O caso Geisy Arruda ou O Taliban da Uniban

Eu passei boa parte da manhã de hoje lendo a respeito do caso de Geisy Vila Nova Arruda, a moça que foi enxotada, quase linchada e agora expulsa da Uniban de São Bernardo do Campo. Geisy, de 20 anos, apareceu na universidade para assistir aulas do curso de Turismo vestida com um micro vestido rosa-choque, fato que provocou a ira da estudantada, que desejava vê-la fora dali. A moça teve de se retirar sob proteção, aos gritos de “puta, puta”. Nem tudo deve ser tão simples. Os estudantes a acusam de mostrar a bunda no corredor, de provocar, de atuar como prostituta fora das salas de aula, etc. E daí?

Bem, aqui, peço licença para utilizar minha experiência… Sabe-se que há moças atraentes de baixa classe média como Geisy — e também de quaisquer classes sociais — que reforçam seus orçamentos com atividades em casas noturnas. Algumas pagam não apenas seus provocantes vestidos com tais rendimentos, mas também as caras universidades particulares. Creio que isto não seja um fenômeno exclusivamente brasileiro, creio ainda menos que os estudantes da Uniban devam ter o direito de expulsar e linchar uma colega por causa de suas roupas e creio os estudantes da Uniban não desaprovem inteiramente as casas que oferecem sexo, assim como a Playboy, a dança da garrafa, as piadas bagaceiras ou as emissoras de televisão. Porém, se ela realmente os provocava mostrando-lhes o traseiro, a universidade deveria ter agido, pois acho que mostrar o traseiro é demasiado para nossa cultura que apenas permite que o traseiro seja visto “casualmente” ou em seus contornos.

Claro, nada é simples. Geisy parece ser uma dessas mulheres que querem desesperadamente aparecer; trata-se de uma candidata natural a um BBB, lutando contra sua origem pobre com as armas que têm (as quais nem são tão letais, pelo que vi). Ou seja, a sociedade chocou-se contra a expressão paroxística daquilo que promove: a escalada social de pessoas de pouco preparadas através da beleza, a sexualização de tudo, a hiperexposição, coisas que são suportadas diariamente. A história natural de Geisy seria ou arranjar um emergente rico que gostasse de seu jeitinho ou as casas noturnas ou o BBB ou a Playboy ou a depressão por não ser bonita o suficiente para nenhuma das opções anteriores. Talvez desconfiada da última opção, estudava. Ora, tudo está no direito dela!

O que é inaceitável é a atitude da diretoria da Uniban ao expulsar a moça da universidade pelos conflitos que criou. Ora, meus caros, quem criou o conflito foi a própria diretoria ao omitir-se quando do aparecimento da estudante e das reações que sua presença provocava. Não acredito que Geisy mostrasse o traseiro se não houvesse filas para vê-la… Todos nós sabemos que o anonimato da multidão faz com que cada um de seus membros masculinos fiquem não apenas eretos, mas que sufoquem seus respectivos superegos. Ela não era uma santa e devia ir vestida daquele modo com a finalidade de produzir o efeito que efetivamente alcançava. Neste momento, quando a confusão começou, é que a diretoria da Uniban deveria ter intervindo. A universidade tornou-se uma extensão da casa noturna, o que é um evidente equívoco de Geisy, dos alunos e da universidade. Ora, os estudantes se sentiram atraídos por aquelas formas do mesmo modo que os neonazistas sentem-se atraídos pelo homossexuais. E como Geisy provavelmente ultrapassou o socialmente aceitável, como suas colegas presumivelmente se sentiram agredidas, a consequência natural foi a passagem para a violência. Culpa de quem? Ora, culpa de quem não controla minimamente seus corredores e que, agora, pensa resolver o problema com a simples expulsão.

Não, meus caros diretores! Isto não é solução. No momento em que vocês criaram a situação, vocês, uma universidade (qualquer universidade deveria estar na ponta-de-lança da tolerância e da democracia), teriam que abraçar, tratar civilizadamente e conversar com Geisy, acalmar a turba e torcer nas internas, mas bem nas internas, que ela seja logo recrutada pela Record e desapareça — fato que, garanto-lhes!, vai ocorrer. Porém a Uniban é tola, mas tão tola, que conseguiu obter foi a ira da sociedade, das feministas e das maiores vítimas da violência e intolerância sexual, os gays. Esses moços, pobres moços, não são nada espertos.

Royalties para ele.