Um problemão para Ratzinger

O médico italiano Severino Antinori, aquele mesmo que costuma deixar grávidas mulheres de sessenta anos, anunciou hoje que, no último mês de setembro, realizou uma operação que está destinada a abalar a humanidade. A equipe do irrequieto Antinori teve acesso ao Santo Sudário e, após meses de tentativas, capturou o DNA de Jesus Cristo. O pano que, segundo o dogma, envolveu o Salvador no período entre sua retirada da cruz até a ressurreição, guardava grande quantidade do sangue coagulado de Jesus Cristo, o que permitiu a obtenção de seu DNA. A notícia de hoje, veiculada pelo L`Osservatorio Bugiardo e que está nos principais sites de notícia do mundo, dá conta de que, numa ação de incrível ousadia, Antinori está gerando um clone de Jesus Cristo em uma jovem romana. Em seu comunicado à imprensa, Antinori disse que o Filho de Deus tem DNA normal.

Porta-vozes do Vaticano deram claros sinais de que Ratzinger, o Papa Bento XVI, está indignado com o que considera um desafio a toda a cristandade e exigiu que a mulher que carrega o clone de Cristo em seu ventre seja imediatamente identificada e trazida a sua presença. Há também a possibilidade de que Ratzinger convoque o médico italiano para uma entrevista semelhante àquelas que foram realizadas no passado com Giordano Bruno, Galileu Galilei e, mais recentemente, com Leonardo Boff. O guardião da doutrina voltou a falar na lenta consumação da dignidade humana e deu sinais claros de que estaria disposto a avalizar um aborto deste feto gerado em condições que demonstrariam “um completo desrespeito a todos os católicos do mundo”.

Antinori garantiu total sigilo quanto a identidade da nova Maria, nem que para tanto seja necessária a convocação de novos templários. Ainda declarou que ela — uma mulher ainda virgem, com a finalidade de reproduzir as condições adequadas — e a criança deverão ter uma existência normal. Tablóides ingleses tiveram edições especiais falando sobre a revelação da verdadeira face de Cristo e a oposição do Vaticano. Católicos do mundo inteiro esperam por milagres nas próximas horas. O Opus Dei negou-se a dar declarações porém diz-se que intervirá no caso.

O mico que veio do espaço

Não sou jornalista nem publicitário, mas penso que meus 51 anos me deram um pingo de sabedoria para poder refletir sobre meus erros e os de outrem. Quando a agência W3Haus (aqui e aqui, posts alusivos no blog da agência) intermediou a compra do nome de uma estrela por parte do Grêmio, deveria ter pensado em todas as piadas e no simbolismo que envolveria um negócio estranho como este. Por exemplo, uma coisa que a agência deveria ter considerado é que nossos clubes costumam pôr estrelas em suas camisetas. É como se desejassem imprimir suas maiores realizações no firmamento. Até aí tudo bem, o ser humano é ridículo mesmo. Só que tais estrelas são conquistadas, nunca compradas. Será que não pensaram que estariam dando de graça uma piada aos colorados e expondo seu cliente ao ridículo ao adquirir uma estrela num ano sem títulos?

Para uma pessoa da minha geração, o fato também lembra aquele dilacerante e várias vezes repetido especial da Rede Globo sobre Elis Regina, produzido em 1983, um ano após sua morte. Chamava-se Agora sou uma estrela. O especial utilizava escritos que a própria Elis deixara em diários e que eram, no programa, interpretados por Irene Ravache. A frase agora sou uma estrela, repetida à exaustão nas propagandas e no especial, tinha claro significado: morri, agora estou no céu, agora sou uma estrela. Aquilo ficou na cabeça de minha geração, mas acredito que a relação não exista apenas para nós, pois se consultarmos os livros de História e relacionarmos todos os povos que pensavam em seus mortos ao olhar para o céu — ou nas religiões que os enviavam e enviam para o mesmo local após a morte –, concluiremos que é coisa atávica.

Há mais: falei que o torcedor gosta de estrelas na camiseta, mas gosta ainda mais de estrelas em campo. Uma equipe cheia delas é “galáctica” como o Real Madrid. Eu compreenderia que uma instituição riquíssima comprasse uma estrela no céu para demonstrar aos outros que já tem tudo o que deseja na Terra, eu entenderia também que um time recém campeão do mundo adquirisse uma estrela para significar que aguarda, quem sabe, agremiações marcianas capazes de vencê-la. Mas não entendo que qualquer endividado clube brasileiro — ainda mais um abstinente de títulos — faça uma compra tão estapafúrdia.

Mas há muito mais: se os compradores de nomes de estrelas tivessem alguma habilidade com a Internet, poderiam descobrir facilmente o mico total, integral, definitivo:

The International Star Registry is not in the business of officially assigning star names; it is in the business of finding people willing to part with their money for a piece of paper that in a scientific sense means precisely nothing.

“We produce a good product, a fun product. We may have planted a seed with people, educated them even slightly about astronomy, about the stars,” said Rocky Mosele, vice president of marketing and advertising for ISR. “For people to say, ‘Well, it’s not official’ — I think people are OK that it’s not official. I’m sure of it. I know because customers call again and again and again.”

Ou seja, o vice-presidente de marketing da ISR, sigla que lembra outra a qualquer gremista desta galáxia, admite que a compra de estrelas é um fun product, uma brincadeira ou talvez um presente de cunho romântico, como fez Nicole Kidman ao presentear Tom Cruise com a estrela “Forever Tom” ou Winona Ryder com Johnny Depp. A compra de nomes de estrelas não é oficial, nem reconhecida pelos astrônomos. A IAU (International Astronomical Union), fundada em 1919, com 8300 membros individuais e 66 países membros, é a única instituição autorizada a nomear corpos celestes. E o Grêmio comprou o seu da ISR.

Basta comparar os linques acima. Com toda a razão, a IAU declara que a ISR é um deplorável truque comercial. Fundada em 1979, a ISR já comercializou 1 milhão de estrelas por US$ 50 cada. Todos os donos receberam belos certificados. Como há mais de 400 bilhões de estrelas disponíveis apenas em nossa galáxia, é um baita negócio.

Porém, mesmo que a culpada seja a agência de propaganda que o induziu a um mico, acreditamos que o Grêmio tenha acesso à rede mundial para descobrir a fama da ISR e seja PLENAMENTE MERECEDOR de todas as piadas (eu descobri a farsa em 5 minutos). Afinal, na noite de 11 de dezembro de 2008, na Sociedade Libanesa, em Porto Alegre, a diretoria do Grêmio anunciou séria, feliz e em grande estilo a adoção de uma certa Estrela Grêmio, localizada na Constelação de Órion, a mais brilhante. Se isso em nenhum momento lhes soou como uma compra de indulgências – cujas vendas fez Martinho Lutero escrever 95 teses em 1517 –, CÉUS, afirmaria que são um bando de tolos. Ou siderados.

