O futebol não impressionou ninguém, mas o resultado foi uma montanha de alegria | Foto: SC Internacional
A primeira boa notícia do domingo foi a vitória obtida fora de casa com dois gols de Sasha, que nem jogou muito bem, mas quem sou eu para reclamar de um jogador que marcou dois gols num time com tantas dificuldades para atacar? Sasha foi genial! O que interessa é que ele estava no lugar para receber os belos passes de Vitinho e William — aliás, que jogada do William no segundo gol, hein?
Curiosamente, este jogo pareceu muito com a primeira partida das finais da Libertadores de 2006. Então e agora, São Paulo 1 x 2 Inter. Atacantes loiros fizeram dois gols lá e cá — Sóbis e Sasha –, dois zagueiros descontaram — Edcarlos e Lugano –, dois atletas do Inter foram expulsos — Fabinho e Alex — e só faltou uma expulsão do SP hoje, pois em 2006 Josué foi expulso.
A outra boa notícia foi a excelente estreia do goleiro Danilo Fernandes. Tranquilo, atuou como se estivesse há anos na posição. Outra bela atuação foi a de Fernando Bob. Não erra passes. Já o outro estreante, Anselmo, foi bem retirado por ti, Argélico. OK, é o primeiro jogo do ex-jogador do Joinville, mas ele poderia ter sido menos péssimo, não? Nilton entrou muito melhor.
Estamos passando por uma fase Simeone. sabemos nos defender, mas, se for necessário atacar, será uma cesariana para fazer um gol, principalmente em times que venham ao Beira-Rio fechados. Ontem, no Morumbi, fizemos dois em contra-ataques. Dou o braço a torcer, Argélico, tu ajeitaste a defesa, mas será que não tem ninguém na tua comissão técnica para dar jeito no ataque? É tudo muito previsível e lento. Nosso time joga feio que dá nojo de ver, mas defende-se bem, já disse isso.
A falta de técnica e beleza começa lá atrás. Nosso goleiro bateu tiros de meta quase sempre com o tradicional chutão para a frente. Apenas uma vez saímos jogando calmamente, com argumentos futebolísticos e não com gritaria. Mas vamos lá. Espero dificuldades contra um Sport retrancado na quinta-feira, às 16h. O jogo será no Beira-Rio. Mas acredito na vitória.
(Ah, o acordo entre o Inter e o Esporte Interativo está gerando efeitos na RBS. Mais do que nunca, é tudo contra o Inter. Imaginem que ontem “a arbitragem nos auxiliou”. Já para o Première, a Fox e a ESPN — emissoras paulistas — tudo foi normal).
Como bem assinalou o Corneta Colorada, nenhuma previsão é demasiadamente pessimista quando o assunto é o Internacional. Sabemos que o Campeonato Gaúcho caiu em nossas mãos em razão da incapacidade do Grêmio de chegar a outro lugar que não seja a Arena e sabemos que tu, Argel, és é ainda nosso técnico em razão… Bem, aí eu já desconheço o motivo.
Ontem, tu bateste todos os recordes. Com Anderson fora, recuaste Sasha para colocar Aylon. Ora, isso é mudar a característica do time, é mudar o esquema. Por pior que esteja, o substituto de Anderson é Alex, sempre Alex. E ele não estava nem no banco… Mais: em vez de colocar 12 reservas, como o regulamento do Brasileiro permite, colocaste só 7… E ainda cometeste mais duas piadas dignas de um verdadeiro pateta.
(1) Escalaste Paulão para bater o pênalti. Ora, Paulão é um de nossos melhores jogadores de 2016, mas convidá-lo para bater pênaltis é uma absoluta demasia. Ele não é bom do ponto de vista técnico e ontem estava especialmente atrapalhado, com saudades dos atacantes mansinhos do Gauchão.
(2) Retirar o centro-avante Aylon para colocar William na lateral esquerda e Gustavo Ferrareis no ataque (com a saída de Artur) foi digno da imensa gargalhada que dei na hora.
O Inter fez 30 cruzamentos para a grande área. Este talvez seja outro recorde, mas é antes outro absurdo, considerado-se que visavam Aylon e um grupo de jogadores não muito altos. O goleiro da Chapecoense consagrou-se, é claro.
E houve aquele momento-vexame dos times sem comando: em uma falta a favor do Inter, ninguém foi fazer a cobrança. O árbitro mandou que o mais próximo desse continuidade ao jogo. Ou seja, assim como qualquer um bate pênalti — e erra –, qualquer um serve para bater faltas no meio-de-campo.
Nosso time é uma pândega e só estou aguardando que tu caias, Argel. Já são 10 meses que nosso clube — altamente profissional em algumas áreas — deixa o futebol nas tuas mãos, um amador que faz marketing de suas qualidades nas entrevistas coletivas pós-fiascos.
A Elena disse que eu vibrei mais com os gols do Rosario Central do que com os do Inter ontem. Deve ter razão. O gol de Sasha foi um alívio, foi a obrigação cumprida, a certeza de que não passaríamos por um fiasco. Já os do RC foram puro divertimento.
Ainda considero o Gauchão uma espécie de antepasto. Só que o jantar, meus amigos, não vem há décadas. Então gostaria de projetar o Brasileiro e a Copa do Brasil.
O Inter não joga bonito. É um time realista, pragmático. Marca bem, tem uma defesa que foi se consolidando durante o campeonato e que hoje é complicada de suplantar. Paulão e Ernando acertaram-se, apesar de não terem bons reservas. Fernando Bob e Fabinho são excelentes (e temos Dourado voltando). E, quando a coisa aperta, temos-tínhamos Alisson, um goleiraço. Os laterais William e Artur passaram a jogar e, se fossem todos acompanhados por atacantes de bom nível, teríamos um time bem perigoso.
E a tendência é esta: a de termos um time difícil de ser vencido e que explora o contra-ataque e a bola aérea para chegar aos gols. (Detesto hexas equipes duras de matar, principalmente quando estão do outro lado…) Neste sentido, a contratação de Ariel não é uma esquisitice, mas uma declaração de princípios. Não vamos jogar bonito. Ponto.
Acho que a contratação de Danilo Fernandes para o lugar de Alisson foi perfeita. Era a melhor opção dentro do Brasil. Nilton deve retornar e espero que não tome mais remédios para emagrecer. Mike talvez se una a um grupo de atacantes que deve ter seus destaques em Vitinho, Valdívia e Andrigo. A contratação de Anselmo preocupa, pois talvez signifique a venda de Dourado. Seijas é um excelente armador para alternar com Anderson.
Há que ter grupo para levantar as taças do segundo semestre. Grupo bom e grande. O Brasileiro não é nosso há 37 anos, a Copa do Brasil há 24. Já entramos como favoritos diversas vezes e quase sempre ficamos em nossa posição natural e desconfortável de oitavo clube do país. Talvez seja bom entrar como coadjuvante esforçado este ano.
A gozação de Sasha ao dançar uma valsa pelos 15 anos sem títulos do Grêmio foi muito engraçada, mas lembremos que o Gaúcho não faz parte da contabilidade gremista sem títulos. Então não pode fazer da nossa e estamos há 5 anos sem nenhum título…
Hoje, o Inter anunciou a morte do grande centroavante Larry (Pinto de Faria). Ele fez 176 gols pelo Inter e participou do surpreendente Gre-Nal de inauguração do Estádio Olímpico. O Grêmio esperava ganhar e tomou 6 x 2, em um fiasco que os antigos não esquecem. Naquela partida, Larry marcou quatro vezes. Meu pai ria muito descrevendo o jogo. De estilo clássico e cerebral, Larry marcou época no clube. Lembrei desta excelente reportagem que o Impedimento fez com o ex-atacante em 2012, quando ele estava prestes a completar 80 anos e enquanto seu palco, o Estádios dos Eucaliptos, era derrubado.
