Fiquei sem luz desde às 22h de sexta-feira até domingo às 19h. Sim, sou um felizardo porque tem ainda muita gente sem luz. A geladeira ainda não fede, acho. Todas as vezes que a abri, fui programado para pegar rapidamente isto ou aquilo e garanto que não fiquei 5 segundos com a porta aberta. Verei o resultado daqui a pouco, com meu nariz. É claro que tenho opiniões sobre o que aconteceu. Mas agora, vamos apenas a algumas fotos.
Estava sozinho em casa — ainda estou –, a Elena está na praia até terça. E isto foi o que vi quando abri a porta do prédio sábado pela manhã.
Ao fundo, o Ed. Riograndense com erro de português. Esqueceram o hífen.
Acho que a prefeitura deve providenciar uma nova mudinha, não?
Aqui, minha visita à ex-rua mais bonita de Porto Alegre (sempre tive dúvidas, mas vá lá).
À esquerda, o Shopping Total.
Esta é uma visão da mesma Gonçalo de Carvalho, só que voltada para a Santo Antônio.
Ao fundo, o Shopping Total. A foto foi tirada daquela pequena rua perpendicular que desemboca na Gonçalo.
Quando caminhei pela Gonçalo em direção à Ramiro, começaram a aparecer os carros estacionados. Todos eles com marcas de árvores, amassamentos, vidros quebrados, etc.
O simpático restaurante indiano da Santo Antônio tinha este aviso.
Descendo a Sto. Antônio em direção à Redenção, outra árvore caída. Notem que a menina quase caiu também, de tanta vontade de aparecer neste conceituado blog.
Já na Redenção, o coqueiro aponta para nossa rua.
Árvores e mais árvores abatidas.
Entrando na Redenção…
Entrando ainda mais…
E agora, algo curioso. Os pássaros, que normalmente ficam nos galhos…
resolveram descer para se alimentar do que antes estava lá em cima.
Destituídos de seus lugares e certamente indignados, não tinham nenhum receio deste amigo de vocês.
Vim do inferno, o que criou nova forma de conviver com a vida; e, pela mesma razão, uma nova forma de romance.
Dyonelio Machado
— Mas por que seus livros estão sendo tão procurados e estudados agora? — perguntou a Dyonelio um leitor no final dos anos 70.
O escritor, que procurava um livro num sebo da Riachuelo, respondeu:
— Foi porque eu morri. Alguns escritores são reconhecidos só depois de mortos. Há vários tipos de mortes. Uma delas me pegou, fazer o quê?
— Uma boa morte, pelo visto.
— Meu filho, não existe morte boa.
Os Ratos, de Dyonelio Machado, completa 80 anos em 2015. O pequeno romance é um dos mais importantes da literatura brasileira. A história se passa durante um dia, são 24 horas de completa angústia para o personagem Naziazeno Barbosa em sua preocupação sobre como arranjar dinheiro para quitar uma dívida com o leiteiro.
O título Os Ratos é uma referência ao pesadelo do protagonista da história que, depois de ter conseguido o dinheiro para saldar a dívida, sonha que ratos estão roendo o dinheiro que ele deixara à disposição do leiteiro sobre a mesa da cozinha.
Até os anos 60, o leite era entregue na porta das casas das pessoas. Uma das opções era deixar a garrafa de vidro vazia na porta para que o entregador a trocasse por outra cheia. Funcionava um caderninho: num dia combinado antecipadamente, o leiteiro batia e cobrava os atrasados, “passando a régua”. Ou deixava-se a porta aberta para que o leiteiro deixasse o produto na cozinha. O desenrolar do drama do funcionário público endividado e com vergonha de olhar os credores atravessa os capítulos e enche de angústia o leitor. O dinheiro do leite, a doença do menino, a fome de Naziazeno… E enfim, o empréstimo salvador. Porém, ter conseguido o dinheiro para quitar a conta do leite é apenas o início de uma nova dívida, a expectativa de mais um dia caminhando atrás de uma solução.
O romance inicia com o ultimato do leiteiro. Ele suspenderá o fornecimento de leite caso não receba o pagamento até o dia seguinte. Ao final do dia, mesmo o descanso de Naziazeno não é verdadeiro. O triste e diminuto papel do protagonista no mundo é contado sem sentimentalismos pelo texto Dyonelio, altamente coloquial. O escritor nos envolve no drama do protagonista através dos pensamentos do personagem principal. A reviravolta na narrativa ocorre quando, ao anoitecer, pensamos que o caso está encerrado, mas tudo retorna nas angustiadas lembranças dos movimentos do dia, agora observado sob novos ângulos.
Dyonélio Machado escreveu Os Ratos em vinte noites, logo após chegar do trabalho como médico. Dormiu muito pouco naqueles dias e, cedo, deixava o que escrevera à noite para sua mulher fazer a primeira revisão. “Todo o livro estava muito claro para mim, porque eu havia passado nove anos pensando nele, nove anos pensando nesse livrinho. Então eu saía para atender os doentes, no hospício onde eu era médico e nos dois hospitais onde também trabalhava, e, após tudo isso, ia para casa e começava a escrever. Depois de minha mulher revisar eu levava as folhas para uma mocinha que era empregada da Livraria do Globo, a principal de Porto Alegre, e que tinha sido indicada pelo Érico Veríssimo. Ela datilografava o trabalho. Num dia, eu levava umas folhas manuscritas e pegava outras datilografadas, e assim o trabalho ia avançando. Numa dessas vezes ela perguntou: ‘Escute, doutor, o Naziazeno vai ser feliz?’ Eu lhe respondi: ‘Leia tudo, que você vai ver’. Foi assim que eu descobri que tinha um romance”.
Os Ratos enquadra-se no chamado Romance de 30: denominação dada ao conjunto de obras de ficção produzidas no Brasil a partir de 1928, ano de publicação de A Bagaceira, de José Américo de Almeida. É um romance social por excelência. O drama urbano da classe média baixa encontra protótipo perfeito na figura de Naziazeno Barbosa, um homem fragilizado pela incapacidade de cumprir um papel necessário no caos social em que vive.
Os Ratos costuma ser colocado lado a lado de Angústia, de Graciliano Ramos. Há coincidências que ligam os romances. São duas narrativas de estéticas inovadoras, mas que têm muito em comum. Ambas são muito sérias e densas, ambas trabalham com o psicológico dos personagens, ambas têm parentesco com Crime e castigo de Dostoiévski e, para terminar, ambos os autores foram comunistas e ambos foram presos em meados dos anos 30.
Em 1935, Dyonélio recebeu o Prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras por Os Ratos. Soube da premiação quando estava preso, incomunicável, no porão de um navio estacionado no porto de Santos. Apesar disso, um amigo conseguiu lhe avisar do fato.
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Dyonelio Machado nasceu em Quarai, RS, em 1895. Político, psiquiatra, jornalista e poeta, aos 12 anos já trabalhava no semanário O Quaraí. Em 1911, fundou o jornal O Martelo, onde deixa clara sua adesão ao comunismo. Em 1929, formou-se médico e estudou psicanálise, constituindo-se num dos responsáveis pela divulgação da nova disciplina no Rio Grande do Sul. Em 1934, traduziu a obra Elementos da psicanálise, de Eduardo Weiss, livro fundamental na área.
