Diferentemente de suas novelas iniciais, as ótimas e sacanas Sexo anal: uma novela marrom, Bucet@: uma novela cor-de-rosa e Boquete: uma novela vermelha, A Viagem de James Amaro é muito mais sombria e introspectiva. E interessante. Também há sexo nela, mas o cerne está na amizade entre dois personagens que, bem… não transam: James e Alex.
Tudo começa com um rompimento do mulherengo James Amaro, que decide sumir por uns tempos. Quando James prepara sua viagem comprando coisas num supermercado, dá de cara com um amigo de escola. Descobre que o amigo está em sérias dificuldades financeiras. Propõe-lhe resolver temporariamente a questão e o convida para viajarem juntos. Seria uma oportunidade de botarem o papo em dia… E Alex Viana acaba aceitando a proposta. O que parecia um projeto nostálgico e despretensioso logo se revela um percurso onde aparecerão identidades, culpas, amores e até um crime piedoso.
O texto é cru e realista, talvez mais provocativo do que o dos livros citados acima. Há uma cena — que não cabe contar em resenha — que abre um abismo entre os viajantes. É um momento surpreendente, no qual Biajoni lança uma ponte de cordas sobre o abismo. É algo que balança e dá medo, mas parece segura o suficiente.
Há muito jazz sofisticado no livro, mas que não consegue iluminar os personagens. Apesar de curto, o livro dá a Biajoni espaço suficiente para expor lentamente os dramas de cada um. Não sei se podemos chamar A Viagem de James Amaro de um romance de estrada. Afinal, a viagem de James acaba sendo uma descida e volta do inferno — ou àquilo que ele considerava ser o inferno.
Recomendo.







Há dois livros de títulos um tanto incorretos (capas abaixo) e que são incríveis.
Olha, são livros deliciosos e inacreditáveis. Árbitros voltando para o estádio montados a cavalo nos anos 20 a fim de fazer a torcida voltar para a arquibancada, torcedores preparando uma forca para um juiz (que foi salvo no último momento sendo levado para o hospital com graves ferimentos e comoção cerebral), corrupção generalizada, uma beleza. Tchê, são histórias inauditas e que dão o que pensar sobre a importância do futebol para nossos vizinhos. Brasil, o país do futebol? Só na linda música do meu xará Nascimento.
Penso que o título deste livro de Franciel Cruz não seja irônico ou casual. Claro, são crônicas sobre futebol, mas também sobre aquilo que gira em torno dele: a infância, o humor, a pobreza, a sociedade maluca de nosso país. Tá pensando que tudo é futebol? fala do futebol como raiz de identidade e contradição. A pergunta provocativa do título — que parece vinda de alguém que detesta o ludopédio — pode ser alterada para o futebol está em tudo ou tudo pode ser futebol. Mais do que um livro de curiosas crônicas sobre o esporte ganha densidade ao se tornar um mapa de esperanças, ilusões e decepções — como aqueles que existem fora das quatro linhas.