O cerebral Larry no Estádio dos Eucaliptos – um documento
De repente, não mais que de repente, sem cerimônia nem anúncio no jornal, as máquinas adentraram o campo santo dos Eucaliptos e começaram seu trabalho. Deve ter sido numa sexta-feira, quando as preocupações de todos estão mais voltadas ao que fazer do fim de semana. De forma mecânica, rápida e compassada, as máquinas arrancaram gomos espessos de tijolo e concreto do mítico estádio do Internacional, processo que não durou mais que cinco dias. Desaparecia, fisicamente, a memória do Rolo Compressor, do Rolinho, do gol em plano inclinado de Carlitos, da Copa do Mundo de 1950, das arrancadas de Tesourinha, das pestanas tiradas por Charuto durante as partidas, da entrada triunfal da cabrita Chica no meio da torcida, da zaga intransponível de Alfeu e Nena, das tabelas fatais entre Bodinho e Larry, que ficou para contar a história.
Fazia muito calor e não havia nuvens naquele começo de tarde de terça-feira, 14 de fevereiro, quando Larry Pinto de Faria desceu do automóvel, que dirigia de próprio punho, reclamando em tom de brincadeira do horário da entrevista, que lhe obrigara a encurtar a sesta sagrada. Aos 79 anos, Larry merece que lhe respeitem o horário de descanso. Mas fora o contratempo, encontrou uma sombra no meio do canteiro de obras, sentou e conversou por quase uma hora com o Impedimento.
O gol que considera o mais bonito, a estreia nos Eucaliptos, a ovação da torcida, a convivência com os colegas no alojamento do estádio, a vida construída em Porto Alegre, o amor por apenas um clube e por que no futebol há coisas mais importantes que o dinheiro. Tudo isso foi dito por Larry neste documento de 30 minutos, gravado com o microfone “vazando” na imagem por conta do barulho das máquinas, que durante a entrevista destruíam o que restava da casa e do palco principal do cerebral Larry.
Natural de Nova Friburgo e oriundo do Fluminense, Larry chegou ao Inter em 1954 para pegar experiência. Acabou ficando no clube até 1961, marcando 176 gols e se tornando um dos maiores artilheiros da história colorada. É também o último remanescente do Rolinho, como ficou conhecido o time que foi a sequência do grande Rolo Compressor. Depois de encerrada a carreira de jogador, ainda foi vereador por quatro mandatos e secretário municipal de Porto Alegre. Nos dias atuais, desempenha com cortesia e generosidade o papel de memória viva do Internacional dos anos 50 e do Estádio dos Eucaliptos, o grande estádio do futebol gaúcho naquela época.
Na falta de alguém com força para erguer uma taça — mesmo uma pequenininha como a do Gaúcho –, parece que sobrou pra nós novamente. Estamos longe de sermos um portento e até acho que nossa situação é bem preocupante para o Brasileiro que começa dia 15 de maio, mas os adversários não parecem ter capacidade de enfrentarem nossa tradição de dar voltas olímpicas.
Ontem, fizemos um belo gol contra o Juventude e pouca coisa mais. Vitinho criou todas as nossas melhores jogadas no primeiro tempo, do qual saímos vencendo. Ele foi o personagem principal da partida. Deu passe espetacular para Andrigo marcar e antes já tinha feito grande jogada pelo lado, cruzando para Sacha, que chegou atrasado quando era só empurrar para o gol.
Depois, Vitinho recebeu dois cartões em um minuto, ambos aos 22 do segundo tempo. Se eu fosse gremista, diria que o atacante colorado foi caçado em campo. Foi. Mas a arbitragem não é uma coisa inteligente e todos os juízes do mundo dão cartões em faltinhas bobas dos atacantes. Vitinho devia saber disso.
Por falar em gremistas, a arbitragem envolveu-se em confusão quando a bola bateu no braço de Ernando. Alguns dão pênalti neste tipo de ocorrência, só que Vuaden mandou seguir. Alegou que o braço de Ernando estava junto ao corpo. Estava. Por fim, o Juventude pressionou, mas não chegou nem perto de furar nosso bloqueio.
Com o resultado, seremos campeões no Beira-Rio até com empate. O Juventude, para reverter a desvantagem e sair de Porto Alegre com a taça, precisa vencer pelo placar de um gol de diferença, a partir do 2 a 1. Caso devolva o 1 a 0, a decisão ocorrerá nas penalidades. A partida será no próximo domingo, às 16h.
Tão importante quanto, será secar o Grêmio que joga na quinta-feira, às 19h15, no Gigante Arroyito em Rosario. Imaginem que hoje o Rosario Central joga contra o Gimnasia La Plata no mesmo estádio, às 16h, enquanto que o imortal está de folga desde a última quarta. Como dão grande importância ao Argentino, chegarão cansados na quinta. Mas acho importante que o Grêmio não tenha seu desempenho no Brasileiro prejudicado pela Libertadores. Ainda mais que, se passarem pelo Rosario, pegarão a patrola do Atletico Nacional. Queremos o Grêmio fora ainda esta semana!
Enquanto isso, há dois campeonatos nacionais bem interessantes que vão chegando ao fim. Faltam duas rodadas. Na Inglaterra, o Leicester vai obtendo uma conquista inédita — resultado de um campeonato que divide com justiça a grana de TV, gerando uma disputa bem equilibrada — e o Benfica parece que levará o português, apesar da implacável perseguição do melhor time do campeonato, o Sporting de Jorge Jesus.
Roger Machado: com um time insuficiente para a Libertadores
Pois a bagunça do time do Grêmio é digna de Argel. O goleiro do Rosario Central assistiu o jogo quase sem trabalhar. A pressão faz muito mal a Roger Machado. Quando seu time está perdendo, ele começa a empilhar atacantes e raramente tem sucesso. Ontem, sob pressão inédita após a eliminação para o Juventude, ele mandou seu time correr e correr. Na verdade, vi poucos times correndo mais do que o Grêmio ontem. Os bons Giuliano, Douglas e Luan corriam tanto que, quando recebiam a bola, já estavam no meio da zaga do Rosario Central (RC), sem espaço para nada. A correria não gera espaços, é a inteligência e sincronia da movimentação que faz isso.
Então, quando pisava forte no pedal para fazer a bicicleta andar, a correia se soltava e o time tinha que parar a fim de que se recolocasse o diabo na correia no lugar. Era correr e perder a bola, era correr e errar passes, era correr e cometer faltas.
E o Grêmio tem dois volantes enganadores. Wallace tem bom chute, bom toque de bola, mas é desatento na marcação. Deve ter sido um ótimo terceiro homem de meio-de-campo nas divisões inferiores, só pode. Já Maicon tem toque curto, de primeira e impressiona, porém é incapaz de uma virada de jogo, pois sofre de mal congênito (ao menos dentro de campo): não é lá muito esperto. Não se pede criatividade a um volante, mas ele precisa ter método. Maicon passou ontem à noite fazendo impensadamente as mesmas coisas tolas e ainda entrando por cima da bola, um hábito seu. Estava irritado, claro. Trabalhar sem resultado acaba irritando.
Deste modo, o Grêmio era um time de bons atacantes anulados, de volantes inúteis e de defesa apenas mais ou menos, pois lá estão os estilistas Bressan e Marcelo Oliveira..
E o RC é um bom time, apesar de ter Herrera no ataque… Sei que é difícil enfrentar um time de malucos, mas os argentinos davam passes longos e abriam espaços. Perderam muitos gols. Cabia mais, mas eles não forçaram, talvez com receio da fúria impotente do adversário. Afinal, fúria é sempre fúria, né?
Até a ZH ficou perturbada e sentenciou: “O Rosario Central continuou uma equipe ameaçadora no segundo tempo. Muito por conta da falta de inspiração do Grêmio, que acertava muito mais que errava”. Meu deus, que baita ato falho! Antes já tinham dito que o Grêmio jogara “sem força” quando o que houve foi excesso de força. Mas não interessa. O que interessa é o campo e a bola pune, como diz Muricy Ramalho.
Francesco Totti tem 39 anos, em setembro completa 40. O tratamento que recebe na Roma fala de inteligência, oportunidade e respeito. Totti está ativo e muito. O técnico Luciano Spalletti ainda não descartou um dos melhores jogadores da história da Roma. Ele não foi para o River Plate como D`Alessandro ou enxotado como Iarley, apenas reduziu seu salário e permanece útil ao clube. Sim, em campo.
