Contos para futuro nenhum (IX)

RENATA PY (São Paulo/SP)

E os sonhos? Os sonhos a gente não controla, dizia Seu Zé. Era um homem que sempre devaneou esperança. Mas hoje não, acordou borocoxô, não quis nem comer. Disse apenas não desejar viver tanto para ver tamanha maluquice nesse mundão de meu Pai. Mirou pra longe da janela, ficou um tempo avantajado sem dizer uma única palavra. Comentaram até falta de lucidez. O pobre estava desacorçoado. Acontece com a realidade, ele desenterrou memórias que não gostaria. Tinha também consciência que não viveria para ver calamidade nenhuma findar. Sobre os sonhos? Roubaram, exclamou cansado.

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