Odair, o Inter entrou em campo com o regulamento debaixo do braço e saiu com ele enfiado no c… Sim, este é o blog da tradicional família gaúcha, mas às vezes ultrapassamos a linha do bom gosto. Tu também, Odair.
Foto de abertura do grupo do Facebook @ComuDoInter
Vou ser curto e grosso, tenho que trabalhar. Nosso time tem péssimo toque de bola. Qualquer coisinha e a bola espirra ou passa tranquilamente sob os pés de nossos jogadores, ignorando nossa angústia. Somos nervosos e ruins, Odair. Então, sendo assim, como vamos controlar o adversário apenas tocando a bola e nos defendendo? Vamos é passar todo o tempo nos defendendo, correto? Isso é da mais pura lógica.
Quantos contra-ataques foram desperdiçados? Quantas bolas foram perdidas bobamente, devolvendo a bola para aquelas débeis tentativas do Vitória? Muitas. Até que eles criaram coragem e começaram a perder gols. Até que fizeram um.
Ou seja, nossa abordagem foi totalmente equivocada. Não nos conhecemos. A única forma de jogarmos é com esforço ou, como dizem, com a corda esticada. Retranca? Retenção de bola? Esqueça. Nosso estilo não pode ser o de apenas manter a bola conosco, pois sucumbimos a qualquer marcação. Mesmo a do Vitória.
Para piorar, tu estavas perdendo o jogo e com a quase certeza de ir para os pênaltis. Então, o que fizeste? Tiras D`Alessandro, um gol quase certo, para colocar Camilo. Camilo é bom chutador e fez o dele, mas porque ele não entrou no lugar de outro, de um menos dotado para a tarefa? É só pensar, coisa que se faz pouco no Beira-Rio.
Bem, agora só temos o Brasileiro até o fim do ano. Faltam 42 pontos para não voltarmos para a Segunda Divisão. Acho que é simples, só que nada é simples para quem não usa o cérebro.
Arthur perdeu o emprego em Porto Alegre. Acontece que plantava maconha em sua casa. No início, a produção tinha fins medicinais — ele apenas desejava diminuir as dores da mãe que sofria de câncer no útero. Porém, após a morte dela, Arthur seguiu produzindo para uso pessoal. Um dia, foi denunciado e a polícia chegou fazendo confusão. O fato foi para os jornais e Arthur, professor de História num colégio particular, acabou demitido. Afinal, não ficaria bem para a instituição manter um professor com esta “mácula” no currículo.
Então, em vez de estudar para fazer concursos ou um doutorado, ele procura recomeçar a vida nos EUA, no condado de Mendocino, norte da Califórnia. Esta região é uma das maiores produtoras de maconha nos EUA. O produto, legalizado para uso recreativo em 2016, movimentara um comércio ilegal de 23,3 bilhões de dólares em 2015. Neste mesmo ano, foram apreendidos quase três milhões de pés de maconha na Califórnia.
Tem na Livraria Bamboletras Rua General Lima e Silva, 776 Lj 3 Aberta diariamente das 10 até às 22h. Encomendas pelo tel. 51 3221 8764 ou pelo e-mail [email protected]
Talvez buscando correspondência com o produto-tema do livro, o texto de Bensimon é descansado e envolvente. O livro parece uma série de crônicas que contam uma história interessantíssima. O cruzamento de temas e a riqueza de detalhes resulta em um bem-realizado e ambicioso projeto, que combina ficção, tese e história. A narrativa está organizada entre a vida californiana e porto-alegrense de Arthur. Também há capítulos dedicados a personagens locais — reais e fictícios — que dão sentido à luta política e cultural que marcou a descriminalização.
Carol, indo e vindo temporalmente, vai construindo a complexa teia de informações e influências que formam o panorama da região. O livro é tanto uma história pessoal, como um retrato muito sedutor do que sobrou da geração hippie, assim como uma inteligente defesa da descriminalização da maconha. Também temos belos retratos do segundo grupo de personagens: o velho Dusk, a solitária Sylvia e Tamara, a namorada norte-americana de Arthur.
Mendocino é um local rural, pouco povoado e nada conservador. Também há um curioso conflito de gerações, onde os velhos são pessoas da contracultura dos anos 60 e 70 que buscaram modos de vida alternativos — Orgulhoso de ser tudo o que a direita odeia, diz um adesivo na lataria de um carro –, e que acabam por sugestionar os mais jovens, mesmo que seja apenas para criar um Airbnb numa antiga comunidade hippie.
Com tantos temas disponíveis e tendo feito vasta pesquisa, Bensimon acerta ao utilizar capítulos curtos, às vezes até intercambiáveis, criando uma bonita estrutura rarefeita, brilhante e original retrato da geração hippie e de seu legado.
Para criar O Clube, Carol pesquisou por três anos e viveu seis meses no Condado de Mendocino, onde alugou uma cabana na zona rural. Seus outros livros de ficção são Pó de Parede (Não Editora, 2008), Sinuca embaixo d’água (Companhia das Letras, 2009) e Todos nós adorávamos caubóis (Companhia das Letras, 2013).
