Um comentário sobre o fracasso de Porto Alegre e do RS

Um comentário sobre o fracasso de Porto Alegre e do RS
Fortunati e Sartori, sem projeto para a cidade e o estado | Foto: Ivo Gonçalves / PMPA
Fortunati e Sartori, uma dueto de dois | Foto: Ivo Gonçalves / PMPA

Os métodos de Sartori e Fortunati para darem notícias impopulares estão cada vez mais parecidos. Assim como ambos escolheram passar suas férias em longínquos cruzeiros, a sexta-feira à tarde é o dia preferido da dupla. Na última sexta-feira, por exemplo, a prefeitura avisou que o aumento das passagens de ônibus seria anunciado no início da tarde. Já passava das 15h e nada. Uma colega dizia: “Quanto mais tarde pior”. Não deu outra. O que veio foi um valor abusivo, um verdadeiro disparate que, absurdo dos absurdos, entraria em vigor segunda-feira sem passar pelo Comtu (Conselho Municipal de Transportes Urbanos). Sabemos que o Comtu é inútil por estar na mão da prefeitura, mas ele jamais tinha recebido o escárnio de quem o ama. É que Fortunati aprendeu com Sartori que é seguro jogar a bomba e correr rapidamente para o esconderijo do fim de semana.

O comparativo do valor da tarifa porto-alegrense contra a inflação é uma coisa que vale a pena ser vista. Corrigido pela inflação, o valor da passagem bateria hoje em R$ 1,94, mas a gente paga R$ 3,75. Não creio que a categoria dos rodoviários tenha dobrado seu poder aquisitivo, nem que os insumos tenham aumentado quase 100% ou que o número das pessoas que não pagam passagem tenha aumentado tanto. Tudo indica para a proteção dos transportadores por parte da prefeitura. Sim, esses mesmos que estão aí há décadas, ganhando licitações. Licitações… Vejo poucos setores mais adequados à estatização do que o do transporte coletivo. Já imaginaram o que diriam os jornais de direita se a Carris aumentasse seu próprio valor? Já os donos das empresas deitam e rolam.

Clique no gráfico para aumentá-lo
Clique no gráfico para aumentá-lo | Fonte: https://www.facebook.com/MeuOnibusLotado/

Em Porto Alegre, somos governados há mais de uma década pelos lamentáveis Fogaça e Fortunati — eles são prefeitos desde o infeliz dia 1º de janeiro de 2005 com seus partidos PPS, PMDB e PDT — e, basta olhar, a cidade está uma merda, realmente abandonada, Porto Alegre fracassou. Ontem, por exemplo, fui até aquela pracinha que fica na esquina da Vasco da Gama com a Ramiro Barcellos. Zona nobre, cheia de eleitores do Fortunati. E havia ainda árvores do temporal de 29 de janeiro sobre os aparelhos de ginástica para idosos! Infelizmente, eu estava sem celular para fotografar. Também estava sem relógio e com pouco dinheiro. E por que saio assim? Ora, por causa da cidade. O pouco policiamento ocorre por culpa do governo estadual e tenho a sorte de ter passado até hoje ao largo dos ladrões, dos taxistas criminosos, dos tiroteios à luz do dia, das execuções sumárias.

Mas não passo ao largo do receio de que algo de violento aconteça e vejo o resto. O resto é a sujeira das ruas, os Centros Culturais fechando por falta de pagamentos ou agonizando, as notícias cada vez mais dantescas, a falta de resistência e de projetos para a cidade e o estado. Porto Alegre e o Rio Grande do Sul estão efetivamente muito burros e se fazem representar por pessoas de baixo calibre. E não adianta eu me consolar pensando que não votei em Sartori e Fortunati e muito menos em Lasier e Ana Amélia. Nem que aquele meu conhecido pseudo-popular não se elegeu. (Ele me disse que desejava ser deputado em função da aposentadoria).

