Oscar Niemeyer e seu perfil fake no Twitter

Eu admiro Oscar Niemeyer. E, apesar de não ter a menor participação do moço, ultimamente tenho me divertido também com seu perfil fake no Twitter. O @ONiemeyer (“Arquiteto. Comunista. Centenário. O único brasileiro do século XX cuja obra durará mil anos. E estará lá pra conferir. ATENÇÃO: PERFIL FAKE!”) é engraçadíssimo. Vale a pena acompanhar as piadas de humor negro e as ianda mais negras sobre comunismo. Há boas chances de que o autor do perfil seja também arquiteto.

Algumas entradas:

— Caro @fidelcastro, perdoe o desabafo, mas a última leva de charutos que você me enviou estava uma merda.

— Acabei de ver uma manteigueira que renderia uma sala de concertos perfeita. Vou copiar.

— Zé Alencar, Tuma, Sarney, tudo no hospital. Esses jovens de hoje se detonam muito rápido.

— Se eu mandasse um cartão de melhoras pra toda vez que o Zé Alencar deixasse o hospital, eu teria que abrir uma gráfica.

— Comecei a pagar um plano de previdência privada hoje. Nunca se sabe o futuro.

— Quando o sol bater ♪♬ Na janela do teu quarto ♪♬ Lembra e vê que foi erro de projeto.

— Projetei um escorregador pra minha bisneta. Dane-se que não dá pra escorregar, é BO-NI-TO.

— Eu só vou morrer no dia em que o Brasil tiver um presidente comunista. E falo SÉRIO! 

— Já tentei fazer regressão a vidas passadas, mas o mais longe que consigo chegar é nos meus 5 anos de idade.

— Nada é mais comunista do que minha obra: seja rico, pobre, ou burguês, todo mundo se sente desconfortável dentro dela.

— Plínio não vence esta eleição e nem em 2014. Mas será o grande nome de 2018. Podem escrever!

— Vi a Mulher Melancia na Fazenda e tive uma idéia para um centro de convenções gigantesco. Já volto.

Abaixo, o verdadeiro abre seu voto para 31 de outubro:

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Prêmio Nobel de Literatura para Vargas Llosa

Por Idelber Avelar

A Revista Eñe, caderno cultural do Clarín, me pediu um texto sobre o Prêmio Nobel para Mario Vargas Llosa. Minha intenção era traduzi-lo ao português para os leitores do blog mas, dado o avançar da madrugada, vai em castelhano mesmo. Façam o esforço aí.

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A la Academia Sueca le gustan las simetrías simbólicas en sus premiaciones, lo que no quiere decir, desde luego, que ellas tengan algo que ver con la literatura. En el panteón del Nobel, para cada Gabriel García Márquez, hay un Octavio Paz. Para cada José Saramago, hay un Mario Vargas Llosa. La oscilación es tan previsible que resulta difícil adjudicarle buena fe a las declaraciones del escritor peruano, de que no se consideraba parte del identikit del Nobel, por sus supuestas “posiciones incómodas”. Es bien sabido que también la incomodidad, en sus varias versiones, ya es una cuota que se reparte salomónicamente en Estocolmo. Ahora le toca el premio al gran portavoz de la derecha neoliberal, quizás el último escritor latinoamericano de alguna importancia a mantener la creencia en la redención por las letras, en lo literario como instrumento de ilustración y modernización de la cultura.

Lo mejor de la obra de Vargas Llosa — sin duda, sus cuentos y novelas juveniles — es una lograda autopsia de una masculinidad en ruinas. Tanto en la novela La ciudad y los perros como en los cuentos de Los jefes se instala el drama del Bildungsroman en suspenso, interrumpido, incapaz de trascender la circularidad de los ritos adolescentes de iniciación. El tema de Vargas Llosa no dejará de ser éste, aunque la “maduración” del escritor pondrá en escena el traslado de esa lógica adolescente al campo de la política.

