Teu time voltou a jogar bem e venceu o Atlético-PR por 2 x 0. Convenceu contra um time que está (ainda) a nossa frente na tabela. Os problemas físicos permanecem, mas há organização, jogadas preparadas e assimilação por parte de um grupo que pouco pode treinar. Vitinho, por exemplo, é outro jogador. Nada a ver com aquilo que mostrava com Aguirre. Até Paulão tem conseguido jogar bem dentro da remontagem que tu estás promovendo, Argel.
Com isso chegamos a modestos 28 pontos em 20 jogos, dos quais 7 foram conquistados nos últimos 3 jogos, já sem Aguirre. A tendência é subir, mas devem acontecer as tais instabilidades. Ontem, o acerto dos passes foi anormal. Não tinha ocorrido ainda neste ano. E o time joga sem centroavante, o que é uma novidade. Pelos poucos treinamentos, o entrosamento — que vem da repetição e da insistência — deve ser frágil e, no caminho para alcançá-lo, muitas vezes aparecem os erros. Veja o Grêmio, por exemplo, o time infernal que nos meteu cinco e venceu facilmente o Atlético-MG ganhou e empatou por milagre do Joinville e da Ponte.
O que estou achando legal neste teu início de trabalho é que estamos com “cara de Inter”. É uma personalidade difícil de explicar, mas que conjuga alguns jogadores altamente técnicos, com outros de velocidade e ainda outros que estão ali só para lutar mesmo. E todo mundo jogando sem violência, considerada burra pela maioria dos colorados, diferentemente dos gremistas, que vibram quando Geromel bate em D`Alessandro, por exemplo.
Por falar em D`Alessandro, ele não tem jogado bem, mas está perdoado integral e antecipadamente. O cara foi pai há uma semana e sei de fonte segura que se trata de um daqueles paizões que pegam junto. Isto é, ele, como acontecia comigo quando tive meus filhos, dorme pouco. Uma vez acertada a rotina do Gonzalo, teremos o futebol de nosso capitão de volta.
Entrando superficialmente em detalhes táticos, acho que a alternância na subida dos laterais está funcionando incrivelmente bem, e a troca da posição de Dourado — hoje um belo segundo homem — e a fixação de Nilton como primeiro home do meio-de-campo foi um providência simples, porém cirúrgica. Nosso meio é outro.
Entrei no cinema com medo de estar atrasada para a última sessão do dia de Azul é a cor mais quente na segunda-feira. Eu, minha irmã e uma amiga entramos quase correndo na sala e nos acomodamos na penúltima fileira. Além de nós, havia cerca de mais dez pessoas na Sala 1 do GNC Cinemas, no shopping Moinhos de Vento.
Bem ao lado da minha irmã, duas senhoras, uma de no mínimo 60 anos e a outra, 70. Chamou-nos a atenção a presença das duas, pois sabíamos do caráter lésbico e de certa forma erótico do filme. Logo começamos a confabular se seriam um casal, mas não parecia ser o caso.
Logo no início do filme, a personagem principal, uma garota de 15 anos (interpretada pela atriz Adèle Exarchopoulos, de 20), protagoniza uma cena de sexo com um rapaz do colégio. Neste momento, a senhora mais velha se inclinou para frente na cadeira e, olhando para os lados de olhos arregalados, exclamou:
Na tarde de 3 de março de 1936, após passar a noite anterior revisando o romance Angústia, Graciliano Ramos entregou o manuscrito para sua datilógrafa, Dona Jeni. Depois, às 19h, foi levado de sua casa, preso. O motivo era a suspeita – jamais formalizada – de que o escritor tivesse conspirado no malsucedido levante comunista de novembro de 1935. Preso em Maceió, Graciliano foi demitido do serviço público e enviado a Recife, onde embarcou com outros 115 presos no navio “Manaus”. O país estava sob a ditadura Vargas. No período em que esteve preso no Rio, que durou até janeiro de 1937, passou pelo Pavilhão dos Primários da Casa de Detenção e depois foi mandado para o presídio de Ilha Grande, onde passou a célebre temporada descrita em Memórias do Cárcere.
“Haviam desencadeado uma perseguição feroz. Tudo se desarticulava, sombrio pessimismo anuviava as almas, tínhamos a impressão de viver numa bárbara colônia alemã. Pior: numa colônia italiana”, escreveu Graciliano em Memórias do Cárcere, referindo-se ao nazismo e ao fascismo que tanta admiração causava ao governo brasileiro. Foi uma época terrível. Ou nem tanto. Afinal, ele esteva preso com Aparício Torelly, o Barão de Itararé, que garantia que tudo ia muito bem… No Capítulo 5 da Segunda Parte do livro, ainda descrevendo o que passou no Pavilhão dos Primários, há a comprovação de que a convivência com o Barão era bem mais efetiva que qualquer autoajuda de nosso tempo:
O Barão com o jornal que escrevia, “A Manha”
Apporelly sustentava que tudo ia muito bem [no Pavilhão dos Primários]. Fundava-se a demonstração no exame de um fato de que surgiam duas alternativas; excluía-se uma, desdobrava-se a segunda em outras duas; uma se eliminava, a outra se bipartia, e assim por diante, numa cadeia comprida. Ali onde vivíamos, Apporelly afirmava, utilizando seu método, que não havia motivo para receio. Que nos podia acontecer? Seríamos postos em liberdade ou continuaríamos presos. Se nos soltassem, bem: era o que desejávamos. Se ficássemos na prisão, deixar-nos-iam sem processo ou com processo. Se não nos processassem, bem: à falta de provas, cedo ou tarde nos mandariam embora. Se nos processassem, seríamos julgados, absolvidos ou condenados. Se nos absolvessem, bem: nada melhor esperávamos. Se nos condenassem, dar-nos-iam pena leve ou pena grande. Se se contentassem com a pena leve: descansaríamos algum tempo sustentados pelo governo, depois iríamos para a rua. Se nos arrumassem pena dura, seríamos anistiados, ou não seríamos. Se fôssemos anistiados, excelente: era como se não houvesse condenação. Se não nos anistiassem, cumpriríamos a sentença ou morreríamos. Se cumpríssemos a sentença, magnífico: voltaríamos para casa. Se morrêssemos, iríamos para o céu ou para o inferno. Se fôssemos para o céu, ótimo: era a suprema aspiração de cada um. E se fôssemos para o inferno? A cadeia findava aí. Realmente ignorávamos o que nos sucederia se fôssemos para o inferno. Mas ainda assim não convinha alarmar-nos, pois esta desgraça poderia chegar a qualquer pessoa, na Casa de Detenção ou fora dela.
Angústia foi lançado no mês de agosto de 1936, durante a prisão de Graciliano Ramos. Naquele ano, o autor recebeu o Prêmio Lima Barreto, conferido pela Revista Acadêmica numa atitude encarada como desafiadora do regime.
Escrito após Caetés e São Bernardo, Angústia foi o terceiro romance de Graciliano. Nele, radicaliza-se seu estilo seco e contundente, assim como o foco na produção de uma literatura que una a ética ao fazer literário. Trata-se de um romance de tom confessional que acompanha em primeira pessoa a vida de Luís da Silva, funcionário público de 35 anos, tímido e solitário, que vive num bairro distante em uma casa caindo aos pedaços, acompanhado por ratos e desespero. Da mesma forma que em seus dois romances anteriores, Caetés e São Bernardo, também narrados em primeira pessoa, Graciliano apresenta personagens em grande conflito interno, buscando explicações sobre como agir e motivos para os acontecimentos que o atingem.