Como escreveu meu amigo Leandro Gejfinbein no Facebook, a maioria de nossos atuais políticos — à direita e à esquerda — são bundões. O bundão (ou bunda mole) é aquela pessoa sem ação, incapaz de sair de qualquer situação que apresente alguma dificuldade. Se não há criatividade, se não há ideias novas, o que faz o político gaúcho chegar aos cargos de comando são apenas a vaidade, a proteção aos amigos e o direito — tanto pessoal quanto de seu partido — de arrancar uma beira de empreiteiras e outros que tais.

A mentira grassa. Peço desculpas, mas o vídeo da campanha do governador Sartori que mostro abaixo me provoca riso. Não temos humoristas tão bons quanto ele. Vejam o que nos prometeu em termos de segurança.

Enquanto isso, vamo-nos acadelando e engolindo tudo, desde o cais virando shopping, até a violência interna e as contas bloqueadas pela União. Já perdemos os anéis e os dedos.

O negócio é ir pra rua reclamar e, quem sabe, ficar lá por muito tempo.

Ontem, dia do aumento das passagens, Fortunati e Mello (vice) inauguraram lixeiras. Não sei o que ambos têm na cabeça. | Foto: Ricardo Giusti / PMPA
Ontem, dia do aumento das passagens, Fortunati e Mello (vice) inauguraram lixeiras. Não sei o que ambos têm na cabeça. | Foto: Ricardo Giusti / PMPA

Sartori garantiu um sábado à noite triste em Porto Alegre

Sartori garantiu um sábado à noite triste em Porto Alegre
Sartori pensando: "Por que D. Elsa quis que eu fosse governador? | Foto: Ramiro Furquim/Sul21.com.br
Por que D. Elsa quis que eu me tornasse governador? | Foto: Ramiro Furquim / Sul21

Saímos para jantar às 22h. Fomos a um bom restaurante perto de casa, aqui no Bonfim. Ele está sempre lotado. A parrilla ao fundo, a carne bem preparada e a cerveja uruguaia garantem o barulho alegre das conversas. Porém, ontem, quando chegamos, ele estava com as luzes acesas e as portas fechadas. O silêncio era total, parecia uma cerimônia de velório. Dentro, apenas um casal. Já imaginando a resposta, perguntei o que estava acontecendo. “Pouca gente está saindo de casa por causa da insegurança dos últimos dias. Também estamos preocupados, mas podem entrar.”

Pois é, as mortes desta semana e o policiamento rarefeito — e por vezes assassino — apavorou a cidade que está vazia de uma forma esquisita para esta época do ano. A redução do efetivo da Brigada Militar fez o comércio de Porto Alegre adotar medidas para se precaver. As medidas são: fechar mais cedo ou nem abrir. Nunca vi um governante administrar tão mal uma crise. Credo, parece o Planalto!

É estranho. O governo não tem dinheiro, mas suas ações criam um clima que atrapalha o comércio que lhe dá impostos. No mês passado, a arrecadação caiu em 100 milhões. Certamente, vai cair ainda mais este mês, aprofundando a crise. O que é ruim vai ficar pior. Este problema foi cultivado por anos, através de muitos governos. Muitos sabiam e avisaram. O muro que estava longe aproximou-se sem que ninguém tivesse tomado a iniciativa de desviar, seja pagando a dívida quando era possível; seja depois, alterando as regras de pagamento de forma substancial. Orgulho-me de ter sugerido a pauta que gerou a melhor reportagem publicada recentemente em nosso estado a respeito da divida e que comprova o fato de ela ter sido criada por bem mais do que duas ou quatro mãos. Tivemos uma série de governos estaduais ridículos ou razoáveis e todos são igualmente culpados, desde a sumidade que criou a bola de neve, o nada saudoso primeiro governador da ditadura, Euclides Triches. Em seu governo arenista, o crescimento da dívida chegou a 194.4%…

