Post em Três Partes

Publicado em 6 de setembro de 2004

A MORTANDADE DA RÚSSIA E O SORRISO DE BUSH. Não consigo entender os objetivos de algumas ações terroristas. Os chechenos e árabes da ação de Beslan esperavam outro final que não o que obtiveram? Pediam a retirada das tropas russas da Chechênia, mas qual chefe de estado os atenderia naquelas circunstâncias? Nenhum, menos ainda Putin. Então, o objetivo seria o de chamar a atenção do mundo? Concordo que a presença do Terceiro Mundo no Primeiro é a de mímicos que aparecem às vezes na televisão sob a voz de um locutor. A ação de Beslan conseguiu que tiros e gritos também aparecessem, mas, desta vez, penso que o beneficiário principal da ação estava na Casa Branca, cujo ocupante tem a santa intenção de “deixar o mundo melhor e mais seguro…”.

O final da tragédia foi casual: uma bomba presa com fita adesiva despencou do teto do ginásio e explodiu. Como conseqüência, um grupo de crianças – assustadas e vendo uma chance de sobrevivência na confusão – tentou fugir e os terroristas reagiram alvejando-as pelas costas. Do outro lado, estava o exército russo sem entender o que estava ocorrendo. Na dúvida… Conseguimos uma tragédia, mais uma, esta com 335 mortos, linchamentos e a intolerância internacional a pessoas das quais nem sabemos bem o ideário. Ou seja, os rebeldes chechenos permanecem mímicos. Já Bush não. Posso imaginar seu dedo em riste avisando-nos dos perigos do terrorismo internacional e oferecendo sua republicana solidariedade ao povo russo. E tudo isto em meio a uma convenção. É muita burrice junta. Nunca vi um anti-americanismo tão camarada, parece até encomenda.

Curiosamente, o Pravda informa que uma facção dos rebeldes queria matar os reféns e cometer suicídio, enquanto que outra não sabia disto e pretendia seguir até a vitória final. Imagino um diálogo entre as partes:

– Te avisaram a que nossa missão era suicida?
– Não, tô sabendo agora.

Como disse meu cunhado, as oposições radicais nunca se entendem.

Também estou no time da Chalotte, do Bomba Inteligente. Trato de ser profilático e deixo um aviso para meus 7 leitores: se um dia me fizerem refém, procurem deixar os russos de fora, tá? Lembram daquela invasão do teatro (170 mortos)?

OLGA, O FILME (MAIS UM ATAQUE DO PRESENTE CONTRA O RESTANTE DO TEMPO – Obrigado, Kluge). Detestei Olga, a minissérie, ops, o filme. Na verdade, não consigo imaginar como poderiam piorá-lo. O tom grandiloqüente, ultra-romântico, a tentativa lograda do diretor – nem quero saber quem é – de refazer Casablanca, os dialógos fracos que esculhambam o excelente livro de Fernando Morais, e a cena em que Olga conhece, digamos, a Coluna Prestes…, tudo é de matar de rir. Notem, sobre minha última referência: Prestes era um virgem de 37 anos. É, pois, bastante estranho que ele tome repentinamente ares de Tarcísio Meira para erguer sua Coluna e atacar a fortaleza judaico-alemã. Este é um detalhe que fala muito mal do roteirista e diretor, eles fugiram de uma das cenas mais difíceis do filme, uma cena que certamente lhes deixaria muito perto do patético, pois, hoje, é muito estranho alguém permanecer casto até aquela idade.
(Lembro do grande John Fowles descrevendo a primeira relação sexual de Charles Smithson no livro The French Lieutenant`s Woman, que diferença!)

Quem conheceu um pouquino o velho Prestes não o reconhece naquele personagem choramingas. Prestes costumava exibir sorriso e ironia perpétuos, era inteligente e bem falante, sem a postura lacrimosa e sentimentalóide do filme – nem quando o assunto era Olga. Em suma, trata-se de um filme tão piegas e mentiroso quanto as novelas da Globo.

Ah! A música deste filme inaugura um novo gênero: a do realismo socialista sexy. O coro feminino é um espanto!

MOÇA COM BRINCO DE PÉROLA. Visualmente, é um dos filmes mais esplêndidos que conheci. Todas as principais obras de Vermeer estão espalhadas em cenas do filme, assim como que por acaso. É uma belíssima e merecida homenagem ao grande holandês dos pequeninos quadros. Porém…, o diretor musical tenta estragar tudo e quase consegue. Nossa história do século XVI é pontuada aqui e ali por uma música que ficaria melhor em Batman ou Homem Aranha. Que mancada! Os holandeses tinham uma música riquíssima naquela época. Os registros de música antiga daquele período que possuo são espetaculares. Acho que a equipe que fez um filme não precisaria de um musicólogo para acertar na música, bastaria um bom melômano para fazer a correção e então poderíamos rever o filme com som.

Obs.: Neste post não consegui cumprir minhas promessas de não entrar na pantanosa área política e nem de criticar acerbamente filmes brasileiros. Mas foi demais, não pude impedir.

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O Mundo Médio, O Pior dos Mundos e o Mundo Bom

Publicado em 16 de agosto de 2004

O Mundo Médio. Trabalho insano. Passei a noite de sexta para sábado no restaurante. Saio de lá às 4h da madrugada. Tudo bem. Tudo bem? Tudo bem se não tivesse que acordar às 8h30 para abrir o bar em que o restaurante se transforma no sábado pela manhã, a fim de atender os alunos da Associação Italiana onde estamos sediados. Fico absolutamente irritado quando a Claudia me acorda, mas vou, desta vez com ela junto. Saio de lá ao meio-dia, almoço e vou para

O Pior dos Mundos. Para mim, nada foi pior do que os primeiros meses de separação. Mas a gente se refaz de quase tudo e hoje vejo aquele período como um fato indissociável e causador de minha tranqüilidade atual. Aprendi muito. Como estou separado há 3 anos – parece-me muito mais! -, é surpreendente que tenha que pedir ainda hoje auxílio a uma psicóloga para que possa conversar com minha ex. A nossa é muito boa, requisitadíssima e nos atendeu às 14h30 de sábado. O motivo alegado era o acerto da agenda das crianças; o real, um acerto de contas na forma de insultos. Chego à reunião absolutamente calmo, como se estivesse ouvindo Bach em casa. Quando me separei, estava transtornado, desesperado e cometi toda espécie de erros. As decisões que tomei contra mim foram… bom, melhor deixar de lado este assunto. Agora, sabe-se lá porque, o descontrole está do outro lado. É como se tivesse ocorrido uma separação unilateral há 3 anos; naquela época fui chutado e sofri sozinho. Tudo o que ouvia era tremendo e tinha como conseqüência um desmanche interno. Hoje, depois de 37 meses e 5 dias, tenho pela frente o Milton daquela época. Tudo o que digo parece ser tremendo e as bombas que me lançam podem ser rebatidas ou caem longe. Mas não é, de forma nenhuma, agradável. Fui patético há 3 anos, dizia e fazia bobagens; hoje, observo. Ao final da reunião, fico abruptamente sozinho com a psicóloga e vou ao

Mundo Bom. Converso com ela sobre o Bernardo. Ele tem 13 anos e sinto muitas vezes que ele poderia ter companhia melhor que a minha. Expressei-me mal, vamos de novo: sinto que estou sendo chato e que não sei mais como ser interessante para ele. Sou apegadíssimo a meus filhos e esta é uma enorme angústia. Quinta-feira, dia 19, completo 47 anos; quero ser flexível, alongado, sarado, ter uma mente jovem, permanecer bom pai, mas vou-me atrapalhando. Há alguns dias, intuí que ele desejava o Canal Playboy em seu quarto. Comprei-o para ele, digitei 79 no controle remoto, ele viu, voltei ao GNT e caí fora. Acho que faz parte do meu papel fazer isto, porém sei lá se é correto… Afinal, antigamente os pais levavam o filho púbere a um prostíbulo… Sempre achei isto uma violência. Sou tranqüilizado pela psicóloga que diz que fiz bem e me enche de sugestões sábias. Resultado: mesmo após mais uma noite passada no restaurante – até às 3h -, tive um domingo de sonho com ele, Bárbara e Claudia. Fizemos um churrasco juntos, conversamos, fomos ao cinema (dormi meu sono atrasado durante o filme “Eu, Robô”) e agora é a vez deles estarem dormindo. Assim, a vida já passa a valer a pena.

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O Leitor Sem Método

Publicado em 5 de maio de 2004

Os livros que compro ou ganho vão sendo devorados aos poucos, obedecendo a uma inexplicável lógica. Durante este ano, tive a sorte de ler em seqüência quatro excelentes livros brasileiros recém-lançados. São eles O Grau Graumann (2002), de Fernando Monteiro; Armada América (2003), idem; Budapeste (2003), de Chico Buarque e As Pernas de Úrsula e Outras Possibilidades (2001), de Claudia Tajes. São romances que não guardam nada em comum entre si, mesmo considerando que temos duas obras de um mesmo autor. Os autores também não, pois se Fernando Monteiro é vítima da injustiça de ser pouco conhecido, Chico Buarque vende milhares de livros e Claudia Tajes é uma jovem gaúcha que vem tendo seus méritos reconhecidos.

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O Grau Graumann, que talvez seja o melhor dos quatro livros, inicia-se com a notícia de que o escritor fictício brasileiro Lúcio Graumann ganhara o Prêmio Nobel de Literatura. Finalmente! Tudo faria crer que teríamos uma curiosa farsa pela frente, mas vamos sendo minuciosamente contrariados pelo pernambucano Monteiro. Graumann não é obra de um escritor que joga para a torcida, é obra de alguém muito sofisticado e inteligente, que possui grande talento e informação literária. Suas quebras e mudanças de foco fazem lembrar William Faulkner, conservando, porém, sua originalidade. Graumann nega-se a dar entrevistas e permanece recluso em uma praia do nordeste; contudo, manda um recado à Folha de São Paulo sugerindo que aceitaria falar com um amigo, o jornalista Mauro Portela. Mauro é um ressentido e aceita o trabalho de free lance mais pelo dinheiro que por interesse no amigo. Procura então inutilmente arrancar algo bombástico ou significativo de um homem dobrado pela doença. O contraste entre uma provável comemoração pelo recebimento do prêmio e a depressão de Graumann é aterrador. Reconheço minhas dificuldades com o que chamo de excesso de verossimilhança de algumas obras. Graumann não é tão terrível quanto Vernônia, de William Kennedy, que é complicado de ler, mesmo sem as imagens de Babenco, mas a soma de Graumann + sua amante + sua fuga + seu “perseguidor” Mauro + o cenário formam um todo desolador. Graumann terá uma “continuação” chamada As Confissões de Lúcio, romance propositalmente quase homônimo ao de Sá-Carneiro, que conterá material iconográfico, tais como fotos, manuscritos, etc. e há ainda a idéia de um terceiro romance, escrito pelo próprio Lúcio Graumann e com capa creditada a ele… Imaginem!

