Porque hoje é sábado e não quero personagem principal

Porque hoje é sábado e não quero personagem principal

Nu, de Manuel Bandeira

Quando estás vestida,
Ninguém imagina

Os mundos que escondes
Sob as tuas roupas.

(Assim, quando é dia,
Não temos noção

Dos astros que luzem
No profundo céu.

Mas a noite é nua,
E, nua na noite,

Palpitam teus mundos
E os mundos da noite.

Brilham teus joelhos,
Brilha o teu umbigo,

Brilha toda a tua
Lira abdominal.

Teus exíguos
– Como na rijeza

Do tronco robusto
Dois frutos pequenos –

Brilham.) Ah, teus seios!
Teus duros mamilos!

Teu dorso! Teus flancos!
Ah, tuas espáduas!

Se nua, teus olhos
Ficam nus também:

Teu olhar, mais longe,
Mais lento, mais líquido.

Então, dentro deles,
Bóio, nado, salto

Baixo num mergulho
Perpendicular.

Baixo até o mais fundo
De teu ser, lá onde

Me sorri tu’alma
Nua, nua, nua…

Obs.: Os fotógrafos são desde Cartier-Bresson, Doisneau e Weston até anônimos; e as modelos são desde Georgia O’Keeffe até porn stars.

Poema da buceta cabeluda, de Bráulio Tavares

Poema da buceta cabeluda, de Bráulio Tavares

A buceta da minha amada
tem pêlos barrocos,
lúdicos, profanos.
É faminta
como o polígono-das-secas
e cheia de ritmos
como o recôncavo-baiano.

A buceta da minha amada
é cabeluda
como um tapete persa.
É um buraco-negro
bem no meio do púbis
do Universo.

A buceta da minha amada
é cabeluda,
misteriosa, sonâmbula.
É bela como uma letra grega:
é o alfa-e-ômega dos meus segredos,
é um delta ardente sob os meus dedos
e na minha língua
é lambda.

A buceta da minha amada
é um tesouro
é o Tosão de Ouro
é um tesão.
É cabeluda, e cabe, linda,
em minha mão.

A buceta da minha amada
me aperta dentro, de um tal jeito
que quase me morde;
e só não é mais cabeluda
do que as coisas que ela geme
quando a gente fode.

Tela de Georgia O`Keeffe
Tela de Georgia O`Keeffe