Triches nasceu em Caxias, Sartori em Farroupilha. Nasceram perto um do outro. Não lembro de Triches, mas sei que, no quesito comunicação, Sartori só encontra rival em Dilma Rousseff. Só que ela fala bobagens longamente, enquanto que ele prefere pequenas e exatas frases infelizes. Às vezes ele nem precisa falar, basta dançar que já irrita. E os dois não param. Creio que a recessão federal e a crise gaúcha nos inquietem tanto porque ninguém acredita nas ações de gente tão atrapalhada com as palavras. Tanto jornalista desempregado e ninguém para editar aqueles discursos da Dilma no site do Planalto. E Sartori? Seu staff deve ficar em pânico cada vez que ele pega um microfone.

Hoje, fomos tomar café na outra esquina. Tinha pouca gente na rua, o pessoal está comprando suas coisas no supermercado e sumindo dentro de casa. Os donos dos supermercados devem estar felizes. Só eles pagarão belos impostos. Mas tergiverso. O fato é que estou louco para ir ao cinema. Vou caminhar por nossas ruas tristes.

Se não voltar até a noite, chamem a polícia. Polícia? Bem, sei lá, chamem alguém.

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Recadinho a alguns comentaristas:

policia mata

O desespero de Fernandão pode ser muito útil

Fernandão tenta ver alguma luz no fim do túnel

Ontem, estava almoçando no Sabor Natural, na Siqueira Campos, e me encontrei com meus velhos amigos Leônidas Abbio e Paulo Almeida. O Leônidas me lembrou de uma coisa que eu tinha dito a respeito do Inter e que tinha simplesmente esquecido. Logo após a contratação de Forlán, eu disse que o Inter estava se realmadrilizando. Referia-me ao Real Madrid que, antes de Mourinho, acumulava estrelas e não ganhava título nenhum. Não que seja ruim ter estrelas no time. É que estas, no Inter, sistematicamente são cooptadas a um grupo de semi-aposentados “grandes jogadores” que estão lá há anos e adotam seu estilo. Rapidamente, o jogador caro agrega-se ao grupo de Bolívar e Kléber, o dos jogadores “ricos com biografia”. Este grupo pensa que sua titularidade se dá por decreto e, quando ficam de fora, escolhem se querem ou não sofrer a humilhação do banco. Bolívar, por exemplo, não gosta de assistir o jogo do banco — ou joga ou fica em casa. Nei, Damião e Dagoberto, apesar de mais jovens, também participam do grupo dos velhos, talvez em função de seus altos salários. Índio idem, porém mata-se pelo time em campo e é adequado retirar dele a acusação da tal…

Fernandão chama a isso de “zona de conforto”. Tem razão. Mas não creio ser atribuição sua denunciar o problema. Aliás, ele parece ser o único angustiado. Luigi e seus companheiros de diretoria não estariam também numa zona de conforto? Pois é, o Inter é um clube estranho: tem uma folha de pagamentos que chega aos 9 milhões mensais e uma administração de futebol amadora. Também tem também um incrível respeito pelos jogadores campeões do passado. Eu já sou da opinião de Rubens Minelli, o qual repetia e repetia que futebol era momento e não tinha medo de deixar Batista, Caçapava ou Marinho Perez muitas vezes no banco. Não lembro de Manga, Figueroa, Falcão, Carpeggiani, Valdomiro ou Lula afrouxando o ritmo. Alfred Hitchcock também dizia que seus atores podiam ser substituídos por outros — disse uma vez a um deles que “atores são gado”. Ou seja, eles que obedecessem se quisessem seguir trabalhando com ele.

