Um comentário sobre o fracasso de Porto Alegre e do RS

Um comentário sobre o fracasso de Porto Alegre e do RS
Fortunati e Sartori, sem projeto para a cidade e o estado | Foto: Ivo Gonçalves / PMPA
Fortunati e Sartori, uma dueto de dois | Foto: Ivo Gonçalves / PMPA

Os métodos de Sartori e Fortunati para darem notícias impopulares estão cada vez mais parecidos. Assim como ambos escolheram passar suas férias em longínquos cruzeiros, a sexta-feira à tarde é o dia preferido da dupla. Na última sexta-feira, por exemplo, a prefeitura avisou que o aumento das passagens de ônibus seria anunciado no início da tarde. Já passava das 15h e nada. Uma colega dizia: “Quanto mais tarde pior”. Não deu outra. O que veio foi um valor abusivo, um verdadeiro disparate que, absurdo dos absurdos, entraria em vigor segunda-feira sem passar pelo Comtu (Conselho Municipal de Transportes Urbanos). Sabemos que o Comtu é inútil por estar na mão da prefeitura, mas ele jamais tinha recebido o escárnio de quem o ama. É que Fortunati aprendeu com Sartori que é seguro jogar a bomba e correr rapidamente para o esconderijo do fim de semana.

O comparativo do valor da tarifa porto-alegrense contra a inflação é uma coisa que vale a pena ser vista. Corrigido pela inflação, o valor da passagem bateria hoje em R$ 1,94, mas a gente paga R$ 3,75. Não creio que a categoria dos rodoviários tenha dobrado seu poder aquisitivo, nem que os insumos tenham aumentado quase 100% ou que o número das pessoas que não pagam passagem tenha aumentado tanto. Tudo indica para a proteção dos transportadores por parte da prefeitura. Sim, esses mesmos que estão aí há décadas, ganhando licitações. Licitações… Vejo poucos setores mais adequados à estatização do que o do transporte coletivo. Já imaginaram o que diriam os jornais de direita se a Carris aumentasse seu próprio valor? Já os donos das empresas deitam e rolam.

Clique no gráfico para aumentá-lo
Clique no gráfico para aumentá-lo | Fonte: https://www.facebook.com/MeuOnibusLotado/

Em Porto Alegre, somos governados há mais de uma década pelos lamentáveis Fogaça e Fortunati — eles são prefeitos desde o infeliz dia 1º de janeiro de 2005 com seus partidos PPS, PMDB e PDT — e, basta olhar, a cidade está uma merda, realmente abandonada, Porto Alegre fracassou. Ontem, por exemplo, fui até aquela pracinha que fica na esquina da Vasco da Gama com a Ramiro Barcellos. Zona nobre, cheia de eleitores do Fortunati. E havia ainda árvores do temporal de 29 de janeiro sobre os aparelhos de ginástica para idosos! Infelizmente, eu estava sem celular para fotografar. Também estava sem relógio e com pouco dinheiro. E por que saio assim? Ora, por causa da cidade. O pouco policiamento ocorre por culpa do governo estadual e tenho a sorte de ter passado até hoje ao largo dos ladrões, dos taxistas criminosos, dos tiroteios à luz do dia, das execuções sumárias.

Mas não passo ao largo do receio de que algo de violento aconteça e vejo o resto. O resto é a sujeira das ruas, os Centros Culturais fechando por falta de pagamentos ou agonizando, as notícias cada vez mais dantescas, a falta de resistência e de projetos para a cidade e o estado. Porto Alegre e o Rio Grande do Sul estão efetivamente muito burros e se fazem representar por pessoas de baixo calibre. E não adianta eu me consolar pensando que não votei em Sartori e Fortunati e muito menos em Lasier e Ana Amélia. Nem que aquele meu conhecido pseudo-popular não se elegeu. (Ele me disse que desejava ser deputado em função da aposentadoria).

Como escreveu meu amigo Leandro Gejfinbein no Facebook, a maioria de nossos atuais políticos — à direita e à esquerda — são bundões. O bundão (ou bunda mole) é aquela pessoa sem ação, incapaz de sair de qualquer situação que apresente alguma dificuldade. Se não há criatividade, se não há ideias novas, o que faz o político gaúcho chegar aos cargos de comando são apenas a vaidade, a proteção aos amigos e o direito — tanto pessoal quanto de seu partido — de arrancar uma beira de empreiteiras e outros que tais.

A mentira grassa. Peço desculpas, mas o vídeo da campanha do governador Sartori que mostro abaixo me provoca riso. Não temos humoristas tão bons quanto ele. Vejam o que nos prometeu em termos de segurança.

Enquanto isso, vamo-nos acadelando e engolindo tudo, desde o cais virando shopping, até a violência interna e as contas bloqueadas pela União. Já perdemos os anéis e os dedos.

O negócio é ir pra rua reclamar e, quem sabe, ficar lá por muito tempo.

Ontem, dia do aumento das passagens, Fortunati e Mello (vice) inauguraram lixeiras. Não sei o que ambos têm na cabeça. | Foto: Ricardo Giusti / PMPA
Ontem, dia do aumento das passagens, Fortunati e Mello (vice) inauguraram lixeiras. Não sei o que ambos têm na cabeça. | Foto: Ricardo Giusti / PMPA

O "reajuste" das passagens de ônibus em Porto Alegre

Há mais aqui. Muito boa matéria.

Nós temos apenas um carro em casa, então é comum que eu use ônibus várias vezes por semana. O serviço em Porto Alegre não é grande coisa. Por exemplo, apesar de trabalhar no centro da cidade (no início da Rua Fernando Machado), tenho que caminhar sete ou oito quadras para chegar a uma parada que me leve para a Zona Sul, local bastante populoso. Ou seja, é um serviço insatisfatório. Como sou um fantasista-divagador-viajante profissional, apenas me incomodo nos dias de chuva, mas SEI que o serviço é aquela coisa mais ou menos.

Também sei que apenas 40% dos ônibus — consultei dados da prefeitura — têm ar condicionado. Então, quando a cidade está em modo Forno Alegre, como é comum em janeiro e fevereiro, a coisa ferve em 60% dos veículos.

Agora, o aumento sistemático do valor das passagens é algo que torna o negócio muito bom para a prefeitura. Ela aumenta um valor que é recebido por todas as empresas de ônibus e principalmente pela Carris, a maior empresa do ramo na cidade, de propriedade de própria prefeitura. Ou seja, ela aumenta o faturamento de uma de suas principais empresas. Penso que este seja um dado importantíssimo para a facilidade com que estes aumentos são concedidos. Aumentando o preço das passagens, aumenta o faturamento de prefeitura. Simples.

Mas até aí tudo bem, há casos assim por todo lado e é normal que os preços sejam reajustados uma vez por ano. O problema é o percentual destes aumentos, pois não são reajustes. Sempre há alguma tragédia associada a eles. Anos atrás, eram os aumentos dos combustíveis, depois foram os dissídios, agora é a renovação da frota e o preços das recapagens e pneus. Resultado: numa cidade média como a nossa e quase sem engarafamentos, R$ 2,70 para os ônibus e R$ 4,00 para as lotações. É muito.