Dia 9: a Bárbara come um english breakfast e quase gosta

Voltamos a Londres. A Bárbara estava meio indignada, pois passara 3 dias na cidade e não tinha visto o Tâmisa. Resolvi acabar de cara com o impasse, mas não sem antes fazer-lhe comer o famoso english breakfast, cogumelos, com seus salsichões gordurosos, feijão adocicado, enorme bacon todo torcido, tomates assassinados como Joana d`Arc, ovos e seu bom chá ou café. A surpresa é que ela gostou do feijão — “parece meio ketchup” –, já o salsichão e os cogumelos foram absolutamente detestados, mas deu para comer, tanto que a refeição seguinte foi só às 18h. O breakfast foi às 10h30.

Em seguida, fomos para Westminster, London Eye e seu contexto, o Tâmisa. Um frio de rachar, acompanhado da tradicional chuva fina, uma delícia. Procuramos a Tate Modern e seus Picassos, Mas Ernst e Turners, mas o querido guia de Londres da Artes e Ofícios nos mandou para a Tate British. Que bom, né? Joguei fora o livrinho, pegamos o metrô e chegamos à Tate Modern, onde ficamos por 4 horas. Depois, Covent Garden e hotel. Estávamos muito molhados e com frio. Amanhã, voltaremos a Camden Town.

Cor local: vir a Londres e não sofrer o English Breakfast é fugir da vida londrina
O Parlamento.
Vocês sabiam que o Big Ben é o sino e não o relógio?
Ah, o Tâmisa, finalmente!
A escultura de Rodin do outro lado do Parlamento.
Tudo visto de outro ângulo — sob chuva e mais chuva, quando voltávamos do equívoco provocado pela página 238 do livro “Londres — Bagagem de Mão” da Artes e Ofícios.
Uma gravura de Magda Cordell no Tate Modern.
Magda Cordell, gosto muito. Depois não tirei mais fotos das obras. É permitido, desde que sem flash.
Vista da sacada da Tate Modern.

Dia 8: Despedida de Praga e retorno a Londres

O último dia em Praga foi melancólico como todas as despedidas de lugares onde fomos um pouco mais felizes. Indico a hospedagem no excelente Hotel Waldstein e também tudo o que fizemos, talvez à exceção do Museu de Artes Decorativas.

No último dia, atravessamos a Ponte Carlos vindos do lado do Castelo de Praga e fomos para a direita, onde ainda não tínhamos ido. Enfrentando o maior frio, logo demos de cara com o Edifício Dançante que, se não chega a ser lindo, é muito curioso. Caminhamos mais e mais e voltamos — como era o esperado — à Praça da Cidade Velha. Ali, a Babi comeu um crepe de Nutella e encontramos um restaurante chamado Brasileiro nas redondezas. Entramos só para olhar. Putz, um garçom empunhava um espeto com uma carne seca de mesa em mesa, a música era forró e o feijão não podia ser mais mineiro. Sincretismo total, mas tudo bem brasileiro, sem goulash. Os caras ficaram encantados por sermos do país, enquanto a gente tentava fugir de lá. A comida tinha cara de ser muito boa e bem feita, mas a gente sai do Brasil para ter outras experiências, não para mais do mesmo.

Depois, conhecemos mais dois museus. Um é o Klementinum, com sua velha universidade e observatório astronômico onde trabalharam Galileu, Tycho Brahe, Kepler e Copérnico. De lá de cima, temos a vista mais espetacular da cidade. Tinha razão a guia do Museu (no Klementinum todas as visitas são guiadas). Depois, fomos ao Museu de Arte Decorativa. Foi a única decepção de Praga. O museu é pequeno e só deixaria o amigo Marcos Abreu feliz: há uma excepcional coleção de relógios antigos.

Depois, neve e neve. Acho lindo, tão lindo que uma senhora de uma loja nos perguntou se não havia MESMO neve no Brasil. Nossa resposta fez-lhe dizer: “É, eu achava que não, mas é inacreditável mesmo assim”.

Ao cair da tarde, o fim da pequena temporada tcheca. Aeroporto e retorno a Londres, onde passaremos mais 9 dias. Chegamos não em Heathrow, mas no aeroporto de Gatwick, a 45 quilômetros ao sul de Londres — um enorme e funcional aeroporto, desses que a gente olha e fica pensando sobre o Brasil. De lá, pegamos um Gatwick Express (trem, 20 pounds para cada um) até a cidade,  na Victoria Station, mas na chegada, às 0h45, desta vez pegamos os metrôs fechados e morremos com um táxi.

