Um competentíssimo thriller literário. Simplesmente delicioso. Vamos lá, sem spoilers e sem mais palavras em inglês.
A França é decididamente outro país e, assim como na Alemanha, tem programas de crítica literária na TV. Sim, e são muito vistos, pois muita gente lê livros nesses países. Na história do filme, um crítico de literatura perde tudo — programa na televisão, emprego, mulher, respeito — por duvidar da autoria de um livro de grande sucesso, atribuído a um pizzaiolo de quem ninguém tinha notícia de ter escrito uma linha sequer na vida.
O Mistério de Henri Pick foi adaptado do romance de David Foenkinos, que foi traduzido em vários idiomas. O filme começa com uma editora que encontra um extraordinário original em uma biblioteca de livros rejeitados por outros editores. A tal biblioteca é uma bizarrice, claro. E, jovem e ambiciosa, decide publicá-lo. O romance se torna um enorme sucesso.
A viúva do autor, Henri Pick, declara que seu falecido marido “nunca escreveu nada além de listas de compras”, mas que, afinal, não imaginava o que ele fazia tantas horas sozinho em determinado aposento da pizzaria. O que encontram no aposento? Ora, entre um monte de outros cacarecos, uma máquina de escrever. Suspeitando de uma farsa, o citado crítico literário decide investigar, com o esperado combate e inesperada ajuda da filha de Henri Pick. Ele quer descobrir quem escreveu o livro e desmontar a farsa que, como consequência, destruiu sua vida. Sua postura, é claro, vai contra a jovem editora responsável pela façanha de descobrir Pick.
O excelente Fabrice Luchini, no papel do crítico obcecado Jean-Michel Rouche, faz o papel principal.
Gostei demais do filme, do elenco, do suspense, da trilha. A trama é permanentemente surpreendente e interessante. Também são demonstradas a importância do marketing na literatura e as habilidades de certos críticos. O desenlace é daqueles bons e enganadores. Minha mulher, supercraque em descobrir quem é quem em filmes de suspense, errou. O autor não era quem ela pensava. Acontece, Elena.
O Mistério de Henri Pick está em cartaz no Guion Cinemas — convenhamos, a TV ou o computador de casa só devem ser utilizados quando vemos um filme pela segunda vez, né?
Este é um livro decididamente desprogramado. Escrito a quatro mãos, cada autor escrevia um capítulo e passava ao outro, que não podia mexer no que não era seu, apenas deveria dar seguimento à história. É claro que, em algo escrito desta forma, há viradas súbitas, momentos em que notamos pequenas sacanagens feitas um para o outro, mas também vemos as deixas. Ah, os autores também não deveriam conversar um com o outro a respeito do texto. E assim foi feito durante os 80 capítulos do livro.
Vanessa Silla parece gostar de tecnologia, então vamos lá. Como se fosse um caso de inteligência artificial, um autor vai aprendendo com o outro o que cada um deseja contar e as narrativas vão se aproximando até chegarem a um belíssimo final. Realmente, aqui temos um final bonito e raro. Que não será contado por mim, é claro.
Porém, durante a narrativa, acontecem coisas verdadeiramente inacreditáveis, malucas mesmo. Tudo começa na Casapueblo. O que é o local? Ora, a Casapueblo é uma espécie de casa-escultura que fica em numa bela encosta de Punta Ballena, a 15 minutos de carro de Punta Del Este, no alto de um morro. Obra do pintor e escultor uruguaio Carlos Páez Villaró, foi construída em pedra e é imensa e meio doida. Lá há um Club Hotel e é possível visitar o ateliê do artista, assim como salas que expõem e vendem obras de arte, etc. No final de tarde acontece a Cerimônia do Sol, quando são recitados poemas de Villaró. Sua arquitetura parece privilegiar o acaso ou o imprevisível, certamente.
Que coincidência, não?
Bem, como disse antes, tudo começa na Casapueblo. Depois, a coisa decola em vários sentidos. Vai para Roma, Tel-Aviv, Cisjordânia e acaba — sem spoilers de nossa parte — novamente na Casapueblo. A atividade profissional de Bartolomeu é altamente duvidosa. Já a de Sirena é quase o mesmo. E os autores dão vazão a várias e divertidas livres-associações. O estilo avoado de Silla me pareceu uma verdadeira tempestade emocional (um abraço, Bion!), já o do distraído Levitan é mais formal. Silla arrisca-se mais em seu fluxo de ideias, Levitan puxa mais o freio. Silla é a futurista, Levitan, o passadista. Mas eles se entendem e o resultado é que li o livro (Class, 169 páginas, R$ 40) em um dia, sinal de que grudou e agradou.
Eles estarão na Bamboletras na quinta-feira (01/08), às 19h, para um bate-papo sobre a experiência de escrever a quatro mãos, o livro, etc.
Transiberiana é um bom livro, mas deve ser encarado como a visão parcial de um brasileiro sobre o que ele pensava haver de ainda soviético na Rússia de 2015. Sou casado com uma bielorrussa muito inteligente, ligada e nada ufanista de seu país. Ou seja, sou casado com uma soviética. Pois bem, ela conseguiu discordar — para melhor ou pior — de quase tudo o que ele escreveu sobre o país. E ela saiu de lá fugindo da pobreza para se estabelecer com seu violino primeiramente na Amazonas Filarmônica, em Manaus, em 1999. Sabe bem o que é soviético e o que não é.
Porém, para mim, foi interessante ler o livro de um viajante brasileiro sobre aquelas paragens exóticas. Deu para aprender bastante sobre as sensações e atrações da viagem pela terceira mais longa ferrovia do mundo — as duas maiores também se utilizam de parte da Transiberiana. E também sobre as relações humanas naquela região do mundo. Sim, invejei o viajante e comi o livro rapidamente, com o maior interesse.
Mas preferia que ele tivesse ficado mais nas diferenças, na paisagem, nos acontecimentos da viagem e nos exotismos do que na parte política. As observações de Asnis sobre a política das regiões visitadas são bem simplistas e, nestes tempos de trevas bolsonaristas, tecer comparações — muitas vezes igualando nazismo e comunismo — é pecado capital.
Pois se é claro que Stálin era um psicopata que tornou a URSS uma ditadura sanguinária, há diferenças muito importantes entre nazismo e stalinismo.