Dyonelio Machado dividia-se entre a política, a psiquiatria e a literatura. O interesse pela última foi demonstrado por seu primeiro livro de contos – Um pobre homem – publicado em 1927. Depois viria sua mais importante obra, Os ratos, de 1935, e O louco do Catí (1942), outro romance clássico do autor. Sua obra foi reconhecida tardiamente, tendo recebido destaque nos meios acadêmicos apenas a partir da década de 80. Foi ainda um dos fundadores da Associação Rio-grandense de Imprensa (ARI) e, mais tarde, colaborador dos jornais Correio do Povo e Diário de Notícias, de Porto Alegre. Em 1946, com Décio Freitas, fundou o jornal Tribuna Gaúcha, porta-voz do Partido Comunista Brasileiro.
Membro do PCB, em 1935 foi acusado de atentar contra a ordem política e social ao trabalhar para a realização de uma greve de gráficos. Solto mediante sursis, voltou a ser preso no mesmo ano, em razão da Intentona Comunista. Suas posições ideológicas custaram-lhe dois anos passados na prisão. Mas seguiu fazendo política, tanto que foi deputado constituinte pela Partidão e, em 1947, com o PCB na legalidade, elegeu-se deputado estadual, tornando-se líder da sua bancada na Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul.
Em 1956, numa entrevista para o jornal A Hora, disse: “Se algum conselho eu tivesse o direito de dar aos jovens, seria de que a vida deve ser vivida com indiferença”. E, pouco antes de morrer, Dyonelio concedeu uma longa entrevista para Julieta de Godoy Ladeira onde fez uma declaração que sempre surpreende os que tem contato com seus bem cuidados textos: “Não releio o que faço. Meu narcisismo nasce e morre à primeira e única revisão”.
Dyonélio Machado faleceu em 1985, aos 90 anos.
Fontes:
— História da Literatura do Rio Grande do Sul, de Guilhermino Cesar
— O Pensamento Político de Dyonélio Machado, publicação da Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul, Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul
— Tiro de Letra
— Passeiweb
Quando David Gilmour passou por Porto Alegre, li coisas muito equivocadas a seu respeito. Ele seria uma espécie de tranquila divindade que habitaria uma nuvem cor-se-rosa, acompanhado por sons de Enya e de baterias sussurrantes ao estilo de Nick Mason, fazendo apenas fi, fi, fi. Sim, claro, forcei a barra, mas o som do Pink Floyd muitas vezes é assim mesmo e deve ser este o motivo de tais descrições embevecidas. Ele moraria dentro de uma redoma de competência, colhendo a nata para devolvê-la perfumada a seus milhões de fãs. É óbvio que há várias formas de prazer, inclusive as mais eruditas, mas dei risada, porque as descrições pareciam caracterizar algo como um bom filtro de cerâmica. Esta comparação é válida em razão de os textos dizerem que tudo o que ele tocava ficava tranquilo e de bom gosto. Não pareciam descrever um roqueiro.
Lembrei destas críticas hoje pela manhã e resolvi demonstrar como Gilmour — um baita músico — pode também tocar uns rocks rápidos, dançáveis e barulhentos dos anos 50 e 60, sem maiores problemas ou grande poesia, apenas como diversão. Em 1999, Paul McCartney lançou Run Devil Run, um álbum de estúdio que contém covers de canções de rock and roll do final da década de 1950 e três novas de McCartney, escritas no mesmo estilo.
A banda tinha Paul McCartney (baixo), David Gilmour (guitarra), Mick Green (guitarra), Ian Paice (do Deep Purple, bateria), Pete Wingfield (teclados). Abaixo, o show de 46 min que fizeram no Cavern Club. David Gilmour também sabe se divertir — e ganhar uma grana –, ora.
A relação de canções:
“Honey Hush” (Joe Turner)
“Blue Jean Bop” (Gene Vincent/Morris Levy)
“Brown Eyed Handsome Man” (Chuck Berry)
“Fabulous” (Harry Land/Jon Sheldon)
“What It Is” (Paul McCartney)
“Lonesome Town” (Baker Knight)
“Twenty Flight Rock” (Ned Fairchild)
“No Other Baby” (Dickie Bishop/Bob Watson)
“Try Not to Cry” (McCartney)
“Shake a Hand” (Joe Morris)
“All Shook Up” (Otis Blackwell/Elvis Presley)
“I Saw Her Standing There” (Lennon–McCartney)
“Party” (Jessie Mae Robinson)
Lindo texto de Virginia Woolf que roubo desavergonhadamente do perfil do Facebook de Gustavo Melo Czekster. Confesso que fiquei meio confuso com as aspas, mas é óbvio que isto se deve à minha incurável estupidez:
Ontem reli este ensaio magnífico: o momento em que Virginia Woolf fala da sua admiração irrestrita por Montaigne, e consegue ser quase superior ao filósofo francês. Para mim, o centro do texto ainda está em uma frase: “enquanto houver tinta e papel, “sem cessar e sem fadiga” (III, 9), Montaigne escreverá.” Mas o resto é igualmente bonito:
“Há pessoas que, quando viajam, se fecham em si mesmas, “protegendo-se do contágio de um ambiente desconhecido” (III, 9), em silêncio e desconfiança. Quando comem precisam ter o mesmo tipo de comida que têm em casa. Qualquer visão e costume é ruim a não ser que se assemelhe aos de seu próprio vilarejo. Viajam apenas para voltar. É a maneira mais errada de abordagem. Devemos começar sem nenhuma ideia fixa sobre onde vamos passar a noite, ou quando pretendemos voltar; o caminho é tudo. Mais necessário que tudo, mas sorte das mais raras, devemos tentar encontrar, antes de partir, algum homem de nossa própria classe que vá conosco e a quem podemos dizer a primeira coisa que nos vem à cabeça. Pois o prazer não tem nenhuma graça a menos que o partilhemos. Quanto aos riscos – que possamos apanhar um resfriado ou ter uma dor de cabeça – sempre vale a pena arriscar uma doença passageira em nome do prazer. “O prazer é uma das principais espécies de proveito” (III, 13). Além disso, se fizermos o que gostamos, sempre faremos o que é bom para nós. Médicos e sábios podem ter as suas objeções, mas deixemos os médicos e os sábios com sua própria e triste filosofia. Quanto a nós, que somos homens e mulheres comuns, vamos dar graças à Natureza por sua generosidade, usando cada um dos sentidos que ela nos deu; variar o nosso estado tanto quanto possível; voltar ora este lado, ora aquele, para o calor, e saborear ao máximo, antes que o sol se ponha, os beijos da juventude e os ecos de uma bela voz cantando Catulo. Todas as estações são desfrutáveis, e dias úmidos e dias lindos, vinho tinto e vinho branco, companhia e estar só. Mesmo o sono, essa deplorável redução do prazer da vida, pode ser pleno de sonhos; e as ações mais comuns – uma caminhada, uma conversa, ficar só no seu próprio pomar – podem ser intensificadas e iluminadas pela associação da mente. A beleza está por toda parte, e a beleza está a apenas dois dedos de distância da bondade. Assim, em nome da saúde e da sanidade, não descansemos no fim da jornada. Que a morte nos surpreenda plantando nossas couves, ou no lombo de um cavalo, ou nos permita escapulir para alguma casinha no interior onde estranhos possam fechar os nossos olhos, pois um criado soluçando ou o toque de uma mão nos deixariam arrasados. Melhor ainda, que a morte nos encontre em nossas ocupações normais, entre moças e bons camaradas que não façam nenhuma declaração ou lamento; que ela nos encontre “entre os jogos, os festins, as brincadeiras comuns e populares, e a música, e versos de amor” (III, 9). Mas chega de morte; é a vida que importa.”