A Torre da Ponte Carlos que ainda não tinha fotografado.
Um pouco mais perto.
Mais perto ainda e chega, né?
O Edifício Dançante. Legalzinho, né?
Há coisas nas esquinas de Praga que surpreendem a gente.
Tu olhas pra cima e vê um cara dependurado, por exemplo.
Ou então aparece uma pequena igreja linda no nosso caminho.
Esse crepe da Praça da Cidade Velha é bom demais. Nham.
A vista lá de cima no Observatório do Klementinum.
Olhando para outro lado.
Outro lado.
A dupla dinâmica lá em cima.
Sim, tudo tem vários lados, principalmente uma torre circular.
E ainda tem janelas…
Centenas de relógios de todos os tamanhos — micro, pequenos, grandes e imensos — no Museu de Artes Decorativas. Marcos Abreu, vai lá.
E aí começa a neve.
Mais forte.
A neve gruda nos cabelos da Bárbara.
Fica ainda mais forte.
E, quando vou fotografar novamente minha querida filha…

7 de fevereiro: Praga III, ou o dia em que a Bárbara nos impediu de acabar em Brno

O dia de hoje foi dedicado aos judeus, começando pelo maior e mais importante deles: Franz Kafka. Iniciamos o dia fazendo aquilo que Gilberto Agostinho tinha nos desaconselhado: pegando um táxi, pois o local onde está o túmulo de Kafka resultaria numa caminhada de duas horas, achávamos nós, com razão.

Pedimos ao taxista que ele nos levasse ao novo cemitério judeu de Praga, fundado em 1890. Ele nos disse que a corrida nos custaria 200 coroas checas, algo em torno de R$ 20. Só que ele nos levou ao antigo cemitério, a umas dez quadras depois. Eu disse que não podia ser ali — a geografia de Praga é simples e no terceiro dia qualquer turista já pode apontar este tipo de erro. Mostramos-lhe o mapa e ele fez o sinal de OK, que nos levaria. Ao chegar lá, o preço já era de 450 coroas. Ensaiamos uma reclamação, mas o que fazer?

O que interessa é que o “novo” cemitério judaico é lindo e vale a visita. Já na entrada, há uma placa indicando “Dr. Franz Kafka”. Sim, porque ele era advogado, um doutor. A lápide é das mais simples do cemitério. Bem na frente, em um muro, uma pequena placa, homenagem do traidor Max Brod ao grande amigo de toda a vida. Explico o “traidor”: antes de morrer de tuberculose, aos 41 anos, Kafka pediu a Brod que destruísse todos os seus originais não publicados. A traição de Brod, ao publicar tudo o que encontrou, é que deu a exata noção da grandeza de seu melhor amigo. Se Kafka é o que é hoje, deve-se à sua genialidade e a Max Brod, grande Max Brod!

Na saída de lá, cometi um erro de observação do mapa dos bairros de Praga e, se não fosse a Bárbara, estaríamos em Brno neste momento. Para nos proteger de mim, ela escolheu um tram (bonde) que nos levou certinho de volta ao centro da cidade. Sim, táxis em Praga só para o aeroporto, diz a Primeira Lei de Gilberto Agostinho.

Já que estávamos na onde judaica, escolhemos ir atrás dos itinerários de Kafka na cidade. As referências do autor ao judaísmo não são bem aquelas que um fundamentalista citaria em suas perorações, porém Kafka viveu no gueto, no gueto judeu, onde ficam as principais sinagogas da cidade. Como morreu em 1924, não conheceu os nazistas, mas a geografia da cidade, com os judeus na curva interna do Moldávia, parece facilitar assustadoramente o uso da expressão gueto: o bairro parece ser facilmente encurralável.

Não é meu assunto, mas é notável que Kafka — assim como Machado de Assis em relação ao Rio de Janeiro — jamais tivesse saído de Praga. Pior: segundo testemunhos do próprio autor e de amigos, ele nunca teria se afastado demais de seu bairro. Mas, para quem gosta de paisagens, podemos dizer que seu itinerário era estupendo, incluindo a Praça da Cidade Velha, a Ponte Carlos e a hoje burguesíssima avenida Parizska.

