O poder dos extremos


Ronaldo: “Hoje posso ir tranquilo pra balada”

Desde sempre digo que os jogadores que mais admiro e os mais importantes do futebol são o goleiro e o centroavante. Ali, a coisa se decide. Se o miolo do Inter foi melhor, este foi morto pelos jogadores que iniciam e terminam o Corínthians. De um lado, o goleiro Felipe; de outro, Ronaldo Fenômeno. Eles tiveram poucas mas decisivas participações. Enquanto Taison perdia gols, Ronaldo, aproveitava uma de suas duas chances. Do outro lado, Felipe fez imensa defesa na falta batida por Andrezinho e salvou a bola de Taison, que resolveu chutar bem no canto que o goleiro cobria, sem ver que este deixara o lado direito aberto.

Será muito difícil reverter a situação aqui no Beira-Rio. Estarei lá sofrendo e me irritando. Do outro lado está nosso velho conhecido Mano Meneses: prevejo um jogo truncado, enrolado — o Corínthians sabe que, se fizer um gol, o Inter terá de responder com quatro. Foi um péssimo resultado que só poderá ser dobrado com uma atuação heróica, daquelas que depois serão vendidas em DVD. É altamente improvável. Se fosse corintiano, convidaria os amigos para verem o jogo e compraria bastante cerveja, pois a coisa está fácil.

De bom, tivemos o triste consolo de uma atuação digna, até ofensiva.

(Será que algum empresário bondoso não arruma um negócio para Alecsandro, Leandrão e Danilo Silva? E se o Napoli levar Nilmar, ficamos com o primeiro citado? Não quero nem pensar na possibilidade…)


Barbie mostra sua face mais terrível

Já a sorte sorriu ao Grêmio. Pegou o inexistente Caracas, empatou os dois jogos e classificou-se no regulamento pelo gol que marcou fora. Observo a Libertadores e, olha, são todos japoneses. Minha esperança é o Estudiantes de La Plata. É um time corajoso que possui o melhor jogador em ação no campeonato. É um velho meio-campista, outros terão de fazer os gols e as defesas por ele, mas é a única gema no mar de claras de uma Libertadores anormalmente fácil.

(Não digo isto para irritar os gremistas. Já houve outras Libertadores até mais fáceis. Aquela que o Once Caldas venceu parecia uma brincadeira).

Gostaria de ver um São Paulo x Cruzeiro de bom nível, mas será difícil. O São Paulo aposta nos seus grandalhões e o Cruzeiro num toque de bola previsível e que me causa sono. Acho que em La Plata o Defensor morrerá sem grandes dramas. A conferir.

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Nuevo Rincón de Haikus, de Mario Benedetti

O haikai clássico (ou haicai, ou haiku) tem apenas 17 sílabas, com distribuição invariável em suas três linhas: a primeira com cinco; a segunda, sete; a terceira, cinco. Portanto, isto é um haikai:

cheguei ao fórum
com sede de justiça
num baio lilás

Foi o meu primeiro haikai. O meu não é, mas o haikai deve ser um poema mínimo, completo. Colocar em 17 sílabas uma dúvida, uma opinião, uma paisagem, uma ironia ou uma piada tornou-se um jogo para Benedetti, que escrevia haikais às pencas. Neste livro que comento, há 300, um por página. Li todos de enfiada, o que me deixou meio maluco, construindo um haikai a cada pensamento que me ocorre.

haydn inventou
o quarteto que bartók
tornou perfeito

as minhas sogras
sempre me adoraram
e eu a elas

É verdade, sempre tive sorte com sogras. Aliás,

à alzira, minha
sogra, prefiro chamar
de al jazeera

E ela nunca me processou.

Os de Mario Benedetti são infinitamente melhores e garanto-lhes que é muito divertido viajar sete horas ouvindo minha mulher recitar os haikais na estrada.

qual casamento
abriga em si amor
pós sete anos?

O nosso, sem dúvida! Eu ao menos acho, quem sabe, sei lá. Bom, eu digo que sim.

em montevidéo
algumas declarações
foram trocadas

E a Claudia é franca até demais. Bom, mas vamos ao Benedetti. Ele pode ser inteligente:

es casi ley
los amores eternos
son los mas breves

Sim, sim, mudou de categoria. Sai Milton, entra Mario. Ele pode fazer piada:

no hay laberinto
tan complicado como
los intestinos

Ser como todos nós:

cada cinco años
emborracharse un poco
tiene su encanto

Vejam como ele rouba um pouco: esse aí acima tem 6-8-6, o anterior, 6-7-5. Nos meus, tentei ficar nos 5-7-5 regulamentares. Mas como é poético!

todos tenemos
nuestro intenso y privado
apocalipsis

Mais poético ainda:

por ser secretas
las charlas del amor
son en voz baja

Pode advertir:

mujer lejana
si ja no te interesso
no me vigiles

Ser óbvio:

los periodistas
cuando preguntan tienen
ya la respuesta

Pode escrever coisas belas:

quisiera verte
cuando te quedas sola
a ver qué haces

Ser antirreligioso:

si un rayo mata
al toro / su vaquita
se vuelve atea

Dizer o que senti ao final da viagem:

cuando uno viaja
a veces le indigesta
tanto paisage

E o resto vai sem meus ruídos:

la patria es linda
sobre todo cuando uno
la recupera

me gustaría
mirarme en un espejo
que me mintiera

pobre ciervito
no tiene más remedio
que ser cornudo

el desexilio
es el manso reencuentro
con lo que fuimos

desde la foto
me miram cinco rostros
que ya non miran

los sordomudos
fueron son y serán
los más discretos

las profecías
suelen desintegrarse
en el futuro

en tiempos duros
no hay refugio más sano
que la tristeza

a tu vecino
confiésale secretos
pero de otros

prohibir um livro
es el modo más fácil
de promoverlo

los pies desnudos
saben por donde pisan
y donde pasan

quieras que no
en el bidet se lavan
viejos rencores

en el pretérito
pluscuamperfecto queda
lo que no fuimos

Preciso dizer que gostei do livro? Hein?

se não fui claro
podem me avacalhar (*)
em comentário

(*) Como estou sendo discretamente perseguido por feministas, explico. Acho que avacalhar é o melhor verbo aqui e desconheço um correspondente masculino. Se existir, mudo!

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Da Beleza das Analogias e Simetrias (entre 1905 e 2005)

Porém, desde então, Gejfin foi morar no Rio…

1. Béla Bartók (1881-1945) foi um compositor húngaro.
2. Leandro Gejfinbein está vivo e é um blogueiro gaúcho, conforme vocês podem notar clicando sobre seu nome.
3. Tiago Casagrande também e é amigo do Gejfin.
4. Zoltán Kodály (1882-1967) foi um compositor húngaro amigo de Bartók.

