Atrás do balcão da Bamboletras (VII)

Atrás do balcão da Bamboletras (VII)

Chega um cliente e coloca estas duas edições lado a lado no balcão e pergunta: “Qual é o correto? O Jogador ou Um Jogador?”. Eu, que por sorte sou casado com uma mulher que tem o russo como língua mãe, respondo que tanto faz.

Ele não gosta da resposta — “Como assim tanto faz?” — e eu lhe explico que o idioma russo não tem artigos. Então, para falar só em Dostoiévski, os originais seriam “Jogador”, “Irmãos Karamázov”, “Eterno Marido”, “Demônios”, “Idiota”, “Adolescente”, etc., o que ficaria no mínimo estranho em português.

Desta forma, o título do romance preferido de Thomas Mann pode ser escrito como quis Rubens Figueiredo (Penguin) ou Boris Schnaiderman (34). Tá bom?

E ambos estão esperando por você na Livraria Bamboletras.

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Atrás do balcão da Livraria Bamboletras (VI)

Atrás do balcão da Livraria Bamboletras (VI)

Fato real, mas só lembrado porque um personagem de Javier Cercas diz o mesmo em ‘O Rei das Sombras’.

Um senhor chega no caixa, coloca uma pilha de três livros bem bons no balcão. Digo-lhe que foi uma bela escolha e ele responde:

— Sabe qual é a pior coisa que pode acontecer com uma pessoa? Chegar aos 70 anos e se dar conta que não sabe absolutamente nada. Me dei conta disso quando tinha uns 35 e desde lá sempre reservo tempo para ler e estudar. Sigo não sabendo nada, mas com tantas leituras, aprendi a disfarçar.

— Disfarça muito bem.

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Atrás do balcão da Livraria Bamboletras (V) — neste caso, nem tanto

Hoje fui entregar três caixas cheias de livros na casa de uma pessoa. Compra grande, bem escolhida, tudo coisa fina, excelente e variada literatura, um show. Mas quando cheguei na casa da cliente não tinha (ou não parecia ter) ninguém. Bati na porta como um louco, nas janelas laterais também, até que veio um cachorro de rua me ajudar. Não adianta, sou um cachorreiro nato. E ele latia e me mordia os calcanhares, puxava as minhas calças e latia; enfim, fizemos um escândalo. Tanto que acordou quem estava dentro de casa. Enquanto esperava que me abrissem a porta, o cachorro abraçou minha perna direita e começou a fazer justamente aquilo que o Bolsonaro quer fazer com a esquerda. O motorista do Uber que me acompanhava disse: “Acho que ele quer sexo casual com o senhor”. Com dificuldade, convenci o bicho que era muito cedo para nós. A porta se abriu. Quando entrei com as caixas dos livros, meu novo amigo entrou junto na maior cara de pau. A dona da casa perguntou: “Quem é esse?”.

 

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Atrás do balcão da Livraria Bamboletras (IV)

Atrás do balcão da Livraria Bamboletras (IV)

Hoje, no início da tarde, chegou um cliente de uns 40 anos que jamais tinha lido Dostoiévski. Descrevi rapidamente os temas de cada um dos cinco maiores romances do russo — Os Irmãos Karamázov, O Idiota, Crime e Castigo, Os Demônios e O Adolescente. Ele empilhou todos. Perguntou sobre a tradução de Paulo Bezerra (editora 34) e eu repeti os elogios que minha mulher, russa e grande leitora, tinha feito. Depois pediu Tchékhov. Falei sobre A Dama do Cachorrinho e Enfermaria N° 6. Ele empilhou mais esses. Passou a Bulgákov. E ele acabou acrescentando O Mestre e Margarida à pilha ou montanha (mágica?). E me disse: “Agora vou ter que escolher”. Pegou mais alguma coisa que não vi, hesitou dois segundos e decidiu.

— Quer saber de uma coisa? Vou levar tudo!

Não sei se a beleza salvará o mundo, mas acho que a leitura facilitará a vida dele na crise.

Fiquei feliz por ele. Imaginem que ele vai ler aquilo tudo PELA PRIMEIRA VEZ. E graças à Bamboletras.

P.S. — Perguntamos se algum era para presente e a resposta foi “Não, nenhum”.

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Atrás do balcão da Livraria Bamboletras (III)

Atrás do balcão da Livraria Bamboletras (III)

(fato ocorrido domingo, 26/5, em plena crise dos combustíveis)

Uma senhora chega ao balcão para fazer uma troca de um livro. Enquanto paga a diferença, fala ao telefone:

— Oi, minha filha, estou aqui na Bambô trocando teu livro, mas queria mesmo era te fazer um convite. Vamos dar um passeio? Ir a um café ou sorveteria? O tanque do carro ainda não chegou perto da reserva e queria aproveitar contigo. O dia está lindo, o trânsito maravilhoso e a gente poderia andar por aí. Imagina, poderíamos olhar para a cidade!

A filha certamente concordou, pois ela sorri vivamente.

— Tá bom, te arruma porque chego em dez minutos. Vamos nos esbaldar!

zona sul

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Atrás do balcão da Livraria Bamboletras (II)

Atrás do balcão da Livraria Bamboletras (II)

Entra uma senhora muito elegante e perfumada. Ela circula pelas estantes e escolhe uns três livros. E chega ao balcão dizendo:

— Tendo a Bamboletras, não preciso de viagens nem diamantes.

— A senhora não precisa de amantes? — pergunta o atendente em faixa própria.

A senhora cai na risada incontrolavelmente. Passados alguns minutos e vários “não é possível”, “eu vou morrer de rir”, ela paga e diz.

— Certo, um amante eu aceitaria.

Mais risadas.

O Clooney, por exemplo
O Clooney, por exemplo

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Atrás do balcão da Livraria Bamboletras (I)

Atrás do balcão da Livraria Bamboletras (I)

Ele entra esbaforido na livraria e pede o livro ‘O Aleph’.

— Sim, temos. E entrego para ele o livrinho preto da Companhia das Letras.

Ele me olha confuso. Gira e gira o livro entre as mãos e diz que o livro que quer é de outro autor brasileiro que não aquele Jorge Luis Borges.

Deixo passar livre a nacionalidade do autor e lhe respondo que não sei de outro Aleph.

— O livro que eu quero tem uma mulher nua dentro d`água na capa. Tem também um raio de sol por trás. É uma capa bonita, não é simplesinha como esta.

Tento visualizar tal capa — ela não é nada borgeana — e lembro:

— Ah, existe um Aleph de Paulo Coelho!

— ISSO! É este que eu quero!

— Ah, pena. Este não temos…

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