Charles Dickens temia que sua escrita pudesse assustar seus leitores até a morte

Charles Dickens temia que sua escrita pudesse assustar seus leitores até a morte

Charles Dickens, depois de escrever a perturbadora cena de Oliver Twist onde Bill Sikes assassina Nancy (spoiler!), estava preocupado que ela fosse tão chocante e assustadora que pudesse assustar muito seus leitores, até provocando-lhes um enfarto ou algo assim.

Impulsionado por esse medo, Dickens fez uma leitura particular com amigos antes da leitura planejada para o público a fim de ver se os ouvintes poderiam lidar com a cena do crime adequadamente. Seu raciocínio é descrito em uma carta a seu amigo Thomas Beard:

Meu caro Beard.

Vou fazer uma coisa estranha no sábado. Não consigo decidir se leio o assassinato de Oliver Twist ou não. Portanto, como terei um punhado de amigos pessoais no St James’s Hall, vou tentar ver como isso os afeta e, assim, decidir. Você pode vir? Às 8h30? Não vai demorar mais de uma hora. Sempre afetuosamente, Charles Dickens.

Dickens não apenas realizou esse experimento em seus amigos, mas também fez um médico registrar seus pulsos antes e depois de ler diferentes passagens — a cena do crime e histórias mais inócuas — para ver se eles estavam em perigo. Leia a nota do médico:

Terça-feira, 8 de março de 1870: Pulso antes de ler ‘Boots at the Holly Tree’: 94. Depois de ler: 112. Depois de ler ‘Nancy & Sykes’ (o assassinato): 120.

Felizmente, Dickens e seus amigos não morreram, mas talvez ele estivesse no caminho certo: vários leitores descreveram o efeito da passagem em Dickens como “surpreendente, quase alarmante”.

Ambos os documentos podem ser vistos na nova exposição do Museu Charles Dickens, More! Oliver Twist, Dickens e Stories of the City, no centro de Londres, que estreia hoje. Se você não puder ir, pode simplesmente dar uma olhada na cena do crime — apenas certifique-se se há médicos à disposição.

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Porque hoje é sábado, Sharon Tate na cama elástica

Porque hoje é sábado, Sharon Tate na cama elástica

Don’t Make Waves (1967), de Alexander Mackendrick. Além de Sharon, o filme traz Claudia Cardinale e Tony Curtis, que pode também ser visto abaixo. Sharon Tate, mulher de Roman Polanski, foi brutalmente assassinada em 1969, grávida de oito meses, durante um “ritual satânico”, por Charles Manson, até hoje preso na California.

https://youtu.be/zu62I9Pi_UQ

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Na semana da entrega do relatório da Comissão da Verdade, o AI-5 completa 46 anos

Na semana da entrega do relatório da Comissão da Verdade, o AI-5 completa 46 anos
Foto: Reprodução
Leia-se “Golpe” | Foto: Reprodução

Publicado no Sul21 em 13 de dezembro de 2014

Comprova o calendário, consta nos astros, na ciência e na filosofia que o tempo não para. Mas o ano de 1968 não acabou, como diz o livro de Zuenir Ventura. Ou não acabou em 31 de dezembro como todos os outros, tendo sido interrompido no dia 13 daquele mês. Pois no dia 13 de dezembro de 1968, durante o governo do general Costa e Silva, foi baixado o Ato Institucional nº 5, o AI-5, que inaugurou o momento mais duro da ditadura militar brasileira (1964-1985). Ele vigorou até dezembro de 1978, dando poder aos governantes para punir arbitrariamente os que fossem inimigos do regime ou como tal considerados. A partir daquela dia, há 46 anos atrás, os militares podiam tudo.