Torcer para o Inter é complicado. Ninguém sabe porque Nico López saiu do time após o Gre-Nal para dar lugar a Roger. Então Roger foi para o Corinthians e Rossi entrou no ataque. OK, ele teve boa atuação contra o Vitória, mas e Nico? O uruguaio não é craque, perde gols às pencas, mas faz outros tantos. Num time tão deficiente como o nosso, deveria jogar sempre. É complicado de entender. Dizem que Nico não é muio “apegado” ao Inter. Acho que se trata apenas de um sujeito tímido. Corre e se esforça muito. Reclamam do quê? Dizem que ele é peladeiro e pouco inteligente. Só que é o melhor que temos para jogar ao lado de Pottker.
Nico López sai do banco para marcar. | Foto: Ricardo Duarte
Pois ontem Rossi saiu machucado aos 10 min de jogo. Entrou Nico López, fez dois gols e vencemos por 2 x 0. É claro que isso não soluciona nada. O time jogou mal. Apenas ganhou pela fraqueza do Bahia. Deste modo, cumprimos nosso papel de ganhar dos muito fracos. Creio que não podemos esperar muito mais deste ano. É ganhar dos — teoricamente — times mais fracos. É ganhar de Bahia, Vitória, Sport, Paraná, Ceará, Chape, América-MG, essas coisas. Ou seja, nosso campeonato é ficar na frente desta turma, a nossa.
O Inter não tem boa dinâmica de jogo, é lento e previsível. Além do mais, a teimosia reina há anos no Beira-Rio.
Tenho que retirar minhas criticas a Moledo. Ele esteve muito bem. Já Edenílson… Ah, Patrick foi a melhor contratação do ano.
O Inter volta a jogar na próxima quinta-feira, às 19h15, pela Copa do Brasil. É o jogo de volta contra o Vitória. Vencemos o de ida por 2 x 1 no Beira-Rio, lembram? No Brasileiro, voltamos domingo, às 16h, contra o Palmeiras em São Paulo. A vida vai ficar difícil no Brasileiro. Depois virão Cruzeiro, Flamengo, Grêmio, Corinthians…
É bom começar a semana (e o campeonato, obviamente) com uma baita vitória! Primeira rodada do Brasileirão, e voltamos de Belo Horizonte com três pontos, graças ao grande resultado do Grêmio contra o Cruzeiro, lá no Mineirão. Placar mínimo, mas fora de casa, contra um dos favoritos ao título.
O goleador André | Foto: gremio.net
Claro, preciso ser sincero contigo, Renato: eu não parei para ver o jogo no sábado. Meus pais estavam de aniversário na semana passada (sim, coincidentemente nasceram no mesmo dia, mas em anos diferentes), então juntamos a família lá em Serafina Corrêa, ao lado da tua terra natal, para passar o fim de semana comemorando.
Entretanto, os anseios de torcedor pseudo-cronista me permitiram analisar o jogo pelos melhores momentos. O time mineiro tem um dos melhores elencos do país, mantendo sua base e comissão técnica já pela terceira temporada. Partida longe da Arena, contra um velho algoz nos mata-matas. Somando a toda essa fórmula, uma péssima arbitragem. E ganhamos, Renato!
Por mais que enraiveça ver a falta de critério na expulsão do Kannemann, anima saber que seguramos um grande ataque com um a menos e com Bressan e Paulo Miranda na zaga. E nada melhor para um atacante do que fazer gol na sua estreia com o sagrado manto Tricolor. Torcemos para que André tenha vindo para reviver suas melhores fases de goleador.
Ao fim e ao cabo, largamos bem! Pelo menos até os jogos de hoje à noite, fomos a única equipe a vencer fora de casa. E, como já dito, contra um adversário muito difícil, ainda com as ausências de Geromel e Luan. Do jeito que tem que ser nos pragmáticos pontos corridos: placar suficiente, pontuação garantida, superação sobre os concorrentes. Baita resultado!
Foi um início alentador! Claro, o Brasileirão é longo, neste ano tem a parada da Copa do Mundo (que tende a quebrar o ritmo das equipes que vêm bem, como vimos nas últimas edições), muitas coisas acontecem no decorrer de uma temporada e ainda temos nossas pretensões focadas na Libertadores e na Copa do Brasil. Mas nos permitimos sonhar!
Renato, sejamos francos: a torcida gremista, como tu bem sabes, gostaria de ganhar tudo. O mesmo sentimento deve pairar no vestiário, não tenho dúvidas. Contudo, o campeonato nacional tem sido um assunto recorrente entre nós, nos últimos dias. Seja porque nossa última conquista foi em 96, seja porque foram diversas boas campanhas que nos permitiram almejar esse título nas últimas décadas. Com o futebol consolidado que o Grêmio vem jogando nos últimos dois anos, a expectativa aumenta, como não poderia ser diferente.
E ainda tem, como sempre, a boa e velha mística. O último Brasileirão veio justamente num ano em que também ganhamos a Recopa, posterior às conquistas em sequência da Copa do Brasil e da Libertadores. Curiosamente, naquela mesma temporada fomos campeões gaúchos em cima de um time do interior, com o placar agregado da final em 7×0 (naquela vez contra o Juventude, igualmente por 3×0 fora e 4×0 em casa).
Quando a gente vê que a racionalidade (traduzida nessa possibilidade de ver claramente um grupo forte, consistente e de futebol bem jogado há mais de ano) e a superstição andam juntas, aí a gente se sente imbatível! Tu, como gremista, sabes bem o que é isso, né, Renato?! Não é à toa que somos o Imortal Tricolor!
Que tenha sido o primeiro passo rumo ao Tri! Que possamos continuar buscando o hexa da Copa e o Tetra continental! E que venha o que vier! Seguimos no alento!