Parêntese: lembro da patética Ana Maria Braga entrevistando Petkovic… Ele disse que não era tão ruim viver na Iugoslávia de Tito. Ana foi pra cima, perguntando se não era horrível não ter liberdade nem direito de voto e ouviu o sérvio dizer com calma que todo mundo tinha um emprego e ninguém passava fome. Fim do parêntese. Ou não. Além disso, a Revolução Russa trouxe importantes conquistas sociais. Para evitar novas revoltas de trabalhadores, criaram-se em todo o mundo as garantias de direitos mínimos à população como educação, alimentação e moradia. Não foi bondade do capitalismo… Lembram de como era antes, no século XIX?
Esse negócio de demonizar gratuitamente a esquerda pode ser moda no Brasil, mas nenhum historiador leva isso à sério. Deste modo, o singelo papo sobre a “falta de liberdade” constante no livro é muito guerra fria e isto meio que me tirou o tesão. Imagino a dificuldade de Asnis para confessar que as belas estações do metrô de Moscou foram construídas em 1935, 38, 43, 50, 52, 53… Ou seja, são estações construídas sob Stálin para a população da capital… Sim, a realidade é muito mais complexa do que qualquer simplismo tipo guerra fria. Mas esse meu papo de isentão é chato, né?
Bem, mesmo com restrições às interpretações do autor, o livro vale a pena. Gostei especialmente das descrições dos trens de seu funcionamento, dos contatos sociais estabelecidos durante a viagem e das partes da Mongólia e do Baical.
Erro de passe no meio de campo do Nacional, Patrick rouba a bola e avança até entregá-la na esquerda a Wellington Silva que costura lindamente para o meio e passa a Guerrero, que marca.
Isso é centroavante. O peruano teve duas chances — uma no primeiro tempo, outra no segundo — e marcou um gol.
Ontem à noite, Odair foi fundamental. Mudou de postura. Foi corajoso durante o jogo, não se intimidou com o estádio cheio e fez substituições que mostravam vontade de vencer. E venceu. Na verdade, o Odair medroso não foi a Montevidéu. Imaginem que tirou Rodrigo Lindoso para colocar Nonato, Nico para colocar Sóbis e D’Alessandro para colocar o ofensivo Wellington Silva. E foi um grande dia, não, Odair Hellmann?
Apesar de ter sido uma péssima noite para brasileiros. O Flamengo foi a Guayaquil e tomou de 2 a 0 do Emelec. Já o E o Athletico Paranaense recebeu o Boca Juniors e perdeu 1 a 0 no final do jogo.
Com a vitória, o Inter joga por empate no Beira-Rio, na próxima quarta-feira, para chegar às quartas de final da Libertadores.
O time não jogou bonito nem bem, jogou como se joga Libertadores, respondendo à marcação com marcação, pontapé com pontapé, chegada forte com chegada forte.
Numa linda entrevista concedida ao SporTV no início deste ano, Rafael Sóbis disse que a Libertadores era diferente de qualquer outro campeonato: o vencedor normalmente não é o melhor, mas quem sabe jogar melhor Libertadores. Ou seja, às vezes se ganha no grito e na coragem mesmo.
E ontem, a gente ganhou assim. E, como disse um narrador uruguaio ao narrar o gol de Guerrero aos 45 do segundo tempo: Todas las cosas que me ocurren no son apropiadas para los niños ecuchar… Sim, a Libertadores é cruel.
O único senão é manter Uendel no time. Ele é um furo atrás e uma inutilidade na frente. Como Natanael não impressiona, talvez devamos ter Bruno e Zeca nas laterais.
O Inter volta ao Brasileirão no sábado, contra o Ceará, provavelmente com time misto. Bem, os dois tempos finais do confronto serão disputados na próxima quarta-feira (31/07), no Beira-Rio, em confronto marcado para às 19h15.
Ao finalizar a leitura deste livro, fiquei com um sentimento de incompletude que não chegava a ser desagradável. As histórias são mais ou menos estruturadas como as de detetive, mas não tem aquele final explicativo. Bem, como o próprio título diz e a capa mostra, A Trilogia de Nova York divide-se em três novelas, Cidade de vidro, Fantasmas e O quarto fechado. Já escrevi que o estilo é o das histórias de detetives. Há sempre algo a ser desvendado, mas talvez você é quem deva escolher o final de cada uma delas. Há mistérios, escritores metidos a detetives, escritores famosos, escritores anônimos, jogos intrincados de intrigas, desaparecimentos e mortes. Há também confusões na identidade e no caráter de cada personagem, tudo isso pelas ruas de Nova York e um pouco por Paris.
O central aqui é o estilo, a construção dos personagens e a linguagem. É a elegância e a notável construção da intriga que nos faz grudar no livro. Isso vale muito mais do que o destino dos personagens descritos nas três histórias.
Em Cidade de vidro, há insistentes telefonemas para uma certa agência de detetives Auster. O sujeito do outro lado da linha procura por Paul Auster. Só que os telefonemas chegam ao apartamento de Daniel Quinn, um escritor de livros de detetives. Quinn escreve sob o pseudônimo de William Wilson (como vai você, Edgar Allan Poe?) e seu detetive chama-se Max Work. Leu bem? Pois é, e tudo vai se misturar. Aparentemente sem ter nada melhor para fazer, Quinn acaba mentindo que é Auster e, mesmo sem ter nenhuma experiência na função, parte para uma estranha investigação. Ele vai atrás de Stillman, um scholar doido varrido que anos antes mantivera seu filho Peter em cativeiro, fechado em um apartamento como um Kaspar Hauser moderno. No meio da história, Quinn conhece o próprio Auster, que tem uma bela esposa e um filho. Quinn perdera esposa e filho em um acidente. Ou seja, tudo é espelho.
Já em Fantasmas, Blue é contratado para seguir White a pedido de Black. Claro que há um Brown, um Gray e um Green na história que é a piorzinha das três boas novelas.
Na melhor, O quarto fechado, um autor de artigos sobre literatura recebe o espólio literário completo do inédito escritor Fanshawe, um talentoso amigo de infância que inesperadamente some às vésperas do nascimento do filho. Ele casa com a mulher do escritor, assume o filho e começa a publicação das obras de Fanshawe, que acaba famoso. Mas não pensem que tudo será um mar de rosas. O final extraordinariamente belo. E aberto.