Tiagón / Gejfin: Eu e o amigo-gêmeo Gejfin partilhamos da mesma fascinação pela memória humana. Pensar que cada pessoa tem uma História pessoal riquíssima, não importa quem seja ou onde vive, nossa – é o que os antigos definem como “muito louco”. Encontramos diversos pontos de contato quando começamos a conhecer a ficção um do outro; descobrimos que ambos usamos as lentes nada convencionais para observar o que está ao redor – pelo contrário, nos fascina o lado interno, a possibilidade escondida pela objetividade do dia-a-dia… E da ficção para os chopes de boteco, e deles certo dia imaginamos quantas histórias não estão enterradas pelas pequenas cidades do Rio Grande (só pra ficar dentro da nossa galáxia), à margem da capital, e logo, dos holofotes. Porque, mesmo que não haja glamour algum nisso, a verdade é que em algum momento nos perguntamos: o que as pessoas dessas cidades fazem quando a mídia não está olhando? E fomos curiosos o suficiente para ir lá espiar.

Bartók / Kodály: Em 1901, fascinados pela música do também húngaro Liszt, Bartók e Kodály tomaram consciência das relações de seu predecessor com a cultura popular da Europa Oriental. Ambos jovens compositores, resolveram estudar a música dos camponeses da região. Em 1905, Bartók pleiteou uma bolsa que lhes facultou recursos para recolher essas canções “em sua própria fonte” e partiu para anotá-las em companhia de Kodály. Então souberam que seus conhecimentos sobre tal assunto – e os de outros compositores – eram desfigurados, quase paródias da realidade. Na verdade, o que habitualmente se chamava de música cigana (tzigane) e danças húngaras não passavam de garatujas desengonçadas perto da caligrafia original.

Tiagón / Gejfin: Nossa idéia é compor ficção como um patchwork das diversas histórias e memórias colhidas. Não é um livro de curiosidades, é um livro sobre vida de pessoas, com a ressalva de que não é a nossa. Deixemos o encantamento para o leitor, a nós resta tentar ser o mais puros possível. Sua estrutura prevê que as pequenas cidades visitadas (no início, o parâmetro era 10 mil habitantes, mas reduzimos para metade) sejam capítulos, e junto delas, há um ensaio fotográfico. Em maio do ano passado fizemos a viagem-piloto: para Agudo, centro geográfico do Estado – embora a escolha tenha sido aleatória, na base do “e que tal…?” Jamais poderíamos imaginar tamanho êxito. Também pelos resultados práticos, mas principalmente pela sensação de olhar correspondido num flerte; chegamos lá querendo enxergar, e tudo abriu-se à observação e fruição. A acolhida foi fantástica. Conhecemos o interior da cidade, fotografamos, gravamos os diálogos entre nós; conversamos com as pessoas mais importantes e cheias de histórias da cidade, que, na verdade, poderiam ser qualquer cidadão. O cuidado que tomamos é o de deixar a curiosidade sobre “o outro”, “o estranho”, nos domínios da motivação de todo o esforço; mas na hora de transpor tudo que absorvemos, e mesmo a forma como absorvemos, há de ser a mais legítima possível, como se fôssemos também parte daquilo tudo desde sempre.

Bartók / Kodály: A partir de publicação das Canções Populares Húngaras, eles inauguram uma nova disciplina científica – a etnomusicologia. Nos anos posteriores, ampliaram seus progressivamente o horizonte geográfico de seus trabalhos: primeiro a Romênia, depois a Ucrânia, a Bulgária, até a África do Norte (Argélia e Egito) e a Anatólia (Turquia). Com o tempo, tornaram-se alvo da galhofa de certos críticos que não compreendiam a necessidade dos dois de alimentarem suas linguagens musicais com matéria viva. Estes críticos, ridicularizavam especiamente (e incompreensivamente) o último movimento da Música para Cordas, Percussão e Celesta, de Bartók, que hoje é uma das peças fundamentais do repertório erudito do século XX.

Tiagón / Gejfin: Voltamos a Porto Alegre com as sinapses lotadas de encantamento, mas não conseguimos transformá-las em texto. A experiência vivenciada repercute ainda hoje em conversa sim, conversa não; pequenos pedaços da viagem a Agudo seguidamente irrompem sobre a mesa de bar e criam lembranças de sorrisos divagantes. O projeto está interrompido por diversos motivos – um emprego fixo e verba são motivos nada originais, mas que se aplicam; mas também acho que há um frio na barriga causado pelo medo de que a próxima viagem não seja perfeita como a primeira foi. Além da viabilidade técnica para tocar o projeto adiante, precisamos romper a aura fantástica que se criou em torno do piloto.

Bartók / Kodály: O resultado, para a arte de Bartók e Kodály, foi um estilo originalíssimo. Em seus trabalhos, eles utilizavam elementos alheios à música da Europa Ocidental. Depois, conseguiram uma gloriosa união de seus estilos com o da grande tradição européia, sobretudo com Bach (caso de Bartók). Kodály foi um enorme compositor, porém – como os dramaturgos elisabetanos que tiveram o “azar” de serem contemporâneos de Shakespeare – foi sufocado pela genialidade do amigo Bartók. Bartók tornou-se subitamente célebre em 1911, quando da publicação da curtíssima peça para piano Allegro Barbaro. A música do povo era mais interessante, selvagem e intrincada do que qualquer scholar da época imaginava. O espírito científico de ambos não deve ser comparado ao dos compositores ditos “nacionalistas”, que se contentavam em tomar de empréstimo à música popular seus trejeitos para que suas obras ganhassem um colorido folclórico.

Tiagón / Gejfin: No momento em que conversávamos com nossos entrevistados, sentíamos um travo amargo – como um vinho tânico demais que passa dois dias na garrafa aberta. Porque embora jamais tenhamos nos revestido de uma posição oficialesca ou jornalística, soava ingrato e até injusto o fato de que macularemos os relatos com nossa ficção. As histórias, por si só, já são fascinantes o suficiente, e nos foram entregues com a paixão do protagonista; como evitar o medo de desapontar tantas pessoas? Não só pessoas, mas a própria história da cidade; pois não havia história simples. Nem o hotel – tu morrerias de rir se visse minha expressão no momento em que dona Eda me contou que o hotel onde estávamos hospedados, de sua propriedade, fora um hospital até os anos 40; e que a sala de tevê era, antigamente, a varanda onde os doentes tomavam sol – o que explicava as clarabóias improvisadas no teto. Pudéssemos, e sairíamos cobrindo todos os cantos de todas as cidades, escutando todas as histórias de todas as pessoas com o mesmo interesse e devoção, e transcrevendo-as depois para a eternidade das bibliotecas; porque na raiz somos apaixonados por colecionar a si mesmos, e disso vem a percepção de que todas as histórias são infinitamente ricas e multicoloridas, e que, sempre que alguma delas morre com alguém, o mundo fica um pouquinho mais árido.