Certamente O Grau Graumann é melhor, todavia meu obtuso ser divertiu-se mais com Armada América. São 14 relatos “americanos”, nos quais Monteiro constrói um significativo mosaico daquele país. Não há aceitação passiva do american way of life, nem inflamados discursos antiamericanos. É um livro dedicado aos americanos comuns, incluídos ou outsiders, e o quadro formado nos mostra um amplo retrato de um país sem muito glamour. Monteiro dá inúmeras demonstrações de um despreocupado virtuosismo, move-se pelo livro utilizando a primeira pessoa do singular. Às vezes, não sabemos claramente quem está contando a história, se um personagem ou outro, ou o próprio autor; no relato Benny Siegel há um inesperado e impagável comentário dirigido ao leitor: trata-se de um elogio quase incrédulo a um parágrafo escrito por… Fernando Monteiro: “Bonito, não?”, diz o narrador, para depois retomar o tom habitual. Por puro vício, esperava que Armada contivesse uma história sobre jazz, mas ela não existe. Errei, mas queria ter acertado. Em e-mail trocado com o autor, submeti a ele algumas observações. Resumidamente, eis sua resposta:

Embora agora lamente que, de fato, falte um relato exclusivamente sobre “jazz” – apesar de que, no segundo, conforme eu ainda não havia notado, haja referências ao jazz etc. -, acho que deveria haver ali uma coisa diretamente relacionada, sim, você tem toda razão…

Do “Graumann”, essa opinião de que é um livro que vai ficando opressivo, eu já a ouvi de outros, e suponho que seja mesmo a direção para a qual o romance se encaminha, conscientemente (como metáfora, inclusive, do fracasso da literatura, entre outras coisas).

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Claudia Tajes é engraçadíssima. Seu livro As Pernas de Úrsula e Outras Possibilidades é pontuado por uma comicidade irresistível. Tajes é boa observadora e usa de ironia e mordacidade para contar a história de um divórcio. Lembram daqueles testes psicológicos das empresas para avaliar nossa capacidade para ocupar um cargo? Uma das perguntas mais freqüentes era: qual sua maior qualidade e seu maior defeito? Sobre Claudia Tajes eu responderia o mesmo para os dois questionamentos: o fato de ser engraçada. E, àqueles psicólogos, diria que nossas maiores qualidades podem tornar-se defeitos quando levadas à exacerbação. Não sei o motivo de tanta vontade de fazer rir (a Síndrome L.F. Verissimo?), mas ela faz questão de duas ou três piadas por parágrafo. Sempre. Então, ao mesmo tempo em que nos entusiasmamos com a criatividade e bom humor do texto, notamos que até em trechos dramáticos há galhofa. Há assuntos que não são tão engraçados e ficam distorcidos quando ridicularizados. Woody Allen escreveu que o fato de ser jocoso sempre pode atrapalhar a narrativa. Allen, para desespero de alguns, retirou de Manhattan algumas cenas que, em sua opinião, prejudicavam a atenção do espectador por sua extrema comicidade. Já Tajes erra quando quer manter um perpétuo “Allegro Molto” mesmo em cenas onde há abandono de amantes e crianças.

Não obstante a crítica, confesso ter dado boas risadas, pois antes ou depois de ser mácula, a veia cômica é virtude.

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Águas de Abril

Publicado em 19 de abril de 2004

Desta vez, nada de música, cinema ou literatura; quero comemorar a mudança do tempo. Toda vez que entro no carro, faço Elis e Tom me avisarem que são as águas de março fechando o verão. Meu sangue erra de veia e se perde ao notar que a dupla está novamente adiantada. Caro Tom, nossos verões só deixam entrar o outono em meados de abril. Você talvez tenha feito a maior de nossas canções, mas errou na metereologia. Uma pena. Choveu ontem e hoje, a temperatura finalmente desabou. A longa estiagem fez com que aflorasse uma pequena parte de nossa má educação. Os jornais se encheram de fotos do Guaíba metros abaixo de seu nível. Nas margens, via-se a areia cheia de garrafas, sacos plásticos e lixo de todo gênero. Descobrimos assim que nosso belo rio serve também para esconder-nos.

Minha filha dorme a meu lado. Estava conversando e subitamente calou-se. Coisa de criança. Cubro-a com um lençol e ela geme e se encolhe, enquanto uma enorme ternura me invade. Não pediu janela aberta, ventilador, ar condicionado, nada; apenas dormiu após um domingo especialmente aventuresco. Durante o dia, não prendeu os cabelos. É a época em que sumirão as coxas e os braços das mulheres, os decotes fechar-se-ão e as roupas ficarão tão escurecidas que sentiremos falta do calor. O consolo virá com o vinho, os fondues e as sopas e, sempre que quisermos algo mais, enfrentaremos intermináveis botões, zíperes e camisetas. Também é consoladora a luz do outono – a mais bela de todas nesta latitude. Tudo isto não deixa de ser uma promessa de vida em meu coração…

Não quero fazer com que meus 7 leitores salivem olhando para o monitor, mas digo-lhes que já fizemos o primeiro fondue de chocolate do ano. Sim, a Claudia é muito oportunista e nos deu esta sobremesa no almoço de domingo. Era para comer de joelhos. Não, eu não a empresto. A falta de prática nos fez perder muitas frutas dentro do chocolate e, como naquele episódio do Asterix, houve ameaças de punições e chibatadas aos faltosos.

Chega de conversa ribeira por hoje. Afinal, É a chuva chovendo, é conversa ribeira / Das águas de março, é o fim da canseira.

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A Rádio da Universidade (Parte II) & Como Inventei os Blogues

Publicado no dia 5 de dezembro de 2003.

Meu último post teve repercussão inteiramente diversa dos anteriores. A repercussão positiva veio na forma de entusiasmados e-mails e telefonemas de apoio. Estes, na maioria de pessoas pertencentes ao Departamento de Música da UFRGS e à propria Rádio, não queriam ser identificados. Uma pena. A repercussão negativa veio dentro dos comentários do blogue, misturada a outros apoios. Fiquei discutindo com um grupo de alunos inteligentes e articulados – mas dos quais discordo! -, que desejavam, além de defender a profe (ou sora, segundo meus filhos), manter o que pensam ser um laboratório. Um laboratório público, bem entendido.

Estes talvez não precisem se preocupar, pois representam hoje o poder; mas suas idéias me deixaram pasmo. Algumas delas: a RU foi um equívoco por 45 anos e agora seus rumos estão sendo finalmente corrigidos… A gloriosa RU tem de ser dos alunos… Os ouvintes de música erudita melhor fariam se fossem para a Internet a fim de montar suas próprias rádios… Puxa, o correto não seria o inverso? Se a PUC tem uma rádio-laboratório, por que a UFRGS não pode manter uma? Com a Internet, isto é fácil de viabilizar. Há também, na idéia dos alunos, a crença de que somos elitistas, ricos, etc. Realmente, não nos conhecem. Somos pessoas de todas as classes sociais e muitos tornaram-se músicos ou apaixonados ouvintes por vivenciarem a antiga RU. Assim como não me conhecem as pessoas que querem que eu brigue sozinho pelo retorno da RU às origens, pois não podem aparecer, têm medo de retalhações, etc. Democrático, não? A continuidade lógica destas idéias obtusas leva-me a pensar também na extinção da OSPA (Orquestra Sinfônica de Porto Alegre). Por que não? Afinal, o que o Estado tem a ver com a arte?

Sugiro que o missão-devaneio que há no site da rádio mude imediatamente, seguindo a sugestão de uma amiga. De “Especializada em Música Erudita” para “Especializada na formação de novos comunicadores”. Maus comunicadores, pois serão especialistas em criar o que melhor lhe aprouverem , não a se adaptar a um meio de comunicação pronto, que é o que encontrarão na vida real. Vida real… Acho melhor voltar logo à literatura, à música e a meus comentários sobre qualquer assunto. Toda a vez que falamos na UFRGS vem junto uma política muito chata e complicada… Para terminar: se a Prof. Sandra de Deus quiser falar comigo, não há problema, basta vir a meu blogue e escrever qualquer coisa. Logo após, entrarei em contato. Se ela quiser, até peço desculpas pelas brincadeiras com seu nome.

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Eu inventei os blogues. Um dia visitei o site de Sergio Faraco e pensei em como seria interessante àqueles que o lessem se ali houvesse uma espécie de diário do escritor. Trata-se do maior contista brasileiro. Imaginei como seria bom se tivéssemos notícias sobre novas obras, sobre o último jogo de sinuca, sobre mecânica de automóveis e sobre tudo o que lhe passasse pela cabeça, desde considerações eruditas até abobrinhas. Fiquei pensando numa entrevista que ele concedera. Gosto de carros, de todos os esportes e de muitas outras coisas que nada têm a ver com prática literária. O prazer não me dá remorso. Onde não há prazer não há proveito, escreveu Shakespeare. Não sou como esses escritores que só sabem falar de literatura e cujas obras nunca se equivalem ao que sabem ou pensam saber. Falo de qualquer coisa, estou atento ao acontece ao meu redor. Não vivo num buraco, alimentando-me de sopa de letrinhas.

