Minha Caixa de Entrada

Publicado em 30 de setembro de 2004

Minha Inbox é uma pândega. Por lá, entram mais de 100 mensagens diárias de pura porcaria. Porém, também entram aquelas 3 ou 4 que precisam ser lidas. Tive algumas trocas de mensagens que gostaria de tornar posts, mas não faria isto hoje, tarde da noite, pois antes teria que pedir permissão, etc. Trata-se de demonstrações tão grandes de civilidade e gentileza, que, por puro deleite, fico lendo e relendo as mensagens. Elas vieram principalmente da Diana Zeit – minha correspondente mais frequente dos últimos dias -, mas também da Magaly, da Denise Amon, da Claudia, da Mônica, da Rosele, da Helen, etc. Só agora me dei conta de que todas são mulheres.

Hoje estou cansadíssimo da festa e mais ainda do pós-festa de aniversário de minha filha Bárbara. Desta forma, vou revisar um post antigo a que me referi em minha correspondência com a Diana. É um post que se refere a dois adjetivos derivados de nomes de escritores. No caso do balzaquiano tenho 100% de certeza do que falo, já no kafkiano, acho que dou larga margem para eventuais contestações. Quando reli o post, achei-o simplório, muitíssimo abaixo do nível que a Diana sempre propõe em nossos contatos, mas, para mim, é uma curiosidade.

Balzaquianas e Kafkianos.

A Mulher de 30 Anos é um dos piores livros de Honoré de Balzac. É, certamente, o pior que li. Logo ele, um minucioso criador de personagens e tramas, escreveu um história frouxa, desarticulada e meio sem pé nem cabeça – devia estar apressado e premido por dívidas, o que muitas vezes lhe acontecia. Não pensem que tenho restrições à Balzac, poderia citar-lhe uma dúzia de romances perfeitos, porém este é ilegível. Apesar disto, seu belo título inspirou-nos a criar o termo “balzaquiana” no Brasil. Esta palavra, que só existe por aqui, serve para caracterizar as mulheres na faixa dos 30 anos, como no título da obra. Na época de Balzac e mesmo depois, a idade de 30 anos era um turning point decisivo para as mulheres: ou estavam caindo fora do mercado casamenteiro para tornarem-se tias – tolerados fracassos sociais, bem entendido – ou, se estivessem vivendo casamentos infelizes, estavam perplexas ante o irremediável, como é o caso da personagem do romance. Isto excita nossa imaginação, mas…

Dos 17 volumes das obras de Balzac editadas e reeditadas pela Globo (com traduções impecáveis de gente como Mário Quintana, Paulo Rónai, etc.), li uns 12. Posso dizer que as balzaquianas são a exceção da obra de Balzac. As balzaquianas típicas são as jovenzinhas e as tias velhas, nunca as mulheres de 30 anos. Nossa confusão criou uma expressão culta e equivocada… pura fantasia sobre o nome de um livro. O autor não deu maior atenção aos problemas das trintonas.

Porém, além das mulheres balzaquianas, existem as “situações kafkianas”… e este penso ser um equívoco mundial. Cada vez que alguém está numa situação que julga incomprensível, passa a vivenciar uma “situação kafkiana”. Concordo que pequena parte da obra de Kafka seja dedicada a problemas de natureza incompreensível, mas e o resto? O fato literário mais típico e perturbador da obra de Kafka é a revolucionária e insistente utilização da parábola. Esta sim é kafkiana. Segundo o dicionário Aurélio, um dos significados da palavra parábola é o de ser uma Narração alegórica na qual o conjunto de elementos evoca, por comparação, outras realidades de ordem superior. Não é a descrição perfeita de Franz Kafka?

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O Noticiário Enlouquecido

Publicado em 11 de maio de 2007

Ler o jornal pela manhã pode ser uma experiência bizarra. A gente acaba tendo contato com diferentes gêneros de loucura.

Hoje, desci para pegar o jornal e li a manchete principal:

Papa fala aos jovens: “Façam da castidade um baluarte”. Em São Paulo, ele defendeu a contenção sexual como condição para a realização pessoal mesmo no casamento. Em discurso de meia hora, foi interrompido 24 vezes por aplausos e gritos entusiasmados. Puro gozo religioso. Só imagino a crise no setor moteleiro paulistano.

Bem mais razoáveis, membros da comunidade gay carioca fizeram um protesto. Em frente a uma igreja de Nova Iguaçu, uma drag queen vestida como Bento XVI distribuía folhetos pregando a liberdade sexual. Só há um problema. A fala de Bento estava na capa do jornal, o tíimido contra-ataque estava em letras bem pequeninas, na página 7.

Então, virei o jornal e, na contracapa, deparo-me novamente com a loucura…:

“Gremista mata a facadas o marido, torcedor do Inter.” Parece que o marido começou a dar pontapés na mulher quando viu o time do comediante Muricy Ramalho perder para o Grêmio. Meu colega de sofrimento descontrolou-se ao ver que o São Paulo não repôs Mineiro, Fabão, Lugano e Danilo, deixou na reserva Jorge Wagner e Dagoberto e ainda escalou Leandro, Jadilson e Richarlyson. Colorado, identificou-se demais com o São Paulo, foi gozado pela mulher (gozo futebolístico), tentou matar e acabou morto. Seria mais simples matar-se logo.

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Do El País de hoje

Essa não é do El Roto, mas é genial. Foi enviada pela amiga Helen Osório. A mesma lembra que a Portugal e Irlanda já foram modelos para muitos jornalistas brasileiros que criticavam a política econômica do governo Lula. Hoje, o debate lá é ir ou não ir ao FMI.

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Meu Monza 1990

Para  H., esteja onde estiver

Acho que posso dizer o mês em que comprei o tal Monza. Foi em dezembro de 1997. A primeira façanha que fiz com ele foi a de encostar numa das colunas do edifício em que morávamos. Nunca arrumei o arranhão nem no carro, nem na coluna. Eu não desejava adquiri-lo. A empresa passava por sua primeira crise e eu preferia que ficássemos – eu, minha ex e meus filhos – com o Uno novo e completo que tínhamos. Mas minha ex encheu o saco, queria ir para a praia e precisávamos de um carro maior. Eu disse que levaria a tralha primeiro e voltaria para buscar o resto, isto é, as pessoas; mas Suélen (ou Pâmela, nunca lembro o nome de minha ex) não quis de modo algum.

