Mozart, o K. 515 e o som do trompete

Mozart, o K. 515 e o som do trompete

Esta manhã, estava ouvindo o Quinteto K. 515 de Mozart na Rádio da Ufrgs, admirando a proeminência das violas. Contrariamente à maioria dos compositores, ele admirava o instrumento e muitas vezes o assumia ao tocar em quartetos de cordas.

Mozart aparentemente não gostava era do violoncelo, mas o que detestava mesmo era o trompete.

Quando criança, quando ouviu pela primeira vez um trompete de perto, ficou nauseado e vomitou.

Coisas das sensibilidades dos gênios.

Ajude o Renato. Não falta muito

Ajude o Renato. Não falta muito

Naquele fim de tarde terrível de tempestade no Jardim Botânico, quando o palco  onde a Ospa se apresentava foi destruído pelos ventos e pela chuva, conheci casualmente a mãe do jovem trompetista Renato Oliveira. Ele estava tocando com a orquestra e ela estava na porta do JB tomando o maior banho, esperando o filho ao mesmo tempo que estava sem poder sair, como todos nós. Conversamos e ela se identificou. Boa gente, orgulhosa do filho, mulher com jeito de quem leva uma vida dura e honesta.

Renato Oliveira (centro) | Foto: Maí Yandara
Renato Oliveira (centro) | Foto: Maí Yandara

Nós não sabíamos que, mais ou menos naquele momento, o Renato tinha salvado a tia do lanche da Ospa, a D. Lourdes, de um acidente maior. Ele simplesmente se atirara sobre a senhora de 70 anos para que a armação do camarim do evento não caísse sobre ela. Mas o Renato, além de solidário, é bom trompetista. E vejam o que está acontecendo agora com ele.

Renato Oliveira estuda na Escola de Música da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre. Neste ano, foi convidado para estudar trompete no conservatório de música International Brass Studio, na Bélgica. Quem fez o convite foi o próprio idealizador da academia, o trompetista belga Dominique Bodart, quando realizou masterclass aqui em Porto Alegre. Por seu talento, Renato chamou a atenção de Bodart. Então, em setembro, o Renato, de apenas 19 anos, lançou uma campanha de financiamento coletivo para estudar lá. O objetivo é arrecadar o valor de R$ 33,2 mil, para custear gastos como passagens aéreas, alojamentos e alimentação.

A campanha encerra na segunda-feira, dia 6 de novembro, e Renato está ainda no meio do caminho. O Renato é tímido e não vai se rasgar por aí pedindo ajuda. Mas merece.

Então, se você tiver uma graninha sobrando, ajude o Renato. Clique aqui e dê uma força ao guri que é bom instrumentista e boa pessoa.

Ospa em noite de formas clássicas e três heróis

Ospa em noite de formas clássicas e três heróis

A função da última terça-feira foi um concerto de formas clássicas, por assim dizer. Uma sinfonia de espírito vienense com dois Allegri cercando um Adagio e um Scherzo — substituto do minueto — e duas peças em três movimentos no esquema rápido-lento-rápido, mesmo que a obra de Piazzolla seja uma engembração bem feita. Cada uma das músicas teve seu herói.

A sinfonia de Bizet é melodiosa e trabalhosa. Inicia levada pelos violinos; depois, há um gentil adágio onde a oboísta Viktória Tatour — a primeira heroína da noite — , acompanhada pelas cordas em pizzicatto, deu um banho que acabou em fuga (calma, a oboísta não fugiu, tratava-se de um episódio fugatto); segue-se um scherzo bem fuleiro e tudo termina num vivace que quase mata os violinos. É uma sinfonia bonitinha, não passa disso. Mas também é uma obra longa e inadequada para iniciar um programa. Como fazer entrar os chatos dos retardatários? Bem, não é problema meu.

O concerto de Arthur Barbosa trouxe de volta a Porto Alegre o extraordinário trompetista Flávio Gabriel, que já foi da Ospa e hoje está na Osesp. Eu curti o concerto que estreava naquele dia, cheio de ostinati, humor e ritmos latino-americanos. O cearense Barbosa brindou os gaúchos com uma milonga no movimento central. Não sei se o concerto foi dedicado ao trompetista Gabriel, mas, olha, parecia, tal a facilidade com que este enfrentou — com seus três trompetes — as dificuldades do concerto. Parabéns aos envolvidos.

Já o terceiro herói da noite foi o spalla Omar Aguirre, que demonstrou inequivocamente que é platino o sangue que lhe corre nas veias. Seus solos nos tangos de Piazzolla transferiram a Reitoria da Ufrgs para algum canto de San Telmo ou Palermo, onde um casal trançava suas pernas. O mérito transfere-se para toda a orquestra em Fuga y misterio. A fuga é terrível em suas texturas contrapontísticas e o mistério trouxe Aguirre de volta tocando uma melodia melancólica.

Mas não adianta, todo mundo saiu da Ufrgs cantando a fuga. Foi um belo concerto.

Georges Bizet – Sinfonia em Dó Maior
Arthur Barbosa – Concerto latino-americano para trompete e orquestra (estreia mundial)
Astor Piazzolla – Seleção de tangos – “Decarisimo”, “Chiquilin de Bachin” e “Fuga y misterio”

Regente: Enrique Ricci
Solista: Flávio Gabriel (trompete)

Tudo certo com a fotografia, maestro Ricci! | Foto: Augusto Maurer
Tudo certo com a gente, maestro Ricci! | Foto: Augusto Maurer