Nesta vontade de saber mais sobre Faraco, pensei que deveria existir alguma coisa pronta na Internet, um software que funcionasse como um diário, só que utilizada por gente interessante. Isto é, inventei internamente a idéia de blogue – nada brilhante para quem está sempre divagando -, depois fui para o Google e o descobri em 5 minutos. Entrei em alguns e fiquei decepcionado, era tudo muito fútil. Então, fiz a seguinte pesquisa: “Blog+Beethoven+111+Mann”. Imaginei que esta curiosa quase-livre-associação deveria fazer com que eu encontrasse um blogue de alto nível que estivesse a comentar o famoso oitavo capítulo de Doutor Fausto de Thomas Mann. E encontrei. Era o blogue do Zadig. E era brilhante. Tudo aconteceu em menos de 1 hora. Hoje, tenho outros amigos e amigas de mesmo tamanho na bloguesfera, mas Zadig foi o primeiro e o primeiro… (completem vocês)

Fiz-lhe um enorme comentário e recebi de volta um e-mail ainda maior me explicando detalhadamente o que era um blog. Ontem, recebi um belo e-mail do Zadig (que também atende por Adalberto Queiróz ou BetoQ) me propondo um texto a quatro mãos. Milton, numa dessas últimas Bravo! tem um artigo sobre o qual desejaria trabalhar a quatro mãos (se pensamos em escrever pelo teclado) ou a duas (se pensarmos na velha e boa lapiseira): seria como voltarmos ao problema bem situado por você quando falou sobre a…

Como dizer não? Gostei muito da proposta e do assunto, que vou deixar em segredo. No e-mail, havia também notícias de uma cirurgia de apêndice da Sherazade. O Zadig (com quem divido teto, prazeres, sonhos e dívidas, nessa ordem exata) me mostrou um texto do seu blog… Ela está em fase recuperação de uma apendicite e logo vai viajar para o casamento da filha Maíra, que mora fora do Brasil. Somaram-se duas ansiedades: uma boa – Maíra vai casar e está muito feliz; outra preocupante – Helenir adoeceu. Graças a Deus, tudo vai bem na sua recuperação, mas o susto ficou.

Eles são goianos e moram em Goiânia, mas estudaram na UFRGS (olha ela aí de novo, gente!). Maíra nasceu aqui em Porto Alegre e o casal tem outra filha, presumivelmente goiana. Temos muita coisa em comum. Muito legal conhecer você: minha mulher Helenir (que também é doida por Balzac) comentou quando viu partes do seu blog (ela não tem muita paciência com a web): “Mas este cara é seu irmão – leu tudo que você lê, gosta de muita coisa que você gosta. Infelizmente, não do Grêmio.”

É verdade. Sou colorado. Muito. E ele fuma charutos, enquanto eu detesto qualquer fumo; e ele é neo-católico, eu sou indiferente; e ele fala e escreve em francês, eu só fiquei francófilo antes da guerra e volto a ficar sempre que vejo a Juliette Binoche sorrir; e ele não gosta de cinema, eu o amo; e ele às vezes bebe além da conta, eu, só um cálice. Mas somos parecidos e amigos.

Conversamos várias vezes por semana. Já trocamos mimos pelo correio. Eles também o fizeram com o Guiu Lamenha, mas não sou ciumento, gosto de apresentar meus amigos uns aos outros. …não paro de ouvir a Missa de Bach que você me enviou. Como é possível não deixar o pensamento voltar-se a Deus ouvindo aquilo, Milton? É, Zadig, será duro me convencer, mas acho que se houver uma justiça divina melhor que a brasileira, estou salvo. Nos encontraremos no julgamento e vamos ser absolvidos, não se preocupe! Afinal, só faço mal à Sandra de Deus… Porém, como garantia, espero conhecer o cerrado e vocês pessoalmente antes.

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A Morte da Rádio da Universidade – Uma Indignação

Quando publiquei este post pela primeira vez, em 2 de dezembro de 2003, em outro blog que eu possuía, houve uma confusão inédita. Alguém o repassou para os e-mails internos da UFRGS e o que se viu foi uma enorme briga. Infelizmente, perdi os comentários. A Rádio mudou muito desde então. Para melhor. Imodestamente, digo que mudou exatamente na direção apontada por mim. Devo ter influenciado um pouquinho. Deste modo, não houve a “Morte”.

A Rádio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul existe há 46 anos. Ouço esta rádio diariamente há mais de trinta, sou íntimo. Se não costumamos expor os podres das pessoas que nos são íntimas, isto não é válido para uma estação de rádio, ainda mais quando ela nos trai. Sinto-me à vontade para falar bem ou mal dela. Não fui ouvinte por ódio e sim por admiração acompanhada de amor à música. São de meu conhecimento as dificuldades pelas quais a rádio passou e o heroísmo de seus antigos funcionários para mantê-la viva dentro do estilo a que se propunha. Ambos, eu e ela, nascemos em 1957 e sempre fantasiei que alguma coisa ligava minha vida ao esforço de sobrevivência da RU. Em seu site, ela se auto-define da seguinte forma: Somos uma emissora especializada em música erudita, oferecendo “aos” nossos ouvintes, cultura e entretenimento. Isto já foi verdade, porém desde que a jornalista e professora Sandra de Deus – que não conheço – assumiu o comando da emissora, ela virou coisa do diabo.

Meus 7 leitores podem não acreditar, mas sofro com a agonia dos propósitos definidos na missão-devaneio transcrita acima.

Meus amigos, minha querida rádio, que já foi escolhida a melhor do Rio Grande do Sul por nossos escritores e artistas, que foi tão citada nas obras de Erico, Dyonélio e outros, que era ouvida por Vasco e Iberê enquanto criavam, esta rádio está hoje invadida pelo pior jornalismo. Quando ela faz programas sobre negócios, sentimos saudades do superficialismo mais consistente da Globo; quando ela toca música brasileira, sentimos vontade de ouvir a FM Cultura, que faz isto com muito mais talento e repertório; quando ela apresenta programas étnicos, ficamos nos perguntando se há algum profissional por perto para ajudar o pobre amador responsável pelo espaço; e quando as matérias são produzidas pelos alunos, temos de aceitar, afinal a Rádio pertence a uma Universidade, o que fazer?

Esta grande emissora possui uma das maiores discotecas e cedetecas do país. Durante alguns períodos difíceis a rádio solicitava doações de obras em CDs. Vários conhecidos, including me, fizeram doações de discos, famílias deram e dão para a rádio o acervo de seus melômanos mortos e o diabo trai a todos, certamente irritado pelo fato dos mesmos estarem no céu, gozando das duvidosas delícias castas oferecidas nestes casos. E a Magnífica Reitora Wrana Panizzi, que certamente não se interessa um nadinha por música, fica cantando “tô nem aí”, enquanto penso sobre onde estão Flávio Oliveira, Rubem Prates e outros conhecedores de música neste momento. Alguém deveria dizer à diabólica Sandra que, se há um noticiário de uma em uma hora, só é possível executar as sinfonias Nº 1 e 4 de Mahler ou as Nº 4, 7 e 9 de Bruckner e nunca as outras obras destes autores, pois somente as citadas têm menos de uma hora de duração… Mas tentarei refrear a indignação e ir por partes:

1. Os horários:

Repetindo, como tocar uma sinfonia de Bruckner, Mahler, a West Side Story inteira ou uma ópera se de hora em hora há um programa de notícias? A programação da RU fica limitada e empobrecida devido a estas interrupções.

2. Quanto à qualidade das gravações:

As pessoas de mais de 35 anos que têm discotecas há decênios se deparam com um problema: a gravação em vinil ou a gravação em CD? Eu, que possuo mais de 1200 discos em vinil e uns 800 CDs, sei bem o que é isto. Às vezes, a qualidade musical de um CD é inferior ao de uma gravação em vinil. Então, se a RU ainda tem agulhas novas nada, mas nada mesmo, justifica a transmissão das Variações Goldberg de J. S. Bach por Christiane Jaccottet (ainda mais em um sábado de manhã!). Ela é simplesmente medonha. O fato de estarem presentes no acervo da rádio CDs da antiga Movieplay não obriga a emissão de todos eles. Ora, quem possui as Goldberg em gravações de Landowska, Leonhardt, Gould, Richter, Staier e Hantaï estará totalmente certo se esquecer os 12 volumes das obras para teclado de Bach pela Jaccottet. A boa qualidade do som do CD apenas deixa mais expostos os erros dela. Eu mesmo tenho estes CDs e já os esqueci. (Alguém aí na bloguesfera os quer?) Claro que isto não vale para todos os Movieplay, só para alguns.

3. O repertório:

Parece que a rádio está mais e mais acadêmica em seu repertório. Há uma variação muito pequena de autores/estilos/escolas. Ficamos todos os dias repassando os mesmos nomes. Um dia, por exemplo, foram colocadas consecutivamente três gravações da Sinfônica de Washington sob a regência de Rostropovitch. Eram autores diferentes e as gravações são boas, mas para que isto? Ninguém estava comemorando a détente, nem o aniversário de Shostakovitch ou alguma data russa ou soviética, estava? Outro fato que me intriga é que os autores – exceto Gorecki – que estão crescendo na consideração de qualquer publicação de música erudita não são mais repercutidos na RU. Cito os nomes de Spohr, Heinichen, Berwald, Ockeghem, Schnittke e em outros tantos que principalmente a Naxos está trazendo à tona. A atual RU parece ser programada por curiosos.

4. Os programas:

Há um programa sobre cinema que é um toca-cedês de trilhas de filmes. Há um que até não é péssimo mas é um mistério. Ele tem o horário nobre das oito da noite e se extendia primeiramente por meia hora. Hoje tem, no mínimo, uma hora e, às vezes, o apresentador de mente caquética se entusiasma e vai adiante. Nunca sabemos quando estaremos livres dele. O programa é dedicado aos tangos. Parece que a Buenos Aires dos anos 40 ou 50 baixa em Porto Alegre; porém, infelizmente, Borges fica em sua biblioteca enquanto Cortázar viaja e Sábato fica ouvindo seu amado Heifetz em casa. Tudo o que Roque Araújo Vianna apresenta é “maravilhoso” e “genial”, o programa já fez cinco anos e ele nunca encontrou nada “mais ou menos” em sua alentada discoteca. O nome da coisa é “Tangos en la Noche”, mas deveria ser “Tangos Todas las Noches”. Um saco! E há um programa feito por ecologistas que diz 3 frases e passa para alguma música bem alegre e acústica. Somos, pois, informados subliminarmente que aquilo seria música ecológica.