Bartók / Kodály: Eles assimilaram o espírito da música camponesa, aplicando, ao criar, estruturas forjadas no conhecimento aprofundado dos esquemas populares. Descobriram, por exemplo, que a improvisação melódica se realizava por um processo que é o mesmo em todas as músicas populares: partindo de uma curta fórmula de base – que pode ser de apenas duas notas – os músicos vão ampliando progressivamente esta fórmula, e a elas retornam periodicamente no decorrer de uma peça, como se o fizessem para ganhar, a cada vez, um novo impulso. Este fato – que pode parecer uma simples definição do jazz – era desconhecido há 100 anos atrás. É inegável o mérito de Bartók de observar a realidade, depreendendo dela as leis internas de seu funcionamento para, então, empregá-las em suas obras, no sentido de que estas passassem a ser uma profunda reflexão.

Tiagón / Gejfin: Queremos reunir o material de três localidades para batermos em algumas portas – empresas patrocinadoras ou editoras – para realizar as outras sete viagens e publicar o livro. Há como ficar indiferente quando se tem nas mãos uma arte que tem como matéria-prima uma realidade distante, mas que se aproxima de qualquer ser humano na medida em que são coleções de pedaços de vida? Esse é o espírito. Queremos que o livro incentive as pessoas a fazer o mesmo consigo, praticando no seu próprio universo. Ter como retorno pessoas encantadas como nos encantamos por tudo isso. Acreditar que será possível nos move. Como pensar o contrário – que o encantamento é uma prática rara – dá medo. Vivemos conflitando essas coisas. Não raro os papos sobre o projeto chegam neste ponto, embora o fim da conversa sempre aconteça do mesmo jeito: “a gente sabe, né amigo, mesmo se nada disso acontecer – nem mais viagens, nem livro, nem nada -, pra gente, ter colocado câmera e gravador no carro e pegado a estrada rumo a Agudo, já valeu o que foi e será das mais incríveis experiências que vivemos”.

Observações finais: Bartók sentiu-se atingido quando o ministro da Educação Popular e Propaganda Nazista Goebbels, em 1936, organizou uma exposição de “Música degenerada” incluindo os nomes de Stravinsky, Schönberg e Milhaud. Escreveu ao ministro para que este inscrevesse seu nome e sua música nesse grupo. Depois, em 1938, chegou mesmo a declarar que pretendia converter-se à religião judaica como forma de ficar ao lado dos perseguidos. Expôs-se de tal maneira, que foi obrigado a aceitar os insistentes pedidos dos amigos – entre eles o de Benny Goodman – para que emigrasse, o que fez apenas em 1940. Foi para os Estados Unidos, onde morreu em 1945. Kodály viveu na Hungria até 1967. Além de compositor, era professor universitário e presidente da International Society for Music Education, da Hungarian Academy of Sciences e da International Folk Music Council.

Fontes consultadas: Leandro Gejfinbein e Tiago Casagrande escreveram a quatro mãos suas seções. As de Bartók e Kodály foram escritas por mim com o sempre providencial auxílio da memória de livros e discos e – muito mais importante – o da História da Música Ocidental de Jean e Brigitte Massin, um calhamaço de quase 1300 páginas, da Nova Fronteira, 1997 e o da Música da Modernidade de J. Jota de Moraes, Ed. Brasiliense, 1983.

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O blog viaja durante o feriadão …

… mas deixei pronto um Porque hoje é sábado. Pela primeira vez, vou ligar a moderação de comentários. Afinal, o último post foi feito sobre assuntos cabeludos e com textos alheios. Cumpre cuidá-los.

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A Gaivota, de Anton Tchékhov / O último a sair acende a luz, romance inédito de Marcos Nunes

É sabido que a leitura de livros russos oferece alguma dificuldade com os nomes dos personagens. Nas relações formais ele utilizam o sobrenome; nas informais, o nome; nas íntimas, um diminutivo carinhoso e, quando ficam irritados, vão de nome e patronímico. Li rapidamente, sempre em transportes coletivos, a peça A Gaivota de Tchékhov. Mesmo com a facilidade de ter sempre indicado o nome de quem fala, fiz a habitual confusão, toda hora tinha que voltar um pouco para me achar, pois os personagens falavam muito uns nos outros com diferentes nomes, sempre cheios de letras. (E a última vez que resolvi simplificar um sobrenome cheio de consoantes deu no que deu, né?).

Mais um parêntese: (comprei o volume na Beco dos Livros. Fora buscar o Auto da Barca do Inferno para minha filha e dei de cara com uma edição portuguesa de meu autor predileto. A Gaivota e O Cerejal (no Brasil, O Jardim das Cerejeiras) por dez pilas. Editorial Presença, Lisboa, 1963. Na hora de pagar, o dono da Beco me disse que o site MundoLivros é melhor do que a Estante Virtual porque na MundoLivros dá para pagar direto com cartão, como fazemos na Amazon e nos sites de grandes livrarias. Então, os portoalegrenses já sabem: a primeira opção é a Ventura Livros — Rua Marechal Floriano, 439, Centro, Fone 3226.7075 –; a segunda, a MundoLivros). Prometo que vou até o final sem mais parênteses, tá?

Apesar dos personagens debaterem-se com assuntos íntimos e problemas um tanto antiquados, A Gaivota nos dá um quadro muito claro de uma situação histórica. Uma vez, descrevendo os contos do Tchékhov, o escritor e tradutor Rubens Figueiredo disse que ele consegue nos sugerir, através de fatos e diálogos aparentemente simples, outras camadas de experiência. Isso é ainda mais supreendente se pensarmos que Tchékhov é um Bill Evans, isto é, não é um pianista cheio de dedos, via de regra é econômico, discreto. E esta magia parece amplificada em suas peças de teatro. São “audíveis” os subtextos que se movimentam durante os diálogos, ora indo ao encontro da fala e das opiniões que são ditas, ora indo em direção contrária, comentando silenciosamente sua tolice e inutilidade.