Na complicada partida do Campeonato Italiano do último domingo, entre Napoli (2º lugar) e Roma (3º), Totti foi colocado no time aos 80 minutos, conforme pode ser visto no vídeo abaixo. Estava 0 x 0. Na beira do gramado, ele foi ovacionado como ídolo, aplaudido de pé pelo Olímpico de Roma. O time se animou. Totti entrou correndo muito e fazendo tudo o que sabe naqueles 10 ou mais minutos finais. Deu três passes espetaculares. Dois foram desperdiçados. O outro deu início a uma troca de passes que resultou no gol da Roma aos 89 minutos.
Totti passou por um período complicado em que esteve dizendo que “não contava mais”, mas hoje ninguém mais discute sua veterana utilidade.
Respeito, inteligência e oportunidade. E às vezes tudo ainda é resolvido por Totti. Eu não sei o que passava pela cabeça dos dirigentes do Inter quando emprestaram nosso super ídolo D`Alessandro para o River. É um desrespeito, é virar as costas para o passado recente do clube, além de ser uma triste demonstração de burrice e falta de gratidão.
É claro que o Grêmio é nossa diversão. Ainda mais que sabemos que eles tinham o melhor time do Picanhão 2016. Só que desaprenderam o caminho das taças. A única coisa de imortal no Grêmio são as piadas (*). Ontem, eu dava risadas assistindo o jogo. Quando o Roger tirou o Douglas, o Grêmio começou a minguar e logo vi que ia mesmo ficar faltando um gol. Lembrei-me de jogos de tênis nos quais tenistas menores batem e batem em Djokovic, Federer e Nadal, mas perdem o jogo. Mantém brilhantemente seus saques e estão sempre quase quebrando o do adversário. Mas, na hora da decisão, ficam nervosos e encolhem o braço, deixando a vitória para… quem está acostumado a vencer. O Grêmio também é assim. Na hora de dar o golpe fatal, encolhe o braço. É a psicologia da Arena e há que respeitá-la.
E o Campeonato Gaúcho será decidido por dois times bem vagabundinhos. Ver o Inter jogar é um suplício. Um pega a bola e ninguém se desmarca para receber. Dois bons jogadores, como Sacha e Andrigo, não conseguem jogar pela falta absoluta de esquema. Nosso técnico — além de de ignorar os plurais e a concordância na entrevistas — não consegue aplicar nenhuma tática. Ênio Andrade também falava muito mal, mas era um baita treinador de boleiros.
E vamos para uma decisão imprevisível. Hoje, o Inter é realmente o quarto melhor time do RS, porém tem camiseta e naturalidade na hora de levantar e guardar taças, mesmo uma pequenininha como essa. A gurizada do Ju é boa e até seria simpático vê-los dar a volta olímpica. Mas são o Juventude. O primeiro jogo, no Jaconi, será domingo que vem. O Inter decide em casa e, sabemos, é só ver um time retrancado que paramos. Não há dinâmica de jogo para abrir uma retranca. Temos só Paulão.
A semana terá Grêmio x Rosario Central quarta-feira. Não vi o RC jogar, mas espero que seja melhor do que a LDU e aquele ridículo time do Papa. O presidente Bolzan disse uma frase verdadeiramente notável após a desclassificação de ontem: Se for como hoje podemos fazer cinco no Rosario Central, como fizemos 4 a 0 na LDU. Ou seja, ele acha que perder gols é uma categoria à parte do jogar bem.
Vou poupar vocês dos melhores lances de Inter 1 x 0 São José, pois quase não houve isso. Fiquem com Grêmio 3 x 1 Juventude. Teve futebol na Arena.
https://youtu.be/24SrNzAo–A
(*) Frase roubada do twitter de Sandro Sotilli (@sandrosotigol).
Não vi os últimos 4 jogos do Inter. Por isso, não comentei as goleadas sobre Novo Hamburgo, Brasil (Pel), Glória e São Paulo (RG). Ao todo foram 15 x 3. Mas conversei com amigos confiáveis e eles me disseram que as goleadas ocorreram mais pela ruindade e falta de preparo físico dos adversários do que por atuações avassaladoras. Hoje, voltei a ver um jogo. Alguns dirão que é pé frio, pois o que vi foi uma considerável exposição de passes errados e incapacidade ofensiva. Mais: o Inter poderia muito bem ter perdido a partida nos contra-ataques do São José, um time de nível de terceira divisão brasileira. Acabou em 0 x 0.
Não sei como venceremos em casa no Brasileiro.
Pois o que o Zequinha fez foi fechar-se. E bastou. Assisti a partida com um grupo de amigos colombianos e fiquei sabendo que o jogador o qual o Inter desistiu. Juan Quintero, é excepcional, e que Seijas, contratado, é um bom organizador. Completaram dizendo que Quintero entraria como uma luva no nosso time. Olha, e como precisamos de reforços. De técnico e de reforços. A gurizada é boa, mas falta ao grupo uma liderança técnica. Não faço coro às críticas contumazes feitas à Anderson, mas não chego ao ponto de dizer que ele possa ocupar o posto.
A boa notícia da semana foi para os sócios. Não gosto de pagar um clube do qual desconfio e tenho feito isto por anos. Na segunda-feira (11), as contas da Gestão 2015 do Inter foram apresentadas e aprovadas sem ressalvas. Trata-se de um caso raro, se considerarmos os últimos anos. Lá estavam 233 conselheiros, que puderam comprovar os números detalhados da gestão. E o superávit final foi de R$ 27,5 milhões, com um faturamento bruto de R$ 366.849 milhões, o maior da história do Clube, tal como foi apresentado por Sandro Farias, responsável pela Controladoria e Transparência.
Pelo visto, ninguém sairá da direção do clube MUITO MAIS RICO do que entrou.
É a única boa notícia da semana. De resto, contratem bem e #foraargel.
O Paraguai controlava o jogo com facilidade, ganhava por 2 x 0 desde o início do segundo tempo. Desenhava-se uma goleada no Defensores del Chaco, de ótimo gramado, como não era antigamente. Ao final da partida, quando parecia que teríamos uma derrota nossa — e eu a desejava –, ocorreu um fato que foi muito mal administrado pelos paraguaios: faltou preparo físico ao time de Ramón Díaz. Tal fato foi acompanhado da postura mais errada e comum para este tipo de situação. O Paraguai recuou e começou a dar chutões pra frente.
Ora, sabe-se que (1) o time que não tem a bola é obrigado a correr muito mais a fim de marcar o adversário — tarefa muito mais penosa — e (2) o time que só chuta pra frente multiplica o número de oportunidades do adversário. Tal postura fez com que o Brasil passasse a amassar o Paraguai. Ficamos inteiramente no campo deles e quase que viramos o placar.
Agora, a Seleção Brasileira passará cinco meses em sexto lugar entre 10 times, fora até da repescagem, transcorrido 1/3 das eliminatórias. A próxima rodada é só no início de setembro, quando teremos dois jogos bem legais para seguirmos mal. Equador em Quito e Colômbia no Brasil, sabe-se lá com quem na Presidência da República.
Ok, eu sou meio sádico. Gosto de ler sobre qualquer gênero de decadência — exceto a física — e adoro quando grandes planos que não me incluem e que são de visibilidade municipal, regional, federal ou mundial dão errado. Nunca disse que sou boa pessoa. Um de meus projetos atuais é o de acompanhar o Brasil caindo fora da Copa da Rússia. Estamos no início das Eliminatórias, mas tenho enorme fé.
Torcedor coloca flores na estátua de Cruyff em Amsterdam
Quando Pep Guardiola chamou Xavi Hernández para uma conversa em particular, com o intuito de lhe contar o novo esquema que o FC Barcelona utilizaria a partir daquela temporada, o meia pensou que o treinador estava ficando louco.
A ideia era muito simples: “recuperar a bola em seis segundos”.
Xavi saiu atônito da conversa pensando que isso era impossível.
Era um ano de mudanças no Barça, Temporada 2008-2009.
Xavi havia liderado há pouco tempo a seleção espanhola de Luis Aragonês no título da Eurocopa, depois de 44 anos de jejum.
Guardiola não estava brincando e começou uma revolução que fora iniciada em 1974, quando Johan Cruyff comandou o Carrossel holandês na Copa de 1974.
O técnico Rinus Michels criou o sistema conhecido como ‘Laranja mecânica’.