5. Intercâmbio com outras rádios e programas sobre música:

Desapareceram os programas da Deutsche Welle, BBC, etc. Estive em São Paulo e ouvi programas muito interessantes na Cultura. Vinham do Canadá, Suécia, Espanha, Suíça, DW e BBC. Eram todos em português. Desconheço a opinião da RU sobre eles, mas eu os achei ótimos. Serão eles caros? Eu, na minha ignorância, sempre pensei que viessem de graça, através de um serviço de intercâmbio cultural, sei lá. E por que não são criados programas dedicados a um ciclo de composições e a seus principais intérpretes. Exemplos: Sinfonias e Quartetos de Beethoven, Cantatas de Bach, Concertos para piano de Mozart, etc. Discoteca para isto a RU tem de sobra. E bastaria chamar um especialista do Departamento de Música para resolver o problema.

7. As vinhetas e chamadas:

Provando a estranheza da atual equipe com a música erudita, só se ouvem vinhetas e propagandas de programas com músicas populares, normalmente as eletrônicas dos anos 70 e 80.

8. Apenas um elogio:

O programa “A Hora do Jazz” é perfeito. Quem o apresenta sabe do que está falando. Não sei seu nome completo, é Günther mais um sobrenome alemão, é claro. Tal apresentador recebe uma hora semanal da divina Sandra. Por que não reduzir os tangos a este tempo?

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O Milton de 2005 reúne-se aos de 2001 e 2003 (IV)

O Milton de 2005 junta-se a seu duplo e triplo mais jovens. Ficam conversando na calçada.

2003: (Hesitante) Vieste nos ver… Vamos saber tudo?
2005: Tudo? Não, não tudo. Tenho só dois anos a mais que tu… Se a vida de um brasileiro médio dura 70 anos, só vivi uns 3% a mais que tu e 6% mais do que o 2001. Vivi 69% do total. Restam 31% que não conheço. Mas sei o que te espera nos próximos dois anos. Não te preocupa, foram bons anos.
2001: Não trouxeste nenhum resultado da Megasena para nós?
2005: (Dá um tapa na cabeça.) Como sou burro! Mas, pensando melhor, se tu ganhasses a Megasena antes de chegar a quem sou hoje… que efeito teria isto sobre mim?
2003: Talvez estivesses com uma aparência menos cansada.
2001: É.
2005: (Rindo) É surpreendente a deselegância a que nossos duplos podem chegar. Estão me achando velho, acabado?
2003: Velho, não; sem dúvida cansado, usadinho.
2005: Podemos entrar ali no shopping depois? Quero ver minha cara num espelho. Estamos trabalhando muito, com planos de construir uma casa. E, quando chegamos em casa, há a Claudia, que é ótima, mas tem uma energia inesgotável. (Os duplos primeiro fazem cara de pasmo, depois sorriem.)
2001: Ela está acabando contigo? Que azar…
2003: Nos sugando a energia?
(Risadas)
2005: Não, não é por aí… É que chego em casa e quero ler, ouvir música como sempre fiz. Mas ela quer fazer planos, têm dúzias de idéias, enquanto que eu não tenho nenhuma… São horas de trabalho que continuam em casa!
2003: O bom da festa é quando chegamos em casa e tiramos os sapatos.
2001: Bêbados, de preferência.
2005: Como se bebêssemos muito… A casa será num terreno do pai da Claudia. O plano é construirmos um pequeno edifício com o irmão dela.
2001: Conte mais!
2005: O Grêmio caiu para a segunda divisão no ano passado.
(Todos riem, felizes)
2003: Que belo futuro nos espera! Mais, mais novidades!
2005: Vamos para a Libertadores no ano que vem. Quase ganhamos o Campeonato deste ano, mas o Corinthians o comprou antes. Ah, e publicamos 1/12 de livro: uma antologiazinha com outros.
2001: 1/12 de livro… Isto torna alguém publicado?
2003: Não.
2005: Claro que não. Mas também não temos a menor vontade de procurar editora. Contam cada história a respeito. Só o fato de ser estigmatizado como “estreante velho” já nos dará engulhos. Mas temos duas novelinhas e um livro de contos dentro do micro.
2001: Faça back-up, viu?
2003: É coisa boa?
2005: Não estou seguro. É bem escrito, mas talvez seja excessivamente cronístico.
2001: Como somos exigentes.
2003: Para que publicar qualquer merda? Já basta o que há.
2003: E nossa mãe?
2005: Alzheimer.
(Silêncio por algum tempo.)


René Magritte – O Duplo Secreto (1927)

2003: E os outros da família? E os amigos?
2005: Os outros estão inteiros.
2003: Mais alguma surpresa?
2005: A Bárbara quer morar conosco.
2003: Poxa, que legal! Que bom. Mas… há problemas entre ela e a mãe?
2005: Ela fala pouco a respeito; evita o leva-e-traz de informações.
2001: Boa menina.
2003: E como ficará isto?
2005: Não tenho a menor idéia, falei sobre as desvantagens que eu tenho a oferecer: casa pequena — atualmente — , expliquei que não vou ficar o tempo todo em casa, que ela ficará sem pátio, que passará as tardes sozinha, mas ela não quer saber, quer vir.
2003: É que há vantagens.
2005: O que tu sabes a respeito disso?
2003: Ora, eu conheço o funcionamento da família da Claudia, principalmente das figuras femininas. Há mulheres de personalidade, inteligentes. Vaidosas, também. São modelos muito sedutores para uma pré-adolescente. Há a Bianca, a Lia, a Claudia, claro, e até a “vódrasta”. Sabe como é.
2001: Discordo. Uma criança de 11 anos como ela em 2005 só quer carinho e atenção. É isso o que damos e daremos a ela e é isso o que ela quer e precisa. Não acredito nesta coisa de “modelos femininos”. Depois, quando ela for maior, talvez a grana que está do outro lado a atraia. Hoje, ela está se lixando.
2003: Que é isso? Por que este ataque a minha filha, digo, nossa filha. Que coisa absurda.
2005: Ele não está nada bem, 2001. Além disso, sabe que a grana em parte ficará lá porque ele botou nossa assinatura boba num monte de papéis que nos apresentaram.
2001: …
2005: Isso tem que mudar, né?
2003: Escute 2005, vamos negociar, da próxima vez que vieres, não dá para trazer uns números da Megasena?
2005: Porra, tu fazes as cagadas, mas só pensa em dinheiro. Até entendo tua loucura por dinheiro depois de sair de uma sessão com a Adriana Vergerus! (*)
(Risadas)
2003: Como vai ela? – pergunta ele rindo a 2001.
2005: (Ainda rindo) Com a diferença de que esta Vergerus não está num filme de Bergman, está na tua frente, te torturando.
2001: Psicológica e financeiramente.
2005: Tirando todo e qualquer advogado do caminho para fazer os acordos.
2003: Mas acaba logo, 2001, haverá muito sofrimento mas acaba. E bem, agora preciso trabalhar para sustentar o 2005 aí.
2001: Digam-me uma coisa: eu poderia ir para o futuro visitar algum de vocês ou só vocês podem vir para 2001?
2003: Só imagino o quanto ficarias confuso, mas acho que não há nada que te impeça. Adoraria te apresentar a Claudia. Vais gostar dela.
2001: Espero que sim.
(Sorrisos)
2005: Talvez fosse melhor não vires, ficarias ansioso por nossas mancadas, que são inevitáveis.
2001: (Alegre) Vou pensar a respeito. E tu, 2005, cuida bem de nós.
2005: Pode deixar.
2003: Quando vamos nos rever?
2005: Qualquer hora destas.

(*) Adriana Vergerus é um nome fictício. Os personagens perversos, assim como os que atraem ou prognosticam o mal nos filmes de Ingmar Bergman têm muitas vezes este sobrenome. Ao longo da obra do maior de todos os cineastas, há mais muitos Vergerus, todos monstruosos, quase todos médicos ou clérigos.

Maiores detalhes sobre os Vergerus e também sobre os Vogler neste post.

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O Milton de Março de 2001 Entrevista o Milton 2003 (III)

O Milton de 2001 saía de um elegante edifício de uma das zonas nobres de Porto Alegre, quando foi novamente abordado por seu mais novo amigo, o Milton de 2003. Eles caminham juntos.