O Marquinhos do Tuim até tirou fotos do programa quando passou na TV dele.
Convidado pela TVE logo após a inauguração da Casa da Música da Ospa, acho que fizemos um programa cheio de conteúdo. Coloco abaixo a íntegra do mesmo.
Programa esportivo para quem gosta de futebol e tem um parafuso a mais. Com Francisco Éboli, Débora Nunes e Milton Ribeiro debatendo o Brasileirão 2018 e os 15 anos da fórmula de pontos corridos. Complicado fazer uma sinopse, tal foi a multiplicidade dos assuntos tratados.
Acabou 2 x 1 para o Inter. Foi uma vitória horrorosa.
Os 21 dias de treinamento não fizeram o time evoluir, meu caro Hellmann, fizeram apenas com que alguns falsos medalhões voltassem ao time. Roger, por exemplo. Não produz nada, mas é velho e o treinador dá-lhe preferência em razão da idade. Roger parece um desses bonecos de posto de gasolina. Sempre de braços erguidos, só mexendo os braços pedindo a bola e mais nada. Quando é substituído, faz gestos que parecem ser de “puxa vida, que azar”, como se tivesse feito uma grande partida, só que… Puxa, que azar o nosso!
Partick e Rossi foram bem. Já Dourado… | Foto: Ricardo Duarte
Então entra o Nico, que não é nenhuma Brastemp mas que ao menos preocupa o adversário e a coisa dá uma melhoradinha. Mas no próximo jogo volta o Roger, mais velho e de maior status. O mesmo vale para Moledo. Ninguém entende porque Klaus saiu. Sabe-se que o alemão é melhor cabeceador. Bem, ao menos Moledo não tem comprometido.
Rodrigo Dourado tem. Aquela bola rasteira atravessando a frente da grande área já deixou vários volantes famosos, como Toninho Cerezzo na Copa de 1982 naquela célebre derrota para a Itália. Dourado quis imitá-lo e se deu bem — acabou dando o gol para o Vitória que poderia ter determinado o empate.
De resto, vimos um time lento, de mecânica previsível e pobre. Uma chatice de Inter, prontíssimo para a segunda página da tabela de classificação do Brasileiro. Falam em Abel, Odair, mas acho que não mudaria muito. O time jogaria um pouco melhor, só que Abel gosta ainda mais de medalhões e daí toda a base pode ir embora de vez.
Ao menos Rossi deu boa resposta e Pottker retornou após quase 60 dias — machucou-se em 15 de fevereiro. Qualquer jogador europeu fica fora entre 20 e 30 dias em caso de distensão. No Beira-Rio, a coisa é de chorar. O cara fica 60 dias em recuperação e ainda volta bem devagarinho… Não é só o nosso meio de campo que se arrasta em campo, a nossa medicina também é lenta.
Patrick também voltou a fazer boa partida. De resto, vamos mal. Que fase!
Espero que entre William Pottker e Roger, Pottker e Rossi ou Pottker e Nico López, nossa dupla de ataque não inclua Roger, por favor. Já seria um comecinho.
O próximo jogo do Inter é contra o Bahia, domingo, às 16h, no Beira-Rio, pela primeira rodada do Campeonato Brasileiro de 2018. Considerando a qualidade de nosso futebol, há perigo real de rebaixamento. Nosso Brasileiro é contra América-MG, Ceará, Sport, Vitória, Chape, Paraná, o mais fraco dos cariocas, essas coisas. (O Vitória está se salvando sempre na última rodada. No ano passado, por um dedo no cu, lembram?).
Já o jogo de volta contra o Vitória é na próxima quinta-feira, 19, às 19h15, em Salvador. Acho que será uma classificação tensa, para dizer o mínimo.
A partir de hoje, as emissoras passam a obedecer ao comando direto do órgão responsável pela propaganda e divulgação das ações do governo. Tudo isso em ano eleitoral, no qual Sartori é considerado pré-candidato, pelo MDB, à releição ao governo do Estado.
Nesta quarta-feira (11/04), o Diário Oficial do Estado publicou um decreto do governador, alterando a estrutura da Secretaria da Comunicação (SECOM). A principal mudança é a criação de departamento de Radiodifusão e Audiovisual, que irá absorver as atividades da Fundação Piratini caso a extinção se confirme.
Na prática, as emissoras passarão a sofrer a interferência direta dos governantes, já que a SECOM está submetida ao gabinete do governador. A própria secretaria é composta, neste momento, quase que exclusivamente por Cargos Comissionados, abrindo a possibilidade de contratação irrestrita de terceirizados e apadrinhados políticos para trabalhar na TVE e FM Cultura. Ao mesmo tempo, as primeiras realocações de servidores concursados da Fundação Piratini foram oficializadas hoje, diminuindo o quadro de funcionários de carreira.
O Conselho Deliberativo – órgão composto por representantes da sociedade civil e encarregado de zelar para que a programação das emissoras cumpra o caráter público e educativo – deixará de existir nesse novo modelo. As atribuições serão definidas apenas pelos interesses partidários, tanto que o decreto reitera repetidas vezes a prática das parcerias públicas-privadas. Em nenhum momento, porém, é detalhado quais serão os critérios para regular esses acordos.
Em dezembro de 2016, os advogados Antonio Carlos Porto Junior, representante do Sindicato dos Jornalistas, e Antonio Escosteguy Castro, representante dos Sindicato do Radialistas, haviam denunciado que a extinção da Fundação fere princípios constitucionais como o de liberdade de imprensa.