Ela foi inaugurada em dezembro e seu formato permite que o motorista e passageiros vejam toda a paisagem em 360º. A ponte circular liga os departamentos de Rocha e Maldonado sobre a Laguna Garzón, local que marca a divisão entre os dois departamentos. Ela tem 103m de diâmetro e 323m de comprimento que poderão ser percorridos de carro, bicicleta ou a pé.
“O conceito da ponte Laguna Garzón é o de transformar uma travesseia tradicional em um momento de redução de velocidade no qual as pessoas poderão ter a oportunidade de ver uma vista panorâmica de uma paisagem linda. Ao mesmo tempo, existe um espaço destinado aos pedestres e bicicletas no centro”, disse o arquiteto Rafael Viñoly, autor do projeto.
Grêmio e Inter não fizeram grandes contratações. Com as finanças deprimidas, nenhum dos dois clubes trouxe jogadores de lotar o aeroporto. As contratações foram poucas e discretas. Tudo foi feito com cuidado para não comprometer as finanças. É correto. Melhor é navegar no superávit, gastando um pouquinho menos do que se ganha, sem perigosos voos perdulários. O Grêmio deverá ter um primeiro semestre bem mais competitivo do que o Inter. Afinal, está classificado para o filé de emoções da Copa Libertadores da América, coisa que o Inter não obteve. O time caiu em um grupo complicado. Como colorados, esperamos muita disputa entre o tricolor de Humaitá e o Toluca (México), a LDU (Equador) e o San Lorenzo (Argentina). São duas vaguinhas. O Grêmio costuma passar bem pela primeira fase, mas nossa esperança é de uma desclassificação precoce. É uma chave que obrigará o Grêmio a viagens longas. Quito tem a altitude, não é La Paz mas é chato. O México fica em outro hemisfério e o San Lorenzo tem a mística. O negócio é vencer em casa e conseguir alguma coisa fora.
Mas antes, amanhã (28), o Grêmio estreia fora de casa na Copa Sul-Minas-Rio contra o Avaí. O jogo será às 21h45. Sua primeira partida no Picanhão 2016 será no próximo domingo (31), contra o Brasil de Pelotas, às 17h. Joga o time reserva amanhã e o titular domingo. O time-base de 2015 foi mantido e não deve fugir muito disso: Marcelo Grohe; Wallace Oliveira, Geromel, Kadu e Marcelo Oliveira; Wallace, Maicon, Giuliano, Douglas e Everton; Luan. Ramiro pode entrar tanto na lateral direita como numa das volâncias. A folha de pagamento de 2016 está um pouco mais alta, beirando os 6 milhões de reais. Mudo de assunto desejando um péssimo ano para o Grêmio.
Ah, ontem, o deputado Jair Bolsonaro mostrou uma camisa do Grêmio na Assembleia Legislativa. O clube não tem culpa se um imbecil entregou a camisa ao deputado, mas os gremistas estão sofrendo a maior gozação. A coisa certamente partiu de algum torcedor de índole racista, fascista ou machista. Ou tudo isso junto.
Já o Inter vive dias de tranquilidade. Fez pré-temporada na Flórida e também não contratou quase ninguém. Mas fez bons negócios livrando-se de Dida, Juan, Nico Freitas, Lisandro López, Rafael Moura, Leo e Wellington Martins. Foi uma limpeza e tanto. A folha de pagamento em 2015 estava próxima dos 9 milhões mensais, um verdadeiro absurdo se comparada com a produtividade do time em campo. Este valor caiu para 7 milhões no começo deste ano e não creio que tenha havido queda na qualidade. Permanece razoável, o que nos deve garantir o 9º lugar no Brasileiro de 2016.
Infelizmente, o Inter não terá a Libertadores. Suas prioridades estão todas no Brasil: Churrascão, Brasileirão e Copa do Brasil. Campeão de tudo, mas sem um título brasileiro há 24 anos — e há 37 anos sem ganhar um Brasileirão! — seria a hora de tratar com carinho dos grandes campeonatos da corrupta CBF. Acho que o clube tem a obrigação de vencer o regional, pois não terá outra diversão nos primeiros meses do ano que não seja a Sul-Minas-Rio. O time estreia hoje (27) neste torneio contra o Coritiba no Beira-Rio, às 21h45. Seu primeiro jogo no Costelão será domingo (31) às 19h30, também no Beira-Rio, contra o Ypiranga de Erechim. O time-base para iniciar o ano é este: Alisson; William, Paulão (Jackson), Réver (Ernando) e Artur; Fernando Bob, Rodrigo Dourado, Anderson e D’Alessandro; Eduardo Sasha e Vitinho. Como veem, falta-nos um centroavante.
Uma pessoa de baixa autoestima tende a apresentar vontade de isolamento e ansiedade, também é sensível à críticas, tem dificuldade para expressar opiniões e necessidades, desiste das coisas com facilidade, evita desafios e eventuais confrontos e tem reduzida clareza de si mesmo. Tem uma estrutura emocional pouco sólida, a qual origina pessimismo e reações de defesa e negatividade. Não se sente merecedor de amor e respeito por parte dos outros.
Mas isso quase todo mundo sabe.
Abaixo, mostro um extraordinário, um raro momento cinematográfico. A cena foi retirada do filme Angel-A (2005), do diretor francês Luc Besson. André (Jamel Debbouze, 1,65 m) tem dívidas junto a poderosos mafiosos. Além do mais, sofre de baixa autoestima. É claro que, apesar de possuir características perfeitamente normais, estas lhe parecem menores, como se fosse defeitos inaceitáveis. Prestes a cometer suicídio atirando-se de uma das mais altas pontes de Paris, André nota a presença de uma outra suicida, uma linda loura (Rie Rasmussen, 1,79 m + salto). Depois de resgatá-la das águas, André e a misteriosa mulher descobrem que têm muito mais coisas em comum do que imaginam.
O que se segue é uma das principais cenas do filme. O anjo da guarda de André trabalha notavelmente, mas o destaque absoluto é a participação de Jamel Debbouze, de um virtuosismo arrebatador. Os atores são acompanhados de forma inteligente pela câmera de Besson.
Uma empresa de design criou um vibrador especial em que é possível guardar as cinzas do falecido. Além disso, o produto criado pelo designer holandês Mark Sturkenboom, inclui um compartimento para guardar iPhone e um difusor de aroma. O produto recebeu o nome de “21 Gramas”, já que é possível armazenar até 21 gramas de cinzas. A caixa na qual vem o vibrador é feita de madeira e polida à mão. Ela conta como uma chave banhada a ouro, que pode ainda ser usada como um colar.
“21 Gramas é uma caixa de memória que permite que uma viúva resgate as memórias íntimas de um falecido querido”, explicou Sturkenboom, que exibiu essa e outras criações na Semana de Design de Milão, na Itália.
Há dias, publiquei no Facebook o seguinte desabafo:
Malditos tradutores do passado! Relendo “Os Irmãos Karamázov”, na notável tradução de Paulo Bezerra, estou me dando conta de que não existe lá a frase “Se Deus não existe, tudo é permitido”. O que há é um grande parágrafo de onde se pode concluir que “destruindo-se nos homens a fé na imortalidade, (…), então não haverá mais nada amoral, tudo será permitido, até a antropofagia”. Talvez o assunto retorne em capítulos posteriores, mas parece-me que a famosa frase é uma invenção extra-Dostô.
