair temos MUITO a corrigir e trabalhar, principalmente na questão TÁTICA! Vai funcionar!!!

Eduardo Coudet, implantando inédita intensidade nesta década | Ricardo Duarte (SC Internacional)

Gostou deste texto? Então ajude a divulgar!

A Facada no Mito — Documentário questiona facada em Bolsonaro

A Facada no Mito — Documentário questiona facada em Bolsonaro

O documentário A Facada no Mito, postado pelo canal True Or Not, do YouTube, está se espalhando por meio das redes sociais. O trabalho, que não identifica seus autores, praticamente não traz imagens inéditas do episódio que vem sendo tratado como “atentado” contra o então candidato Jair Bolsonaro, em 6 de setembro. Mas traz apontamentos minuciosamente elaborados em torno das cenas que antecederam à facada desferida por Adélio Bispo de Oliveira.

Mostra o comportamento da equipe de segurança, levanta questões relacionadas à “logística” em torno do autor, relembra dúvidas em torno do atendimento e contradições em torno das reações de pessoas próximas a Bolsonaro. Adélio agiu sozinho mesmo para organizar e executar o atentado? Por que tinha tantos celulares e laptop se usava lan house? São coincidências as mortes de pessoas ligadas a sua hospedagem? E o fato de o escritório de advocacia que o defende atender também envolvidos em confronto entre policiais de Minas e de São Paulo? São listadas, enfim, muitas perguntas sem respostas, como qual teria sido o desempenho de Bolsonaro se não tivesse ocorrido o crime.

Os responsáveis observam que até o momento a Polícia Federal apresentou uma conclusão que “deixa de fora muitas questões”. “Questões que queremos dividir com o público para que possamos exigir as devidas respostas.”

Gostou deste texto? Então ajude a divulgar!

Comendo em Londres e Barcelona

Uma distorção que sempre me incomodou é que no Brasil o supermercado é caro e os buffets baratos.

Já na Europa, come-se muito barato comprando coisas nos super e a comida pronta é que é cara. E a comida do super é sempre de alta qualidade. (Para nossos cafés da manhã, levamos uma moca e compramos café lá).

Então, a dica: quando se vai para a Europa, o negócio é alugar um apê no airbnb ou booking que tenha cozinha. A comida sai por quase nada.

Gostou deste texto? Então ajude a divulgar!

O blog está viajando em férias, voltamos em março

Abraços!

Gostou deste texto? Então ajude a divulgar!