Os impostos da cachaça

Foto: Lili Callegari
Ah, Parati | Foto: Lili Callegari

Leio surpreso que a cachaça é o produto campeão de impostos. No preço de cada garrafa comprada, 82% são impostos. Em segundo lugar vem o cigarro com 80% e em terceiro os perfumes importados, com 78%. O uísque paga 61% e o espumante 59%. A cerveja 55 e o vinho, 53.

Os impostos da cachaça artesanal são maiores do que os da industrial. É que os pequenos produtores foram retirados do Simples — regime tributário com alíquota menor voltado justamente para os micro e pequenos empresários. A cachaça é considerada  supérflua — e é mesmo –, fato que faz com que sua alíquota do ICMS seja mais alta. Mas o uísque também é supérfluo, não? E por que os alambiques pagam mais? Read More

Chico Buarque fala sobre o racismo, sobre seu neto e a hipocrisia

chico buarqueChico Buarque comenta o racismo claro ou dissimulado de boa parte dos brasileiros. Ri daqueles que insistem em ignorar os séculos de miscigenação em nosso país. Em seu depoimento, Chico fala de sua revolta ao descobrir que sua filha, casada com o músico Carlinhos Brown, foi forçada a se mudar em razão das agressões que seu filho, neto de Chico, sofria dos moradores. Às vezes, quando ouço pessoas falando de sua genealogia — que sempre evitam suas linhagens não brancas, respondo que tenho pedigree. É que só se encontra portugueses em meu passado. Só que minha árvore genealógica é muito incompleta, muito curta, é dessas que logo se perdem, mesmo que eu tenha cidadania portuguesa adquirida em razão de ter avós portugueses por parte de pai. Aliás, os portugueses nunca se miscigenaram… Daqueles 128 citados por Chico — 4 avós, 8 bisavós, 16…, etc. — deve haver um monte de não brancos. Imagina se não há negros e índios dentre eles? Minha mãe era chamada de índia por seus pais… E os 128 estiveram por aí não faz muito tempo.

Com a palavra, Chico Buarque. Vale a pena ouvir.

Carta aberta à polícia gaúcha: um alerta sobre Latuff

Sempre na perseguição implacável aos fatos e auxiliando a briosa polícia gaúcha, nosso blog — que é o único espelho confiável do mundo — descobriu tudo a respeito de Carlos Latuff, na verdade Anatoly Fiodorovitch Latuv, ex-agente soviético da KGB, dublê de cartunista e agitador antissemita que ora atua em nosso país. No dia de ontem, ele esteve presente em nossa redação do Sul21, ao mesmo tempo em que se encontrava em Londrina e no Rio de Janeiro. Sua ubiquidade não tem caráter divino, sendo antes produto de artes demoníacas praticadas desde a época em que o Eixo da Mal era administrado desde Moscou, URSS. Nesta quarta-feira, a versão de Latuff presente em nossa redação obteve parir mais um de seus clones, no caso um clone estagiário. Com pragmatismo chinês, objetividade albanesa, métodos do Baader-Meinhof e fome palestina, o Latuff aqui presente formou um novo estagiário, de nome Nícolas, o qual começará a distribuir cartuns de forma indiscriminada e alucinada — típicas do celerado — pelo estado (rimou!) do RS.

latuff passando o conteúdo de sua mente a um prosélito | Foto de 5 de maio, retirada do Facebook do delinquente
Fragrante de um Latuff (direita) passando o conteúdo de sua mente a um prosélito, que sorri | Foto de 5 de maio, retirada do Facebook do delinquente (clique para ampliar)

Engana-se quem pensa que estamos brincando com a verdade. Desta vez, apresentaremos provas da finalização do curso de Nicolas. Num quase transe, produto de severa lavagem cerebral, o estagiário de Latuff psicografou, na nossa frente e em segundos, um perfeito brigadiano ao estilo dos que faz seu mestre e senhor. A imagem não deixa dúvidas: é um Latuff original, mas notem a assinatura. Ela está escrita com a letra do meliante, porém esta atribui a autoria a outrem: Nicolas. Veja a imagem abaixo e pasme.

Charge Latuff

Alertamos as autoridades gaúchas e nacionais que a proliferação de Latuffs pode ser altamente perigosa para a segurança nacional. O baderneiro deve ser imediatamente detido. Bem faz o Pig em evitá-lo.

Foi num 16 de setembro que o tenente Bianchi reconheceu Víctor Jara

Uma morte de violência inaudita no Estádio Chile

Publicado em 16 de setembro de 2012 no Sul21

É muito difícil encontrar um adjetivo para qualificar a morte de Víctor Jara. Hedionda, aterradora, as palavras parecem fracas quando comparadas aos fatos. Sua morte foi de inverossímil maldade. Uma das formas de se descaracterizar um tópico é recorrer à hipérbole, que é a intensificação do mesmo até o inconcebível, até o paroxismo. Pois a morte de Jara confronta este conceito tão caro aos lógicos. O inconcebível exagero do fato não o descaracteriza, apenas o intensifica.

Na manhã de 12 de setembro de 1973, Jara foi detido, juntamente com milhares de chilenos. No dia 16 de setembro de 1973, cinco dias após o golpe militar, ele encontrava-se preso no Estádio Chile, atual Estádio Víctor Jara (não confundir com o Estádio Nacional do Chile, onde também havia presos). Trata-se de um ginásio multi-esportivo. Mas passemos a palavra ao jornalista brasileiro Paulo Cannabrava Filho, autor de No Olho do Furacão:

Aspecto exterior do atual Estádio Víctor Jara | Foto: Mono González

Em um dado momento, Víctor desceu para a plateia e se aproximou de uma das portas por onde entravam os detidos. Ali topou – cara a cara – com o comandante do campo de prisioneiros que o olhou fixamente e fez o gesto mímico de quem toca um violão. Víctor assentiu com a cabeça, sorrindo com tristeza e ingenuidade. O militar sorriu, contente com sua descoberta. Levaram Víctor até à mesa e ordenaram que pusesse suas mãos em cima dela. Rapidamente surgiu um facão. Com um só golpe, cortaram seus dedos da mão esquerda e, com outro, os da mão direita. Os dedos cairam no chão de madeira, enquanto o corpo de Víctor se movia pesadamente. Depois choveram sobre ele golpes, pontapés e os gritos: ‘canta agora… canta…’ (…) De improviso, Víctor se levantou trabalhosamente e, com o olhar perdido, dirigiu-se às galerias do estádio… fez-se um silêncio profundo. E então gritou:

— Vamos lá, companheiros, vamos fazer a vontade do senhor comandante.

Firmou-se por alguns instantes e depois, levantando suas mãos ensanguentadas, começou a cantar o hino da Unidade Popular (Coligação de partidos de esquerda que apoiavam o governo de Allende), a que todos fizeram coro. Aquele espetáculo era demasiado para os militares. Soou uma rajada e o corpo de Víctor começou a se dobrar para a frente, como se fizesse uma longa e lenta reverência a seus companheiros. Depois caiu de lado e ficou ali estendido.