Vargas Llosa aún produce dos magníficas obras en los sesentas, La casa verde y Conversación en la catedral. Ambas, especialmente la primera, son hitos en la incorporación de las técnicas de vanguardia a la novelística latinoamericana: el monólogo interior, la multiplicidad de voces y registros narrativos, la quiebra de la linealidad temporal. Vargas Llosa sería uno de los más eufóricos en el gesto que caracterizaría el boom de los años sesentas, a saber, la asociación entre dichas técnicas y una presunta puesta al día de la literatura latinoamericana, proceso al cual algunos llegarían a atribuir un potencial redentor, sustitutivo de nuestro retraso social y económico.

Algo ya se notaba en La guerra del fin del mundo, uno de los pocos relatos genuinamente reaccionarios sobre Canudos, pero cuando Vargas Llosa escribe Historia de Mayta, su obra ya es pura ideología. El proceso coincide con la consolidación de su convicción de que la “ideología” sería siempre un atributo perteneciente a los demás. Dicha mistificación toma aquí la forma de un binarismo entre la ilustración y el retraso, la democracia y el populismo, el progreso y el chavismo. Aparentemente sin advertir que estos binarismos son la encarnación esencial de la ideología en nuestros tiempos, Vargas Llosa ya los utilizara para, como crítico normalizador, domesticar la obra de José María Arguedas en un estudio. Si se pudiera hablar de una verdadera incomodidad a estas alturas, ella sería la (no) relación de Vargas Llosa con el vasto mundo que la obra de Arguedas representa y significa, éste sí, un mundo de alguna exterioridad incapturable por la industria de los premios.

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A capa de Veja desta semana e da próxima / Serra e Lula constituintes

Neste domingo ensolarado de todos em Cristo, aproveitamos para mostrar a belíssma capa da revista Veja publicada ontem. Sugerimos que você não vire o monitor, mas fique na posição natural de ponta-cabeça.

Agora, com exclusividade, antecipamos a capa da próxima semana:

Serra disse em seu programa que foi o melhor deputado Constituinte. Achei estranho, tinha outra lembrança. Vejamos a abaixo:

Compare com a avaliação de Lula.

Meu Deus, é tudo tão estranho…

Fonte: Diap.

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Dmitri Shostakovich (II)

Passei minha vida não como um extático, mas como um trabalhador comum. Trabalhei muito desde menino.

SHOSTAKOVICH

Hoje, começo a escrever sucintamente sobre aquilo que, em minha opinião, Shostakovich produziu de melhor. Não sou músico, não leio partituras, mas tenho grande vivência como ouvinte de muitos compositores, maior até do que a da maioria dos músicos. Ouço muita música, talvez demais.

Sinfonia Nº 1, Op. 10 (1924-1925)

Shostakovich começou a escrever esta sinfonia quando tinha dezessete anos. Antes disso, tinha composto alguns scherzi que só interessaram à musicólogos. Sua estréia foi mesmo com esta Nº 1, terminada antes do autor completar vinte anos. Ela tornou aquele estudante de música, mais conhecido por ser o pianista-improvisador de três cinemas mudos de Petrogrado, internacionalmente célebre. Tal fama pode ser atribuída por Shostakovich ser o primeiro rebento musical do comunismo, mas ouvindo a sinfonia hoje, não nos decepcionamos de modo algum. É música de um futuro mestre.

Ela começa com um toque de trompete ao qual, se acrescentarmos um crescendo, tornar-se-á um tema de Petrouchka, de Igor Stravinsky. Alguns regentes russos fazem esta introdução exatamemente igual à Petroushka. É algo curioso que o jovem Dmitri tenha feito esta homenagem, quando dizia que seus modelos — e isto foi comprovadíssimo logo adiante — eram Mahler, Bach, Beethoven e Mussorgski. Mas há mesmo algo de “boneca triste” no primeiro movimento desta sinfonia. O segundo movimento possui um curioso tema árabe, que é a primeira grande paródia encontrada em sua obra. Um achado.

O movimento lento, muito triste, é daqueles que os anticomunistas mais truculentos considerariam uma comprovação do sofrimento do compositor sob o comunismo e de uma postura fatalista do tipo isto-não-vai-dar-nada-certo, porém acreditamos que a morte de seu pai, ocorrida alguns meses antes e a internação de Dmitri num sanatório da Criméia (ele contraíra tuberculose) tenha mais a ver. Há um belíssimo solo funéreo de oboé nele.