Mas vejam bem: o narrador de O quarto fechado esbarra em Paris com um tal Peter Stillman — personagem de Cidade de vidro –, Fanshawe adotou o nome de Henry Dark, outro personagem da mesma novela; o mesmo Fanshawe tem um caderno vermelho decisivo e em Cidade de vidro há também um caderno vermelho. Já em Fantasmas, todo mundo têm cadernos. Ou seja, Auster abusa dos espelhamentos desde o primeiro momento e aumenta a dose na última novela.
Paul Auster é fascinado pelo acaso e pelas ficções populares de detetives. Ele dá a impressão de construir suas histórias sem saber exatamente para onde seus personagens vão levá-lo. Usa paralelismos e simetrias absolutamente intrigantes. E o que menos importa é o desfecho, o que interessa é a forma que com que tudo parece se dissolver.
Odair, foste brilhante enganando o Renato. Em vez de usar o esquema de dentro de casa, aplicaste o esquema das partidas de fora de casa! Vencias o primeiro tempo. Então, recuaste. O resto é o de sempre. A gente está há meses vendo tu recuares fora de casa para dar espaço ao adversário até ele empatar ou virar. Tu és o medroso burro, aquele que vence menos do que poderia.
Ah, se eu fosse o Sarrafiore, pediria para sair do clube. Ser reserva de Parede que era reserva no Ypiranga de Erechim é demais. Odair, eu ouvi tu dizeres na entrevista após o jogo que colocaste o Parede para dar velocidade ao lado direito… E deste. Parede perdia a bola e fazia bobagens velozmente. Tão velozmente que deveria ser entregador de pizzas.
Klaus e Parede não podem ser escalados. Esperto é aquele treinador do Ypiranga. E Klaus, aquele galalau de 2m que observou a cabeçada de Luan? Ele é zagueiro ou cientista?
Por outro lado, Cuesta foi disparado o melhor em campo.
Mas há mais Odair… Por que Sóbis foi retirado de onde estava (bem) para dar lugar a Pedro Lucas? Erraste em tudo, meu caro.
Mesmo com reservas era um jogo simples, para ganhar. Depois do primeiro tempo, era só fechar o caixão, mas tu quiseste argumentar com o moribundo assim como fizeste com o Vasco.
De qualquer maneira, o Grêmio deixa de ser o maior rival do Inter no sul do Brasil. Os empates chegam aos número de 134 contra 131 vitórias do dito imortal. O Inter venceu 156 jogos. Esse Empate é um adversário duríssimo!
Agora, tudo é Libertadores. Até porque só fazemos besteiras no Brasileiro. Na quarta (24), vamos a Montevidéu enfrentar o Nacional pelas oitavas de final da Libertadores. O Nacional é tão ruim quanto o Libertad, vamos ver o que o medo do Odair vai criar até quarta-feira. Pelo Brasileirão, o próximo jogo é contra o Ceará, sábado (27), no Gigante. No dia 31, haverá o jogo de volta contra o Nacional no Beira-Rio.
Li que na Noruega não apenas o AM foi extinto como o FM já foi substituído pela Web. Ou seja, eles já estão no pós-FM. No Brasil, as rádios usam bastante a Web e as redes sociais como forma de interação com os ouvintes. Acho tudo isso curioso — aqui, o rádio não está morrendo — e analisar este e aquele fato é bom material para TCCs e teses na área da comunicação.
Nasci em 1957 e cansei de ver meu pai nas ondas curtas, acompanhando o que acontecia em Buenos Aires em termos de tangos. Ele ouvia a Radio Rivadavia, que ainda existe. Também ouvíamos os principais jogos de Rio e São Paulo nas ondas curtas. Então, as vozes de narradores como Jorge Curi e Fiori Gigliotti costumavam invadir as peças do Ap. 11 do Nº 1891 da Av. João Pessoa em Porto Alegre. Quem ainda transmite em ondas curtas?
Quase ninguém, acho. Curi tinha uma voz imponente e era da Rádio Globo. À noite e quando caía a tarde a recepção das ondas curtas melhorava bastante e os jogos no Rio começavam eram às 17h. Bom. Lembro que meu pai oscilava entre o Vasco e o Botafogo do final dos anos 60. Como não lembrar daquele time sensacional com o meio-de-campo de Carlos Roberto e Gérson e o ataque com Rogério, Jairzinho, Roberto e Paulo Caju?
Mas de quem gostava mesmo era do palmeirense Fiori Gigliotti, que era da Rádio Bandeirantes de São Paulo. Meu pai era santista, eu, palmeirense. Desnecessário escrever aqui os nomes que orbitavam o Divino Ademir de Guia, todo mundo da minha geração sabe. E bastaria lembrar do meu time de botão.
Eu ligava o rádio sempre no começo do jogo. Fazia parte do ritual ouvir Fiori dizer Abrem-se as cortinas e começa o espetáculo. Quando ele ia dar o tempo decorrido de uma partida, vinha o bordão E o tempo paaaassa, torcida brasileira! Quando o goleiro tomava um gol era Agora não adianta chorar! Quando o gol era bonito, ele falava Uma beleeeeza de gol! E quando o jogo estava em aberto, encruado, brigado? Aguenta, coração! Havia também o Crepúsculo do jogo, que era finalizado com um Fecham-se as cortinas e termina o espetáculo!
Mas estes eram apenas os bordões. A narração de Fiori era verdadeiramente esparramada por adjetivos criativos. Seu vocabulário era respeitável e o curioso é que ele não apostava nada no humor e muito no lirismo. É isso: suas narrações eram líricas como até hoje fazem alguns jornais argentinos que tratam o futebol como se fosse um drama, uma ópera ou um tango. Ouvir Fiori era boa prosa e o menino que eu era ouvia tudo o que ele dizia com interesse muito maior do que o que tinha ao acompanhar os narradores gaúchos que descreviam as peripécias de um time muito mais interessante e enormemente digno de dramalhões: o desgraçado Inter dos anos 60.
Foi um jogão. Caminhei 5,5 Km de minha casa até o Beira-Rio a fim de aproveitar o ambiente e para manter alguma coisa parecida com forma física. O Beira-Rio estava lindo, mas não lotado. Começou o jogo e só dava Palmeiras, que parecia que ia nos cozinhar os 90 minutos. Mas logo passamos a dominar o jogo, empilhando chances de gol perdidas.
Weverton pegava tudo no gol do Palmeiras, enquanto Felipe Melo mandava no juiz. Não sofríamos com ataques perigosos do Palmeiras, só que não fazíamos gols até o momento em que Patrick acertou um chute que encobriu o bom goleiro palmeirense. 1 x 0 no final do primeiro tempo.