Eu que comprasse um segundo carro, maior. OK. Na época, ainda não me dava conta de que há anos odiava mortalmente Pâmela e que nossa relação era doentia. Comprei em 1997 um Monza 90. Não era um grande carro, mas também não era nada inaceitável. Procurei o maior e mais barato possível e apareceu aquela coisa azul-marinha, 4 portas, 1.8, gasolina. Já na loja eu o chamei de fusca grande, pois ele não tinha nenhum acessório agradável: vinha sem direção hidráulica, sem ar condicionado, sem rádio — instalei depois um — e os vidros eram de girar manivela. Mas era simpático, apesar de ter sido recebido por Suélen com um “mas não tem ar condicionado!”.

Fomos para a praia, ficamos amigos de um bando de argentinos e nos despedimos deles da forma mais emocionada, voltando para nosso inferno. Em 1998, meu filho tinha 7 anos e minha filha, 4. Era e ainda é divertido ficar com eles quando não estão brigando. Aliás, eu só convivia com eles e com amigos. Em casa, evitava a companhia de Pâmela. Muitas vezes saíamos com nossos amigos e depois eu tinha que levar a babá em casa de madrugada. Eu nunca retornava imediatamente. Esperava que Suélen dormisse antes, pois sua voz, ouvida distintamente, era-me irritante. Ficava dando voltas, dirigindo pela cidade. Aquilo era um alívio e eu ia me afeiçoando ao fusca grande.

Naquele ano nos mudamos para uma casa maior e lá fui eu com meu Monza. Aí  vocês sabem, não?, quando a coisa fica insustentável, a gente arranja problemas com a maior facilidade. Eu ia numa academia e tinha muito contato com minha professora, claro. A gente estava há dias naquelas piadas e brincadeiras de sedução, que normalmente não levam a lugar nenhum, quando ocorreu a festa de fim de ano. Ah, que maravilha. A festa era na Cachaçaria Água Doce e vocês, meus experientes sete leitores, sabem o quanto bebe um homem infeliz. Apesar de minha querida H. ter surgido tão sozinha quanto eu, não dei muita importância ao caso e me atirei à cachaça. Passamos a festa inteira sem conversar.

Na saída, eu estava simplesmente podre, pedindo uma cama enquanto minha amiga finalmente chegava-se a mim.

— Estava observando o que tu bebeste. Foi uma grandeza, né?

Não sou um bêbado chato, só fico tonto e com sono. Meu humor não varia muito. Eu respondi que achava impossível ir em linha reta até a porta do carro. Ela anunciou que iria me monitorar. Fui na frente, com ela a três passos de mim, rindo. Entrei no carro e ela entrou pelo outro lado. Foi então que notei que H. viera sem seu Gol preto. Eu a achava muito bonita e sempre pedia para ela me empurrar durante alguns alongamentos. Quando vi que ela largava todo o seu peso sobre mim, passei a solicitar seus serviços assim:

— quero sentir o peso do teu corpo sobre o meu…

e ela achava graça. Eu também. Dentro do carro, por uma dessas ideias idiotas que sobrevêm aos bêbados, sugeri que fôssemos para o banco de trás. Isso numa travessa da Carlos Gomes. Sim, ela também estava embriagada, é certo. Não me passou pela cabeça a palavra “Motel”, entendem?, estava há muito tempo fora do mercado. Pois após os amassos, enquanto procurava abrir as calças para me sentir mais livre, consegui cair no vão entre os bancos. Lembro de nosso ataque de riso.

Acabamos na casa dela. Olha, fui muitas vezes lá e creio nunca ter sido descoberto. Lembro que H. ligava para minha casa e ou eu atendia ou Suélen me passava a ligação. Era tão, mas tão claro que não era visto. Minha ex saía muitas vezes sozinha, eu também. Ela gostava de uns simulacros de ciúmes, eu não. Espero sinceramente que ela me corneasse tanto quanto eu a ela ou mais, mas duvido muito, ela é de família católica e curitibana. Lembram quando eu escrevi sobre roubo de livros, dizendo que o bom ladrão de livros não olha para os lados, agindo com naturalidade? Pois é. O pessoal da academia nos via como um casal, todos sabiam, éramos um casal. Não nos escondíamos.

Uma vez, fui visto pelo chefe de Pâmela no cinema. Só que os homens têm aquela solidariedade natural e ele disse para ela que tinha me visto no cinema… sozinho. Sensacional a manifestação de bom humor do chefe, fiquei quase nervoso.

Mas voltemos ao Monza. Houve um dia em que o meu consórcio preventivo foi sorteado e eu, em 2001 — em minha opinião prematuramente — ,  vendi por quase nada o Monza de tantas alegrias. Por que falo nele hoje? Ora, porque o vi. Está em péssimo estado aos 20 anos. Eu estava voltando da clínica onde está internada minha mãe. A gente perde a dignidade na velhice. Ou ganha outra. Olhei a placa, era ele, o final 2287. Lembrei de seu cheiro e o do perfume de H. — muito mais próxima de mim do que minha mulher — , lembrei do dia em que meu filho disse do banco de trás que deus não existia porque ele andara de avião e não vira ninguém nas nuvens, lembrei de minha filha querendo que eu SEMPRE parasse nas praças para andar de balanço – podia ficar horas balançando-se, olhando o mundo à sua volta — , lembrei de Pâmela perguntando se aquele carro nos levaria MESMO à Florianópolis e, fundamentalmente, de que ele nunca, mas nunca mesmo, me deixou na mão.

Foram 4 anos só botando gasolina, água, pastilhas de freios novas, ar nos pneus e, pô, trocando óleo. Certamente, na casa de Suélen, há fotos em que ele aparece de forma casual. As fotos acima são falsas, de um irmão gêmeo mais metido, com ar e direção, modelo Classic, também de 1990, que está a venda por R$ 3.900,00 num site aê.

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Oscar Niemeyer e seu perfil fake no Twitter

Eu admiro Oscar Niemeyer. E, apesar de não ter a menor participação do moço, ultimamente tenho me divertido também com seu perfil fake no Twitter. O @ONiemeyer (“Arquiteto. Comunista. Centenário. O único brasileiro do século XX cuja obra durará mil anos. E estará lá pra conferir. ATENÇÃO: PERFIL FAKE!”) é engraçadíssimo. Vale a pena acompanhar as piadas de humor negro e as ianda mais negras sobre comunismo. Há boas chances de que o autor do perfil seja também arquiteto.

Algumas entradas:

— Caro @fidelcastro, perdoe o desabafo, mas a última leva de charutos que você me enviou estava uma merda.

