Uma abordagem pessoal ao Abecedário de Pound

Durante a adolescência, apaixonei-me tão perdidamente pela literatura, que tinha certeza de que o único destino possível para mim era o de tornar-me escritor. Era capaz de ler livros diariamente por mais de 6 horas. Na época não confessaria isto nem sob tortura, mas minha dedicação era uma meticulosa preparação para o futuro. Queria abordar o maior número possível de obras e fazia-o de maneira sistemática, a fim de alargar pouco a pouco meus conhecimentos. Minha família preocupava-se discretamente com aquele filho maluco que só queria saber de livros, mas como eu era manso, minha situação não lhes assustava muito. Kafka dizia que, fora da literatura, pouca coisa o interessava; a mim também, naquele tempo. Depois, muita coisa mudou, mas fiquemos em Pound.

Nunca me interessei muito por poesia, dedico-lhe um tempo ínfimo se comparado àquele que dou a prosa. Fiquei feliz quando soube que Dostoiévski, Balzac, Bellow, Thomas Mann e outros eram assim também. Porém, no âmbito daquela minha preparação para o futuro, li um ensaísta-poeta que foi fundamental para meu entendimento de literatura. Ele havia caído em desgraça nos meios universitários dos anos 70. Vivíamos sob ditadura militar, todos os intelectuais respeitados eram de esquerda; mas, apesar disto tudo, eu precisava conhecer Ezra Pound, um dos escritores que deram apoio ao fascismo durante a Segunda Guerra Mundial.

Seu ABC da Literatura (Cultrix, 1973), traduzido por Augusto de Campos e José Paulo Paes, foi adquirido e lido por mim em agosto de 1976. É um pequeno livro, escrito quase em forma de panfleto, onde Pound prova, através de teoria simples e de muitos exemplos, que a poesia é tanto melhor quanto mais significados contiver. O ABC comprova que a melhor poesia é a mais saturada de significados e nos explica sobre a sabedoria da língua alemã, onde dichten (condensar) é o verbo alemão correspondente ao substantivo Dichtung, que significa “poesia”. “Grande literatura é simplesmente linguagem carregada de significado até o máximo grau possível”, escreve Pound. Após curtas explicações teóricas, Pound nos demonstra suas teses com excertos. Estes tomam metade do livro e são a prova cabal de que sua teoria foi criada sobre fatos literários, não sobre fatos imaginados.

Ezra Pound (1885-1972)

Os prosadores também tiraram vantagem da condensação. Alguns, além de utilizarem uma linguagem limpa, quase livre de adjetivações – como Kafka e Borges, por exemplo – se utilizam de situações que falam. Isto é, os personagens são colocados em determinadas situações que auxiliam a narrativa ou a contradizem. Este é mais um elemento a condensar significados, pois acrescenta mais informação àquela que nos chega através dos meios tradicionais: texto e diálogos. Este seria o máximo de condensação em prosa, pois além da linguagem enxuta e multi-significante tomada da poesia, há todo um contexto apoiando a narrativa. Também o cinema, a partir da nouvelle vague, passou a “treinar” o público para este tipo de abordagem, na verdade tão antiga quanto Shakespeare.

Condensar não é tão fácil quanto parece. “A incompetência se revela no uso de palavras demasiadas”, diz Pound. Parece fácil eliminar as excrescências de nossos textos, mas como fazer para que os significados se multipliquem? Pound não nos deixa à deriva e também investiga os modos através dos quais as palavras podem ser carregadas de significado.

Porém, a teoria de Pound tem limites. Se alguém censurasse Dostoiévski, Bernhard ou Stendhal pela incrível profusão de repetições e detalhes que seus livros contêm, poderia ser chamado tranqüilamente de doido. Nestes casos, as minúcias criam o ambiente da ação ou servem para caracterizar o pensamento de alguns personagens. Dostoiévski escreveu no plano de Crime e Castigo: encher a narrativa de detalhes e repetições! O mesmo vale para o ultra-verboso e barroco Saramago. Nestes autores, o excesso trabalha a favor da trama. Que bom que seja assim! Se a boa literatura fosse apenas aquela que melhor adere a cânones pré-definidos, tornar-se-ia uma simples competição entre virtuoses e morreríamos de tédio. É excelente que os bons autores insistam em agir como aquelas cozinheiras talentosas e corajosas que mudam as receitas durante a preparação dos pratos. Agindo assim, acabam por cometer tanto erros lamentáveis como gloriosos acertos.

