A construção e a queda do Muro de Berlim

A construção e a queda do Muro de Berlim

No dia 9 de Novembro de 1989, o Muro de Berlim começava a ser derrubado. Ele existia desde 1961 e tem longa história. Após a Segunda Guerra Mundial, o que restou da Alemanha foi dividido em quatro zonas de ocupação, cada uma controlada por uma das quatro potências aliadas: Estados Unidos, Reino Unido, França e União Soviética.

A divisão da Alemanha no pós-guerra | Imagem: Wikipedia

A capital, Berlim, ficava no interior da zona soviética e foi igualmente dividida em quatro setores.

A divisão da capital, Berlim | Imagem: Wikipedia

Nos dois anos subsequentes, ocorreram desentendimentos entre os soviéticos e as outras potências de ocupação, incluindo a recusa dos primeiros a participarem dos planos de reconstrução de uma Alemanha autossuficiente. Enquanto isso, Joseph Stalin foi construindo um cinturão protetor da União Soviética através de países satélites em sua fronteira ocidental. O Bloco do Leste — também chamado de Pacto de Varsóvia e no Ocidente de Cortina de Ferro — incluía Polônia, Hungria, Tchecoslováquia, Romênia, Bulgária e Albânia (até meados dos anos 60). Fora do Leste Europeu, Mongólia, Cuba, Vietnã e Coreia do Norte, eram algumas vezes considerados como parte do bloco.

Em 1945, Stalin imaginava — e revelou aos líderes alemães sob seu controle — que enfraqueceria lentamente a posição britânica em sua zona de ocupação, que os Estados Unidos iriam retirar sua ocupação dentro de um ano ou dois e que, em seguida, nada ficaria no caminho de uma Alemanha unificada sob controle soviético.

Nada disso ocorreu e, em 1948, Stalin instituiu o Bloqueio de Berlim, impedindo que alimentos, materiais e suprimentos pudessem chegar a Berlim Ocidental. Os Estados Unidos, Reino Unido, França, Canadá, Austrália, Nova Zelândia e vários outros países começaram uma imensa “ponte aérea para Berlim”, fornecendo alimentos e outros suprimentos à parte da cidade controlada pelo Ocidente. Em maio de 1949, Stalin acabou com o bloqueio, permitindo a retomada dos embarques por terra do Ocidente para Berlim.

Animação: Mao, Stalin e Ulbricht — líder da RDA –, na festa de 70 anos do segundo.

A República Democrática Alemã (Alemanha Oriental ou RDA), a parte da ex-Alemanha controlada pelos soviéticos,  foi instituída em 7 de outubro de 1949. Sua autonomia era realmente limitada. O Ministério de Negócios Estrangeiros Soviético concedeu autoridade administrativa a Alemanha Oriental, mas os soviéticos participavam de forma clara e inequívoca das estruturas de administração, assim como da polícia militar e secreta. A Alemanha Oriental era muito diferente da Ocidental (República Federal da Alemanha), que se originou nas áreas controladas por norte-americanos, britânicos e franceses e que se desenvolveu como um país capitalista.

O crescimento econômico da Alemanha Ocidental a partir de 1950 fez com que o padrão de vida no país melhorasse continuamente e muitos alemães orientais sonhassem com uma mudança de ares. Aproveitando-se da zona de fronteira entre as duas Alemanhas, o número de cidadãos da RDA que se deslocaram para a Alemanha Ocidental totalizou 197.000 em 1950, 165.000 em 1951, 182.000 em 1952 e 331.000 em 1953. Uma das razões para o aumento acentuado em 1953 foi o receio que a sovietização se intensificasse. E, dentro de Berlim, as pessoas continuavam “fugindo” para o lado ocidental.