 

O tenente Edwin Dimter Bianchi, também conhecido como “O Príncipe” | Foto: Grupo Funa

O responsável pela identificação e morte de Jara foi o tenente Edwin Dimter Bianchi. A exumação do corpo de Jara, realizada em junho de 2009, não confirmou o corte dos dedos — o texto de Cannabrava é anterior ao fato. Na verdade, ele provavelmente teve suas mãos esmagadas por coronhadas dos soldados. Havia múltiplas fraturas nos punhos e mãos, além do corpo perfurado por 44 balas. Múltiplos relatos confirmam a veracidade do restante dos acontecimentos. Ele, de forma desafiadora, efetivamente cantou parte do hino da Unidade Popular até o momento dos tiros. Só em 1990, o Estado chileno, através da Comissão da Verdade e da Reconciliação, reconheceu que Víctor Jara foi assassinado a tiros no dia 16 de setembro de 1973 no Estádio Chile e depois teve seu corpo lançado num matagal. Identificado pela esposa. Seus restos foram enterrados no Cemitério Geral de Santiago do Chile.

O homem

Víctor Jara era cantor popular, compositor, educador, diretor de teatro, poeta e ativista político. Ele fazia parte do movimento Nueva Canción Chilena que tinha em Jara e Violeta Parra (1917-1967) seus principais intérpretes. A Nueva Canción ganhou enorme popularidade durante o governo da Unidade Popular — governo de Salvador Allende — , que foi ativamente apoiado por Jara.

Jara em foto tirada para a contracapa de um de seus discos | Foto: Divulgação

Víctor nasceu em 1932 e foi o primeiro filho dos camponeses Manuel Jara e Amanda Martínez. O pai era analfabeto e não queria que seus filhos estudassem. Alcoólatra, acabou por abandonar a família. Amanda criou Víctor e seus quatro irmãos sozinha, insistindo que todos eles estudassem. Amanda — uma mestiça com raízes mapuche, vinda do sul do país — não era analfabeta. Era uma autodidata em música, tocava violão, piano e cantava em casamentos e funerais. Ela conseguiu progredir da economicamente, de modo a manter a família com dignidade, mas como não ficava muito tempo em casa, deixava o violão disponível para o pequeno Víctor e seu amigo e parceiro Omar Pulgar. Em 1950, Amanda mãe morreu repentinamente. Ato contínuo, Víctor Jara entrou para um seminário.

Foi uma decisão muito importante entrar para o seminário. Quando penso agora, acho que fiz aquilo por razões íntimas e emocionais, pela solidão e o desespero com um mundo que até aquele momento tinha sido sólido, simbolizado por um lar e o amor da minha mãe. Eu já estava envolvido com a Igreja, e, naquela altura, procurei refúgio nela. Então pensava que esse refúgio iria guiar-me até outros valores e ajudar-me a encontrar um amor diferente e mais profundo, que porventura compensasse a ausência do amor humano. Julgava que talvez achasse esse amor na religião, dedicando-me ao sacerdócio.

Te recuerdo Amanda, canção de Víctor Jara dedicada a seus pais:

Dois anos mais tarde, em 1952, abandonaria o seminário, mas lembraria positivamente do canto gregoriano e da liturgia. Ingressou na universidade, onde estudou atuação e direção de teatro. Sua biografia indica hesitações entre a música e o teatro até 1957. Ele pensava que tinha que optar por uma das carreiras, quando Violeta Parra o convenceu a manter paralelamente ambas as carreiras. Pelas excursões e tempo das temporadas, pode-se dizer que as peças de teatro que dirigia não eram nada insatisfatórias. Em 1959, excursionou pela América espanhola com Parecido a la Felicidad de Alejandro Sieveking. No mesmo ano, gravou seu primeiro disco de música folclórica, Dos Villancicos. E seguiu as duas carreiras, apesar de que a música foi pouco a pouco tomando mais seu tempo, assim como a política. Até a vitória da Unidade Popular, em 1970, foram cinco LPs e, até 1973, mais três. Depois disso foram muitos os discos ao vivo e as edições póstumas.

Victor Jara: música e poesia revolucionária latino-americana. Herói da resistência à ditadura militar no Chile

Sua atuação política durante o governo Allende teria justificado o ódio do tenente Bianchi. Era uma época em que poucos artistas eram indiferentes à política. Thomas Mann dizia que “Só a indiferença é livre. O que tem caráter distintivo nunca é livre; traz a marca do próprio selo; é condicionado e comprometido”. No início dos anos 70, ser “indiferente” ou “alienado” era falha grave. Jara nunca chegou perto de ser um apolítico. Foi nomeado embaixador cultural do Governo da Unidade Popular, viajou à Cuba e à União Soviética, participou de muitos atos durante as eleições de 1973, dirigiu a homenagem a Pablo Neruda — membro do Partido Comunista Chileno — quando da obtenção do Prêmio Nobel. Ou seja, naquele 16 de setembro, Bianchi viu um artista perfeitamente identificado com o governo que caíra.

Primeiro volume de uma coleção da Caratula Discos dedicada a Nueva Canción Chilena

A Nova Canção Chilena

A Nova Canção Chilena foi um movimento mais amplo do que seu nome sugere, pois não se tratava apenas de uma questão de abrangência musical. A intenção era a de recuperar e traduzir as raízes culturais do Chile e dos povos originários da América Latina. Apesar de ter a música folclórica como carro-chefe, a Nueva Canción abarcava também o teatro, a dança, as artes plásticas e tudo o que fosse cultura.

Grupos universitários passaram a estudar as manifestações da cultura popular chilena e andina. Como consequência, sugiram grupos como o Quilapayun, do qual Jara foi diretor artístico, e o Inti-Illimani. Víctor Jara divulgava o canto mapuche, o canto quéchua, o canto aymará,  e a fronteira entra a política e as artes foram extintas, tanto que a Juventude Comunista financiava gravações de discos e espetáculos dos artistas do movimento. A Nova Canção Chilena, que começou com os artistas e cresceu nas universidades, foi a trilha sonora da revolução, sendo adotada pelos trabalhadores.

Desde o início do século XX, os artistas chilenos imiscuíram-se na política, é uma tradição do país exprimir o político através da cultura. Dentro desta tradição, o trabalho de Víctor Jara foi exemplar: sua obra sempre emergiu da própria vida, fator que a faz universal e que, neste caso específico, uma das maiores representantes das vítimas da ditadura.

El Cigarrito, de Víctor Jara:

Edwin Bianchi durante a Funa | Foto: Grupo Funa

A funa

Funa (do mapudungun Funa, que significa podre, ou Funan, podridão) é o nome dado no Chile a uma manifestação de repúdio público contra uma pessoa ou grupo. Normalmente é utilizado em protestos contra os participantes de atos de violações dos direitos humanos durante o regime militar, e geralmente ocorre na casa ou no local de trabalho dos autores. É nosso “esculacho”, talvez se pudesse dizer.

Edwin Dimter Bianchi, também conhecido como “El Príncipe”, tenente do exército chileno em 1973, trabalhava impune e tranquilamente no Ministério do Trabalho do Chile em 2007, no governo de Bachelet. La Funa foi até lá e o surpreendeu. Ele foi demitido e hoje responde a processo. Vale a pena assistir o pequeno filme abaixo. Inicia comicamente contrastando James Bond e a manifestação lá fora mas, a partir dos 3min20, fica muito sério.