Sabiam que Guerra e Paz chama-se, no original de Tolstói, Guerra e Mundo?
Recebi vários comentários. Não desejo perder dois deles, preciosos:
1. Felipe de Amorim: Pois sua conclusão foi corretíssima, caro Milton. “Se Deus não existe, tudo é permitido” é uma famosa falsa citação. A origem da frase está num trecho já quase do final do livro, no Livro XI, Capítulo IV… É quando Aliosha está discutindo com Mítia sobre o colega de seminário, Rakitin. Mítia está criticando o cinismo do último e conta que o questionou dizendo: “Sem Deus e sem vida futura? Quer dizer então que hoje em dia tudo é permitido, pode-se fazer tudo?” (trad. Paulo Bezerra).
É uma frase bem maior, nota-se, e é um questionamento e não um aforismo. Mas a popularização da versão errônea não foi culpa dos tradutores brasileiros, embora a história das traduções de Dostoiévski no Brasil seja prenhe de mutilações, equívocos e crimes contra a literatura (além de uns crimes propriamente ditos, também). A versão “resumida” da citação é de uso corrente em inglês e francês também.
(Agora o que é realmente interessante é que, como já mencionei, Dostoievski escreveu essa passagem justamente criticando esse tipo de postura, que ele apresenta como um espantalho, uma proposição ridícula usada para justificar o comportamento de um tipo desprezível como Rakitin. Além de citarem a frase errado, atribuem a Dostô uma visão de mundo a qual ele justamente se opunha.)
2. Rogério Godinho: Eu considero essa questão da tradução com os Karamázov um fato histórico. A Denise Bottman aposta que começa aí a longa sucessão de fraudes na tradução brasileira, pelo menos até onde as pesquisas dela alcançam. E eu achei o tradutor do manuscrito mutilado: Leoncio Basbaum. Ele costumava usar o pseudônimo de Helio de Andrade, mas tudo indica que nesse caso ele pode ter usado “Raul Rizinsky”. Então, se tiverem aí um exemplar com esse tradutor, guardem: é uma peça histórica da desonestidade editorial.
Aqui, o próprio tradutor relata:
“Para conseguir trabalho, por sugestão do antigo colega e companheiro de infância (Elias Davidovitch), fui procurar a Editora Guanabara [aqui parece que ele se confundiu, devia ser a Editora Americana], onde me ofereci para fazer traduções, indústria recém-começando no Brasil. Recebeu-me bem e me disse que tinha precisamente um livro a traduzir: Os irmãos Karamázov, de Dostoiévski, livro que eu conhecia e amava. Combinamos o preço, deu-me um pequeno adiantamento e em seguida me entregou o original: uma tradução francesa. Antes, porém, abriu-o pelo meio, arrancou cerca de 40 ou 50 páginas de um golpe e me disse com um ar sério: o livro é muito grosso.
Como eu me mostrasse surpreso, e um tanto escandalizado, ele explicou: o livro é muito grosso e fica muito caro. Além disso, ele fará parte de uma série de livros que são muito finos. Finalmente, o trecho certamente não tinha muita importância, e o leitor nem notaria.
— Mas, disse eu, aqui você cortou uma frase no meio e também uma palavra ficou pela metade…
— Não tem importância, você completa a palavra e faz algumas linhas ligando um trecho com o outro…
E assim foi que me tornei colaborador e parceiro de Dostoiévski.” (Basbaum, apud Silva-Reis, 2012)
Por algum motivo, estamos sem o Facebook em nossa pousada. Mal consigo ver meu perfil. Então, esta postagem estilo rede social veio para cá.
Na verdade, eu deveria mudar meu número, pois é incrível como me ligam para me vender produtos bancários, TVs a cabo, imóveis, o diabo. Por algum motivo muito equivocado, todos pensam que sou rico. Então, eu recebo telefonemas em Zimbros, olho para o celular e só atendo aqueles de pessoas cadastradas dentre meus contatos. Só que meu sobrinho Filipe Gonçalves raramente me telefona. Estranho. Ele estava de férias em Ganchos, atravessara a baía de mais ou menos 15 quilômetros com seu Jet Ski e estava com a noiva-esposa Laura Blaya no Berro d`Água, melhor restaurante de Zimbros.
Como estamos numa pousada próxima, fomos até lá encontrá-los. Infelizmente, já tínhamos almoçado. Então, ficamos bebendo e comendo as batatas fritas sobrantes, enquanto víamos as pessoas posarem para fotos na frente no novo jet ski vermelho co Filipe. Elena, que viveu alguns anos em Manaus, explicou as propriedades do óleo de andiroba, um repelente natural que salva as pessoas dos insetos estilo porta-aviões do Amazonas, assim como dos nossos, muito menores. É que em Ganchos a coisa é inóspita e se vive entre os mosquitos. É como eu digo sempre, classe média sofre.
Abaixo, algumas fotenhas.
Acima, Filipe, Laura, Elena e este que vos escreve. A Laura vai ficar irritada porque publiquei sua foto com um olho fechado.
E aqui a Elena vai me detestar por ter saído com jeitinho de desmaio.
E agora, começando pela foto acima, uma sequência com a saída dos visitantes.
Dilma acaba de sancionar um dos mais espetaculares absurdos constitucionais de todos os tempos, a Lei Nº 13.246, de 12 de janeiro de 2016. A lei fixa o dia 31 de outubro como o Dia Nacional da Proclamação do Evangelho. Abaixo e no link, você pode ler o inacreditável conteúdo da lei. Note-se que o 31 de outubro é o Halloween — objeto de ódio dos congressistas evangélicos? — e a data do nascimento de Carlos Drummond de Andrade, que acaba sendo inadvertidamente respingada. Mas o que interessa não é bem isso. Leiam o Art. 2º. Ele desrespeita todas as religiões não cristãs e a lei, como um todo, vai moldando o meu e o seu Estado Fundamentalista.
Trata-se de uma leviandade, de uma verdadeira pândega evangélica em nosso Estado dito Laico, tendo o governo Dilma como parceiro. Espero que logo venha uma ADI (Ação Direta de Inconstitucionalidade).
A PRESIDENTA DA REPÚBLICA
Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1o Fica instituído o dia 31 de outubro de cada ano como Dia Nacional da Proclamação do Evangelho.
Art. 2o No dia 31 de outubro dar-se-á ampla divulgação à proclamação do Evangelho, sem qualquer discriminação de credo dentre igrejas cristãs.
Art. 3o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 12 de janeiro de 2016; 195o da Independência e 128o da República.
Li Inverossímil, de Rodrigo Rosp, em duas ou três sentadas (ou deitadas) nas folgas da releitura de Os IrmãosKaramázov. Gostei. Caio é um professor de literatura e escritor. Pessoa perfeitamente normal, pensa em sexo durante quase todo tempo. O livro tem três contos-capítulos onde ele conversa primeiro com uma aluna, depois com sua esposa e, finalmente, com uma editora. O único spoiler a que me permito é de dizer que ele tenta comer as três. Os contos são entremeados por conversas picantes (ui!) no WhatsApp com várias amigas. Há sexo, mas este não é o único ingrediente do livro. Há muito humor nas 120 páginas do livrinho da Não Editora, além de um jogo de real-irreal e discussões sobre verossimilhança. Dei risadas em vários momentos e também da forma como o pequeno romance faz sua autocrítica. (É claro que fiquei pensando em como uma feminista misândrica leria certos trechos no qual a “vítima” não se percebe como tal pelo simples fato de não ser vítima. Sim, vivemos num tempo de linchamentos e censura e é importante sentir-se, ainda assim, livre).