2001: Ah! Demorou mas cumpriste a promessa de me encontrar aqui.
2003: Vim outras vezes na saída da terapia familiar, mas fui embora por medo de que nossa ex me visse.
2001: Tua ex, não minha!
2003: Pode ser, mas imagine o pasmo dela ao me ver.
2001: De que servirá esta terapia?
2003: Bom, sabes que não somos hostis a este tipo de tratamento, mas a presença da shrinker servirá apenas para que a lei seja ignorada (com nossa concordância), para que as crianças fiquem bem (não ficariam sem a terapia?) e para que montássemos nossa agendinha. De qualquer maneira, aprendemos muito lá dentro, sem dúvida. No fundo tudo vale a pena, não?
2001: Vamos mudar de assunto. Podemos falar sobre as tuas perspectivas ou vai me enrolar de novo?
2003: Após a separação ficarás sem dinheiro, sem mulher e sem “um teto todo seu”, entre aspas, como diria Virginia Woolf… A propósito, ficarás até sem A Room of One’s Own (risadas). Portanto, conhecendo tuas péssimas perspectivas a curto prazo, a situação de hoje é muito melhor.
2001: E as contas?
2003: Serão pagas com alguma dificuldade, mas dará tudo certo. Um dia, em 2002, terás um grande chilique, pois nos colocarão no SERASA, mas descobriremos em 5 minutos que foi um engano do Itaú, do qual nos desligaremos imediatamente, é claro. Isto é, nossos atrasos nos pagamentos serão pequenos. Não venderemos carro, sala, nada. Será só aperto.
2001: É, mas fico nervosíssimo com estas coisas.
2003: Ficamos ainda, meu amigo.
2001: E o futuro?
2003: Vejo o futuro com otimismo pela primeira vez em muitos anos. (2001 fica com lágrimas nos olhos, abaixa a cabeça e procura esconder o descontrole. É muito feio se emocionar em público.) Nossa baixa auto-estima será obrigada a recuar e, de certa forma, ficará sem argumentos. Acontecerão muitas coisas boas. Mas por que estás olhando para o outro lado?
(Longo silêncio)
2003: Posso continuar agora?
2001: Sim.
2003: Primeiro começarás a te reeerguer financeiramente; será uma coisa tímida, mas importante. Depois virá a Claudia, que nos apoiará incondicionalmente e auxiliará em tudo, inclusive em nossos projetos. Ela é muito inquieta, na verdade é um furacão. Nem bem planeja e já está agindo. Depois virá o blog…
2001: O que? Vou ser proprietário de uma lavanderia?
2003: (risadas) Blog é a contração de “web logger”, uma forma de publicar na Internet que se tornará muito popular. Mas às vezes vira conversa de lavadeira mesmo… Temos sorte e, em nosso caso, não acontece com freqüência. Em tempo saberás melhor o que é. O importante é que neste tipo de lavanderia poderás te expor da forma que sempre desejaste.
2001: Escrevendo?
2003: É claro.Vamos escrever pequenos textos que serão muito grandes para um blog convencional. Um pequeno grupo de leitores nos lerão, porém são de tão alto nível, que é como se fossem milhares. Quase sempre escreveremos a nosso respeito. Seremos nossos melhores personagens.
2001: Como será o nome do… conjunto da obra?
2003: Milton Ribeiro.
2001: Não poderia ser “Sob minha pele”?
2003: Under my skin? É um belo nome, mas a Doris Lessing escreverá um livro de memórias com este nome, traduzido no Brasil como “Debaixo de Minha Pele”. Acho que Milton Ribeiro está bom.
2001: Quem é aquele que vem lá na esquina?
2003: Não sei.
(Vem ao encontro deles, sorridente, um homem extremamente parecido com a dupla de amigos que conversam. Porém, é mais velho e, não obstante o semblante animado, tem a aparência cansada.)
2001: Eu não acredito!
2005: Bom dia, senhores, já devem adivinhar quem sou, não? Venho de 2005!
(2001 fica feliz. Já 2003, até então senhor da situação, fica visivelmente perturbado. Não esperava por esta.)

(Continua)

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O Milton de 2001 encontra o de 2003 (II)

Na saída do cinema, Milton 2003 aguardava sua versão 2001. Caminham juntos.

2003: Que filme original e triste, né? Gostaria que dissesses algo para que eu pudesse recuperar meu sentimento pós-filme.
2001: O filme é muito bom e comovente, mas não tenho nada de especial para dizer. Acho fantástico o fato de alguém ter tido a coragem de fazer um musical inusitado, realista. É um grande filme. Quem imaginaria Björk – atuando como atriz – e Catherine Deneuve num filme dirigido pelo Lars von Trier? A cena do assassinato coloca a personagem de Björk frente a uma questão sem solução. As duas opções que o homem lhe dá são terríveis e ela escolhe seu filho, é claro.
2003: Não entendo, não ias ver o Henry Fool, que é excelente?
2001: Mudei meu ingresso na última hora, não quis ver o filme de um fracassado.
2003: E então escolheste o da cega?
2001: Sim! (risadas de ambos)
2003: É, nós também escolheremos nossos filhos na separação. Sairemos sem nada. Deixaremos tudo o que pudermos. A intenção será a da busca da tranquilidade mediante uma tremenda auto-agressão, uma coisa inócua a qualquer que um não fosse nós mesmos e que visava demonstrar uma certa nobreza de caráter, uma certa elegância ao estilo século XIX… Será uma tentativa de recomeço aos 44. Logo depois, teremos a certeza de ter cometido um erro. Nosso amigos não entenderão, acharão injusto e até seremos instigados por eles a fazer uma revisão das coisas. Porém, não faremos nada. Talvez o reconhecimento deles baste para nos deixar tranqüilos.
2001: Acho que prefiro assim mesmo. Mas pelo menos vou ficar com os meus livros e CDs, não?
2003: Claro que vais. Vais te livrar das posses, não de ti mesmo. (risadas)
2001: Até porque é meio complicado conseguir uma coisa dessas. Vai ficar alguma coisa minha lá?
2003: Não muito, não será necessária uma troca de prisioneiros em grande escala, até porque vais deixar quase tudo. Além disto, mesmo hoje, as coisas já estão separadas, prontas para a cisão.
2001: Eu quero que tu respondas as perguntas que fiz antes do entrar no cinema. Quero saber das tuas perspectivas, sobre minha situação com esta Claudia, onde vamos morar, etc.?
2003: Novamente estás confuso, peço-te calma. Falaste na mesma frase sobre “minha situação”, “tuas perspectivas” e “onde vamos morar”, são muitas conjugações diferentes.
2001: É que nunca estive conversando com meu duplo futuro…
2003: Me encare como um gêmeo um pouco mais grisalho. Observe como as pessoas não demonstram muita surpresa ao nos ver. Vamos às perguntas: sairás da tua casa para morar com a mãe. Terás muita vergonha de dizer isto.
2001: Como é que é? (Engolindo em seco) Eu vou voltar para casa? Vou dormir no quarto de onde saí para morar sozinho?
2003: Sim. E, apesar da vergonha que terás de teu domicílio e de tua depressão inicial, viverás muito bem lá. Nossa querida Maria Luiza não será invasiva, nem chata e não vai ficar perguntando coisas. Te dará a mais consoladora das hotelarias e a maior liberdade.
2001: Bela peça de propaganda imobiliária…
2003: Não seja injusto. Acabarás enchendo de música e de roupas para lavar e passar a vida de duas velhinhas… As crianças adorarão a casa enorme cheia de quinquilharias e o serviço cinco estrelas que terão. A Inah, a empregada, vai tornar lei cada pedido deles. Dará tudo certo.
2001: E esta Claudia?
2003: Não vou te tirar a surpresa descrevendo-a. Posso te dizer que ficaremos longo tempo em duas casas. Dormiremos fora 5 dias da semana e nos outros dois ficaremos com as crianças na casa da avó. Será uma fase muito cigana, até feliz, se compararmos com o pós-separação. Muitas vezes vamos errar as roupas. Levaremos roupas leves e o dia amanhecerá frio. Então, ficaremos tiritando sob roupas leves e amarrotadas, sempre amarrotadas.
2001: Como vou conhecê-la?
2003: Tu vais ficar muito tempo em casa e te dedicarás à música, à leitura e à Internet. A Claudia virá através da rede, será uma surpresa. Redescobrirás quão grudento podes ser quando apaixonado. Ficarás todo o tempo possível junto dela. Ela está muito presente no capítulo perspectivas.
2001: E as crianças?
2003: Quando souber da Claudia, o Bernardo dirá que tu és um cara legal e que merece ter uma namorada, mas não vai querer conhecê-la logo. Demorará uns 2 meses. A Bárbara ouvirá tudo com aparente frieza, mas, depois de uma semana, perguntará: “Vou ter 2 mães?”, responderás a ela que a Claudia será somente mais uma amiga. Contrariamente ao Dado, ela vai querer conhecê-la imediatamente. Serão amicíssimas. O primeiro encontro das duas será antológico. A Bárbara não falará nada, ficará escondida em seus próprios cabelos, espreitando a novidade.
2001: E as perspectivas? Quais serão meus desejos e planos?
2003: Façamos uma terceira sessão qualquer hora destas.
2001: Por que não agora?
2003: Tenho que voltar. Te encontrarei na saída de uma destas sessões de… terapia familiar. (risadinha infame)
2001: Não entendi a graça.
2003: Se eu te explico o motivo, talvez isto mude nosso futuro. Quero chegar aqui assim, estamos melhor agora.

(Continua)

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O Milton de 2001 encontra o de 2003 (I)

O Milton de 2001 estava sentado num bar, fazendo hora antes de entrar no cinema, quando viu entrar e dirigir-se a ele uma pessoa extremamente parecida consigo, talvez um pouco mais velha.

2003: Como vai, mal?
2001: Sim, muito mal. Quem és tu?
2003: Nós somos o mesmo Milton Ribeiro, só que eu vim de 31 de outubro de 2003 para te visitar e auxiliar. Sei que sofres muito. É muito natural que tenhamos grande apreço um pelo outro. (risada da parte de 2003) Vais te separar, tua vida vai mudar completamente nos próximos meses e eu voltei no tempo para te dizer que sobreviveste.
2001: Putz. Não basta eu estar começando aquela terapia familiar! Ainda me vem um louco…
2003: A terapia familiar só funcionará para as crianças e não somos loucos.
2001: E como poderias me provar que és… eu?
2003: Vou te provar quem sou. Ouça com atenção: nossa primeira relação sexual foi com uma colega de aula chamada Maria Cristina, que morava na Rua Santana e, depois de termos beijado apaixonada e insistentemente a moça – que era esplêndida! – na porta de sua casa, colocamos o dedo indicador em seu peito e a empurramos delicadamente para dentro. Entramos junto, é claro. O ato foi consumado na sala, atrás do sofá, enquanto os familiares dela dormiam com os anjinhos. Tu nunca contaste isto para ninguém.
2001: E tu, já contaste?
2003: Contei para ti agora, mas antes já tinha contado para a Claudia.
2001: Que Claudia?
2003: Uma pessoa que vamos conhecer em 3 de abril de 2002, através de um site.
2001: (risadas) Eu vou conhecer uma pessoa através de um site? Que baixaria!
2003: É surpreendente que digas isto. Principalmente se considerarmos a absoluta convicção com que fizeste… a baixaria.
2001: Tu estás mais gordo e grisalho.
2003: É o tempo, né? Quanto ao peso, discordo. Aumentamos pouca coisa, só dois quilos. Tenho 72 kg, tu tens 70 kg. Para nosso 1,71m está bom.
2001: Minha vida vai melhorar?
2003: Hoje não sofro tanto.
2001: Vou me separar?
2003: Sem dúvida, já disse isto.
2001: Vamos por partes. Quando e como vou me separar?
2003: Em julho de teu ano. Não haverá traição, histeria, grandes cenas, nada. Apenas será dado um ponto final a esta relação indigente. Será o caso clássico, vais pensar seriamente em suicídio e, também de forma clássica, não darás nenhum passo nesta direção. Terás vontade de chorar na frente dos outros ou dentro dos cinemas, farás enormes esforços para se conter; porém, sozinho, não derramarás nenhuma lágrima. Será desespero seco.
2001: E as crianças?
2003: Serão as tuas melhores lembranças do período. Vão te dar apoio e serão indulgentes com tua “nova pobreza”.
2001: Pobreza?
2003: É claro, os ganhos do casal não vão duplicar com a separação e vocês terão de manter duas casas. É uma questão de matemática simples. E saibas que a ausência a que pensas que relegarás teus filhos te deixará muito desprendido de bens materiais, muito despojado.
2001: Acho que eu não quero continuar conversando.
2003: A curiosidade pode matar…
2001: A mágoa mata mais.
2003: É verdade e é um livro do Saul Bellow. (risadas de ambos)
2001: Vou fazer uma pergunta.
2003: Vim aqui para isto.
2001: Hoje tenho a perspectiva que conheces, quero saber qual a perspectiva que terei em 2003. É outra? E quem é esta Claudia? Eu já casei de novo? Onde vou morar?
2003: Calma, estás muito ansioso e tuas perguntas não são inteligentes.
2001: …e… neste ínterim… vou comer muitas mulheres?
2003: Olha, Milton, não quero te atrasar para o cinema, vais adorar este filme. Ele vai para a tua lista de melhores de 2001. Apesar disto, vou te responder a última pergunta: só umas 3. Depois, a Claudia vai te açambarcar…
2003: (risadas) Que bom! Que me devore!