Quando os gremistas pensavam estar extinta a voz de Flávio Obino cantando as maravilhas do Trovão Azul e do site, quando silenciaram os comentários sobre a alegre poltrona 36, chega-lhes um curioso problema de outro mundo: a fama de comprador de uma grande e distante estrela paraguaia.

E dizem que nem pode ser vista a olho nu.

Ao acordar, uma descoberta revolucionária…

Bah, fim de semana altamente alcoólico. Sábado à noite, uma festa na casa do Dario, aniversário de sua Cláudia. Foram consumidas duas caixas completas de espumante Freixenet Cordon Negro Brut por não sei quantas pessoas. Poucas, acho. Excelente festa, como sempre acontece por lá.

Domingo pela manhã, a Bárbara acordou às 8 horas para que eu a levasse na equitação. Não dormi até o almoço, que era uma festa da comunidade italiana lá no restaurante da PUC. Comida de primeira, claro. E comida de primeira, sabem como é, exige vinho. Voltei para casa às 15h30. Dormi como um justo. Às 18h, comecei a acordar. Devia estar sonhando com matemática, pois fiz uma descoberta que certamente não é brilhante nem uma novidade, mas, enfim, foi no que pensei.

A diferença da seqüência de números naturais elevados ao quadrado forma uma Progressão Aritmética.

Vejamos:

1 x 1 = 1
2 x 2 = 4
3 x 3 = 9
4 x 4 = 16

A diferença entre 1 e 4 é 3; entre 4 e 9 é 5; entre 9 e 16 é 7. A coisa se preserva com números maiores? Sim. Observem:

20 x 20 = 400
21 x 21 = 441
22 x 22 = 484
23 x 23 = 529
24 x 24 = 576
25 x 25 = 625

Então, 441 – 400 = 41, 484 – 441= 43, 529 – 484 = 45, 576 – 529 = 47, 625 – 576 = 49.

Até aqui eu consegui fazer sem sair da cama.

E segue:

100 x 100 = 10000
101 x 101 = 10201
102 x 102 = 10404

É óbvio? Para mim não era. Consultei aqui em casa e nunca ninguém tinha se dado conta disso. O álcool nos faz pensar bobagens inúteis… Mas o espumante de ontem era muito esperto, Dario!

Uma semana, um texto: O entardecer de um fauno, de Rafael Galvão

Quando inventei essa coisa de, a cada domingo, republicar em meu blog o melhor post ou texto lido na Internet durante os últimos sete dias, sabia que Rafael Galvão não tardaria. Após uma disputa interna com Marcelo Coelho, escolhi o Rafa com um texto a respeito das novas, porém inexoráveis, limitações experimentadas por um amigo comum: o Hermenauta. Na forma de uma compreensiva missiva enviada a um amigo em dificuldades irremediáveis, Rafael expõe toda sua cultura e tristeza em contido tom elegíaco.

Com vocês, O Entardecer de um Fauno, elegante título certamente baseado em Claude Debussy, autor de Prélude à l’après-midi d’un Faune (Prelúdio à Tarde de um Fauno). Preparem os lenços. É dilacerante.

O entardecer de um fauno

Confesso que ando muito preocupado com o Hermenauta. Um post deu o sinal de que algo está muito errado com o meu amigo:

My own private Cicero

“Velhice” é quando aquelas limitações que você imagina provisórias se revelam mais permanentes do que você gostaria.

É de uma tristeza pungente esse pequeno post do Hermenauta. Ali está, em tons contidos e quase cartesianos, como convém a um engenheiro, toda a dor da velhice. No começo dava para agüentar. Uma falha aqui, outra ali, isso poderia acontecer de vez em quando. Sim, ele diria “Isso nunca me aconteceu antes, querida”, e ela fingiria que acreditaria; mas quando tal limitação se revela permanente não há mais espaço para desculpas; apenas um olhar triste e desconsolado, nada mais que isso, e então palavras são desnecessárias. A tristeza absoluta dispensa explicações.

Em outros tempos, voando para Paris, o Hermenauta procuraria os banheiros do avião para seguir o exemplo de Emanuelle. (Se você não sabe quem foi Emanuelle, não se preocupe. É do tempo do Hermenauta.). Hoje ele apenas se contenta em observar o vaivém de passageiros dispostos a alguma diversão em uma longa e tediosa viagem transatlântica, e a consciência de que o seu tempo não é mais aquele o faz filosofar e lembrar de Cícero.

Velhice é uma coisa medonha, porque embora nunca venha de repente, ninguém está preparado para ela. Ninguém sabe, de verdade, o que são as dores crônicas, a sucessão de problemas, as impossibilidades tantas antes de vivê-las. Velhice é pior que a morte, porque depois da morte você não fica mais pensando no que deixou de fazer, ou no que não pode mais fazer. Na velhice, não. Na velhice o sujeito se alimenta de suas próprias memórias. O Hermenauta, por exemplo, fica relembrando os bons tempos no Posto 9.

Pior do que as falhas, pior do que nervos e vasos cavernosos que se recusam a obedecer as ordens do cérebro e seguir os conselhos das mãos, é citar Cícero. Só os antigos citam Cícero. O velho professor de latim: “Os romanos, senhor! Os romanos eram batutas!” Mas Cícero não era tudo isso que dizem dele. É só lembrar que Nero teve mais trabalho para matar sua mãe Agripina do que para dar cabo do velhote. Quando alguém em meio à tristeza da impossibilidade lembra de Cïcero, é porque não há mais jeito. Está velho, irremediavelmente velho, e tudo o que seu corpo cansado e dolorido pede é uma cadeira de balanço, onde possa acalentar lembranças gloriosas de um passado cada dia mais distante.

Ao mesmo tempo, velhice por si só não é o grande problema. Todos nós, se tivermos sorte, ficaremos velhos. O problema é quando o coração continua jovem, e sente desejos com os quais seu corpo não é mais compatível. Nesses casos a gente cita Cícero. E às vezes, como no caso do Hermenauta, uma certa angústia se manifesta. “Por quê?”, ele se pergunta, “Por que o Grande Designer me deu a experiência necessária somente agora, quando este velho corpo já não responde aos meus desejos?