Graciliano: seco, direto, objetivo, estarrecedor
Além de trabalhar o dia todo, Luís completa o orçamento escrevendo, à noite, textos por encomenda para um jornal. Após curar-se de uma doença, retorna ao trabalho. Num fluxo de consciência escrito de forma seca e direta, Luís tenta entender seu passado com tamanha fúria que somos obrigados a lembrar que, na verdade, o existencialismo não começou apenas com Sartre, Camus e seus grupos após a Segunda Guerra Mundial.
Luís detestava todos e principalmente a si mesmo. Insatisfeito e pobre, frustra-se por sua vida inútil. Entregando-se à análise de sua vida, repassa-a desde a infância. O avô é um bêbado decrépito; o pai é um preguiçoso que vivia lendo e do qual herdara várias características, como o gosto pelas letras. Porém Luís, em crise, não consegue mais escrever, assediado por estes fantasmas e pela onipresente angústia.
Ilustração de Marcelo Grassmann para Angústia
Um dia, conhece a loira Marina. Pede-a em casamento, usando todas as suas economias para um enxoval. Porém, o gordo e eufórico Julião Tavares, com mais dinheiro, ousadia, lábia, posição social e, sobretudo, despreocupação, conquista Marina, que passa a desconhecer Luís. Humilhado, ele passa a desejar a própria morte. Quando vê que Julião abandonou Marina e fica sabendo que ela fez um aborto, cobre-a de ofensas em plena rua. Completa a obra fazendo mais bobagens. Todo o sofrimento e humilhação desaparecem e Luís passa a sentir-se forte, capaz e ativo. Porém, logo volta a angustiá-lo com o temor de ser descoberto. Não vai mais trabalhar, procurando destruir os indícios do que fez. Lava tudo e lava-se. A água tem importante papel no romance; é a purificação que percorre os canos sujos, conhecidos dos ratos. Mas Luís permanece em desvario, aniquilado, sufocado pela angústia, como o Raskonikov de Dostoiévski.
É curioso que um livro dedicado a um profundo estudo da frustração receba tantas homenagens e seja tão festejado. Afinal de contas, falamos de uma obra sem saída, cruel e violenta, cheia de amargura. Por que Angústia é tão importante? Porque é notavelmente bem executado; porque pela primeira vez na literatura nacional há um monólogo interior que parece não dirigir-se a um leitor, mas a si mesmo; porque Luís é muito nordestino, brasileiro e universal; porque comprova brilhantemente a célebre frase de Tolstói: “Se queres ser universal começa por pintar a tua aldeia”. A essência do romance é Luís. Quase não há diálogos e as cenas parecem ser jogadas com certo descontrole pelo narrador, como se transbordassem dele. É um monólogo-pesadelo. “Ninguém dirá que sou vaidoso referindo-me a esses três indivíduos” – disse Graciliano em discurso no jantar de jantar de seus 50 anos, em 1942, referindo-se a seus três primeiros livros — “porque não sou Paulo Honório, não sou Luís da Silva, não sou Fabiano”.
Mas talvez o homem sério e duro que foi Graciliano se envaidecesse da permanência de seu personagem.
Como um doente que se recupera de uma operação grave, mas sem os dramas da UTI sartoriana, o Inter vai se reerguendo após a traumática eliminação da Libertadores e o não menos 0 x 5 no Gre-Nal. Tu, Argel, fizeste uma cirurgia interessante. Colocaste os jogadores num esquema conhecido de todos, o 4-4-2; injetou-lhes ânimo — as entrevistas mudaram muito –; cortaste os celulares nos almoços, jantares e cafés; isto é, obrigaste o grupo a interagir. E mandou todo mundo marcar em campo. De quebra, deve ter levado Nilton e Vitinho para um canto a fim de terem uma conversinha íntima. Sim, porque eles estão tão diferentes e pra lá de pra frente quanto a moça do Chico.
Mas é tudo muito inicial. Tu sabes que podem acontecer recaídas, febres e novas internações, mas a coisa sabe bem, parece ter direção e intenção claras. Eu e toda a torcida gostamos de ver, mesmo sendo um jogo contra o fraco Ituano. Acabaram os muxoxos e não acredito que o excelente Juan viesse agora aos microfones reclamar de um pequeno atraso. Se ocorresse, a nova (velha) forma de agir do clube talvez lhe respondesse para ir logo para o Flamengo, onde o mês tem 120 dias. E voltaria a se preocupar com futebol. (E com o Bom Senso FC, uma necessidade de todos).
No mais, o Inter parece ter encontrado um caminho. Haverá turbulências, só que agora está ficando parecido com o clube que conheço.
Nos dias de aniversário, sempre saio da cama quando minha irmã me liga. É uma tradição: ela faz de tudo para me dar o primeiro Feliz Aniversário do dia e faço o mesmo com ela. Hoje, ela me ligou às 7h30. Para seus padrões, foi uma ligação tardia. Disse que estava finalmente frio e gostoso de ficar na cama. (Acho que ela, como eu, deixa o telefone um pouco longe a fim de que ele nos obrigue a levantar para desligar o despertador. Então, fica impossível ligar ou receber ligações na cama). Reclamou que a Elena tinha me dado os parabéns ainda ontem que isso era ilegal. Disse mais, disse que ficava assustada quando tinha que dizer sua idade, pois sua sensação interna é de juventude.
A minha também. Muitas vezes fico olhando aquela cara no espelho e o que vejo não bate com o que sinto. Melhor olhar pouco. Ainda mais agora que a Elena parece ter me dado uma injeção de juventude. Mas, enfim, são 58 anos, e eu sinto como se tivesse muito menos. Ontem ainda resolvi que ia conhecer um novo escritor, o japonês Yasunari Kawabata. Comprei dois livros dele no Mauro e ontem mesmo li as primeiras páginas de As Belas Adormecidas. O livro é de enorme sensibilidade e prestem atenção ao tema — que vai aqui sem talento e sem spoilers. Kawabata narra a história do velho Eguchi, de 67 anos, que descobre uma espécie de prostíbulo onde se paga para observar meninas virgens dormindo. Cada uma dessas meninas faz com que despertem diferentes memórias no velho, memórias de tempos mais felizes e viris. E elas nunca acordam para ele. Eu lia aquilo e pensava em como aquela história estaria longe de mim. Longe uma ova, como diria a Luciana Genro. Mas não cheguei lá. Nem perto, I hope.
Mas eu falava em juventude… Então informo que sigo o mesmo bobo alegre, há algum tempo na versão senhor, apesar da Elena me chamar de menino. Espero continuar trabalhando, lendo, ouvindo e enchendo o saco. E amando, porque assim tudo fica mais colorido. E mando um abraço à oposição. Sei que um Diabo como eu só se justifica se houver deuses.
O meu Julinho era chamado de Colégio Padrão nos anos 60 e início dos 70. Era o exemplo que devia ser seguido. Já hoje…
Peguei apenas em parte — ainda bem — a Reforma do Ensino de 1971 que unificou o antigo primário com o ginásio, criando um curso de 1º grau de oito anos, hoje chamado de Ensino Fundamental, que “instituiu a profissionalização universal e compulsória no ensino de 2º grau, visando atender à formação de mão de obra qualificada para o mercado de trabalho”. O texto do artigo tem um ar de coisa temporária, mas várias de suas características perduram até hoje.
É um tema que me fascina — desculpem, sou fascinado por todo gênero de decadência. Penso que foi ali que começou o apavorante declínio cultural de nosso país. Minha mulher nasceu na Belarus e ficou estarrecida com o nível das escolas onde matriculou seus filhos quando emigrou para o Brasil. O mesmo acontece com os amigos uruguaios que conheço. Eu era aluno de um colégio público de excelente nível, o Júlio de Castilhos, e vi bem de perto o começo do desmonte do ensino público no país. Hoje, minha escola é exemplo negativo.