Bem, vamos às sinagogas. Confesso que a religião não me toca muito e que não vi ali a beleza plástica das construções católicas de cidade. Vou um pouco mais à frente para dizer que as poucas mesquitas que conheci eram mais bonitas. Eu e a Bárbara simplesmente conversávamos sobre outros assuntos enquanto visitávamos as sinagogas. Nosso assunto principal era a neve, fato inédito em sua vida e que subitamente ocorrera logo defronte ao monumento de Kafka no bairro judeu.

Depois, voltamos à Praça da Cidade Velha para vermos os grupos de jazz — sim, na rua, sob zero grau –, o movimento do relógio astronômico e algumas exposições. Grande dia. Trago comigo um livro em espanhol sobre os itinerários e vida de Kafka na cidade. Vou ficar ainda mais insuportável.

Algumas fotos de hoje:

O túmulo de Kafka no “novo” cemitério judeu. Dentre os mais simples do local.
Em detalhe.
A tranquila beleza do cemitério onde se encontram os restos de K.
Túmulos e mais túmulos. Sim, é tudo meio bagunçado, mas bonito.
Outra vista em perspectiva, agora para o outro lado.
Algumas (muitas) lápides são bastante exóticas.
A estátua de Kafka na entrada do bairro judeu.
Ah, a neve chegando para a alegria dos brasileiros.
Mais neve!
O velho cemitério judeu, com túmulos de antes do século XIX — há lápides do século XVI — consegue ser muito mais bagunçado.
Vai lá e acha teu ancestral, ô meu!
E queriam nos cobrar para fotografar! Como somos brasileiros, não pagamos e tiramos fotos só de birra.
Jazz congelante — mas excelente — na Praça da Cidade Velha.
Euphoria e…
… as garrafas de absinto.

6 de fevereiro: Praga II

O dia de hoje foi dividido em duas partes, uma muito longa, outra bem curta e a terceira média. A muito longa foi a do Castelo de Praga; a curta, a do Museu Kafka; a média, um Concerto no Rudolfinum.

O Castelo de Praga é, segundo o Guiness, o maior do mundo. É uma fortificação de 570 metros de extensão com largura média de 128 m. Para se ter uma ideia, ele tem mais área do que sete campos de futebol juntos. E haja perna para se chegar lá em cima! Mesmo caminhantes natos, tivemos que fazer dois pit stops nas intermináveis escadarias. Economia máxima, meus sete leitores. Carro, ônibus, o que significa isso? Mas valeu a pena.

A origem do Castelo é medieval, como se poderá notar pela masmorra e pela Basílica de São Jorge, mas ele também possui construções e reformas que foram finalizadas só em 1920. Digo tudo isto para explicar os vários estilos presentes. Logo na entrada, damos de cara com a Catedral de São Vito, construção embasbacante, verdadeiramente impressionante que é vista de toda a cidade.

O livro de Praga do Lonely Planet diz que, se quisermos ver tudo, só passando lá o dia inteiro. Acho que vimos tudo ou quase. Chegamos ao Castelo às 10h e saímos por volta das 16h. Se você cansar no primeiro dia, não há problema: curiosamente, a entrada vale por dois dias. Visitamos também o Palácio Lobkowitz, que tem ingresso à parte por ser privado. Ele pertence à família que, entre outras notáveis realizações de mecenato, disse para Beethoven: “Nós vamos te sustentar até o fim da vida, componha o que quiser”. (Ludwig van era muito jovem na época, nem tinha composto o ciclo de quartetos Op.18, e o habitual na época era encher o qualquer compositor de encomendas para cada ocasião).

Bem, o Castelo de Praga é absolutamente obrigatório. Pequeno e simpático é o Museu Kafka com seu ambiente escuro, muitos manuscritos, fotos e informação. Infelizmente, não se pode tirar fotos lá. Se você gosta de Kafka, vai porque vale a pena.

Também são proibidas fotos na Sala Dvorak do Rudolfinum. Li depois nas dicas do amigo Gilberto Agostinho que ali rolava muito boa música, talvez a melhor de Praga. Digo que li depois porque já tinha notado e comprado ingressos para o Concerto do Quarteto Zemlinsky. Começou com Beethoven — justo o citado Op. 18, Nº 1 –, depois seguiu com o excelente Quarteto Nº 3 de Martini e terminou com um Quarteto de Mendelssohn, o Op. 44, Nº 2.