O Milton de 2001 entra na sala escura a fim de ver As Confissões de Henry Fool, de Hal Hartley, enquanto sua versão 2003 some na rua.

(Continua)

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Bárbara faz 9 anos

Publicado em 25 de setembro de 2003 (também com fotos que não imagino quais sejam ou onde estejam)

Ela nasceu num domingo. Dizem que as crianças de domingo são as mais felizes. Deve ser verdade. Quando a vi pela primeira vez, só enxerguei suas gengivas e o céu da boca. Parecia uma cabeça oca dotada de som muito potente. Como berrava! Só depois vi o resto. Vermelhíssima, não parecia ter nada de especial, só mesmo as cordas vocais. Logo conheceu sua mãe e, sem maiores apresentações, procurou e encontrou imediatamente o alimento que lhe interessava e mandou ver. Neste momento, minha filha ouviu seu primeiro grito, que foi de dor e admiração. Também pudera, voracidade em excesso pode machucar.

Depois os cabelos pretos e lisos caíram e, em seu lugar vieram outros loiros e crespos. Ela cresceu e revelou-se um doce. Um doce de enorme feminilidade, um doce tímido que se acostumou a ser elogiado por sua beleza e que não conhece outra forma de imposição, uma pequena pessoa que se perturba facilmente quando sente ser motivo de contrariedade ou decepção. Nestas situações, chora por qualquer coisa, se atrapalha para falar, é capaz de escrever “serumano”, esquece a tabuada ou até de como se trota em um cavalo, coisa que nasceu sabendo fazer.

Do que gosta a Bárbara? Quem é a Bárbara? A primeira coisa a ser dita é que ela é muito bonita. Não é conversa de pai bobo não, é verdade! Sei que vocês estão vendo as fotos, mas precisam mesmo é vê-la falando e se mexendo! Provas? Mesmo sem permissão dos pais, ganhou fotos em 3 dos 12 meses no calendário do colégio. Mais? O clube que frequentamos estampou por mais de um ano uma foto dela em seus bloquetos de pagamento e ela ainda foi capa da revista, tudo também sem permissão ou consulta. Se somarmos a isto o fato de ela ser simpática e sedutora, estaremos frente a uma figurinha avassaladora, certo?

Desta forma, distribuindo sorrisos e recebendo elogios, ela viveu até entrar no primeiro ano, quando sua segurança foi abalada. Talvez embriagada por seu novo séquito de admiradores, não deu importância ao fato de que tinha de aprender a ler e escrever. Para alfabetizá-la, acabei por intervir a fim de convencê-la de que nem tudo na vida viria de graça. Resolvi então exercitar meu modesto talento de pedagogo. Não sei bem como, mas deu certo. Ela tentava me persuadir de que escrevia tal palavra de determinado jeito porque era o jeito dela, aí eu dizia-lhe que assim os outros não entenderiam. Fui para as sílabas, depois para as palavras simples, etc. Quem me ajudou muito foi o Bernardo, que explicou à irmã que uma vogal sozinha fazia muito pouco som e que quase tudo o que dizíamos vinha da união de duas letras. Ele batia palmas a cada sílaba: Bo-ne-ca; e a Babi escrevia OEA. Na verdade, foi ele quem lhe ensinou as sílabas. Fico comovido ao lembrar. Hoje ela é ótima na escola, apesar de fazer um esforço mínimo.

Ela ama os animais. Cavalos, cães – possui, junto com o irmão, uma cadela labrador, a Batalha – , insetos, répteis, todos. Guarda coisas incríveis em tupperwares e depois leva tudo para a aula: baratas, aranhas, gafanhotos, lagartas, lagartixas, tartarugas, girinos. Quando vê Jurassic Park, fica boquiaberta admirando os monstros. Não brinca muito com bonecas; quando brinca de mamãe, é sempre mamãe-urso, mamãe-dinossauro, mamãe-cavalo, etc. Este ano, convenceu-nos a tirá-la do balé – onde dizia ficar meio parada esperando o final da aula – e a colocá-la em um curso de equitação. É algo que nasceu com ela, pois ninguém, em minha família, foi visto antes sobre um cavalo. Treina cheia de orgulho e sorri muito.

Uma vez, uma amiga – aquela mesma que usa o nickname luigipirandello – contou-me por e-mail uma história ocorrida com ela e seu filho. É o tipo de fato que poderia acontecer com a Bárbara, é até injusto que isto não tenha ocorrido com ela…. Vejam que pérola: Adorei conhecer a Bárbara. O meu A. faz aniversário em 21 de outubro, ou seja, os dois são librianos. Quando ele tinha 5 ou 6 anos, se apaixonou por uma aranha. Estávamos no Chile e tinha levado ele no zoológico. Na saída, tinha um cara vendendo aquelas aranhas enormes e repulsivas mas perfeitamente inofensivas. O A. disse “mãe, compra pra mim… por favor… eu cuido”. Confesso que sempre me achei muito esperta… disse a ele “tá bom, se tu pegares ela, eu compro” e já estava pronta para afagar-lhe a cabeça e dizer “tudo bem… não precisa… vamos comprar um pirulito”. Mas ele não vacilou nadinha: esticou a mão e pegou o bicho como se toda a vida tivesse esperado o momento de afagar uma aranha. “Olha… ela é loira. Vai se chamar Rosinha”. E foi assim que a Rosinha foi morar lá em casa, para alegria geral de conviventes, amigos e visitantes. Porque posso ser uma idiota, mas sou uma idiota coerente e jamais deixei de cumprir a palavra empenhada. Deve ser coisa de libriano a paixão pelos bichos, comuns ou raros… talvez o dom de conquista também: por incrível que pareça, em pouco tempo o A. convenceu todo o mundo que a Rosinha era um amor. Até a V. e o B. deixavam ela passear por suas costas.

Algumas declarações de amor da sedutora. Ela é especialista nisto.
A cena: eu dirigindo, levando-os para a casa logo após a separação, o Bernardo com lágrimas no olhos, eu quase e então entra a Bárbara:
– Pai, qual é a coisa que tu mais gosta depois de mim?
– Babi, depois de ti e DO TEU IRMÃO, a coisa que eu mais gosto… acho que é de ler.
– Pai, então vou escrever um livro enorme prá ti, tá? Vou começar hoje.
Abraços e beijos.

Outra:
– Pai. Como é que tu pode ser mais velho do que eu?
– Não entendi.
– É que eu tenho a impressão, sabe, que tu nasceste no meu coração… depois que eu nasci.
Abraços e beijos.

É um carrossel de emoções!

Minha querida filha, feliz aniversário.

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Bernardo faz 13 anos

Publicado em 4 de janeiro de 2004 (com várias fotos que não sei quais são)

Bernardo nasceu tão calmo que assustou sua mãe. Assisti à cesariana, realizada após uma noite de tentativas inúteis  — ele não estava na posição, digamos, correta. Ao retirá-lo, o médico segurou aquela criança de olhos bem abertos e respiração forte e anunciou:

– É um belo garotão.
– Mas… por que não grita? – disse em acentuado vibrato sua mãe.

O médico deu-lhe uma chacoalhadinha e recebeu como resposta somente um rápido “Uá”. Eram 9h40 do dia 4 de janeiro de 1991 e, por toda esta calma, não ganhou nota 10 no índice de vitalidade Apgar, ficou com 9 . Entregaram-me o pacotinho de menos de 3 Kg, levei-o para junto da mãe. Ele não chorava, não dormia, apenas revirava os olhos buscando a luz do teto. Se Goethe morreu pedindo mais luz e Victor Hugo acusando o aparecimento de uma luz negra, Bernardo nasceu fazendo acrobacias por luz. Não adiantava revirá-lo no berço, ele se voltava sempre para as lâmpadas acesas. Quando eu dava por mim, estava cantarolando Vida, de Chico Buarque, principalmente o trecho:

Luz, quero luz
Sei que além das cortinas
São palcos azuis
E infinitas cortinas
Com palcos atrás
Arranca, vida
Estufa, vela
E pulsa, pulsa, pulsa
Pulsa, pulsa mais

Mas estava apavorado. Era meu primeiro filho e eu não sabia o que fazer com aquela criança magra que tinha dificuldades para mamar e que em seus primeiros dias arrumou uma hérnia intestinal e retornou ao hospital, desta vez para a mesa de operações. A hérnia e outras complicações só serviram para amarrar mais fortemente seus vínculos com os pais. Fiquei orgulhoso quando ele, ainda bebê, escolheu-me num quesito fundamental: para dormir, preferia o colo do pai.