No restante do mundo, o ano de 1968 ficou marcado como um momento de grande contestação. Na França, o mês de maio foi um momento de grandes protestos tanto contra a política tradicional, quanto a favor de novas liberdades. O radicalismo, principalmente dos estudantes, era expresso claramente pelo lema “é proibido proibir”. Na Europa oriental, no mês de agosto, a União Soviética, acabou com a onda liberalizante em um de seus países satélites, a Tchecoslováquia. A curta Primavera de Praga de Alexander Dubček acabou sob os tanques soviéticos. Dubček e outros membros do governo foram sequestrados e levados a Moscou, onde “lhes fizeram voltar à razão”. As artes também embarcaram no espírito libertário de 1968, mas o que nos interessa é a política brasileira.

Relembremos resumidamente alguns fatos de 1968. No mês de março, uma grande agitação estudantil tomou as ruas do Rio de Janeiro para protestar contra a alta do preço das refeições nos restaurantes universitários. Edson Luís de Lima Souto era um dos 300 estudantes que jantavam no restaurante estudantil do Calabouço no final da tarde de 28 de março de 1968 quando o local foi invadido por policiais. Edson Luís, de apenas dezesseis anos, foi morto pelos militares com um tiro no peito. O fato serviu para que as críticas ao regime se intensificassem. No velório do estudante, uma manifestação de 50 mil pessoas demonstrava a desaprovação ao acontecido.

Edson Luís Lima Souto foi assassinado por um soldado da PM, com um tiro no peito, em 28 de março de 1968
Edson Luís Lima Souto foi assassinado por um soldado da PM, com um tiro no peito, em 28 de março de 1968 | Foto: Reprodução

Em junho, a Passeata dos Cem Mil, ocorrida também no Rio de Janeiro, reuniu trabalhadores, políticos, artistas, professores, religiosos e estudantes decididos a questionar a repressão daqueles tempos. Em clima pacífico, a passeata serviu para que eventos semelhantes acontecessem em outros pontos do país, intensificando o repúdio ao governo militar. Em São Paulo, estudantes da USP entraram em confronto contra governistas da Mackenzie.

Passeata dos Cem Mil | Foto: Repodução
Passeata dos Cem Mil | Foto: Reprodução

Na mesma época, as autoridades militares desarticularam uma reunião clandestina da União Nacional dos Estudantes, acontecida na cidade paulista de Ibiúna. Aproximadamente 900 estudantes foram presos. Alguns dos pais dos jovens envolvidos foram perseguidos ou exonerados de suas funções públicas.

No dia 30 de agosto de 1968, a Universidade Federal de Minas Gerais foi fechada, e a Universidade de Brasília (UnB) foi invadida pela Polícia Militar, que espancou diversos estudantes. Em resposta, o deputado Márcio Moreira Alves, do MDB, nos dias 2 e 3 de setembro, lançou na Câmara Federal um apelo para que o povo não participasse dos desfiles militares do 7 de Setembro e para que as moças, “ardentes de liberdade”, se recusassem a sair com oficiais. Logo após o discurso, o procurador-geral da República selecionou alguns trechos isolados do discurso, imprimiu-os e mandou distribuir nos quartéis. Outro deputado do MDB, Hermano Alves, escreveu uma série de artigos no Correio da Manhã considerados provocações. O governo, atendendo ao apelo dos militares e do Conselho de Segurança Nacional, declarou que esses pronunciamentos eram “ofensas e provocações irresponsáveis e intoleráveis” e solicitou ao Congresso a cassação dos dois deputados.

Seguiram-se dias tensos, entrecortados pela visita da rainha da Inglaterra ao Brasil, fato super honroso na época. E, no dia 12 de dezembro, a Câmara surpreendentemente recusou, por uma diferença de 75 votos — com a colaboração da própria Arena, o partido do governo –, o pedido de licença para processar Márcio Moreira Alves.

Em resposta, veio o AI-5. A criação Ato Institucional Nº 5 foi definida em uma reunião comandada pelo então presidente Arthur da Costa e Silva (1967-1969) e mais 24 assessores diretos que integravam o Conselho de Segurança Nacional, dos quais 15 eram militares. A decisão foi tomada no salão de jantar do Palácio Laranjeiras, no Rio de Janeiro. Por cerca de duas horas, os 25 discutiram e definiram o que seria incluído no ato. Apenas o então vice-presidente da República, Pedro Aleixo, foi contrário à medida. O placar foi de 24 votos a um.