Lembro que uma das justificativas utilizadas para a profissionalização à fórceps era a de que Jesus Cristo fora carpinteiro… Sim, os milicos disseram isto, lembro bem. O resultado desta troca da educação generalista pela técnica é a tragédia que vemos.
Pois a incultura está por todo o lado, disseminada. As escolas particulares são igualmente muito deficientes, são uma falsa salvação para os filhos da classe média. Domingo passado, dei uma olhada de leve nos manifestantes e a desinformação estava plasmada nas faixas e na postura geral. Nossa ignorância perdeu de vez o pudor. Fico pensando nos meus amigos esclarecidos de direita. Devem estar envergonhados com certas coisas que foram ditas e mostradas. Mas não creio que seja muito inteligente ridicularizar os manifestantes por sua idiotia e equívoco. Essa gente faz barulho e é numerosa. Portanto, têm considerável poder. E votos. Este é o principal motivo pelo qual sou contra o voto obrigatório. Somos governados pelas pessoas eleitas por uma maioria que sabe pouco sobre a política do país. Daí, nosso Congresso… Bem, mas eu dizia que não é muito inteligente ridicularizá-los, é necessário entendê-los. Só não sei como. Cadê a lógica? As leis de formação de seus pensamentos?
Neste fim de semana, soube que um presidente de uma Associação de classe tinha pedido demissão. Acompanhava seu caso de longe. Iniciou defendendo os interesses do grupo que representava. OK. Logo, enrolado pelos chefes e confuso, perdeu alguns apoios ao dar suas primeiras pelegadas. Evangélico, invocou a família e a Bíblia para justificar-se. Também foi assessorado por uma pessoa que se candidatou nas últimas eleições — esta também sem nenhuma formação e informação política. Recentemente, às portas de uma greve, nosso personagem deu outra pelegada por puro medo, desobedecendo a base e, finalmente, teve que se demitir do cargo. O pior é que está por aí, dando discursos cheios de razão, com a cabeça erguida de ignaro orgulho, a Bíblia na mão e a família como bengala. Vou lhes contar.
Há muita gente boa, gente que é autodidata, acadêmica ou simplesmente inteligente. Mas nota-se sinais de decadência cultural em todo o lugar. Na música que se ouve, na lista de livros mais vendidos, nos aplausos fora de hora, no não entendimento de noções um tantinho mais complexas, nas caixas de comentários, na utilização indiscriminada dos conceitos do politicamente correto.
O desmonte da educação foi feito em poucos anos. Em menos de dez anos a coisa estava feita. Mas penso que, para voltarmos aos níveis dos anos 60, precisaremos de uns 50 anos, porque até os professores são péssimos atualmente. Tudo deveria começar por melhores professores. Enquanto isso, estaremos no Reino da Asneira.
(Entrevista concedida ao Clarín no começo de 2007)
El calor no cede en estos primeros días de 2007. Ni siquiera a las 10 de la mañana, hora pautada para el encuentro con Mario Benedetti. En la puerta del departamento esperan Ariel, su secretario, y Raúl, su hermano, a quien se lo ve habitualmente, en un acotado circuito céntrico, acompañándolo.
Mario nos espera sentado en su silla, al lado de un gran ventanal con vista a la avenida 18 de julio buscando, quizás, que la “ciudad de todos lo vientos”, le regale al menos una brisa para llevar mejor, en esas primera horas de la mañana, sin el ventilador y sus ruidos, la sofocante temperatura.
“Me das un mate”, le dice a su hermano. Mientras terminamos de acomodarnos, el escritor parece compenetrado en un ritual que, curiosamente, le es completamente nuevo.
—Dicen que empezó a tomar mate hace poco. ¿Es cierto?
—Así es. Nunca había probado, increíblemente. Hasta que hace unos meses Ariel me dijo: “¿querés uno?”. Y no se porqué agarré viaje, y me gustó. Además me viene muy bien porque los médicos me recomendaron tomar mucho líquido.
—Este año que acaba de terminar fue particularmente difícil para usted, ¿verdad?
—Sí, sin duda. Fue un año dramático, lleno de muertes. La de mi mujer Luz, luego de una larga agonía, fue para mí un golpe muy duro. Pero no fue la única. En 2006 también se fueron la esposa de mi hermano, la pianista Lyda Indart (madre de Daniel Viglietti), a quien yo quería mucho, Poema Vilariño (hermana de Idea, la poeta), entre otra gente muy próxima.
—A partir de estas experiencias, ¿cambió en algo su idea con respecto a la muerte?
—No, no. Mi percepción sobre ella no ha cambiado. Sé que es inevitable, que ahí está.
—¿Y a partir de ahora puede que tenga mayor protagonismo en su producción literaria?
—No lo sé. Lo que puedo decirle es que a la muerte yo la he tenido siempre presente, aún cuando joven; y que ha sido un tema recurrente en mis textos. Hasta tengo un libro que la menciona directamente: “La muerte y otros escritos”.
—Después de la partida de Luz, ¿En qué o quién se ha refugiado para intentar mitigar tanto dolor?
—En la escritura. En este tiempo ha sido una especie de guarida para defenderme de todas las desgracias que le mencioné al principio. Inclusive seguí escribiendo, aunque menos, todos los meses que mi esposa estuvo internada en la casa de salud, adónde iba a visitarla diariamente.
—Pero se las arregló para publicar dos nuevos libros de poesía.
—Es verdad. En diciembre presenté “Canciones del que no canta” (editado por Seix Barral) y “Nuevo Rincón de Haikus” (editado por la uruguaya Cal y Canto), que es mi tercer libro basado en ese género japonés.
—¿Qué lo llevo al haiku?
—Hasta entrada la década del 80 yo no tenía idea de su existencia. Cuando Julio Cortázar —que fue muy amigo mío— murió, dejo un libro terminado, en ese momento inédito, que tenía como epígrafe un haiku, con un verso que decía “salvo el crepúsculo”, y que terminó usando como título del libro. En el momento que leí la estrofa me sorprendió por su rigor y empecé a buscar antecedentes. En primer lugar indagué sobre su procedencia y luego comencé a buscar algunos cultores de esa forma poética. En España hallé a tres poetas que habían escrito haikus; mientras que en América Latina, el único que había publicado haikus, con el mayor rigor, había sido Jorge Luis Borges.
—Se sabe que ahora está escribiendo, además de los haikus, muchos sonetos. ¿Qué le brinda la poesía reglada?
—Además de que ambos me atraen, tienen formas muy rigurosas que, hoy para mí, constituyen grandes desafíos.
—Y en cuanto a la temática, ¿Hay en esta producción nueva alguna innovación?
—Ariel, mi secretario, dice que estoy escribiendo una poesía más filosófica. Y puede que tenga razón. Cuando uno está viviendo en las cercanías de la muerte —como yo, que tengo 86 años— , resulta bastante lógico que surja una poesía más seria, más preocupada por ese final que se aproxima. Así y todo, los haikus que estoy escribiendo se prestan más para el humor. En el libro “Nuevo rincón de haikus” hay varios que están escritos en ese tono.
—A cincuenta años de sus célebres “Poemas de la oficina”. ¿Cómo se imagina que escribiría sobre ese mundo pero trasladado al presente?
—No podría hacerlos, ni tampoco me imagino cómo podría ser ese libro, porque no conozco bien la vida de los oficinistas de hoy. Hay que tener en cuenta que hice aquellos poemas en un momento que me desempeñaba como oficinista, por lo que conocía perfectamente ese ámbito.
—Ese trabajador anodino, gris, que si bien podía denotar cierta rebeldía no proponía —como sí en textos suyos posteriores- un cambio real, era un típico exponente de la clase media. ¿Cómo ve en la actualidad a la clase media rioplatense?