O último ato de A Gaivota passa-se dois anos depois da ação dos primeiros atos. É o clássico: na primeira parte é montado cuidadosamente um conflito que explode na tentativa de suicídio de Treplev, após uma desilusão amorosa e literária. Dois anos depois, temos um Treplev razoavelmente bem sucedido, porém casado com uma mulher que despreza, ainda sofrendo com a indiferença da mãe, uma atriz que só pensa em si e em manter seu caso amoroso — de uma forma muito parecida com a personagem de Debra Winger no recente filme O Casamento de Raquel. O desenlace é o desenlace que não vou contar. É simples e não é. Há todo um contexto que parece incontrolável como um mar em movimento. Não é o mesmo mar que sepultou os amigos de minha mulher — Rino Zandonai, Giovanni Lenzi e Luigi Zortea estavam no tal voo da Air France — na volta de Gaspar (SC) para a Itália, eles que tinham vindo rapidamente ao Brasil fazer o repasse de 22 mil euros para vitimas da enchente de 2008. O imprevisível mar de Tchékhov é aquilo que permanece em nossa mente após a leitura, levando vidas de cá para lá, ao acaso, à toa, sem finalidade alguma.

Hoje estou o rei dos tergiversadores.

-=-=-=-=-=-

Costumo acompanhar meio de longe o grosso da produção literária nacional e de perto seus principais autores. Sei que O último a sair acende a luz é digno de publicação em qualquer lugar do planeta. Mas recuemos…

Marcos Nunes é um habitual comentarista deste blog. Ele me enviou seu romance. Se eu quisesse, leria. Comecei a gostar lá pelo terceiro capítulo. Na verdade, comecei a gostar muito, fato que persistiu até a última linha de um “.pdf” de letra horrivelmente pequena, pois o Marcos quis que eu economizasse em papel e tinta, pensando que meu oftalmologista fosse mais barato. A propósito, não sei dizer-lhes o tamanho que o livro teria com caracteres de tamanho normal, mas acho que dobrariamos as 139 que li.

O que faz um romance ser lido num concurso? Eu suponho que seja um bom começo. É como na Justiça. Um psiquiatra forense me disse que os juízes leem menos que 5% de um processo, eles dão só um “vistaço” (gíria utilizada pelo mesmo profissional). Isto é, informam-se sobre o que desejam os contendores, dão uma olhada nos títulos, no que está em negrito e julgam sem atentar a muitos detalhes. Os julgadores de concursos provavelmente agem da mesma forma. Se o começo não agradar, adeus. Só pode ser este o motivo pelo qual o romance de Marcos Nunes não se classificou nem para a segunda fase de um concurso literário: o primeiro capítulo não é digno do restante do romance. Então é provável que, assim como a maioria dos processos, seu texto tenha morrido na desídia do julgador.

Mas depois a coisa engrena. E como! Ontem, o Marcos escreveu a seguinte frase num comentário: “…só a ficção arranha a verdade. O resto é equívoco”. Tudo a ver. O último a sair acende a luz é um romance que cerca algumas verdades através de um grupo bastante grande de personagens, todos muito próximos do dinheiro — alguns nadando nele — do governo e de sua periferia: os meios de comunicação, os favores, os grandes e pequenos rolos. Se eu escrevesse que quase todos os personagens estão fazendo algum gênero de filha-da-putice, estaria dando uma impressão um tanto tosca de um texto muito sofisticado, então digo que em quase todos eles parece haver um filho da puta que acabará dando o ar de sua graça se tiver chance. Não sou muito de rir enquanto leio, mas Marcos conseguiu me arrancar algumas boas risadas, principalmente com as referências irônicas que faz a seu próprio texto, quase um ritual de fim de capítulo.

É um excelente livro que não busca desvios naquilo que conta. O que tem de ser dito, é dito com as palavras corretas e verossimilhança. O sexo é sexo e as intenções são as intenções. Naturalismo? Não, nem perto. O cinismo de alguns personagens e de suas trajetórias é tal que torna-se outra coisa. Não me façam recorrer aos gregos para explicar que uma das formas de se descaracterizar algo é recorrer à hipérbole, ou seja, intensificá-lo até o inconcebível. É o que ocorre aqui. A sinceridade, a clareza de alguns acontecimentos narrados pelos protagonistas, de seus planos e propósitos é tão clara que torna-se representação das posturas mais comuns de quem, afinal, manda em nós.

Cada capítulo, à exceção do último, foca sua atenção em um grupo de personagens cujo traço como é a fome, seja por dinheiro, poder e eliminação de obstáculos, seja pela Santíssima Trindade: beber, comer, foder. Isto segundo o autor, claro.

O Marcos me disse que eu me irritaria com o final do livro, onde ele dá um fecho nada tchekovniano à história. Nada disso. O final, apesar dos personagens não terem nada em comum com os de Truffaut, parece o fechamento de um de seus filmes. Câmera no alto, música paradoxal de Corelli, narração em off contando-nos o destino dos personagens, um homem à morte e uma última auto-referência do texto. Olha, gostei muito. Não, não serei processado por ter lido este.

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Chick Corea: Children`s Song Nº 6

Desconhecidos enfrentam com competência a famosa Children`s Song Nº 6. A primeira versão é a original para piano.

Ou aqui, se a imagem do You Tube não aparecer acima.

Aqui, dois excelentes violonistas improvisam sobre o tema em vídeo de gosto duvidoso.

Ou aqui.

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A internet e as relações humanas

Os compositores de obras musicais costumam dar indicações quanto ao modo como deve ser tocada esta ou aquela peça. Entre cronistas não existe este hábito. Mesmo assim, aviso aos meus leitores que esta crônica deve ser lida con amore.

HERBERT CARO

Talvez esta seja uma experiência comum a muita gente, talvez não. Antes da Internet e, principalmente, dos blogs, eu utilizava muito o telefone. Conscientemente ou não, reservava horários noturnos para fazer longas visitas telefônicas aos amigos. Eram comuns os telefonemas de mais de uma hora onde exercitava meu razoável dom de escutar e minha discutível oratória. Nesta época, já ouvia uma crítica interna que advertia ter sido um erro grosseiro o quase ter abandonado as conversas que antes tinha em sebos e livrarias nos finais de tarde, assim como a tradicional discussão sobre música erudita na King`s Discos dos sábados pela manhã (onde recebia verdadeiras aulas quando jovem). O telefone, pensava, substituíra pobremente a observação da postura, do olhar e dos gestos dos amigos. É certo que tenho a sorte de possuir muitos amigos e nunca deixei de encontrá-los. Porém aqueles civilizados, alegres, gentis e “casuais” encontros em locais onde se podia jogar conversa fora sem maiores objetivos foi pouco a pouco substituído por vozes ao telefone.