Não se falava ainda na construção de um muro que dividisse a cidade, mas no começo de 1961 intensificaram-se os boatos sobre uma grande obra em Berlim Oriental. Dois meses antes da construção, uma jornalista da Alemanha Ocidental fez uma pergunta sobre um muro a Walter Ulbricht, líder da RDA na época: “Eu não sei nada sobre quaisquer planos, sei que os trabalhadores da capital estão ocupados principalmente com a construção de apartamentos e que suas capacidades estão sendo inteiramente utilizadas. Ninguém tem a intenção de construir um muro”.

Falando desta forma, Walter Ulbricht foi o primeiro político a referir-se ao muro. Os serviços secretos faziam seu trabalho e sabia-se  que Ulbricht tinha pedido a Nikita Khrushchev, durante numa conferência dos Estados do Pacto de Varsóvia, permissão para bloquear as fronteiras a Berlim Ocidental, incluindo a interrupção de todas as linhas de transporte público.

Construção do Muro de Berlim em 1961

A construção do muro

No dia 12 de agosto, o Conselho de Ministros da Alemanha Oriental decidiu usar as forças armadas para fechar as fronteiras e instalar gradeamentos. Durante a operação, na madrugada de 13 de agosto de 1961, os militares bloquearam as conexões de trânsito a Berlim Ocidental . Eram apoiados por forças soviéticas. Todas as conexões foram fechadas.

No mesmo dia do início da construção do muro, o chanceler da Alemanha Ocidental, Konrad Adenauer, dirigiu-se à população pelo rádio, pedindo calma e anunciando uma resposta à altura daquilo que chamou de agressão. Adenauer tinha visitado Berlim havia apenas duas semanas. O prefeito de Berlim, Willy Brandt, protestou energicamente contra a construção do muro e a divisão da cidade, mas sem sucesso. No dia 16 de Agosto de 1961 houve uma grande manifestação com 300 mil participantes em frente do Schöneberger Rathaus, em Berlim Ocidental, para protestar contra o muro. Nada foi conseguido.

A reação dos aliados ocidentais foi débil. Só 72 horas depois chegou um protesto oficial a Moscou. Em razão disso, circulavam rumores que a União Soviética havia garantido que a ação não afetaria Berlim ocidental.

A solução não é muito bonita, mas mil vezes melhor do que uma guerra, disse John Kennedy, presidente dos Estados Unidos.

Os alemães orientais param o fluxo de refugiados e desculpam-se com uma cortina de ferro ainda mais densa. Isto não é ilegal, concordou Harold Macmillan, primeiro-ministro britânico.

Contudo, Kennedy mandou forças armadas suplementares e o vice-presidente dos Estados Unidos, Lyndon Johnson, acompanhou as tropas, protestando contra o chefe de Estado da RDA, Walter Ulbricht. Ele reagiu. Os ânimos ficaram exaltados a ponto de o comandante soviético na RDA pedir moderação a Ulbricht. Eram tempos de Guerra Fria.

O Muro pronto

Havia oito passagens de fronteira entre Berlim Oriental e Ocidental e, para passar, era necessário permissão. Morreu muita gente nos 28 anos da existência do Muro. Não existem números exatos porque a RDA não prestava informações sobre incidentes fronteiriços. A ordem era matar quem forçasse passagem. O repertório de mortes é digno de uma tragicomédia. Havia as “mortes convencionais” a tiros durante a corrida. Mas também houve pessoas baleadas após saírem das janelas de seus apartamentos, localizados ao lado do muro, pendurados em cordas. Houve também quedas em balões de gás de fabricação caseira. Por incrível que pareça, esses incidentes eram utilizados pela RDA em sua propaganda para justificar a construção do Muro de Berlim.

De qualquer forma, entre 1961 e 1989, 75.000 conseguiram sair da Alemanha Oriental. A deserção era um crime punido com até 2 anos de prisão. Os membros das forças armadas eram mais severamente punidos, com pelo menos 5 anos de prisão.