Mas o Inter tem medo do grupo de Bolívar, que já teve no passado co-líderes como Tinga, Clemer e… o próprio Fernandão. O tratamento com as vedetes é complicado, mas elas têm que ser dobradas. No Inter, há três grupos: o dos jovens, o dos estrangeiros e o dos velhos. A administração do futebol não consegue uni-los para dissolver a liderança dos velhos que moram no tal conforto. Fazendo corpo mole, eles já obtiveram demitir vários técnicos, mas nenhum veio se lamuriar em público, dizendo que nunca sabia se haveria esforço da parte do time e que rezava na beira do gramado para que houvesse interesse. “Eu nunca sei o que vai entrar em campo”. Piada, né? O fato é que nosso excelente grupo de jogadores, ao custo, repito, de 9 milhões por mês, é inútil, e faz uma campanha que, no segundo turno, o coloca na zona de rebaixamento. Nos últimos 9 jogos, ganhamos 6 pontos. (Eu abandonei o Beira-Rio e lhes digo, só volto em 2013). Se seguirmos assim, vamos nos livrar por pouco do rebaixamento. Não, não estou sendo louco, estou apenas olhando os números.

Então, apesar de achar que Fernandão não é técnico de futebol, seu mimimi pode fazer com que alguma coisa se mova internamente. Não, não se pode ser amiguinho de Bolívar e Cia. Ou eles jogam ou vão para onde o treinador os mandar. O próprio Fernandão, em seu patético pronunciamento, elogiou os jovens jogadores e disse que AGORA vai escalar quem se esforça em campo. Agora? Isto é uma confissão da vassalagem de um técnico que até dias atrás justificava tudo, desde as estranhas atitudes de Bolívar ao número incrível de cartões de D`Alessandro e Guiñazú. Não sei, creio que Fernandão devia comprar o confronto. Se hoje, na reapresentação dos jogadores, ele puser panos quentes, recuando de suas críticas, estamos fodidos. Está na hora de dobrar a geração vencedora ou virar a página.

Para os colorados, é o que resta torcer em 2012. Que a briga dê frutos e que venha um 2013 com novas diretoria, comissão técnica e, finalmente, nova dinâmica de grupo.

Sem revisão, tá? Deve ter erros.

Carta de um músico da OSESP sobre a OSB

“Prezados colegas,

Optei por me afastar das discussões sobre os acontecimentos na OSB, por motivos que todos conhecem. Mas lendo algumas mensagens e depois de uma conversa no último sábado com a Léa, preferi me manifestar sobre algumas imprecisões nas informações que os colegas têm sobre nossa reestruturação. Eu sou oboísta da Osesp há trinta anos, fui o presidente da Aposesp à época  da reestruturação e fiz minha dissertação de Mestrado sobre a Osesp,colocando o foco nesse período, tenho informações mais precisas.  Uma colega  menciona no Fórum da Aposesp quatro pontos pouco claros, que são:

1) O nosso maestro foi um dos escolhidos de uma lista tríplice feita pela orquestra.
2) Ele teve o respaldo da comissão da orquestra e de vários músicos para a reestruturação.
3) Nós tivemos 6 meses para nos prepararmos para o teste e a banca era de alto nível sendo que o maestro não fazia parte dessa avaliação.
4) Quem não quis fazer o teste ou não passou, não foi demitido e sim, continuou na Fundação Padre Anchieta tocando na Sinfonia Cultura.

É preciso lembrar aos colegas que o sistema de escolha por lista tríplice foi uma sugestão minha, copiando o modelo existente nas universidades estaduais paulistas e no Ministério Público. É necessário dizer, também, que o nome do Neschling já era sondado antes mesmo do falecimento do Eleazar de Carvalho, sendo que o Secretário de Cultura de então, Marcos Mendonça, já havia se encontrado com ele no Rio. Fizemos depois intenso “lobby” a favor do nome do Neschling, especialmente porque ele estava em alta aqui depois da gravação do “Il Guarany” com o Plácido Domingo.