“A ideia de subordinar um órgão de comunicação pessoalmente ao governador do Estado ou a algum governante é algo que não encontra paralelo na história política há muito tempo. Nem na Alemanha dos anos 30 se tinha uma subordinação jurídica de um órgão de comunicação a pessoa do governante. Isso é uma violação expressa do artigo 220 de CF que estabelece que qualquer tipo de óbice a liberdade de informação e expressão é proibida”, afirma o advogado Porto Junior.
É um dia muito bom, porque tu ficas! Como eu tinha te dito no meio da semana passada, eu te entenderia se quisesses regressar à Zona Sul carioca, com polpudos vencimentos e um novo desafio em outro clube que fizeste história. Ficará para uma próxima, felizmente. Todo o trabalho de um ano e meio feito por aqui, com tudo que foi conquistado ao longo deste período, foi, sem dúvidas, fundamental para que tu ficasses. E porque tu sabes o que és para o Grêmio! Muito obrigado!
E o “Dia do Fico” veio após sermos campeões estaduais. Sei o quanto tu querias o Campeonato Gaúcho, algo que deixaste expresso nas últimas entrevistas. Era um título que faltava no teu currículo, e isso o fazia ser teu objeto de desejo. Além disso, fazia oito anos que o Grêmio não se sagrava campeão do Gauchão. Estou feliz, claro, por ti, por todo o grupo e por toda a Nação Tricolor.
Foto: gremio.net
Agora, posso pedir licença para falar um pouco sobre o Campeonato Gaúcho em si? Como eu disse na última vez, recusei-me a aparecer aqui para conversarmos sobre o estadual – tanto que só dei as caras após os jogos da Recopa e da Libertadores, em 2018. E a razão para isso é bem simples: faz anos que eu tenho uma relação de BOICOTE com o Gauchão. Eu mencionei isso na primeira oportunidade deste ano: “por mim, nem jogaria mais o estadual”.
A razão para isso é que já faz tempo que o Gauchão congratulou a máxima do saudoso mestre Claudio Cabral: a única coisa pior do que ganhá-lo é perdê-lo. Conquistá-lo pouca diferença faz, mas perdê-lo cria crises desnecessárias e, até então, inexistentes. Algo na linha da narrativa surrealista que os adeptos do coirmão conseguiram emplacar por estas bandas nessa toada: o Campeonato Gaúcho só vale quando eles ganham
Eles cansaram de bradar que o Inter “conquistou pelo menos um título por ano durante 15 anos” (sendo que em nove desses o único foi o estadual), ao passo que lembravam que o Grêmio “ficou 15 anos sem ganhar nada” (porque daí era conveniente esquecer as vezes em que vencemos o Gauchão nesse período). Sei que a provocação é inerente à rivalidade, mas a verdade é que é esse o tom que tem ditado nossa relação com o regional: quando ganhamos, de nada valeu, mas, quando perdemos, foi o início de uma crise. Uma beleza, hein?!
Contudo, Renato, a minha implicância com o Campeonato Gaúcho vai para muito além dessa cantilena corneteira. Num país que tem se inspirado há quinze anos no modelo europeu de organização do futebol, simplesmente não há mais espaço para que disputemos os estaduais. O Gauchão encurta absurdamente a pré-temporada e incha ainda mais um calendário bastante extenso num país cujas dimensões continentais jamais permitirão que possamos ter por base o sistema europeu.
E não é um campeonato fácil: depois de um período curto de férias, voltamos para enfrentar equipes que estão se preparando há meses para fazer o jogo de suas vidas contra nós e o coirmão. Poucos ali têm objetivos maiores do que enfrentar a nós ou o coirmão em suas casas, para que a renda desse jogo garanta parte significativa de seu orçamento anual – basicamente, o que dá sustentáculo ao poder da federação estadual. Seria muito bom ter outra forma de buscar a receita que os direitos de transmissão do Gauchão nos trazem, de preparar a equipe para a temporada. Mas estamos dentro de um sistema viciado, Renato!
Ainda poderia ser bem pior: quantas vezes vimos uma das principais contratações do ano se lesionar logo no início, numa partida do Estadual? Quantas vezes o Gauchão não nos atrapalhou em outros objetivos, por coincidir com a disputa da Copa do Brasil ou da Libertadores, de modo que deixamos a equipe ainda mais desgastada? Quantas vezes o bom clima que pairava sobre o Olímpico ou a Arena, com expectativa de um grande título, não foi quebrado por uma simples derrota no estadual?
E não fiquemos apenas no Grêmio, porque faz anos que digo que esse sistema prejudica a Dupla. Lembras da final do Gauchão de 2012? Para não perder o título em casa, para o Caxias, Dorival Júnior, então técnico deles, sacou D’Alessandro e Dagoberto do banco. Os dois voltavam de lesão, mas ajudaram a garantir o título para o rival. Todavia, aquela partida os prejudicou em sua recuperação, de modo que atrasaram ainda mais o seu retorno aos gramados em plena forma – o que foi ruim para o clube inteiro. Para só ficar neste exemplo.