—¡Uff! En ambos márgenes del Plata la clase media ha caído mucho. Es muy distinta a la de aquella época. Por razones socioeconómicas, mucha gente perteneciente a familias de aquella clase media, hoy está en niveles más bajos. No estoy diciendo nada nuevo con esto. Esa clase social, con sus avatares, siempre me cautivó. Desde la primera vez que me fui de Uruguay por voluntad propia (a lo veintipocos años) y luego en el exilio, escribí siempre sobre la clase media uruguaya.
—¿Qué está leyendo por estos días?
—Ando con una antología de autores latinoamericanos que han escrito libros con humor. Y días pasados también estuve leyendo. ¿Qué estuve leyendo?, no me acuerdo. (lo de Piazzolla, le apunta su secretario ). ¡Ah, sí! Una biografía sobre Piazzolla que me ha enseñado muchas cosas sobre la evolución del tango, y su propia evolución, como empezó con un tango clásico y de a poco fue cambiando.
—Hablando de cambios, usted es de los que creen que la literatura puede cambiarle la realidad a la gente.
—Lo que puede la literatura es revelarle a las personas cosas en las que no habían pensado. Lo que no puede la literatura es cambiar la actitud de los gobernantes, porque éstos, en general, le tienen miedo a la cultura.
Querido Argel, desejo-te uma boa estreia nesta série cujas estrelas anteriores foram decapitadas. Não espero pela volta de nenhuma delas.
Bem, a inacreditável ruindade de Inter e Cruzeiro os qualificaria para uma Segundona em 2016, não houvesse tantos candidatos a ela neste Brasileiro de 2016. Assistir aquele primeiro tempo foi um exaustivo exercício de paciência. Eu ainda tinha o computador para me divertir e um monte de roupas para dobrar e guardar, mas, por exemplo, e o juiz? Lamento por ele.
O Inter vinha em queda e tu trataste de fechar nossa defesa a fim de procurar adquirir um pouco de estabilidade. Fizeste bem, ainda mais que estávamos sem D`Alessandro, Lisandro, Alex e Wellington. Mesmo assim, o time do Cruzeiro é tão deficiente que quase vencemos. Perdemos dois gols feitos com Vitinho e Taiberson, além daquela cabeçada estilo pinball que quase vitimou o goleiro adversário.
Tenho detestado a presença de Valdívia como titular. O menino durou um outono, não sobrevivendo a este falso inverno que vivemos. Imagina se estivesse frio. Também não gostei de ver Paulão em campo, apesar de que ele não comprometeu, apenas fez uma tentativa tímida de botar a filha menor no olho da rua. William voltou a atuar dignamente e Géferson fez o mesmo pelo outro lado. O monte de volantes era esperado, mas por favor, use Nico Freitas com moderação. Ninguém merece.
No mais, desejo-te boa sorte. Como torcedor, sou humilde: espero apenas uma posição intermediária na tabela. A boçalidade do campeonato é óbvia. O Corinthians — sistematicamente beneficiado pela Globo-CBF — já é o campeão. Há um perfume de 2005 e 2012 no ar. Um dia, acabaremos comemorando o vice, pois é impossível ganhar dos árbitros, a não ser que se dispare na frente.
Erico Veríssimo dizia que Lygia Fagundes Telles não devia ter tanto talento para a literatura. Era bonita demais para isso. Ela ria, envaidecida.
Convencionou-se dizer que Clarice Lispector era uma bela mulher. Belo telefone, não?
Belíssima era Cecília Meirelles, dona daquele sorriso que tudo parece compreender. Foi tradutora de …
… Virginia Woolf *, que tinha perfil de camafeu, extraordinários livros e sofria enormemente com sua loucura.
Suicida como Virginia, tivemos a bonita brasileira Ana Cristina César. Apesar de sua boa poesia, ela ficaria aos pés de…
… Anna Akhmátova *, cujo grande sofrimento era de causas exteriores. Que poetisa maravilhosa ela era! Dá vontade de aprender russo como quis uma vez …
… Simone de Beauvoir, aqui em linda e arejada foto, demonstrando que tinha a frente, o conteúdo e o verso interessantes.
Tão de esquerda quanto Simone foi a ex-stalinista Doris Lessing, que se tornou a mais irritante das direitistas.
Sempre foi de direita a talentosa belga Marguerite Yourcenar, apesar do costume de fantasiar-se como agente da KGB.
A outra Marguerite, a Duras, gostava de cinema, de amantes orientais e sua obra permanecerá mais do que a das três anteriores.
Conversas mais íntimas tinha Anaïs Nin, que escrevia diários e corria atrás de um homem sensível.
Nome de francesa tinha a severamente inglesa Daphne du Maurier, autora de livros que assustaram minha adolescência, como Rebecca.
Também gostava de assustar a imensa, perfeita e maravilhosa dinamarquesa Karen Blixen *, que publicou suas obras-primas com o nome masculino de Isak Dinesen e que …
… traduzia seus livros para o inglês. Quando envelheceu, ficou “meio anoréxica”, mas mantinha as boas companhias — minha nossa!
Conversando com Karen, à direita, está a caçadora solitária Carson McCullers, …
… tão menos famosa do que Jane Austen *, cujos seis romances são cantados em prosa e verso pelos críticos e é adorada pelo cinema.
Em comum com Karen na utilização de nome um nome masculino, com Austen no espetacular talento, temos a insuperável George Eliot * (Mary Ann Evans).
A também inglesa Muriel Spark faz livros menos intelectuais quanto os de Eliot, mas é sempre fascinante e grudenta. Escreveu pelo menos duas obras-primas modernas.
Tem nome comprido e estranho a grande e bela poetisa portuguesa Sophia de Mello Breyner Andresen, descoberta por mim logo após sua morte.
Com algumas exceções, são todas mulheres bonitas — às outras sobraria a beleza interior… — e as que receberam asterisco logo após seu nome são as minhas Top 5 da literatura feminina mundial.
Apesar de ter sua obra em grande parte traduzida no Brasil, Arthur Schnitzler (1862-1931), ainda é pouco conhecido em nosso país. O grande escritor é conhecido por referências, digamos, laterais. As mais comuns são duas. Ou se fala no fato de Stanley Kubrick ter adaptado Breve Romance de Sonho em seu filme De Olhos Bem Fechados, ou a referência gravita em torno da admiração que Freud tinha pelo autor.
Mesmo vivendo na mesma Viena, os dois pouco se encontraram. Em uma carta enviada a Schnitzler em 14 de maio de 1922, Sigmund Freud faz algumas observações sobre a obra do escritor e confessa ter evitado, durante muito tempo, ser apresentado a ele, pois, ao ler seus textos, acreditava que se tratava de seu “duplo”. “Sempre que me deixo absorver profundamente por suas belas criações, parece-me encontrar, sob a superfície poética, as mesmas suposições antecipadas, os interesses e conclusões que reconheço como meus próprios. Ficou-me a impressão de que o senhor sabe por intuição – realmente, a partir de uma fina auto-observação – tudo que tenho descoberto em outras pessoas por meio de laborioso trabalho.”
Além escritor prolífico, Schnitzler era médico e judeu como Freud. Mas sua obra é profundamente original e sobrevive facilmente sem o aval do criador da psicanálise. Numa sociedade de grandes progressos científicos e técnicos, numa época de tantas agitações e mudanças, era necessário que tal ambiente se refletisse nas artes e na literatura. E Schnitzler foi do tamanho de sua época.
Neste mês, a Editora Record está publicando o volume autobiográfico Juventude em Viena, com tradução de Marcelo Backes. Solicitamos permissão ao tradutor para publicar no Sul21 o posfácio do livro, de autoria do próprio Backes, o qual também é escritor e ensaísta. Aqui está. (Milton Ribeiro)
.oOo.