Ou seja, sei lá. Cada um faz do seu jeito.

COMENTÁRIO EXPOSTO AO MILTON E AOS SEUS LEITORES (por Paulo José Miranda)

Bom, pensei demoradamente antes de escrever este comentário: pensei um minuto. Para mim, um minuto é muito para pensar, quando se trata da minha vida e não de filosofia, de poesia, de literatura ou de arte. Aí, sim, demoro-me a pensar. Julgo que a vida não foi feita pra pensar. Na vida age-se. Talvez por isso tenha vivido em tantas e tão estranhas partes deste mundo. Ao ponto de a minha casa ser a internet. Não é certo encontrarem-me em outro lugar. Por isso agradeço tudo quanto posso ao Senhor Tim Berners-Lee pela sua infinita generosidade, ao inventar ao WEB e não ter registado direitos, isto é, ter feito da WEB um espaço gratuito. Assim, devido a esse senhor, hoje todos me podem encontrar em meu e-mail e sites. De tal modo é assim que, aquando do meu projecto America-is, o senhor e fotógrafo Francisco Huguenin Uhlfelder anunciou os membros envolvidos no projecto e as suas localizações deste modo: A em Munique, B em Itália, C em Nova Iorque, D em Lisboa e E(u) num http://etc. Tudo isto por causa de não pensar mais de um minuto em relação à minha vida, aos acontecimentos da minha vida.

Depois desta explicação acerca do meu minuto, passo ao que verdadeiramente aqui me trouxe: o post do Milton. Não me parece que este post seja melhor do que alguns outros, mas é seguramente pertinente por várias razões: 1) apresenta um cânone poético-literário que se propõe, depois, não a destruir, mas a relativizar; invoca, sem medo, a filiação política de Pound, assumindo que isso nada interfere no seu juízo de gosto, pois se não gosta dos poemas é por razões estéticas, que não impedem de apreciar ao limite o seu ABC; por fim, mas não por último, mostra a angústia de um homem à beira de ser escritor (estamos sempre à beira quando o mundo não nos reconhece). Ninguém é escritor na sua rua, embora possa ser na gaveta. Contrariamente ao Milton, li muito pouco durante a minha infância e durante a minha adolescência. Li, mas li pouco. Nem sequer alguma vez tive alguma vez a ideia exotérica de querer ser escritor. Quis ser músico! Músico como o nosso (meu e do Milton e de muitos outros) muito apreciado Thomas Bernhard. Mais tarde, falhado o objectivo músico (o talento dava pra ser um razoável executante e um pouco menos razoável compositor) quis ser filósofo. Filósofo depois de falhado o projecto de músico, como já tinha acontecido com alguns filósofos. Depois falhei também neste projecto, embora tenha sido um aluno bastante acima da média, o que daria pra ser um professor mediano na faculdade, nunca como os mestres que tive: António C. Caeiro, Mário Jorge Silva Carvalho, Nuno Ferro, Maria Filomena Molder, José Gil. A poesia surgiu nos intervalos da filosofia. Quando acabei filosofia editei um livro de poesia, A Voz Que Nos Trai, que acabou por ser premiado com o Prémio Teixeira de Pascoaes. Por causa de uma mulher comecei ou recomecei ou comecei, não sei, a escrever prosa. Esse primeiro livro Um Prego No Coração acabou por despertar a atenção do melhor poeta português vivo, que me teceu os maiores elogios e que, por causa disso, me levou á publicação de outros livros de prosa. O segundo, Natureza Morta, levou-me a arrebatar o primeiro Prémio José Saramago que, para além do prestígio me concedeu também cerca de 25 mil euros. A partir daqui aceitei que era escritor. Acabei por ser escritor por ter falhado em tudo o que me havia proposto anteriormente. E não foi sem resistência que um dia, ao olhar para o espelho, disse a mim mesmo: “é assim, pá, és escritor, aceita!” E aceitei. Hoje, volvidos 6 ou 7 anos, sei por que sou escritor e não sou poeta, contrariamente ao que alguns amigos julgam. Nós somos qualificados por uma profissão ou um mister quando grande parte do nosso tempo é passado aí. Ora, eu passo quase tempo nenhum na poesia, quase nada, apenas um pouco mais do que passo a pensar na minha vida. Quanto à literatura, passo quase a minha vida toda. Desde que aceitei aquilo que era, escritor, quase não faço mais nada senão pensar, pensar, pensar, pensar. Não penso em escrever. Penso e escrevo. Penso e escrevo. Penso e escrevo. E assim vai.