Segundo a lenda, Pedro Rocha, ídolo uruguaio e ícone do São Paulo FC nos 1970, disse querer chamar sua mãe duas vezes quando esteve em campo: a primeira com 17 anos, na sua estreia no clássico Peñarol e Nacional, com o estádio Centenário repleto.
A segunda, aos 32 anos, quando enfrentou a Holanda na Copa de 1974.
“Quando peguei a bola pela primeira vez, quatro jogadores vieram para cima de mim e me tiraram a bola. Não entendi nada, mas na segunda vez, a cena se repetiu, e foi assim o jogo todo. Ali, eu quis a minha mãe”, disse o craque da Celeste Olímpica.
A “laranja mecânica” ficou conhecida assim pela maneira que fulminava seus adversários/vítimas, tal qual no filme de mesmo nome de Stanley Kubrick.
Eram duas faces de um mesmo time.
Com a bola era um Carrossel em um sistema de jogo equilibrado, conciso, paciente, em que todos jogam, giram, defendem, atacam, em posicionamentos giratórios.
Atacante na defesa, defensor na área.
Foi assim no primeiro gol da Holanda contra a Alemanha, na final de 1974. Vinte dois jogadores no campo de atacante. A Holanda sai jogando e depois de vários toques Cruyff recebe no meio-campo, sozinho.
Às suas costas apenas o goleiro Jongbloed.
Cruyff avança, dribla seu marcador, leva mais dois, até ser derrubado na área alemã.
Silêncio em Berlim.
Neeskens cobra e faz Holanda 1 a 0.
Finalmente a Alemanha pega na bola.
No sistema do Carrossel há altos e baixos. O jogador que sobe também desce. Como num parque de diversões – alguns dos cavalos ficam estáticos em sua posição como jogadores de pebolim.
O carrossel laranja é mais moderno. Ele se mexe. O sistema podia vencer o talento individual, um grande time. Sem a bola era fulminante, todos atrás do esférico, parecendo moleques no tempo da escola.
O Brasil encantou o mundo com a melhor seleção de todos os tempos em 1970.
A Holanda quebrou a roda giratória do talento individual misturado em uma mesma equipe.
Um ditado holandês diz: “Deus fez o mundo. E o holandês fez a Holanda”.
Seguindo o mesmo exemplo: o brasileiro criou o futebol arte.
O holandês o revolucionou com seu futebol total.
Quando camisas laranjas reluziam em campo com três listras horizontais nos ombros dos atletas, a de Cruyff estampava duas.
Johan se negou a usar a camisa da patrocinadora da seleção, a Adidas, com suas tradicionais três listras. A Federação holandesa acabou cedendo por pressão popular e midiática, e por não poder perder sua maior estrela.
Naquela Copa a Holanda triturou o Uruguai, fulminou a Argentina e amassou o Brasil, em Dortmund, apesar das chances que o time de Zagalo teve para abrir o placar.
Perdeu a final de virada, mas é mais lembrada e festejada que a campeã Alemanha.
Na semifinal, Jairzinho pega na bola na altura do meio-campo. Gira para direita, esquerda, recua, tenta se safar do marcador holandês. Chega mais um, dois, três. O furacão da Copa de 1970 tenta um passe no meio, procura respirar, mas chegam dois holandeses e antes do Brasil tocar novamente na bola a Holanda a recupera.
Algo em torno de seis segundos, como pediu Guardiola a Xavi 34 anos depois.
Cruyff foi o grande nome daquele sistema.
Tricampeão continental com o Ajax, depois da Copa do Mundo chegou à Barcelona. Tempos difíceis aqueles. Quatorze anos sem vencer a Liga, final do regime franquista. O FC Barcelona já era “Més que un club’, por sua resistência ao regime e todas as suas arbitrariedades dentro e fora do mundo do futebol.
Quando o revolucionário Cruyff pisou em Barcelona já era um ídolo da Catalunha, pois se negara a jogar no Real Madrid e forçou a direção do Ajax a aceitar a proposta do Barça: 60 milhões de pesetas, na maior transação do futebol mundial até meados dos anos 1990.
O Barcelona voltou a ser campeão espanhol depois de 14 anos, com direito a histórica vitória por 5 a 0 contra o Real Madrid dentro do Santiago Bernabéu.
Se um Barça-Madrid fosse somente um jogo de futebol, aquele resultado já seria épico. Como não é, aquela goleada dentro do coração de Madri foi o grito preso na garganta contra a opressão e proibição que catalães e barcelonistas (culés) sofreram durante o regime franquista – como não poder celebrar títulos em público.
A semente da revolução foi plantada na Catalunha na sua passagem como jogador do FC Barcelona.
Em 1988, 20 anos antes de Pep Guardiola assumir o comando do Barça e quebrar recordes de títulos conquistados em quatro anos de Santos e Ajax, Cruyff transformou o Barcelona naquilo que seria hoje em dia o ‘dream team’ campeão europeu de 1992, com Koeman, Guardiola, Laudrup, Stoichkov e outros.
A história do FC Barcelona tem um antes e depois de Cruyff, como a do futebol passa por antes e depois de Pelé.
Futebol é religião. E se todas as religiões têm messias, profetas e apóstolos, Cruyff se posiciona em uma Santíssima Trindade subjetiva, na qual cada um de nós têm ao menos um na mesa de 12 apóstolos, junto com o Criador.
O futebol total que o ‘Pep team’ jogou e encantou o mundo com posse de bola inimagináveis de 70% contra equipes tops do mundo é a evolução do ‘Carrossel Laranja-Laranja Mecânica’, do ‘Dream team’ do Barcelona de Cruyff.
Johan Cruyff nos deu adeus hoje pela manhã, o mais revolucionário dos jogadores de futebol que existiu.
Conhecedor das regras do jogo, em dezembro de 1982 rolou a bola para frente em um pênalti na vitória do Ajax por 5 a 0 contra o Helmond Sport, na qual adversários ficaram sem entender o que acontecia.
Foi o primeiro e, talvez um dos poucos, que se rebelou contra um patrocinador por não achar justo reluzir a marcar de uma empresa capitalista e não receber nada por isso.
Foi expulso contra o La Coruña em 1974, em Riazor, e por considerar injusta a expulsão se negou a sair de campo. Só saiu quando a polícia entrou em campo para retirá-lo – momento registrado em fotografia no Museu do Barcelona.
Telê Santana
Em 1992, quando perdeu a final do mundial de clubes para o São Paulo de Telê Santana, de virada, proferiu uma das mais lindas frases sobre futebol, que envaidece muito a todos os são-paulinos como eu, ao demonstrar um exemplar espírito esportivo ao dizer:
“Se é para ser atropelado, que seja por uma Ferrari”.
Hoje o mundo do futebol amanheceu de luto e de luto ficará por oficiais três dias.
Perdemos não somente um grande e brilhante jogador, mas um filósofo, idealista e revolucionário jogador e técnico que preparou 20 anos antes como um time de futebol iria jogar e conquistar o mundo com o melhor futebol de todos os tempos.
A France Footbal resumiu a história do FC Barcelona com uma foto. Nela se vê a camisa 14 de Cruyff, a 4 de Guardiola e a 10 de Messi. Na legenda se lê, respectivamente: o Pai, o Filho, e o Espírito Santo.
O futebol ficou de luto, mas em especial todos nós, culés, ficamos órfãos.
Antes de Pelé? Ah, antes de Pelé houvera Friedenreich, Leônidas, Zizinho, Ademir de Menezes. Antes de Maradona? Ah, antes de Maradona houvera Loustau, Pedernera, Di Stéfano. Antes de Beckenbauer? Ah, antes de Beckenbauer houvera Fritz Walter, Helmut Rahn. Antes de Zidane? Ah, antes de Zidane houvera Michel Platini, Raymond Kopa, Just Fontaine. Antes de Roberto Baggio? Ah, antes de Baggio houvera Silvio Piola, Giuseppe Meazza, Giampiero Boniperti, Gigi Riva…
Cruyff para sempre apontou os caminhos do futebol holandês | Sportfotodienst gmbH / VI Images
Claro, houve gente da Holanda que tratou bem a bola antes dele. Mas nenhum (ressalte-se: NENHUM) com a capacidade de pensar sobre o jogo, colocar em prática um estilo de jogar futebol que marcasse tanto um país, que criasse raízes tão fundas, até hoje seguidas de um modo ou de outro pelos times e pelas seleções holandesas depois dele. Por isso, é justo dizer: não havia futebol holandês, não havia seleção holandesa antes de Hendrik Johannes Cruyff, falecido nesta quinta aos 68 anos, vestir a camiseta laranja.