Na minha opinião, Patrick estava jogando mal, porém não pensem que vou reclamar dele. Aliás, os construtores da vitória foram D`Alessandro, Lindoso — a melhor contratação do Inter em 2019 — e Edenílson, além da dupla de zaga Moledo e Cuesta. (A propósito, Moledo ensinou a todos como Felipe Melo deve ser tratado).
Nico López foi obrigado a uma partida tática. Encheu o saco de Marcos Rocha de tal forma que o lateral do Palmeiras jamais criou jogadas pelo lado direito. Não fez nada pelo ataque do Inter, só incomodou e evitou que Rocha viesse junto com Dudu contra o fraco Uendel. Foi útil.
Aliás, os laterais. Uendel simplesmente não dá mais. Bruno foi um pouco melhor, mas seu futebol é apenas singelo. Acho que Heitor e Erik — e talvez Natanael — vão engolir não somente os dois como Zeca junto.
Mas estava 1 x 0 e o Inter iniciou o segundo tempo forçando o jogo, mas sem chutes a gol. Nico quase marcou em dois chutes após cruzamento da esquerda para que víssemos mais duas grandes defesas de Weverton.
Jogo fora de casa e Felipão pensou como o Odair quando fora do Beira-Rio… A minha defesa é intransponível, então vou esperar… Então tomou um gol e não soube o que fazer.
Então, veio o crime. Naquela pressão de final de jogo, de cruzamentos alucinados e sequências de escanteios, Cuesta marcou de cabeça. O argentino não é catimbeiro, jamais foi expulso, joga de terno e gravata, é leal e cabeceou com a habitual correção e tranquilidade. Só que Felipe Melo MANDOU o juiz olhar o VAR e a alguém lá de cima disse que Cuesta empurrara Felipe. O juiz, incrível, também viu o que não acontecera. Olha, não, ninguém nada nunca aconteceu falta.
Para pasmo e desespero nosso na arquibancada, o gol foi anulado. E fomos para os pênaltis.
Deu para sofrer? Sim, mas nunca estivemos atrás. Tivemos um match point nos pés de Patrick — estava 4 x 3 para nós e o Pantera fazia nossa 5ª cobrança. Porém, nervoso, ele chutou muito mal. E William empatou logo depois. Na primeira série de cobranças alternadas, Nonato marcou e Moisés chutou no travessão. Vitória!
Odair? Olha, ele foi bem, mas manteve Uendel. E não anula as numerosas cagadas em outros jogos. E por que o time joga tão mal fora de casa? Se temos que elogiar Odair, devemos também ressaltar nosso papel como torcedor. Contribuímos muito!
O Cruzeiro será o adversário na fase seguinte da Copa do Brasil, nos dias 7 e 14 de agosto, com os mandos de campo sendo definidos em sorteio na próxima segunda (22). Agora, tem Gre-Nal no Beira-Rio. Acho que vamos com os reservas, mas soy contra. Por mim, fingia que ia com os reservas mas botava titulares. Sem Dale porque temos que cuidar bem de nosso bom velhinho.
Ontem à noite, assistimos a uma pocket ópera que talvez tenha sido o mais estimulante, bonito, eufônico e engraçado espetáculo que vimos em 2019 em Porto Alegre. Com quatro das melhores vozes da cidade — por ordem alfabética, Daniel Germano, Elisa Lopes, Franciscco Amaral e Raquel Helen Fortes, com o pianista Daniel Benitz, todo mundo sob a direção de Flávio Leite –, vimos ‘O Empresário’, de Mozart. A opereta foi escrita para participar de uma competição musical, em 1786, no Palácio de Schönbrunn, em Viena. O tema era o mundo dos cantores líricos.
Deste modo, mini-ópera trata das confusões de um empresário às voltas com duas primadonas vaidosas, estressadas e enlouquecidas para obter papéis de destaque em uma produção musical. Ninguém mais apropriado do que Mozart para fazer um retrato fiel e pertinente do meio operístico. A ação, em sua parte falada, foi trazida para os dias de hoje em concepção do Flávio Leite. A música é de altíssima qualidade com árias muito difíceis que foram levadas com arrebatador virtuosismo por parte dos cantores. Uma delícia ver estes grandes cantores exercitarem um insuspeitado — e imenso — talento cômico. Divertimo-nos um monte!
Estive lá graças à Elena, que viu o anúncio e sentenciou: nisso aqui a gente tem que ir! Guardei lugar pra ela, que teve que sair correndo de uma aula que estava ministrando para chegar à tempo.
Rimos muito e estamos cantarolando as árias até agora.
“Estou grávida!”, diz Marianne (Laetitia Casta) ao namorado Abel (Louis Garrel), com quem vive. Ele sorri surpreso e ouve a mulher completar: “Mas o filho não é seu. É de Paul. Vamos nos casar. Seria bom se você pudesse tirar as coisas da casa até o fim do mês. Pode ser?”. Assim inicia Um Homem Fiel. Eles falam com calma, como se combinassem o que comprar no supermercado. O tal Paul, o pai, é o melhor amigo de Abel.
Nove anos depois, já viúva, Marianne volta para Abel. Porém, o que parece um recomeço logo se mostra bem mais complicado. O filho de Marianne é algo sinistro, imaginativo e manipulador. E o que teria realmente acontecido com Paul? Como morreu? Haveria a participação de Marianne na morte?
Como diretor de cinema, Louis Garrel mostra que compartilha os mesmos interesses de seu pai, Philippe Garrel, mas lhes dá tratamento totalmente diferente. Um Homem Fiel é uma história de amor em que um jovem faz parte de um triângulo amoroso sobre o qual não nenhum controle. No entanto, o filme tem mais elegância do que angústia, é mais blasé do que sofrido. E mistura estilos.
(Este filme foi visto no Guion Cinemas — convenhamos, a TV ou o computador de casa só devem ser utilizados quando vemos um filme pela segunda vez, né?)
Tudo começa com um tiro em Paris no estilo de Beijos Roubados (1968), de Truffaut. Como na história de Antoine Doinel, o protagonista de O Homem Fiel também deve escolher entre uma mulher madura velha e uma jovem. A madura é a belíssima Marianne (Laetitia Casta, mulher de Garrel na vida real), amor autêntico de sua vida, que desde a primeira cena manda no relacionamento. Durante o filme, ouvimos três vozes narrativas diferentes, mudando de Abel para Marianne e desta para Eva (Lily-Rose Depp), uma amiga da família que era apaixonada por Abel desde a adolescência.