O telefone impedia que se abrisse o leque de amizades como acontece nas livrarias e discotecas. Aos que já estão pensando que foram meus filhos os culpados disto, respondo que a utilização do telefone foi pré-prole e aos que acusarem nossos relacionamentos amorosos de exigências exclusivistas não posso responder, pois não lembro de meu primeiro casamento, tendo até esquecido se o nome de minha esposa era Suélen ou Pâmela…

Já viram que hoje estou em ritmo de conversa… Continuemos. As mudanças foram um sinal dos tempos? Acho que não. Ainda hoje, dia desses, fui passear por algumas livrarias do centro ao final da tarde e encontrei — sempre fora do âmbito das horrendas mega — pessoas falando em livros e contando casos. (Para quem mora em Porto Alegre, posso indicar a Ventura Livros como um local com enorme potencial para se comprar livros e para boas palestras. Os donos são acolhedores e conhecem muito bem aquilo que vendem. O Gustavo e seu sócio são representantes de uma raça que as mega-livrarias – sei lá por quê – parecem desejar extintas: são leitores de primeira linha, sabem muito e são civilizados, solidários, dando até descontos aos amigos…)

Também a Sala dos Clássicos é um local em que pode-se encontrar apaixonados debatedores defendendo o vulgar Concerto Nº 5 para Piano e Orquestra de Beethoven em detrimento do maravilhoso Nº 1 de Brahms. (Importante: eu amo Beethoven, mas este Concerto cujo primeiro movimento é pura ornamentação é de matar. Concordo: há gosto para tudo — no mundo há, inclusive, vegetarianos e pessoas que só ouvem Wagner.)

Voltemos a nosso assunto, pois quero lhes falar que, após abandonar o olhar, o ambiente e o gesto, troquei a voz pelos e-mails e blogs. Hoje, quase não falo mais ao telefone, só o utilizo para recados e conversas curtas. Mesmo as consultas que fiz a alguns amigos e, principalmente, àquela psicanalista formada pela Sorbonne, acerca da interpretação “do tal post da cizânia” resultaram curtíssimas; todos têm computadores conectados à rede em suas casas e as conversas foram esclarecedoras e exclamativas, mas breves. O grosso foi por MSN.

De qualquer forma, os novos vínculos formados pelos blogs e pala rede são muito fortes e creio que este seja um dos maiores elogios que possam ser feitos aos textos numa época em que a literatura fracassa diante de outros meios de expressão. E o leque de amizades potenciais guardado pela rede é aparentemente inesgotável. Não ousaria listar aqui os novos amigos com receio de ofender alguém pelo esquecimento, mas digo que, se eles têm a desvantagem de estar longe, têm a vantagem de nunca terem me decepcionado quando os conheci pessoalmente — ao contrário! Mas não me convenço muito: é raro vê-los, ouvir suas vozes, apertar suas mãos, beijar as bochechas ou alcançar-lhes um copo. Acho triste.

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Gioacchino Rossini: uma belíssima adaptação para orquestra do Kyrie da Pequena Missa Solene

Para a Claudia, como tudo o que faço.

Este é o Kyrie, primeiro movimento da Pequena Missa Solene de Rossini, personagem deste conto. O original foi escrito para coro, solistas, dois pianos e harmônica. A gravação — da Orquestra da Gewandhaus de Leipzig e do Coro da Ópera de Leipzig, sob a regência de Riccardo Chailly — é bastante anabolizada, mas, céus, está linda.

Os Sem-Firefox devem clicar aqui.

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Porque hoje é sábado, Gene Tierney

Eu até nem me importava muito quando ela aparecia com seu leopardo, …

… nem quando ela me confundia explicando que as paralelas só se encontram no infinito, …

… nem quando agia estranhamente, rezando para tornar-se uma melhor atriz, …

… o que irritava mesmo é que ela não sabia guardar e muito menos pegar meus discos de vinil.

Não que isso me faça muita falta – afinal, posso pegá-los – mas…

… é melhor deixá-la livre do mundo prático, …

… melhor deixá-la na sala apenas ouvindo música, pois …

Gene Tierney parece ter sido feita para nossos olhos.

Talvez o cinema nunca tenha visto algo mais próximo…

… da perfeição do que esta pintura nascida em 1920 na cidade de Nova Iorque.

Na minha opinião – talvez influenciada pelo filme Laura -, …

… ela está mais uma aparição do que para alguém deste mundo.

É uma demasia, quase um escândalo uma mulher de rosto tão perfeito.

Ela possui no mais alto grau aquele sopro que atrai nossos olhos para ela, …

… ao mesmo tempo que a reafirma como inatingível.

Era mesmo possível apalpá-la?

Sua imagem é imaterial, como se fosse uma representação.

Mesmo quando menina (abaixo), esta atriz morta em 1991 parece pairar sobre o mundo, rindo dele.

Esforcei-me para encontrar uma imagem comum de Gene.

O mais perto que cheguei foi a foto acima. Porque, na verdade, Gene Tierney nasceu deusa, …

… nasceu assim.

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O time da piada pronta

Depois de “comprar” uma estrela, o time da piada pronta adota uma roupinha de marinheiro para morrer na praia.

E hoje, a reação do marketing do Grêmio. Agradecimentos ao Dario (imagem) e ao Hélio Paz (um amigo gremista que parece ter gostado deste horror).

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Do amor

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Aqueles dois, de Caio Fernando Abreu

Idelber Avelar propõe hoje a leitura de Aqueles Dois, de Caio Fernando Abreu, em seu Clube de Leituras.

O conto narra a história de uma amizade ou amor interrompido. São dois homens — Raul e Saul — que vão trabalhar numa cidade pequena após serem aprovados em um concurso. Não conhecem ninguém na cidade, são solitários, altos, elegantes e ambos vêm de relações frustradas com mulheres. Um dia, Saul atrasa-se para o trabalho. Motivo: ficou vendo um filme até tarde e não conseguiu acordar a tempo. A princípio não deseja comentar o fato, porém, provocado por Raul, fala sobre o filme e abala-se (verbo utilizado por Caio) ao notar que ele poderia ser a exceção naquele “deserto de almas” — lugar comum igualmente utilizado por Caio com medida ironia. Começam a conversar sobre cinema, depois sobre música, artes plásticas; enfim, passam a conhecer-se.

