Ruy Carlos Ostermann: um encontro com o Professor, de Carlos Guimarães

Ruy Carlos Ostermann: um encontro com o Professor, de Carlos Guimarães

Resenha escrita para a revista Parêntese.

Há no RS algum apreciador de futebol com mais de 30 anos que não tenha ouvido, visto ou lido Ruy Carlos Ostermann? Não creio. Pedir distância crítica a qualquer um deles é impossível. Eu, por exemplo, comecei a ouvi-lo na Rádio Guaíba no distante ano de 1967 e de lá para cá o contato foi muito frequente. Para deixar ainda maior a proximidade, passei boa parte de minha vida trabalhando em dois empregos e eles me obrigavam a um deslocamento a partir das 16h, bem no horário do Gaúcha Entrevista, onde o Ruy, produzido por longo tempo pelo saudoso Paulo Moreira, entrevistava pessoas ouvindo-as com curiosidade e sem interrompê-las. Pois ele foi um comunicador multitemático, multimídia e aparentemente ubíquo.

Li Ruy Carlos Ostermann: um encontro com o Professor (436 páginas), em 3 dias e não me considero masoquista, ou seja, o livro e a extensiva pesquisa de Carlos Guimarães me prenderam por completo. São 35 capítulos diagramados com inteligência, deixando claros os depoimentos, as crônicas do biografado e o próprio texto de Guimarães, o que torna o livro um longo diálogo em que as comprovações do que está sendo dito aparecem de forma fluida.

O começo não promete muito. As origens familiares não são, digamos, fascinantes, mas isto dura pouco. Logo o texto ganha em velocidade e interesse. Também pudera! Seus pais tomam a atitude incompreensível de colocá-lo num internato a poucos metros de casa. E Ruy não parecia ser um problema. Ali parece nascer uma revolta que faria nascer outra pessoa, uma que, inclusive, teria dificuldades na escola e que aprenderia a dirigir seus interesses apenas para o que lhe interessava — a linguagem, a escritura, o pensamento e o esporte.

Ruy foi dos primeiros intelectuais que quebraram a falsa impossibilidade de alguém ser conhecedor de futebol e, ao mesmo tempo, uma pessoa de amplo conhecimento em áreas como arte, filosofia, literatura, história, ciências e música. De forma muito pessoal, ele foi o jornalista que trouxe a linguagem culta e elegante para o rádio, ao mesmo tempo que destronava o achismo reinante. Foi Ruy quem implantou as planilhas em seus comentários. Ele não dizia apenas que um time jogou melhor que o outro, depois enfiando um blá-blá-blá qualquer — nosso homem “de humanas” tratava de informar o número de chutes e de chances de gol, os escanteios, as defesas difíceis dos goleiros, etc. E tudo isto traduzido numa linguagem ausente de aridez. Imagino a festa que ele faria com as estatísticas de posse de bola e os mapas de calor que temos hoje.

Além disso, Ruy era um interessado observador de esquemas táticos, ou seja, ele podia descer alguns degraus em direção ao campo sem passar vergonha. Podia conversar com um técnico sem que este sugerisse a ignorância do jornalista.

O livro de Guimarães também oferece um belo e atraente painel da história do rádio e dos jornais de Porto Alegre, com destaque para o apogeu e declínio da Caldas Junior e a tomada de liderança pela RBS, através de uma administração mais sensata e da paulatina contratação das mesmas figuras que antes brilhavam na Guaíba. As fofocas, hesitações e desafios estão todos muito bem contados, inclusive a rivalidade entre Ruy e Lauro Quadros. Por muito tempo, Ruy foi chefe do departamento de esportes da Rádio Gaúcha e âncora de programas com a participação de Lauro.

Lauro e Ruy, de 85 e 90 anos de idade, parecem dois embaixadores. Eles negam quaisquer confusões, mas não era o que se dizia na época. De um lado e de outro, Guimarães tenta furar o bloqueio dos dois velhos, sem sucesso. São amigos. E as amizades são um importante ponto na vida de Ruy, Ele as cultivava com uma tão especial dedicação que elas foram o que impediu sua ida para a Globo, que lhe ofereceu “rios de dinheiro” para se transferir e que recebeu sempre a mesma resposta: a vida dele, a família e os amigos estavam aqui.

Recomendo o livro de Guimarães. E não apenas para os amantes do futebol.

Carlos Guimarães e Ruy Carlos Ostermann | Foto: Rogério Fernandes / Matinal

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Você entende de futebol?, de Carlos Guimarães

Você entende de futebol?, de Carlos Guimarães

Em casa, eu vejo futebol com o som da TV desligado. Não suporto os clichês vazios da maioria dos comentaristas do esporte. Na verdade, não há grandes conhecedores entre os analistas de táticas de futebol e quem se preocupa — ou enxerga — a parte tática, fica muito decepcionado com o papo, ainda mais que sua paixão está envolvida.

Então, o mediador (ou tradutor) entre o que se vê e o que é comentado é bastante insatisfatório.

Mas há uma nova geração de jornalistas-conhecedores ou estudiosos. Infelizmente, estes ainda não chegaram às grandes redes.

Um deles, na minha opinião o melhor dentre os gaúchos, acaba de lançar seu segundo livro: “Você entende de futebol?”, com o substítulo “E outros ensaios sobre o jogo e a mídia”.

Seu nome é Carlos Guimarães e seus textos jamais ofenderão sua inteligência. Sim, ele é o herdeiro de Ruy Carlos Ostermann e Lauro Quadros.

E estará autografando o livro na próxima quinta-feira aqui na Bamboletras. Apareça aqui para pegar seu exemplar autografado e levar um papo com o Carlos. Talvez ele saiba quem vai ganhar a Copa…

Carlos Guimarães

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