Quando ele retorna para Marianne, nove anos depois de ter sido abandonado por ela, Eva decide que é o momento certo para tentar algo com Abel. O resultado é uma dança em que Marianne e Eva jogam Abel de um lado para outro como se ele fosse um brinquedinho.
O famoso romancista e roteirista francês Jean-Claude Carrière (O Charme Discreto da Burguesia, Cyrano de Bergerac), divide o roteiro com Garrel em um filme de humor contido e de sagacidade. É a primeira obra de Carrière a usar narração em off.
A verdadeira estrela do filme é o jovem Joseph Engel, que interpreta o filho de Marianne. Suas declarações ambíguas e caráter extrovertido causam consternação e problemas a todos que o cercam, inclusive aos espectadores. Garrel faz um ótimo trabalho, misturando elementos de comédia, drama e thriller, mas o filme é um pouco plano, perdendo a oportunidade de explorar com mais profundidade o modo como as pessoas usam o amor como forma de controle.
“O Inter escalar reservas contra o Athletico-PR torna a vaga contra o Palmeiras OBRIGAÇÃO na Copa do Brasil. 40 dias sem jogar e teve atleta que não queria entrar em campo hoje porque “Ain, foi pesado no Allianz”. Com essa gandaia do vestiário é fácil ter “grupo na mão”.
— Alexandre Ernst (ligeiramente adaptado)
Antes de falar de nosso fiasco de ontem, faço questão de dizer que o Pathético Paranaense é uma instituição execrável. Eles não deixam a torcida adversário permanecer identificados por camisetas no seu estádio, apoiaram Bolsonaro como clube e ainda têm o patrocínio da Havan. É um clube que não precisaria existir.
Então foi uma palhaçada tipicamente paranaense: os torcedores do Inter não tiveram local específico. Há alguma coisa naquele estado. Quase todo mundo é conservador ou burro da pior espécie. Há raras exceções, claro.
Não que sejamos muito melhores. Só Grêmio e Inter pouparam seus jogadores nesta rodada. Somos zelosos para que nada de realmente bom nos aconteça. Nada.
Foi uma derrota dos reservas do Inter. A postura foi a mesma dos titulares. Faz um ano que não ganhamos fora de casa no Brasileiro. Ruindade? Também, mas principalmente erros de postura de nosso treinador medroso, que sempre coloca seu time atrás da tal linha da bola, como se nunca mais fosse recuperá-la.
Até o talentoso Sarrafiore, que fez boas jogadas de armação no primeiro tempo, foi defender no segundo. Creio que, ao jogar futebol, estava desobedecendo a Odair, um treinador que não quer ganhar nada, desejando somente preservar seu cargo e salário.
O medo de perder tira a vontade de ganhar. E tomamos aquele golzinho maroto de sempre. “Há apenas uma bola em jogo, então você precisa ficar com ela”, dizia Cruyff. Mas o Inter a entrega para o adversário e passa a marcá-lo. e sempre tem uma bolinha que entra. Contra-ataques? Não, não temos mais fôlego depois de tanta marcação.
Não suporto mais os bananas Odair e Mello.
Derrota. Objetivo cumprido e Patrick novamente titular. Que maravilha.
O que fizeram nas entrevistas foi defender um planejamento que dispõe demitir-se do maior Campeonato do país, o qual não ganhamos há 40 anos e que leva à Libertadores.
Analisar um jogo de reservas? Para quê?
O Inter é o quinto colocado No Brasileiro, com 16 pontos, e volta a jogar pelo campeonato nacional diante do Grêmio, no próximo sábado (20), às 19h, no Beira-Rio. Antes, na quarta-feira (17), às 21h30, decide contra o Palmeiras, também no nosso estádio. Com tanta folga e gandaia, ganhar é obrigação.
O filme chama-se Les Chatouilles (As Cócegas) no original. O título no Brasil? Inocência Roubada, claro.
Bem, mas passemos por cima disso.
Les Chatouilles (As Cócegas) foi escrito e dirigido por Andréa Bescond e Éric Métayer. Trata-se da adaptação para o cinema da peça de ambos The Chatouilles ou La Danse de la colère (As Cócegas ou A Dança do Ódio), vencedora de vários prêmios na França. A história é inspirada no drama da infância e da vida de Andréa Bescond — Odette, no filme –, vítima de violência sexual durante a infância. Na peça original, Bescond fazia todos os papéis. Aqui não, mas o filme guarda um pouco desta característica mantendo, por vezes, mais de uma Odette em cena.
Inocência Roubada está em cartaz no Guion Cinemas — convenhamos, a TV ou o computador de casa só devem ser utilizados quando vemos um filme pela segunda vez, né?
Claro que é uma história autobiográfica comovente, que nos deixa tensos e indignados. A característica do filme é bater sempre forte, é enérgico que trata a questão sem delicadeza. Mas isto não é uma crítica, pois reflete à perfeição a forma encontrada por Bescond para sobreviver — ficar permanentemente em estado raivoso. O filme mostra o começo de sua vida como dançarina com menos de dez anos de idade, alternado-se com os episódios de estupros de que ela foi vítima. O estuprador era o melhor amigo de seus pais. Um dia, já adulta, Odette cruza pela porta de uma psicóloga e inicia uma terapia para melhorar ou salvar sua vida.
A atuação de Odette/Andréa é agitada e boa, mas o destaque vai para o elenco de apoio. A ótima Karin Viard faz a mãe que não quer ver nada e que não acredita nos estupros. As cenas da mãe acusando a filha de divulgar publicamente fatos que perturbam seu cotidiano — ou seja, sendo extremamente prejudicial, incompreensiva e egoísta — são extremamente violentas e uma resposta dela, enigmática, provavelmente inventada, não tem nenhuma ressonância na história: “Você não sabe o que eu mesmo experimentei “, diz ela, às lágrimas. Viard é tão boa atriz que chega a ser tóxica em sua atuação cega à própria abjeção. Clovis Cornillac faz o pai e Pierre Deladonchamps, o estuprador pedófilo. Carole Franck faz uma terapeuta relutante que hesita em assumir um caso tão pesado.
Demora muito tempo para Odette revelar a seus pais o que aconteceu com ela. Enquanto seu pai mergulha numa penitência impossível, a mãe, como dissemos, rejeita os fatos, recusando-se ver sua filha como vítima, adotando o discurso que aquilo foi há muito tempo.