Em Portugal temos uma expressão antiga que é: De Espanha nem bons ventos, nem bons casamentos. Poderia aplicar a mesma expressão a Pound. Nunca consegui apreciar-lhe os versos, nem a sua inteligência literária. E asseguro que não se trata de preconceito político, pois tal como o Milton também não misturo alhos com bugalhos, embora isto seja uma discussão enorme. Por outro lado, estou bastante longe de ser um intelectual de esquerda. Não há razões políticas a atrapalharem-me o juízo estético, pronto! Serei a última pessoa a pôr em causa o talento poético ou qualquer outro de Pound. Mas não é pra mim. Quanto à sua teoria, é tão ridícula quanto as teorias que orientavam Eça de Queirós quando escrevia os seus romances. As teorias eram ridículas, mas o talento de Eça, não. Eça é um escritor excelente, um escritor que aprecio imenso. Mas não as suas teorias, não aquilo em que literariamente ele acreditava. Provavelmente passa-se o mesmo com Pound, mas eu não sou permeável. Milton expõe sucinta e eficazmente a teoria do senhor Pound, no seu post, mas depois relativiza a sua verdade. O problema, para mim, é que a verdade não é relativizável, se me permitem o neologismo. À primeira leitura, parece que o Milton quer ficar bem com Deus e com o Diabo, com Pound e com Bernhard. Quem já leu Extinção, de Bernhard, sabe que isso não é sequer possível de ser pensado. Nesse livro, a páginas tantas, lá pras trezentas e muitas, pelo menos na minha edição inglesa, ele expõe, através do narrador, a sua teoria literária. Qual a grande diferença? Primeiro porque ela é teoria dentro de um livro de ficção, isto é, não pode ser lida independentemente desse facto. Não se trata de um ensaio, ou sequer de um artigo, trata-se de algo maior: o coração de Bernhard. E o coração do autor é exposto, mostrado em duas linhas: exagero e repetição. Mais: exagero de repetição. Podemos viver uma vida, ou várias, amando Pound e, depois, outras vidas amando Bernhard, mas não podemos amá-los em simultâneo. Peço desculpa a todos, mas não se pode gostar do Grémio e do Inter! Sei, a arte não é futebol. Pois não, pois não, mesmo. É muito mais vital. Jogamos a nossa vida nela. Eu, pelo menos, jogo a minha vida nela. Assim, amar um cânone e desprezar outro é muito mais vital para mim do que amar o Tremendo FC Porto e desprezar o Benfica. Quero que o Benfica perca todos os jogos, apenas isso. Mas quero muito menos ao cânone de Pound: quero que ele se escafede todo; quero que o cânone do senhor Pound não veja sequer a luz do dia; quero que morra (não a sua poesia, mas a sua teoria). Por outro lado, julgo que Milton não está a defender o “convívio” entre teorias irreconciliáveis. Milton está a dizer que não “reconhece” nenhum cânone. E isto, sim, é perigoso. Não há um escritor que seja que não escreva por causa de um cânone, ainda que o modifique, claro. Mas quem é que pode modificar uma receita (para usar o exemplo dado pelo Milton) senão quem sabe cozinhar, quem seguiu, até à modificação da receita, um determinado cânone? Suspeito que só se pode escrever bem contra Deus, contra a ciência, contra a vida, contra si mesmo. E para estarmos contra, temos que estar, erradamente ou não, certos de que há um caminho melhor do que todos os outros. Só assim Bernhard pôde escrever tão bem como escreveu.