Gorbachev: abertura muito além do planejado

O fim do Bloco Socialista

Submetida desde os anos 60 a um longo período de estagnação política e econômica que se explica, em grande medida, pela necessidade de desviar recursos da produção (de implementos, alimentos, etc.) para a indústria bélica, com a finalidade de fazer frente aos EUA, a União Soviética conheceria um rápido processo de transformação a partir da posse de Gorbachev como novo secretário-geral do Partido Comunista, em 1985.

Relativamente jovem em comparação com seus antecessores, Gorbachev tinha 54 anos de idade quando chegou ao poder. Ele lançaria um amplo programa de reformas, visando à renovação política e econômica do país e do bloco comunista. Uma vertiginosa sucessão de acontecimentos, contudo, levaria as mudanças para muito além do que pretendia o próprio Gorbachev.

Seu programa de liberalização apenas tornou mais visíveis problemas que há muito vinham se acumulando: a ineficiência da economia, engessada por um planejamento excessivamente centralizado; o peso dos crescentes gastos militares; a inflexibilidade de uma burocracia estatal de proporções monstruosas, que procurava controlar e regulamentar cada atividade produtiva. Para Gorbachev, só haveria futuro para o socialismo se tal estrutura fosse inteiramente reformulada.

Foi nesse contexto que ele lançou, em fevereiro de 1986, o programa conhecido como Glasnost (“transparência”), visando a combater a corrupção e a ineficiência administrativa dentro do Estado soviético, como parte de um projeto maior de abertura política. E, pouco depois, veio um segundo programa — a Perestroika (“reestruturação”) — visando aumentar a produtividade da economia do país. Além disso, Gorbachev passaria a reduzir gradualmente a ajuda econômica aos países do Leste Europeu e a retirar de lá várias das tropas soviéticas.

Gorbachev e Reagan: sorrisos pra todo lado

A política externa soviética também passou por transformações significativas. Procurando estabelecer um novo padrão de entendimento com os países capitalistas, Gorbachev reuniu-se com o presidente dos EUA, Ronald Reagan, em cinco ocasiões diferentes. Nunca dois dirigentes dos Estados Unidos e da União Soviética haviam mantido tantos contatos diretos. Já no primeiro desses encontros, em novembro de 1985, ambos anunciariam a disposição de reduzir seus arsenais nucleares pela metade, em acordo a ser formalizado futuramente. Reagan, que seguia vendo a União Soviética como “o império do mal”, recuou do compromisso, mas as propostas de desarmamento de Gorbachev lhe valeram uma popularidade que nenhum outro líder soviético havia antes obtido no mundo ocidental. Em sua visita aos Estados Unidos, em dezembro de 1987, ele foi entusiasticamente recebido pelo público norte-americano. Sua esposa, Raíssa Gorbachova, também era personalidade internacional.

Na ocasião, foi assinado um tratado inédito de eliminação de mísseis Cruise e Pershing II norte-americanos, em troca da eliminação de SS-20 soviéticos: tratava-se do primeiro acordo de desativação de toda uma classe de armas nucleares. Um ano depois, em pronunciamento realizado na ONU, Gorbachev anunciaria a decisão de reduzir os contingentes militares soviéticos em 20% — o equivalente a quinhentos mil homens — até o final de 1991.

As reformas de Gorbachev previam também a realização de eleições livres para o Congresso, em março de 1989. Era a primeira vez que os soviéticos iriam às urnas escolher seus representantes. Mas todo esse esforço, que visava a dar novos rumos ao socialismo, passou a enfrentar problemas inesperados: dentro da onda liberalizante, grupos nacionalistas, étnicos e religiosos, sufocados por décadas, voltaram a se mobilizar, reclamando a independência de regiões como a Letônia, a Lituânia e a Estônia. Também nos países do Leste Europeu ressurgiram movimentos a favor da autonomia nacional.