O assunto é da hora. Bescond e Métayer dão um bom empurrão para que as línguas se soltem ainda mais numa época onde parte das realidades da pedofilia aparecem em plena luz do dia. A pedofilia nos horroriza e requer retrospectiva e reflexão. Visualmente, somos movidos pela energia da dançarina em seu desejo de expulsar o passado. O filme, apesar de obviamente não mostrar nada explícito, criou-me desconforto.
O fio da história ziguezagueia entre a infância e a vida adulta, embarca em sonhos e fantasias com a clara intenção de aliviar o peso sobre o público. Mas, como na vida real, a memória e a dor das feridas recebidas recuperam o controle da história. Esta é a força de Inocência Roubada: mostrar a dor em torno da performance instintiva de Andréa Bescond.
O espectador às vezes tem a impressão de participar de um acerto de contas que não lhe diz respeito. Mas é um grito é um grito é um grito que deve ser ouvido.
Texto de 17 de janeiro de 1997, extraído de um dos quase cem cadernos deixados pelo autor de Formação da Literatura Brasileira.
Morto, fechado no caixão, espero a vez de ser cremado. O mundo não existe mais para mim, mas continua sem mim. O tempo não se altera por causa da minha morte, as pessoas continuam a trabalhar e a passear, os amigos misturam alguma tristeza com as preocupações da hora e lembram de mim apenas por intervalos. Quando um encontra o outro começa o ritual do “veja só”, “que pena”, “ele estava bem quando o vi a última vez”, “também, já tinha idade”, “enfim, é o destino de todos”.
Os jornais darão notícias misturadas de acertos e erros e haverá informações desencontradas, inclusive dúvida quanto à naturalidade. Era mineiro? Era carioca? Era paulista? É verdade que estudou na França? Ou foi na Suíça? O pai era rico? Publicou muitos livros de pequena tiragem, na maioria esgotados. Teve importância como crítico durante alguns anos, mas estava superado havia tempo. Inclusive por seus ex-assistentes Fulano e Beltrano. Os alunos gostavam das aulas dele, porque tinha dotes de comunicador. Mas o que tinha de mais saliente era certa amenidade de convívio, pois sabia ser agradável com pobres e ricos. Isso, quando se conseguia encontrá-lo, porque era esquivo e preferia ficar só, principalmente mais para o fim da vida. Uns dizem que era estrangeirado, outros, que pecava por nacionalismo. Era de esquerda, mas meio incoerente e tolerante demais. Militava pouco e no PT funcionou sobretudo como medalhão. Aliás, há quem diga que teve jeito de medalhão desde moço. Muito convencional. Mas é verdade que fugia da publicidade, recusava prêmios e medalhas quando podia e não gostava de homenagens. Contraditório, como toda a gente. O fato é que havia em torno dele muita onda, e chegou-se a inventar que era uma “unanimidade nacional”. No entanto, foi sempre atacado, em artigos, livros, declarações, e contra ele havia setores de má vontade, como é normal. Enfim, morreu. Já não era sem tempo e que a terra lhe seja leve.
Mas o que foi leve não foi a terra pesada, estímulo dos devaneios da vontade. Foi o fogo sutil, levíssimo, que consumiu a minha roupa, a minha calva, os meus sapatos, as minhas carnes insossas e os meus ossos frágeis. Graças a ele fui virando rapidamente cinza, posta a seguir num saquinho de plástico com o meu nome, a data da morte e a da cremação. Enquanto isso, havia outros seres que pensavam em mim com uma tristeza de amigos mudos: os livros.
De vários cantos, de vários modos, a minha carcaça que evitou a decomposição por meio da combustão suscita o pesar dos milhares de livros que foram meus e de meus pais, que conheciam o tato da minha mão, o cuidado do meu zelo, a atenção com que os limpava, mudava de lugar, encadernava, folheava, doava em blocos para serviço de outros. Livros que ficavam em nossa casa ou se espalhavam pelo mundo, na Faculdade de Poços, na de Araraquara, na Católica do Rio, na Unicamp, na USP, na Casa de Cultura de Santa Rita, na ex-Economia e Humanismo, além dos que foram furtados e sabe Deus onde estão – todos sentindo pena do amigo se desfazer em mero pó e lembrando os tempos em que viviam com ele, anos e anos a fio. Então, dos recantos onde estão, em estantes de ferro e de madeira, fechadas ou abertas, bem ou maltratados, usados ou esquecidos, eles hão de chorar lágrimas invisíveis de papel e de tinta, de cartonagem e percalina, de couro de porco e pelica, de couro da Rússia e marroquim, de pergaminho e pano. Será o pranto mudo dos livros pelo amigo pulverizado que os amou desde menino, que passou a vida tratando deles, escolhendo para eles o lugar certo, removendo-os, defendendo-os dos bichos e até os lendo. Não todos, porque uma vida não bastaria para isso e muitos estavam além da sua compreensão; mas milhares deles. Na verdade, ele os queria mais do que como simples leitura. Queria-os como esperança de saber, como companhia, como vista alegre, como pano de fundo da vida precária e sempre aquém. Por isso, porque os recolheu pelo que eram, os livros choram o amigo que atrasava pagamentos de aluguel para comprá-los, que roubava horas ao trabalho para procurá-los, onde quer que fosse: nas livrarias pequenas e grandes de Araraquara ou Catanduva, de Blumenau ou João Pessoa, de Nova York ou New Haven; nos sebos de São Paulo, do Rio, de Porto Alegre; nos buquinistas de Paris e nos alfarrabistas de Lisboa, por toda a parte onde houvesse papel impresso à venda. O amigo que, não sendo Fênix, não renascerá das cinzas a que está sendo reduzido, ao contrário deles, que de algum modo viverão para sempre.
Gostei muito de Dor e Glória, último filme de Pedro Almodóvar, que vi no Guion Cinemas — convenhamos, a TV ou o computador de casa só devem ser utilizados quando vemos um filme pela segunda vez, né? — e recomendo. Autobiográfico e com linda atuação de Antonio Banderas no papel do cineasta, é um filme delicado e convincente sobre a infância, a pobreza, a glória, o desejo e a relação com a mãe. Jamais pensei que Banderas fosse tão bom ator. Ah, a influência dos diretores…
Dor e Glória coloca Pedro Almodóvar no divã para contar partes da vida de um melancólico diretor de cinema em razão das dores do envelhecimento que o impedem de poder trabalhar. Então, com dificuldades de vislumbrar o futuro, o cineasta revisita seu passado, literalmente e em imaginação, buscando algo que o motive.