O que eu quero dizer é que a conquista do campeonato estadual é pouco valorizada, porque temos objetivos muito maiores. A receita gerada para o clube em razão dele não é muito significativa – e, por mais que pareça essencial para fechar o orçamento anual, o Gauchão simplesmente nos impede de encontrar alternativas. E isso porque a pré-temporada é prejudicada (gostam de falar do calendário europeu, mas, salvo as Supercopas da vida, por lá todos têm cerca de três meses de intervalo na suas competições, enquanto aqui paramos de jogar em dezembro, para já voltar em janeiro).
Por outro lado, as perdas e prejuízos propiciados pelo estadual são potencializados. E aí vem minha questão: por que disputar o Gauchão? Minha resposta, há bastante tempo: não há motivo. Simplesmente precisamos virar essa página, como um dia viramos a do saudoso Campeonato Citadino. Porque o futebol cresce, porque nossas pretensões crescem, porque nossos objetivos se tornam infinitamente maiores do que o “Ruralito”. O Campeonato Gaúcho, hoje, é a alvorada das ilusões ludopédicas, sua taça é a miragem do oásis em meio à imensidão do deserto.
Para entender isso, basta olhar o início de 2018: o Grêmio era Tricampeão da América, a torcida em lua de mel por tudo que ocorreu nos últimos anos, mas queriam criar uma CRISE, por conta da ameaça de rebaixamento no estadual, em razão do pífio desempenho da gurizada do time de transição. Aí vieram os Grenais, e o que valeu para nós, no Gauchão, foram as boas vitórias nos clássicos.
E isso poderia ter ido água abaixo naquele terceiro jogo, tamanho foi o salto alto com que entramos no Beira-Rio, com o time troteando em campo como quem foi curtir a vida na zona boêmia da cidade na noite anterior. Já imaginaste o tamanho da CELEUMA se perdêssemos a vaga para o rival depois de abrir 3×0, Renato? Se chegasse a ocorrer (e mal eles acreditavam que isso aconteceria), mesmo assim não seria grande coisa. Não para os objetivos maiores, não porque o Grêmio até se esforçou para entregar a paçoca. Mas isso sou eu que penso. Tente lidar com a imprensa depois disso.
Felizmente, entramos a tempo de evitar o cenário pior que a gurizada tinha desenhado para nós, eliminamos o rival e conquistamos o campeonato com duas boas vitórias sobre o bravo Xavante, que vem bem para a Série B deste ano. Lembrando que, na última vez em que havíamos vencido a Recopa, lá em 1996, também conquistamos o Gauchão em cima de um time anterior, pelo placar agregado de 7×0 (igual: 4×0 em casa e 3×0 fora). Naquele ano veio o Brasileirão ainda. Que seja um bom presságio…
Enfim, foi bom o Gauchão de 2018 para testar o futebol de vários guris da base, valeu pelo chocolate no clássico e, tá bem, taça é taça e tu querias bastante essa, né?! Fico feliz por isso tudo! Mas agora deu de falar de campeonato estadual. O Campeonato Brasileiro começa semana que vem, e temos Libertadores e Copa do Brasil pela frente também. Como falamos toda vez que chega maio (ou abril, no caso de anos de Copa do Mundo): é agora que a coisa começa. Que bom neste ano sem uma crise artificial implantada (e sem ilusões também). E que bom que tu ficaste, Renato!
O episódio da filha do mestre Buxtehude daria um ótimo e comovente filme. Recusada por Mattheson, por Haendel e por Bach, casou-se enfim com um certo Johann Christian Schieferdecker, que herdou o trono do mestre organista de Lübeck.
No ano de 1668, o organista residente Franz Tunder, da Igreja de Santa Maria em Lübeck, faleceu. A posição que ocupara era muito apreciada e foi preenchida por um jovem promissor chamado Dietrich Buxtehude, sob a condição de que ele se casasse com a filha mais nova de seu antecessor, Anna Margarethe Tunder.
Essa condição também deveria ser rigorosamente estendida ao sucessor de Buxtehude. Em 1703, após 35 anos de serviço, Buxtehude teve a oportunidade de se aposentar precocemente, seguindo um grande interesse em seu cargo por dois famosos organistas, Georg Frederic Handel e Johann Matheson. Além disso, Johann Sebastian Bach, que tinha notoriamente caminhado mais de 320 quilômetros para ver o grande Buxtehude se apresentar, tinha fortes desejos de sucedê-lo.
Infelizmente, houve um pequeno problema… A filha mais nova de Buxtehude, Anna Margareta, era excepcionalmente pouco atraente, e não importava quão prestigiosa fosse a nomeação, ninguém suportava a ideia de casar-se com ela.
E assim Dietrich Buxtehude permaneceu organista em St. Mary’s até sua morte. A filha que ele deixara para assustar os aspirantes a candidatos não se demorou muito. O antigo assistente de Buxtehude, um certo JC Schieferdecker, que é famoso por nada mais, casou com ela. Sua ação ficou conhecida na época como “erhielt den schönen Dienst” (o belo trabalho)!
Ontem, após quase dois meses de otite, resolvi ir ao médico. Só faltou o cara me ameaçar fisicamente. Por que não veio antes, hein? Começou o exame dizendo que, provavelmente, eu perfurara meu tímpano esquerdo. Depois, fez uma coisa incrível. Botou uma espécie de aspirador na minha orelha. Foi algo espantoso. Nunca tinha ouvido barulhos tão altos. Eram placas tectônicas de cera que se desprendiam das paredes internas de meu ouvido, provocando sons de pororocas. Depois notei como sou (somos) um (uns) cabeça (s) de vento. Sentia o ar entrar pelo outro ouvido, puxado pelo aspirador. Também entrava pelo nariz, aumentando a certeza de que minha cabeça é vazia. Então o cara ligou uma luz e observou o que sobrara lá dentro. Disse que eu era um sujeito de muita sorte. O tímpano estava intacto. Agora, finalmente sem dores, estou tomando um monte de remédios pra coisa não voltar.