(Duas fotos. Quais seriam?)

Quase 13 anos separam as duas fotos acima. Quando as vejo assim juntas, dá-me vontade de rir, pois possuem os mesmos elementos, exceto o indefectível patinho. A fragilidade desta imagem contrasta com a segurança adolescente da outra. Na época da primeira, eu tinha a modesta esperança de poder criar uma boa pessoa, um cara legal, só isso; secundariamente, esperava também estar ganhando um companheiro para uma ou duas de minhas maiores paixões – futebol, música, cinema e literatura, em qualquer ordem. Na segunda, vejo retratado o quanto minhas expectativas eram modestas. É certo que ganhei mais do que esperava, recebi um oceano. É difícil imaginar minha vida sem sua atenção e carinho. A presença deste interlocutor muito inexperiente e inteligente faz-me repensar os conceitos fundamentais sob os quais vivemos. É alguém sempre disposto a falar, discutir e opinar – torna-se até chato algumas vezes! Porém, a observação da segunda foto me dá uma tranquilizadora sensação de intimidade e penso que ali talvez esteja a pessoa que mais conheço no mundo. É alguém cheio de argumentações sedutoras, mas também dotado de um humor anárquico, incontrolável e inoportuno que aprecio muito e que aprendeu nem desconfio onde… Quando saímos juntos, chegamos a um tal grau de entendimento que talvez seja nauseante para quem se detenha a assistir; é como se estivéssemos dentro de um seriado da TV americana dos anos 60, do gênero “Papai Sabe Tudo” ou “Os Waltons”, mas… puxa vida, sabem que é bom conviver assim? Creio que isto vá mudar nos próximos tempos… Penso ainda possuir uma influência avassaladora sobre suas decisões e opiniões, mas a adolescência está chegando. Talvez todo o carinho que recebo hoje vá reduzir seu fluxo para só retornar plenamente depois dos primeiros amores do garoto. Fui assim com meus pais e penso que provarei do mesmo remédio. Estou preparado.

Ele é muito informado e seus professores elogiam o acesso que seus pais lhe dão à cultura. Delicio-me com o elogio, mas sei que é uma meia-verdade, pois ele é autônomo. É só não atrapalhar. Adora explicar o que sabe – e é muito! – e o faz com clareza. Acostumado a vencer discussões, às vezes torna-se teimoso quando não tem razão, mas tudo o que sei sobre astronomia e biologia, por exemplo, foi ensinado por ele em sessões acompanhadas de farta bibliografia comprobatória.

Talvez não devesse contar a história e seguir, pois nela eu brilho tanto ou mais do que ele, mas ela serve para ilustrar um tipo de indignação muito presente no caráter dele. Ele fica louco de raiva quando vê ou é vítima de uma injustiça. Passa a não compreender o mundo, mas luta.

Na primeira série, quando tinha 7 anos, um colega roubou-lhe uma lapiseira. Bernardo queria recuperá-la e os dois estavam gritando um com o outro. Bateu a sirene do recreio e, para por fim à discussão, a professora – bastante tola, por sinal – determinou que o objeto era do outro colega. Resultado: foi seguida pelos protestos de um Bernardo indignado. Depois, ela me chamou para uma conversa.

– Eu sei que ele tinha razão, mas ele não podia vir atrás de mim no corredor discutindo. Foi um desrrespeito.
– Mas a senhora pegou a lapiseira dele e deu para outro menino!
– Eu errei, mas não interessa. Ele foi muito veemente, me seguiu até a sala dos professores. O senhor deve adverti-lo.
– Não vou fazer isso.
– Não vai fazer isso?! Mas ele não pode sair desafiando professores pelo corredor.
– Olha, Rosaura, eu era o maior cagalhão na idade dele e sofria por isto. Acho admirável que ele tenha te enfrentado; afinal, quem tinha a razão? Não vou fazer nada.

Abaixo, uma foto do Bernardo injuriado. Tinha acabado de discutir com sua irmã e a mirava cheio de raiva.

Sempre gostou muito de ciência e tecnologia. Uma vez, com três anos, chegando à escolinha, viu o pessoal do Departamento Municipal de Esgotos abrindo um buraco no meio da rua e perguntou:

– Pai, são paleontólogos?

Logo que começou a falar, demonstrou ser um cético mirim. Quando o maternal escolheu como tema religião, voltou para casa preocupado.

– Não quero deixar a tia chateada, pai.
– Por que, Bernardo?
– Ela falou que no céu tem anjos, Deus, um monte de coisas.
– E daí?
– Daí que eu andei de avião e vi que lá em cima não tem nada, só nuvens. Mas não vou dizer prá ela, ela pode ficar triste ou braba…
– É, deixa assim.

Como todo menino, ele adora as piadas e os sons escatológicos. É capaz de fazer maravilhas, principalmente com arrotos. Obrigou-me a baixar uma lei aqui em casa, a qual não é muito respeitada. A lei reza que É vetada a emissão de ventosidades por determinados orifícios corporais, mormente os traseiros. Com o tempo, o texto da lei não ficou mais coloquial mas ficou resumido a Não são admitidas flatulências ou eructações! Ignoro o que faz os homens acharem os arrotos e peidos coisas engraçadas. O Bernardo tem que ser advertido a cada reunião formal sobre a última frase grifada, pois parece pensar que os outros podem se divertir com a eufonia (é eufonia mesmo) de suas emissões.

Ganhou o apelido de Dado de sua irmã menor, Bárbara, que achava mais seguro dizer isto em lugar daquela forma complicada cheia de erres. Mas tem todos os apelidos do mundo. Para alguns tios americanizados é Benny ou Bernie, para outros é Bê, no colégio é Bena e, para algumas amigas da Bárbara, é Matagal, alusão clara a seu inacreditável “corte” de cabelo. Aliás, o cabelo é um capítulo à parte: antes queria parecer um roqueiro, depois um jogador de futebol argentino e agora está em fase de pleno experimentalismo. Está experimentando, bem entendido, o fundo do poço estético. Está com um cabelo que, apesar de limpo, raramente é cortado e nunca é penteado. Não sou nada conservador, critico exclusivamente a estética. Porém, deixemos o rapaz viver sua vida.

Apesar da cara de selvagem mal dormido, ele não morde, tem cuidado em nunca ofender as pessoas, em ser sempre gentil, etc. É claro que isto não funciona muito com os de casa, mas funciona com o resto, inclusive comigo. Preocupa-se com os problemas dos outros e não os esquece, voltando sempre depois ao assunto. Aplicou grandes doses de companheirismo durante a separação – o que me foi de grande consolo.

Nos últimos tempos, notei que ele queria introduzir um assunto importante. Desembuchou dizendo que sua mãe tinha um namorado. Deixei-o falar. O detalhe que mais me interessou foi saber que os dois tinham saído em plena terça-feira pela manhã com a finalidade de jogar tênis. É um bom sinal. A única coisa que me importa é que meus filhos estejam bem.

A mesma aceitação ele tem em relação à minha namorada. Como exemplo da abordagem cuidadosa do Bernardo, busco um trecho do e-mail que mandei em 11 de julho de 2002 para meu amigo Marcelo Backes, época em que estava pensando em apresentar a Claudia a meus filhos.

Fiquei me preparando uns dez dias até chegar no Bernardo para contar. A reação dele foi a seguinte:

– É claro que vou sentir muitos ciúmes, mas acho que tu é legal e merece isto.

É possível ser mais correto e sincero?

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Reflexões (ou memória) pós-separação (III)

Publicado em 29 de julho de 2003

Lá por julho do ano passado, comecei a namorar a Claudia. Como dormia sempre na casa dela e minha cama só me via quando estava com as crianças, resolvi falar da novidade para elas. Preparei-me bastante, escolhi bem as palavras para que não houvesse choque nem rejeição. Reuni os dois e contei-lhes a história.

Bernardo, com 11 anos na época, foi muito racional. Disse-me:

– É claro que vou sentir muitos ciúmes, mas acho que tu é um cara legal e merece isto.

A Bárbara, com sete anos, não disse absolutamente nada. Uma semana depois, voltou subitamente ao assunto:

– Eu vou ter duas mães?
– Não, a tua mãe é a Laura. Tu vais ter mais uma amiga.

Então, ela abriu um sorriso e disse que queria conhecê-la logo, saber como ela era, etc. O Bernardo tinha pedido um tempo para se acostumar com a idéia, mas a Bárbara queria ver logo como era “a nova amiga”. Quem é pai sabe o quanto as crianças sabem ser insistentes. Numa manhã de domingo, quando estava com os dois, a Bárbara veio me acordar e, utilizando todo o seu arrasador poder de sedução junto a mim, fez-me prometer que eu a apresentaria à Claudia ainda naquela manhã. Convidamos o Bernardo, mas ele queria mais tempo.

Pois bem, levei-a até o apartamento da Claudia, onde tivemos uma das mais curiosas cenas de timidez de que vi até hoje. Minha filha, que é uma loira crespa linda, escondeu-se atrás de seus cabelos e de um livro e, através do pouco espaço útil disponível, espreitava minha namorada quando esta não a estava olhando. Não queria conversar, só olhava. Depois, pediu-me uma folha para desenhar e fez um casal cuja mulher tinha enormes mãos. Acho que ela – apesar da timidez – deu uma grande demonstração de coragem. Hoje, as duas são companheiríssimas.

Bernardo conheceu-a depois. Pediu-me que fosse numa reunião com mais gente presente. Foi atendido. Fizemos uma apresentação quase formal. Cumprimentaram-se como dois embaixadores de potências inimigas. Mas a formalidade logo foi dando lugar à naturalidade. Eles também se relacionam bem.

Fico pensando o quanto podem ser diferentes dois irmãos.

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Grêmio, isso ainda vai ser grande no Brasil

Argumentos dramáticos e indiscutíveis para elevar a autoestima tricolor.

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Manifesto contra o desmatamento do púbis

Por ANDRÉA MORAES (encontrado aqui).

Uma das coisas mais irritantes que escuto das minhas amigas é essa moda de depilar o púbis.

Caraca! Se tantos poetas já chamaram aquilo de flor, por que arrancar o jardim, a vegetação em volta da caverna? Considero isso a mais absoluta falta de romantismo.