Desta forma, é um filme de reencontros para o alter ego de Almodóvar, Salvador Mallo. Vemos sua infância nos anos 60, vemos quando ele emigra com os pais para Paterna, o primeiro desejo, o primeiro amor adulto e a dor do fim desse amor.
Menos colorido e engraçado que outros filmes do diretor, Dor e Glória mostra uma pessoa na encruzilhada da aniquilação ou do retorno. É um trabalho bonito. Há desejo, angústia, perdão, a iminência da morte e a falta de preparo diante dela. Obra low profile, que comove sem subir o tom, Dor e Glória é fala da impermanência e da inconstância, das sempre fugidias relações afetivas. E do que delas segue conosco.
O filme tem uma das mais belas representações da homossexualidade que vi até hoje. A atração do protagonista por homens é mostrada como sua própria identidade. Há os amores adultos, mostrados com clareza, e as sugestões do desejo do garoto pelo pintor adulto. Ah, a belíssima cena da febre, uma preciosidade!
O filme é contido, autoral e de diminuta trama romanesca, contrariamente ao habitual do cineasta.
Alguns reclamaram que este seria um Almodóvar acadêmico e acomodado. Jamais. Dor e Glória é uma obra ousada que, sem vaidades, celebra o passado e mostra a resistência da idade madura, ainda produzindo arte.
Almodóvar diz que nunca se drogou como Mallo. OK. E reclama que as partes fictícias ficaram mais fortes e verdadeiras do que as biográficas. Mas Dor e Glória é autoficção, claro. Ou seja, o cineasta é autor e personagem. O resultado poderia ser uma revisão dos dias de glória, como sugere o título, porém o roteiro concentra-se quase que exclusivamente no que vem após o sucesso: depois de ter filmado seus bem-sucedidos projetos, o que resta a um diretor que sente dores nas costas?
Destaque absoluto para a maravilhosa cena inicial, para a da febre e para a notável atuação de Antonio Banderas — jamais imaginaria que ele seria tão bom ator, um Almodóvar perfeito — e para a luminosíssima Penélope Cruz.
Durante a parada para a Copa América, tu, Odair, te ocupaste com bobagens. Toda a torcida que acompanhava as notícias comentava. A colocação de Patrick no lugar de D`Alessandro foi a principal delas. Tal atitude visava marcar mais na frente, pressionando na origem as jogadas do Palmeiras. A intenção principal era a de marcar melhor o bom lateral Marcos Rocha. Mas TODOS sabiam que a mudança apenas acentuaria nossa retranca no jogo de ontem.
Com isso, ficaríamos menos com a bola e sem os bons passes de Dale. E Guerrero chegaria da Copa América sabendo que teria que ficar sozinho lá na frente. Como eu também já tinha escrito nas redes sociais, tal ideia só funcionaria no papel. Não deu outra.
Para coroar a brilhante ideia, foi Rocha quem cruzou para Zé Rafael cabecear livre em nossa área para marcar o 1 x 0. Estávamos ali pela metade da primeira etapa de jogo.
O gol surgiu onde? Bem no local onde deveria estar Patrick, Odair. Parabéns pela ideia e pela boa execução. Realmente, deu tudo como nós tínhamos previsto.
No intervalo, para piorar, começaram as substituições equivocadas. Como eu e toda a torcida sabíamos, Dale entrou, mas não lugar do Patrick de contribuição zero, mas no de Nonato. Nenhum dos dois fazia boa partida, mas… Nonato é muito mais jogador.
Mesmo assim, com Dale, o Inter deu uma crescidinha, mas inútil. Houve um momento em que o Palmeias tinha chutado 12 vezes em nosso gol e nós só 2 no deles… E só Nico López levava perigo.
Então, o que tu fizeste, Odair? Ora, tiraste Nico López, é claro! E fizeste o time afundar de vez.
O Palmeiras é um time certinho. Um time de Felipão. Muita bola alta na área — especialidade do técnico — e muita marcação — outra especialidade dele. De resto, joga feio e grosso demais.
Dá para virar? Sim. Mas acho improvável contigo, Odair, fazendo tanta besteira no comando do time. Tu não ganhas nada e nem tentas. Só manténs o cargo. Não vou comentar a colocação do Parede aos 47 do segundo tempo, fazendo o jogo parar porque estávamos perdendo…
Em resumo, o Inter entrou em campo para enfrentar o Palmeiras no Allianz Parque com 4 volantes. Já no primeiro tempo tomou um gol. Com a bola, não tinha armação para atacar. Em um esquema que claramente daria errado, Odair tirou um dos volantes e colocou D’Alessandro. Nosso jogo era apático, horroroso. A segunda substituição foi patética: entrou Sóbis no lugar de Nico Lopez. Derrota, claro.
Como disse o Julio Linden: “O problema também não é perder eventualmente um jogo para o Palmeiras em São Paulo. O problema é jogar cagado fora de casa e perder para Chapecoense e Vasco por jogar borrado, cagado, com espírito de time pequeno”. O nosso espírito habitual. Tu, Odair, és um medroso. Os Gre-Nais da final do Gauchão/19 foi assinatura com firma reconhecida por autenticidade.
Nossa próxima partida será às 16h deste domingo (14/07) contra o Athletico Paranaense, na Arena da Baixada, em partida válida pela 10ª rodada do Brasileirão. Devemos ir com os reservas para perder mais uma fora de casa. Se o time titular é a esculhambação que é, imaginem os reservas.
A decisão contra o Palmeiras, por sua vez, acontece na próxima quarta-feira (17/07), às 21h30.
O título do livro anuncia e o livro narra uma tragédia, claro. Porém, a história não é baseada em Shakespeare, mas numa notícia de jornal. Sete anos após o suicídio de dois jovens no interior da Alemanha, Keller criou esta história que foi incluída originalmente no ciclo de contos A gente de Seldvila, publicado pela primeira vez em 1856 e tido por Nietzsche como um “tesouro da prosa alemã”. O pouco falado suíço Gottfried Keller (1819-1890) foi um mestre.