— Acabei de ver uma manteigueira que renderia uma sala de concertos perfeita. Vou copiar.

— Zé Alencar, Tuma, Sarney, tudo no hospital. Esses jovens de hoje se detonam muito rápido.

— Se eu mandasse um cartão de melhoras pra toda vez que o Zé Alencar deixasse o hospital, eu teria que abrir uma gráfica.

— Comecei a pagar um plano de previdência privada hoje. Nunca se sabe o futuro.

— Quando o sol bater ♪♬ Na janela do teu quarto ♪♬ Lembra e vê que foi erro de projeto.

— Projetei um escorregador pra minha bisneta. Dane-se que não dá pra escorregar, é BO-NI-TO.

— Eu só vou morrer no dia em que o Brasil tiver um presidente comunista. E falo SÉRIO! 

— Já tentei fazer regressão a vidas passadas, mas o mais longe que consigo chegar é nos meus 5 anos de idade.

— Nada é mais comunista do que minha obra: seja rico, pobre, ou burguês, todo mundo se sente desconfortável dentro dela.

— Plínio não vence esta eleição e nem em 2014. Mas será o grande nome de 2018. Podem escrever!

— Vi a Mulher Melancia na Fazenda e tive uma idéia para um centro de convenções gigantesco. Já volto.

Abaixo, o verdadeiro abre seu voto para 31 de outubro:

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Sexta-feira Nordestina – Uma Coincidência

Fato Nº 1 (Sexta-feira, 17h40): Recebo um comentário apressadíssimo de Márcia Maia. Ela me deixa um beijo de comecinho de primavera. Também pudera, ela, autora de dois livros e das grandes pequenas histórias de seu blog — às vezes deliciosamente fora do politicamente correto –, estava com o filho de aniversário. Mas, como era o dia dos nordestinos, ela veio.

Fato Nº 2 (Sexta-feira, 18h30): Estava dirigindo para casa quando o celular tocou. Li o número de quem me ligava antes de cometer a infração de trânsito. Era muito esquisito, pois começava com três zeros. Depois, ficou ainda mais estranho. Eu disse “alô” e como resposta só ouvi risadas. Repeti o “alô” mais duas vezes antes de ouvir uma voz muito forte perguntando se eu era Milton Ribeiro. Poucas vezes pude perceber meu nome sendo dito com sotaque mais nordestino e não fazia a mínima idéia de quem fosse:

— Milton, é Nora Borges.

Nora Borges é uma querida amiga. Tinha dois blogs: o primeiro era um dos melhores blogs íntimos que conheço, com longos posts que tratavam de assuntos pessoais, familiares e amorosos. É uma tremenda escritora. O segundo era turístico. Recentemente, Nora começou a unificação dos dois na Verbeat.

Fato Nº 3 (Sexta-feira, 18h45): Entrei em casa e vi que chegaram várias correspondências. Acabou a greve dos Correios e minhas contas voltarão a chegar pontualmente. Mas dentre elas estava o livro A Casa Miúda de Theo G. Alves. Theo é de Currais Novos (RN). Fico entre o orgulhoso e o constrangido ao ver que tenho em mãos o exemplar autografado de número 2. É uma edição artesanal onde estão algumas das histórias que Theo criou para seu ex-blog O Centenário, que foi criminosamente deletado por seu dono. Ele acaba de montar um novo blog aqui (por enquando só tem um post), mas há um tesouro aqui.

Theo, modestamente, descreve seu livro:

A Casa Miúda. Este é o nome do invento. Dia 22 de julho foi a inauguração oficial do imóvel minúsculo, sem garagem, sem área de serviço e sem quarto para a empregada. A Casa Miúda reúne alguns textos que estiveram publicados em O Centenário, blogue do qual alguns amigos mais antigos talvez se lembrem, somados a um ou outro palavreado inédito. Os textos foram revisados, ou refeitos, batizados novamente, reinventados, tudo na tentativa inútil de torná-los um pouco mais decentes.

(…)

Volto sempre a dizer: as publicações artesanais são uma maneira extrema de se fazer ouvir. Não há romantismo nessa história. Pelo contrário. Como bem disse o amigo Fábio Ulanin, “(esse processo) é extremamente realista, duro e cruel. Ele tem razão.

A Casa Miúda faz com que eu não me cale. É meu jeito de contribuir (talvez desnecessariamente) com esta vida.

Fato Nº 4 (Sexta-feira, 18h46): nada mais natural do que abrir o livro do Theo e dar da cara com um belíssimo prólogo escrito pelo poeta Moacy Cirne, figura procuradíssima por este blog. Os conhecimentos deste homem sobre tudo o que me interessa — literatura, música, cinema e política — são inacreditáveis. Querem saber? Na minha opinião, Moacy não existe, trata-se de um nome fantasia que representa algum colegiado de sábios. Há muitos Moacys para cada área.

Fato Nº 5 (Sábado, 2h12): Chega um comentário do pernambucano Manoel Carlos. Conheci o blog do Manoel através de Nora Borges e, meses depois tive a sorte de conhecê-lo pessoalmente no Rio de Janeiro. O que está mais longe deste homem é a arrogância, tanto ao vivo como por escrito. Sempre indica bons artigos e apresenta a este preguiçoso novos blogueiros. Manoel Carlos gosta de polêmicas civilizadas e os comentários a seus posts sempre devem ser lidos. Paradoxalmente, apresenta posições firmes em tom de conversa. É homem de muitos amigos. Atualmente, estamos contemplativos, encantados com nossas opções futebolísticas: seu time, o Santa Cruz de Recife, é líder da segunda divisão, enquanto que o meu é líder da primeira. Temos aquela conversa arrogante — não, arrogante é impossível –, digo, superior. De quem está no topo, entende?

Finalizando, tenho que dizer que, há uns dois anos, o escritor Fernando Monteiro escreveu-me num e-mail que gaúchos e pernambucanos tinham, de fato, uma ligação “meio misteriosa” que os fazia invariavelmente entender-se muito bem. Viu, mana? Nem precisava tanto álcool…

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Minhas Falsas Primaveras

Publicado em 23 de setembro de 2005

Há aqueles que, quando ouvem alguém contar algum problema pessoal, respondem com outro seu, normalmente muito mais grave. É um egoísmo que torna a conversa um campeonato de lamentações. E este gênero de pessoas não admite perder. Não sou assim, raramente reclamo. Mas aviso que, atualmente, é mau negócio querer competir comigo. Tenho um leque muito variado para apresentar.