Marcelo Backes
Num tempo em que o gênero estava longe de alcançar a divulgação que tem hoje em dia, Arthur Schnitzler escreveu uma autobiografia de suma importância. Juventude em Viena é um documento central no sentido de compreender tanto uma época decisiva da história da humanidade, quanto a vida e a obra de um dos maiores autores da língua alemã. De quebra, ainda assinala a relevância que todo um gênero literário viria a adquirir apenas várias décadas depois.
Schnitzler já se encontra às voltas com a ideia de escrever uma autobiografia em 1901. Em suas anotações, aponta sempre para a “necessidade profunda” de ser “verdadeiro”, de “registrar suas recordações de modo completamente fiel à verdade”. Mas ao sentir as dificuldades do retorno ao passado, as falhas na memória, os enganos da recordação, já questiona em que medida a verdade é possível, apesar da inclinação reafirmada de ser “verdadeiro”, inclusive “contra si mesmo”.(1)
Desde o princípio, Schnitzler reconhece que não é necessária nenhuma coragem de caráter especial para registrar todas as piores oscilações nem as ações mais sórdidas das quais alguém se sabe culpado quando esse mesmo alguém está convencido de que antes de sua morte ninguém tomará conhecimento do que foi dito. Ele também logo se pergunta – autocrítico – se sua necessidade de verdade não viria, em parte, de uma característica radicada no sentimento patológico da ideia obsessiva, na tendência a um certo pedantismo exterior que no decorrer dos anos se desenvolveu de forma cada vez mais decidida como um corretivo ao desleixo interior.
Quando fala do antissemitismo – um dos assuntos essenciais de Juventude em Viena –nas mesmas anotações, diz ter sentido a necessidade de reagir, pois manifestar impassibilidade diante do assunto seria mais ou menos como ficar indiferente depois de mandar anestesiar a pele, mesmo vendo, de olhos arregalados, como facas sujas nos rasgam a carne até fazer o sangue jorrar.
Viena no início do século XX
Uma capital, um autor
Schnitzler compartilha seu destino com Viena, a capital em que nasceu, viveu e morreu.
Seu mundo é um dos maiores centros da arte, do pensamento e até mesmo do poder na época. A capital do império austro-húngaro é o universo de Robert Musil e Karl Kraus na literatura, de Gustav Mahler e Arnold Schönberg na música, de Oskar Kokoschka e Gustav Klimt na pintura – o mundo de Sigmund Freud na psicologia e o de Theodor Meynert na psiquiatria.
E não há escritor que melhor caracterize esse universo do que Arthur Schnitzler. Ele foi chamado de “Maupassant austríaco” por Alfred Kerr (o maior crítico alemão da época) e de “Tchekhov vienense” por Friedrich Torberg (um dos grandes autores austríacos do século XX). Torberg diz ainda que Schnitzler antecipou James Joyce com O tenente Gustl, e que a peça A cacatua verde já contém Pirandello inteiro.
Que Arthur Schnitzler é capaz de mergulhos profundos na alma humana em sua literatura, fica claro também em sua autobiografia. Na obra – quando a literatura ainda nem era de fato, já que Schnitzler conclui o relato de sua vida no momento em que começa a gozar os louros de sua escrita, mas a escreve bem mais tarde – o elemento erótico já mostra ser muito mais do que um passatempo social e Eros já evidencia querer muito antes expulsar a morte do que passar o tempo; exatamente como na ficção. Se a consciência da morte é onipresente – ainda que latente –, o autor mostra um sentimento quase amistoso em relação a ela, um ceticismo ameno que o leva a se entender com o fim definitivo. Nas memórias de Schnitzler fica claro mais uma vez que só podia ser ele o autor que veio a anotar já em uma de suas primeiras peças: “A alma é uma terra vasta”, referendando seu tantas vezes repisado parentesco com o já citado Freud. Mas Schnitzler vai ainda mais longe, por exemplo quando antecipa Fernando Pessoa, ao dizer, na peça Paracelso: “Não existe segurança em lugar nenhum. Não sabemos nada dos outros, nada de nós. Estamos sempre fingindo; quem sabe disso, é sábio.” Que é isso se não o “poeta fingidor” do poeta português?
A autobiografia de Schnitzler se caracteriza pela humildade sóbria, pela ausência daquela arrogância que finge inocência e caracteriza tantos autores quando se ocupam de si mesmos. É preciso lembrar que Juventude em Viena é obra de um autor cinquentenário, nos píncaros da fama, que já sabia que o jovem inseguro de décadas antes que ele se ocupa em caracterizar nem de longe preponderaria. Schnitzler não contempla a juventude com a ironia distante da velhice, e sim com uma espécie de carinho crítico e analítico, como se o homem de 25 anos inclusive se mostrasse irônico em relação ao de 50, querendo dizer que a maturidade não deixa de ser – pelo menos em parte – o resultado daquela crueza.
Schnitzler: profundos mergulhos e sóbria humildade
Marcando as datas no calendário, Schnitzler escreveu Juventude em Viena entre 1915 e 1920. Planejava levar a história de sua vida até 1900 – que foi quando a fama o bafejou de vez com O tenente Gustl –, mas acabou por concluí-la em 1889, ao iniciar de fato sua atividade artística, ao se tornar definitivamente mais escritor do que médico. Coincidentemente, é também o momento em que conhece Olga Gussmann, aquela que viria a se tornar sua esposa.
E assim, lembrando uma grande autobiografia contemporânea – Nas peles da cebola, de um Günter Grass aliás nem de longe tão humilde –, Schnitzler termina seu relato praticamente antes do início de sua verdadeira carreira – a de escritor, a de médico não era mais que um preparativo para ela –, como se quisesse deixar claro que o poeta começa a se desenvolver quando o desenvolvimento do homem chegou ao fim. Um homem que à época ainda nem entrara em contato com Freud, que ainda não trocara suas inúmeras cartas com o crítico e filósofo norueguês Georg Brandes, que ainda não dialogara com Rainer Maria Rilke e Thomas Mann em suas correspondências.
A edição da Fischer de ‘Juventude em Viena’
Algumas questões fundamentais
Schnitzler é um mestre no aproveitamento universal de manifestações periféricas. Elas sempre lhe proporcionam a possibilidade de grandes conclusões. É o que acontece inclusive em relação ao antissemitismo, cujo horror o autor não chegou a vivenciar em sua pior feição.
Desde o princípio de Juventude em Viena, Schnitzler já sinaliza para a questão judaica, debatendo-a com autocrítica, ao se perguntar se alguém que nasceu em determinado lugar, nele cresceu e nele continua trabalhando, deve contemplar outro país – não aquele no qual há décadas vivem seus pais e seus avós, e sim aquele no qual seus ancestrais estiveram em casa há milênios –, e não apenas por motivos políticos, sociais e econômicos (que de todo modo podem ser discutidos), mas também sentimentalmente, como sua verdadeira terra natal.
Diante dos ritos religiosos do judaísmo, Schnitzler manifesta a mesma indiferença – quando não resistência, ou inclusive sarcasmo – que caracterizava por exemplo a postura de Freud. Theodor Herzl, que veio a ser conhecido como o pai do sionismo, é referido inclusive por ter militado em organizações estudantis de índole antissemita; Schnitzler diz tê-lo encontrado num passeio usando o boné azul daqueles que eram então os seus irmãos reacionários de crença e de partido. E Schnitzler arremata, mais uma vez um tanto crítico: “O fato de estes o rechaçarem, ou, como dizia o verbo ofensivo dos estudantes, o repelirem de seu meio como judeu, sem dúvida alguma foi o primeiro motivo que transformou o estudante e orador alemão-nacionalista dos pódios acadêmicos (onde nos olhamos com troça, ainda sem nos conhecer pessoalmente, em uma noite de reunião) no sionista talvez mais entusiasmado do que convicto que ficou sendo para a posteridade.”