Algumas fotos do dia:

A porta de entrada da Catedral de São Vito.
A foto não demonstra quão alta é Catedral.
Talvez, comprando com as pessoas, tenha-se uma ideia.
Internamente…
Um dos ângulos de Praga lá de cima.
Outro…
Novamente, a comparação com o tamanho das pessoas.
A saída — e de entrada — do Castelo de Praga.
Bem, há duas estátuas de homens mijando bem na frente do Museu Kafka.
Vejam como o púbis é móvel, permitindo ao cidadão balançar seu membro de um lado para outro.
Fiquei interessado.
Mais uma estátua da Ponte Carlos.
As pombas cagam nas cabeças dos santos.
Muita gente que passa na Ponte Carlos, passa a mão neste cachorrinho…
… e nesta mulher. Ignoro o motivo. Deve dar sorte.
E voltamos à Catedral de São Vito, que é vista de toda a cidade.
E finalizamos com a fachada do Rudolfinum, local do Concerto que assistimos hoje.

Os 50 maiores livros (uma antologia pessoal): XIII – Breve Romance do Sonho, de Arthur Schnitzler

Pequena obra-prima do austríaco Schnitzler (1862-1931), a história de Breve Romance de Sonho (1926) é mais conhecida na versão de Stanley Kubrick, que o transformou no filme De Olhos Bem Fechados, título bastante adequado a este curioso livrinho de cem páginas. Não é uma história pânica, é a história de um pânico, de um enorme pânico. Sem revelar inteiramente a trama, vamos em frente.

O médico Fridolin e sua mulher, Albertine, são jovens, belos e bem sucedidos. Formam uma família exemplar, eles e sua querida filhinha. Então Albertina revela a seu marido uma fantasia sexual com amigo do passado, um quase-amor, e a vida de Fridolin vira pelo avesso. Ele passa a agir como num sonho, à procura de sexo e problemas. Para piorar, a mulher, no outro dia, conta-lhe um sonho sobre um bacanal em que o marido é condenado à morte. Freud era um dos admiradores de Schnitzler e deste novela absolutamente brilhante em expor o medo e a questão de até onde deve ser levada a intimidade dos casais. A partir de uma simples revelação, tudo o que sustinha a relação parece ter perdido subitamente o sentido. Paradoxalmente, o medo faz Fridolin perder qualquer receio da morte — ao contrário, ele parece procurá-la demorando-se em aventuras pelas ruas e criando fantasias de um retorno impossível à felicidade burguesa anterior.

Talvez as temáticas psicológicas propostas pelo autor vienense ainda no tempo de Freud possam estar cientificamente superadas, mas, na verdade, isso é o que menos importa. A arte de Schnitzler ao descrever as reações de Fridolin é arrebatadora, de um virtuosismo absoluto, que torna a leitura desta Traumnovelle uma das coisas mais fascinantes que conheço.

5 de fevereiro: Praga I

Saímos do hotel ali pelas 10h30 e voltamos às 19h30. Acho que caminhamos, subimos escadas e vimos exposições por todas as nove horas, só parando para um lanche às 14 e o jantar às 19h. E Praga tem ladeiras. Chegamos há pouco meio mortos ao hotel. Antes do Castelo de Praga, uma visita fundamental na cidade juntamente com a Ponte Carlos e a Praça do Relógio Astronômico, resolvemos fazer um enorme passeio a pé, como já disse. Nenhum arrependimento.

Fomos da Ponte Carlos ao Rudolfinum, depois para a Praça da Cidade Velha com seu Relógio Astronômico, daí fomos ao Museu do Comunismo e para a Praça de São Venceslau, descesmos a rua e nos perdemos, o que parece ser bom negócio nesta cidade linda, caminhamos longamente pela beira do Moldávia sob um frio de rachar, observando cada ponte e acabanos no Museu Medieval de Instrumentos de Tortura… Vimos mais coisas que seria impossível de citar e algumas de nossas fotos estão abaixo.

Hoje, foram 100 fotos minhas e outro tanto da Babi. Sem muito tempo para escolher, selecionei as que me pareceram as melhores à primeira vista.