Concerto para Piano, Trompete e Cordas, Op. 35 (1933)

Shostakovich foi excelente pianista. Poderia ter feito carreira como virtuose, mas, para nossa sorte, escolheu compor. Foi o vencedor do internacional Concurso Chopin de 1927 e fazia apresentações regulares executando seus trabalhos. O pequeno número de gravações do próprio compositor como pianista talvez deva-se ao fato de ele ter perdido parcialmente os movimentos de sua mão direita ao final dos anos sessenta. Há registros no YouTube de Shostakovich tocando como um velocista o Finale deste concerto.

Trata-se de uma obra realmente espetacular. Era uma boa época para os concertos para piano. O de Ravel aparecera um ano antes, assim como o 5º de Prokofiev. É coincidente que os três sejam alegres, luminosos, divertidos mesmo. É formado de quatro movimentos, sendo o primeiro muito melodioso e gentil, os dois centrais lentos e o último capaz de provocar gargalhadas. A participação de um trompetista meio espalhafatoso é fundamental, assim como de um pianista que possa fazer rapidamente a conversão entre a música de cabaré e a música militar exigidas no último movimento. Uma vez, assistindo a uma apresentação, vi como as pessoas sorriam durante a audição deste movimento. Não há pontos baixos neste maravilhoso concerto, que ainda traz, em seu segundo movimento, um lindíssimo solo para trompete, além de uma cadenza esplêndida, de ecos beethovenianos.

Shostakovich foi o pianista de sua estréia, em 1933, na cidade de Leningrado.

Jazz Suite Nº 1, Op. 38B (1934) e Nº 2 (for Variety Stage Orchestra), Op. 50B (1938)

Em um famoso conto de Machado de Assis, Um Homem Célebre, havia um grande compositor de polcas, o Pestana, que queria fazer algo maior, grandioso, mas — que diabo! — só lhe saíam mais polcas. O que fazer? O personagem fazia o maior esforço, passava meses trancado em casa a fim de parir a grande obra, porém não produzia nada além de belas polcas, que logo se tornavam popularíssimas e eram assobiadas pelo povo nas ruas, para desespero do Pestana. Estas eram compostas copiosa e rapidamente. Acabou rico, infeliz e doente. Coitado.

Com Shostakovitch o caso é diferente. Compôs copiosamente obras-primas, tem obra profunda e numerosa, mas, um belo dia, resolveu escrever suítes para grupos de jazz. Vocês podem adivinhar o que aconteceu? Saíram apenas… polcas. Polcas e valsas. O timbre é o do jazz – não poderia ser diferente com aquela formação orquestral — , já a música são as polcas do personagem machadiano. Ah, vocês não acreditam? Então ouçam as obras acima. Não obstante, é muito bom. Há a espetacular Valsa 2 da Suíte Nro. 2, que foi utilizada por Stanley Kubrick na abertura de De Olhos bem Fechados, com um ritmo e um solo de sax que nos obriga a levantar e ensaiar uns passinhos pela sala; há várias polquinhas bem legais e há uma imitação de Duke Ellington — o Foxtrot (Blues) da Suíte Nº 1 — que dá para rolar de rir. O “Grande Projeto Falhado” do imortal Shosta é muito bom.

Sonata para Violoncelo e Piano, Op. 40 (1934)

A Sonata em Ré Menor Op. 40 foi composta em 1934, no período em que Shostakovitch apaixonara-se por uma jovem estudante, o que ocasionou um efêmero divórcio de sua esposa Nina. O compositor dedicou esta sonata ao violoncelista Victor Lubatski e ambos a estrearam em Moscou, no dia 25 de dezembro de 1934.