Após a nomeação do Neschling, houve reuniões para tomarmos conhecimento da proposta do maestro e ver o que seria possível para que o processo fosse mais brando. O que pudemos influenciar, na verdade, foi a proposta de nomes para comporem a banca, pois a reavaliação se tornou inegociável. Tentamos fazer com que não houvesse audições, mas Neschling, mesmo podendo fazer um raio X e saber que músicos estavam ou não aptos para integrarem a nova estrutura de trabalho, ele quis que todos tivessem a mesma chance em audição, pois senão ele poderia ser acusado de ter feito uma escolha pessoal. Os músicos souberam que haveria audições pelo menos seis meses antes, mas teriam que trabalhar até lá. A sorte é que foram cancelados concertos, sendo o último em 23 de abril, e a partir daí tivemos mais tempo para a nossa preparação. O cancelamento dos concertos se deu porque muitos músicos estavam fazendo reuniões e movimentos para cancelar as audições e boicotar a reestruturação. Houve até maestros que se posicionaram contra, acusando o processo de desumano. Houve colegas da Osesp que tentaram destituir a mim e ao Marcelo Lopes da diretoria da Aposesp, com assembléias com muita emoção, desmaios simulados etc.

Fala-se  da composição das bancas nas provas da Osesp e da OSB. As provas da OSB contaram com nomes tão importantes como os que compuseram as bancas da Osesp, mas infelizmente alguns dos convidados cancelaram a vinda, depois dos protestos. Na época da nossa reestruturação isso também aconteceu, sendo que pelo menos um clarinetista italiano, o Carbonari, deixou de vir.  Abaixo farei alista dos convidados e os presentes às audições da OSB.

Há  também  uma informação equivocada sobre a participação do Neschling nas bancas. Ele não participou fisicamente, pois já havia fechado contratos para reger no exterior, mas trouxe pessoas de sua confiança, como o maestro Roman Brogli ,a Brigitte Bolliger, sua esposa à época e o Emilian Dascal, amigo violista de Saint Gallen. O Roberto era somente um dos membros da banca, não participando somente de minha audição. A banca entrava em contato ao fim de cada etapa das audições e fazia um relato completo ao Neschling sobre cada músico, e então ele decidia quem estava ou não aprovado.

A nossa sorte é que tivemos um grupo na Aposesp que apoiava uma mudança de rumo artístico na orquestra, algo raro na maioria das orquestras. Infelizmente a OSB é uma instituição privada, não tendo um lugar para onde transferir os que não fizessem audição, como fizeram a Osesp e a Filarmônica de MG.

Deve-se levar em consideração que um músico que tem ao menos 45 dias sem qualquer atividade na OSB, pudesse tocar o repertório exigido, nada mais do que um concerto tradicional e excertos, especialmente de obras executadas no ano anterior. Que músico não teria condições de se preparar nesse período? Talvez o colega que negligenciou sua profissão por longo tempo. Outros talvez não tenham concordado porque passariam a ter ensaios à tarde; outros porque teriam que sair de outras orquestras, pois o novo regimento exigiria exclusividade, com exceção das atividades pedagógicas. Outros simplesmente não concordam como pelo modo como foi comunicado o processo, ou como ele próprio desenvolvido. Outros porque já são aposentados e estão em idade avançada e sem ânimo para audicionar mais uma vez na vida.

Uma vantagem do processo da OSB em relação ao da Osesp foi a relação contratual. Lá os músicos já seriam contratados com CLT. Eu tive que desistir de um contrato com a Fundação Padre Anchieta, de 16 anos, CLT, com FGTS e 13°, adicional por tempo de serviço, entre outras vantagens, para embarcar num contrato frágil, sem todas vantagens acima mencionadas, que durou quase nove anos.