A reunião que criou o AI-5
A reunião que criou o AI-5 | Foto: Reprodução

Os defensores do AI-5 alegaram que o ato era necessário porque havia um clima de rebeldia no ar… Na reunião, todos os presentes se manifestaram. Costa e Silva determinou que a reunião fosse gravada e registrada. O argumento de Aleixo para bastante lógico e claro: ele se manifestou contrariamente ao ato, entre outros aspectos, porque ele institucionalizaria a ditadura.

O Ato autorizava o presidente da República, em caráter excepcional e, portanto, sem apreciação judicial, a:

— decretar o recesso do Congresso Nacional;
— intervir nos estados e municípios; cassar mandatos parlamentares;
— suspender, por dez anos, os direitos políticos de qualquer cidadão;
— decretar o confisco de bens considerados ilícitos;
— suspender a garantia do habeas-corpus.

O preâmbulo do ato dizia ser ele uma necessidade para atingir os objetivos da revolução, “com vistas a encontrar os meios indispensáveis para a obra de reconstrução econômica, financeira e moral do país”. No mesmo dia foi decretado o recesso do Congresso Nacional por tempo indeterminado — só em outubro de 1969 o Congresso seria reaberto, para referendar a escolha do general Emílio Garrastazu Médici para a Presidência da República.

Plenário da Câmara nega cassação do deputado Márcio Moreira Alves Arquivo/12-12-1968
Plenário da Câmara nega cassação do deputado Márcio Moreira Alves em 12-12-1968 | Foto: Câmara Federal

Ao fim do mês de dezembro de 1968, 11 deputados federais foram cassados, entre eles Márcio Moreira Alves e Hermano Alves. A lista de cassações aumentou no mês de janeiro de 1969, atingindo não só parlamentares, mas até ministros do Supremo Tribunal Federal. O AI-5 não só se impunha como um instrumento da intolerância, como referendava uma concepção de modelo econômico e de restrições.

Membro da Comis­­­são Nacional da Verdade, Rosa Cardoso afirma que entre 1964 e 1968 os militares preocupavam-se em manter uma aparência de democracia. “Com o ato, o Estado decidiu deixar às claras toda a sua estrutura repressiva e terrorista. Sem o habeas corpus, por exemplo, as pessoas podiam ser presas, torturadas e desaparecer. E não havia o que ser feito”.

A lembrança do AI-5 está viva na memória de quem acompanhou os desdobramentos do ato. “Todos os grupos do movimento estudantil foram afetados, tiveram as sedes fechadas e foram calados”, comenta Narciso Pires, ex-preso político e coordenador da ONG Tortura Nunca Mais. Hoje com 64 anos, Pires morava em Apucarana (Norte do Paraná) na época e teve de mudar de cidade. “O AI-5 foi o golpe dentro do golpe. Se já tínhamos a sensação de insegurança, fomos calados.”

O resto se sabe. Com o AI-5, acirrou-se o período de terror no país. Houve o aumento do número de prisões de opositores, os centros clandestinos de torturas — assim como os cemitérios — multiplicaram-se pelo país, milhares foram para o exílio e os grupos de resistência armada foram exterminados.

Presidente se emocionou ao falar nas pessoas que  Fto: Antônio Cruz/Agência Brasil
Presidente se emocionou quando do ato de entrega do relatório da Comissão da Verdade | Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil

Hoje

Na última quarta-feira, 10, a presidenta Dilma Rousseff recebeu as aproximadamente 4 mil páginas que integram os três volumes do relatório final da Comissão Nacional da Verdade (CNV). Ela disse que o trabalho da CNV vai ajudar a afastar “fantasmas de um passado doloroso” e permitir que os brasileiros conheçam a história das violações aos direitos humanos durante a ditadura militar para que elas não se repitam. “Nós, que acreditamos na verdade, esperamos que esse relatório contribua para que fantasmas de um passado doloroso e triste não possam mais se proteger nas sombras do silêncio e da omissão”, disse.