No dia 16 de dezembro, estive no palco do StudioClio falando sobre Ludwig van Beethoven. Houve um momento em que André Carrara tocou a Patética. Fiquei olhando de frente para um público ouvinte de música pela primeira vez na minha vida. Puro cinema. Todos voltados para mim, mas atentos ao pianista (foto ao final), que é excelente. Quando a música tinha ritmo, as pessoas balançavam a cabeça, mexiam os pés, participando silenciosamente da função. Abandonados a si mesmos, pensando que não eram observados, quase todos se movimentavam. No belo adágio, alguns fecharam os olhos, enquanto outros fizeram caras embevecidas, cada um de seu jeito. Lindo. Aquele mal-humorado do Beethoven deve ter gostado. Agradeço ao Francisco Marshall pelo convite.
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Alguns compositores parecem ter nascido prontos, outros não. No primeiro grupo, por exemplo, estão Bach e Brahms, quem sabe Haydn. Bach parece ter nascido com voz própria e definitiva e as diferenças entre suas obras mais parecem resultantes de suas funções nos diversos empregos que ocupou do que de uma evolução de estilo. Na época de Bach não havia a noção da construção de uma obra pessoal para a posteridade. Brahms já tinha esta noção, mas ele também se inclui facilmente no grupo dos “nascidos prontos”. Ouvindo-se os primeiros opus de Brahms, o grande compositor já é facilmente reconhecível. Haydn é um caso semelhante. É complicado reconhecer obras suas como “da juventude” ou “da maturidade”. Apenas suas últimas sinfonias são diferentes. Os tempos do emprego estável com os Esterházy tinham acabado e elas foram compostas em Londres para ganhar dinheiro vivo. A sombra do contrato que pairava sobre sua cabeça acrescentou tensão e aquela possibilidade de fracasso que lhe faltara antes.
Ter nascido e morrido com a mesma cara — ou, melhor dizendo, com o mesmo estilo – não representa mérito ou demérito. Muitos dos grandes compositores evoluíram profunda e espetacularmente. Mozart e Beethoven, por exemplo, foram criadores que alteraram muito suas linguagens ao longo dos anos. Mozart menos, certamente por ter vivido pouco. Beethoven alterou-se de tal forma que sua evolução acabou por ser a própria transição da música do período clássico para o romantismo. Isto deu-se certamente por uma necessidade interna, mas fatores externos também os influenciaram.
Por alguma razão, o gráfico abaixo ignora Bach, mas no restante ele nos serve.
Haydn, Mozart e Beethoven são considerados os maiores compositores do período clássico. Haydn viveu 77 anos, Mozart, 35, Beethoven, 57.
Não gosto muito das classificações por escolas, mas, grosso modo, pode-se dizer que o barroco começa em 1600 (data da invenção da ópera) e acaba em 1750, quando Bach morre. O período clássico vai daí até aproximadamente 1810 (quando inicia o segundo período da obra beethoveniana). Já o Romântico inicia no segundo período de Beethoven e vai até 1900, trocado pelo século XX.
Enquanto isso, Beethoven, que nasceu depois dos dois, começa criando obras muito semelhantes às de Mozart, mas evolui de tal modo que funda o romantismo musical. O ponto de partida do Romantismo é normalmente considerado a composição da Sinfonia Nº 3, Eroica. Talvez Mozart o tivesse acompanhado nesta aventura de transformação, mas sua morte interrompeu a jornada.
Ouçamos um trecho da Sonata Nº 1, Op. 2 de Beethoven. Notem como parece Mozart.
Beethoven foi fundamental na transição do clássico para o romântico. Notem que tal transição não se deveu a uma arbitrariedade histórica como a virada de um século nem à morte de um compositor, mas a uma alteração de estilo, ao desenvolvimento da linguagem de um criador. Claro que a posição cronológica favoreceu-o sobremaneira, mas o compositor contribuiu. Ele era um campo fertilíssimo.
Ludwig van Beethoven nasceu há 250 anos, em 17 de dezembro de 1770, na cidade de Bonn, atual Alemanha. Seu sobrenome, porém, era de origem holandesa. Consta que é derivado da aldeia de Bettenhoven (que quer dizer “horta de beterrabas”), no interior da Holanda. Apesar do sobrenome holandês, o avô paterno de Beethoven era originário de Antuérpia, na atual Bélgica. Ele era músico e emigrou para Bonn, local de nascimento de nosso biografado.
A vida de Ludwig van Beethoven (1770-1827) mostrou-se tão adequada a romances e filmes que as lendas em torno de sua figura foram se criando de forma indiscriminada, às vezes paradoxal. Sua surdez, por exemplo, contribuiu muito para popularizá-lo e para que fosse lamentado. O escritor Victor Hugo dizia que sua música era a de “Um deus cego que criava o Sol”, mas quem o conhecesse talvez reduzisse este tom de piedade.
Beethoven era uma pessoa absolutamente segura de seu talento – não mentiríamos se o chamássemos de arrogante – e tinha a perfeita noção de que estava criando um conjunto espetacular de obras musicais. Sabia-se imortal. A surdez representava uma tragédia muito mais do ponto de vista social, das relações amorosas e das de amizade, além, é claro, de prejudicar de forma definitiva sua carreira de grande pianista. Mas não era um obstáculo no plano da criação.
O problema começou a manifestar-se aos 26 anos de idade e aos 46 o compositor estava praticamente surdo. Por exemplo, ao final da primeira apresentação pública da 9ª Sinfonia, Beethoven permaneceu absorto na leitura da partitura e não percebeu que estava sendo ovacionado até que um amigo, tocando em seu braço, voltou sua atenção para o que acontecia na sala, onde a plateia o aplaudia em pé. Ou seja, aos 54 anos, época da composição da Nona, ele era totalmente surdo.
Com isso, não estou dizendo que ele não tenha sofrido com o progressivo ensurdecimento. Sofreu a ponto pensar em suicídio. Era 1802, Beethoven tinha 31 anos – idade com que Schubert morreu – e pensava em matar-se. Mas deixou a intenção apenas escrita em cartas. Ao que se sabe, nunca fez uma tentativa. Porém, se a fizesse e fosse bem-sucedido, talvez ainda assim estivéssemos falando dele.
Beethoven não era fácil. Em seus anos de aluno, ele utilizava harmonias que eram consideradas inadmissíveis. Quando lhe diziam que eram estranhas, perguntava de volta: “Quem as proibiu?”. Em 1792, quando Haydn visitou Bonn, foi apresentado a ele. Beethoven tinha 21 anos e mostrou algumas de suas obras a Haydn. Este, impressionado, propôs que o jovem se transferisse para Viena a fim de que pudesse ser seu aluno. No mesmo ano, Beethoven instalou-se em Viena, mas recebia aulas de forma irregular, pois Haydn estava no auge de sua carreira e tinha de sair frequentemente da cidade.