Opus Dei: os livros proibidos pela instituição

Estes são dois fragmentos — os mais literários — de uma série publicada pelo Diário de Notícias de Portugal. O autor é o jornalista Rui Pedro Antunes.

‘Index’ proíbe 79 livros de autores portugueses

Autores e especialistas portugueses mostram-se indignados por o Opus Dei ter uma lista de livros que proíbe os seus membros de ler. José Saramago é um dos escritores mais castigados ao nível mundial, sendo um dos recordistas no número de livros proibidos. Também ‘censurada’, Lídia Jorge diz que o Opus Dei deveria ter “vergonha” de ter este tipo de listagem, igualmente arrasada pela Sociedade Portuguesa de Autores. A lista é, porém, ‘legal’.

José Saramago e Eça de Queirós são os escritores portugueses mais castigados pela “lista negra” de livros do Opus Dei. A organização da Igreja Católica tem uma listagem de livros proibidos, com diferentes níveis de gravidade (ver topo da página), na qual põe restrições a 33 573 livros. Nos três níveis mais elevados de proibição encontram-se 79 obras de escritores portugueses. Autores portugueses contactados pelo DN mostram-se indignados com o que classificam de “Index” e “livros da fogueira”.

O Opus Dei sempre teve um Guia Bibliográfico, onde incluía os livros proibidos, com uma classificação de 1 a 6 (o nível mais elevado). Há quatro anos, aquilo que era uma lista de Excel que circulava pelos membros da obra, ganhou forma na Internet (http://almudi.org) e passou a estar aberto à contribuição dos membros. Como explica o Opus Dei Portugal, passou a existir um site “tipo crowdsourcing, aberto à contribuição de interessados, moderado por dois editores: Carlos Cremades e Jorge Verdià [membros da obra]”. Mudaram-se as designações, dividiram-se os livros em duas partes (literatura e não ficção), mas mantiveram-se os níveis de proibição. E há uma novidade: uma lista de filmes “desaconselhados”.

“Deus é um filho da puta”, escreveu Saramago num dos livros proibidos (Caim). Porém, não é preciso haver um nível tão direto de confronto à Igreja para que o livro seja proibido. Só nos três mais elevados níveis de interdição, Saramago tem 12 livros. Caim, o Evangelho Segundo Jesus Cristo, o Manual de Pintura e Caligrafia e o Memorial do Convento são definidos como os mais perigosos (6; LC-3).

A presidente da Fundação Saramago e viúva do escritor, Pilar del Río, classifica em entrevista ao DN (ver página 33) este índice de “grosseiro e repugnante”, deixando várias críticas à obra: “É uma organização a que chamamos seita porque somos educados. Por acaso, eles não são.” Pilar revela ainda que Saramago nunca escreveu sobre o Opus Dei porque considerava a organização “uma formiga” e mostra-se ainda chocada pelo facto de “neste nível de pensamento cartesiano e da razão haja quem se submeta à irracionalidade das seitas”.

A escritora Lídia Jorge – que também tem dois livros no mais elevado nível de proibição (Costa dos Murmúrios e O Dia dos Prodígios) – confessou-se “chocada” quando confrontada pelo DN com a existência da lista. Lídia Jorge disse mesmo que os membros do Opus Dei deviam ter “vergonha” e classifica quem fez a listagem de “gente retrógrada e abstrusa”. “São pessoas que desprezo porque se armam em mentores, em guardas morais, quando, no fundo, revelam uma ignorância absoluta sobre o papel da literatura.” Quanto às duas obras proibidas, Lídia Jorge explica que têm “uma linguagem e uma atitude mais libertária perante a vida” e que, talvez por isso, tenham sido censuradas. O que a repugna.

Freud e Marx, os mais censurados na não ficção

Tudo o que são clássicos e grandes obras da literatura mundial passaram pelo crivo dos delegados de estudos do Opus Dei. Por isso é difícil encontrar um grande escritor que não tenha sido ‘censurado’ pela obra. Dos últimos 15 prémios Nobel da Literatura só um não tem livros proibidos. Os restantes 14 têm 72 obras ‘proibidas’. Na não ficção, que inclui obras de grande importância científica, Marx, Freud ou Nietzsche estão entre os que não escaparam ao ‘lápis azul’ da organização.

As aventuras de Leopold Bloom a fazer a sua odisseia por Dublin (em Ulisses, de James Joyce), a chegada de Cândido a Lisboa após o terramoto de 1755 (em Cândido, de Voltaire) ou as dúvidas existenciais de Zuckerman (obras de Philip Roth) são histórias que os membros do Opus Dei não podem desfrutar. Grandes nomes da literatura e das ciências sociais mundiais fazem parte da lista de 33 573 livros proibidos pela obra.

Olhando, por exemplo, para os últimos 15 prémios Nobel da Literatura, apenas um (Le Clézio) escapou à lista negra de livros do Opus Dei. Só nos três mais elevados níveis de proibição (ver infografia na página 31) existem 72 obras. O peruano Mario Vargas Llosa (Nobel em 2010) conta com 17 obras nestes níveis de proibição. É imediatamente seguido pelo português José Saramago, com 12 títulos (ver páginas 30 e 31). Mas a lista não para por aqui: Doris Lessing (nove livros), John Coetzee (oito), Günter Grass (sete) e Elfriede Jelinek (quatro) são outros dos mais castigados. Orhan Pamuk apenas foi brindado com um livro proibido e os dois últimos nóbeis (Mo Yan e Tomas Tranströmer) têm livros classificados com níveis de interdição mais baixos.

E a lista de grandes autores proibidos está longe de se esgotar nos últimos laureados pelo maior prémio da literatura. O romance Ulisses, de James Joyce – um marco do modernismo literário -, tem o mais elevado nível de proibição (6; L-C3). O mesmo acontece com livros de autores como Albert Camus, Gabriel García Márquez, Samuel Beckett, Jean-Paul Sartre (também eles Nobéis), Voltaire, Aldous Huxley, Henry Miller, Truman Capote, Philip Roth ou Vladimir Nabokov.

Também “censurados”, mas com níveis de proibição mais baixos, surgem os nomes de Ernest Hemingway, Orwell, Jorge Luis Borges, Dostoievski, Kafka ou F. Scott Fitzgerald.

O líder do Opus Dei Portugal, José Rafael Espírito Santo, explica que esta lista é “no fundo estar a procurar um conselho para defender a fé”, lembrando que “o Papa João Paulo II antes de ler um livro consultava e perguntava se era um livro adequado”. O vigário regional do Opus Dei utiliza ainda uma metáfora para justificar a lista: “Há medicamentos que só se vendem com receita médica. Por quê? Porque uma pessoa que não saiba, em vez de fazer bem à saúde, pode fazer mal. A fé não se apoia na razão. E, portanto, pode haver modos de empregar a razão que sejam nocivos para o próprio ser humano porque a verdade é só uma.”