1945 é um tremendo filme. Esqueça as obras recentes que tratam de judeus durante a Segunda Guerra vindos da França e dos EUA. Este filme húngaro pode ser apenas comparado ao polonês Ida (2014), outra excelente produção. Em agosto de 1945, a vida de um povoado no interior da Hungria é perturbada pela chegada de dois judeus. A guerra acabara, não havia mais alemães sádicos nem rajadas de metralhadoras, quem estão chegando são os soviéticos em um pequeno jipe. E os dois judeus, com suas barbas, roupas pretas e chapéus. O que vieram fazer? Quais são seus planos? A cidade entra em absoluta polvorosa, pois a gente respeitável do povoado está ocupando casas e estabelecimentos expropriados. O tabelião garante que tudo está legalizado, mas seu nervosismo nega o fato. O filme poderia ser até cômico, mas o clima é de terror. O que eles vieram fazer ali? O que impressiona no filme de Ferenc Török é a criação do conflito a partir das pequenas histórias do medo de cada um. No Guion Cinemas. Depois é só passar na Livraria Bamboletras e fazer a festa.
Essa perseguição e pressa para acabar com a terrível ameaça. A proteção da multidão a quem só resta um homem. Ele diabo e deus. Ele tudo. Tudo muito religioso. Até neste momento de absoluta crise política o Brasil mostra-se fundamentalista. Profunda vontade de vomitar.
É Páscoa. Ou o Homem será o Rei ou terá a Cruz. Não há espaço para viéses ou para a inteligência.
Enquanto isso, no Planalto, surfa uma quadrilha de muito mais de 40 ladrões.
No último final de semana, vi o filme Deixe a Luz do Sol Entrar, tradução marota para Un Beau Soleil Intérieur, ou “Um Belo Sol Interior’. Como sempre, Binoche está esplêndida neste filme de Claire Denis, mas acho meio forte dizer o tema são variações sobre a obra-prima de Roland Barthes Fragmentos de um Discurso Amoroso. Não. Ainda bem que a diretora e co-roteirista Denis é uma mulher, pois Binoche passa todo o filme desejando encontrar o homem de sua vida ou ao menos sexo com um pouquinho de amor, como se sua vida dependesse apenas disso. Já imaginaram se o diretor fosse homem? Bem, o filme é ótimo ao mostrar o deslocamento total da personagem principal na paisagem da Paris artística. Destaque absoluto para o maravilhoso final, com Depardieu falando todo o tipo de lugares comuns sobre o amor. Recomendo.
Que dia maluco ontem, hein?! A começar por esse horário em que a CONMEBOL marcou TODOS os nossos jogos em casa. Eu, assim como tantos gremistas, não me livrei dos compromissos para estar às 19h15 na Arena. Nem para ver o primeiro tempo, na verdade. Mas, pelo que ouvi e vi no VT, parece que o time inteiro demorou a entrar em campo. Acho que estavam preocupados com o voto da Ministra Rosa Weber.
O importante é que deu para chegar em casa e ver um belo segundo tempo. Mais uma goleada para a conta. Está certo que o outro time era fraquinho, Renato, mas não tira o nosso mérito. Jael abrindo o placar de cabeça mostra bem o papel que vem exercendo: centroavante de atitude, agita o ataque, bagunça a defesa adversária e cria chance de gols. Eventualmente, deixa o seu também, como hoje.
O show à parte ficou por conta de Everton Cebolinha. O guri está jogando muita bola, Renato! É muito bom ver esse crescimento dele, que já era um bom jogador e contribuía bastante com o time quando entrava, e agora vem se mostrando titular absoluto e uma peça fundamental da equipe. Se continuar nesse ritmo, esperamos que ele possa ficar para além de alguma famigerada janela de transferências.
Falando em peças fundamentais, coisa boa ver Arthur e Maicon se entrosando no meio campo. O Rei, que nos deixará ano que vem para conquistar o Velho Mundo com a camisa Blaugrana, deu uma belíssima assistência para o outro Rei, o da América. Luan, mesmo quando não é protagonista, mostra sua qualidade e sua importância. E até Cícero, que vinha devendo – principalmente pela tua aposta em escalá-lo como titular em alguns jogos –, deixou o seu gol hoje.
Quatro a zero e torcida feliz, apesar do horário ruim, da chuva, da Voz do Brasil, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal que levam mais tempo para proferir um voto do que o coirmão para sair da crise. Pelo menos até a tua entrevista na coletiva, né, Renato?! Esperávamos que tu fosses colocar um ponto final nessa boataria de que tu poderias ir para o Flamengo. E tu preferiste deixar no ar.
Olha só, eu sei que a orla do Guaíba não é Ipanema, que o Morro Santa Teresa pode não ser tão bonito quanto o Corcovado, que a Cidade Baixa fique devendo um pouco à Lapa, mas as coisas estão bem por aqui, não?! Não Porto Alegre em si, claro! Essa tem seus vários problemas (e eu não estou a fim de escrever um “Bom dia, Marchezan!” para conversar sobre todos eles). Eu falo do Grêmio! Tudo bem, não temos a Barra da Tijuca, mas Xangri-Lá é logo ali também. O que tem de bom por aqui é o nosso Imortal!