Nascido em Amsterdã (cresceu na Akkerstraat, no bairro de Betondorp), Cruyff foi maturando sua habilidade nas peladas pelas ruas de Amsterdã – isso, quando não tinha de trabalhar na quitanda mantida pela mãe, Petronella “Nel” Bernarda Draaijen, e pelo pai, Hermanus “Manus” Cornelis Cruyff. Porém, em 1959, seu pai “Manus” morreu, vitimado por um ataque cardíaco, no que foi um dos maiores traumas de sua vida. A perda também levou-o para um caminho decisivo em sua carreira: já trabalhando voluntariamente no Ajax, não só “Nel” passou a ser remunerada pelo clube, mas também foi trabalhar como empregada doméstica na casa do inglês Vic Buckingham, técnico do Ajax. Enquanto isso, “Jopie” (apelido de infância de Cruyff) já estava na escolinha do Ajax desde 1957. E não demorou a ascender para marcar época. Veloz e técnico ao mesmo tempo. Parecia correr o que não pudera na infância, por um problema de saúde. Ao mesmo tempo, parecia ter o campo todo em sua cabeça.
Tanto é que marcou gol logo em sua estreia pelos profissionais do Ajax, ainda com Vic Buckingham como o treinador – o único do time na derrota por 3 a 1 para o GVAV, em 15 de novembro de 1964, pela 11ª rodada do Campeonato Holandês 1964/65. E justamente em 1965, chegou aquele que seria seu mestre, o sujeito que exigiria demais dele – mas também o trataria como seu pupilo, numa relação de amor e ódio: Rinus Michels. Que faria de Cruyff o ponto principal, o “primus inter pares”, o craque entre craques, o personagem a ajudá-lo em campo no caminho que levou o Ajax a se transformar num clube lendário no futebol europeu e mundial. O pupilo reconheceu isso quando Michels faleceu, em março de 2005: “Ele me deu muitas broncas, mas me fez ser o que sou”.
Também ficou marcada desde cedo a irascibilidade do gênio. Basta mencionar sua primeira partida pela seleção holandesa, em 7 de setembro de 1966, contra a Hungria, num amistoso. Ele já marcou o primeiro de seus 33 gols pela Oranje. Mas também foi o primeiro jogador da história da equipe nacional holandesa a ser expulso de campo. Afetou tanto sua imagem que recebeu uma suspensão de um ano. Seu temperamento pode ser resumido numa frase dita orgulhosamente: “Nunca aceitei uma ordem”.
Tão logo voltou, viu-se que não se poderia prescindir daquele jogador único. E único não só dentro de campo. Sua parceria com o sogro Cor Coster (sogro a partir de 1968, após o casamento com Danny) o transformou no primeiro jogador holandês a capitalizar em cima da própria imagem naquele futebol de riqueza crescente. Cada patrocínio, cada camisa que vestia, cada produto que propagandeava: tudo rendia a Johan milhares de florins, a moeda holandesa antes do euro. Vale dizer: Cruyff não era só um símbolo do futebol holandês, era um símbolo da mudança da sociedade holandesa nos anos 1960-70. Basta lembrar da camisa de duas listras que a Adidas fez para ele na Copa de 1974, já que ele se negava a usar a camisa com as três listras que marcam a multinacional de material esportivo – rival da… Puma, que patrocinava… Cruyff.
E tudo isso – seu brilhantismo dentro de campo, seu temperamento fortíssimo, sua capacidade para promover sua imagem – foi visto no início dos anos 1970. No Ajax, como já dito, ele foi o personagem principal daquela equipe que colocou os Ajacieden no mapa, com o tricampeonato da Copa dos Campeões, mais Mundial Interclubes de 1972 (nos outros anos, o Ajax declinou da participação), três títulos holandeses (1969/70, 1971/72 e 1972/73) e três Copas da Holanda (1969/70, 1970/71 e 1971/72). Pessoalmente, foi o goleador da Eredivisie em 1966/67 e em 1971/72. Sem contar seus três prêmios como melhor jogador da Europa, em 1971, 1973 e 1974.
Nesse tempo de Ajax, duas histórias merecem menção. Em 30 de agosto de 1970, Cruyff voltava de uma lesão na virilha, num clássico contra o PSV, pela rodada do Campeonato Holandês. Na reserva, vestia a camisa 14, enquanto a 9 (seu número habitual até então) ficou com Gerrie Mühren. O Ajax venceu por 1 a 0. Na semana seguinte, por “ter achado legal”, Cruyff usou novamente a 14. E estva definido o número que usou por toda a carreira, e que até lhe rendeu um de seus apelidos. A outra história: em 1973, o técnico Stefan Kovacs decidiu fazer uma votação para ver quem seria o capitão do Ajax. Cruyff era o titular da braçadeira, mas o atacante Piet Keizer a exigia. Por 13 votos a 3, o elenco decidiu que Keizer seria o novo capitão. Bastou: julgando que o elenco cometera uma quebra de confiança, o “Nummer 14″ saiu da sala de votação direto para seu quarto no hotel, ligando para o sogro e empresário Cor Coster. Suas palavras: “Ligue imediatamente para o Barcelona. Estou saindo”. E assim Cruyff tomou o caminho de Les Corts, onde também fez história definitiva.
Na Oranje, participou das eliminatórias para as Copas de 1970 e 1974. Mas, acima de tudo, teve fundamental papel na decisão de trazer Rinus Michels para o comando da seleção, no início de 1974. E, óbvio, foi o principal interlocutor e principal peça da equipe que assombrou o mundo na Copa daquele ano. De fato, Cruyff merecia cada um dos apelidos que ganhou a partir dali: “Nummer 14” (Número 14), “Pitágoras de chuteiras”, “O salvador” (dado pela torcida do Barcelona, após o título espanhol de 1973/74, encerrando 14 anos de jejum). Enfim, o personagem principal do Totaalvoetbal.
Depois da Copa de 1974, é justo dizer que Cruyff estaria para sempre na história do futebol mundial. Tanto é que seu nome só ganhou o “y” então, para facilitar a leitura do resto do mundo, distanciando-o da grafia holandesa “Cruijff”. Porém, a partir dali seu nome perdeu um pouco de força. Na seleção, uma participação turbulenta na Euro 1976, e a recusa em participar da Copa de 1978. Até hoje, vários motivos são ventilados: a ameaça de sequestro da família, recusa em viajar à Argentina então sob ditadura militar, eventual ordem da mulher após suposta noite passada com prostitutas às vésperas da final de 1974… enfim, o fato é que Cruyff parou com a Laranja após 48 jogos e 33 gols.
Pior: também sua produtividade pelos clubes caiu. A ponto dele declarar o fim da carreira já em 1978, um dos seus mais melancólicos anos. Na partida de “despedida”, o Ajax encarou o Bayern Munique… e perdeu por 8 a 0, a mais dura derrota da carreira de Cruyff. Mais: carreira encerrada, ele tentou viver dos negócios em Barcelona com o amigo Michel Basilevitch, na criação de porcos e na exportação de vinho, cimento e imóveis. Fracasso, prejuízo e fuga de Basilevitch, deixando Cruyff com seis milhões de florins em débitos variados.
Restou tirar as chuteiras do armário e aceitar ofertas variadas para pagar as dívidas. Na lucrativa NASL, a liga norte-americana da época, passagens pelo Los Angeles Aztecs e pelo Washington Diplomats; um jogo único pelo Milan; um semestre rapidíssimo no Levante-ESP… mas sua carreira só voltou aos eixos após o retorno ao Ajax, em 1981. Inicialmente, nem era para jogar, mas para auxiliar o treinador Leo Beenhakker. Qual nada: Cruyff voltou aos gramados e foi personagem fundamental nos títulos holandeses de 1981/82 e 1982/83. Daí, o Ajax acreditou que ele estava “velho”, e não renovou seu contrato. Bastou para a vingança maligna: Cruyff aceitou a proposta do arquirrival Feyenoord, onde conquistou a Eredivisie e a Copa da Holanda na temporada 1983/84.