Muitos e solucionáveis problemas — com maior ou menor sofrimento, com maior ou menor investimento de angústia — estão se desdobrando e, durante este período, tenho esquecido aniversários, não tenho respondido muitos e-mails e os compromissos não fundamentais são deixados a uma duvidosa auto-resolução.

Àqueles que sabem das preocupações que tenho com minha mãe, aviso que ela está melhor e que fizemos algumas reformas em sua casa, além de alterarmos sua medicação junto com minha irmã — que é médica — e os médicos da Dra. Maria Luiza. Mas nada foi fácil e ela resistiu o que pôde à retirada da banheira. Fim.

Mas há a parte boa, quase primaveril. A casa-edifício que estamos construindo parece subir a cada dia, a garagem está lá no térreo, nosso futuro apartamento está acima dela, já possuindo chão e algumas paredes. É preciso imaginação para visualizar o apartamento da família do irmão da Claudia mais acima, mas logo ele será concreto. E, como nosso apartamento será de tamanho razoável — enorme, se considerarmos as construções de preço médio atuais –, brevemente a Claudia poderá voltar a promover suas festas. Ah, e haverá uma edícula para recebermos amigos e blogueiros de passagem por Porto Alegre, além dos maridos eventualmente chutados. Aguardem!

No final de novembro, a Claudia tem que ir à Itália por motivo de trabalho. Eu vou acompanhá-la. Será ótimo, apesar da temporada curta de 10 dias, mas não é ainda a primavera, pois, no hemisfério norte, será o final do outono . Muitos de vocês deverão morder-se ódio, pois vou conhecer pessoalmente a Nora Borges e o Flavio Prada. Eu e o Flavio participaremos do III Grande Encontro de Blogueiros na Itália, com certamente com o dobro de participantes do primeiro. A reportagem sobre o I Encontro pode ser lida (e vista) clicando-se aqui. Infelizmente, o outro representante de blogueiro brasileiro na Itália, o Allan ficou meio fora de mão em nosso breve percurso. Mas, com o trabalho que a Claudia faz, o que não vai faltar são oportunidades.

Antes, no dia 12 de novembro, às 15h30, no Memorial do RS, durante a Feira do Livro de Porto Alegre, estarei autografando o livro do Blog de Papel. Trata-se de uma obra coletiva onde haverá contos e crônicas de Alê Félix, Alexandre Inagaki, Ane Aguirre, Arquimimo Moraes, Edson Marques, Fabio Danesi Rossi, Fal Vitiello de Azevedo, Maira Parula, Marco Aurélio Brasil, Marco Aurélio dos Santos, deste que vos escreve, mais Nelson Moraes, Nelson Natalino e Ticcia Antoniete. Às 16h30 do mesmo dia, na sala “O Retrato”, do Centro Cultural Erico Veríssimo, haverá uma mesa sobre Literatura e Internet com a participação de André Dahmer e dos autores gaúchos do Blog de Papel – eu, a Ane e a Ticcia – com mediação do escritor Armindo Trevisan.

E no dia 19, às 18h, haverá o lançamento em São Paulo, na Oca (Parque do Ibirapuera), com a presença de toda a galera.

A renda obtida com nosso livro não irá garantir a independência financeira dos autores, mas será destinada à APAE de Lagoa Vermelha (RS), que tem um blog desde junho de 2004.

Tá bom, vá lá, estas últimas notícias são, para nós, uma primavera inteira.

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Capa da Playboy portuguesa em homenagem a Saramago gera confusão

A Playboy Entertainment anunciou, nesta quinta-feira, que vai rescindir o contrato com a versão de Portugal por causa da edição que homenageia o livro “Evangelho segundo Jesus Cristo”, de José Saramago.

“Não vimos nem aprovamos a capa e as fotografias do número de Julho da ‘Playboy’ Portugal. Trata-se de uma violação chocante das nossas normas e não teria sido permitida a publicação, se tivéssemos conhecimento antecipado”, declarou Theresa Hennessy, vice-presidente da Playboy, ao site Gawker.

A duração da versão portuguesa da revista foi curta. O primeiro número saiu em março de 2009, com a cantora Mônica Sofia na capa.

Retirado daqui.

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A Autocensura

Post publicado em 24 de maio de 2007 e republicado agora com adaptações e cortes. É que ontem soube de mais um processo de separação que utiliza como provas o conteúdo de um blog. Desta vez de uma mulher. Quando publiquei este post, recebi dois comentários que achei notáveis e os publico ao final do post.

A moda está pegando. Como todos os posts confessionais dizem a verdade (?); então qualquer advogado lê um texto que escrevemos e o utiliza num processo familiar. Mas não é bem assim. Acreditar em nós é perigoso por várias razões.

A primeira razão é a mais humana: num texto confessional e mesmo naqueles de aparência visceral, o blogueiro ou escritor está publicando o que decidiu publicar. Os posts são seletivos como nossa memória, que arquiva os acontecimentos com alterações que podem deixá-los no formato de livros com belas capas para serem colocados na estante — podendo descer dela a qualquer momento — , ou ficam impressos com sangue, lágrimas ou lama para reaparecerem quando do Grande Ressentimento ou da Grande Irritação. Há infinitas formas de arquivamento, tudo depende do caso contado e da personalidade e honestidade de quem conta. E vêm misturados com sentimentos. Não são como os antigos diários, são diários ou textos ou ficções ou resenhas ou crônicas para serem expostas e, portanto, recebem tintas de exagero, contenção, poesia, educação, correção, escatologia, putaria, etc. Respondam: são prova de alguma coisa? Não há outro modo de se produzir provas?

Uma vez, estava no telefone conversando com o Carpinejar e lamentei sinceramente alguns graves problemas que o poeta tinha relatado em seu blog. Ele me respondeu:

— Problemas? Que problemas?
— Pô, cara. Aqueles lá com a tua mulher.

Ele ficou hesitante e, inesperadamente, estourou numa gargalhada. Depois, respondeu:

— Então, tu acreditaste naquilo? — disse ainda rindo.
— Mas…
— Milton, é tudo mentira. Teve gente que me ligou, ligaram até para a minha mãe perguntando. É normal, já aconteceu muitas vezes. Eu uso pessoas da vida real, só que as histórias são inventadas.

Se houver difamação é outro problema — e isso o Fabrício não fez. Estamos aqui discutindo a veracidade de textos que estão entrando em processos judiciais. Por quê?