Quando fala do duelo, e dos judeus que se tornaram esgrimistas habilidosíssimos e agressivos para melhor encarar as ofensas dos antissemitas, Schnitzler chega a citar a macabra “Resolução de Waidhofen”, que declarava os judeus “incapazes de tomar satisfações”, e ao mesmo tempo deixava claro que o véu do holocausto que encobriria a Europa já começava a ser estendido: “Todo o filho de mãe judia, todo ser humano por cujas veias corre sangue judeu é desprovido de honra desde o nascimento, incapaz de qualquer sentimento mais sutil. Ele não consegue distinguir entre o que é sujo e o que é limpo. Eticamente, é um sujeito bem mais baixo. A relação com um judeu é por isso desonrosa; é preciso evitar qualquer espécie de comunhão com os judeus. Não se pode ofender um judeu, e por isso um judeu não pode exigir satisfação sobre uma ofensa sofrida.” A marca amarela que identificava racialmente os judeus desde a Idade Média – e que aliás é referida por Schnitzler – começava a se mostrar cada vez mais excludente e perigosa.
Num âmbito bem mais individual, o medo das doenças venéreas é outra constante que sinaliza um dos grandes problemas da época (e do sujeito). E Schnitzler mergulha em sua “ciranda” juvenil, buscando no sexo seu caminho pessoal para a liberdade. A peculiaridade do homem Schnitzler, que antecipa o autor Schnitzler é tanta que o historiador Peter Gay fez dele o personagem central e mais representativo de toda uma época numa obra já clássica, ainda que lançada em 2002, O século de Schnitzler.
A obra de Peter Gay ‘O Século de Schnitzler’
A leveza e o vazio – a leviandade – dos anos jovens de Schnitzler, cheios de possibilidades de duelos (outra questão debatida que se tornaria foco da narrativa em O tenente Gustl) e apostas em cavalos (a descrição do apostador envolvido no auge da corrida é maravilhosa), quando o dinheiro significava havanas e jantares no restaurante da moda, mais um camarote no teatro, é destrinçada de cabo a rabo na autobiografia. Schnitzler inclusive reconhece que até uma determinada época de sua vida muitas vezes se esforçou em se estilizar; e que, se chegou a ser esnobe – e o confessa –, diz que seu esnobismo foi curado completamente pelo contato com os esnobes que veio a conhecer.
Ele também relata uma dúzia de casos amorosos. De algumas dessas mulheres, Schnitzler – que chama a si mesmo de “galã de cinco florins” – se lembra apenas porque estão registradas em seu diário, de outras nem recorda mais o nome, sequer. Chegou a terminar o caso que tinha com uma delas anotando os seguintes versos: “Também esta cinta-liga eu te mando de volta, encontrei-a hoje pela manhã em minha cama.” O amor já se mostrava líquido e o torpedo do celular comunicando o fim da relação parece não ter sido usado tão-somente porque ainda não existia…
Ainda assim muitas de suas relações – como por exemplo a que teve com Olga Waissnix, a primeira grande mulher de sua vida – se alongam por meses em sua vida e dezenas de páginas em sua autobiografia. Outras precisam apenas de algumas linhas sintéticas e vertiginosas: “Uma jovem americana, Cora Cahn, de apenas dezesseis anos, que se encontrava em Ischl com seus parentes, me atraiu vivamente por causa de seu sotaque, de seus caprichos e de sua coqueteria. Em um túnel entre Gmunden e Ebensee as coisas se tornaram quase preocupantes, mas túneis são curtos e uma passagem por Ischl não chega a ser bem mais longa, sobretudo quando se tem de lidar com uma série demasiado grande de variáveis; e assim também essa aventura acabou dando em nada.”
A “doce mocinha” do subúrbio, uma criação do autor, que caracterizaria tantas de suas personagens, é definida também em Juventude em Viena, a partir de uma das mulheres que cruzou sua vida. Schnitzler diz que ela é o “protótipo de uma vienense, figura encantadora, feita para dançar (…), feita para beijar – um par de olhos brilhantes e vivazes.” Suas roupas são “de gosto simples e com uma certa feição de grisette”. Seu andar é “cheio de rebolado… lépido e natural…” E as qualidades não param por aí: “A voz clara… A língua vibrando em dialeto original. O que ela diz, apenas assim, como ela consegue dizê-lo, como é obrigada a fazê-lo, quer dizer, cheia de vontade de viver, com um leve toque de precipitação. ‘A gente é jovem, que fazer’, ela considera com um dar de ombros meio indiferente… Não há nada a perder nisso, é o que ela pensa consigo… E isso é a razão mergulhada nas cores luminosas do sul.” Impossível não mergulhar no poço da aventura!
A oficina literária do autor
Os personagens ingleses do romance O caminho para a liberdade, sua obra ficcional mais volumosa, parecem ter saído todos eles da “realidade” de Juventude em Viena, que aliás deixa claro porque uma certa Claire se torna tão importante no romance… No momento em que o autor – leviano como a juventude – ameaça se matar com um tiro porque seu diário foi descoberto, manifesta também um pouco daquela altivez melindrosa e problemática que caracterizaria o já citado tenente Gustl.(2)
Quando conta sobre as dificuldades que teve em escrever a peça Aegidius e critica sua concepção, somos levados mais uma vez diretamente a O caminho para a liberdade e às dificuldades de Georg von Wergenthin às voltas com Ägidius, o grande personagem da ópera que não consegue levar a cabo. Ao ler a autobiografia, confirma-se que o personagem central do romance tem muito a ver com o autor, inclusive na relação com seu irmão. Arthur está para seu irmão Julius exatamente como Georg está para Felician. A certa altura de Juventude em Viena Schnitzler chega a dizer: “Meu irmão passou do piano ao violino, e também na música, assim como em todas as questões escolares e mais tarde na medicina, acabou me superando com sua persistência e sua conscienciosidade, mas também por sua visão e seu talento.” Felician também era muito mais hábil, muito mais ágil e mais objetivo do que Georg.
O livro como um todo propicia uma bela olhada na oficina literária do autor. Descobrimos, por exemplo, que seus amigos pronunciaram algumas das frases que mais tarde seus personagens diriam. Também ficamos sabendo que Gustav Pick se tornaria o modelo do velho Eissler de O caminho para a liberdade, assim como seu filho, Rudi Pick, se tornaria o modelo de Willy. E Schnitzler ainda arremata dizendo que “os conhecedores do romance por certo haverão de ter percebido” as coincidências, arrematando que o velho Pick se mostrou mais compreensivo e bem humorado com sua ousadia do que muitos outros que compartilharam de seu destino e mostrando mais uma vez como a obra – ainda que ficcional – se encontra fortemente vinculada à vida vienense de sua época. Muitas outras peças e contos são referidos de passagem, bem como os motivos que os inspiraram. A passagem em que comenta a suposta origem da peça O véu de Beatrice é maravilhosa, e diretamente vinculada a seu grande, ainda que platônico, amor por Olga Waissnix. As páginas em que conta as venturas e desventuras desse amor, aliás, estão entre as mais interessantes da autobiografia.