Sei o quanto tu amas o Rio (bom, e não és só tu que achas uma boa ideia morar na Zona Sul carioca, sejamos francos), mas tu vais ter que ajeitar a casa lá no Flamengo, né?! E tu sabes como é a torcida deles. É “Deixou chegar, fudeu! Entreguem as taças! Rumo a Tóquio!” na primeira vitória suada no Campeonato Carioca; e revolta, terra arrasada e “Muda tudo! Que rolem cabeças!” na primeira eliminação. Aqui nós estamos em lua de mel, Renato! Por que trocar?
Agora, se a tua ideia é só fazer um pouco de joguinho midiático, querer se valorizar um pouco mais, ouvir o torcedor clamar por ti, então deixa eu ser bem claro contigo: FICA, MEU QUERIDO! O GRÊMIO É TUA CASA, TEU CLUBE, TEU LAR! NÓS TE AMAMOS E TE REVERENCIAMOS! Está bem, também não vou ser hipócrita de dizer que, a depender do número preenchido no cheque que me apresentassem, eu não cogitaria em trabalhar até trabalhar até vestindo a camisa do coirmão – OK, exagerei , mas só quis dizer que também entendo o lado financeiro-profissional.
Salvo os mais altruístas (que nas redes sociais tem aos montes, mas nas ruas é difícil de encontrá-los), todo mundo gostaria de garantir uma rica aposentadoria. Eu apenas espero que a proposta do time carioca, se realmente existir, não seja boa a ponto de te convencer a se mudar com tudo que já foi conquistado e construído por aqui neste último ano e meio. Sim, sou metade coração de torcedor apaixonado, metade cérebro burocrático. Só a cerveja para unir isso tudo.
Que na segunda-feira, quando eu voltar a conversar contigo aqui (e falar um pouco sobre o Gauchão, o que eu não fiz DELIBERADAMENTE até agora), a decisão tenha sido por Porto Alegre. Que venha a taça que tu queres no teu currículo de técnico lá de Pelotas, junto com o nosso Dia do Fico. De qualquer forma, Renato, continue não te esquecendo: tu vais ser sempre o cara!
Discussão sobre a necessidade dos estaduais e uma solução para eles. Tudo pela melhor equipe amadora do hemisfério sul do globo terrestre. Também fizemos previsões erradas sobre a Champions… Com Francisco Éboli, José Antônio Gerzson Linck, Moysés Pinto Neto e este blogueiro.
Neste artigo, Tim Berners-Lee alerta para a perda de controlo dos dados pessoais que acabam por se virar contra os utilizadores através de campanhas personalizadas de desinformação.
A 12 de março completaram-se 28 anos desde que entreguei a minha proposta original para a internet global. Imaginei a rede como uma plataforma aberta que permitiria a toda a gente, em todo o lado, partilhar informações, ter acesso a oportunidades e colaborar rompendo limites geográficos e culturais. De várias maneiras a internet cumpriu esta visão, embora tenha sido uma batalha recorrente para mantê-la aberta. Mas nos últimos doze meses, tornei-me cada vez mais preocupado com três novas tendências, que acredito devemos enfrentar para que a rede cumpra o seu verdadeiro potencial como uma ferramenta que serve toda a humanidade.
Foto Belinda Lawley / Southbank Centre / Flickr
1) Perdemos o controle dos nossos dados pessoais
O modelo atual de negócios de muitos sites oferece conteúdo grátis em troca de dados pessoais. Muitos de nós concordamos com isso – embora frequentemente aceitando documentos com termos e condições (T&Cs) longos e confusos – mas fundamentalmente não nos importamos que recolham algumas informações a nosso respeito em troca de serviços gratuitos. Mas há um truque que nos escapa. Como os nossos dados são então mantidos em grandes espaços de armazenamento privados, longe da nossa vista, perdemos os benefícios que poderíamos ter se tivéssemos controle direto sobre esses dados e escolhêssemos quando e com quem partilhá-los. Pior ainda, muitas vezes não temos como comunicar às empresas quais os dados que não gostaríamos de partilhar – especialmente com terceiros –, os T&Cs são tudo ou nada.
A recolha generalizada de dados pelas empresas tem também outros impactos. Através da colaboração – ou da coação sobre – essas empresas, alguns governos também estão a vigiar cada vez mais os nossos passos na rede e aprovando leis extremas que destroem o nosso direito à privacidade. Em regimes repressivos, é fácil ver o mal que pode ser causado – bloggers podem ser presos ou assassinados, e opositores políticos podem ser vigiados. Mas mesmo em países onde acreditamos que os governos são bem intencionados, vigiar toda a gente o tempo todo é simplesmente ir longe demais. Isso cria um efeito que amedronta a liberdade de expressão e não permite que a rede seja usada como um espaço para explorar temas importantes tais como questões sensíveis de saúde, sexualidade e religião.
2) É demasiado fácil espalhar falsas informações na rede
Hoje em dia, a maioria das pessoas recebe notícias e informações na rede a partir de apenas um punhado de sites, redes sociais e ferramentas de busca. Esses sites ganham mais dinheiro quando a gente clica nos links que eles nos mostram. E eles escolhem o que nos mostrar com base em algoritmos que aprendem a partir dos nossos dados pessoais, que estão a recolher constantemente. O resultado é que esses sites mostram-nos conteúdos que eles pensam que clicaremos – o que significa que informação incorreta, ou falsas notícias, que são surpreendentes, chocantes ou feitas para apelar aos nossos preconceitos, podem alastrar como fogo. E através do uso de dados científicos e exércitos de robôs [bots], pessoas com más intenções podem desvirtuar o sistema para espalhar desinformação para obter vantagens financeiras ou políticas.