Resta afirmar então que o círculo da vida (imagine agora a trilha de “O Rei Leão” enquanto lê isso) é sábio. Adolescentes correm atrás de mulheres mais velhas porque elas são mais experientes e normalmente financeiramente independentes, o que torna tudo mais fácil; velhos babam por ninfetas como Scarlett Johansson, peitos enormes que sublimam de maneira profana todo e qualquer complexo de Édipo porque a experiência lhes ensinou que a juventude e a firmeza de carnes são um valor tão desejável quanto efêmero. Mas se é sábia, a natureza não é justa; e por isso o Hermenauta hoje lamenta a sua sina.

Sabe, há histórias que a gente pode contar sempre para dourar essa pílula indigesta. Eu sempre lembro de Rossano Brazzi em “A Condessa Descalça”, vítima de um tenebroso acidente de guerra (e obviamente corno, que capado nenhum casa impunemente com a Ava Gardner). Há uma certa dignidade senil nesses casos — era Aristóteles quem dizia dar graças pelo arrefecimento de seus desejos? Por isso, da próxima vez em que o Hermenauta se vir compelido a inventar uma justificativa, ao invés de desfiar a velha ladainha do “isso nunca me aconteceu antes”, bem poderia colocar a culpa no Bush. “Foi em Mosul. Uma patrulha nos escoltava até o lugar onde iríamos construir uma torre de celular quando…” Irromperia então em lágrimas, soluçaria, mas cuidando em manter a dignidade masculina. Ele vai dar, assim, uma história de que a moça se lembrará pelo resto da vida — e que se tenha a certeza de que ela vai contar essa história ao seu novo namorado, suada e arfante, daqui a alguns dias. Por isso, recomendo ao Hermenauta apenas pegar moças burrinhas — porque uma mulher inteligente vai entender tudo, e a história que ela contará ao namorado será diferente: “Mô, peguei um velho broxa uma vez, tu não imagina o caô que ele tentou jogar em cima de mim”.

Uma vez, ouvi um velhinho no ônibus falar ao cobrador: “Meu filho, no dia que o pau cair, os dedos entrevarem e a língua enrolar, eu dou a bunda, mas da sacanagem eu não saio.” E já que a velhice despertou no Hermenauta todo o seu latinório, não custa lembrá-lo de que outro grande romano, um romano maior que Cícero, o Adriano original, arranjou para si um Antínoo. É nisso que dá andar com esses romanos.

11 de dezembro de 2008

Hoje, o compositor americano Elliott Carter completa 100 anos de vida. Escrevo este texto às 21h30 da noite de 10 de dezembro de 2008. Há 15 anos, mais ou menos neste horário, encontrei meu pai no Supermercado Zaffari da Av. Ipiranga, em Porto Alegre. Fiz o que sempre fazia com ele e ele comigo: dei-lhe um encontrão por trás e…

— Desculpe, senhor… Nossa! Pai! Tu aqui?

Conversamos sobre os CDs que ele comprara e que ouviríamos — um minuto por faixa, a toda velocidade — no dia seguinte, durante o almoço. Sempre almoçava lá aos sábados.

Às seis da madrugada daquele sábado, minha mãe ligou. Não gritava, apenas falava rápido parecendo que queria me acalmar. Disse que encontrara meu pai deitado no banheiro; não disse caído, disse deitado porque ele estava reto de costas, com a mão no peito, como se tivesse lentamente sentado no chão e depois deitado, esperando que a dor do enfarto passasse.

Quando cheguei em casa a equipe da Unimed, minha mãe e irmã cercavam o corpo. Ou não, acho que minha irmã chegou depois. O cara da Unimed me fez um sinal com o polegar para baixo. A mãe dizia que não o tinha visto sair da cama e que fizera tudo o que sabia: respiração boca a boca, pressão no peito, etc. Tratei de consolá-la. Fim.

Tive receio que Carter não chegasse ao fatídico 11 de dezembro, mas chegou. 100 anos! É incrível que esteja produzindo. Estreou 10 novas obras entre 2006 a 2008, dos 98 aos 100… Fantástico. No dia 8 de agosto passado, terminou uma peça para grande orquestra chamada Wind Rose. Suas obras são dificílimas, quase inviáveis. P.Q.P. Bach publicou seu Concerto para Piano e o Concerto para Orquestra. Talvez haja alguma homenagem hoje. Não consigo imaginar música mais complicada.

Espero um 11 de dezembro tranqüilo. Haverá concertos em Nova Iorque (onde Carter reside), Washington, Montreal, Amsterdam, Berlim, Helsinki, Viena, etc. e gostaria de saber se alguma publicação brasileira fará referência ao aniversário de Carter. Duvido muito. A conferir.

A propósito do post abaixo, minha irmã pergunta ao Ministério Público:

— E o caminhão do Brasinha, onde se enquadra? Passa diariamente em frente ao hospital onde atendo meus pacientes, tocando a todo volume o hino do Grêmio, certamente superando o nível permitido de decibéis. Interrompo o trabalho por causa do barulho. Ele circula pela cidade à revelia da lei e o dono ainda é vereador pelo PTB…

(Eu não disse para vocês que ela era adorável?)

Dêem mais ocupações a estes homens, por favor

Eles ganham bem, fazem um trabalho muito útil contra a violência nos estádios, mas desejam também a fama. São como blogueiros, querem se expressar, certo? Só que em vez de aguardar os visitantes, eles atacam.

Ontem, os juízes Marcelo Mairon Rodrigues e Felipe Keunecke de Oliveira, do Juizado Especial Criminal que funciona nos estádios em dias de jogos, requisitaram à Polícia Civil investigações sobre a origem do avião que passou sobre o Estádio Olímpico portando uma faixa com os dizeres “Inter, o único campeão de tudo”. Fato gravíssimo…

Segundo eles, o Artigo 39, parágrafo 1, do Estatuto do Torcedor reza que “o torcedor que promover tumulto, praticar ou incitar a violência, ou invadir local restrito aos competidores ficará impedido de comparecer às proximidades, bem como a qualquer local em que se realize evento esportivo, pelo prazo de três meses a um ano, de acordo com a gravidade da conduta, sem prejuízo das demais sanções cabíveis”.

O avião seria “incitação à violência”… O fato ocorreu aos 40 minutos do segundo tempo do jogo Grêmio 2 x 0 Atlético-MG.

Ora, isso já aconteceu tantas vezes em Porto Alegre… Já foram tantos os aviões gremistas e colorados… Já tivemos tantos episódios que o tal avião faz parte da história da cidade. Todo mundo ri dele, é tradicional. Quem sabe os doutores querem também proibir quaisquer brincadeiras, as buzinas, os cantos das torcidas — muitos deles agressivos –, as piadas que nos chegam pela Internet, etc. A partir de agora, a partir da importância que as sumidades deram ao tradicional aviãozinho portoalegrense é que podemos ter violência nas próximas aparições. Sugiro aos juízes proibirem o uso das camisetas dos clubes na ruas, pois é claro que a aparição de um gremista pode transtornar um colorado ou vice-versa.