O filme ‘De Olhos Bem Fechados’, de Stanley Kubrick, foi baseado na novela ‘Breve Romance de Sonho’, de Schnitzler
Schnitzler também fala das estratégias – lícitas e ilícitas – de autores no sentido de se tornarem conhecidos em uma época em que o mercado editorial estava longe de ter o vulto que alcançou hoje em dia. Em muitos momentos, o autor adquire fumos de homem frio, que pensa que são necessárias razões cadastráveis para retribuir a simpatia que alguém tem por ele, e não entende quando isso acontece sem as mesmas razões. O mesmo homem, no entanto, é capaz de ridicularizar a si mesmo citando longos versos ingênuos e pueris para arrematar em seguida que havia “provado ser um poeta talentoso”.
Ao longo da autobiografia há conceitos maravilhosos, como por exemplo o do “apoio dialético” que Schnitzler dava para um amigo entediado terminar o namoro. E sentenças precisas como: “Nos lábios de uma mulher o sorriso da recordação jamais se apaga completamente. Elas são mais vingativas, mas também mais agradecidas do que os homens costumam ser.” Avançado, e pedagogicamente cético, o autor declara a certa altura: “E, nesse sentido, quando se conheceu e se experimentou diante de que material pronto, apesar de toda a falta de maturidade, se encontram pais e professores, é que se sente por inteiro que problema em certo sentido insolúvel a educação representa.” Em dado momento, chega a levantar a hipótese avançada de que o alcoolismo provavelmente seja hereditário. Sua sabedoria de índole aforística fica clara em sentenças como: “Sempre temos de ver um punhal brilhando para compreender que um assassinato aconteceu”. E Schnitzler – que está falando de uma relação amorosa – ainda complementa dizendo que “muitas vezes o vemos brilhar, e em vez de arrancá-lo à mão do assassino, nos contentamos em fazer admoestações de leve, dizendo que ele não deveria fazer uma coisa dessas, se é que não nos mostramos indiferentes e acomodados demais até mesmo para uma admoestação assim.”
Schnitzler também fala – talvez pela primeira vez na história da literatura, sobretudo se levarmos em conta que está falando de uma mulher e suas reações por volta de 1880 – de uma personagem deprimida (gemütskrank). Uma moça, namorada de um amigo, que parece ter protagonizado algo como uma fotonovela erótica – já que é fotografada nua ao lado de um tenente, e a fotografia era coisa nova na época – é outra que dá as caras em determinado trecho. Também a primeira manequim – modelo (Probiermamsell) – da literatura universal parece ter sido registrada por Schnitzler. Não apenas registrada, aliás. O mundo incipiente da moda já visitava a cama da arte bem cedo…
Freud, o aluno de Meynert
Muitas das grandes figuras científicas do final do século são apresentadas na autobiografia de Schnitzler. Assim, por exemplo, o neurologista francês Jean-Martin Charcot em sua lida com a hipnose, e os trabalhos do psiquiatra Hyppolyte Bernheim, também francês. Moritz Kaposi, fundador da dermatologia moderna, é outro dos citados. Schnitzler ainda caracteriza com detalhes o psiquiatra e neuroanatomista vienense Theodor Meynert, com quem trabalhou, e que aliás também foi professor de Freud.
Ao mesmo tempo percebe-se, em vários momentos, como a higiene é uma coisa nova e a ciência da medicina ainda estava longe de ter sido dessacralizada à época, mesmo que o mundo esteja em vertiginosa transformação, o que é registrado por exemplo quando o autor conta, entusiasmado, sobre a primeira vez em que ficou em um quarto com iluminação elétrica. Ciente do caráter ainda pouco científico da medicina, Schnitzler chega a contar de um médico que acreditava ter descoberto “no hábito enfadonho de lavar as costas” o verdadeiro motivo do catarro bronquial. Schnitzler diz ainda que o referido médico “foi tão longe a ponto de afirmar com toda a seriedade que o lado direito adoecia menos vezes porque a mão esquerda, mais fraca e mais lerda, não costumava tratar o lado direito das costas com tanta crueldade quanto acontecia com o lado esquerdo, que era lavado pela mão direita, muito mais forte.” E, assim, Juventude em Viena também é, em vários momentos, uma história subjetiva da medicina em um dos períodos em que mais evoluiu: o final do século XIX.
Henrik Ibsen: viver e escrever
O mundo literário e artístico da época e mesmo anterior também comparece em massa. Goethe é multicitado, mas também os conterrâneos e coetâneos do autor, por exemplo Alfred Polgar e Peter Altenberg, dão as caras. O dramaturgo norueguês Henrik Ibsen é citado quando Schnitzler refere indiretamente o sentido que este dá ao “dia do juízo”, e somos obrigados a investigar para descobrir que Ibsen disse num de seus poemas, intitulado “Um verso”: “Viver significa – lutar contra o fantasma das forças estranhas dentro de si. / Escrever – fazer o dia do juízo contra seu próprio eu.” A citação é demasiado importante, e Ibsen conhecido demais à época, para que Schnitzler a repita em sua autobiografia tal qual o dramaturgo norueguês a registrou. Afinal de contas, é isso que ele faz ao longo de toda a obra.
Em vários momentos, Juventude em Viena assume uma construção quase romanesca, antecipando a confusão entre os gêneros que se tornaria evidente só décadas mais tarde. Quando Schnitzler diz que em Salzburgo, no inverno de 1891 para 1892, as relações teatrais na cidade invocavam seu interesse de modo bem especial – e por um motivo bem pessoal – insinua tangencialmente seu caso longo e ardente com a atriz Marie Glümer, que trabalhou vários anos em Salzburgo. Quando fala do suicídio, especula sobre a “carga ancestral inerente à descendência” dos seus, já que vários de seus parentes se suicidaram. Na época, o autor sequer imaginava que sua filha Lili também acabaria se suicidando, e que praticamente morreria de desgosto por causa disso três anos depois, em 1931.
Perto do final de Juventude em Viena, ademais, o autor começa a manifestar dúvidas de que as páginas autobiográficas terão um prosseguimento. E, de fato, cinco ou seis páginas depois elas chegam ao fim, compondo apenas o painel de uma juventude vienense, o caminho de um homem antes de se tornar artista, o devir de um escritor até o instante em que começa a bafejar a fama…
(1) Ver “Autobiographische Notizen” in: Jugend in Wien. Herausgegeben von Therese Nickl und Heinrich Schnitzler, Frankfurt a. M. 1985.
(2) Tanto O tenente Gustl quanto O caminho para a liberdade já foram publicados nesta mesma coleção.
Piffero, tu não paras de fazer bobagens, né? Esse negócio de anunciar que estás apalavrado com Muricy para 2016 — grande coisa… –, torna residual e desimportante o trabalho do técnico que assumirá até o fim do ano. Não posso acreditar que teremos um técnico-tampão. Tu não paras de fazer besteiras! Não paras e não paras. Mais uma: ontem, teu vice Pellegrino disse com todas as letras que Elio Carravetta tinha alertado em fevereiro que o esquema de preparação física adotado pela equipe de Aguirre era deficiente. O que houve? Ora, perdemos a Libertadores por não termos conseguido marcar o Tigres. O cara tinha avisado em FEVEREIRO…
Bem, a vitória de ontem foi bonita. Lutamos, jogamos muito mal e acabamos vencendo com um gol numa tabelinha entre Vitinho e o goleiro Diego Cavalieri do Fluminense, após Rafael Moura errar. Era o máximo possível de fazer depois do fiasco da Arena. Fiquei feliz. Gostei das entradas de Lisandro e Vitinho, merecem atenção.
Falam em Argel… Acho uma boa escolha. Ele é grosso pacas, vai dizer um monte de asneiras… Ou seja, seguirá tua linha, Piffero. Sim, sei, futebol não é para poetas. Vai lá, contrata o cara e, se ele se der bem, esqueça o velho e combalido Muricy. Infelizmente, a verdade está no título do livro que inspirou o filme dos irmãos Coen: No country for old men.