Pensem, também, nas mudanças positivas ocorridas nos últimos anos na OSB, promovidas pelos conselheiros, diretores administrativo e artístico. Antes eles ficavam de tempo em tempo com salários atrasados, girando em torno de R$ 2.000. Hoje os salários estão em dia e vão de R$ 9.000 a R$ 11.000. Agora atrasos não mais acontecem e eles têm uma programação muito boa. O  Roberto tem perfil empreendedor. Outros bons maestros, como o Karabtchevsky, que já teve força política, oportunidade e verba, no Municipal de São Paulo (orquestra com grande potencial, mas também com enormes deficiências) e em Porto Alegre, não conseguiu transformar esses grupos em sequer boas orquestras, não construiu teatro novo e a programação era muito limitada, de pouca dificuldade técnica, boa, mas fraca em comparação à da Osesp. Há jovens maestros que também são bons instrumentistas, que assumiram orquestras recentemente e não tinham projetos de requalificação artística, somente criando série pops e diziam que iriam manter todos os músicos, independentemente do nível deles, contando somente com a boa vontade e paciência para transformar água em vinho. Enfim, bom-mocismo e jeito “naive”. Nessas horas  concluindo esse ponto, os maiores empreendedores maestros no Brasil são o Neschling, o Mechetti e o Roberto. Eles são perfeitos? Não. Mas têm esse perfil positivo.

Uma coisa  que não pode ser ignorada é a vontade de uma parte considerável da OSB de fazer as audições, sendo que muitos têm sido assediados moralmente e ameaçados de forma violenta por outros colegas contrários ao processo. Também é estranho apoiar certas manifestações por jovens mal influenciados.

Muitos problemas de comunicação aconteceram dos dois lados, houve gente oportunista e outros realmente idealistas. É difícil não apoiar as mudanças artísticas propostas pela direção da OSB, mas também o colega músico se sente no dever de se manifestar apoiando seus colegas que considera injustiçados. O que deve ser evitado, sim, é agir de forma exagerada  emocional e apoiar atitudes pouco “profissionais”, mesmo quando se trata de uma orquestra jovem.

Arcadio

Jurados que vieram;
Michael Faust – flautista da Orquestra de Colônia
Ioan Cristian Braica – contrabaixista da Orquestra de Frankfurt
John Roderick MacDonald – trompetista da Gewandhaus de Leipzig
Mark Timmermann, percussionista do Metropolitan
Fred Pot – cellista da Concertgebow de Amsterdã
Yacov Haendel, engenheiro de gravação, Alemanha
Bart Vanderbogaard, spalla da Orquestra de Roterdan

Jurados que não vieram:
Blair Bollinger – trombonista da Orquestra da Filadélfia
Isaac Duarte – oboísta da Tonhalle de Zurique
Rebecca Young, violista da Filarmônica de NY
Charles Neidich, clarinetista, prof. da Juilliard School

Os da Osesp em 1997:
Issac Duarte
Afonso Venturieri
John Roderick MacDonald
Antonio Meneses
Regis Pasquier
Briget Bolliger
Herbert Meyer
Yves Brustaux
Roman Brogli
David Kreibel”

Marlos Nobre e a crise na OSB: Carta Aberta a Roberto Minczuk

Assim como a Nelson Freire e Cristina Ortiz, que cancelaram seus concertos com a OSB, esse eu também respeito. Marlos Nobre é um enorme compositor e dá sua visão pessoal sobre a crise na OSB. Abaixo, a íntegra de sua Carta Aberta:

Via Marcelo Delacroix

Roberto, estou angustiado ao escrever esta carta, ao ver um regente como você envolvido nesta situação constrangedora e triste.

Você, Roberto, não teve ninguém perto de você para lhe abrir os olhos ante a imensa tolice que foi toda esta situação criada na Orquestra Sinfônica Brasileira?