Beethoven logo ficou descontente devido a pouca dedicação de Haydn para com ele. Sabe-se que Haydn ensinou-lhe muito, apesar de considerá-lo um chato. Chamava-o de Sua Majestade. Assim, em 1794, Beethoven aproveitou-se de uma viagem de Haydn a Londres e procurou um novo mestre. A relação entre ele e o novo professor também não foi muito tranquila. Tanto que Albrechtsberger, depois de dispensado, proferiu uma daquelas frases que fazem a alegria dos biógrafos. Ele disse: “Não percam tempo com ele. Ele nada aprendeu e nada fará de bom”. Bem, assim é que se faz para entrar na história pela porta dos fundos…
Hoje, 250 anos depois, não temos a intenção de contar os casos em que fica comprovado que Beethoven era um brigão — procuremos ver sua postura por um lado mais indulgente: a de um sujeito orgulhoso, consciente do próprio valor e, em relação ao pobre Albrechtsberger, claramente superior.
Há um fato muito curioso na formação de Beethoven. Desde cedo ele teve uma noção muito clara daquilo que lhe faltava: faltava-lhe conhecer literatura. E ele, com entusiasmo, atirou-se à leitura de Homero, Shakespeare, Goethe e Schiller. Pensava que só assim – e tendo bons professores de composição – poderia ser o que tinha planejado para si: tornar-se o Tondichter da Alemanha, o poeta dos sons de seu país.
Ele queria ainda mais poesia do que isso…
As obras escritas antes de seus 30 anos obedeciam e também traíam seus mestres. Apesar de respeitar as estruturas aprendidas, já são claros os procedimentos expressivos que utilizaria nas fases seguintes – os temas curtos e afirmativos, os súbitos silêncios, o uso simultâneo de graves e agudos do teclado, a primazia do ritmo. O seu “classicismo vienense” era muito pessoal.
Um exemplo famoso de tema curto é o tema inicial da 5ª Sinfonia. Notem os gestos incríveis do maestro Masato Usuki. Agora, se algum de vocês puder me explicar como a orquestra entra junto depois do maestro mexer os braços daquele jeito… (Sim, sabemos, há um spalla para salvar tudo).
É tradicionalmente aceito dividir a vida artística de Beethoven em três fases. A primeira começa com a mudança para Viena, em 1792. Uma fase quase mozartiana. Nove anos depois, em 1801, Beethoven afirmou não estar satisfeito com o que compusera até então, decidindo tomar um “novo caminho”. Tudo parecia levá-lo ao épico e, dois anos depois, em 1803, surge um grande fruto desse “caminho”: a Sinfonia Nº 3, Eroica. Ela abre um verdadeiro ciclo épico. A Sinfonia era para ser dedicada a Napoleão Bonaparte, pois Beethoven admirava Napoleão e os ideais da Revolução Francesa. Porém, quando o corso autoproclamou-se Imperador da França em maio de 1804, Beethoven retirou a dedicatória de forma bastante característica… Foi até a mesa onde estava a sinfonia já pronta, pegou a primeira página e riscou o nome de Napoleão com tanta força que ficou um buraco no papel. É que ele apagara a referência ao novo Imperador com uma faca… E que música havia naquelas folhas!
O ciclo épico iniciado pela Eroica seguiu com obras verdadeiramente espantosas e originais, que cantavam a força da humanidade, a paixão pela liberdade e a vitória do espírito humano.
Vieram a Sinfonia Nº 5, a Nº 6, Pastoral, as sonatas Waldstein e Appassionata, o Concerto para Piano Nº 5, chamado Imperador, a Fantasia para piano, orquestra e coro. Eram músicas intensas, triunfantes, românticas, às vezes belicosas. Importante explicar o título Imperador do Concerto Nº 5 para piano e orquestra. O compositor jamais quis este apelido para o Concerto. Quem deu este nome foi o editor responsável pela publicação da partitura na Inglaterra. Este acreditou ser aquele um Concerto tão grandioso como nenhum outro e o chamou assim. O próprio Beethoven não gostou do apelido, mas isso de nada adiantou.
A época da morte de Haydn, em 1809, ainda dentro da primeira fase beethoveniana, foram anos de grande fertilidade criativa. As obras-primas brotavam de sua pena. Vieram também o Concerto para Piano nº 4, Op. 58; os Três Quartetos de Cordas, intitulados Razumovsky, em 1806; o Concerto para Violino, Op. 61 e a Sonata Patética.
Enquanto isso, a vida amorosa de Beethoven ia de mal a pior. Dono de uma personalidade apaixonada, sofria decepções em série. Um dos mais famosos casos foi o com Bettina Brentano, que fez uma extensa descrição do mestre em suas cartas. Resumidamente, ela o descreveu como “pequeno, moreno, marcado pela varicela, o que se chama de feio”. Porém, “tinha uma fronte nobremente modelada, parecendo ter trinta anos” – tinha quarenta – e vestia “andrajos com ar magnífico e imponente”.
Bettina apresentou-o a Goethe. Não deu nada certo. Em julho de 1812, Beethoven recebeu o convite para um encontro com o maior escritor de língua alemã. O encontro deu-se em Teplitz. Há algum tempo os dois se estudavam à distância: Goethe tinha grande admiração pela 5ª Sinfonia, “simplesmente espantosa e grandiosa” e Beethoven era interessado em literatura em geral e no mestre em especial. Em 1811, por exemplo, Beethoven tinha mandado para Goethe um exemplar da música que fizera para Egmont. Era esperado um encontro dos Titãs.
Porém, a possibilidade de uma amizade acabou muito rápido. O caso é conhecido como “O incidente de Teplitz” e ocorreu na época da composição da 7ª Sinfonia.
Os dois caminhavam de braço quando viram o Imperador do recém-fundado Império Austríaco, os duques e toda a corte caminhando em direção oposta. Bettina conta que Beethoven disse para Goethe ignorá-los, ele queria que os aristocratas abrissem caminho para eles. Goethe, discordou silenciosamente, deu um passo para o lado e tirou o chapéu para cumprimentar a família real, enquanto Beethoven passava decididamente no meio da corte, sem nem tirar o chapéu. Quando Goethe alcançou Beethoven, este lhe disse: “Eu esperei por você porque respeito seu trabalho, mas você demonstrou um apreço exagerado por estas pessoas”.
Em carta para a sua esposa, o escritor disse sobre Ludwig: “Seu talento me surpreendeu; no entanto, ele tem uma personalidade absolutamente incontrolável. Não está equivocado ao pensar no mundo como um local horrível, mas nada faz para torná-lo mais agradável para si e para os outros”. Enquanto isso, Beethoven escrevia para seu editor dizendo que “Goethe se encanta mais com a atmosfera da corte do que em ser um grande poeta”. Os dois nunca mais se encontraram. Anos depois, Beethoven mandou uma carta para Goethe. Não houve resposta.
Nesta época iniciava a segunda fase da produção de Beethoven. Ela já era reconhecido como o maior compositor de sua época. Então começou a fazer algumas bobagens. Entre 1813 e 17, passa por uma crise criativa. Talvez a progressiva surdez — ele começara a se comunicar com as pessoas por gestos ou por escrito –, ou a perda das esperanças matrimoniais, ou os problemas na tentativa de ganhar a custódia do sobrinho, fizeram com que ele sofresse uma crise criativa. Mas seguiu compondo: escreveu a pior das músicas em A Vitória de Wellington. “É uma estupidez”, admitiu, mas o público saudou o triunfalismo da obra. Era o músico nacional e tudo o que fizesse era adorado. A vaidade jogou-o em outras empreitadas mal sucedidas. Eram cantatas como Cristo no Monte das Oliveiras e a desconhecida Missa em Dó Maior, além de ciclos de canções que consistiam em músicas de circunstância que alcançavam o aplauso, mas que não permaneceram.