Marilyn Monroe: os 50 anos da morte da mulher triste que deixava os outros felizes

Marilyn Monroe morreu há cinquenta anos, em 5 de agosto de 1962

Publicado no Sul21 em 5 de agosto de 2012  

Em Os Desajustados (The Misfits, 1961), último filme com Marilyn Monroe, há uma cena em que Gay (Clark Gable), olha para Marilyn e diz que ela é uma mulher triste. Ela responde que ele é único a perceber isto, já que todos acham-na feliz. Gable então replica dizendo que ela é uma mulher triste que deixa os outros felizes. O dramaturgo Arthur Miller certamente estava pensando em sua esposa Marilyn Monroe quando escreveu o roteiro do filme. Ali, ele não somente prestava  homenagem a ela, dando-lhe uma personagem que não era somente caras e bocas, mas fazendo-lhe uma curta e poética definição. É um grande momento do cinema. Restitui a integridade de uma mulher que devia servir apenas ao divertimento do mundo.

Porém, a morte de Marilyn Monroe, ocorrida há 50 anos, no dia 5 de agosto de 1962, foi um exemplo de indignidade. É certo que a atriz tomava muitos remédios e era bastante problemática — mas é muito provável, quase certo, que haja coadjuvantes no ato final e que estes coadjuvantes fossem representantes de protagonistas da vida pública norte-americana. A notícia de sua morte chocou o mundo, tendo prevalecido a versão da overdose por barbitúricos. Mas ninguém sabe ao certo o que aconteceu naquela noite. Ouviram-se helicópteros. Uma ambulância foi vista esperando fora da casa antes que a empregada desse o alarme. As gravações de seus telefonemas sumiram, assim como o relatório da autópsia. Os amigos de Marilyn que tentaram investigar o caso receberam ameaças de morte. A documentação do FBI foi suprimida. Todos os caminhos para o esclarecimento de sua morte foram fechados, sinal de que ela se envolvera com algo que, naquela época, era maior do que ela.

Um poster despertou a curiosidade de JFK

Sabe-se do escândalo que ocorre cada vez que um presidente ou político norte-americano faz algo incorreto, tal como um adultério e, com efeito, o caso de Marilyn era apenas e simplesmente com John Kennedy. A obsessão de Kennedy por MM começou forma bastante cômica. Antes de ser presidente, Kennedy fora operado da coluna e permanecera imobilizado numa cama de hospital. Para que ele ficasse mais feliz, seu irmão Bobby pendurou, de cabeça para baixo, na frente de sua cama, um poster onde Marilyn aparecia de pernas abertas, vestindo um short curto e uma blusa decotada. Foi que bastou para Kennedy buscasse conhecê-la.

O caso entre eles teve início após o divórcio de Marilyn com o jogador de beisebol Joe di Maggio — segundo casamento da atriz — e seguiu enquanto ela esteve casada com Arthur Miller. Seus encontros ocorriam na suíte que ele mantinha no Carlyle Hotel, em Nova Iorque, ou na casa de praia de um amigo, em Santa Monica, na Califórnia. Como costuma acontecer, os governos são cestos de ofídios. O FBI grampeou a tal casa de praia e John Edgar Hoover, chefe da organização, usou as gravações para manter-se no cargo quando Kennedy tentou demiti-lo. Para complicar, Hoover teria insinuado que havia outro grampo na casa: o da Máfia, com quem JFK mantivera estreito relacionamento durante as eleições, apesar de seu discurso de “acabar com a Máfia”.

JFK desejava um rompimento elegante, MM tinha ilusões

Os conselheiros mais próximos advertiam-no de que era perigoso ter MM como amante por dois motivos: os chefes mafiosos poderiam usar o caso contra ele — seria um enorme escândalo se a mídia soubesse que ele mantinha um caso fora do casamento e logo com quem — e a suspeita de que Marilyn poderia se descontrolar a qualquer momento e fazer uma cena pública. E, ao que tudo indicava, em 1962 Kennedy desejava livrar-se dela de uma forma elegante, de modo a não se prejudicar.

Comprovando como poderia ser perigosa, Marilyn resolveu dar um grande presente a Kennedy. Durante uma festa na sede do Partido Democrata, ela cantou com voz inequivocamente lasciva (filme abaixo) o célebre Happy Birthday, Mr. President. Ela estava com um vestido que parecia ser pura pele e pérolas e, para qualquer bom entendedor, ficou claro o gênero de ligação que tinha com o presidente. John Kennedy quase cometeu um ato falho ao dizer: “Já posso me retirar da política após ter ouvido este Happy Birthday cantado para mim de modo tão doce e encantador.”

Isso ocorreu três meses antes da morte de Marilyn. Apesar de ninguém saber ao certo o que houve naquele 5 de agosto, seus amigos — como quase todo mundo — suspeitaram de uma assassinato. Os suspeitos de terem cometido ou mandado cometer o crime são Robert Kennedy (com quem ela também teve um caso), John F. Kennedy, o mafioso Sam Giancana, e também o FBI, a CIA e até seu psiquiatra, Ralph Greenson.

Robert Kennedy, Marilyn Monroe e John Kennedy logo após os famosos parabéns

Se muitos mistérios rondam a morte de Marilyn Monroe, sua vida foi tão vasculhada que se sabe de quase tudo: as idiossincrasias, a data de cada sessão de fotos, de cada cena filmada ou não filmada e por quê, de seus casos amorosos, de sua enorme insegurança — achava-se péssima atriz — , suas faltas, ausências prolongadas, internamentos, crises por causa dos remédios, por causa do alcoolismo, crises existenciais… Mas o resumo que pode ser formado a partir de tantas informações é a de que a mulher mais desejada de seu tempo passou toda a sua curta vida tentando encontrar um amor verdadeiro e tornar-se uma verdadeira atriz. De fora, pode parecer simples, mas a angústia nunca é simples. Marilyn era uma belíssima mulher e uma aceitável atriz. Foi dona de uma capacidade fotogênica miraculosa, imbatível carisma, beleza, sensualidade e simpatia. Realizou grande atuação em seu último filme, o citado Os Desajustados, onde fez muito bem um papel bastante complicado. Em sua defesa, pode-se dizer que seus outros filmes eram comédias românticas que não lhe exigiam grande coisa. Quando lhe foi exigido mais, como em Quanto mais quente melhor (Some like it hot, 1959), também respondeu à altura.

Uma das célebres cenas de O Pecado Mora ao Lado (1955)

Seu verdadeiro nome era Norma Jean Mortenson, mas logo foi mudado para Norma Jean Baker. Ela nasceu no dia 1º de junho de 1926 no County Hospital, em Los Angeles, e era a terceira filha de Gladys Pearl Baker. A confusão do nome deve-se ao fato de não se saber quem foi o verdadeiro pai biológico da atriz. O nome do pai, na certidão de nascimento, foi o Edward Martin Mortensen, mas este sempre negou a paternidade, pois quando ele se separou da mãe de Marilyn, em 1924, Gladys ainda não estava grávida. Mortensen viveu até os 85 anos de idade e, após sua morte, foram encontrados documentos que mostravam que ele pediu divórcio de Gladys em março de 1927, não em 1924, e Norma Jean nasceu em 1926. Ou seja, o caso não é claro, ainda mais que a Gladys teria um caso com Charles Stanley Gifford, um vendedor com quem ela trabalhou até ser levada a uma instituição psiquiátrica por problemas psicológicos. Gladys teria confidenciado a amigos que o pai de Norma seria Gifford.

