Bom dia, Guto (com o Mauro da Ladeira os curiosos lances de Inter 1 x 0 Luverdense)

Bem, Guto, eu fui ao Beira-Rio com um dos gremistas mais chatos de Porto Alegre, um daqueles dotados de natural talento para lembrar minuciosamente tudo o que de ruim e ridículo temos feito. O mais bem acabado dos trolls. No ano passado, quando estávamos para cair, ele, o Mauro da Ladeira Livros, me falava na maravilha que seria o jogo entre Inter x Luverdense. Mandava-me fotos da cidade, detalhes de como chegar lá, explicava-me detalhes de Lucas do Rio Verde e do Brasil Profundo, etc. Para silenciá-lo, disse que ele era meu convidado para ver a inesquecível partida que iria para os anais (sim, em duplo sentido) colorados. É claro que ele aceitou. Fomos ver a partida com sua filha de 15 anos, Ingrid, que é… coloradíssima.

Perguntaram-me se ele se comportou bem. Olha, parecia mais um colorado desesperado com a ruindade do time. Quando errávamos um passe dentre as dezenas que entregamos para o adversário, ele abria os braços, lamentando o fato. Porém, se houvesse uma câmara de frente para ele, ela captaria um misto entre o lamento e o sorriso de quem constata deliciado: “Eu não sabia que o Inter era tão bosta”. Ele parecia torcedor acostumado a coisas como toque de bola, rapidez, cobertura, bons passes e chutes, sincronia de movimentação e, bem…

Mauro Scheuer, a alma da Ladeira Livros -- porque quem trabalha é a Ana Vilk -- e este que vos escreve
Mauro Scheuer, a alma da Ladeira Livros — porque quem trabalha é a Ana Vilk –, e este que vos escreve

Porque, Guto, que merda. Com D`Alessandro dodói no banco de reservas, faltava a pouca armação que temos. E eu lembrava do levantamento que o Alexandre Perin fizera ontem à tarde, demonstrando quantos meias foram deixados disponíveis para ti por esta direção. Considerem que Juan é um menino e que Camilo ainda nem assinou contrato:

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Isso, acertaram, não tínhamos nenhum meia-armador em campo. E mesmo assim perdíamos gols aos montes, dada a fraqueza do Luverdense. O próprio Mauro estava pasmo: “Mas não entra!”. E ria, feliz. Claro que nós merecíamos a vitória — conceito do qual discordo –, mas aquele gol no final foi algo que nunca vi em 50 anos de futebol. O bandeira deu um impedimento passivo, ergueu a bandeira, deu-se conta do erro e fez ainda mais gestos para indicar que o jogo deveria seguir, enganando a defesa do Luverdense que ficou pensando “mas como ele é veemente para marcar um impedimento”. O Inter seguiu e fez o gol sem goleiro nem nada. Eu dava gaitadas, o Mauro dizia “nunca vi disso”. E não tinha visto mesmo, porque só o Inter ainda redefine o esporte bretão, prodigalizando prazeres inéditos num futebol tomado pelo profissionalismo e pela seriedade.

Agora ele acaba de comentar no Facebook:

Fui no belo estádio do Inter, moderno, com um frio aconchegante. A pouca gente presente garantiu um acesso e saída rápidas do estádio. Pude exercitar o pouco que me resta de compaixão cristã. O sofrimento dos colorados era de deixar qualquer um com coração partido, ainda mais que não se via solução para o show de ruindade em campo. Fui com um amigo o Milton Ribeiro que tentou o jogo inteiro conter o seu desespero, mas ele é calejado, o pior foi ver minha filha uma coloradaça, no começo com grande esperança, cantava junto com os poucos que se atreviam a isso, mas a alegria inicial se transformou em desesperança e tristeza com o seu amado Internacional… O lance final coroou a noite, sim jogo ruim, noite fria, o gol saindo de uma lambança, quase uma piada pronta. Agradeço ao Milton pela oportunidade única de assistir a um jogo no estádio com minha filha e ainda exercitar o que me restou de compaixão com o próximo. PS: Continuem jogando assim…

Compaixão… Tá bom, seu puto. Ele disse que todo mundo tem o print daquela declaração que fiz no Facebook de que o Inter lideraria de ponta a ponta a Série B porque era uma barbada. OK, errei feio a primeira parte, mas que é uma barbada é. Basta jogar um mínimo de futebol, seu P… Guto.

Sobre o jogo, tenho pouco a dizer. Jogamos muito mal — era para tocar 3 x 0 no primeiro tempo, sem forçar –, a bola queima os pés de nossos nervosos e perturbados jogadores. Dourado e Edenílson foram os únicos a manter um pouco de lucidez e garra. Gutiérrez alterna jogadas prosaicas com outras piores. Diego erra tudo. Sério, tudo. Danilo Silva deveria ganhar um emprego na Ladeira Livros. Nico foi novamente mal. Pottker poderia render mais num time que jogasse futebol. Winck vai mais ou menos bem. Cuesta e Uendel também. Na verdade, o time é tão ruim que nem conseguimos espreitar a qualidade do teu trabalho, Guto. Mesmo assim, estamos em quinto lugar, bem na margem para entrar do Nirvana do G-4. Não sei como. Mas olhem a tabela, tá tudo embolado num novelo de incompetência.

Nosso próximo jogo é sem Edenílson contra o terrível Vila Nova, em Goiânia, às 16h30, atrapalhando a tarde. Acho que irei ao cinema.

(No título, evitei usar a expressão “melhores lances”. Seria falso.)

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  1. Hoje acordei cedinho e mais tranquilo. Sinto-me pronto para encarar a pior das intempéries. Ambição, resiliência e tolerância à frustração em equilíbrio. Essa campanha do Sport Club Internacional vale por mil livros de autoajuda. É a doma do ego.

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