O próximo passo será complicado. O Judiciário não tem aceito ações que já vêm sendo propostas pelo Ministério Público. A partir da divulgação do relatório, Rosa Cardoso acredita que esse cenário possa mudar. “Todas as pessoas racionais refletem todos os dias e mudam de posição. Juízes mudam de posição. Há uma parcela da sociedade que dizia: o passado passou. Não passou. Existe uma questão chamada memória.”

Para a procuradora da República Eugênia Gonzaga, o Brasil era um país “vergonhosamente atrasado” em relação a assuntos ligados a graves violações de direitos humanos. Desde o caso das ossadas de Perus, em São Paulo, “vimos que era um tema totalmente abandonado, que as autoridades deixaram de lado. Se o Ministério Público fez a sua parte — tardiamente –, o Judiciário ainda é de uma resistência imensa.” Ela lamentou que o Supremo Tribunal Federal (STF) tenha endossado a Lei da Anistia, o que fez com muitas ações fossem travadas — inclusive a referente ao caso do Riocentro (1981), posterior à lei (1979).

Eugênia citou ainda a decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos, que já condenou o Brasil no caso Araguaia. “Em 1988, o Brasil assinou uma Constituição em que se submete a decisões de cortes internacionais naquilo que se refere a direitos humanos”, observou.

A chaga segue aberta.

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Fontes consultadas:
— Matérias da EBC, da Contraf-CUT, da FGV e de várias publicações da época.

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China, maio de 1949

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Acho sempre muito curioso quando as pessoas dizem que os antigos regimes comunistas matavam muito. Ah, matavam mesmo, não sou louco de negar. Eram tão democráticos e modernos quanto os regimes que vinham substituir, apesar de terem outra feição econômica. Acima, um militante comunista é executado por um policial nas ruas de Xangai, sob o olhar de soldados do Kuomintang (“Partido Nacionalista Chinês”). Dias depois, vocês sabem, as tropas de Mao controlariam a cidade e começariam outras mortes. Outra mania da época era a de retocar fotos, salientando contornos; às vezes retirando pessoas que caíam em desgraça.

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Eliseu Santos ou A metamorfose de um morto

Li a Zero Hora de sábado. A notícia principal do jornal era o assassinato do Secretário da Saúde Eliseu Santos à saída de um culto evangélico. Sim, sei que é preconceito, mas tenho para mim que homens ricos que frequentam cultos evangélicos — e Eliseu era contumaz em sua “fé” na Assembleia de Deus — são, na maioria dos casos, perfeitos idiotas ou políticos em busca de votos. Dizem que Eliseu sempre ia a estes lugares… Talvez satisfizesse minhas duas condições, o que sei eu? O fato é que já ouvira e lera a respeito de uma lista de preços de propinas do Santo Homem, algo entre 10 e 30 mil de entrada, acompanhada de mensalidades. Há até um vídeo no YouTube que o acusa.

O fato é que, no dia anterior, Eliseu, o puro, tinha sido chamado pela Polícia Federal (Operação Pathos) a fim de prestar esclarecimentos sobre o desvio de R$ 9 milhões em sua secretaria. E no dia seguinte apareceu com três tiros, tendo alvejado seu assassino com outros dois, porque santo que se preza anda armado e Eliseu, ao sair do culto, já estava imbuído de Cristo e pronto para sacar. O que surpreende a todos é a transformação de homem e político agitado e até truculento (ZH de sábado) em São Francisco de Assis (ZH de hoje). Como se não bastasse, o crime também mudou, passou de político a comum… Vejamos, um homem sai de um culto imbecil com sua mulher e filha. As duas entram no carro, o homem se atrasa. Repentinamente, sem dizer nada — a mulher e a filha disseram que não ouviram nada — o homem chega à porta de seu carro e é atingido por um criminoso que está a alguns metros. Assalto? Estranho, mas é o que está sendo comentado. Eliseu Santos estava muito tenso nos últimos dias, relataram amigos e companheiros de partido. Tudo porque previa um assalto, sem dúvida! Deus talvez o tivesse avisado.