O primeiro movimento (Allegro non troppo) é escrito em forma sonata. O primeiro tema, bastante extenso, é apresentado pelo violoncelo, acompanhado por arpeggios do piano e depois desenvolvido por este até seu clímax; o segundo tema, muito mais delicado, é, contrariamente, apresentado pelo piano e imitado pelo violoncelo. Durante o desenvolvimento o primeiro tema ganha motivos rítmicos, mas logo o afetuoso segundo tema reaparece. Tudo parece em ordem, encaminhando-se para o final do movimento, mas Shostakovitch nos surpreende ao inserir alguns acordes em staccato do piano, acompanhados por notas sustentadas pelo violoncelo, o que faz com que a música torne-se quase estática. É uma estranha preparação para o que se ouvirá no segundo movimento (Allegro) o qual é um scherzo típico de Shostakovitch. Trata-se de um frenético ostinato que é interrompido por um tema apresentado pelo piano que, apesar de mais tranqüilo, é também muito pouco contemplativo. O terceiro movimento (Largo) faz-lhe intenso contraste, pois é uma melodia tranqüila e vocal, acompanhada pelo piano de forma introspectiva, dissonante e um tanto fúnebre. O Allegro final é um rondó bastante irônico no qual o tema principal é apresentado três vezes, ligados, a cada intervalo, por estranhas e vertiginosas cadenzas.

Sinfonia Nº 4, Op. 43 (1936)

Uma sinfonia decididamente mahleriana. Shostakovich estudara Mahler por vários anos e aqui estão ecos monumentais destes estudos. Sim, monumentais. Uma orquestra imensa, uma música com grandes contrastes e um tratamento de câmara em muitos episódios rarefeitos: Mahler. O maior mérito desta sinfonia é seu poderoso primeiro movimento, que é transformação constante de dois temas principais em que o compositor austríaco é trazido para as marchas de outubro, porém, minha preferência vai para o também mahleriano scherzo central. Ali, Shostakovich realiza uma curiosa mistura entre o tema introdutório da quinta sinfonia de Beethoven e o desenvolve como se fosse a sinfonia “Ressurreição”, Nº 2, de Mahler. Uma alegria para quem gosta de apontar estes diálogos. O final é um “sanduíche”. O bizarro tema ritmado central é envolvido por dois scherzi algo agressivos e ainda por uma música de réquiem. As explicações são muitas e aqui o referencial político parece ser mesmo o mais correto para quem, como Shostakovich, considerava que a URSS viera das mortes da revolução de outubro e estava se dirigindo para as mortes da próxima guerra.

Sinfonia Nº 5, Op. 47 (1937)

Esta é a obra mais popular de Dmitri Shostakovich. Recebeu incontáveis gravações e não é para menos. O público costuma torcer o nariz para obras mais modernas e aqui o compositor retorna no tempo para compor uma grande sinfonia ao estilo do século XIX. Sim, é em ré menor e possui quatro movimentos, tendo bem no meio, um scherzo composto por um Haydn mais parrudo. Mesmo para os aficcionados, é uma obra apetitosa, por transformar a linguagem do compositor em algo mais sonhador do que o habitual. Foi a primeira sinfonia de Shostakovich que ouvi. Meu pai, um romântico, apresentou-me a sinfonia dizendo que muito melhor que as de Prokofiev, exceção feita à Nº 1, Clássica, que ele amava. Alguns consideram esta obra uma grande paródia; eu a vejo como uma homenagem ao glorioso passado sinfônico do século anterior. A abertura e a coda do último movimento (Allegro non troppo) costuma aparecer, com boa freqüência, em programas de rádio que se querem sérios e influentes… Apesar de não ser típica, é absoluta e totalmente a sintaxe, o discurso e o sotaque do compositor. É a música ideal para o primeiro contato com Shostakovich.

Sinfonia Nº 6, Op. 54 (1939)

Uma perfeição esta sinfonia cujo dramático, concentrado e lírico primeiro movimento (um enorme Largo) é seguido por dois allegros, sendo o último pra lá de burlesco e circense (Presto). A estrutura estranha e inexplicável tem o efeito, ao menos em mim, de uma compulsão por ouvi-la e reouvi-la. Acho que volto sempre a ela com a finalidade de conferir se o primeiro movimento é mesmo tão perfeito e profundo e para buscar uma explicação para a galinhagem final — isto aqui não é uma tese acadêmica, daí a palavra “galinhagem” ser permitida… Nossa sorte é que existe aquele segundo Allegro central para tornar a passagem menos chocante. Esta belíssima obra talvez faça a alegria de qualquer maníaco-depressivo. É uma trilha sonora perfeita para quem sai das trevas para um humor primaveril em trinta minutos — ou menos. Começa estática e intelectual para terminar num circo. Simplesmente amo esta música! É um pacote completo de desespero, sorrisos e gargalhadas.