Eu lhe escrevo como um Maestro e compositor que conheceu um Roberto ainda nos seus 10 a 12 anos de idade, participando do Concurso de Jovens Instrumentistas que organizei em 1974 nos “Concertos para a Juventude” na Rede Globo e Radio MEC. Nele, você se destacou como jovem talento, promissor o bastante para que eu lhe desse de presente uma trompa novinha em folha (a sua, na época era impraticável). Lembro de, anos depois, no seu concerto de estréia como regente da OSB no Rio, ter sido procurado pelo seu velho e honrado pai, com lágrimas nos olhos, me dizendo que aquela trompa estava guardada em um invólucro de vidro, emoldurando a sala de estar da sua casa paterna. Foi extremamente comovente então, ver seu pai visivelmente feliz vendo sua estreia como regente titular da grande e prestigiosa Orquestra Sinfônica Brasileira. Entre outras obras você então dirigiu a Sinfonia “Eroica” de Beethoven. E a nossa OSB respondeu à altura aos seus gestos, dando na ocasião uma intepretação memorável da obra.

São estes mesmos músicos que agora sofrem com a implacável perseguição e ira absolutamente incompreensíveis de você, como diretor da OSB.

Pois bem, Roberto, assim como seu pai, um velho e honrado músico, eu aprendi que não é possível fazer música senão com o espírito leve, aberto, ligado apenas no dever maior de intérprete que é o de revelar a grande mensagem de amor, compreensão universal e respeito mútuo que emanam de toda grande obra musical. Não é possível aos músicos renderem o máximo de suas qualidades, frente à arrogância, à falta de respeito, à imposição, à desumanidade, à inépcia humana de quem está a lhes impor e não a lhes dar condições de criar a maravilhosa mensagem da Música.

Roberto, aquele menino a quem dei uma trompa hoje é motivo da maior decepção que jamais tive em minha vida. Uma decepão profunda e irreversível. Você, e somente você, é o responsável por uma situação inédita na música sinfônica do Brasil, ao submeter uma orquestra inteira a um vexame público demitindo com requintes de crueldade e desrespeito pelo passado deles, mais da metade de seus componentes através de pretextos os mais inaceitáveis possíveis. Nem o pretexto de maior qualidade musical seriam justificação para um tal elevado grau de agressividade humana, artística e pessoal de que são vitimas nossos músicos da OSB. Você não respeita idade, serviços prestados, idealismo nem humanidade. Todos estes valores essenciais nas relações humanas e artísticas vão para o ar em suas mãos, neste momento triste da história da música no Brasil.

A destruição dos ideais que sempre foram a grande força da Orquestra Sinfônica Brasileira, Roberto, você não conseguirá. Aliás, vejo com tristeza que você está conseguindo se destruir de uma maneira tão perfeita, tão definitiva, tão veemente como jamais o maior inimigo seu seria capaz, nem teria tal grau de imaginação destrutiva.

Sua autodestruição me choca pois me parece que você, Roberto, entrou em tal processo negativo sem volta nem retorno, pois sequer se dá conta que, não só no Brasil, mas em qualquer país do mundo onde você entrar no palco, para dirigir uma orquestra, terá como resposta o desprezo e a desaprovação do público e do mundo musical.

Como compositor não desejo que nenhuma obra minha seja jamais executada por este remedo de Orquestra Sinfônica (que me recuso a chamar de OSB pois esta foi destruída irresponsavelmente por você), dirigida por você.

Não autorizo nenhuma obra minha tocada senão pela verdadeira ORQUESTRA SINFÔNICA BRASILEIRA que aprendemos a amar, a reverenciar e a proteger, de desmandos de eventuais passageiros da desesperança, da agressão moral e do desrespeito.

MARLOS NOBRE – 9 de abril de 2011

A Crise do Guion e o próximo Godard

SOS GUION – UM CINEMA VIVE DE SEUS ESPECTADORES

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Amanhã completa uma semana que noticiamos a difícil situação dos Cinemas Guion.

Recebemos muitas mensagens de apoio, que nos motivam a seguir em frente e reverter a situação.

Agora, a permanência dos CINEMAS GUION depende de todos!

Nos CINEMAS GUION todo dia é dia de cinema!