Flagrante de Deus avisando Eliseu: “Você será assaltaaado, pegue sua aaarma”.

Quem fez esta interpretação das atitudes de ZH é o Diário Gauche. Aqui e aqui. Será que a “limpeza” do nome político do prefeito Fogaça — único nome viável para enfrentar Tarso Genro nas eleições para Governador — vale tanto assim? Céus, vão matar meio Rio Grande!

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Um Ato Privado: Uma Cusparada no Cadáver de Pinochet

Augusto José Ramón Pinochet Ugarte (Valparaíso, 25 de novembro de 1915 — Santiago, 10 de dezembro de 2006)

Hoje faz três anos que Pinochet morreu. Quatro dias após sua morte, em 2006, publiquei o post abaixo em meu blog da época. Este grande episódio pessoal foi retirado do El Pais e, mesmo em espanhol, teve importante repercussão, talvez pelo fato de nossa singular “grande imprensa” ter ignorado a história de Francisco Cuadrado Prats e do cadáver do ditador. Porém, meu afeto por este texto de um jornalista espanhol não vem apenas da notícia, mas do fato de que muitos amigos que hoje leem meu blog e se correspondem comigo terem chegado aqui através dele. A história deste artista tranquilo e muito simpático, que resolveu acertar seus débitos de dor, ódio e repulsa quando do falecimento de Augusto Pinochet, me faz sempre sorrir ironicamente. Nos dias subsequentes ao ato, ele dava entrevistas confirmando que fora um ato privado de desprezo e que estava apenas aguardando seu retorno ao anonimato.

Por J. MARIRRODRIGA (Santiago) – Publicado no El Pais

El nieto de un general asesinado escupe al féretro de Pinochet

Augusto Pinochet no sólo recibió el homenaje de sus simpatizantes y del Ejército durante la exposición de su cadáver en la Escuela Militar de Santiago. También recibió el salivazo de un familiar de una de sus víctimas, y sólo un delgado cristal impidió que fuera alcanzado su rostro. Y aunque la dignidad de todas las víctimas de la dictadura es la misma, lo cierto es que el hombre que escupió a Pinochet se convirtió ayer en el héroe de muchos chilenos.

Se trata de un nieto del general Carlos Prats, asesinado junto a su mujer en Buenos Aires en 1974 por orden de dictador. Prats fue el comandante en jefe del Ejército que precedió a Pinochet en el cargo y durante el golpe de Estado permaneció fiel al presidente constitucional, Salvador Allende. Pinochet siempre le negó los honores fúnebres de jefe del Ejército que él mismo recibió el pasado martes.

Hasta la madrugada de ayer se sabía que durante el desfile de simpatizantes frente al cadáver del general muerto se había producido un incidente cuando tres hombres se acercaron al féretro y uno de ellos pareció estornudar sobre él. Muchos de los presentes se lo tomaron como un accidente, algunos hablaron de falta de respeto, pero unos pocos se percataron de que en realidad el hombre que se acababa de inclinar sobre el ataúd, había escupido al rostro del militar fallecido.

Un grupito lo siguió tratando de evitar que abandonara el recinto. El agresor se marchaba caminando tranquilamente. El grupo consiguió darle alcance ya fuera del salón donde se encontraba expuesto el cuerpo de Pinochet y se formó un tumulto que finalizó con la intervención de la policía militar, que rescató al hombre de un grupo que pretendía lincharle allí mismo.