Bibliografia: quase tudo de memória, apoiado por algumas capas de CD.

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Serra e Dilma sabem da necessidade de descriminalizar o aborto, porém…

… é complicado.

As pedras das ruas não desconhecem que Dilma Rousseff manifestou-se a favor do aborto, assim como sabem que tal “crime de opinião” terá de ser revisto, pois seu partido não ignora e as pesquisas indicam que este “feio posicionamento” leva à perda de votos junto às igreja católica e evangélicas. E assim, um problema de sáude pública fica na dependência das, desculpem, sandices religiosas.

As pedras das ruas não desconhecem que José Serra foi ministro da saúde e sabe das estatísticas de mais de um milhão de abortos clandestinos praticados no Brasil todos os anos. Também sabe do elevado número de mortes, sobretudo de mulheres jovens, secundárias a esses abortos. E que ele, quando ministro, sistematizou uma série de condições que minorassem o problema, autorizando certos abortos. Apesar disto, José Serra teme perder votos e fica na dependência das, desculpem, sandices das religiões.

A prova está em todas as partes, mas vou escolher uma fonte serrista que indica que ambos pensam que o aborto é assunto de saúde pública.

O fato da religião influenciar tanto em assuntos que deveriam ser discutidos também e principalmente por outras esferas de poder, descaracteriza inteiramente o estado laico. Na verdade, estamos vivendo uma espécie de fundamentalismo passageiro, onde a aspiração aos votos dos crentes sobrepõe-se à razão e a fatos conhecidos por ambos os candidatos. Na prática, o belo estado laico de nossa Constituição volatiliza-se num país fundamentalista, submetendo-se facilmente à religião. Lula também submeteu-se, todos fizeram isso. Há um medo fóbico de enfrentar os 80% de população vagamente católica e os 90% da população que diz professar uma religião.

Então, quando alguns blogueiros e articulistas tentam avançar nas discussões sobre ateísmo, somos normalmente recebidos a pedradas por outros ateístas que afirmam que cantar as maravilhas de ser ateu seria formar uma nova igreja… Por favor, se o negócio é ignorar  a possibilidade de uma vida e de um estado sem deus, não reclamemos e Dilma e Serra. E amém, rapaziada.

E a apresentadora e vereadora Soninha Francine, apoiadora de Serra …

… confessou já ter feito aborto.

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Vargas Llosa recebe o Nobel 2010

Publicado no Sul21

O prêmio Nobel de Literatura de 2010, divulgado nesta quinta-feira (7) às 8h, foi para o escritor peruano Mario Vargas Llosa, pela “cartografia das estruturas do poder e suas afiadas imagens da resistência, rebelião e derrota.”

Após premiar um amigo de Fidel, Gabriel García Márquez, e os comunistas Pablo Neruda e José Saramago, todos escritores próximos ao Brasil, chegou a vez do liberal. Vargas Llosa, 74 anos, também guarda relações próximas ao Brasil, tanto que escreveu a notável narrativa épica A Guerra do Fim do Mundo sobre Canudos, inspirado pela obra de Euclides da Cunha.

O Nobel de Literatura é escolhido pelos membros da academia sueca e dá um prêmio de aproximadamente R$ 3 milhões, entregue em dezembro. Durante o processo de escolha, os membros da academia enviam questionamentos a centenas de autores, críticos e professores, com a finalidade de chegar aos candidatos. De uma lista inicial de 250 nomes, em cortes sucessivos, se chega a um segundo grupo, com 15 a 20 e, num terceiro, a cinco nomes. Os membros da academia leem as obras dos candidatos e discutem sobre quem deve ser o vencedor. Um pouco antes do anúncio, os membros da academia avisam o vencedor através de um prosaico telefonema. A premiação do Nobel de Literatura costumava prestar-se a homenagens e distorções geopolíticas. Nos últimos anos, esta prática foi abandonada.

