Guerra ao Terror

Depois que os caras saíram, lembrei vagamente de meu pai falando sobre uma viagem ao Irã (Pérsia) lá pelo final dos anos 50…


Uns caras bem estranhos invadiram minha casa querendo saber coisas a meu respeito. Lhes disse que não tenho programa nuclear próprio. Não acreditaram. Trouxeram um cara junto. Estava preso. Tinha a cara do bin Laden, mas falava português. Tiraram fotos. Me deram umas coisas para tomar.

Há pessoas investigando minha vida, meus IPs, meus contatos, meus comentários. Minhas fotos e livros são analisados e cheirados. O guarda da cadeia já mandou torpedos, o juiz de direito piscou para mim — eu vi. Minha caixa de e-mails diz coisas, sugere que escondo fatos, que iludi e fui iludido, que matei e roubei, que meu diploma é falso, que nunca estive lá. Ligo a TV e só passam séries, ouço o rádio e me culpam pelo Serra, mexo nos CDs e todos são de Wagner. Estranho.

Michael Jackson é um vírus / Semelhanças

Sim, e meu antivírus já ficou todo eriçado com a possibilidade de ele penetrar em meu notebook, mesmo ele sendo um Dell púbere de mais de três anos.

Michael Jackson era um gênero de ruína moderna que nunca conseguiu me interessar. Mesmo com toda a sedução que a palavra “decadência” possui para todos os leitores, Jackson parecia estar em outro mundo, só compreendido por Liz Taylor e seus fãs. Além do embranquecimento, do nariz de múmia, das bolhas (pois ele dormiu em bolhas de vidro numa época, não?), de balançar bebês em sacadas, de comprar e perder os direitos sobre a obra dos Beatles, das acusações de pedofilia, do casamento com a filha de Elvis Presley, do seu sítio Peter Pan-like, do casamento com sua enfermeira e de um monte de loucuras, pijamas, roupas, fantasias e excentricidades, o que havia nele? Ah, também tinha sua belíssima dança e, lá atrás, bem lá atrás, talvez alguma música.

Delas só consigo lembrar de Thriller e Black or White e mesmo assim só acho legal os videoclipes. Caetano Veloso costumava cantar Billy Jean, porém, francamente, nunca entendi direito a melodia, até porque nunca ouvi o original. Sou um ET que quase só ouve eruditos — agora mesmo estou ouvindo Fasch — e jazz. Além do mais, não compreendo um negro que fica branco, alegadamente em razão do vitiligo. Aliás, toda sua figura transformada por operações, mais a roupa, o rancho e a cobertura insistente da imprensa, sempre me mostraram que Michael era um jeca enlouquecido.

O fim de Michael Jackson e o de Farrah Fawcett, aos 50 e 62 anos, não me causam nenhuma comoção, mas fico encasquetado com uma coisa: são ídolos que explodiram quando eu já tinha idade para rejeitá-los. Ou seja, são pessoas para mim muito jovens e próximas de meus 51 anos.

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Ontem, estávamos vendo As Confissões de Henry Fool e meu filho apontou semelhanças entre:

O ator James Urbaniak (figura comum nos filmes de Hal Hartley) e Dmitri Shostakovich

De novo, como contraprova:

E, em linha menos artística, Mahmoud Ahmadinejad e eu:

Para que recontar os votos, porra?