Sou leitor assíduo das crónicas do Milton. Algumas são excelsas. Algumas são maçadoras. Mas todas são bem escritas. Se não julgasse assim, não o tinha convidado para fazer parte do Cidades Crónicas. Mas, para ser melhor ainda, aconselho-lhe, se posso, se ele me permite, que se assuma literariamente. Apetece-me dizer-lhe: “Milton, pá, escreve como se tivesses a dizer mal do Grémio!” E dizer mal do Grémio (que eu prefiro ao Inter) não implica não dizer bem. Pois acaba-se por dizer bem nem que seja desses tomatinhos de conserva do Inter. Eu, que nunca quis ser escritor, e que acabei por ser; foi o que restou pra eu ser, estou convicto de que é daqui que vem a força da minha escrita: escrever contra o que não foi a minha vida, isto, contra todos os meus falhanços, escrever contra mim. Eu sou eu mesmo o meu Benfica. Quero ouvir o Milton dizer: “Eu sou eu mesmo o meu Grémio.”

Abraço forte ao Milton e aos seus leitores,
Paulo José Miranda

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  1. Não consegui ler tudo porque estou atrasada (e sem óculos). Mas me espantei em ver que alguém teve uma adolescência igual a minha. Só que eu não lia tanto para me tornar escritora, e sim porque achava as pessoas muito desinteressantes.

  2. Nem dá para comentar direito essa profusão de texto. Para não escrever o triplo do que aí está, vai lá:

    1) cago e ando para teorias literárias, venham de professores ou de autores;

    2) às vezes alhos são bugalhos, ou bugalhos tornam-se alhos, e alhos, de tanto esforço, se transformam em bugalhos, em suma: as direções políticas dos autores podem impregnar a literatura de um sujeito, desfazendo-a em merda. Exemplo: os últimos cinco livros do Vargas Llosa. Compare-os com Conversa no (ou na) Catedral. É perceptível que sua conversão aos credos liberais mediocrizou sua obra;

    3) um ex-professor da Rachel cometeu o erro: cursou Letras para melhorar seu texto. Hoje, o texto dele é formalmente bem composto, mas ele só faz girar em torno de umbigos literários estéreis. É um risco imenso acreditar numa disciplina que, na maioria das vezes, gira em torno de indisciplinados (os escritores);

    4) nada tenho contra adjetivos, substantivos, advérbios, artigos, pronomes, neologismos, etc. etc. etc.;

    5) li Extinção: é um tremendo acerto de contas em um jorro só, e a Austria que se foda por me foder (diria Bernhard). Mesmo assim, é um lirvro interessantíssimo, quanto mais amargas e absurdas são as teorias que contém. Literatura não é manual de autoajuda, mas um território amplo e estimulante para a imaginação e para a razão;

    6) cada autor cria seus próprios procedimentos, e cada leitor suas próprias leituras: há quem prefira Ezra, há quem ame Saramago, mas há de haver razões para os procedimentos e leituras, sem patrulhamentos ideológicos, mas também sem relativização absoluta.

  3. Milton,

    se alguém me escrevesse um texto belo como esse eu simplesmente choraria por dias e depois obedeceria. Porque para escrever são necessárias muitas coisas, dentre elas, uma dor e um afeto, e com um amigo como Paulo Miranda, a lhe dizer coisas de arrancar a retina dos olhos, não lhe faltarão afetos a provocar dores. Por isso, para escrever, no quando do escrever, nada é necessário. Se alguém me escrevesse um texto belo como esse eu simplesmente choraria e depois escreveria.