Não obstante o sucesso e os indiscutíveis méritos literários de livros como Batismo de Fogo (1963), Conversa na Catedral (1969) — considerada sua maior obra –, Pantaleão e as visitadoras (1973), Tia Júlia e o escrevinhador (1977), do citado A Guerra do Fim do Mundo (1981), Historia de Mayta (1984) e Quem matou Palomino Molero? (1986), Vargas Llosa enveredou pela política e pelo jornalismo nos anos 90. Casualmente ou não, sua ficção começou a perder força e seus últimos livros não receberam a acolhida dos primeiros.

Na política, o escritor tentou inverter a ordem natural das coisas e começou pelo fim: em 1990 concorreu logo à presidência do Peru pela Frente Democrata (FREDEMO), partido de centro-direita, mas perdeu a eleição para Alberto Fujimori. Naqueles anos, perdeu também a originalidade de sua literatura.

Fascinado pelo estilo clássico de Flaubert — a quem dedicou um ensaio e inúmeros artigos e referências — , após os anos 80 Vargas Llosa continuou escrevendo bons livros, mas a centelha ficou perdida em algum lugar. De sua produção mais recente, o principal é o respeitável grupo de ensaios literários, afora, é claro, suas célebres e virulentas polêmicas com García Márquez.

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Bispo Edir Macedo defende o aborto

“Eu sou a favor do aborto e do planejamento familiar, é uma questão de inteligência”. Por este apoio eu não esperava. Agora embolou de vez o meio de campo. Não há unidade nem entre os evangélicos.

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Como diria O Lobo da Estepe …

… — livro muito lido em tempos antediluvianos — , essa é só para loucos (ou colorados doidos varridos) se emocionarem: A Chamada para Abu Dhabi.

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As grosserias e a liberdade de dois ratos (après Cloaca News)

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De longe a melhor foto da campanha

Não, como essa não há, é o mais puro rock and roll. Plínio bateu a todos em alguns pontos e agora bate também no quesito foto.

Publicada no blog de Juca Kfouri e apresentada a mim por Igor Natusch.

Aqui, excelentes fotos do final das campanhas gaúchas.

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Como Kubrick deixou popular uma obscura obra de Shostakovich

Não é uma obra típica de Shostakovich, é tranquila e nada complexa ou raivosa ou sarcástica. Uma melodia simples que estava lá, quieta no meio de uma Suíte secundária, uma brincadeira como tantas que russo deixou por aí e que ninguém ouve. Mas Stanley Kubrick costumava encontrar obras perfeitas para ornamentar suas cenas perfeitas. E como! A simples abertura de Eyes Wide Shut (De Olhos bem Fechados), serviu para popularizar uma pequena e desimportante obra do grande russo. É claro que Shosta ficaria riria se pudesse ver todos os filmes abaixo e mais as outras dezenas que há no YouTube. Então, com vocês, a Valsa II da Suíte for Jazz Variety Orchestra, de Dmitri Shostakovich, em várias versões.

No filme de Kubrick:

Numa propaganda da Blockbuster:

No metrô de Paris:

Na interpretação (com improvisações e belos erros) de uma menininha:

E para servir de fundo a filmes de gosto pra lá de duvidoso:

Bom domingo a todos. Que Dilma e Tarso (no RS) acabem logo com isso.

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Dmitri Shostakovich (I)

Pois hoje é o Dia Mundial da Música! Então inicio uma série sobre Dmitri Shostakovich que publicarei a cada sexta-feira, OK?

A música pode ser amarga, jamais pode ser cínica.

DMITRI SHOSTAKOVICH


Muitíssimas vezes, quando ouvimos Shostakovich (1906-1975), sentimos certa estranheza, notamos intenções ou um torna-se palpável uma enorma revolta e desconforto. Percebe-se que o drama e os contrastes apresentados referem-se a acontecimentos externos, sejam de ordem pessoal ou não. Em contato com essas obras firmemente assentadas sobre os ombros de Bach, Beethoven, Mahler, Tchaikovsky e Mussorgsky, somos, de alguma forma muito particular, solicitados a conhecer mais das circunstâncias em que foram compostas e da vida pessoal do compositor. Isto já pode ser notado desde a sua Sinfonia Nro. 1, composta antes dos vinte anos e que o deixou célebre internacionalmente antes mesmo de finalizar seus estudos.