Acho muito mais convidativa à violência a faixa da torcida do Grêmio “Jamais nos matarão”. Isso é uma clara convocação ao confronto e à luta. Mas não dá mídia atacar uma e apenas uma faixa da Geral…

O futebol é algo tão hipertrofiado em nossa sociedade que ele mesmo regula suas manifestações públicas mais tresloucadas. Por exemplo, o folclórico ex-presidente Luiz Carlos Silveira Martins, o Cacalo, espécie de Eurico Miranda dos pampas, declarou num conhecido programa de rádio de Porto Alegre que milhares de torcedores do Inter fugiram de meia dúzia de gremistas durante o último Grenal… No dia seguinte, os protestos foram tantos que o irresponsável ex-dirigente foi obrigado a pedir desculpas.

O mesmo ocorreu quando desta faixa racista colocada há muitos anos…

… e retirada rapidamente pelos tricolores.

Não quero dizer que não haja violência entre torcedores e nem que a lei não esteja melhorando a situação. Por exemplo, sou favorável à Lei Seca nos estádios, implantada há poucos meses. Depois dela, vi menos brigas e ninguém mais dependurou-se na minha camiseta do Figueroa berrando com aquele hálito maravilhoso bem em frente a meu nariz que eu era possuidor da coisa mais preciosa do mundo. Poderiam também proibir os cigarros. Já o fizeram no Uruguai. Não incitam nada, só são muito chatos.

Mas o nosso aviãozinho de cada conquista… Que bobagem.

P.S.- Meus exemplos foram inteiramente colorados. Sei, porém, que as torcidas são formadas por pessoas da mesma sociedade e agem igual. Há violência de ambos os lados. Apenas, por preferência clubística, lembro mais as do Grêmio…

Acordo ortográfico: melhor aprender logo

É ruim saber que o blog ficará com cara de livro velho, mas acho que a reforma ortográfica veio para ficar. Há alterações necessárias, como a expansão do alfabeto de 23 para 26 letras, mas não me convenço de outras, como a extinção do acento diferencial. São poucas mudanças e acho que a mais complicada de lembrar é a do acento agudo. Deixo este post em categoria separada, porque sei que vou ter consultá-lo algumas vezes ainda…

Trata-se, pois, de uma anotação pessoal. Porém, para quem quer saber sobre os prazos de implantação os vestibulares e concursos poderão aceitar as duas grafias como corretas até 31 de dezembro de 2011. Quanto aos livros didáticos, haverá um escalonamento. A partir de 2010 os alunos do 1º a 5º ano do Ensino Fundamental receberão os livros dentro da nova norma – o que deve ocorrer com as turmas do 6º a 8º ano e de Ensino Médio, respectivamente, em 2011 e 2012.

Abaixo, as novas regras. Copiei daqui, a fonte de texto mais claro que encontrei.

TREMA
Deixará de existir, a não ser em nomes próprios e seus derivados.

ACENTO DIFERENCIAL
Não se usará mais para diferenciar:
1. “pára” (flexão do verbo parar) de “para” (preposição)
2. “péla” (flexão do verbo pelar) de “pela” (combinação da preposição com o artigo)
3. “pólo” (substantivo) de “polo” (combinação antiga e popular de “por” e “lo”)
4. “pélo” (flexão do verbo pelar), “pêlo” (substantivo) e “pelo” (combinação da preposição com o artigo)
5. “pêra” (substantivo – fruta), “péra” (substantivo arcaico – pedra) e “pera” (preposição arcaica)

ALFABETO
Passará a ter 26 letras, ao incorporar as letras “k”, “w” e “y”.

ACENTO CIRCUNFLEXO
Não se usará mais:
1. nas terceiras pessoas do plural do presente do indicativo ou do subjuntivo dos verbos “crer”, “dar”, “ler”, “ver” e seus derivados. A grafia correta será “creem”, “deem”, “leem” e “veem”;
2. em palavras terminados em hiato “oo”, como “enjôo” ou “vôo” -que se tornam “enjoo” e “voo”.

ACENTO AGUDO
Não se usará mais:
1. nos ditongos abertos “ei” e “oi” de palavras paroxítonas, como “assembléia”, “idéia”, “heróica” e “jibóia”;
2. nas palavras paroxítonas, com “i” e “u” tônicos, quando precedidos de ditongo. Exemplos: “feiúra” e “baiúca” passam a ser grafadas “feiura” e “baiuca”;
3. nas formas verbais que têm o acento tônico na raiz, com “u” tônico precedido de “g” ou “q” e seguido de “e” ou “i”. Com isso, algumas poucas formas de verbos, como averigúe (averiguar), apazigúe (apaziguar) e argúem (arg(ü/u)ir), passam a ser grafadas averigue, apazigue, arguem.

HÍFEN
Não será usado quando a segunda palavra começar com S ou R (as consoantes deverão ser duplicadas, como anti-social/ antissocial) e quando o prefixo terminar em vogal diferente daquela que inicia a segunda palavra (auto-elogio/autoelogio).

GRAFIA
No português lusitano:
1. desaparecerão o “c” e o “p” de palavras em que essas letras não são pronunciadas, como “acção”, “acto”, “adopção”, “óptimo” -que se tornam “ação”, “ato”, “adoção” e “ótimo”
2. será eliminado o “h” de palavras como “herva” e “húmido”, que serão grafadas como no Brasil -“erva” e “úmido”.

Frases brilhantes e curiosidades de todo tipo que coleciono há anos num arquivo (I)

Gosto de carros, de todos os esportes e de muitas outras coisas que nada têm a ver com prática literária. O prazer não me dá remorso. Onde não há prazer não há proveito, escreveu Shakespeare. Não sou como esses escritores que só sabem falar de literatura e cujas obras nunca se equivalem ao que sabem ou pensam saber. Falo de qualquer coisa, estou atento ao acontece ao meu redor. Não vivo num buraco, alimentando-me de sopa de letrinhas.

Sergio Faraco em entrevista para a Revista Aplauso, Nro. 44.

The cinema is not a craft. It is an art. It does not mean team-work. One is always alone; on the set as before the blank page. And for Bergman, to be alone means to ask questions. And to make films means to answer them. Nothing could be more classically romantic.

