Antes dos gatinhos, a Ospa e muitas coisas

Antes dos gatinhos, a Ospa e muitas coisas

Há duas semanas, eu já tinha visto e resenhado o mesmo concerto. Afinal, este programa foi apresentado lá na igreja do Colégio Anchieta. Fui assisti-lo novamente para acompanhar a Elena e ir jantar depois, mas tenho uma coisa a citar, uma coisa a imaginar, uma coisa a nomear, uma coisa a esconder, uma coisa a esperar, uma coisa a lamentar, uma coisa a propor, uma coisa a prometer e uma coisa a imaginar, entre outras coisas.

Comecemos dizendo que, sentado lá em cima, na Igreja da Reconciliação (da Rua Senhor dos Passos) pude ouvir quão melhor é a acústica de lá em relação à Igreja da Ressurreição (a do Colégio Anchieta). Os luteranos têm melhor acústica do que os católicos, quem não sabia? Uma coisa que lamento é o fato de cada concerto da Ospa ser apresentado apenas uma vez. Sem dúvida, o desempenho da orquestra foi bem melhor ontem. É claro que há concertos de gatinhos — como o da próxima semana –, os quais é melhor nem pensar em repetir (melhor correndo fugir deles), mas há vários de nível aceitável que deveriam ser repetidos. Aliás, o próximo concerto da Ospa será num templo da Assembleia de Deus… Se iniciamos o ano assim, não consigo imaginar até onde irá a baixaria. Na boa, há que acabar com esta série de Ospa das Igrejas. Conheço pessoas que já desistiram. Chega disso, seja em igrejas católicas, luteranas ou evangélicas. É bunda dura, palco nenhum e deus demais. Deu.

Mas, voltando à calmaria, dizia eu que estava lá em cima na tal da Reconciliação, assistindo ao Réquiem de Fauré, e só tinha olhos para minha dama, que empalidecia tudo ao redor. A lua lá fora também estava pálida e eu só pensava em me aproximar de minha violinista, pois, como diria o Chico Buarque de Januária, até o mar faria maré cheia para chegar mais perto dela. Mas, dizia eu, este réquiem é tranquilo e apaziguador. Canta com delicadeza a chegada ao paraíso. Estava bom de assistir: o Coro Sinfônico da Ospa saiu-se benissimamente, o órgão estava em mãos seguras, a orquestra soava melhor na referida acústica, o solo de violino fazia curvas tranquilas pelo circuito até tocar de leve no muro de proteção, a dupla de cantores nos levava docemente pela mão… (rimou) Aliás, essa Elisa Machado, que não conheço, canta muito!

Depois veio o Tchaikovsky. A Fantasia para A Tempestade merece o esquecimento. A música horrenda — que, espero, seja reapresentada em Porto Alegre somente muitos anos após minha morte — fazia-me dizer internamente Come on, come on a cada dez segundos. Queria apressar a coisa. A memória veio em meu socorro e os Beatles pegaram aquele repetido Come on e atacaram Everybody’s Got Something to Hide Except Me and My Monkey. E simplesmente, como num quadro lisérgico de Chagall, saí voando com a Elena da Reconciliação, livrando-me daquilo. Afinal, está na letra, the deeper you go, the higher you fly (…) So come on.

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