Vamos começar esta série pela parte mais difícil: as relações do músico com o poder. Aqui há três pontos importantes para a compreensão de Shostakovich. O Ocidente costuma simplificar os fatos conferindo ao autor a condição simples de mártir e dissidente do regime. Tais “enganos” datam dos tempos da guerra fria e persistem até hoje. Aqui, procurarei equilibrar as coisas através de leituras mais recentes que fiz. Procurarei expor os fatos políticos e tomarei partido apenas da obra do compositor, a qual amo apaixonadamente.

O Comunista: Shostakovich foi, certamente, um comunista sincero, não obstante suas divergências com uma doutrina oficial que nem sempre seguiu um caminho retilíneo. Sem seu engajamento nítido em favor dos princípios originais que criaram a União Soviética, seria impossível inventar o sopro lírico e épico que atravessa algumas de suas composições. Mas há o verdadeiro e o forçado, ou o espontâneo e a encomenda, ou a alegria e  o sarcasmo. A segunda de suas sinfonias (A Revolução de Outubro, de 1927), apesar de fraca, pertence às obras autênticas, já a décima-segunda (À Memória de Lênin, de 1961) parece ter sido obra de um autor amargo, sarcástico e que  estava mandando provisoriamente sua obra às favas.  No início de sua carreira de compositor, Shoatakovich tinha aquele entusiasmo que foi próprio de uma geração de criadores que — como Eisenstein e Maiakovski — , em determinado momento, acreditou ser para amanhã o paraíso terrestre, antes de renunciarem a suas esperanças, às vezes de forma trágica. Não obstante o que era dito durante a Guerra Fria, Shostakovich não estava preso à União Soviética e teve inúmeras oportunidades de fugir. Quando sua doença começou a prejudicá-lo como intérprete, ele estava fora do país, também esteve algumas vezes com Britten na Inglaterra … Ou seja, Shostakovich teve numerosas oportunidades que o compositor teve para emigrar – não o fazendo nunca. Houve declarações anti-soviéticas? Mas é claro, ele foi massacrado por Stálin e depois, mas nunca foi o dissidente típico. Seus problemas eram relativos às arbitrariedades dos dirigentes do país e não com aquilo que a imprensa ocidental desejava.

A Morte: Após a doença, Shostakovich era obcecado pela idéia da morte. Não devemos colocar toda a sua psicologia na conta do geopolítico. Ele possuía muito daqueles niilistas russos do século XIX, tão bem retratados nos romances de Dostoiévski. Há algo de Kirilov nele… Confundir isso com as torturas morais causadas pelos comissários políticos soviéticos é aplainar a grandiosa obra do compositor e é fatal para quem queira compreendê-lo. Obras como o Trio Nº. 2, Op. 67, de 1944, a Sonata para viola e piano, Op. 147, de 1975 ou a Sinfonia Nº 15, de 1974, todas com suas “Canções da Morte”, são inequívocas, assim como a Sinfonia Nº 14. As trevas sem fim que emanam destas composições e a melancolia por vezes desesperada só podem surgir de uma personalidade permeável a pensamentos macabros. Porém, até hoje, costuma-se esquecer demais da história pessoal de Shostakovich e colocar todos os seus momentos de depressão numa conta do geopolítico…

O Artista: como os verdadeiros artistas e, principalmente, os músicos, Shostakovich pensava que o estatuto particular de sua arte desobrigava-o a seguir palavras de ordem como aquelas que eram impostas aos operários, aos mineiros ou aos camponeses da União Soviética. Sob este aspecto, era ele quem enganava-se. Os sucessivos dirigentes jamais esqueceram de intervir diretamente nas orientações estéticas a serem seguidas por pintores, escritores, cineastas e… músicos. Sempre esteve fora das cogitações governamentais a existência de uma vanguarda artística na União Soviética, pelo menos depois da morte de Lênin.