Jean-Luc Godard em “Bergmanorama”, Cahiers du cinéma (Julho de 1958)

A tranquilidade de espírito, a ausência de ansiedade, a ausência de medo: são estes os ingredientes da felicidade.

Iris Murdoch em Um Homem Acidental.

Agora, uma pequena amostra de trechos de e-mails. Meus amigos – dentre eles alguns blogueiros – não se mostraram maravilhosos, angustiados, adultos, felizes, tolos, bons, saudosos, inteligentes, bem comportados, engraçados, irritados, tolerantes, simpáticos, sentimentais, insuportáveis, provocadores…? Deixo quase todos anônimos, alguns por motivos óbvios, penso.

Algum tempo atrás, a BBC perguntou às crianças britânicas se preferiam a televisão ou o rádio. Quase todas escolheram a televisão, o que foi algo assim como constatar que os gatos miam e os mortos não respiram. Mas entre as poucas crianças que escolheram o rádio, houve uma que explicou:

— Gosto mais do rádio, porque pelo rádio vejo paisagens mais bonitas…

Quer saber? Adoro crianças. E, sem pretender nem de longe igualar-me a uma, a verdade é que gosto mais de livros do que de filmes porque naqueles vejo paisagens mais bonitas…. Com toda a franqueza, vou te dizer uma coisa que sei que pode soar como fazer gênero ou até hipócrita. Um dos termômetros que considero infalíveis para medir o caráter de uma pessoa é ver como ela se relaciona com crianças. Não precisa nem ser com os filhos: se alguém despreza crianças ou as machuca ou magoa de qualquer maneira, não interessa quantas qualidades possa ter: para mim é um mau caráter.

Naila Freitas

 

Milton, alguns elementos de RUSSO, assim de supetão.

Em russo, vermelho é “krassnii”. E a origem de “krassni” é a mesma do substantivo “beleza”; ainda hoje, pode-se usar “krassni” para classificar uma coisa de bela, numa linguagem assaz erudita – e um tanto antiquada. E “prekrassnii” – “krassnii” com um prefixo trivial – significa “maravilhoso”, na linguagem usual dos russos. Por acaso não torcemos INCLUSIVE para o time certo? Queres mais? Azul é “galuboy”… Eu, desde o inicio, achava que a palavra soava muito, mas muito estranha. Evitava pronunciá-la até. Pois sabe o que eu fiquei sabendo? O outro significado de “galuboy” é viado, puto, bicha… De novo, nós não torcemos INCLUSIVE para o time certo? A fonética é maravilhosa!

Por outro lado… Sabias que “vodka” é uma palavra que, originalmente, é uma derivacao carinhosa da palavra “vadah”, que significa água? E que o verbo beber é “pivv”, em russo, e que “piva”, o verbo substantivado, significa cerveja? Não é debalde que quando a gente enxergava o Ieltsin ele estava cambaleando…

Marcelo Backes, em momento politicamente incorreto.

 

Meus poucos prazeres andam se resumindo a emitir tais resmungos — que o X. ainda publica — na “elegante melancolia do crepúsculo”, como diria Chaplin (em Limelight).

Faltam as pequenas, acolhedoras livrarias – e faltam as moças de óculos, muito bonitas sem as lentes, de vista e pernas cansadas, após as passeatas de estudantes. Faz cem anos; liam Sartre (e, mais ainda, Simone); os filmes de Bergman enchiam de sombra cinemas de namorados e éramos jovens de um modo imortal, que não existe mais.

Saudade.

oi meu irmão

amo também Tarkovski, meu cineasta predileto.

sei cenas de cor. a impregnação poética, o silêncio palpitante como um animal ferido, a beleza melancólica, o outro lado úmido do espelho, o bafo dos animais, a extensão de campo do homem: “para um filme viver no tempo é preciso que o tempo esteja vivo dentro do filme”.

o único filme que eu ainda não assisti dele é Andrei Rublev. nem quero ainda. é como guardar uma esperança.

obrigado pelas tuas dicas.

abraços

Sei lá se tô metendo as fuças onde não sou chamada. Mas é que me dói ver pessoas que quero bem, tristes. E esta é uma constante, atualmente, à minha volta. Ela está triste. Muito triste. Havia anos que não a via assim.

É mais difícil esquecer os ódios do que os amores, de outro modo, é mais difícil (não) detestar de imediato o que me lembra o que mais odeio, do que amar mais do que aquilo que amo. Isto é, é mais difícil não detestar o Inter, por ligações diretas, no meu cérebro, ao Benfica, do que juntar ao clube que amo outros clubes para amar. Não sei se fui claro.

Por lealdade aos outros, e por acabar com o tempo concordando com o julgamento dessa colega (sobre como ser pragmática e focada num cesto de ofídios), é que coloquei-a em algum outro mundo. No início foi muito difícil, apagar simplesmente alguém que sabia de mim coisas tão doídas e profundas, e com quem eu me abria, por esse maldito jeito transparente demais, sempre sem filtro, sem qualquer maquete prévia. Acho que enxergar alguém com um pré-projeto definido foi o mais doído.

Recordo-me de meu pai me contar que a minha tia X. foi a tribunal por uma questão qualquer mesquinha. Então, o juiz, depois de minha tia prestar declarações disse – A senhora mente com todos os dentes que tem. Então, a minha tia voltou-se para o Juiz e disse – Meritíssimo tem toda a razão! Não estou a mentir. Abriu a boca e disse – Como V. Exa. pode verificar que nem um só dente tenho.

O lado afetivo é o mais importante na idade dela… Eu, pessoalmente, não pensava no ambiente (materialmente falando) e sim nas pessoas e no carinho que eu recebia, à essa época da vida…. Me lembre, dez anos tem ela, não?

Esse convívio numa atmosfera de carinho e de proximidade vale mais que vida em palácio, estou certo disso, por tudo que vivi …

Espero que todos estejam bem! Há meses que tenho estado ensimesmado com a empobrecedora dualidade “casa-trabalho”. Se o desencanto já era evidente em relação ao governo, com as últimas notícias ele se ampliou como nunca. Sobre isso, gostaria muito de conversar pessoalmente. Por enquanto, prefiro aguardar o desenrolar dos acontecimentos. No entanto, as notícias pinçadas em diferentes fontes não são alentadoras…

A novidade é que serei pai novamente! O rebento se chamará X. e já tem cinco meses.