Fala sério! O homem que gosta de xana depilada está revelando uma indisfarçável vocação para a pedofilia. Pois se até Lolita tinha pelos, por que exigir que uma mulher adulta os arranque?

E vamos combinar que esses desenhinhos esculpidos com as pinças dos designers de pentelhos, tipo bigodinho de Hitler – argh, que coisa de nazista! – coraçãozinho, estrelinha e quetais são uma prova de falta de imaginação, recurso de quem tem repertório mental mais estreito do que de filme pornô exibido em motel (ainda se vai a isso?) de quinta categoria.

A mulher que se submete à tortura da cera quente e à lâmina que talha sua pele até encravar seus pelos, criando perebas que detonam visualmente o presente que Deus lhe deu, tá precisando de relho. Já que gosta de sofrer pra gozar, então, que apanhe de verdade, nas mãos de uma dominatrix.

Outro dia, uma conhecida me confessou que depila até o ânus. Meu, se o teu marido tem coragem de te fazer a curra, por que iria amarelar diante de uns pelinhos?

Voltando ao púbis, não me venham dizer que deixá-lo careca ou penteado é uma forma de limpeza. Dispenso a assepsia da gilete. Pelo é proteção natural e nada mais garantido do que uma buceta coberta por muitos deles.

E depois, macho que é macho não quer saber nem se você lavou. Costuma ir direto ao ponto. De preferência, o G.

Na hora do oral, é mentira que pelo atrapalha. A gente que é mulher aguenta os deles. Homem que não pode encarar nossos pentelhos tem que chupar com canudinho. Pelo, no oral, é expressão de igualdade entre os sexos.

Essa história de que pelo saindo pra fora do biquini é indecente também não cola. Meu marido mesmo já se queixou que muito homem fica olhando pra minha cara na praia. Aí o ciúme aparece e com ele o impulso agressivo, a cópula tão desejada.

A última vez que depilei a xandanga foi no hospital, antes do parto, cesariana. Então, depilar é coisa de doente, de cirurgia, bisturi, carnificina.

Eu prefiro preservar minha ancestralidade não me rendendo à opressão sexual imposta pelas minhas rivais. Pois se tenho coragem de assumir meus pelos publicamente, imagina o que não sou capaz de fazer entre quatro paredes.

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Festa de Aniversário & As Olimpíadas

Publicado em 30 de agosto de 2004

A festa de meu aniversário deste ano foi diferente. A Claudia escureceu um pouco a sala e colocou um data-show projetando DVDs de jazz e de qualquer coisa que fosse muito boa. O Festival de Newport de 1958, um inacreditável show da Blue Note de 1986 e a segunda gravação das Variações Goldberg por Glenn Gould foram projetados por sobre as cabeças dos comensais. Não sei se o resultado foi bom para todos, mas vi muita gente de pescoço torcido ouvindo e vendo música da melhor qualidade no intervalo entre as conversas. A aparência geral de quem estava lá era de felicidade, exceção feita a meu adorável sobrinho que pedia para acendermos as luzes a pleno, porque, afinal, ele precisava ver com toda a clareza o que estava comendo e, segundo ele, já tínhamos demonstrado a todos que éramos mesmo muito sofisticados… Estou pondo este sobrinho à venda. No final da noite, ficamos eu, a Claudia, a Jussara, o Branco, a Helen, o Alejandro e o Bernardo ouvindo, comentando e conversando sobre música, sobre a fraca temporada cinematográfica e sobre qualquer coisa, enquanto Gould fazia misérias sobre Bach e um quarteto executava Borodin (Quarteto Nº 2). Filipe, não adianta, fingimos ser assim todo o tempo…

Creio que a Claudia não se incomodará se algum de meus 7 leitores quiser organizar festa análoga. É só pagar royalties. Posso fazer a intermediação…

Agora, falando sério: esta festa está se tornando uma necessidade, pois há queridos amigos que vejo exatamente uma vez por ano. E, já que a rotina e o trabalho são algozes tão eficientes na separação de amigos, precisamos agendar o contra-ataque. Fico feliz que este se realize em minha data.

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Passei esta semana mobilizado vendo as Olimpíadas. Robert Scheidt, Daiane dos Santos, o volei feminino e seus 6 match points perdidos, Torben Grael e seu companheiro de que não lembro o nome (Marcelo Ferreira?), o volei de praia com o Emanuel e o Ricardo, o volei masculino, o futebol feminino e seu pênalti não marcado e o absurdo final da Maratona com o anônimo e surpreendente Vanderlei Cordeiro de Lima sendo atrapalhado por um maluco mas levando o bronze. Tudo isto além dos outros.

O problema enfrentado por Vanderlei Cordeiro de Lima pode ser bem compreendido por mim, que há muitos anos (desde 1978) costumo correr pelas ruas e pistas da cidade. De forma amadora, já participei de corridas de rua de 10 e 20 Km e sei o quanto a concentração é fundamental para completarmos qualquer prova. O sentimento de euforia que sentimos ao terminar uma corrida é algo muito bom, porém podemos desistir do esforço pelos menores problemas. Uma pequena queda, uma dorzinha, um mal estar, o fato de que às vezes parece que todas as bundas participantes estão andando mais rápido ou simplesmente a falta de alguém para correr conosco, qualquer motivo pode fazer-nos desistir. Converso com outros e é a mesma coisa. Muitas vezes, depois de percorrermos um ou dois quilômetros, paramos e voltamos para a casa ou para tomar banho no clube. Imaginem então o que este Vanderlei deve ter sentido quando aquele idiota o segurou e o empurrou da pista para a área destinada à assistência. Compreendo perfeitamente a cara de dor e choro que ele fez quando voltou a correr. Não se enganem, sua reação para chegar ao bronze foi coisa de herói.

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Niemeyer 103 e viagem

Oscar Niemeyer fez 103 anos anteontem e eu gostaria de ter montado um post bem legal e bonito, cheio de fotos de obras dele. Não houve tempo. Viram que ele inaugurou um Centro Cultural em Avilés na Espanha? Os espanhóis, que para bobos não servem, inauguraram o Centro Cultural Internacional Oscar Niemeyer no dia do aniversário do mestre. Ele participou da festa conectado em rede ao evento. O que isto significa? Simplesmente a consolidação de Avilés em rotas de turismo internacionais. E usaram a grife do genial arquiteto no nome do Centro Cultural.

O comunista Oscar Niemeyer desarma qualquer complexo de vira-latas, é um grande brasileiro e acho que nossas cidades deveriam aproveitar até as anotações de sua lixeira para construir obras suas pelo país. Vejam no filme promocional abaixo o que é o Centro Cultural inaugurado esta semana.

No dia do aniversário, durante a festa, Niemeyer resumiu o ambiente em poucas palavras:

— Estou feliz, meus amigos estão aqui e isso é muito bom!

É uma definição perfeita de Festa, penso. E é uma grande sorte que este homem tenha a saúde que tem, lúcido aos 103. Que permaneça conosco o quanto puder!

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Sim, é deslumbrante, mas não pensem que não vi o Paul Rabbit.

Ah, o blog ficará sem atualização até segunda-feira à noite. Seu dono fará uma pequena viagem.

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Odone e Yeda

Sou inteiramente a favor de tirar sarro de gremistas e vice-versa, claro. Talvez a maioria de meus amigos seja gremista. Fizeram, coitados, esta triste opção numa idade em que não tinham discernimento… Mas anteontem, o novo presidente do Grêmio apequenou-se de forma muito severa ao fazer um discurso de posse onde falava mais de nós do que da instituição que estava assumindo. E não foram referências elegantes como as que recebi de meus amigos, foram coisas assim: “Vamos voltar ao Mundial e goleiro algum vai debochar da gente arrastando a bunda no chão”, disse,  em referência à estranha dança comemorativa do goleiro Kidiaba. Depois falou em fiasco, uma verdade que fica mal na boca de um presidente, e voltou a falar na superiodade tricolor, etc. Aqui está um pequeno resumo da coisa. Sim, pequeno resumo, porque ouvi o discurso e houve frases como “perder para um clube africano é mais vergonhoso do que um rebaixamento para Série B”… Frase pra lá de duvidosa e em mais de um sentido.

Fico tranquilo apenas por achar que isso não aconteceria no Inter. Ao menos em discurso de posse.

Ontem mesmo, Fernando Carvalho respondeu à Odone, ex-secretário especial da Copa de 2014 nomeado por Yeda, a quem dediquei o post abaixo. Odone e Yeda são semelhantes, não? Carvalho poderia ter respondido melhor, mas ficou aceitável se pensarmos na pessoa a quem era dirigido o discurso. Uma prova de que há fiascos e fiascos.

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Yeda, a louca

No melhor estilo Thelma e Louise, a desgovernadora Yeda Crusius inovou na inauguração da RST-471. Pegou um Mercedes-Benz conversível e fez-se filmada em ação, como se fosse uma estrela cinematográfica. Eric Clapton e B. B. King são os inocentes responsáveis pela trilha. Será que os donos dos direitos sobre as músicas foram consultados? Duvido muito. Infelizmente, o carro era bom e fez todas as curvas normalmente, contornando cada precipício. Yeda Crusius está viva e depois do passeio tuitou alegremente para o Rio Grande:

Há muito eu pedia para substituir as cerimônias formais de inauguração por uma celebração. Merecemos. Que estrada, que dia!

A estrada é importante, claro. Mas… A desgovernadora, que responde processo movido pelo Ministério Público Federal por formação de quadrilha, celebrou bem celebrado. E, no filme abaixo, aparece como uma celerada fugitiva, alegre e aventureira.

Este post é dedicado a cada um dos gaúchos que tomaram a tresloucada atitude de votar em Yeda no ano de 2006. Parabéns! Agora vejam abaixo o retrato da austeridade que, dizem, foi a tônica dos últimos 4 anos. Som na caixa! Ah, o vídeo foi capturado no site do Governo do Estado.

O alegre senhor de longas melenas brancas é o marido da escritora de autoajuda Lya Luft, não? O título da canção é Riding with the (crazy) King (Queen), informa @icarohistoria.

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Celso Roth, vai

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