    Um forte abraço,

    Cesar Kiraly

  4. Ó Pá! Tomatinho de conserva não, hehehe!

    Nunca li Ezra Pound, mas fiquei curioso não pela sua poesia mas por colocar as mãos neste ABC… Curiosamente, nestes dias estava lendo Aspectos do Romance de E. M. Forster, livro severamente criticado na ocasião de seu lançamento que, ao que parece, virou clássico e livro indicado em cursos de escrita.

    Ei, não vim polemizar: deixem os cursos de escrita em seu lugar! Um dia ainda faço um, quem sabe. Ou quem sabe eu ministre algum, pois não? Sempre é bom ocupar a mente…

    Belo ponto e paraponto, Milton e Miranda. Obrigado.

  5. Li “Os Cantos” de Pound e fiquei puto com a erudição que me dizia pouco. É Lacan na poesia. Fala de cerâmica chinesa antiga como se eu soubesse o que é cerâmica atual.

    O bom de Pound é “A Arte da Poesia”. O ABC, diziam os beatnicks, era doidice e falta do que fazer. Quem eram os beatnicks para malhar o velho fascista?

    Bacana foi o encontro entre Pound e Murilo Mendes. Lá pelas tantas, o poeta mineiro diz que Pound é o sujeito mais parecido com D. Quixote que le já viu. Pound replica: Sim, mas por conta da loucura!

  6. MODA
    by Ramiro Conceição

    TODAMODAÉBOSTA
    BOSTATODAMODAÉ
    ÉMODATODABOSTA
    MODATODABOSTAÉ
    TODABOSTAÉMODA
    TODAMODABOSTAÉ
    ÉMODABOSTATODA
    TODABOSTAMODAÉ
    ÉTODABOSTAMODA
    BOSTAMODATODAÉ
    ÉBOSTATODAMODA
    MODABOSTATODAÉ

    Isso, acima, é um poema?
    Não tenho dúvida: é!
    Mas como foi possível escrever tal coisa?
    Ora, porque existiram seres, antes de mim, que romperam com a linguagem formal poética. Quem são eles? Os irmãos Campos, Décio Pignatari, Mallarmé, Joyce, Pound, Maiakósvky, EE. Cummings, Sousândrade e muitos outros…

    Voltanto para aquilo, lá em cima. Imagine: 1) colocar aquelas palavras num desses programas 3D; 2) colocar tudo isso numa interface que combine música junto a um aparato de um canhão a laser e projetar, à noite, nos céus de São Paulo naquela medíocre semana do “fashion week (está correto?)” paulistano. Imaginou? Pois é, para mim não acrescentaria nada a minha obra poética. Primeiro porque não seria original (Augusto de Campos já fez algo semelhante em outro contexto…). Seria de uma extrema agressividade que não levaria absolutamente a nada! Assim , deixo como está, e publicarei o poema em duas dimensões, no meu “Jardim dos Castanhos”.

    PARA MIM, POESIA é muito mais que o retumbar de tambores eletrônicos. Poesia É UM RELÂMPAGO NO SILÊNCIO DA ALMA. Vou dar dois exemplos:

    1) Fernando Pessoa, em seu genial poema “A TABACARIA” inventou um verso (que citarei de memória): … “SOU UM PÓRTICO PARTIDO AO IMPOSSÍVEL”… Isso, para mim, é o relâmpago poético! Pois aí está toda a existência humana!
    2) Minha filha Débora, hoje com 24 anos, me disse, ao seis anos, quando conheceu o mar pela primeira vez: “… papai, encontrei a MÚSICA…” Isso, para mim, é também um relâmpago poético.

    Por que estou a dizer tudo isso? Ora, embora Pound não tenha me emocionado como poeta, no entanto, ELE É UM VETOR POÉTICO DO QUAL ME ALIMENTO.

    Não sei se me faço entender… Mas é isso!

  7. Para mim, seu texto cheio de conselhos e certezas ( e maçante, muito maçante) parece estar ao nível de sua imensa pretensão, mas distoando de seu real talento. Paulo Miranda?

