Adágio da Sonata K. 332 de Mozart e Masterclass da genial Maria João Pires

Não há boas ou más versões, elas são todas más porque não representam nem 1% do que é a música, elas são só uma ideia do que podemos fazer.

Maria João Pires, no início da masterclass abaixo

A portuguesa Maria João Pires é uma grande mestra do repertório clássico e romântico. Após ouvir suas interpretações, fico pensando no quanto ela, Maurizio Pollini e Nelson Freire já acrescentaram a um repertório visitado por todos os monstros do passado, e que apenas são mais formidáveis pelo fato de terem morrido.

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  1. Espetacular, Milton. Masterclasses são experiências extraordinárias. Ainda mais aulas como esta, que trata muito pouco de piano e muito mais de música e de vida. Adorei o que ela fala sobre o tempo e o espaço, e penso em como isso é ainda mais crucial para o pianista clássico, que passa boa parte de sua vida tocando sozinho (pois o repertório para piano solo é infinitamente maior do que o de que qualquer outro instrumento solo), e portanto precisa tomar todas as decisões sozinho, sem dividir com outro, sem toda a riqueza que o “tocar junto” traz consigo não só durante os ensaios mas principalmente na hora da apresentação pública. O piano é, na verdade, esse instrumento todo cheio de particularidades — você precisa ir até ele, e não o contrário; ele é um móvel, fica estático, você não o abraça e manuseia, como os demais instrumentos; você nunca pode levar o seu próprio piano para os lugares, é preciso se adaptar ao que existir no local do concerto; etc.
    Mas digressiono.
    Queria mesmo era te agradecer por me proporcionar um início de domingo tão inspirador quanto este, com Maria João. Não sei se são os hormônios da gravidez ou o quê, mas fiquei com os olhos rasos d’água diante da beleza disso tudo, e de toda a potencialidade que cabe dentro de uma frase.

    1. Belíssimo comentário, Anna.

      A superioridade da música como arte fica muito clara quando Maria João, após dominada toda a técnica faz esforços para explicar o que não tem mais muito explicação: é o fraseado diferente, é a detecção de uma nova intenção, é conseguir avançar um mínimo na iluminação de uma partitura; enfim, é a criação da beleza sobre fatos ou impressões muito mínimas e intangíveis.

      Um beijo carinhoso e um bom domingo.

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