Anteontem, uma amiga que descreve seus casos amorosos num blog foi acusada de puta e vagabunda num processo. O pai de seu filho quer a guarda da criança. As provas? Ora, os poemas e textos publicados em seu blog, que narram “experiências diárias”. Piada, né? Suas experiências diárias ocorrem na frente do computador, sozinha, insone, enquanto o filho dorme. Senão não passaria tantas horas no twitter…

De minha parte, já falei o que considerava as maiores verdades, procurando ser frio, claro e racional, mas também já casei com Juliette Binoche (nosso caso era puro sexo e durou anos, nunca tivemos problemas, apesar de eu não falar francês), já mantive diálogos com outros Miltons que eram eu mesmo, só que uns anos antes ou depois e ,ah, no meu aniversário do ano passado estava namorando Sophie Marceau, lembram? (Sempre o problema do francês, merde!) É claro que estou utilizando exemplos extremos nos quais só um idiota acreditaria, porém como ficam os casos intermediários, aqueles em que as confissões são romanceadas com jeito e cheiro de verdade, mas que talvez sejam apenas desejadas?

Minha ex fez isso num processo. Lá, havia trechos escolhidos deste blog. Em um deles, o mais importante, meu filho protege sua mãe de mim. Estou a sós com ele. Duas frases são trocadas num post sobre rock. Eu começo a falar mal de Pâmela (ou Suélen, não lembro) e ele interrompe dizendo que aqueles são problemas nossos. Só. Era uma forma de mostrar que o Bernardo sabia das coisas. Ele sabe mesmo e minha intenção apareceu nos comentários dos leitores: disseram que ele tinha mais bom senso do que eu. Porém, no processo, foi uma atitude de mau pai… Claro, tive de responder com o blog inteiro, com todos os posts. Na metade do ano passado eram mais de mil páginas. Muita gente sabe de minhas opiniões sobre Suélen (ou seria Pâmela?), mas não sou louco de preencher a vida de meus filhos com reclamações contra sua mãe. Eles me detestariam. (A propósito, as mulheres do “Porque Hoje é Sábado” foram para o juiz? O doutor achou essa aqui gostosinha?)

Bem, mas há mais: o fato de manter um blog “bem montado” – expressão de sua advogada – seria prova de que passo muito tempo trabalhando nele e, se acrescentarmos a isto algumas viagens que faço, pronto!, chegamos à conclusão de que tenho largo tempo livre e um estilo de vida, digamos, confortável. Lendo aquilo, senti-me como um malandro da velha guarda carioca.

Cervantes reclamava que não lhe davam muito dinheiro, mas admite que, se lhe dessem, iria se divertir mais e escrever menos. Queixava-se que seus mecenas sabiam disso e o mantinham à mingua. Interessante. (Oh, sei. Comparar Milton Ribeiro e Miguel de Cervantes é caso de internação.)

Neste ínterim, tenho exercitado a autocensura. O blog piorou, também sei. Entre alterar meu texto em função de um advogado e não publicá-lo, tenho escolhido a segunda opção. Então substituo o post previsto por algo sobre futebol ou tiro sarro da Igreja Católica. Afinal, o Papa não pára de dizer besteiras nem o Inter de fazê-las. Permanecerão no micro até não sei quando. Ou será que tudo isto é mentira e não tenho textos por publicar nem ex-esPosa? (Pronunciem esPosa com pê cuspido, por favor.)

E agora, publico este ou não? Assim mesmo, cheio de parênteses?

Comentário do Dr. Claudio Costa:

Já aprendi – com Lacan, veja só! – que o significado do que se diz é dado por quem escuta e não por quem fala. Freud, muito antes, já descobrira que a chave da interpretação está com o analisando, não com o analista. Este, quando não atrapalha, oferece a escuta e… aí o analisando diz e exclama: -“Eu sabia!”. Assim vivemos: num mundo imaginário onde até mesmo a imagem de si mesmo é constructo imaginário, putz! Por isso acredito piamente em TUDO que você escreve – o que é a mesma coisa que dizer: “não acredito em NADA” disso.

Comentário de Maria Elisa Guimarães, a Meg:

MILTON, Olha, não entendo de muita coisa, mas algumas, as de que vou falar aqui, pelo menos, ENTENDO e não é POUCO, entendo muitíssimo. 1- Muito embora, hoje em dia, um email seja aceito com prova num processo e qualquer bom advogado já saiba disso – felizmente, ainda não mudou absolutamente NADA, a respeito da questão da VEROSSIMILHANÇA, conceito este que não significa e à vezes é muito diferente da VERDADE ou pelo menos da *relação* desta com a realidade.. 2- Textos literários ou poéticos trabalham com o simulacro, (e muita gente desconhece o real sentido dessa palavra) e não com fatos. O *simulacro* , grosseiramente simplificando, é a MÍMESE, uma espécie de representação livre do que se viu ou se vê na realidade. Nesse caso, seria muito bom que todo mundo lesse as tragédias gregas. Há muito o que aprender lá. Por outro lado, uma crônica, um conto, um romance, ou um texto que se pretenda literário, tanto que se publica, não é notícia , é literatura!! Boa ou má, mas sempre literatura e não jornalismo investigativo. Nem depoimento. 3- E mais uma coisa, e disso entendo mais ainda: o “mundo não é dos inocentes”, e definitivamente, “justiça é balela, é conto de fadas”. Parece, só parece, pelo que tenho visto, na História antiga ou recente, que sai-se melhor SEMPRE quem está ou ao lado dos poderosos ou ao lado de quem lhe oferece mai$$$. Ou dos que parecem poder oferecer. Espero que te saias muito bem nesse caso que já se arrasta (e estou falando na condição de leitora e portanto quem lê teu blog sabe algo sobre esse caso, pelo menos o que permitiste que soubéssemos). Um dia as chateações todas acabam! Um dia tudo acaba. E de preferência, antes que nos tornemos ressentidos ou amargos. Solidarizo-me contigo: eu sei o que é a injustiça: dá vontade de morrer. Um beijo M.