A unidade da União Soviética e do bloco comunista sempre fora garantida por um rígido esquema de centralização política: nas ocasiões em que movimentos colocaram em xeque tal esquema — como na Hungria, em 1956, ou na Tchecoslováquia, em 1968 — os soldados do Exército Vermelho e do Pacto de Varsóvia haviam sido convocados. Agora, porém, isso não parecia mais possível. Um a um, os países do Leste Europeu foram ganhando cada vez mais autonomia em relação à União Soviética, desmontando a ordem construída por Stalin ao final da Segunda Guerra Mundial.

O Berliner Mauer (Muro de Berlim) passava por aqui

A queda do Muro

Depois de 28 anos de existência, o Muro de Berlim começou a ser derrubado na noite de 9 de Novembro de 1989. Antes da sua queda, houve grandes manifestações. Pedia-se liberdade para ir e vir. Além disto, já estava acontecendo um enorme fluxo de refugiados ao Ocidente nos países satélites.

O impulso decisivo para a queda do muro foi um mal-entendido. Um boato de que o Conselho de Ministros da Alemanha Oriental tinha abolido totalmente as restrições de viagens ao Oeste fizeram milhares de pessoas marcharem aos postos fronteiriços, pedindo sua imediata abertura. Nem as unidades militares, nem as unidades de controle de passaportes haviam sido instruídas.

Era um boato, mas os guardas da fronteira não sabiam o que fazer. A fronteira abriu-se no posto da Rua Bornholmer, às 23h. Mais alemães viram a abertura da fronteira pela televisão e marcharam para lá. Como muitas pessoas já dormiam quando a fronteira se abriu, na manhã do dia 10 de novembro havia grandes multidões querendo passar.

Os cidadãos da RDA foram recebidos com grande euforia em Berlim Ocidental. Muitas boates perto do Muro serviram cerveja gratuita. Pessoas que nunca tinham se visto antes abraçavam-se. Cidadãos de Berlim Ocidental pularam o Muro e foram para o Portão de Brandenburgo, até então inacessível aos ocidentais.

No dia da queda do Muro, em atitude inteiramente inesperada, o violoncelista soviético e estrela internacional Mstislav Rostropovich, saiu sozinho de seu hotel em Berlim com uma cadeira e seu instrumento. Não avisou ninguém de sua intenção de tocar trechos de uma Suíte para Violoncelo Solo de Johann Sebastian Bach bem na frente do Muro. Tornou-se um dos principais símbolos daquele dia.

Rostropovich no Muro de Berlim

No mesmo dia, começou a demolição do Muro.

(*) Com compilações de várias fontes. O trecho sobre a decadência do Bloco Soviético foi adaptada a partir de texto do blog História, do professor Sérgio Cabeça.

Porque hoje é sábado, fotos raras de Marilyn Monroe

Porque hoje é sábado, fotos raras de Marilyn Monroe

Não conheço um ser humano

Marilyn Monroe (7)

que tivesse mais intimidade com as câmeras — fotográficas ou não —

Marilyn Monroe (48)

do que Marilyn Monroe.

Marilyn Monroe (47)

Há milhares de fotos suas,

Marilyn Monroe (45)

quase todas lindas.

Marilyn Monroe (44)

Um de seus maridos,

Marilyn Monroe (43)

o grande dramaturgo e romancista Arthur Miller,

Marilyn Monroe (42)

dizia que ela era

Marilyn Monroe (41)

“a mulher triste que deixava os outros felizes”. Verdade.