Uma conhecida diz que ela não está gorda, o problema é a altura que não está de acordo, é muito baixa. Hauehauehauehauehauehuaeua…

 

Tentei ler As Ondas, da Virginia Woolf, em espanhol, mas achei complicado… Não seria melhor ler Borges em inglês? risos

 

Me separei com 36 anos. Imagine o bando de peruas maquiadas e vestidas para matar que eu encontrava nos bares em happy hours, dispostas a qualquer coisa. Mas também encontrei mulheres que estavam na delas, tranquilas, divertidas e dispostas a paqueras mais leves e lentas. Com algumas destas fiz amizade.

 

Quanto aos homens que encontrei pela frente durante este período, mais de 50% era casado, com filhos pequenos e querendo a eterna emoção da conquista. Nos noutros 45% estavam os doidos, os infantis, os separados querendo me botar na sua ” lista” de prováveis candidatas segunda relação. Encontrei bem poucos que queriam um amor e que estavam dispostos a investir tempo, cuidado e sensibilidade em sua construção. Apenas dois.

 

Perdi a conta dos casados que me cantavam na porta da geladeira de suas cozinhas, com a esposa na sala servido canapés a seus amigos, ela linda e jovem, inteligente e muitíssimo desejável. Acho que cantavam por… por costume… por exercício de machismo… por babaquice… por idiotia. Por acharem que, se eu não tinha um par, estava doida pra “dar” a qualquer um. Homens assim me tiraram a vontade de casar outra vez.

 

É verdade que seu estudo estatístico tem alguma substância. Entre as 64 advogadas e médicas (treinadas para atacar e defender, em teoria) há um grande número de desesperadas. Tenho algumas conhecidas assim. Uma delas até atacou um dos meus namorados na cozinha!

 

Pô, Milton, mas eu não sou um fauno, em absoluto. Sou um romântico…

 

Como imaginava, o almoço na casa de X. foi muitíssimo mais divertido do que o filme. Infelizmente, estou proibida pelo meu marido de contar tudo o que vi e de transcrever as conversas maravilhosas que tive e que ouvi. E que remédio tenho eu senão obedecer-lhe sem questionar. Mas não resisto a contar que as amigas da puta da ex-namorada do meu marido passavam pelo sitio onde eu estava, olhavam e iam-se embora. Iam àquele sítio da casa para me verem. Adoro a decadência.

 

Pois é. Ele escreve muito mal e esta é uma discussão muito presente no núcleo da revista. Pelo menos, conseguimos fazer com que ele não use mais parênteses dentro de parênteses…

 

Meu amigo querido,
as emoções começam a se aquietar em meu coração descompassado. Saiba que adoro Truffaut. Mesmo! E Jules et Jim é um dos filmes da minha vida! Aqui tb o frio resolveu aparecer para alegrar meus dias (sim, adoro o frio! Estamos com temperaturas mais baixas desde o fim de semana). E tb já percebi seu carinho para conosco, seus amigos. Essa intensidade é algo meio mágico, não é Milton? A virtualidade aproximando almas que se reconhecem, que se identificam. É assim que vejo e sinto. E isso, de alguma forma me salva.

 

Claro que Drummond entendia muito pouco de mulher, Milton. Frente a Vinícius, não entendia nada, com aquela cara de farmacêutico, arrependido de ter deixado Minas para colaborar com Gustavo Capanema, em pleno Estado Novo.

 

Lá na praia, Milton, você leva o CD… Nós ouviremos juntos na reunião de pauta tomando aquele tinto, lembra? Será impossível não dançarmos…

Uma semana, um texto: O relato e a realidade, de Diego Viana

O melhor post que li esta semana foi publicado em 26/11 e é culpa minha tê-lo conhecido apenas na última terça-feira. É de Diego Viana, meu colega de OPS, que escreve o notável Para ler sem olhar. Não é de seus melhores textos, poderia até criticá-lo por excessivamente pessoal e incompleto, mas — sei bem por quê — preparo este post no sábado às 17h30 e só consigo lembrar dele, pois várias vezes estive discutindo mentalmente com Diego desde terça. Há abordagens que são catalisadoras mesmo. Mas Diego não sabe disso. Nem imagina por quantas vicinais andei a partir de suas impressões sobre o livro de Remarque.

Para ler sem olhar é um blog de textos longos, daqueles que dizem ser inadequados à Internet; é extremamente bem escrito, daqueles raros na Internet; e às vezes é povoado de grandes e belas imagens, daquelas que também dizem ser inadequadas por consumirem banda. Mas Diego não sabe disso. Ainda bem.

Não vou copiar um post do OPS em meu blog. Para lê-lo, basta clicar sobre O relato e a realidade.

Campeões de Tudo

Eu estou no andar de cima, depois da placa do Jornal do Comércio. Cheguei em casa às 2h45.

Em 27 meses, ganhamos todos os títulos internacionais possíveis: Libertadores, Mundial, Recopa e Sul-Americana. Temos todos os campeonatos do calendário atual brasileiro e do continente: Estadual, Copa do Brasil, Brasileiro e os já citados. Nas últimas 12 decisões, vencemos 11.

E ontem, pressentindo Nilmar, publiquei este texto no Impedimento:

Ah, antes porém, publico cópia do e-mail de Luis Felipe dos Santos, colaborador do Impedimento:

Caro Joseph Blatter,

Solicitamos por meio deste autorização para disputar outros torneios continentais, na Europa, América do Norte, África e Ásia. Como nos consagramos campeões de tudo que existe, ficou muito complicado estabelecer prioridades de agora em diante. Estamos em busca de novos horizontes, portanto, achamos que você poderia nos fazer essa cortesia.

Com carinho,
S.C.I

P.S.: não temos planos de ganhar a segunda divisão, favor não insistir.

Colorados em chamas…

Horror a intermediários

No dia 7 de novembro de 2001, saí da Feira do Livro e fui direto para o Beira-Rio. Jogavam Inter x São Paulo. Pelo Inter, entravam em campo João Gabriel; Barão, Gilmar Lima, Fábio Luciano e Wederson; Leandro Guerreiro, Carlinhos, Silvinho e Jackson; Daniel Carvalho e Luís Cláudio. Pelo São Paulo vinham Rogério Ceni; Reginaldo Araújo, Émerson, Júlio Santos e Gustavo Nery; Maldonado, Fábio Simplício, Kaká e Júlio Baptista; Luís Fabiano e França. E eu estava confiante.

Começa o jogo e o Inter, cheio de entusiasmo, parte para cima do São Paulo. Dava pena de ver. Era um banho de bola. Aí Kaká puxou um contra-ataque e cruzou para França fazer 1 x 0. Um detalhe, claro, ainda mais que no minuto seguinte Silvinho empatava o jogo e nós, os trouxas que assistíamos a partida, nos preparávamos para ver a virada. Empilhávamos chances de gol, nossos gols estavam maduros, podres até, vários deles. O primeiro tempo terminou empatado. 1 x 1.

