Olha o Grêmio entregando o jogo aí, gente!

Não parece que Bérgson diz: “Parou. Não chuta mais a gol!”? E por que Adriano e Léo conversam com as mãos sobre as bocas? Foi neste momento que resolvi ver Coritiba e Fluminense. Depois alguns vêm com o papo de que o Grêmio não entregou…

Em drágeas, Co e Curitiba

Antes, alguns tópicos sobre a rodada final do Brasileiro de 2009.

1. O G-4 ficou bem. O maior time paulista, o maior carioca, o maior mineiro e o maior gaúcho.

2. Os rebaixados são 3 times médios, daqueles que gostam de um elevador subindo ou descendo — Sport, Náutico e Coritiba — e o Santo André, clone de clube de futebol, obra de empresários.

3. Acertei que o Palmeiras ficaria fora do G-4. Pediu e levou.

4. Muricy deu seu habitual show ou estava calmo?

5. Inter: vice da Copa do Brasil, vice da Recopa e vice do Brasileiro. Centenário vice. Ganhou o Gaúcho, porém vencê-lo era uma obrigação, visto que o Grêmio dava maior atenção à Libertadores.

6. Grupo do Inter na Libertadores: Inter, Cerro (URU), Deportivo Quito (EQU) e o vencedor do Jogo 5 (Argentina 6 x Equador 3). Leia-se: LDU!

7. Quase foi o Flamengo quem entregou o jogo. Nervoso, não se impôs no primeiro tempo. Na verdade, como os outros, também estava louco para abrir mão do título. O Grêmio não jogou bem, apenas aproveitou-se. No segundo tempo, uma brisa mais forte fez cair seu mal montado castelo de cartas. Assim, como o Inter no ano passado, entregou o jogo. Vingaram-se.

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Tenho algumas décadas de experiência em estádios de futebol e acho que posso apontar muitos erros na condução daquela pequena tragédia. Assisti a Coritiba x Fluminense desde os 30 minutos do segundo tempo, já que estava desinteressado pelo Maracanã. O que os câmeras da SporTV mostravam eram pessoas frustradas, chorando nas arquibancadas. O Flu defendia-se bem, sem dar chances aos paranaenses que só chutavam de longe, sem perigo. O que ocorreu depois da partida foi algo humano e previsível, fruto da frustração. Ou o policiamento acha que todo mundo frustra-se educadamente, ainda mais em grupo? A torcida do Inter, se pudesse, não teria entrado em campo na final da Copa do Brasil? Claro que entraria. Mas vamos aos erros:

1. Preços a R$ 5,00. Ora, a diretoria do Coritiba tentou lotar o estádio reduzindo o valor dos ingressos. Erro. Por exemplo, o que fez a Inglaterra para acabar com os hooligans? Colocou câmeras nos estádios e elevou o preço dos ingressos, privilegiando os associados dos clubes. O baixo valor do ingresso curitibano chamou para o estádio aquelas pessoas que utilizam o anonimato para cometer ações.

2. Onde estavam os seguranças? Os maiores clubes brasileiros utilizam seguranças próprios para auxiliarem a Brigada Militar. Esses homens vestem-se de terno preto e um de seus locais preferidos é na frente da torcida, de costas para o campo, a fim de evitar invasôes. Isso é mais necessário ainda no Couto Pereira, estádio “civilizado” onde se passa da arquibancada para o campo com se estivéssemos no Santiago Bernabeu ou na Inglaterra. Quando da invasão da torcida, viu-se que havia poucos seguranças e estes corriam da torcida…

3. Poucos e mal equipados brigadianos. Não vi brigadianos com cães. E as bombas de “efeito moral”, assim como os tiros com balas de borracha, demoraram longos minutos para aparecerem. Sabe-se que este gênero de multidão enfurecida assusta-se e recua facilmente quando se vê atacada, mesmo que o ataque seja mais de fumaça e barulho. Passaram anos até que aparecessem brigadianos adequadamente armados. Um fiasco.

4. Ambulâncias. O estatuto do torcedor manda que haja uma ambulância para cada 10.000 pessoas. No Couto Pereira, em flagrante desobediência à lei, havia apenas uma.

5. Vias de acesso. O Couto Pereira fica no Alto da Glória, perto da Universidade e, com os carros dos torcedores estacionados nas redondezas era difícil chegar reforços para a Brigada e mais ambulâncias, ainda mais que aquele era o momento em que a torcida estava se retirando do estádio, no contrafluxo.

6. Os distúrbios fora do campo. Normais após o que ocorreu no estádio, não? Os locais preferidos para as brigas foram os terminais de ônibus. É onde havia gente. 14 foram parar em hospitais.

Conclusão: Claro que a lei punirá apenas o clube e uns poucos torcedores, só que a culpa pelos acontecimentos deveria ser dividida entre o Coritiba e o poder público. Ouvi ontem alguns cariocas e paulistas estranharem tais acontecimentos numa cidade tão “civilizada” e “europeia” como Curitiba… Isto é simples ignorância. Curitiba só será mais civilizada que outra cidade brasileira quando for determinado que conservadorismo, limpeza urbana e civilização sejam sinônimos. Conheço bem. E Curitiba é tão europeia quanto Porto Alegre e menos que a violenta Buenos Aires. Grande coisa ser “europeia”!

Fotos: Terra.