3) A publicidade política online precisa de transparência e compreensão
A publicidade política online tornou-se rapidamente uma indústria sofisticada. O facto da maioria das pessoas obter informações através de poucas plataformas e a crescente sofisticação de algoritmos desenhados a partir de valiosas bases de dados pessoais significa que as campanhas políticas estão agora a fazer anúncios políticos individuais tendo como alvo cada grupo de utilizadores. Uma fonte indica que nas eleições norte-americanas de 2016 cerca de 50 mil variações de anúncios foram servidos a cada dia pelo Facebook, uma situação quase impossível de fiscalizar. E há indícios de que alguns anúncios políticos – nos EUA e em todo o mundo – estão a ser usados de modo nada ético, dirigindo os eleitores para sites de notícias falsas, por exemplo, ou tentando mantê-los afastados das urnas. A publicidade segmentada possibilita que uma campanha política diga coisas completamente diferentes, possivelmente contraditórias, a grupos diferentes de pessoas. Será isto democrático?
Todos fomos necessários para construir a web que temos, e agora cabe-nos a nós construirmos a wem que queremos – para toda a gente.
Esses problemas são complexos, e as soluções não serão simples. Mas alguns grandes passos para avançar já estão claros. Precisamos definir em conjunto com as empresas web um equilíbrio que coloque novamente nas mãos das pessoas um grau algum controlo sobre dados. Isso inclui o desenvolvimento de novas tecnologias tais como “nichos de dados” pessoais, se necessário, e explorar modelos alternativos de receita tais como assinaturas e micropagamentos. Temos de lutar contra os abusos governamentais em leis de vigilância, incluindo através dos tribunais, se necessário. Temos de combater a desinformação pressionando os “gatekeepers” como o Google e o Facebook a prosseguirem os seus esforços para combater o problema, e ao mesmo tempo evitar a criação de qualquer organismo central para decidir o que é ou não é “verdade”. Precisamos de mais transparência nos algoritmos para percebermos como estão a ser tomadas decisões importantes que afetam as nossas vidas, e talvez um conjunto de princípios comuns a ser seguidos. Precisamos urgentemente fechar o “ponto cego da internet” na regulação de campanhas políticas.
A nossa equipa na Web Foundation vai tratar de muitos desses temas que são parte da nossa estratégia quinquenal — investigando os problemas em maior detalhe, trazendo soluções políticas proativas e articulando alianças que conduzam a avanços em direção a uma web que dê poder e oportunidades iguais para todos.
Eu posso ter inventado a web, mas todos vocês ajudaram a fazer dela o que é hoje. Todos os blogs, posts, tweets, fotos, vídeos, programas, páginas web e muito mais representam os contributos de milhões em todo o mundo construindo a nossa comunidade online. Todo o tipo de pessoas têm ajudado, dos políticos que lutam para manter a internet aberta, organizações como a W3C que promovem o poder, acessibilidade e segurança da tecnologia, e pessoas que saem à rua em protesto. No ano passado, vimos como os nigerianos enfrentaram uma lei das redes sociais que teria destruído a liberdade de expressão online, os protestos populares contra os “apagões” da internet nos Camarões, e grande apoio público à neutralidade da net tanto na India como na União Europeia.
Todos fomos necessários para construir a web que temos, e agora cabe-nos a nós construirmos a wem que queremos – para toda a gente.
Tim Berners-Lee foi o cientista que criou a World Wide Web. Fundador da World Wide Web Foundation, dirige o World Wide Web Consortium (W3C) e é investigador no Massachusetts Institute of Technology.
Artigo publicado no Guardian e traduzido por Inês Castilho para o portal Outras Palavras. Revisto e adaptado por Luís Branco para o esquerda.net.
Aury Hilário é um cirurgião plástico de Porto Alegre. Mas também é muito mais: por 14 anos, ele nos enviou newsletters informando sobre tudo o que acontecia na cidade em termos musicais. Assim, ele provava que se podia ter uma vida cultural mais rica do que normalmente se imagina nesta cidade abandonada. E mais ainda: através dele, muitas vezes descobríamos que podíamos ter vida musical sem pagar nada. Sei de gente que recebia seus e-mails e, com tempo livre e recebendo uma aposentadoria vergonhosa, ia apenas nos gratuitos. Aury fez muito. Eu acho que, como ele sugere na comunicação abaixo, alguém poderia assumir seu trabalho. Infelizmente, falta-me tempo para me oferecer e já tenho o compromisso do PQP Bach, mas fica a dica. Quem quiser contribuir para o bem cultural da cidade, ai está o convite.
O Bola em Transe é um programa de discussões esportivas que se propõe a debater o futebol para além das questões técnicas e táticas — sem descartá-las –, abordando também seus aspectos sociais e culturais. O time que entra em campo é formado por Débora Nunes, Francisco Éboli, Moysés Pinto Neto, e eu, Milton Ribeiro.
No programa dessa semana: Machismo no futebol / #DeixaElaTrabalhar.
Para fanáticos por futebol com um parafuso a mais.