Gladys Pearl Baker e Charles Gifford

Marilyn começou a carreira em alguns pequenos filmes — à exceção de uma boa participação em A Malvada (All about Eve, 1950), de  Joseph Mankiewicz — , mas seu notável charme, beleza e frequente presença em eventos levaram-na logo a conquistar papéis em filmes dos grandes estúdios. Mas isso toda candidata à estrela faz e não chega ao grau de notoriedade de MM. É que junto à sensualidade e intensidade, Marilyn transpirava vulnerabilidade e inocência, tornando-a querida no mundo inteiro, mesmo quando as notícias sobre seu estilo de vida eram divulgadas. Seu rosto e jeito eram uma explosiva combinação de menina frágil e inocente, dominante e sedutora.

Outra célebre cena de O Pecado. Como não cometê-lo?

Foi a performance em Niagara (Torrentes de Paixão, 1953), de Henry Hathaway, que a tornou uma grande estrela. Marilyn fez o papel de uma jovem e bela esposa que planeja matar seu velho e ciumento marido. O sucesso de Niagara lhe rendeu, no mesmo ano, os papéis principais em Os Homens Preferem as Loiras (Gentlemen Prefer Blondes, 1953), de Howard Hawks, onde divide o protagonismo com Jane Russell, e Como Agarrar um Milionário (How to Marry a Millionaire, 1953), de Jean Negulesco. A revista Photoplay votou em Marilyn como melhor atriz iniciante de 1953 e, aos 27 anos de idade, ela era sem dúvida a loira mais amada de Hollywood.

Marilyn saudando as tropas americanas na Coreia. Adivinhem se não houve uma enorme confusão?

No dia 14 de janeiro de 1954, Marilyn casou com seu namorado, o jogador de beisebol Joe DiMaggio. Durante a lua de mel em Tóquio, Marilyn fez uma performance para os militares que serviam na Coreia. A sua presença causou quase um motim, e Joe se mostrou claramente incomodado com aqueles milhares de homens desejando sua mulher. E seguiu se incomodando após o assédio da Coreia. Ela era muito cobiçada, sua beleza chamava atenção e, na verdade,  isso causou brigas e ciúmes com todos os homens com quem se relacionou.

Não era muito fácil manter uma relação amorosa com mulher tão desejada

Nove meses depois, separaram-se. Em 1955, logo após o imenso sucesso de O Pecado mora ao Lado (The Seven Year Itch, 1955), de Billy Wilder, Marilyn desejou livrar-se da imagem de furacão loiro. Queria seguir com seriedade a carreira de atriz e mostrar que era mais que uma mulher que atiçava o imaginário masculino. Ela mudou-se de Hollywood para Nova York a fim de estudar na escola de atores de Lee Strasberg. Em 1956, Marilyn abriu sua própria produtora, a Marilyn Monroe Productions. A empresa produziu os filmes Nunca Fui Santa (Bus Stop, 1956), de Joshua Logan e O Príncipe Encantado (The Prince and the Showgirl, 1957), dirigido e estrelado por Laurence Olivier. Não eram ainda filmes satisfatórios nem “sérios”, mas em 1959 Marilyn brilhou em Quanto Mais Quente Melhor (Some Like It Hot), de Billy Wilder — uma comédia altamente satisfatória sob qualquer ângulo,  onde estava ao lado de Jack Lemmon e Tony Curtis — , tendo seu trabalho reconhecido ao vencer o Globo de Ouro de “Melhor Atriz de Comédia”.

A excelente atriz de Os Desajustados era muito insegura como atriz e jamais dispensava sua “treinadora”

No dia 29 de junho de 1956, Marilyn casou-se com seu novo namorado, o dramaturgo Arthur Miller. O próprio confessava que ela o deixava de “joelhos bambos”. Enquanto estavam casados, Miller escreveu o papel de Roslyn Taber de Os Desajustados, especialmente para Marilyn. Segundo Fernando Monteiro, este talvez seja o melhor roteiro já escrito para o cinema, com um argumento tão perto da vida que o espectador parece poder tocá-la com a mão. A história dos quatro perdedores dirigidos por John Huston e estrelados por Clark Gable e Montgomery Clift, acabou sendo o último filme completo de Marilyn e a despedida das telas de Gable.

Cinquenta anos depois de sua morte, o fascínio que Marilyn Monroe exerce sobre as pessoas não para de crescer. É curioso que uma atriz que tinha tão pouca auto-estima profissional — ela chegava ao ponto de possuir uma espécie de professora ou treinadora (Paula Strasberg) que a acompanhava e orientava em todas as cenas e que entrava em conflito com os diretores de seus filmes — seja hoje o maior ícone do cinema em todos os tempos. Mas o que matou Marilyn não foram seus filmes. Sua morte, foi, provavelmente, resultado de uma mágica que ela sempre soube possuir e que nós podemos comprovar até hoje, vendo-a cristalizada numa foto ou movimentando-se num filme. Só que Marilyn, em sua opinião, jamais conseguiu unir tal facilidade com sua noção ideal de amor.

A mais fotogênica das mulheres — sem exagero, são milhares de fotos perfeitas

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Escolhemos várias opções de capa para esta matéria. Não resistimos a colocá-las abaixo:

O Julgamento do Macaco discutiu a existência de Deus em tribunal

No dia 21 de julho de 1925 foi finalizado um dos casos mais rumorosos e filosóficos do judiciário norte-americano. Foi um julgamento que durou 11 dias e o primeiro a ser transmitido por rádio para o país inteiro. Também virou filme de sucesso — Inherit the Wind (O Vento Será sua Herança), de 1960. O chamado Julgamento do Macaco (“Monkey Trial”) foi a ação que o estado do Tennessee moveu contra o professor de biologia John Thomas Scopes, de 25 anos, acusado de ensinar a teoria da evolução em uma escola pública da minúscula cidade de Dayton.

A rua principal de Dayton em 1925 | Foto: Wikimedia Commons

Os meios de comunicação deram enorme cobertura ao caso e ganhá-lo tornou-se uma obsessão para ambas as partes. Durante o processo, o juiz John Raulston não permitiu que o advogado Clarence Darrow — militante da União Americana pelas Liberdades Civis e um dos mais famosos oradores dos EUA — chamasse cientistas “como testemunhas” em favor da teoria da evolução. Ao final, Scopes, que teve contra si outra celebridade, o advogado William Jennings Bryan, um democrata candidato por três vezes à presidência dos EUA, foi condenado a uma multa de 100 dólares. Bryan fez uma defesa apaixonada do criacionismo, mas foi punido por um enfarte e morreu seis dias após a decisão do tribunal.

O juiz Raulston utilizou-se de bom senso no julgamento de tão longínquo caso e, não obstante o fato do juri ter apontado o professor Scopes como “culpado”, impediu que o veredito fosse cumprido em razão de “erros técnicos” no processo. A pena dele fora o pagamento de 100 dólares, um montante que seria de aproximadamente R$ 2.700,00 em nossos dias.