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A mais chata das trilhas sonoras

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O Detestável Grande Irmão do Orkut

Não acompanho muito a vida das redes sociais, porém, em minha opinião, o decadente Orkut servia para que estabelecêssemos contatos com amigos e para que lembrássemos de seus aniversários. São funções nobres, porém pobres. Tais funções foram consideravelmente ampliadas quando conheci as Comunidades de Música Erudita, como Comunidade Música Clássica On Line. Éramos 600 pessoas moderadas pelo rigoroso – ai, que medo! – Siegfried, que não nos deixava sair da linha. Entre muitos assuntos, travamos belos diálogos sobre música moderna com o irônico Nitram (Martin ao contrário, não?), sobre Bach, Mahler, Wagner e também sobre a triste deleção do canal Film & Arts no Brasil, vítimado pelas limitações dos programadores. O terrível Siegfried nos fazia abrir os tópicos sobre compositores no seguinte formato (vejamos o exemplo de Bach): [BACH, Johann Sebastian (1685-1750)]. E ai de quem errasse um colchete ou não escrevesse o sobrenome em maiúsculas! Estou caricaturizando nosso Siegfried, mas o espírito era este mesmo e ainda tremo ao ler seu nome…

Na comunidade, obviamente, as pessoas faziam intensas trocas de gravações em mp3 e começamos a crescer até chegarmos a 4.400 membros, quando fomos sumariamente deletados pelo Grande Irmão do Orkut. Ora, não creio que o motivo possa ser somente as trocas de mp3. Há sites e mesmo comunidades no Orkut muito mais piratas do que nós. Ademais, a impopular “música erudita” — este termo também foi tema de grave discussão na comunidade — não deve provocar grandes quebras nos lucros das gravadoras. E, como se não bastasse nossa natureza quase secreta, ouvimos normalmente obras de direitos autorais vinculados a defuntos frios ou, ao menos, severamente descarnados, pois, peculiarmente, amamos imperecíveis museus sonoros.

Eu baixei e deixei muita coisa na Comunidade. Não sei sobre a postura de todos, mas quando ouvia algo de lá que me agradava muito, comprava o CD de áudio. Não, não faço questão de capas nem de cedetecas coloridas. É que, audível e comprovadamente, o mp3 — em qualquer densidade normalmente disponível nos softwares — é inferior ao convencional formato áudio digital. Tenho baixa tolerância a ouvir as freqüências extremas serem repetidamente podadas. (Sim, é perfeitamente audível e não me venham encher o saco com isto. Se você contraiu a grave epidemia de surdez que assola a humanidade e acha que o mp3 é a perfeição, paciência).

Mas se a música erudita era pouco para gerar uma reação do Orkut, havia a discussão sobre a DirecTV… Acho que foi isto que nos matou. Alguns membros da comunidade começaram a publicar toda a correspondência que trocavam com a DirecTV brasileira e americana e aí sim, vimos o grande capital sofrer críticas. Lamentável. Com o perdão da palavra — lembrem sempre que este é um blog-família –, o que ficou claro é que estas redes cagam para os assinantes. Cagam. Aquilo foi uma amarga lição os jovens idealistas preocupados com a cultura dos membros ainda mais jovens da comunidade. Eu, que nunca tive o Film & Arts, estava indignado com a mostra real e crua do pensamento daqueles caras. A necessidade de padronização e a isonomia numérica imbecil destes empresários retiraram do ar o único canal culturalmente distinto da TV a cabo brasileira. Repito, acho que a discussão a respeito deste tema foi o que nos matou e lamento não tê-la gravada em meu computador.

Dizem que a Embratel (?) e a TVA disponibiliza o Film & Arts. Será verdade?

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Carrossel de Emoções

Há períodos em que as notícias enlouquecem de vez. Essas aqui me chamaram a atenção ultimamente por sua loucura:

1. Dom Dadeus Grings, na abertura de assembleia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), afirmou que a “sociedade atual é pedófila”.

OK, Dom Dadeus, concordo com o Sr. Infelizmente, milhares de crianças têm seus futuros irremediavelmente prejudicados por causa da pedofilia. Este existe em toda a sociedade — independente de classes sociais —  e temos de lutar contra ela. O que se deseja, sua besta, é que haja informação e que todos os pedófilos sejam punidos. Todos. E saiba que a pedofilia é o que ato mais próximo ao assassinato que conheço. Meça suas palavras, padreco.

2. Mano Menezes diz que uma nova eliminação do Corinthians na Libertadores não seria motivo para desespero no clube.

Absurdo autoexplicativo.

3. Promotores querem investigar peça em que garota de 16 anos mostra seio.

O musical O Despertar da Primavera está há um ano em cartaz e a menina tem carreira artística e autorização paterna para mostrar o que quiser. O Ministério Público suspeita que foi infringido o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).  No espetáculo, a protagonista, a adolescente Malu Rodrigues (ao lado), exibe um dos seios e simula uma relação sexual. O pai da atriz, o auditor fiscal Sérgio Rodrigues tem autorização judicial para a filha atuar no palco e é obrigado pelo Conselho Tutelar do Rio a assistir a todas as exibições.

Quem sabe o Ministério Público não se preocupa com os padres ou a corrupção?

4 e 5 e 6. Por cinco votos a um, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) determinou que a patente do princípio ativo do Viagra vai valer apenas até o próximo dia 20 de junho.

Os velhinhos do STJ devem ter legislado em causa própria. A Pfizer recorrerá ao Supremo, outro tribunal cheio de velhinhos… Mas não é bem este o absurdo. O absurdo foi o STF ter ratificado a Lei da Anistia, não a revisando.

Mas o pior MESMO foi Dilma Rousseff ter afirmado que revisar a Lei seria uma atitude de revanchismo. Desde quando Justiça é igual à Revanchismo? Como escreveu Rodrigo Cardia, revanchismo seria torturar o torturador. Prender quem mandou torturar é Justiça. Não é possível alguém com seu passado dizer isso, candidata.

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O Restaurante Pagoda fechou

Sim, estou ficando velho. Hoje, ao caminhar pela Protásio Alves, dei da cara com um pequeno cartaz avisando que o Pagoda fechava suas portas agradecendo a todos os clientes que o frequentaram em seus 50 anos de vida.

O Pagoda foi uma alegria infantil para mim. Havia apenas dois restaurantes chineses na cidade, o Pagoda na Protásio e o Lokun na Venâncio Aires. Meus pais gostavam, eu amava e não lembro da opinião de minha irmã. Fui uma criança tarada por arroz. Comia arroz com feijão como se o mundo fosse acabar e o arroz chop suey do Pagoda era deglutido ao vivo e em fantasia. Lembro de salivar só pensando nele.