Quando li o conto pela primeira vez, sua lentidão pareceu-me exasperante. Ontem, ao lê-lo, achei-o até rápido. Talvez esta impressão seja causada por uma leitura da qual já se saiba o resultado, da qual já se conheça a história, mas acho que estaria mais próximo da via certa se dissesse que pressenti o que desejava o Idelber. Ora, sei que o conceito de Ricardo Piglia de que todo conto narra duas histórias é muito caro a ele. Eu não discordo, apenas acredito que tal teoria seja algo mais antiga do que Piglia.

A teoria de Piglia é muito semelhante à forma sonata da música erudita. Neste gênero de composição há a apresentação do primeiro tema (a solidão dos dois, o emprego, a disponibilidade, a amizade), depois a apresentação do segundo tema (a possibilidade do amor, da criação de uma situação mais confortável, de “redenção”). Mostrados os temas, eles passam a se relacionar, a se misturar, algumas vezes quase criando um terceiro, mas deixando sempre presentes — em forma resumida — os temas iniciais (as pequenas cenas de trabalho / a continuidade da amizade, a noite dos cigarros / a volta ao emprego e a síntese: os cabelos molhados/a repartição), aos quais se retorna sempre, seja de forma resumida ou não, decidida ou não, ou misturados ou não.

No conto de Caio o primeiro tema invade e mata o segundo quando da intervenção do ambiente da cidade. Ao preconceito não interessa saber se os dois trepavam; o preconceito não discute, apenas exige que o senso comum seja cumprido. Os dois colegas não podem chegar juntos e de cabelo molhado ao trabalho. Você pergunta: eles não deveriam saber disso? Pode ser, só que, enquanto o preconceito já decidiu que aquela amizade com visitinhas aqui e ali não lhe serve, eles ainda não saíram do armário. É-lhes cobrada uma disciplina formal que ambos escamotearam ao ignorarem que aquilo poderia ser finalmente o amor. Por que se preocupariam em esconder o que, afinal, ainda não existia? E sobrevém a punição, com os dois demitidos sob medíocres risos de vingança.

O bom do conto é a armação dos dois conflitos — o interno e o externo. Não há muito além disso. Aliás, também não há muito além disso em Missa do Galo. Machado arma uma situação cujo proveito passa encilhado. É como se diz aqui no sul do Brasil: “Cavalo encilhado não passa duas vezes” ou “Cavalo encilhado só passa uma vez na frente da porteira”. Sim, eu sei, ele pode passar duas ou dez vezes, mas para o casal da Missa e para Estes dois só passou uma vez.

(Dou-me conta agora que Caio não dá destino a seus personagens. Então pode ser que o cavalo tenha sido montado pós-conto. Talvez Aqueles Dois seja pré-coito…).

Idelber chama a atenção sobre como a periferia auxilia a história: os títulos das canções e do filme que os fez conversar (Infâmia), o nome do gato (Gato? Que gato? Só lembro do sabiá Carlos Gardel! Acho que foi um ato falho de nosso mestre: o conto é tão casto que ele, na falta de outros manjares, acabou comendo o passarinho através de um gato imaginário. Falando sério, não lembro de gato nenhum!), etc. Concordo, em qualquer grande obra, o contexto empurra importa e significa e, dentro desta periferia cheia de significados, faço questão de destacar o contexto da primeira conversa mais íntima, o do primeiro café:

aquela manhã muito fria de junho, o prédio feio mais do que nunca parecendo uma prisão ou uma clínica psiquiátrica…

É.

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Nenhuma surpresa

Sim, nenhuma surpresa. O Inter costuma se atrapalhar contra times inexpressivos. E aconteceu novamente. O Coritiba rola há anos pela primeira divisão tentando desesperadamente não entrar pelo ralo que leva à segundona. Seu lugar é aquele limbo que fica entre a Sul-americana e a queda. Qualquer ano cai de novo. Em 2009, faz 100 anos; então montou um time para não cair, igualzinho como fez quando completou 99 anos, 98 anos, 97 anos e assim por diante.

A novidade é que Renê Simões fez uso da intimidação. Tanto que o zagueiro Felipe mandou Nilmar para o hospital com uma voadora no quadril. (Talvez nos beneficie… Nosso atacante pode ser cortado da seleção, o que seria muito bom.) Renê deve ter dito a seus atletas: “Finjam ser neonazistas, depois imaginem que eles são gueis”. E vá pontapés para todo lado. O fato é que os 3 x 1 deixam o Coxa vivo. O jogo no Couto Pereira será ditado por eles. Prevejo aquele típico paroxismo de mediocridade para o qual o Inter gosta de perder.

Um perigo real. Falo sério.

E viva o grande futebol do Barcelona!

P.S.- Durante o dia, devo dar, aqui e lá, alguns pitacos sobre o conto Aqueles Dois, de Caio Fernando Abreu. Ele será focalizado pelo Clube de Leituras do Idelber.

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A Marcha dos 100 Anos

O Bernardo demora para liberar quaisquer fotos. Haja saco! Tudo o que vocês verão aconteceu em 4 de abril de 2009, dia do centenário de nosso Internacional. Houve uma marcha de milhares de colorados — não lembro o total — desde a antiga sede do clube, atual praça Sport Clube Internacional, até o Beira-rio. A cerimônia na praça foi gozadíssima, com direito a apupos para o vice-prefeito José Fortunati, que resolveu falar nas grandes realizações de seu governo, e principalmente para o inábil prefeito Fogaça que achou por bem reclamar do público que fazia coro chamando Renata Fan de gostosa. Ele disse “Que falta de respeito!”. Resultado: mereceu a maior vaia daquela manhã. Enquanto esta acontecia, Renata Fan curtia sorridente seu sucesso. Ainda sorrindo, ARRANCOU o microfone da mão do imbecil que aspira ser o próximo governador e deu aquele BOM DIA À MAIOR E MELHOR TORCIDA DO RIO GRANDE que incendiou a homarada. Como pode um prefeito desconhecer a tal ponto o trato social com um público futeboleiro majoritariamente masculino?

As fotos estão em ordem cronológica.

Saímos da praça sob uma das enormes bandeiras que cobriam o público. Meu filho se atirava no chão, procurando os melhores ângulos.

Acima, ele já está em pé. Soube depois que o Prestes caminhou um bom tempo a nosso lado, mas não quis apresentar-se por pura gueizice.

Bonita foto, não? Sei lá como ele a tirou.

Mais panos criando aquele mar vermelho que tanto mal faz a alguns adversários.

Ah, esse eu vi. Estávamos na Aureliano de Figueiredo quando ele apareceu gritando em cima da caminhonete. O Bernardo parou a caminhada a fim de pegar um bom ângulo. Conseguiu.