O professor de Biologia John Scopes | Fonte: Wikimedia Comm0ns

O caso tinha contornos realmente curiosos, pois evidentemente não havia certeza de ambos os lados. Os criacionistas só concordavam que Scopes tinha de ser punido mesmo que estivessem se debatendo entre três teses distintas: alguns tinham certeza da criação recente do Universo e afirmavam que o mundo fora criado por Deus em seis dias com um de folga — Bryan pensava assim; outros achavam que tinha sido antes e falavam em Adão, Eva e na serpente; outros acreditavam num projeto à cargo de uma vaga inteligência pré-existente.

Darrow finalizou sua peroração dizendo que o réu não era culpado, mas que como o tribunal excluíra quaisquer testemunhos, desejando apenas ater-se à simples questão sobre se Scopes realmente ensinara que o homem descenderia de uma ordem animal tão inferior, ele jamais negaria que o fato ocorrera. Ele apenas esperava que o juri encontrasse um veredito que pudesse levá-los a uma tribunal ou instância superior.

Segundo o livro World’s Most Famous Court Trial, encerrou sua fala de forma enigmática:Não consigo nem mesmo explicar-lhes que penso que os senhores deveriam retornar com o veredito de não culpado. Não vejo como poderiam decidir nos próximos minutos sobre a existência de Deus. Não lhes peço isso”.

O juri demorou apenas nove minutos para decidir e, em 21 de julho, ele foi considerado culpado e condenado a pagar a multa de 100 dólares.

O mais incrível é que Scopes (1900-1970) não depôs em seu julgamento e ele, em sua autobiografia, garantiu que não tinha absoluta certeza se havia ou não ensinado a respeito da evolução das espécies em suas aulas, mas “que era possível, claro”.

Francisco Marshall é Cidadão Emérito de Porto Alegre

Em cerimônia realizada ontem na Câmara de Vereadores de Porto Alegre, sob as bênçãos e proteção de Deus, meu amigo Francisco Marshall — cujos títulos evito citar porque poderia me confundir — recebeu mais um: o de Cidadão Emérito de nossa cidade. A honraria é merecidíssima a quem tanto faz pela cultura em nossa cidade. Trata-se de uma pessoa multifacetada. Não conheço o acadêmico da Ufrgs, mas, espreitando os fatos do cara ser do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, do Instituto de Artes da Universidade e ainda membro da Academia Nacional de Ciências de Buenos Aires, fico meio pensativo. Conheço melhor seu trabalho no StudioClio, um autêntico um oásis cultural numa cidade retraída como a nossa. Um oásis que, diga-se de passagem, não lhe dá nenhuma contrapartida financeira, até pelo contrário — o que não estou autorizado a comentar, mas não consigo deixar de opinar: trata-se de um espetacular absurdo e uma comprovação de que Porto Alegre não deve jactar-se com muita minúcia. E conheço ainda melhor o amigo que frequenta nossa casa e que frequento. Legítimo representante de Dioniso, sua atividade como divertido e gentil interlocutor, amante da boa mesa, da cerveja, dos vinhos e dos charutos, entre outras coisas, é sem dúvida a faceta com a qual mais convivo. Vou deixar passar as facetas do pianista e compositor, tá?

A honraria foi entregue, coincidentemente, na data de seu aniversário, o qual costuma ser referido por ele como a Data Máxima do Paganismo Meridional. E foi.

Parabéns, Chico!

Para os homofóbicos pensarem sobre a amplitude das "anormalidades"

Pinguins homossexuais se tornam pais

Eles receberam um ovo rejeitado por uma fêmea – o filhote nasceu saudável e está sendo cuidado pelos novos papais

Os famosos pinguins homossexuais do zoológico Odense, na Dinamarca, agora são papais. Após expressarem a vontade de terem um filhote (seus veterinários contam que o casal tentava roubar ovos de outros pinguins), eles receberam um ovo para chamar de seu.

Os pais biológicos do ovo doado haviam rejeitado, já que a fêmea havia botado dois ovos – e os pinguins cuidam de apenas um por vez. Como os pinguins homossexuais já haviam praticado a incubação com um ovo artificial, doado pelos veterinários, eles receberam o ovo de verdade e o incubaram com sucesso.

Agora, os papais já cuidam de seu filhote recém-nascido. O sexo do pinguinzinho ainda não pode ser determinado (é possível saber apenas após os primeiros 9 meses de vida).

Essa espécie é conhecida como Pinguim-Imperador. Eles são os maiores pinguins conhecidos, podendo medir até 1,20 metro. Vivem na região da Antártida.

Confira as imagens da mais nova família do Zoo Odense (fotos de Ard Joungsma / Odense ZOO):

A morte de minha mãe e a eutanásia ausente

Minha mãe em 2007.

Este blog serve para várias coisas. Há as resenhas, as mulheres, o futebol, o cinema, as provocações e piadas, alguns comentários objetivos, mas quem tem um blog sempre acaba fazendo textos pessoais ou deixando escapar opiniões que jamais externaria em um meio mais formal, como, por exemplo, um jornal. Como minha mãe morreu na quarta-feira passada, 31/10, é natural que faça comentários sobre isso em meu espaço. Quanto mais não seja pela simples razão de que,  obviamente, é um dos assuntos mais presentes em meus pensamentos nestes dias.

A morte de minha mãe veio após longa doença e acredito que seu sofrimento deveria ter sido mais curto, ou seja, deveria ter sido dada à família a opção da eutanásia. Ela faleceu aos 85 anos e sofria, desde 2004, de uma doença muito parecida e irmã do Mal de Alzheimer: a Demência por Corpos de Lewy. Vários amigos que tiveram casos de Alzheimer ou de Lewy me alertavam para eu me preparar. Em fevereiro de 2007 — após uma queda em casa — ela passou a não mais caminhar. Também deixou de construir uma frase de mais de quatro palavras, raramente com sentido. Certa vez, chamei-a aqui de “minha bobinha feliz”. Ela vivia uma vida de total dependência, mas parecia satisfeita. Sua grande alegria era comer e nisto não se diferenciava muito de mim… Só que a doença seguia seu devastador curso e ela passou a simplesmente não interagir com as pessoas, até comer comia de olhos fechados. E, a partir de maio de 2011 — um ano e meio atrás — foi-lhe tirada sua única alegria.

Como ela não se dava conta mais de mastigar e engolir, parte do alimento ficava por muito tempo em sua boca e acabava indo para o pulmão. Este passou a funcionar muito mal. A asma eventual que ela sempre teve passou a ser regra. Eram várias nebulizações por dia, mas isso é apenas uma parte do problema. Foi-lhe colocada uma sonda. A comida passou a vir de uma garrafa plástica que ficava no alto de sua cadeira ou da cama e a ela ganhou um tubo de oxigênio para poder respirar.