Depois, passei a ir lá com minhas namoradas. Lembro de uma vez em que era domingo e quase fui expulso por não sair da mesa. Havia fila lá fora e eu fazendo graça para a moça que, decididamente, valia a pena. Fiquei umas duas horas quando, pela primeira e única vez, me entregaram a conta sem eu ter pedido. Achei uma merda, mas tudo acabou em excelente digestão. Meus filhos também amaram o Goda. O Bernardo tinha certeza que o nome do restaurante era apenas Goda. Foi na porta do Pagoda que ele levou o maior tabefe de sua vida. Tinha uns dois anos e saiu correndo porta afora, atravessou a rua e eu só o alcancei no corredor de ônibus. Lembro de minha ex e dos pedestres gritando para ele parar. Lembro do silêncio que ficou quando o agarrei pelo braço e, descontrolado, meti-lhe um tapa que lhe deixou a marca dos meus dedos na bochecha. Nunca mais fez aquilo, claro, nem eu.

Lembro da Bárbara ficar horas no banheiro do restaurante a ponto de eu ir lá bater ou pedir para uma garçonete ver o que estava acontecendo. Ela sempre foi muito autônoma e nunca quis ir no banheiro masculino com o papai, de modo algum. Ah, as garçonetes… Ficavam lá por anos, sempre as mesmas. A gente podia acompanhá-las desde jovens, bem magrinhas, para depois ganharem corpo, muitas vezes um barrigão, um sumiço passageiro e o retorno, sempre saudado pelos clientes.

Outra vez, estava febril, enormemente gripado e achei que só a sopa do Pagoda poderia resolver minha necessidade de líquidos. Sentei sozinho naquela mesa para dois, logo na curva da entrada e fiz o pedido. Na hora de pagar, a D. Maria não aceitou — vira que a sopa era um remédio para mim e o Pagoda não era farmácia… Grande D. Maria. Sempre sorridente, deve ter adaptado seu nome para o Brasil. Quando a Claudia apareceu — minha mulher decididamente atrai pessoas — , ela veio muitas vezes até nossa mesa. Na primeira vez em que saiu detrás de seu eterno balcão, trouxe-nos uma sacola imensa de lichias, uma fruta absolutamente maravilhosa, que tentamos plantar sem sucesso. Nossa frustração agrônoma servia de pretexto para a D. Maria vir conversar. Era uma senhora doce e educada, sua fala branda adorava ironias.

Pois bem, o Pagoda fechou e a Claudia disse tudo ainda há pouco no MSN:

— Espero que a Dona Maria envelheça bem.

Eu também. Só gostaria de saber onde haverá um camarão ao molho de saquê que faça sombra ao do Pagoda.

P.S.- Se algum leitor tiver contato com a D. Maria, avise-a deste textinho, por favor. É o meu agradecimento.

Update (pelo twitter): @miltonribeiro RT @Liskan: @vinicius_m A dona faleceu ano passado e ele era mantido pelos funcionários. Em março ele já tinha fechado 🙁

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Problemas…

O site passou quase todo o dia de hoje (23/04, sexta) fora do ar e ainda está precário.

Tudo normal. Fizemos uma troca de versão do WordPress e essas coisas acontecem. Se amanhã estiver tudo bem, faço um PHES tardio.

Abraços.

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O vulcão Eyjafjallajokull aqui em casa

A Bárbara faria sua primeira viagem à Europa. Acompanharia sua mãe num Congresso em Praga e depois iria à Paris. Viajariam no dia 21. Mas tudo foi cancelado. Ontem à noite, ela estava chorando no quarto, uma pena.

A única notícia boa do vulcão seria um possível esfriamento do planeta, porém as últimas notícias dizem que nem isso ocorrerá: ele só é suficiente para provocar caos. Leio que há passageiros em pânico. As companhias aéreas deixarão de pagar hoje suas estadas nos hotéis — seria uma espécie de “Prazo Esgotado — Agora vire-se por si mesmo” — , e eles, em final de viagem, estão sem grana e com os cartões estourados.

A grande nuvem agora ameaça ir para o Canadá. Nos séculos passados, isto seria apenas uma erupção, nem sonharíamos com as consequências. Hoje, a gente é informado, fica paranoico, previne e dá palpites sobre o que desconhece… Melhor hoje.

Abaixo, uma foto do aeroporto de Hamburgo hoje pela manhã. Ninguém avisou o sujeito?

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Tudo em doses homeopáticas, até a cerveja

Há noites em que nada acontece e há outras em que tudo acontece no mesmo horário. Ontem, eu receberia uma pessoa aqui em casa às 19h, neste horário começaria um debate sobre a ficção de gênero na Palavraria. Meu compromisso caseiro acabou logo e corri para o debate. Nossa, estava ótimo — em outra faixa, pude comprovar meio constrangido a popularidade deste espaço…, algumas pessoas quase fizeram tietagem, fiquei feliz demais, imagina se não? — , o Xerxenesky, o Samir e o Carlos André Moreira conhecem literatura, são bem-humorados e sabem se expressar, o que nem sempre ocorre com escritores. Só que eu tinha prometido ir ao concerto da OSPA com minha mulher, o qual começaria às 20h30. Saímos (sumimos) à francesa e chegamos am cima da hora na OSPA. Credo, a primeira noite dedicada aos 200 anos de nascimento de Schumann absurdamente chata, realizada por músicos sem o menor tesão. Salvou-se a Sinfonia Nº 4 na segunda parte do Concerto, mas eu estava com uma fome de anteontem e só pensava no jantar com o Branco e a Jussara, muito mais legais do que aquilo que acontecia no palco.

Resultado: chegamos em casa muito tarde para uma terça-feira e a cerveja Bluehead foi a culpada de eu começar o dia de hoje com uma hora de atraso. Ah, por falar em musica, deixo-vos com duas resenhas alucinadas de P.Q.P. Bach, do blog erudito de mesmo nome, ambas publicadas nesta semana.

J. S. Bach (1685-1750): Bach Attributions

Por uma dessas coisas inexplicáveis, a obra para órgão de Bach está fora de moda. Algumas pessoas acham que o som do órgão é tão irritante quanto os padres pedófilos de Ratzinger — o qual parece preferir sexo com crianças do que entre adultos — , mas é bem no órgão que Bach realiza suas maiores experimentações. (Ah, acharam que eu ia fazer uma piada com o órgão sequiçual, né?) Mas retornemos ao que interessa: o que há de peças amalucadas na Orgelwerke é uma grandeza! E eu gosto. Muito! Este CD é sensacional por diversas razões.