As fotos da Ponte Carlos, um dos lugares mais belos que já vi, são injustas. Deixo então apenas uma amostra de uma das dezenas de esculturas presentes junto de seus muros. Se Praga fosse somente a Ponte Carlos, já teria valido a pena, mas é muito mais.
Os pedintes de Praga são de grande pungência. Ajoelham-se, não mostram o rosto, ficam na posição da foto. Todos eles. Não são muitos, mas são sempre assim. São a imagem da humilhação.
O incrível Relógio Astronômico.
Foto tirada do alto da Torre do Relógio. Cidade feia, não?
Bárbara observa o porvir para o qual Lênin aponta.
Mas parece um pouco desconfiada.
Agora ninguém ganha de mim no quesito “fotos comunistas”. Tenho muitas!
Ironicamente, o Museu do Comunismo fica sobre um McDonalds e um Cassino, no primeiro andar.
Olha, aqui em Praga tocam Villa-Lobos… Será que seus herdeiros, tão cônscios na não divulgação da obra do mestre, sabem disso?
Sei lá, gostei desta esquina em frente do Teatro Rudolfinum.
Então a Babi se virou e fotografou um palhaço na escadaria do Teatro.
Este é um Museu de três andares repletos de instrumentos de tortura.
Tudo feito em nome de Deus, com fantástica imaginação. Tanto que já sei com o que vou sonhar hoje. IMPRESSIONANTE.
O aspecto de uma ruela próxima ao Museu Kafka.
Estátua ao lado de um certo Teatro de Praga. Ali, ocorreu a estreia de uma das maiores obra-primas que a humanidade possui:
Don Giovanni, de Wolfgang Amadeus Mozart, com libreto de Lorenzo da Ponte.
E, para finalizar, nossa volta ao hotel através da Ponte Carlos, claro.

Dia 4: Londres e chegada em Praga

Foi um dia perfeito iniciado em Londres — para onde voltaremos sexta-feira — e finalizado em Praga. Começamos pelo Museu de História Natural que não tínhamos conseguido ver no sábado. Realmente, o número de pessoas do Museu é muito menor nas segundas-feiras e conseguimos fazer uma visita muito satisfatória, explorando coisas que eu não consegui em novembro de 2011. Então, uma dica: segundas-feiras às 10h, Charles Darwin está livre, sem grande ocupação. Digo isso porque é uma visita imperdível com seus incríveis dinossauros e animais em extinção. Duvido que qualquer criança que o visite — e por lá há hordas delas com suas professoras — saia dali pensando que o criacionismo seja algo sequer a ser considerado. Vale por mil aulas de biologia e os ingleses aproveitam, largando meninos e meninas que correm felizes pelo museu, principalmente quando veem o T. Rex se mexendo, efeito que as fazem urrar de felicidade. Lindo, lindo.

Depois voltamos para o hotel e pegamos nossas coisas para vir à Praga. Tudo certo. A easyJet foi pontualíssima. A chegada ao aeroporto de Praga vem com uma dica nossa: você pode tomar um táxi no aeroporto mesmo, eles não são muito caros. Porém, aqui em Praga, nunca tome táxis na rua (eles cobram o que querem, a cidade é famosa por isso, infelizmente). Sempre marque táxis por telefone ou pela internet (do aeroporto não é necessário, eles estão sempre lá e basta você achar um da companhia AAARadioTaxi . Meu amigo, o compositor erudito Gilberto Agostinho, que mora em Praga há vários anos, ensinou: “a AAA é ótima e te traz do aeroporto até o hotel por volta de uns 40 ou 50 reais – 10 coroas = 1 real). Vale a pena, principalmente porque éramos dois e pagaríamos a mesma coisa se comprássemos duas passagens de ônibus.

Nosso hotel, o Waldstein, revelou-se muito antigo e inteiro o suficiente para tocar nosso coração, além de ter um Wi-Fi impecável, excelente banheiro e calefação. Estamos muito bem instalados ao lado da ponte Carlos e a cidade vista do carro me pareceu espantosa. Logo após largar as bagagens, fomos ao restaurante indicado pela dona do hotel, o U Mesenase. Era uma coisinha de nada, a cinco minutos do hotel e, quando fomos para lá, erramos o caminho e, após menos de cinco minutos, entramos na sem querer na Ponte Carlos… Demos meia volta e encontramos o restaurante. Estamos muito bem localizados.

A comida era maravilhosa e a Bárbara chegou a dizer para a dona — It was REALLY good! — e tinha sido mesmo. O prato dela era algo de se comer de joelhos e o meu quase isso. O da babi era um filé com molho de espinafre muito bem temperado. O meu era uma truta. Mas os elogios não param por aí, pois hoje bebi a melhor cerveja de minha vida. Não sou um especialista para poder dizer que a cerveja de Praga é a melhor do mundo como muitos dizem, então fico por aqui: foi a melhor que já bebi e, pasme, a garrafa de água custa 110 coroas – 11 reais, um absurdo – e a de cerveja custa 90. Entenderam as possibilidades matemáticas da coisa?