  8. milton, como vai? fico meio espantada com os comentaristas que acham (ou pelo menos parecem achar) que comentar um autor é aderir imediatamente a tudo o que ele escreveu. também me espanta a velha e ultrapassada ojeriza a qualquer teoria literária, como se fosse o pensar sobre literatura uma forma (ainda!) de cercear o trabalho do escritor. ai, preguica…

    pound é um grande poeta, e sabe falar sobre poesia – nem sempre isso acontece. pena que o seu post seja meio inconcluso – relativismo total nao é conclusao. mas só queria observar que condensacao em prosa e em poesia assume implicacoes tao diversas. e nao há como condenar o pensamento crítico de pound se nos lembrarmos que ele era preso sim a uma visao teórica muito específica de poesia.

    abraco.

  9. Desculpem… realmente, peço que tenham paciência comigo. Talvez alguma dessas químicas secretas que consumimos todo dia tenha finalmente me afetado, a ponto de não possuir mais o discernimento da leitura. O que me deixa preocupado, pois julgava-me muito bem dotado nesse quesito. O amianto ou o corante da Cokezero, um destes vaticínios terríveis dos médicos que no íntimo sabemos não fazer bem ignorar. Mas… li e reli o COMENTÁRIO EXPOSTO_ já neste título propalatório a intenção do autor de estar produzindo uma espécie de benção celeste que desce sobre nossas cabeças não merecedoras, mas que se justifica pela missão de nos trazer a luz_ e, lá pelo alto da terceira ou quarta leitura desesperada, percebi que não só não me era possível compreender o que estava ali impresso (ou expresso, já que, conforme anteriormente demonstrado neste blog, tudo pode a qualquer momento se apagar, para sempre), como compreendia de uma forma muito sui generis, com certeza não da forma requerida pelo tal Paulo Miranda, pois em minha concatenação (palavra por sinal horrível, mas pior seria a repetição de seu sinônimo acima já usado) encontrava no COMENTÀRIO, contradições, pretensão sem igual, superfluidade, e confissões desabonadoras. De forma que o COMENTÁRIO, não pode ser na verdade tão isento de propósito como me parece, ainda mais devido a seu trompetear aráutico do portador da chama. Por isto, reitero o pedido de paciência, e alguem, por favor, me esclareça…
    A começar (é interessante como o lusitanismo é um estilo contagiante), o Paulo já de cara diz não ter lido muito, o que decorreu de sua surpresa (um tanto esnobemente decepcionante) de se ver um escritor, territorialmente reconhecido. Depois, com essa bagagem insuficiente, ele nos passa uma série de pequenos, modestos, mas intimamente grandiosos exemplos pessoais que foram formando, a custa de desenganos na música, na filosofia e na poesia, esse grande escritor chamado Paulo Miranda, que do alto de sua retórica cheia de sentenças e ágeis jogos de semântica, acaba por pretender intuir aos seus leitores admirados o quanto o mundo resguardou-se do prejuizo absoluto por ele ceder estas suas artes incompreendidas na beleza de sua escrita. Descarta Pound como se fosse… sei lá, um escritorzinho portugues qualquer. Nos galanteia com sua sinceridade ferina ao acusar em alguns textos deste blog uma estética “maçadora”. Vaidoso, fala primeiro de si, como parte do prêmio a que nós nos devemos deleitar como cartão de visita para o que vem a seguir, evitando assim que gastemos o condão de nosso pasmo diante um talento tão promissor. Hemingweiano, aconselha Milton a escrever como quem xinga o Grêmio, com fúria, paixão, libido, assim como o grande americano aconselhava aos escritores incipientes escrever como quem esmurra um adversário. E depois, como coro, consegue que alguém seja esmagado por seu feixe a ponto de sugerir ao Milton que chore por alguém deste porte intelectual ter-lhe dignificado visitar o blog.
    Alguém ,por favor, me explique, me retorne à coerência!

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