Carlos Schmidt

Não adianta, eu sigo gostando muito de Godard, mesmo do mais recente. O trailer de seu último filme, Socialisme, de 2010, vem sendo amplamente divulgado pela rede. Vi todos, mas achei mais bonita a versão curta. Nos outros, fica claro que Godard segue explorando o som — o filme efetivamente parece uma música contínua, como se o diretor fosse um compositor cujas obras fossem constituídas de colagens de trechos musicais, de ruídos e falas — e as imagens são cada vez mais belas e em perspectivas surpreendentes. Fiquem então com o trailer de que mais gostei:

E com um maiorzinho, também sensacional, que mostra o porte e o caráter de Socialisme:

Fim da linha para Jorge Fossati

A contratação do técnico Jorge Fossati parece ter sido uma aposta. Esta revelou-se tão arriscada quanto apostar na Megasena em certa lotérica de Novo Hamburgo. Agora que o leite está derramado, é fácil dizer para não deixá-lo aberto sobre a geladeira. Alguém vem, abre a porta com força e deu. Fossati cometeu um dos erros mais comuns entre os treinadores: vir com uma planilha na mão e um esquema na cabeça. Ele queria três zagueiros, mas como fazer para acomodá-los junto a dois bons volantes e a laterais laterais? Não funciona. Além disto, vemos passes errados, dinâmica de jogo miserável, defesa desorganizada e ataque de riso.

O Inter de 2010 é um time que parece jogar razoavelmente bem, pois tem bons jogadores, porém sua consistência e contudência é nenhuma. Fico pensando no motivo que leva um time bem formado a errar tantos passes. Há como fazer um time acertar seu toque de bola? Há. Procurei sites sobre formas de treinamento e encontrei uma montanha de estratégias aplicadas por gente famosa — bá, passei a respeitar ainda mais os argentinos, o Marcelo Bielsa e o… Fabio Capello — para que boleiros aperfeiçoem seus passes, para que acertem a marcação por zona, para fazer o toco y me voy, para não tomar gols em escanteios, para fazê-los; enfim, para todos os fundamentos. Fabio Capello, que não é exatamente um mau treinador, diz que a maioria dos jogos são vencidos por quem domina melhor a galeria de fundamentos e garante que raramente vem um Messi, um Zidane ou a sorte para virar tudo de cabeça para baixo.

OK, ele é um chato de um italiano. Mas o que queria descobrir era se tudo — e principalmente o toque de bola — seria treinável se houvesse material humano. Sim, tudo é treinável. Além destes ensaios, há outros privilegiando as características de jogadores. Se um time conta com Nilmar, às vezes não é má ideia dar um bico para frente, porém, se você conta com uma capivara, nem tente porque a bola vai voltar. Então, chute para as lateriais do campo adversário e começa a marcar por pressão lá mesmo, para que a bola demore mais para voltar… E assim por diante.

O que quero com minha argumentação é acusar Fossati de trabalhar errado — refiro-me a esquema, fundamento E dinâmica — e de desrespeitar o estilo natural de jogo que aquele grupo de jogadores do Inter exige. Não sei se eles podem ir muito longe, mas é um fato bastante corriqueiro que um jogadores de defesa devem ter duas opções de passe para sair jogando e nem isso acontece no Inter, onde Guiñazú e Sandro parecem mais sonhadores e irresponsáveis do que os meiase Bruno Silva espera entrar na própria granbde área antes de dar o bote…

Nem vou entrar na batidíssima questão de discutir a insistência com Taison e Edu, a depressão de Kléber, a reserva de Andrezinho. Estas seriam questões pontuais que poderiam ser levadas de roldão por um coletivo aceitável. Acho que, na bagunça atual, só resta trocar de treinador. Lamento muito. Gosto de Fossati pessoalmente, suas entrevistas são boas, há sinceridade ali; ademais, não vejo um grupo desinteressado (à exceção de Kléber), mas não dá.