Sem spoilers, tá? No centro dos acontecimentos de Romeu e Julieta na aldeia (Editora 34, 156 páginas) estão as duas famílias camponesas Manz e Marti. Ambos os agricultores têm família e cada um tem suas terras. Cada um também têm um filho — Marti tem a menina Vrenchen e Manz, Sali, um garoto. Vrenchen e Sali passam muito tempo brincando nos campos de seus pais, enquanto estes fazem seus trabalhos de lavrar, plantar, colher e limpar seus campos. Os campos aráveis das duas famílias ficam próximos um do outro, separados apenas pelo campo do meio, cujo dono morreu. Apesar de um suposto neto do dono estar na cidade, obstáculos burocráticos — que inclui racismo, aparentemente — impedem que o chamado violinista negro o use.
Não há cercas entre os campos, apenas algumas pedras marcam a linha limite. Isso dá aos dois agricultores a oportunidade de invadir um pedaço do campo abandonado. Depois, quando o campo do meio é leiloado, é Manz quem fica com ele. Mas o vizinho Marti se recusa a ceder sua parte ocupada. Há uma disputa acirrada entre os agricultores. Do dia do leilão em diante, Manz e Marti são devorados por ódio, inveja e ressentimento, tornando a vida cada vez mais difícil para eles e suas famílias. As crianças também sofrem com a briga e têm que ficar por anos apartadas, cada uma no seu canto. O ódio é imenso e irracional.
Como esse conflito absorve cada vez mais suas vidas cotidianas, os agricultores negligenciam seus campos e acabam arruinando suas famílias. Como novo meio de subsistência, Marti passa a pescar — coisa de pobre na região –, enquanto o fazendeiro Manz abre na aldeia vizinha (Seldvila), um bar de bêbados. Mas como o bar é um fracasso, Manz também se volta para a pesca a fim de poder dar de comer a sua família.
Ou seja, os camponeses perderam quase tudo, de seu trabalho à reputação, de suas terras à humanidade, são desprezados pela família e por outros camponeses, mas não perderam o ódio mútuo. Durante uma pescaria em que são acompanhados pelo filhos já jovens, os dois se encontram por acaso, ofendem-se e a coisa acaba em agressão física. Os filhos os separam, mas se observam… Não se viam há muito tempo.
E Sali procura Vrechen. E o resto deixemos de lado.
Keller é um mestre, conta sua sombria história considerando não apenas o amor dos jovens como a condição de penúria financeira. Esta, a situação social de ambos, é decisiva no desenrolar de Romeu e Julieta na aldeia.
Não avançarei mais. Keller é um escritor conciso e de grande poder de evocação. Com duas ou três pinceladas já temos um cenário completo. Faz grande literatura.
Esta Copa América passou praticamente em branco para mim. Não vejo mérito nisso, estou apenas constatando que o torneio não me pegou. Só vi Uruguai x Japão e Peru x Chile na TV. Não sabia de mais nada e não sei quem são Alan e Militão… Apesar do frio, a sensação foi a de estar em janeiro, em férias do futebol.
A diretoria do Inter, depois da última partida que tivemos contra o Bahia no Beira-Rio, antes da parada a Copa América, prometeu um ou dois grandes nomes no retorno. Viriam para serem titulares… Não aconteceu nada. Ou melhor, aconteceu pouco: saiu Iago e trouxeram Natanael, jogador que estava há anos no futebol búlgaro…
E Odair conseguiu nos irritar mesmo durante as férias. Inventou de testar Patrick no lugar de D`Alessandro e isto pode ocorrer agora em nosso retorno contra o Palmeiras em São Paulo. É claro que vamos para um retrancão lá. Antevejo nove jogadores atrás da linha bola, com Guerrero sozinho no ataque.
Vai tomar um gol e colocar Dale. E Sarrafiore, reserva natural do gringo, não sairá do banco. A única boa notícia foi a lesão muscular de Pottker.
E mais um vai para a famigerada caixa de areia que enterra tantos dos nossos jogadores. Zeca também está fora. Para por 20 dias em razão de outra lesão muscular.
Os jogos do Inter depois da Copa América:
10/07 – Palmeiras x Inter
14/07 – Athletico x Inter
17/07 – Inter x Palmeiras
21/07 – Inter x Grêmio
24/07 – Nacional x Inter
28/07 – Inter x Ceará
31/07 – Inter x Nacional
Fui um adolescente tarado por música. Aliás, até hoje sou assim. É claro que ouvia muito Milton, Chico, Caetano, Edu Lobo e outros, mas minha preferência era pelo rock inglês. Grosso modo, meu mundo artístico girava em torno de Beatles, Led Zeppelin, Stones, The Who, Pink Floyd e Deep Purple.
Mas, entre 1973 e 74, entre os 16 e 17 anos, deixei rapidamente o rock de lado e me apaixonei pelos meninos J. S. Bach, Beethoven e Bartók. Eles pareciam ser fontes inesgotáveis, com os quais poderia viver minha vida até o final. Apesar de ouvir — sem exagero — mais uns 400 compositores eruditos, mantenho aquela impressão até hoje. Poderia ficar só com aquele trio. Afinal, há algo melhor do que Bach ou do que os últimos Quartetos de Beethoven e os 6 de Bartók? Não, não há.
Mas derivo. O que desejava dizer é que conheço e sei tudo de rock até 1973. Tenho os vinis da época em bom estado e a Elena, por exemplo, gosta muito de ver rodar meus discos dos Beatles no toca-discos que ainda mantenho. Mas não sei de mais nada do que aconteceu depois de 1974.
Então, neste domingo, a Ospa vai fazer um de seus concertos populares tocando Pink Floyd. Olhei a relação das canções e nada, não conheço porra nenhuma. Só o medley de The Dark Side of the Moon, claro, disco que conheço de verso e reverso. Do resto, nada.
Este foi um corte muito estranho. Após comprar o álbum duplo dos Concertos de Brandenburgo com o Collegium Aureum, tudo mudou e, olha, só segui comprando os discos do Chico (todos), da Mônica Salmaso (todos) um do Queen, um do Prince e outro do Beck.
E sei lá porque estou contando isso procês. Ah, por causa da Ospa.
Dentre os passageiros do cruzeiro, há uma bailarina. Durante a viagem, ela pratica sua arte no convés. Inspirado por ela, membros da tripulação tentam imitá-la… E o resto você vê.
Uma obra-prima que me foi repassada pela Elena Romanov e que dedico pessoalmente à Cami–nhante. A música é de um dos compositores que mais amo, Alfred Schnittke.
“A Bailarina do Barco” Direção: Lev Atamanov. 1969.