Carreira encerrada no campo, Cruyff começou no banco de reservas. Treinando o Ajax entre 1985 e 1988, não só levou os Amsterdammers ao título da Recopa europeia, em 1987/88, mas também revelou vários jogadores: os De Boer, Dennis Bergkamp, Sonny Silooy… sem contar gente com quem havia jogado e que ganhou espaço com ele no banco, como Marco van Basten e Frank Rijkaard. Como não poderia deixar de ser, um desentendimento com a diretoria do Ajax o tirou do clube, em 1988, levando-o ao Barcelona – sua outra casa, o outro clube em que fez história.
Também por sua personalidade irascível é que a federação holandesa nunca o chamou seriamente para treinar a Oranje, coisa que muito se esperou até hoje. E por ela, também, sua relação com o Ajax sempre foi turbulenta – basta citar o projeto natimorto de trabalho com Van Basten quando este assumiu o clube, em 2008, ou a “Revolução de veludo” rachada nesta temporada.
Ainda assim, se a importância de Cruyff no Barcelona é gigante, no futebol holandês ela é ainda maior, definitiva. Basta saber que até livros foram editados com suas frases. “Toda desvantagem tem sua vantagem”; “Os italianos não podem lhe vencer, mas você pode perder para eles”; “Antes de cometer um erro, eu não cometo um erro”… viraram marcas das “Cruijfiaans”, suas tiradas misteriosas e até curiosas.
Mas hoje, neste dia em que a Holanda para, pela perda de um de seus símbolos mundiais (Cruyff foi eleito o sexto holandês mais importante da história do país, numa pesquisa de 2004 – à frente de Anne Frank, Rembrandt e Vincent van Gogh), basta lembrar duas frases para dimensionar sua importância. A primeira: “Jogar futebol é muito simples, mas jogar o futebol de modo simples é a coisa mais difícil que há”. E a segunda: “Em qualquer sentido, eu provavelmente sou imortal”. De fato: em cada Cruyff Court (quadras destinadas a crianças carentes para a prática do futebol), em cada aluno da Cruyff University (faculdade destinada à formação de dirigentes esportivos), em cada mudança tática vista atualmente, em cada elogio de gente como Josep Guardiola, não há como não reconhecer: Verdade, Johan, verdade. De fato, você é imortal.
*Felipe dos Santos Souza é historiador formado na PUC e especialista em futebol holandês.
Em 24 de março de 2016, Johan Cruyff (68) morreu pacificamente em Barcelona, cercado de sua família após uma dura batalha contra um câncer. É com grande tristeza que pedimos que você respeite a privacidade da família durante este tempo de pesar.
Considerando-se apenas dos anos 60 para cá, Johan Cruyff (1947-2016) foi um dos três maiores craques que vi jogar. Os outros foram Pelé e Maradona. Ele tinha um câncer de pulmão. A doença tinha sido diagnosticada em outubro de 2015.
Seu futebol unia habilidade, velocidade, passes miraculosos que só ele via e algo que até hoje parece ser exclusivo: um invulgar conhecimento tático. Junto com Rinus Michels, comandou a seleção holandesa na Copa de 1974, sendo um dos protagonistas do time que ficou conhecido como a “Laranja Mecânica”, que tinha uma estrutura tática inovadora que só funcionaria à perfeição com ele no time.
Era uma seleção com fortíssimo senso coletivo onde os jogadores não guardavam posições fixas. O que importava era que todas as funções fossem cumpridas. Aquilo desnorteava os adversários. Antes da seleção da Holanda, Cruyff já fazia o mesmo no Ajax, clube pelo qual conquistou tudo dentro da Europa. Jogou pelo Ajax, Barcelona e pala seleção holandesa. Foi ele quem tornou o Barcelona do tamanho e maior que o Real Madrid, criando o estilo catalão de jogar. A instituição soube manter seu espírito de revolucionário do futebol. Depois, como técnico, foi tetracampeão espanhol entre os anos de 1990 e 1994, além de ter vencido a Champions.
Pela seleção holandesa, a qual defendeu entre 1966 e 1977, Cruyff somou 48 partidas e 33 gols marcados.Ganhou a Bola de Ouro em 1971, 1973 e 1974. Talvez seja ele o centro de uma das maiores injustiças que o futebol insiste em cometer. Afinal, o jogador que eternizou a camisa 14 nunca venceu uma Copa do Mundo. Mas ficou perto, muito perto em sua única tentativa em 1974.
Azar da Copa do Mundo, como disse a ESPN.
Genial dentro de campo, Johan Cruyff tinha uma visão única sobre o futebol e uma maneira igualmente distinta de falar sobre ele.
Foi a visão de Cruyff no campo que fez dele um dos maiores jogadores de todos os tempos, enxergando passes que ninguém mais podia enxergar. Tinha também uma enorme consciência para acelerar ou deixar mais lenta uma partida com a finalidade de controlá-la. Por isso, quando Cruyff falava, as pessoas ouviam.
Cruyff em 1974
As 25 frases abaixo, citadas por Cruyff como jogador, treinador e comentarista, mostram a maneira que Cruyff via o futebol.
1.Técnica não é poder fazer 100 embaixadas. Qualquer um pode fazer isso se praticar. Dá até para trabalhar no circo. Técnica é passar a bola com um toque, na velocidade correta, no pé certo do seu companheiro.
2.Alguém que faz graça com a bola no ar durante um jogo, dando tempo para os quatro defensores adversários voltarem, é o jogador que as pessoas pensam ser ótimo. Não é.
3.Escolha o melhor jogador para cada posição e você não terá a melhor equipe, apenas 11 bons de cada uma.
4.No meu time, o goleiro é o primeiro atacante e o atacante, o primeiro defensor.
5.Por que não se pode vencer um clube rico? Nunca vi um saco de dinheiro marcar gol.
6.Eu sempre jogava a bola para frente porque se eu a recebesse de volta, era o único jogador desmarcado.
7.Sou um ex-jogador, ex-dirigente, ex-treinador, ex-presidente honorário. Uma lista bacana que, mais uma vez, mostra que tudo chega a um fim.
8.Jogadores que não são verdadeiros líderes mas tentam ser, sempre brigam com os outros depois de um erro. Líderes de verdade dentro de campo já sabem que erros inevitáveis.
Johan Cruyff, Barcelona
9.O que é velocidade? A mídia esportiva sempre confunde velocidade com visão. Veja, se eu começar a correr antes que os outros vou sempre parecer mais rápido.
10.Tem apenas um momento para chegar numa jogada. Não adianta chegar atrasado nem adiantado.
11.Antes de cometer um erro, já pense em como reagir se ele realmente acontecer.
12.Em uma partida de futebol, se não descontarmos os momentos em que o jogo para, cada jogador terá a posse de bola por 3 minutos, em média. Então, o mais importante é o que fazer nos 87 minutos em que você não tem a bola. Isso é fundamental para um bom jogador.
13.Depois de ganhar alguma coisa, você não estará mais 100%, mas 90%. É como uma garrafa de água com gás quando fica sem tampa. Pouco tempo depois fica com menos gás dentro.
14. Há apenas uma bola em jogo, então você precisa ficar com ela.
15.Não sou religioso. Na Espanha todos os 22 jogadores faziam o sinal da cruz antes de entrar em campo. Se isso funcionasse, todas as partidas terminariam empatadas.
16.Precisamos fazer com que o pior jogador deles tenha a posse da bola. Então, receberemos logo ela de volta.
17.Se você tem a posse da bola, precisa fazer com que o campo seja o maior possível, mas se você não tem, precisa fazer com que fiquei o menor possível.
18.Todo jogador profissional de golfe tem um treinador para suas tacadas, outro para suas colocadas, para seus tiros. No futebol temos um treinador. Isso é absurdo.
19.Sobreviver à primeira fase nunca é o meu objetivo. O ideal seria estar com Brasil, Argentina e Alemanha no mesmo grupo. Assim eu teria eliminado dois rivais na primeira fase. É como eu penso.