Começou o segundo tempo e Luís Fabiano cruzou para França desempatar. Uma sacanagem, jogávamos muito melhor. Continuamos perdendo gols quando Gustavo Nery cruzou para Luís Fabiano fazer o terceiro. Mas reagimos e parecia que parte da injustiça seria sanada porque nossa pressão era irresistível. Sim, chegaríamos ao empate. Só que Gustavo Nery mandou uma bomba de longe e ficou 4 x 1. Meu deus, que bosta, que injustiça.

No dia 30 de junho de 2002, entravam em campo Brasil e Alemanha. O Brasil trazia Marcos; Lúcio, Edmílson e Roque Júnior; Cafu, Gilberto Silva, Kléberson, Ronaldinho Gaúcho e Roberto Carlos; Rivaldo e Ronaldo. A Alemanha vinha com Kahn, Linke, Ramelow, Metzelder e Frings; Hamann, Jeremies, Schneider e Bode; Neuville e Klose. Eu estava em Bento Gonçalves, curiosamente com um grupo de alemães. O jogo foi igual: o que a gente fazia aqui, eles faziam lá. Era uma partida perigosíssima, mas vocês lembram muito bem como terminou. Rivaldo, Ronaldo e Kahn fizeram a toda a diferença e os alemães discutiam entre si, dizendo que seu time igual ao nosso, só que…

É por isso que gosto dos jogadores decisivos. Você pode empilhar dez Luís Cláudios no seu time que eles não farão um Luís Fabiano. Pior, o São Paulo poderia enfiar 18 Maldonados em seu meio campo que eles não chegariam à eficiência de um França. Exagero? Claro que sim, os gregos criaram a figura da hipérbole para intensificar um fato até o inconcebível e os lógicos adoram hipérboles. Por isso, digo que 23 Rivarolas não fazem um Jardel, 34 Ramelows não criam fenômeno nenhum, 52 Edmílsons não superam um Rivaldo e 61 Baideks não fariam o que um Renato fez em Tóquio.

É por isso que gosto dos jogadores decisivos. Hoje à noite, podem estar em campo 43 Edinhos, mas os importantes serão Alex, Nilmar e Lauro, nossos caras terminais. Os goleadores, com frieza de toureiro e sangue frio de assassino esquizofrênico, são sempre os mais valiosos jogadores em campo. É por saber o momento do tiro ou por aproveitarem a passagem burra do touro descontrolado a sua frente, que vimos Romário jogar e fazer gols até os 67 anos, que vemos Túlio goleador aos 84 anos e é por isso que são tolos aqueles que criticam Alex quando ele trota em campo. Alex não jogou nada na Bombonera? Ora, não me façam rir. Na hora do cruzamento de D`Alessandro, ele estava lá fazendo o que poucos sabem fazer.

E é por isso que gosto também de grandes goleiros. O cara que fica ali não pode falhar, ainda mais num jogo decisivo. O mundo não lembrará de Kahn pelos 112 campeonatos alemães que levantou, mas nunca esquecerá que, quando Rivaldo chutou aquela bola, ele a soltou e ficou nadando no ar enquanto o matador Ronaldo Fenômeno chutava a bola para as redes com a certeza do toureiro matador que sabe que ou é o touro ou é ele mesmo (então, que seja ele!). O são-paulino mais fanático sempre lembrará de Ceni no Japão, mas nunca esquecerá que ele facilitou as coisas para Fabiano Eller naquele segundo de auto-suficiência. O colorado mais fanático sabe de seus títulos, porém sempre lembrará de Clemer como um goleiro nervoso e hesitante, sabendo que só um doido varrido esquizo alucinado e viciado terá a coragem e calma de pegar um escanteio batido por Nelinho com uma mão só, pois a outra tinha, naquele dia, escondidos sob a luva, seus dedos retorcidos novamente quebrados.

Num time campeão, até o roupeiro vence, mas só alguns são decisivos. Decisiva para a vida da batata é a mão que a planta e os dentes de quem a come. O resto são contingências. Decisivo na vida da galinha é quem a choca e minha avó que, caminhando e sem deixar de conversar comigo, pegava o bicho e, para meu horror, torcia docemente o pescoço de nosso almoço. O resto é milho, cacarejos e carregadores de pianos.

Por Milton Ribeiro.

O Dogma 95 morreu?

O movimento Dogma 95, criado por Lars von Trier e Thomas Vinterberg, produziu alguns dos melhores filmes dos últimos anos. Mas a produção de von Trier não se encaixa nos rígidos conceitos do Dogma. Dançando no Escuro, por exemplo, está totalmente fora das regras, assim como Dogville e Ondas do Destino. Ele fez apenas um filme sob o Dogma: Os Idiotas. Além deste, o Dogma 95 produziu extraordinários filmes como Mifune, Festa de Família (de Vinterberg) e Italiano para Principiantes.

Eu pensei que o movimento estivesse enterradíssimo e fui fazer uma consulta. Tomei um susto ao me deparar com uma lista de 77 filmes! Isso mesmo, 77, muitos deles recentes. Esses aqui. Onde estão??? Por que não aparecem? Estariam estigmatizados pelas distribuidoras? Ou são irremediavelmente ruins?

O movimento foi fundado em 1995 em Copenhagen e via o cinema como arte coletiva. Qualquer um poderia fazer um filme, pois o Dogma visava varrer de seus produtos toda “tempestade tecnológica”, representada por efeitos especiais, trilha sonora, iluminação, etc. Considerava que o cinema tornara-se algo artificial e apresentava um ESTATUTO OBRIGATÓRIO chamado “Voto de Castidade”. E, em seu manifesto, perguntava: é disto que nos orgulhamos? É a este resultado que nos conduziram cem anos de cinema? Das ilusões para comunicar as emoções? Uma série de enganos escolhidos por cada cineasta individualmente? Para o Dogma 95, o filme não é ilusão!

Como sempre há controvérsias acerca de quais seriam os cânones do Dogma e porque sinto saudades dos estranhos filmes produzidos sob o Dogma, transcrevo abaixo o surpreendente “Voto”.

Voto de Castidade

1. As filmagens devem ser feitas em locais externos. Não podem ser usados acessórios ou cenografia (se a trama requer um acessório particular, deve-se escolher um ambiente externo onde ele se encontre).

2. O som não deve jamais ser produzido separadamente da imagem ou vice-versa. (A música não poderá, portanto, ser utilizada, a menos que ressoe no local onde se filma a cena).