Slagter e Roth num dos ensaios: combinando a melhor abordagem a Sibelius | Foto: Augusto Maurer (clique para ampliar)
Foi bonito o concerto da Ospa, ontem à noite, no Theatro São Pedro. É incrível a diferença que faz um maestro. Num dia tocam como crianças; no outro, entram em campo com novo técnico, fazem algumas trocas de jogadores e surge um time. O holandês Jacob Slagter parece ser um artista natural. Como disse alguém logo após o concerto, ele não é um sujeito que precisa lutar consigo para fazer arte. Ele faz. É claro que seus 28 anos como primeiro trompista do Concertgebouw de Amsterdam pesam muito. Afinal, por décadas ele foi chefiado por um gênio, pelo meu regente preferido dentre os vivos: o semideus Bernard Haitink. (OK, dentre os mortos, meu melhor amor vai para Ferenc Fricsay).
O programa era o seguinte:
Jean Sibelius: Andante Festivo Jean Sibelius: Concerto para violino, op. 47, ré menor | Solista: Linus Roth Antonín Dvorák: Sinfonia nº 9 em mi menor (Sinfonia do Novo Mundo)
Regente: Jacob Slagter (Holanda) Solista: Linus Roth (Alemanha | violinista)
Na semana passada, tinha sido retirada do programa a Sinfonia Nº 4, de Carl Nielsen, chamada de A Inextinguível. Foi uma pena, ainda mais se considerarmos a luminosa e rara presença de Slagter. O fato é que a orquestra perdeu um dia de ensaios e a decisão — apesar de eu não gostar muito da Novo Mundo — talvez tenha sido acertada. Ora, interpretar descuidadamente a Inextinguível seria deixar Nielsen fazer 5 x 0 na orquestra. Seria a segunda vez, na mesma semana, que alguém seria goleado por mortos.
Não conhecia o tal Andante Festivo. É uma composição de movimento único, originalmente escrita para quarteto de cordas em 1922. Em 1938, o compositor reescreveu a obra para orquestra de cordas. É música muito bela, suave e fluída. O único registro de Sibelius interpretando uma de suas próprias obras como regente é nesta peça. A gravação é de 1° de janeiro de 1939. Confiram abaixo.
https://youtu.be/wlqcUBbmJEc
Depois, tivemos o Concerto para violino, Op. 47, também de Sibelius. É uma obra prima e vocês podem pesquisar: toda relação de maiores obras para violino de todos os tempos incluem este concerto. Fazia muito tempo que ela não era ouvida nestes pagos abandonados pelas artes. Desde a gestão Karabtchevsky como titular da orquestra, para ser mais exato. O violinista alemão Linus Roth — jamais confundi-lo com o outro Roth –, veio com roupa e corpinho de bailarino espanhol. E, nossa, foi maravilhoso! Ele e seu violino Antonio Stradivari de 1703 mereceram cada aplauso recebido. Foi uma convincente exibição de musicalidade e técnica. A orquestra se perdeu algumas vezes, mas não chegou perto daquilo mostrado pela defesa do Inter no domingo passado. O resultado artístico foi absolutamente satisfatório.
Como hoje estou a fim de ouvir música no Youtube, fiquem com um baita registro do Concerto para Violino de Sibelius. A gravação escolhida é uma das de Jascha Heifetz. Boa parte da popularidade deste concerto se deve a ele. É irresistível.
O bis foi a esplêndida Balada, de Eugène Ysaÿe, o Rei do Violino.
Por falar em Sibelius como instrumentista… Sabem que ele era violinista e não conseguia tocar esta peça devido às exigências da mesma? (Bem, sabe-se que Schubert também não conseguia tocar suas Sonatas no piano). A estreia do único e brilhante Concerto de Sibelius veio com Richard Strauss, que dizia uma outra coisa curiosa sobre o finlandês: “Eu sei muito mais sobre música do que Sibelius, só que ele é muito mais compositor do que eu”. Eu sempre cito esta verdade dita por Strauss porque ela é aplicável a muitas outras áreas.
Após o intervalo, tivemos a entrada do Homem Eslavo de Marlboro. A nona sinfonia estreou em 1893, interpretada pela Filarmônica de Nova Iorque. O concerto fazia parte das comemorações do quarto centenário do Descobrimento da América. Por isso, recebeu o título Do Novo Mundo. Era para ser bem bonita com o negro “spiritual” Swing low sweet chariot, temas indígenas, etc. Mas daí veio a música folclórica europeia e matou índios e negros. Na Ferguson de Dvorák, a orquestra esteve muito bem, mas não adianta, a confusão de temas eslavos e norte-americanos soa-ME como se estivesse empurrando um hamburguer enjoativo do MacDonald`s com absinto.
Euphoria numa vitrine de Praga | Foto: Milton Ribeiro
Piffero, em vez de perder teu tempo tentando Jorge Sampaoli, cujo custo de rescisão com a seleção do Chile é de R$ 41 milhões, por que não tentas Edgardo Bauza que está no San Lorenzo e tem duas Libertadores recentes com a LDU e com o próprio San Lorenzo?
O único problema é que esses caras são sérios e não gostam de pegar times no meio do campeonato…
“Esse Piffero não tem cérebro mesmo…”, não disse Bauza
O presidente de honra do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, classificou de “prematura” e “precipitada” a proposta do ex-prefeito de Porto Alegre Tarso Genro, que defendeu a renúncia do presidente Fernando Henrique Cardoso e a realização de novas eleições em outubro.
“Fernando Henrique tem 20 e poucos dias de mandato. Ele tem tudo para fazer, mas até agora não fez nada. Se eu achar que, porque as coisas estão ruins, o presidente tem de renunciar, daqui a pouco vai ter gente defendendo a renúncia dos governadores do PT. Aí, vai virar moda no Brasil”, declarou Lula.
Embora tenha criticado muito a postura de FHC diante da crise, o petista frisou que agora o papel do PT é mobilizar a sociedade para tentar mudar a política econômica do governo. Lula voltou a sugerir que se faça no país um debate nacional em busca de soluções para a crise econômica. Mas disse que a oposição só aceita conversar com FHC se o governo admitir que pode mudar o rumo de sua política.
Lula anunciou que o PT, independentemente da vontade do governo, vai promover esse debate nacional com reuniões entre os líderes partidários, empresários e sindicalistas. Ele próprio vai, nos próximos dias, agendar encontros com o empresariado, nos mesmos moldes das reuniões realizadas durante as campanhas eleitorais de 1994 e 1998. (Patrícia Andrade)
Não tenho pressa: não a têm o sol e a lua.
Ninguém anda mais depressa do que as pernas que tem.
Se onde quero estar é longe, não estou lá num momento.
Sim: existo dentro do meu corpo.
Não trago o sol nem a lua na algibeira.
Não quero conquistar mundos porque dormi mal,
Nem almoçar o mundo por causa do estômago.
Indiferente?
Não: filho da terra, que se der um salto, está em falso,
Um momento no ar que não é para nós,
E só contente quando os pés lhe batem outra vez na terra,
Traz! na realidade que não falta!
Não tenho pressa. Pressa de quê?
Não têm pressa o sol e a lua: estão certos.
Ter pressa é crer que a gente passe adiante das pernas,
Ou que, dando um pulo, salte por cima da sombra.
Não; não tenho pressa.
Se estendo o braço, chego exactamente aonde o meu braço chega —
Nem um centímetro mais longe.
Toco só aonde toco, não aonde penso.
Só me posso sentar aonde estou.
E isto faz rir como todas as verdades absolutamente verdadeiras,
Mas o que faz rir a valer é que nós pensamos sempre noutra coisa,
E somos vadios do nosso corpo.
E estamos sempre fora dele porque estamos aqui.