20.Os jogadores hoje só sabem chutar com o peito do pé. Modéstia à parte, eu podia chutar com o peito, de chapa e a parte de fora de ambos os pés.
21.Qualidade sem resultado é inútil. Resultado sem qualidade é entediante.
22.Existem poucos jogadores que sabem o que fazer quando não estão marcados. Então as vezes você fala para o seu jogador: aquele atacante é muito bom, mas não marque ele.
23.Acho ridículo quando um talento é rejeitando baseado em estatísticas de computador. Baseado nos critérios do Ajax de hoje eu teria sido rejeitado. Quando tinha 15 anos não conseguia chutar uma bola mais de 15 metros com minha perna esquerda e talvez 20 com a direita. Minhas visão de não podem ser detectadas por um computador.
24.Jogar futebol é muito simples, mas jogar um futebol simples é a parte mais difícil do jogo.
25.Se eu quisesse que você entendesse tudo isso, eu teria explicado melhor.
E aqui, dois filmes com lances de Cruyff. O problema é que eles focam apenas na habilidade do jogador, não dando a noção de suas outras contribuições para seus times.
Tu pareces que só treinas um jogador, Argel: Paulão
Querido Argel, o Inter está há quatro jogos sem vencer e joga o Campeonato Gaúcho. O diagnóstico pode ser feito por qualquer um que acompanhe o time: o grupo de jogadores é fraco, tu és um treinador digno deles e a diretoria observa tudo com uma passividade que beira a indiferença. Não sei o que passa pela cabeça do presidente Piffero, mas deve ser um marasmo ou uma confusão pré-Alzheimer. 2016 é um ano para assustar. O torcedor colorado sabe o que esperar do Brasileiro: mais um ano na fila. Os menos fantasiosos, como eu, aspiram apenas a discrição. Não queremos ser notados. Se me oferecessem agora um 12º ou 13º lugar, eu fechava AGORA com a certeza de ter feito um bom negócio. Mas tenho muito medo da queda. Estamos fazendo tudo para isso.
Vi boa parte do 0 x 0 entre Lajeadense e Inter. Foi um jogo de baixíssimo nível técnico e o único elogio que posso te fazer, Argel, é tu és o melhor treinador de Paulão que já passou pelo Beira-Rio. É muito pouco, mas eu te parabenizo. Hoje estou a fim de ver o lado positivo das coisas. Artur também jogou bem. O resto sucumbiu bem sucumbido e nem vou comentar.
Se tivéssemos contratado quatro ou cinco destaques na Segunda Divisão brasileira para o lugar da legião dispensada — merecidamente dispensada, diga-se — e mais um técnico de futebol que nem precisaria ser um figurão, estaríamos flanando na liderança deste fraquíssimo Charmosão 2016.
E não vou perder meu tempo escrevendo novamente o que todos sabem.
Guardrroger: metendo os pés pelas mãos no segundo tempo
Nós, colorados, adoraríamos estar na Libertadores. Ver o Grêmio jogá-la é uma tortura. Ou nem tanto. Eles fizeram apenas 4 pontos nos primeiros três jogos, jogando duas em casa. Para dormirem bem, precisariam ter feito 6 ou 7. 4 é pouco e a perspectiva de uma desclassificação precoce enche de ânimo nossos maus corações. A campanha ideal foi a que Fossatti fez em 2010 antes de ver sua cabeça ceifada por Piffero: 3 vitórias em casa e 3 empates fora. Total: 12 pontos. Perfeito. O Grêmio descumpriu a Lei de Fossatti em dois jogos: perdeu uma fora e empatou uma em casa. E as luzes de alerta se acenderam.
Hoje, jogam LDU e Toluca em Quito. Nenhum dos dois é grande coisa — fora de casa, a LDU é pior que o Veranópolis. O melhor é uma vitória da LDU, pois os equatorianos irão perder inevitavelmente em Toluca e ambos fariam 3 pontos nessas duas rodadas. Neste caso, se o Grêmio perdesse em Buenos Aires, dia 15, no Nuevo Gasómetro, acabaria a quarta rodada como último do grupo. E o dia 6 de abril, após Toluca e LDU jogarem no México, seria de plena felicidade!
Ontem, vi o jogo conversando com um grupo de colorados no WhatsApp. Alguns são conselheiros do clube e levam a secação como se fosse uma religião. Dois destes fundamentalistas previram que Guardrroger desmontaria o time no segundo tempo. Era só a coisa ficar empatada até os 15 min do segundo tempo que ele teria o tradicional chilique, dando toda a chance para o San Lorenzo virar. E quase aconteceu. O Grêmio teve chances, mas “El Ciclón” quase fez o crime. Imaginem que o cara tirou o Luan para colocar Bobô! O Grêmio também me pareceu cansado ontem. Olha só, mais uma mancada: jamais deveriam ter entrado com os titulares no Gre-Nal. Enfim…
Levo medo neste jogo do dia 15. O SL jogou muito mal em casa contra o Toluca e não me parece muito capaz de espremer adequadamente nosso co-irmão dentro do Gasómetro. Porém permanecemos estamos alertas e esperançosos. Tudo há de dar errado!
E os empates ultrapassaram o Grêmio. Agora são 154 vitórias do Inter, 128 empates e 127 vitórias do tricolor. O Gre-Pate está renhido, com vantagem para o segundo. Torço por eles!
Maicon prepara-se para pisar a tíbia de Dourado. Quase quebrou-lhe a perna | Foto: Ricardo Duarte
Assisti o jogo no querido Pastel com Borda da Fernandes Vieira e me diverti muito com a reação das torcidas. Os gremistas vibraram com as agressões de Maicon em Dourado por cima da bola, Geromel em Aylon sem bola e Marcelo Oliveira irritado com William. Vibraram muito mesmo. A torcida em campo também. Mas, agora, ouço o presidente do Grêmio reclamar que Miller Bolaños sofreu uma lesão grave num lance de falta clara de William.
William é meio louco mesmo, mas foi um lance violento de um jogo violentíssimo de parte a parte. Anderson Daronco não conseguiu controlar o jogo do ponto de vista disciplinar. Talvez, se tivesse expulsado logo na primeira agressão — a de Wesley em Artur –, tudo fosse diferente. Bolaños levou a pior, claro, mas Maicon também merecia o cartão preto após falta em Dourado. Até agora não sei como o colorado não fraturou a tíbia. Vejam o dantesco lance abaixo (o vídeo também inclui a falta de William em Bolaños).
Infelizmente, acho até que o Grêmio terá vantagem sem Bolaños. É um jogador escalado erradamente como centroavante — conheço-o bem do Emelec — e Henrique Almeida é superior a ele na posição. Para Bolaños jogar, haveria que retirar Giuliano, Douglas ou Luan. Difícil, pois o trio titular é quase cativo.
Mas vamos ao que interessa, Argel. E o que interessa, é nosso time.
O primeiro tempo teve superioridade gremista. Era compreensível. A Arena tinha 48 mil pessoas, batendo seu recorde de público, com esmagadora maioria azul. Nosso time é jovem, mas aguentou a pressão. Nós não somos grande coisa, eles também não. No segundo tempo, passamos a dominar as ações, mas o empate foi merecido. Giuliano, Luan, Dourado e Vitinho perderam gols incríveis e ainda teve aquela jogada do Sasha no final do jogo em que o chute não saiu.
Gostei do que vi. Aylon e Fabinho estão surpreendendo. Andrigo não jogou bem, mas não estava acadelado. A criação não funcionou, só que era impossível jogar, pois a partida teve um número altíssimo de faltas: 20 faltas do Grêmio contra 17 do Inter. Isto é, além do Daronco, ninguém teve liberdade. Com um pouco de sorte, poderíamos ter vencido, mas não lamentei o empate, pois adoro estatísticas e achava uma injustiça o Grêmio estar à frente deles.
Teu time está adquirindo uma cara, Argel. Ainda não sei bem qual. O importante é que a defesa melhorou e, com uma boa defesa, haverá tranquilidade para a montagem do resto do time. Voltamos a campo domingo contra o São Paulo de Rio Grande. Acho que está na hora de sairmos daquele eterno quinto lugar, não?