Shostakovich sofreu gravemente três vezes os efeitos de restrições a seus trabalhos. 1936 pode ter sido um ano péssimo para ele, porém, em minha opinião, os detalhes jocosos da primeira proibição superam em muito o que ela tem de funesto para sua carreira. Ele havia composto sua segunda e última ópera — a primeira fora O Nariz, baseada no conto de Gógol — quando Stálin foi assisti-la. Lady Macbeth de Mtsensk — baseada na esplêndida novela de Nikolai Leskov e só encontrável em espanhol (recomendo a leitura) — conta como uma mulher se tornou assassina por amor e demonstra que, se ela foi levada a cometer crimes, a causa estava no comportamento odioso de suas vítimas, na realidade autênticos carrascos. Sim, uma distorção pero no mucho do Macbeth original. Stálin, que era um grande apreciador de óperas e ouvinte de música erudita, detestou-a. Mostrou-se chocado com o erotismo de certas cenas, com a complicada escrita vocal, com o uso brincalhão e extravagante dos instrumentos e o ritmo esbaforido da música. Chamou Lady Macbeth de “pornofonia” — termo surpreendente em qualquer época — e baniu-a de todos os teatros soviéticos. Foi preciso esperar 27 anos para retornar à cena e, ainda assim, com a supressão do episódio orquestral que descrevia uma cena de sexo… É curioso que as eructações, flatulências e gargarejos de O Nariz nunca tenham sido alvo de censuras. Talvez Gógol imponha mais respeito que Leskov…

A segunda vez que Shostakovich entrou no index ocorreu independentemente de qualquer obra. Logo após a notoriedade internacional da Sinfonia Nº 7 — que descreve com pungência inalcançável o sofrimento passado pelo povo soviético durante o cerco de Leningrado — foi baixada uma resolução do Comitê Central do Partido Comunista Soviético que depois foi conhecida por “Relatório Jdanov”. Isto ocorreu em 10 de fevereiro de 1948 e colocou no mesmo saco Prokofiev, Khatchaturian, Shostakovich e quase todos os artistas do país. Shostakovich foi o mais atingido, pois negara-se a fazer de sua Sinfonia Nº 9 um elogio a Stálin e ao Exército Vermelho, publicando em seu lugar uma piada musical, que foi recebida com alegria e aplausos no Ocidente, tendo em Leonard Bernstein seu maior divulgador. O que Bernstein só soube depois é que a nona sinfonia deixara Stálin novamente furibundo com Shostakovich, ao ver suas ordens desobedecidas. Como resultado, suas peças sumiram do repertório.

Mas ele seguiu produzindo e, quando Stalin morreu, em 1953, Shostakovich tinha as gavetas lotadas de novidades. Havia, inclusive uma vingança contra o ditador.

O terceiro e maior desentendimento aconteceu em 1962. Neste ano, aparecia a Sinfonia Nro. 13, para solo de baixo, coro masculino e orquestra. Os textos cantados vinham do poema Babi Yar, de Evgueni Ievtuchenko e, em lugar de cantar o porvir, o poema denunciava os crimes nazistas cometidos naquela cidade perto de Kiev, onde 34 mil judeus foram assassinados. Denunciar os crimes nazistas não seria problema, mas o poema de Ievtuchenko fala sobre como os soviéticos insistiam em considerar russos e ucranianos os mortos, em vez de judeus. É claro que o motivo de suas mortes era a etnia judaica e não outro. É claro, que aquele foi um episódio meio obscuro, onde há indícios de colaboração. Ele e Ievtuchenko, celebridades internacionais, foram fortemente repreendidos pelas autoridades, que exigiram a substituição completa dos textos, sob pena de a música não vir a ser executada. A Sinfonia nunca foi alterada.

Bibliografia: grande parte das informações históricas foram obtidas em incontáveis discos, CDs e outras publicações, mas foram  um pouco sistematizadas pela leitura do texto de Philippe Olivier, dentro da História da Música Ocidental, Nova Fronteira, 1997, assim como de Shostakovich – Vida, Música, Tempo, de Lauro Machado Coelho, Perpectiva, 2006.

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