Esse muro é bem alto, viram? Acho que o Dado tentou registrar a queda do sujeito. Uma frustrada tentativa jornalística do gênero “Um corpo que cai”.

Uma foto oficialista. Se fosse eu, me mandaria as fotos da Renata Fan e daquela peituda (adoro!) da Miss Colorada ou coisa que o valha. Mas se ele prefere o presidente Píffero, então tá….!?

A civilidade dos gremistas. Achei bonito. Todo mundo se emocionou. Eu imaginei como minha mulher — que é torcedora do Grêmio — devia estar feliz naquele momento de grandeza de meu time. Certamente, pensava em como era bom ter um homem feliz… e longe! Bom, eles poderiam ter nos mandado à merda. Tinha Gre-Nal no dia seguinte. Sim, ganharíamos deles novamente. É o costume.

Aqui, o Bernardo tenta registrar a massa. Olha, tinha muita gente. Há fotos aéreas que mostram a multidão. Muita gente mesmo.

Nova tentativa. Subimos no viaduto, mas não encontramos forma de demonstrar que estávamos no meio da marcha e que esta não tinha final próximo.

Sem graça. Por que me mandaste essa, animal?

Ooooooh, que fofinho. Como havia mulheres e como são bonitas as coloradas! Vocês já notaram? O Luis Felipe dos Santos, do Impedimento, estava lá com sua filha, a Morgana. Mas ela é bem maior que a(o) gulochinha(o) acima.

E, para finalizar, a foto de cunho social Sebastião Salgado-like (estou sendo injusto com meu rebento, a coisa saiu bonita). Esta é a única fora de ordem, mas fica melhor aqui. O Bernardo botou a câmara na cara da família que assistia à marcha. A mãe das crianças desapareceu subitamente.

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Links

Sem tempo para postar decentemente, repasso alguns links, mas fundamentalmente sugiro a leitura de um post e noticiando a chegada de outro ao OPS (links em negrito). O motivo de minha dificuldade é que estou tentando reviver o notebook de minha filha, mas acho que ele desistiu desta vida. É um Itautec velhinho e sem vocação para Lázaro; tem um HD novo e enorme, onde guardo algumas coisas minhas. Uma bosta perdê-lo.

Mas vamos ao que interessa: passando pelo Google Reader, dei de cara com algo que me atazana a existência desde os áureos tempos daquele grande blog coletivo que propus e que morreu após alguns meses e muitas brigas: o Bombordo, sempre citado saudosamente pelo Rafael Galvão.

Pois, coisa estranha, deu-me até vontade de recriá-lo na forma de um blog de marcação sob pressão específica da chamada grande imprensa. Leiam este post e digam-me se o cara não tem razão.

Por falar em blogs políticos bons e relevantes, você já sabe quem está conosco?

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Rock and roll

Sou uma pessoa que quase só ouve música erudita mas que não vê o resto do mundo com superioridade, coisa tão comum entre meus pares… Ouvi rock somente até a adolescência e ainda tenho, em vinil, um bom acervo de “dinossauros”, o qual muitas vezes provoca ohs e uaus nos amigos de meu filho. Ele, Bernardo, hoje com 18 anos, costumava reclamar de mim por ter abandonado o rock que ainda ama e queria que eu voltasse à minha adolescência pondo só Beatles, Led Zeppelin, Deep Purple, Rolling Stones e mesmo o medonho Pink Floyd pós-Dark Side no CD player — ele é um voraz consumidor de música e ficava carente entre seus muitos amigos por não encontrar, entre eles, outros que fossem tão “cultos” musicalmente.

Eu ficava pasmo de ser tão atualizado. Afinal, Bernardo e seus amigos ouviam embevecidos as novidades do tio Milton: Quadrophenia (1973) do Who, Fragile (1972) do Yes, A Night at the Opera (1976?) do Queen, e mais uns 100 bolachões inéditos para a petizada.

A cena era assim. Em pleno 2000 e alguma coisa, Bernardo se atirava sobre meus velhos vinis e desencavava uns Alice Cooper, uns The Who (legal!), uns Queen (bom), Gentle Giant (que voz horrorosa a daquele cantor) e até Slade. Por outro lado, sou casado com uma mulher que ama as óperas, principalmente as de Mozart e Rossini, e que tem baixa tolerância aos grupos de som mais agressivo e que começa a berrar (sério!) quando pressente a iminência de Pink Floyd, pois foi traumatizada por seu irmão que ouvia The Wall cinco vezes ao dia — era deprimido, claro. (A propósito, comprei The Wall no dia em que foi lançado no Brasil e o vendi com lucro dois dias depois. Era muita adolescência). E, para piorar, ouço insistente a voz de meu pai que sempre me dizia que era importante não perder a contemporaneidade.

O único acordo possível seria o de ficar ouvindo Tom Jobim, Chico Buarque, Elis Regina, bebop e esquecer meu pai. Neste caso, todos ficariam felizes, mas o espectro se limitaria muito e estaríamos definitivamente fora das paixões de uns e outros. Ou seja, não dá.

Sou um cara de gosto musical eclético e até desejo ser tolerante, então só fecho a porta para as músicas absolutamente imbecis — ou seja, quase tudo –, além de boleros, alguns tangos cantados e reggaes, que não suporto. Por exemplo, ontem, fiquei bem feliz ouvindo com a Claudia a ópera L´Italiana in Algeri de Rossini. Porém, para aumentar a confusão sonora da casa, nos últimos dias fiz pesados esforços com roqueiros contemporâneos tais como Beck, Radiohead, Oasis e outros. Estes três são artistas ou grupos de produção muito boa e civilizada, porém… como são convencionais! Será que não há mais para onde ir? Cadê a vanguarda? Será que a indústria a sufocou?

Beck escreve as mesmas letras de gosto duvidoso que quase sempre caracterizaram o rock, mas é um grande inventor de melodias. Já o Radiohead se preocupa demais com a estrutura dos arranjos e perde a fluência. É um bom grupo que tem o problema de repetir-se ad nauseaum. O Oasis é um epígono dos Beatles e do T. Rex, mas quem se importa? Acho que a canção Cigarettes and Alcohol, do CD Definitely Maybe, é o máximo que se pode exigir de um rock — poucas vezes me deparei com uma letra que combinasse tão bem com música e interpretação.