Um resumo do ano pra ti, Argel: Alisson, Dourado, Ernando e Sasha estão confirmando. Andrigo e Aylon — o último fez um belo Gre-Nal — aproveitam bem as chances. Bob e Fabinho são realmente excelentes. Anderson, Paulão e Artur vêm crescendo. Réver e Alex estão pedindo aposentadoria. Marquinhos e Alisson Farias são decepções. Jackson é esquisito. William é um doido varrido, mas fez bom Gre-Nal. Vitinho quase estreou em 2016. Bruno Baio, coitado, é um braço roubado à agricultura.
Infelizmente, o fotógrafo fez foco em ti, Argel | Divulgação / Internacional
Fui e voltei do jogo deboas. Eu e meu filho rimos muito da ruindade do Inter e dos dois gols casuais que deram a vitória ao time do Veranópolis, ainda pior que o nosso. Os dois gols vieram de falhas individuais de um bom e de outro excelente jogador. Como disse meu colega Luís Eduardo Gomes, o Veranópolis venceu sem criar chances de gol. Curioso. Ambos, Jackson e Alisson, parecem ter pago com parte de suas reputações a ineficiência dos restantes, à exceção de Anderson, novamente o melhor em campo, e de Dourado.
No primeiro tempo, o jogo vinha morno e com apagões causados pela parca infraestrutura estadual. Cada vez que Anderson — uma ilha lúcida num mar de estupidez — ou os laterais pegavam a bola, ninguém se aproximava. Aliás, os circunstantes se afastavam, esperando lançamentos longos. Ora, contra um time retrancado isso não funciona. Força os menos habilidosos a darem balões. E foi o que se viu: balões na noite quente e únida de Poro Alegre. Realmente o Inter tem muitos problemas e o maior deles é tu mesmo, Argélico. Cada vez que o time armava um ataque, os atacantes corriam para se esconder entre os zagueiros adversários até que Aylon, que parece ser o mais esperto deles, começou a desobedecer e voltar para trocar passes, numa das atitudes mais civilizadas que se viram ontem no Beira-Rio.
E quando a bola caía com os laterais era uma desgraça. Basta tirar um pouco de espaço para que William passe a errar passes. O outro, Artur, não precisa ser muito marcado, pois erra 90% de seus cruzamentos. Incrivelmente, ele acertou um só: o do gol de Sacha. Os outros foram todos erros não forçados, como diria um comentarista de tênis.
Fizemos 1 x 0 com Sacha naquele primeiro tempo com 13 minutos de descontos.
No segundo tempo, o jogo seguia morno quando, em dois lances casuais, o Veranópolis virou o jogo. No primeiro gol, um cruzamento da esquerda foi desviado pela canela de Jackson para as redes. Alisson nada pode fazer. Já no segundo gol, ocorreu algo inédito: a culpa foi inteiramente de Alisson. Nosso goleiro saiu numa bola que não era dele — o atacante corria fora da área em direção à lateral do campo, mas Alisson foi lá feito um Viamão e, driblado, viu Zambi marcar de longe, perdendo o ângulo.
Eu gostei, pois poderíamos finalmente ver o Inter jogando pressionado. E como jogamos mal! Houve uma bola no poste, mas o resto foi uma demonstração inequívoca de nossa fraqueza. Argel não parece capaz de mudar o panorama de uma partida nem de dar um padrão de jogo ao time. Torço para que haja uma crise neste início de ano. É difícil, pois o Gauchão é muito fácil. Mas talvez uma bela crise seja a única forma de entrarmos no Brasileiro sem pensar no perigo gremista de uma Segundona.
Fomos embora antes do jogo terminar a fim de pegar o ônibus vazio. Muitos foram embora antes do fim do primeiro tempo em razão das quedas de luz. E o jogo era para ser festivo, com promoção especial de visita ao campo após o partida. Deu tudo errado.
Espero que a derrota do Grêmio não nos sirva de consolo. Afinal, vem ano, vai ano e o grêmio sempre entra pelo cano. É normal.
Por isso que a gente está aqui, se a gente não estivesse aqui não teria porque estar aqui. A verdade de hoje é mentira de amanhã e a mentira de hoje é a verdade de amanhã.
ARGEL FUCKS, após o empate contra o Aimoré, ontem à tarde
Estas palavras não são apenas do técnico do Internacional, estas palavras representam o time, a tática, a estratégia e o engano do Internacional. Estamos perdendo preciosas semanas de treinamento com um técnico sem condições de levar adiante um time de primeira ou de segunda linha. Não sei o que a diretoria faz ou pensa. Ontem, Argel mudou o time em seis posições. A finalidade eram “testes”: Então, ele trocou os dois laterais, colocando Paulo César e Gefferson, os dois volantes — entraram Jair e Fabinho –, mais o zagueiro Alan Costa e o centroavante Aylon. Destes, o único que não jogou vergonhosamente foi o último.
Aylon: uma fraca chama de esperança | Foto: Ricardo Duarte
Eu quero dizer que estou apavorado com Argel. Aliás, já disse isso nas rodadas finais do Brasileiro do ano passado. Lembram que eu o “demiti”? Não adiantará reforçar o time se o arcabouço preparado para os novos jogadores estiver podre.
Bem, o jogo de ontem. O Aimoré faz parte do quarteto favorito para o rebaixamento juntamente com Passo Fundo, Cruzeiro e Veranópolis. Eles disputarão as três vagas. É um time fraco, mas jogou mais do que o Inter. Teve mais chances e, se não fosse Allison, teria virado o jogo. Paulo Cesar Magalhães, Alan Costa, Réver e Anderson são confirmações e deveriam receber imediatamente suas passagens para a Sibéria. Suas baixíssimas qualidades aparecem muito dentro de um time onde quem joga melhor apenas não compromete. Tal a bagunça organizada por Argel.
Argel Fucks fazendo cara de “Eu não vendi ninguém!”.
Os três patetas, versão 2016. Se abstrairmos a influência dos atos de cada um, tenho dúvidas sobre quem é mais inadequado para o cargo: se Sartori como governador, se Lasier como senador ou se Argel como técnico de futebol. Mas talvez os mais estúpidos mesmo sejam o povo gaúcho e os sócios colorados, que elegeram os dois primeiros e o presidente Piffero, o qual escolheu Argel como “técnico”.
O jogo de ontem foi constrangedor. Tivemos extremas dificuldades contra o mau time do Passo Fundo, que veio apenas bem organizado pelo técnico Paulo Porto. Os três articuladores, Alex, Marquinhos e Sasha, estiveram lentos e perdidos, Vitinho abandonado, William foi o doido varrido de sempre. E não há como aparecer individualidades no barco furado de Argel. Não há mecânica de jogo, a coisa é lenta e atrapalhada desde a saída de bola. Até Pelé, Cruyff e Maradona — separadamente, é claro — se deprimiriam.
A vertiginosa decadência do time do seu Argélico não se deve apenas à ausência de D`Alessandro, tem a inestimável contribuição do vendedor Vitorio Piffero. O homem que vendeu 3 vezes Nilmar, e mais Fernandão, Iarley e D`Alessandro uma vez cada, livrou-se de vários problemas em 2016. Saíram Dida, D`Alessandro, Juan, Nico Freitas, Lisandro López, Rafael Moura, Leo e Wellington Martins. Só que que tal alívio na folha de pagamento do clube não recebeu nenhum contrapeso. A única contratação do clube foi a de Paulo Cezar Magalhães, que Argel nem teve coragem de fazer estrear. Se é reserva do William louquinho, imaginem como joga.
Esperava que, se a folha foi aliviada em quase três milhões mensais, o Inter contrataria ao menos 1,5 milhão em novos jogadores, mas a inércia pifferiana é algo de fazer inveja ao governador Sartori. Ele quer uma bela contabilidade e nada em campo. O planejamento do futebol colorado é mais ou menos como o Plano de Contigência de Fortunati para os vendavais. Não existe. Dizem que vão lançar os jovens. Sim, mas com o arcabouço atual, será o mesmo que lançá-los ao fogo. Depois, eles se tornarão outros Lucas Lima e Ricardo Goulart fora daqui. Já conheço esta história.