Ou seja, minha mãe não interagia — foram meses e meses de visitas em que ela ficava de olhos fechados e, quando os abria, não acompanhava as pessoas, nem quando dirigíamos a palavra a ela — , não sentia o gosto de sua derradeira alegria — a comida — e respirava com auxílio de aparelhos. Uma mulher que era um furacão, como escreveu minha mulher no post abaixo, perdera toda a dignidade. Como se não bastasse, volta e meia agitava-se muito e confusamente, pois, apesar do oxigênio auxiliar, tinha fortes  crises asmáticas. Seu estado variava entre a completa apatia e zero de interação — suas maiores reações eram à temperatura da água durante o banho — e o sofrimento visível. Tinha a impressão de que ela gostava de ser beijada nas bochechas e na testa, mas é claro que nisto havia muito de desejo meu.

Digam-me, por favor, para que tudo isso? Por que minha mãe teve que sofrer tanto? Sei que não é permitida a eutanásia em nosso país, mas passei os últimos 18 meses querendo que ela fosse sedada e que fosse permitida à natureza agir. Era de opinião que deveriam cessar todas as ações que tivessem como objetivo prolongar sua vida. Todos trabalhavam em torno dela como se ela fosse se recuperar, mas só havia sofrimento naquela pessoa que mal parecia ser a Maria Luiza que conhecíamos. Durante o período, ela foi extremamente bem tratada. O pessoal da Villa Argento fez um trabalho magnífico. Ela passava todo o tempo deitada ou sentada, amarrada para não cair. Apesar disso, recebia tais cuidados que nunca teve escaras ou quaisquer sinais de mau tratamento. Minha irmã e eu sempre concordamos em lhe dar o mesmo que ela sempre nos deu, ou seja, tudo o que fosse possível, mas nunca imaginei aquele cenário. Este era o do sofrimento diário e confuso. Ela devia não entender de onde via a dor, o desconforto e a impossibilidade de respirar.

Para que meus sete leitores tenham uma ideia: na última visita que fiz a ela, acompanhado de minha filha e de minha mulher, ambas saíram de lá chorando. E, na minha opinião, ela estava muito bem naquele dia, respirava sem muito ruído e, bem, era um corpo tranquilo. Só. Como estava acostumado a coisas muito piores — grande agitação e forte asma — estava saindo de lá quase feliz, o que é um conformismo absurdo. Através de minhas acompanhantes, vi o estado de minha mãe.

Mas lhes digo uma coisa: toda vez que ia lá — não ia todos os dias — , mesmo que parecesse normal, acabava o dia em frangalhos. Alguma coisa do que via lá acabava penetrando em mim de tal forma que ia dormir mais cedo. Com certa indignação misturada à ironia (sou assim e não vou mudar), pensava: “hoje fui ver minha plantinha e fiquei desse jeito. Que merda”.

Passei meses desejando que alguém pudesse realizar NÃO um ato que provocasse a morte, mas nenhum que a impedisse. Porém, é claro, a Dra. Maria Luiza foi até o último dia segundo as regras da “ética” vigente. Tal fato tornou seu fim muito mais longo e sofrido para todos, principalmente para ela.

O salto supersônico de Baumgartner

O salto foi de uma altura de 39.045 metros, uma paisagem realmente vertiginosa (desculpem, desculpem). Felix Baumgartner, 43 anos, saiu de dentro de uma cápsula que fora içada por um imenso balão. De lá, ele saltou e acelerou até chegar a 1.342,8 km/h, ultrapassado a velocidade do som, batendo os recordes anteriores. O salto supersônico de Baumgartner é sensacional.

Os primórdios do gonzo em Diário de um Jornalista Bêbado

Publicado em 2 de junho de 2012 no Sul21.

Foto: Peter Mountain/The Rum Diary

O filme Diário de um Jornalista Bêbado reúne algumas importantes celebridades. A primeira é o autor do livro que deu origem ao filme, Hunter S. Thompson (1937-2005). Thompson não é apenas o autor do livro The Rum Diary, mas também um dos jornalistas que criou o gonzo. O jornalismo gonzo é um estilo de narrativa jornalística ou cinematográfica onde o autor abandona a objetividade ou o distanciamento, misturando-se à ação, argumentação ou enredo. Além de Thompson, o diretor Bruce Robinson é uma dupla ou tripla celebridade. Diretor de cinema de mão cheia, roteirista e dramaturgo de sucesso, Robinson também é ator – muitos devem lembrar-se dele como o ator principal do clássico A História de Adèle H., de François Truffaut. Como artista de múltiplos talentos, Robinson é competente porém bissexto em tudo o que faz, tanto que dirigiu apenas quatro filmes nos últimos 25 anos.  E a terceira celebridade é o ator que encarna Thompson, Johnny Depp, que dispensa apresentações e que acumula em si o fato de ter sido amigo pessoal do jornalista. Em 1998, Depp atuou na adaptação de outro livro de Thompson, Medo e delírio (Fear end loathing in Las Vegas), lisérgico filme de Terry Gilliam.

Hunter S. Thompson

Para além do jornalista e escritor, Thompson ficou conhecido pelo consumo intensivo de bebidas alcoólicas, LSD, mescalina e cocaína, entre outras substâncias. Também era sobejamente conhecido seu amor às armas de fogo, 0 ódio a Richard Nixon e o constante combate ao autoritarismo. Sofrendo graves problemas de saúde, cometeu suicídio em 2005, aos 67 anos.

O termo “gonzo” foi criado por Bill Cardoso, repórter do Boston Sunday Globe, para se referir a um artigo de Thompson. Segundo Cardoso, a palavra seria uma gíria irlandesa do sul de Boston para designar o último homem em pé após uma bebedeira generalizada. Por exemplo, a reportagem Fear and Loathing in Las Vegas — lançado em livro no Brasil em 1984 como Las Vegas na Cabeça – , era planejado como uma matéria sobre uma corrida no deserto, a Mint 400, que fora encomendada pela revista Rolling Stone. Porém Thompson gastou todo o dinheiro com drogas e álcool, fez dívidas, destruiu quartos e fugiu sem pagar. Em lugar da matéria que deveria escrever — sobre um evento esportivo — , o resultado foi a descrição de um ambiente, digamos, bastante distorcido pelo original ponto de vista do autor.

Hunter S. Thompson

O jornalismo gonzo costuma favorecer o estilo em detrimento da realidade a fim de alcançar outro tipo de precisão, ou de imprecisão,  permeada pelas experiências pessoais e as emoções do autor, fornecendo um contexto parcial — apesar de profundo — do evento ou tema que está sendo coberto. O equilíbrio e equidistância da edição são deixadas de lado em favor de uma abordagem participativa. A personalidade e a opinião do autor interagem com o tema e o uso de citações, sarcasmo, humor e palavrões é comum.

Thompson baseou seus trabalhos no conceito de William Faulkner de que “a ficção é frequentemente o melhor fato”. Apesar de Thompson não ter criado ficção, ele sempre fazia uso da sátira e do exagero em seus textos. O termo “gonzo” também é muitas vezes utilizado pejorativamente para descrever uma espécie de fluxo de consciência nada joyceano, regido menos pela erudição do que pelo álcool e as drogas. Na verdade, o New Journalism proposto por Thompson é uma radicalização do já existente jornalismo literário, uma abordagem que se utiliza da literatura, da arte e do humor negro a fim de afrontar o senso comum americano.