O dinossauro preferido da Bárbara quando criança… O tricerátops!
O T. Rex que se mexe. As crianças ficam arregaladas, piram, é melhor olhar para elas do que para o bicho.
Como ele se mexe demais e a máquina não é boa, já viram.
Esse é um dos peixas mais sacanas que existem, o tamboril.
Na parte mais calma, minerais e minerais com bichos incrustados neles.
Uma tartaruguinha de milhões de anos…
O dinossauro da entrada do Museu, chamado carinhosamente de Dippy.
Só que o tamanho da cabeça de Dippy não nos faz pensar em muito cérebro, né?
E um estupendo final de dia no improbabilíssimo U Mesenase.

3 de fevereiro: Londres (Camden Town)

Hoje, fomos à Feira de Camden Town. Logo de cara, a Babi saiu dizendo que “estou achando isso aqui muito a fudê”. Ficamos por umas cinco horas em Camden Town. A feira vende comidas de todas etnias, roupas para punks, roqueiros e clássicas, mas antes de tudo é um lugar muito alegre e original. (A linha está caindo e não sei se terei muito tempo para explicar). Ela comprou algumas roupas bem no seu estilo, mas o principal, acho, foi ter conferido o quanto uma cidade pode ser viva, cosmopolita e com muitas coisas acontecendo em diversos locais da cidade ao mesmo tempo.

Depois, caminhamos por Piccadilly Circus e Charing Cross Road, ou seja, pelo centrão de Londres, sempre lotado de gente, apesar de estar uns 5 graus. E me despeço antes que a linha caia.

Em Camden Town, um rapaz lê a Odisseia de Homero para o público.
Metros e metros da gastronomia de todos os lugares do mundo.
As antigas estrebarias de Camden são usadas pela feira.
Na Royal Academy of Arts, uma exposição de Manet que devemos ver.

2 de fevereiro: Londres

O rebote do dia anterior fez-nos começar mal o dia 2. Acordamos só às 11h. Fomos direto ao Museu de História Natural, templo de Charles Darwin. Havia muita gente na entrada, mas como ele é imenso, achamos que ia dar para uma boa visita. Engano. Deu para uma caminhada curta, poucas fotos e para um lanche. Só. Era tanta gente que mal conseguíamos caminhar. No restaurante, conhecemos dois goianos que moram em Londres, o Edson e a Andréa. Estão satisfeitos na cidade, ele mais do que ela, pois tem emprego fixo num supermercado e ganha bem. Então, como o Museu estava um atrolho e era sábado, digo-lhes que este dia da semana é inviável no Museu de História Natural.

Na entrada, minha filha Bárbara, observava: “Essas pombas daqui são do bem, se aproximam numa boa. As de Porto Alegre estão formando gangues. Qualquer hora dessas, a ZH vai noticiar que há pombas assaltantes em Porto Alegre. Classe média sofre, pai”.

Adiamos a visita à Darwin e formos ao Victoria and Albert Museum, bem ao lado. Maravilha. Uma bela e necessária ida a um Museu fundamental da cidade. Como os ingleses trouxeram tudo aquilo demonstra um apetite para a pilhagem que vou lhes contar. E há o British para ver, ainda.

Depois saímos para uma caminhada, Zara e metrô até a Igreja de Saint-Martin-in-the-Fields — em frente à Trafalgar Square — , onde assistimos a um concerto perfeito que constava de uma única peça, a Pequena Missa Solene de Rossini. Executada com a instrumentação original e com cantores e coral impecáveis, saí de lá nas nuvens. A Bárbara me disse que achou bonito, reconheceu a notável qualidade acústica do local, sentiu que os caras cantavam bem demais, mas que aquilo tudo não chegava a emocioná-la. Preferia algo apenas instrumental. Já eu fiquei ao lado dos ingleses que aplaudiram muito — dentro de seu contido padrão habitual — ao grupo.

E depois terminamos o dia num pub, o primeiro da Bárbara.

(As fotos da máquina da Bárbara, a boa, estão indisponíveis. Ela esqueceu do recarregador em Porto Alegre. A qualidade das fotos vai baixar…).