Agora, a tal A Vitória de Wellington. Vejam se isso parece Beethoven… Depois da introdução, parece que nasce um mau Handel romântico…
A sorte foi ele ter conhecido a Condessa Maria Erdödy, que preferia música de verdade. Foi esta grande e inspiradora amiga quem conseguiu retirá-lo da letargia e ele recomeçou, em 1818, a compor lentamente o que seriam, na minha opinião, suas maiores obras. À Condessa foram dedicadas as duas esplêndidas Sonatas para Violoncelo e Piano Op. 102.
A postura de ambos os amigos era de romantismo total. Uma das cartas da Condessa dirigidas a ele: “Nós, seres limitados de espírito ilimitado, nascemos para o sofrimento e para a alegria. Sendo que os mais destacados, como você, apropriam-se da alegria através do sofrimento”. Enquanto isso, um fato paralelo preocupava demais o compositor: a conquista de Viena por parte de Rossini. Desta época de recuperação criativa, temos o maravilhoso Trio Arquiduque, que marca o final da segunda fase beethoveniana.
E então começou a terceira fase, a mais vanguardista delas. Como dissemos, a partir de 1818, o compositor, aparentemente recuperado, passou a compor mais lentamente, mas com vigor renovado. Apesar do vanguardismo e das pessoas da época considerarem aquilo incompreensível, há obras muito populares nesta fase – não esqueçam que tal fase contém a ultra e justamente popular Sinfonia Nº 9 – , mas há também aquelas que, de tão perfeitas, serviram de base de apoio para um alto número de compositores que vieram depois. A irrepetível sequência de músicas perfeitas e revolucionárias começou com a Sonata para Piano, Op. 106, Hammerklavier. Beethoven teve que prestar explicações a seus contemporâneos, que não a entenderam, o que gerou mais um rosário de deliciosas respostas mal humoradas. “Não pensei no pianista quando a escrevi”. “Não gostam agora? Gostarão mais tarde. Não escrevo para vocês, escrevo para o futuro”.
As sonatas seguintes, de Op. 109, 110 e 111, são inacreditáveis, considerando-se a época em que foram compostas. Porém, ouvindo-as hoje, são apenas belíssimas, assim como as Variações sobre um tema de Diabelli, onde uma valsa muito simples é desenvolvida e transformada até atingir alturas prodigiosas. A Sonata Op. 111 gerou um dos mais belos momentos da literatura de todos os tempos: a aula do Prof. Kretzschmar em Doutor Fausto, de Thomas Mann. E, até a morte de Beethoven, haveria mais obras para as quais os melômanos revirariam os olhos ao falarem delas — os últimos quartetos, por exemplo. Em meio à doenças e reclamações contra Rossini e à italianização do mundo, tais composições vieram uma a uma à tona e serviram como pedra fundamental para a música do futuro. Quando soube que os últimos quartetos tinham sido pessimamente acolhidos, repetiu, mais uma vez com razão: “Não são para vós, mas para as gerações futuras”.
Pois o futuro lhe abriria as portas como fez para poucos. No início do século XX, o escritor Romain Rolland acreditava ser o último beethoveniano. Não poderia estar mais errado. Bartók, Xenakis, Varèse, Shostakovich e Schnittke foram decisivamente influenciados. Além disso, Beethoven tornou-se o mais popular dos compositores eruditos, o elo perfeito para aqueles que raramente ouvem a música erudita pudessem adentrar em um novo mundo. Ludwig van tinha a admiração, por exemplo, de Alex DeLarge, personagem de A Laranja Mecânica; é utilizado por alunos de piano nas facilidades do primeiro movimento da Sonata ao Luar; também tem a admiração das pessoas que invadem praças ou salas de concerto para ouvirem o final da Nona Sinfonia. E conta com o assombro dos entendidos.
Como dissemos, no famoso capítulo VIII do Doutor Fausto, de Thomas Mann, o imaginário professor Kretzschmar dá uma aula sobre o tema “Porque Beethoven não escreveu o terceiro movimento da Sonata Op. 111”. A ideia da aula descrita por Mann nasceu quando um descuidado pianista contemporâneo de Beethoven perguntou sobre o motivo da inexistência do mesmo. A resposta do compositor foi típica: “Não tive tempo de escrever um!”. Mann explorou habilmente a história.
Pois o incrível – e Mann aparentemente não sabia disso — é que os musicólogos descobriram que havia um terceiro movimento para esta sonata. Em alguns manuscritos originais, há anotações: segundo movimento – Arietta; terceiro movimento – Presto. O Kretzschmar de Mann diz que a Arietta (o segundo movimento) seria um adeus. Trata-se de um tema com variações que dá ao ouvinte uma sensação muito íntima. Nas três primeiras variações, o tema – que segundo Kretzschmar seria um dim-da-da que poderia ser balbuciado distraidamente por um bebê — vai sendo cada vez mais movimentado: as notas vão se multiplicando e o ritmo começa a ser quebrado e animado até culminar na famosa terceira variação, muito comparada a um boogie-woogie, 100 anos antes disso existir.
Claro que a invenção dessa despedida foi uma das muitas liberdades poéticas tomadas pelo entusiasmado professor de Mann. Está bem, foi a última sonata para piano de Beethoven, porém após o Op. 111 ainda vieram outras obras importantes para piano, como as Variações Diabelli (Op.120) e as Bagatelas (Op.126), além, é claro, de todos os últimos quartetos. Ou seja, quando Beethoven escreveu o Op. 111, era um compositor em plena atividade e com vários projetos diferentes a desenvolver.
De 1816 até 1827, ano da sua morte, conseguiu compor cerca de 44 obras musicais. Ao morrer, a 26 de Março de 1827, estava trabalhando numa nova sinfonia, assim como projetava escrever um Réquiem. Ao contrário de Mozart, que foi enterrado anonimamente em uma vala comum, 20.000 cidadãos vienenses — Viena tinha 300.000 habitantes — foram ao funeral de Beethoven.
E, com efeito, o interesse pela obra de Beethoven mudou Viena. O historiador Paul Johnson diz que “Existia uma nova fé e Beethoven era o seu profeta. Não foi por acidente que, aproximadamente na mesma época, as novas casas de espetáculo recebiam fachadas parecidas com as dos templos, exaltando o novo status moral e cultural da sinfonia e da música de câmara.”
Em 1824, surge Sinfonia nº 9, Op.125, para muitos a sua obra-prima. Pela primeira vez na história da música, é inserida a voz humana num movimento de uma sinfonia. Os solistas e o coral exaltam de forma dionisíaca a fraternidade universal, começando pela aliança entre duas artes irmãs: a poesia e a música. O texto é uma adaptação do poema de Schiller, “Ode à Alegria”, feita pelo próprio Beethoven. E, bem, todos conhecem esta grande música que precede os quartetos finais.
Agora, uma referência moderna à Nona e a Beethoven, uma das tantas presentes no filme A Laranja Mecânica, de Stanley Kubrick. Há muitas mais, basta lembrar do Nostalgia de Tarkóvsky e muitos outros filmes modernos que usam a Nona.