El detenido se identificó ante los uniformados como Francisco Cuadrado, y añadió: “Soy nieto del general Prats”. Los soldados supieron al instante de quién hablaba y optaron por comunicarse con el general director de la Escuela Militar, que ordenó que trasladaran a Cuadrado a su despacho. Tras permanecer unos minutos a solas con el nieto de Prats, el general ordenó que el hombre fuera escoltado hasta la salida del recinto y que un coche lo trasladara a su domicilio. La mayor parte de las personas que aguardaban su turno no se percataron del hecho y el incidente sólo fue un rumor que tardó unas 20 horas en confirmarse.

Francisco Cuadrado Prats, artista plástico de profesión, aguardó durante horas en la fila de miles de simpatizantes del dictador a que llegara su turno. “En un principio me acerqué por allí a ver qué pasaba”, explicó ayer. “Luego decidí quedarme e hice lo que tenía que hacer”.

“Mi última oportunidad”

El nieto del general Prats explicó a los medios de comunicación chilenos que, aunque la Escuela Militar estaba repleta de personas, su acción se había tratado de un “acto privado” ya que ésta era su “última oportunidad”, de mostrar su desprecio por el hombre que, tras ser recomendado por su abuelo para ocupar el cargo de jefe de Ejército, ordenó asesinarle. “Y además indultó a los homicidas”, añadió. Cuadrado, hijo de Sofía Prats, actual embajadora de Chile en Grecia, expresó además su total desacuerdo por el hecho de que el Ejército rindiera honores al dictador, considerado por toda la familia Prats como un traidor desleal. “Era una cuenta pendiente muy personal”, reconoció el hombre.

Prats, el militar leal

Carlos Prats era uno de los generales más leales a Salvador Allende. Era su amigo y aceptó, pese a reticencias personales, formar parte de su Gabinete. Para reemplazarlo al frente del Ejército, Allende se fió de su consejo y nombró comandante en jefe a Augusto Pinochet. Era el 23 de agosto de 1973. Once días después, Pinochet encabezó un golpe de Estado que acabó con la vida de Allende y dio la orden directa de bombardear el Palacio de La Moneda.

El general Prats, heredero de una tradición del Ejército chileno de sometimiento al poder civil, consideró desde entonces a Pinochet como un traidor desleal, el peor insulto que puede recibir un militar.

Prats, casado y con tres hijas, se exilió en Argentina, que pese a las turbulencias políticas todavía vivía en democracia. El 30 de diciembre de 1974 una bomba acabó con su vida y con la de su esposa, Sofía Cuthbert. La justicia argentina ha determinado que el atentado fue efectuado por los servicios secretos argentinos, infiltrados ya por la ultraderecha, pero que quien instigó y ordenó el crimen fue el propio Pinochet.

Años más tarde, las hijas de Prats lograron que Pinochet les diera permiso para repatriar los cuerpos de sus padres, pero se negó a que Prats fuera enterrado con los honores debidos a un ex jefe del Ejército. No fue hasta el año pasado cuando el entonces comandante en jefe del Ejército chileno, Juan Emilio Cheyre, presidió la ceremonia que debía haberse realizado tres décadas antes.

Adendo de hoje, 10/12/2009:

Em 21 de dezembro de 2006, o prefeito de Las Condes, Francisco de la Maza, demitiu o neto do general chileno Carlos Prats de suas funções como assessor cultural do municipio.

“Nesta decisão, não há ideologia”, declarou De la Maza ao Canal 13, em Santiago. “Na minha opinião, ele agiu de uma forma que não corresponde a um funcionário público e a uma pessoa ligada ao município de Las Condes. Dias depois, De la Maza propôs que a avenida principal da elegante Las Condes recebesse o nome de Augusto Pinochet.

Em resposta, o senador Nelson Ávila anunciou a instalação de uma “escarradeira” pública que levaria o nome do ditador morto, e acrescentou que esperava contar com Cuadrado Prats para sua inauguração. Não sei se ela existe.

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