Mas, olha, não adianta, todos eles parecem um pouco aprendizes (podemos incluir Pearl Jam aí também). Não há no horizonte nada parecido com Beatles, Stones, Led, Who, etc. E não apenas uma questão de postura, trata-se de qualidade musical mesmo. Escrevi toda esta coisa confusa porque ontem recebi o seguinte torpedo do Bernardo:

Tchê, descobri um puta álbum dos Stones, Sticky Fingers. Tu deve conhecer.

Imagina se não! Tal fato foi uma espécie de involução… (*) De resto, ele está descobrindo Charlie Mingus (Aleluia!), Ligeti (três Ave-Marias), Shostakovich (dez Pais-Nossos) e, compreensivelmente, não sabe onde botar Wynton Marsalis na história do jazz. Miles Davis sabia bem onde enfiá-lo. Mas, já que o assunto é rock, volto ao tema para finalizar: chego à conclusão de que os dinossauros ainda dominam esta área do mundo. O céu do rock está lotado de pterodáctilos.

(*) Ato falho de origem controlada.

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Inter 2 x 1 Flamengo: o grande jogo em 11 tópicos curtos

1. Íbson: o Guiñazu deles. Há treinadores que gostam de Josué, eu prefiro grandes jogadores.

2. Guiñazu: o nosso Íbson, um monstro. Desarma todo mundo.

3. Tite: em casa, jogando com o ânus na mão, para usar a expressão do Daniel Cassol.

4. Rosinei: nosso Obina. Burro e inoperante.

5. Obina: o Rosinei deles. Burro e inoperante.

6. Angelim: de onde saiu esse cara? Joga demais.

7. Andrezinho: quero ter um filho com ele.

8. Juan e Rogério Ceni: onde nasce tanta autoconfiança injustificada?

9. D`Alessandro: adoro esse argentino.

10. Cuca: seu time é bom, bem montado. Mas quem aguenta aquela vozinha chorosa?

11. Nilmar: que passe, hein?

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Neoprene de segunda

Clique aqui para ver.

Obrigado, Dario.

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Coisas do esporte bretão…

Peço desculpas à Caminhante e ao Ramiro, que comentaram, e aos que leram o post que estava aqui. Ele voltará, provavelmente na próxima semana.

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Ultimo adiós a Mario Benedetti

Una caravana recorrió la ciudad para despedir el poeta esta mañana; sus restos serán inhumados en el Panteón Nacional del cementerio central de Montevideo con un homenaje a cargo del escritor Daniel Viglietti

Una multitud acompaño los restos de Mario Benedetti por las calles de Montevideo Foto: AFP

MONTEVIDEO.- Miles de personas marcharon esta mañana por Montevideo, escoltando al féretro del escritor Mario Benedetti. Los aplausos y la lluvia de flores no cedieron durante todo el recorrido hacia el Panteón Nacional del cementerio central, donde reposarán los restos del poeta fallecido el domingo a los 88 años.

El homenaje al autor de “La Tregua” en la necrópolis tendrá como únicos oradores a la ministra de Cultura, María Simón, el director nacional de Cultura, Hugo Achúgar, y el cantautor y amigo personal del escritor Daniel Viglietti.

La caravana circuló a paso de hombre por la ciudad acompañada por sindicalistas de la principal central obrera del país, la PIT-CNT, y estudiantes de la Federación de Estudiantes Universitarios de Uruguay.

Ayer los uruguayos desfilaron durante toda la jornada ante el féretro de Benedetti velado en el Palacio Legislativo, sede del Congreso, donde se congregaron autoridades del gobierno encabezadas por el presidente Tabaré Vázquez, referentes de la política y cultura y ciudadanos comunes -adultos, jóvenes, familias- que quisieron tributar su adiós al poeta.

“Hombres como Mario nunca mueren, se siembran”, dijo brevemente Vázquez al evocar la figura del escritor, de claro compromiso en la izquierda y que participó activamente en la fundación del Frente Amplio, la alianza actualmente en el poder.

Mario fue “un hombre con una pluma, un alma y un corazón” y “nos desafía a seguir su ejemplo. Hoy estamos rodeando su recuerdo con mucha noción de futuro”, evocó Viglietti, quien permaneció toda la jornada de ayer al lado de su amigo fallecido con quien compartió también actividades artísticas como el espectáculo “A dos voces”.

De salud frágil el último año y medio en el que fue hospitalizado cuatro veces, la última aparición pública de Benedetti fue en diciembre de 2007 cuando fue distinguido por el presidente venezolano, Hugo Chávez, con la Orden Francisco de Miranda en un acto en Montevideo.

Nacido el 14 de septiembre de 1920 en Tacuarembó el uruguayo combinó toda su vida el amor por las letras con un compromiso humano, social y político que nunca abandonó y que le significó años de exilio durante la dictadura militar (1973-85).

Exponente de la denominada “Generación del 45” con Juan Carlos Onetti (1909-1994), entre las obras destacadas del uruguayo figuran “Gracias por el fuego” (1965), “Los cuentos de Con y sin nostalgia” (1977), “Los poemas de Viento en el exilio” (1981) y obras teatrales como “Pedro y el capitán” (1979).

Benedetti retrató en muchas de sus obras la tristeza del burócrata y la melancolía de Montevideo, su ciudad de adopción, y en sus letras se reconocieron muchos de los que ayer se acercaron a tributar un emotivo y silencioso homenaje al autor que a su valía intelectual añadió una calidad humana que fue su marca registrada.

Autor de una vasta obra con más de 80 títulos entre poesía, cuentos, novelas y ensayos, Benedetti fue distinguido a lo largo de su trayectoria con varios premios como el Reina Sofía, el Iberoamericano José Marti y el Menéndez Pelayo.

Su último libro “Testigo de uno mismo” se lanzó en agosto pasado con el poeta ya ausente por su vulnerable estado y estaba trabajando en un nuevo poemario con el título provisorio de “Biografía para encontrarme”.

Mutua admiración con Nicanor Parra. El poeta chileno Nicanor Parra dedicó un “artefacto” para rendir homenaje al fallecido escritor uruguayo Mario Benedetti de quien dijo haber sido un “amigote”.

El “artefacto” tiene como título “En la hora de su muerte” y fue publicado hoy por el diario La Tercera. “A lo más que se puede aspirar/ Es a dejar dos o tres frases en órbita/ Que yo sepa don Mario dejo al menos una:/ La muerte y otras sorpresas// ¡Señor mío, la frasecita!”, escribió Parra en referencia a uno de los títulos del escritor uruguayo.

El diario La Tercera indicó que el autor de La tregua “era un admirador de la obra del chileno y en 1969 le realizó una extensa entrevista que fue publicada en la revista Marcha.

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