(1) O organista é do caralho (ou do órgão, como queiram);
(2) O repertório, apesar de evitar os experimentalismos, está longe dos lugares-comuns;
(3) A produção da Hyperion é fodal;
(4) O CD está fora de catálogo até em Marte e
(5) Fique tranquilo, você não terá de ouvir a Toccata e Fuga em Ré Menor de novo.

E ah, vocês sabem como era a nossa família. Vinte filhos e aquele entra e sai de alunos, todos interpretando peças de sua preferência e criando outras. Então, alguns historiadores de ejaculação precoce pegaram tudo isso e disseram que era de Johann Sebastian, mas nem sempre era… Neste disco há peças de vários Bachs, de outros agregados que tentavam comer minhas irmãs e de todo o tipo de gente que queria a cerveja de meu pai. Havia por lá um certo Ratz que só se interessava pelos meninos e meninas de menos de dez anos… Bem, era uma zona e até isso se reflete neste baita CD.

CD IM-PER-DÍ-VEL !!!! (como diria o véio Ratz observando um pré-púbere)

Béla Bartók (1881-1945): Sonata for Solo Violin / Leoš Janáček (1854-1928): Violin Sonata / Claude Debussy (1862-1918): Violin Sonata / Serguei Prokofiev (1891-1953): Violin Sonata Nros 1 e 2 / Igor Fyodorovich Stravinsky (1882-1971): Divertimento

Viktoria Mullova é um das preferências absolutas deste filho de Bach, que também a acha bonita, apesar da notícia que FDP Bach me passou: ela agora estaria jogando em nosso time, disputando as moças. Como provavelmente não iria comê-la mesmo, tanto faz. Mas a sonoridade desta moscovita é coisa de louco.

A peça de Bartók é uma peça de Bartók, isto, é, é esplêndida e o mantém entre os 3 maiores Bs da música erudita, os quais permanecem como os maiores mesmo quando se usa todas as outras letras do alfabeto. Quem são os três? Ora, Bach, Brahms, Beethoven e Bartók.

A peça de Janáček é igualmente sensacional. Música bem eslava, sanguínea e cheia de surpresas e belas melodias, combinando perfeitamente com Bartók.

Depois a gente brocha. Debussy… Debussy… Debbie…, o que dizer? Claude, apesar do tremendo esforço que fez para movimentar-se no primeiro movimento, é um gordo. Portanto, é meio estático. Para piorar, é também extático. Bem, hoje faz um lindo dia e dizem que é o Dia do Beijo, o que significa que eu deveria ir para a rua ver o que consigo. (Mas, olha, foi das melhores coisas que já ouvi do gordo Debbie).

Prokofiev! Ah, Serguei é outro papo. Já de cara ele mostra quão fodão é naquele tranquilo Andante assai e no furioso Allegro brusco que o segue. Sem dúvida, é um cara que valoriza o contraste… Nós também detestamos o total flat, a gente gosta tanto dos mares piscininha quanto das descidas vertiginosas; afinal, os acidentes geográficos é o que faz a beleza da paisagem, né? As duas Sonatas de Prokofiev são notáveis.

Stravinsky… Sei que meus pares aqui no blog são admiradores do anão russo e adoro provocar, só que não dá, o cara é bão demais, raramente erra. Será que o gordo Debbie escreveu alguma coisa chamada “Divertimento”? Ele se divertia com o quê?

IM-PER-DÍ-VEL !!!!

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Minha fé já me auxiliou

Minha incipiente fé já deu o ar de sua Graça. Ontem à noite, meu HD que, como sabemos, foi vítima da ira de Deus, teve aquela típica melhora antes da morte em Cristo. Naquele momento iluminado, pude buscar todos meus arquivos de trabalho, todas as mulheres do Porque Hoje é Sábado, todas as músicas, mas senti o dedo duro negativo do Criador no momento em que tentei salvar meus e-mails. Perdi-os. Acho que foi por não ter, sei lá, dado a Extrema Unção ao HD nem rezado. Então, há um buraco negro em meus e-mails entre o dia 30/09/2010 e hoje. Acho que consegui copiar os contatos, ao menos.

Sim, tenho um disco externo. Olha, se não tivesse, não adiantaria nenhuma Providência Divina.

Mais sinais de Deus: o Santo Salvador da Dell viria à tarde aqui em casa. Pois não é que ele me ligou propondo vir de manhã? Bem, estou ajeitando as coisas no micro. Espero que amanhã tenha um dia normal.

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Deus me castigou (uma comprovada intervenção divina)

Eu recém tinha escrito um e-mail para alguns amigos. Nele, confessava uma grande cagada que tinha cometido. Deus avaliou o último fato, somou-o ao rosário de maldades atéias cometidas anteriormente — quando eu era outra pessoa, muito pior — e finalmente resolveu lançar um raio fulminante em meu HD, atingindo-o fisicamente, apesar do mesmo e todo meu computador estarem ainda em gozo de garantia. Foi Ele, não tenho dúvidas. Ele resolveu que 400 GBytes de música eram desnecessários a um ímpio, que as milhares de fotos classificadas cuidadosamente em diretórios com nomes de mulheres (para o Porque Hoje é Sábado, não para o vício onanista) constituiam-se num luxo demasiado e que tudo, tudo, tudo o que faço no computador merecia ter fim e tchum: mandou o raio.

Escrevo para vocês em meu brioso notebook Dell fabricado em 2004. Seu imortal e indestrutível HD (como minha fé em Cristo) tem 30 GBytes. Porém, amanhã, entre as 14 e 18h, virá o Santo Salvador enviado pela Dell e pelo amor do bom Deus. Ele me mostrará como Cristo me ama. Então, estarei limpinho e redimido de meus pecados. Prometo melhorar e temer a Deus. Bom, termino aqui. Está na Hora do Silício.

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A caixa de comentários do antepenúltimo post…

… está sensacional, não? Tenho o maior orgulho do meu grupo de leitores. Vocês me deixam maior do que sou. Ia dar seguimento àquele assunto agora, mas apareceu uma viagem de última hora. Não, nada de férias, volto amanhã à tarde. Alguma sugestão para o Porque Hoje é Sábado? Ando pouco inspirado. Ou fecho aquela coisa de vez?

O Inter? Estive lá ontem à noite. O Fossati simplificou o esquema e até os jogadores entenderam. O time estava organizado, mas é complicado ganhar com tantos erros. Tivemos sorte. There`s a long way, etc.

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O genial El Roto de cada dia

Não sei porque, mas achei as letras da legenda pouco claras. O texto é: “Veo muerte y dolor y no me afecta, ¿emitirán con anestesia?

Obrigado, Helen!

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