Os anos finais de Beethoven foram dedicados quase que exclusivamente à composição de Quartetos de Cordas. Foi nesse meio que ele produziu algumas de suas mais profundas e visionárias obras: os Op. 127, 130, 131, 132, 135 e a Grande Fuga, Op. 133, todos encomendados pelo príncipe Galitzin, que pagou 50 ducados por cada um. Pagou mesmo? Beethoven recebeu o pagamento apenas do primeiro quarteto. Embora o príncipe russo jamais tivesse negado a dívida, os quartetos restantes só foram pagos aos herdeiros de Beethoven em 1852, 25 anos após a morte do compositor.
Na opinião de Beethoven, o quarteto — que fora inventado por Haydn — era a manifestação mais alta da arte musical. E o compositor utilizou-o como veículo de expressão de todo um projeto de renovação de sua música.
A obra sinfônica de Beethoven é bem mais acessível ao público, mais do que a pianística e muito mais do que os quartetos. Pode-se dizer que os quartetos de Beethoven da primeira e segunda fases fossem sinfonias reduzidas para poucos instrumentos, mas, ouvindo os da última fase, a ideia de orquestração não passa por nossa cabeça. Aqui, ele se desliga estilisticamente da sinfonia, dando lugar a um intimismo raramente alcançado e apenas possível camaristicamente.
O Quarteto Op. 132 é absolutamente pessoal, como pode ser demonstrado pelas anotações na partitura. Beethoven passara um inverno sem complicações de saúde, mas a primavera trouxera-lhe moléstias pulmonares – ele cuspia sangue –, digestivas e intestinais que o debilitaram muito, ao ponto de deixá-lo de cama por vários dias. Durante esta doença, Beethoven trabalhava no Op. 132. Sua situação foi comentada musicalmente. Na partitura, há anotações como “ação de graças de um convalescente”, “sentindo novas forças” ou “Tu (referindo-se a deus) me devolveste a vontade de viver”. Trata-se de um caso único na história da música — um compositor expor problemas tão terrenos uma cpomposoção. Normalmente, quando se fala na dor que uma música representa, em geral nos referimos a dores da alma, dificilmente a sofrimentos corporais.
Dores e recuperação: de 21`30 até 24`30.
E finaliza com uma valsa fantástica, de pura alegria: 39`01
Essa é a natureza do conflito captado pelo Op. 132.
O Op. 130 foi o último a ser escrito e também tem história curiosa. Para encerrar grandiosamente a encomenda do príncipe Galitzin, Beethoven escreveu uma Grande Fuga. Depois, ele aceitou a sugestão de seu editor de separar esta fuga do Quarteto Op. 130, tornando-a uma peça independente. Os motivos teriam sido comerciais, eles lucrariam mais dividindo o quarteto em dois. Ainda mais que o russo não pagava…
Um adjetivo acaba associado à Große Fuge Op. 133 (1826): ela seria “assustadora”. Tento explicar. Uma fuga é uma forma musical que exige grande conhecimento técnico de composição. Então imagine quando ela é escrita de maneira inesperadamente violenta e dissonante como aqui – provavelmente a obra mais moderna de Beethoven. Sua estrutura geral parece condensar, além da forma de uma fuga a quatro vozes, a estrutura de uma sinfonia em quatro movimentos – pois há quatro episódios: os internos lembram um andamento lento e um scherzo, os externos seriam a introdução e o finale.
Ouçamos o começo da Grande Fuga, quando, após a introdução, vem o susto da exposição, com notas caindo para todos os lados, os instrumentos entrando um por um onde parece não haver espaço para mais nada e um tema totalmente anguloso e dissonante.
0`45 em diante (por uns 3 minutos)
Então, a última fase de Beethoven foi finalizada por um gênero de música que nunca fora ouvida antes. As composições desta fase foram criadas sem a preocupação em respeitar regras.
Tanto que o último movimento do Quarteto Op. 135 demonstra claramente a noção que Beethoven tinha de estar em terreno jamais palmilhado. O nome que um dos movimentos recebe mais parece uma brincadeira: “A difícil decisão: Deve ser assim? Deve ser assim!”.
13) Op. 135 – 0`36 em diante por uns dois minutos
Beethoven morreu em 1827 de motivos ainda controversos. Uns falam em cirrose, porém, modernamente, análises de seus cabelos têm levado a conclusões de que o compositor teria sido acidentalmente levado à morte por envenenamento devido a doses excessivas de chumbo, a base dos tratamentos administrados por seu médico.
Considerado um poeta-músico, Beethoven foi o primeiro romântico apaixonado pelo lirismo dramático e pela liberdade de expressão. Se foi condicionado por algo, foi pelo equilíbrio, pelo amor à natureza e pelos grandes ideais humanitários. Inaugurou a tradição do compositor livre, que escreve música para si, nem sempre vinculada ao desejo de um mecenas ou do público. Hoje em dia, muitos críticos o consideram como o maior compositor do século XIX, a quem se deve a inauguração do período Romântico, e todos o distinguem como um dos poucos homens que merecem a adjetivação de “gênio”.
E agora digam que ele não escrevia para o futuro!
Fontes consultadas:
— História da Música Ocidental, de Jean e Brigitte Massin.
— O blog Euterpe, texto de Leonardo T. Oliveira
— Beethoven e o Sentido da Transformação, de José Viegas Muniz Neto
— Beethoven, de Barry Cooper
— Biografia de Beethoven
No dia 10 de janeiro foi 68º aniversário do violoncelista Mischa Maisky, um aluno de Mstislav Rostropovich e Gregor Piatigorsky. Eis como foi comemorado: trata-se do primeiro movimento do Concerto Nº 1 para Violoncelo e Orquestra de Shostakovich, com regência de Leo Siberski e a Saarbrücken Radio Symphony. Aprendam meninos.
Ontem, fomos pela centésima vez ao supermercado aqui em Zimbros. É um super de praia que fica próximo de nossa pousada. Pequeno, vende desde leite e frutas até biquínis e estendedores de roupa. Quando chegamos ao caixa, paguei, recebi o troco e a dona do super me falou que precisava falar com ela. Ela?
— Sim, poderia chamar a moça que te acompanha e que está lá na porta, por favor?
Chamei a Elena, que ouviu a seguinte pergunta.
— Esse tênis é bom?
A Elena respondeu que para ela é ótimo. Disse que sua região lombar dói quando faz caminhadas com tênis comuns, mas que com aquele ela podia caminhar por horas. Tanto que, quando aquele deixou de ser vendido no Brasil, ela chegou a procurar em sites como o Mercado Livre por eles, mas que agora eles voltaram. Então, os olhos da moça brilharam na direção da Elena e ela tascou rápido:
— E funciona?
A Elena riu e disse que não sabia, mas que eram extremamente leves e confortáveis, que era o terceiro que comprara daquele estilo.
Eu não entendi patavina daquele “E funciona?”. Porém, quando saímos de lá, Elena me explicou que a fabricante do tênis vendeu a ideia de que seu produto tonificaria pernas e glúteos, deixando o traseiro com aquele formato interessante. Rindo, ela me explicou que o tênis obrigaria a que se pisasse primeiro com o calcanhar, fazendo com que o usuário sentisse o chão como se este cedesse conforme a pisada, simulando uma caminhada com os pés descalços em uma superfície semelhante à areia da praia… E que aquilo, na imaginativa propaganda, resultaria em maravilhas estéticas.
E eu, que nem olhei como era a bunda — tá bom, sejamos delicados –, o bumbum da dona do supermercado…