3. A câmera deve ser usada na mão. São consentidos todos os movimentos – ou a imobilidade – devidos aos movimentos do corpo. (O filme não deve ser feito onde a câmera está colocada; são as tomadas que devem desenvolver-se onde o filme tem lugar).

4. O filme deve ser em cores. Não se aceita nenhuma iluminação especial. (Se há luz demais, a cena deve ser cortada, ou então, pode-se colocar uma única lâmpada sobre a câmera).

5. São proibidos os truques fotográficos e filtros.

6. O filme não deve conter nenhuma ação “superficial”. (Em nenhum caso homicídios, uso de armas ou outros).

7. São vetados os deslocamentos temporais ou geográficos. (Isto significa que o filme se desenvolve em tempo real).

8. São inaceitáveis os filmes de gênero.

9. O filme deve ser em 35 mm, standard.

10. O nome do diretor não deve figurar nos créditos.

Copenhagen, 13 de março de 1995
Em nome do Dogma 95,
Lars von Trier

Sim, era uma maluquice. Mas os primeiros produtos do Dogma eram tão bons, realistas e contavam com tão boas histórias que fico curioso a respeito dos outros filmes. Na época, lembro ter pensado que talvez o “Voto” fosse uma saída para cineastas de países pobres como o Brasil, mas não aconteceu nada. Nosso cinema sem roteiristas sonha com o Oscar, antes mesmo de ter conquistado o público brasileiro… Mas isso já é outra história.

Atualização das 8h59 (comentário de Claudia Antonini):

Milton Luiz, my dear.

Já são 338 filmes segundo o site oficial do Dogma, não 77. Fui ver se havia alguma forma de distribuição e me deparei com este número surpreendente. Porque não chega nada??? Sei lá, uma pena mesmo. Ameeeeei “Italiano para Principiantes”.

Fui, é claro, ler e vi que tem inúmeros representantes italianos (eu sei que o filme acima nada tem a que ver com isso, que é dinamarquês), cinco argentinos e até um – único e solitário – representante brasileiro:

Dogme #209: Manter Vigilante (Brazil)
Directed and produced by J. Gabriel
Rua Santa Sofia 221/102 – RJ/RJ 20540-090 – Brazil
Phone: (21)2567-2438 – Mail: [email protected]

Agora vou tentar descobrir como ter acesso.

Beijos.

O Animal Agonizante, de Philip Roth x Fatal, de Isabel Coixet

Foi uma curiosa experiência ter visto primeiro o filme Fatal (Elegy) para na semana seguinte ler o livro no qual se baseia, O Animal Agonizante (The Dying Animal). Como seria de se esperar, eles contam a mesma história, mas colocam seus focos narrativos em pontos diferentes.

A situação é simples: o professor aposentado David Kepesh, de 62 anos, vive sozinho colecionando casos amorosos. Dentre eles, há um gênero de encontro que se repete. Ele sempre escolhe uma de suas alunas num curso quinzenal que ministra anualmente. Tais casos sempre começam na festa que oferece em sua casa no último dia de aula. Num desses cursos, ele encontra a belíssima Consuela Castillo, de 24 anos, que se transformará numa obsessão para o velho professor.

No livro, Roth preocupa-se principalmente com a sexualidade dos personagens. O velho fauno Kepesh fica absolutamente transtornado pela beleza e juventude da moça e Roth analisa de sua forma habitual — direta e visceral — não apenas sua sexualidade como a de seu país. Há um interessante paralelo entre o medo fóbico de separação de que sofre seu filho contra a noção de separação como libertação, defendida algo cinicamente por Kepesh. A virada final do livro dá-se quando, anos após a separação involuntária porém previsível — e que causa inédito e ENORME sofrimento ao professor –, Consuelo reaparece doente.

Trechos:

A vida de casal e a vida em família ressaltam o lado infantil de todas as pessoas envolvidas. Por que é que eles têm de dormir noite após noite na mesma cama. Por que é que precisam telefonar um para o outro cinco vezes ao dia? Por que é que tem de estar sempre um com o outro?

(…)

Sexo não é só atrito e diversão superficial. É também a maneira como nos vingamos da morte. Não se esqueça da morte. Não se esqueça da morte jamais.

(…)

… (na cidade) onde entrei na adolescência nos anos 40, só se podia ter uma relação sexual consensual com uma prostituta ou então com a garota que se namorava desde menino e que todos imaginavam que fosse acabar se casando com você.

(…)

— Por que não é legal com eles? — Eles só sabem se masturbar em cima do meu corpo. — Isso é lamentável. É uma burrice. É uma loucura.

(…)

As primeiras vezes em que me chupou, Consuela sacudia a cabeça com uma rapidez implacável, tá-tá-tá — era impossível não gozar muito antes do que eu pretendia, mas então, no momento em que eu começava a ejacular, ela parava de repente e recebia o jato como se fosse um ralo aberto. Era como gozar dentro de uma cesta de papéis. Ninguém jamais havia dito a ela para não parar naquela hora. Nenhum dos cinco namorados anteriores tinha ousado lhe dizer isto. Eram jovens demais. Eram da idade dela. Já estavam mais do que satisfeitos de estar conseguindo aquilo.

Obviamente, o segundo tema do livro é a velhice, o profundo ciúme e as fantasias causadas pelo mundo desconhecido, jovem e inatingível de Consuela em Kepesh.

E é isto que Isabel Coixet desloca para o cerne de seu filme. Não que ela tenha admitido um relato mais superficial, ela apenas o trouxe para o cinema: saíram as longas digressões sobre sexo e entrou o embate entre maturidade e juventude. Num filme que conta com atuações esplêndidas de Ben Kingsley e Penélope Cruz, Coixet realiza um grande filme acerca da finitude do ser humano. Kingsley, em atuação não menos que genial, é extremamente sedutor, mas quando conhece Consuela, sua idade e a idéia de seu fim próximo cai-lhe sobre a cabeça como uma injustiça. No filme, o sofrimento do professor Kepesh torna-o humano e o retorno de Consuela tem o efeito de torná-lo solidário. Não, não pense que o filme é moralizante, longe disso, é um filme tristíssimo sobre a degradação do corpo e de como o cérebro segue impondo suas demandas por vida e amor, ignorando a passagem do tempo.

Acho que a espanhola Coixet — grande diretora para a qual já babei em A Vida Secreta das Palavras –, deveria ter repetido o livro na cena do chapéu de Consuela, mas ela ou seus produtores não quiseram chocar um público tão delicado quanto o americano. Penso que seria uma cena absolutamente desconcertante e necessária ao relato, mas sabem como é, poderia diminuir a bilheteria…