Tom Wolfe afirmou em entrevista que a cena jornalística entre os anos 60 e 70 estava cheia de literatos em busca de escrever “o grande romance”. O emprego numa redação era algo passageiro, algo que lhes daria inspiração para este texto seminal. Wolfe descreve aquele ambiente como “um enxame de fantasias fervendo, proliferando no húmus do ego da América”. Foi neste contexto que prosperou o talento de Thompson.

Foto: Peter Mountain/The Rum Diary

Obviamente, as tentativas de Thompson seriam ignoradas se ele fosse um escritor menor. Não era o caso. De escrita exagerada e sempre imerso no ambiente da notícia, Thompson era dotado de  uma visão artística dos fatos que se aliava a um notável talento descritivo. Recorria muitas vezes às hipérboles, como dissemos. Thompson costumava fazer-se acompanhar não de um fotógrafo, mas de um ilustrador. Uma lente seria realista demais. Então, o desenhista Ralph Steadman dava-lhe um gênero de apoio que nenhum fotógrafo obteria, o de adaptar-se perfeitamente ao texto, vendo os acontecimentos sob a perspectiva dos exageros e da literatura do autor. Seus textos giravam basicamente sobre sexo, drogas, política e esportes – raramente saía deste quarteto – e habitualmente eram iniciados por uma citação literária, fruto de uma memória digna de outro grande jornalista que consumia toneladas de álcool, Christopher Hitchens. Ele também não recusava as aspas e travessões para explicitar diálogos. Como um romance.

O filme de Bruce Robinson é consistente e bastante fiel ao livro e à personalidade de Thompson. Paul Kemp é evidentemente um alter ego do autor. Assim como Kemp, Thompson foi a Porto Rico no começo dos anos 60 para trabalhar como jornalista num periódico que logo fechou. De início é complicado ver em Johnny Depp, de 48 anos, um jovem jornalista de menos de 30 anos, mas sua atuação é tão convincente que esquecemos rapidamente do fato. Vendo vídeos de Thompson no YouTube, notamos o quanto não são casuais os tiques nervosos de Deep no filme de Robinson. Deep era efetivamente íntimo do jornalista, tanto que foi ele quem incentivou a publicação de The Rum Diary, escrito nos anos 60 e só publicado em 1998.

A história é simples: Paul Kemp candidata-se a uma vaga num jornal de San Juan, Porto Rico. Sempre bêbado e provavelmente com o mercado fechado para ele nos EUA, Kemp é admitido, recebendo a missão de escrever a coluna de horóscopo. Então, é convidado por um investidor americano para auxiliar em um grande e abusivo empreendimento imobiliário. Ele escreveria textos que levariam a opinião pública a simpatizar com a mega-construção. Assim, ele passa a viver entre o trabalho, o frila, a péssima moradia que arranja, o interesse na mulher do investidor e o rum, principalmente o último. Várias cenas com seus colegas Sala e Moberg (Michael Rispoli e Giovanni Ribisi) são hilariantes, tanto pelas bebedeiras quanto pelas situações em que se metem. Como  trata-se de um texto de juventude, Thompson ainda gira em torno do rum, sem experimentar as drogas presentes em Medo e Delírio, livro posterior e filme mais antigo.

Hunter S. Thompson

Mas há uma cena que liga Medo e Delírio ao Diário. É quando Kemp experimenta ácido e, sob sua influência, vê o amigo Sala sob um formato delirante e engraçadíssimo. Se Medo e Delírio levava isso ao extremo, Diário de um Jornalista Bêbado encaminha o gonzo com maior sutileza, mas nunca sem defini-lo ou demonstrá-lo.

O marinheiro e a enfermeira se reencontram 67 anos depois

É uma imagem clássica. No dia 14 de agosto de 1945, o Japão anunciou sua rendição, certamente em pânico após as bombas jogadas sobre Hiroxima e Nagasaki. Era o final da II Guerra Mundial e havia festa no Times Square de Nova Iorque. É a imagem do final da guerra: um marinheiro dando um beijo apaixonado em uma enfermeira. 67 anos depois, sem nunca ter repetido a cena, George Mendonsa e Greta Zimmer Friedman, ambos de 89 anos, se reuniram no local do famoso beijo.

“Era o momento. Você volta do Pacífico, e fica sabendo que a guerra terminou”, disse Mendonsa. Ele conta que tinha um encontro marcado com outra mulher chamada Rita Petry — sua esposa até hoje — no Radio City Music Hall, quando a notícia da rendição japonesa foi anunciada. Ele encontrou Rita e eles foram para um bar, beberam alguma coisa e, no caminho, Mendonsa viu uma mulher com uniforme de enfermeira. Então, deixou Rita a ver navios e correu para agarrá-la. “Era a emoção pelo final da guerra, somada ao álcool. Quando eu vi a enfermeira, saí correndo, abracei-a e a beijei.”

Greta disse: “Eu não o vi se aproximando; antes que eu percebesse, estava em seus braços”.

O que não se faz para tirar uma casquinha, né? Esse momento de alegria, oportunismo e paixão foi capturado pelo fotógrafo Alfred Eisenstaedt, da Life. Rita Mendonsa pode ser vista sorrindo ao lado do ombro do marinheiro na clássica foto. Ela diz que não se importou com o beijo que seu namorado deu na desconhecida. Dá para notar que se trata de um ser humano altamente evoluído.

A enfermeira e o marinheiro hoje, aos 89 anos
O conquistador e sua esposa Rita: deixada subitamente por ele naquele 14 de agosto de 1945

A mais hedionda das fotos?

O genocídio armênio ou holocausto armênio é como é chamada a matança e deportação forçada de centenas de milhares ou até de mais de um milhão de armênios que viviam no Império Otomano, com a intenção de exterminar sua presença física e cultural durante o governo dos chamados Jovens Turcos, de 1915 a 1917.

O genocídio teria inspirado Hitler no extermínio de judeus. Hitler teria dito que as pessoas esqueceriam do fato — Afinal quem fala hoje do extermínio dos armênios? O genocídio caracterizou-se pela inédita violência, além de prisões e assassinatos, houve a utilização de marchas forçadas para a deportação, o que levou milhares de armênios à morte. Foi uma política de extermínio semelhante àquela que os nazistas impuseram aos judeus e a que os judeus impõem hoje aos palestinos. Historicamente, está estabelecido que houve o genocídio, há documentação e a certeza de um plano organizado de eliminar sistematicamente os armênios. Adota-se a data de 24 de abril de 1915 como a do início do massacre, por ser a data em que dezenas de lideranças armênias foram presas e massacradas em Istambul.

O governo turco rejeita o termo genocídio e também que as mortes tenham sido intencionais. Quase cem anos depois, ainda persiste a polêmica, tanto que o Nobel Orhan Pamuk entrou em rota de colisão e passou a ser perseguido pelo governo turco e por parte da opinião pública do país ao admitir o genocídio, em entrevista concedida a uma revista suíça.

No último dia 7, o presidente francês, François Hollande, afirmou que “continua com a intenção de propor um projeto de lei para reprimir a negação do genocídio armênio”. Haveria uma pena para quem o negasse.

O Genocídio -- cena durante uma das marchas de deportação: com um pedaço de pão, um oficial turco provoca crianças armênias famintas (Clique para ampliar)