Vista do The National Gallery desde a Trafalgar Square.
Fish and Chips and Guiness
O primeiro pub a gente nunca esquece…
O consumo de álcool tem efeitos conhecidos.

1º de fevereiro: Roma e uma pequena aventura em Londres

Dia complicado e cansativo, nossa! Eu e minha filha Bárbara tínhamos saído de Porto Alegre no dia 31. Neste dia tivemos que chegar ao aeroporto cedo, muito cedo, a pedido da Casamundi. Acho que foi excesso de zelo, mas tudo bem, melhor o excesso do que a falta. De Porto Alegre, fomos ao Rio de Janeiro e de lá saímos para Roma pela Alitalia. Não é que estivesse quente dentro do avião, é que era o verdadeiro inferno. A Bárbara mal dormiu, eu consegui umas duas horas de sono. Queria tirar a camiseta que usava e ficar sem camisa, mas temia que aqueles italianos — incrivelmente de terno — me jogassem para fora do avião.

Chegamos a Roma 40 minutos antes do horário previsto. E demos graças ao Diabo pela franquia destes preciosos minutos. A sugestão de pegarmos o serviço de ônibus da TerraVision revelou-se sensacional. Pegamos o ônibus antes do previsto e a viagem de Fiumicino a Roma foi absolutamente rápida e confortável. Chegamos a Cidade Eterna pelas 8h da manhã e, talvez pela raiva pela péssima noite, resolvemos fazer um turismo doido. Saímos do terminal de ônibus da via Marsala e decidimos: vamos fazer todos os principais monumentos a pé. E começamos a infantaria: Coliseu, Piazza Navona, Fontana de Trevi, Panteon, Vittorio Emmanuelle (aquela máquina de escrever horrível) e ainda fomos ao Musei Capitolini, que eu desconhecia e ao qual fui indicado pela Bárbara. Valeu muito a pena.

O resultado de alguns quilômetros de caminhada e de alguns equívocos de percurso, mais a noite mal dormida, foi um enorme cansaço. Além disso, a Babi estava com as pernas doloridas e eu com dor nos pés… Mas chegamos de volta à via Marsala e depois ao aeroporto de Fiumicino. O voo para Londres — novamente pela Alitalia — foi também a uma temperatura de banho, mas sem água.

Londres começou com uma missão ao estilo 007, só que jamais a imaginávamos. Chegamos no horário previsto das 23h05, mas a imigração, as malas e o enorme aeroporto fizeram com que nós ficássemos liberados quase à meia-noite. Quando perguntei pelo serviço de trem que nos levaria a Paddington Station, fiquei sabendo que este não existia mais, mas que poderia ir a Earl`s Court, local de nosso hotel, de modo muito mais tranquilo, pelo metrô, que aqui é chamado simpaticamente de Underground para diferenciar dos outros trens. Melhor ainda, não? Claro, só que eram 23h57 e o último trem sairia de Heathrow às 24h. Até agora não sei como conseguimos correr até o guichê automático — pois não havia mais atendentes na estação –, enfiamos o cartão Diners na máquina que cuspiu duas passagens e entramos a tempo no trem. Não sei. Só sei que um funcionário do metrô se compadeceu de nós e não apenas operou o equipamento como abriu todas as cancelas até a porta do trem. Isto é, compramos as passagens, mas não as utilizamos. Sim, estamos entre polite, and very good people. Se não fosse a política externa deles…

Então, aí vai a nossa segunda dica — a primeira foi a TerraVision: nunca chegue tão tarde a Londres, a não ser que queira gastar os tubos com um táxi de Heathrow até a cidade.

A 1h da madrugada estávamos chegando ao fim de nossa longa viagem: entrando no easyHotel, hotelzinho de quartos diminutos, mas de preço muito bom, daqui em Earl`s Court. Olha, nunca um banho foi tão libertador.

A Bárbara ornamentada por uma lasca de Coliseu.
As lojas de moda eclesiástica. Presenteie seu padre preferido.
Essa foto deu certo, né? É do teto do Panteon.
O Panteon por fora.
Jornalismo Sul21; protesto dos funcionários da RAI. Eles estão amordaçados, mas um deles ainda fala.
E como!
Sem Anita Ekberg e com demasiada luz.
O que é IMU?
Olhei, olhei e não sei como o cara fica ali. Não há fios, nada.