Marilyn Monroe (33)

Seu caso com John Kennedy,

Marilyn Monroe (40)

levado por ela com notável ingenuidade,

Marilyn Monroe (39)

deve ter sido o principal motivo de sua morte.
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Marilyn Monroe: os 50 anos da morte da mulher triste que deixava os outros felizes

Marilyn Monroe morreu há cinquenta anos, em 5 de agosto de 1962

Publicado no Sul21 em 5 de agosto de 2012  

Em Os Desajustados (The Misfits, 1961), último filme com Marilyn Monroe, há uma cena em que Gay (Clark Gable), olha para Marilyn e diz que ela é uma mulher triste. Ela responde que ele é único a perceber isto, já que todos acham-na feliz. Gable então replica dizendo que ela é uma mulher triste que deixa os outros felizes. O dramaturgo Arthur Miller certamente estava pensando em sua esposa Marilyn Monroe quando escreveu o roteiro do filme. Ali, ele não somente prestava  homenagem a ela, dando-lhe uma personagem que não era somente caras e bocas, mas fazendo-lhe uma curta e poética definição. É um grande momento do cinema. Restitui a integridade de uma mulher que devia servir apenas ao divertimento do mundo.

Porém, a morte de Marilyn Monroe, ocorrida há 50 anos, no dia 5 de agosto de 1962, foi um exemplo de indignidade. É certo que a atriz tomava muitos remédios e era bastante problemática — mas é muito provável, quase certo, que haja coadjuvantes no ato final e que estes coadjuvantes fossem representantes de protagonistas da vida pública norte-americana. A notícia de sua morte chocou o mundo, tendo prevalecido a versão da overdose por barbitúricos. Mas ninguém sabe ao certo o que aconteceu naquela noite. Ouviram-se helicópteros. Uma ambulância foi vista esperando fora da casa antes que a empregada desse o alarme. As gravações de seus telefonemas sumiram, assim como o relatório da autópsia. Os amigos de Marilyn que tentaram investigar o caso receberam ameaças de morte. A documentação do FBI foi suprimida. Todos os caminhos para o esclarecimento de sua morte foram fechados, sinal de que ela se envolvera com algo que, naquela época, era maior do que ela.

Um poster despertou a curiosidade de JFK

Sabe-se do escândalo que ocorre cada vez que um presidente ou político norte-americano faz algo incorreto, tal como um adultério e, com efeito, o caso de Marilyn era apenas e simplesmente com John Kennedy. A obsessão de Kennedy por MM começou forma bastante cômica. Antes de ser presidente, Kennedy fora operado da coluna e permanecera imobilizado numa cama de hospital. Para que ele ficasse mais feliz, seu irmão Bobby pendurou, de cabeça para baixo, na frente de sua cama, um poster onde Marilyn aparecia de pernas abertas, vestindo um short curto e uma blusa decotada. Foi que bastou para Kennedy buscasse conhecê-la.

O caso entre eles teve início após o divórcio de Marilyn com o jogador de beisebol Joe di Maggio — segundo casamento da atriz — e seguiu enquanto ela esteve casada com Arthur Miller. Seus encontros ocorriam na suíte que ele mantinha no Carlyle Hotel, em Nova Iorque, ou na casa de praia de um amigo, em Santa Monica, na Califórnia. Como costuma acontecer, os governos são cestos de ofídios. O FBI grampeou a tal casa de praia e John Edgar Hoover, chefe da organização, usou as gravações para manter-se no cargo quando Kennedy tentou demiti-lo. Para complicar, Hoover teria insinuado que havia outro grampo na casa: o da Máfia, com quem JFK mantivera estreito relacionamento durante as eleições, apesar de seu discurso de “acabar com a Máfia”.

JFK desejava um rompimento elegante, MM tinha ilusões

Os conselheiros mais próximos advertiam-no de que era perigoso ter MM como amante por dois motivos: os chefes mafiosos poderiam usar o caso contra ele — seria um enorme escândalo se a mídia soubesse que ele mantinha um caso fora do casamento e logo com quem — e a suspeita de que Marilyn poderia se descontrolar a qualquer momento e fazer uma cena pública. E, ao que tudo indicava, em 1962 Kennedy desejava livrar-se dela de uma forma elegante, de modo a não se prejudicar.

Comprovando como poderia ser perigosa, Marilyn resolveu dar um grande presente a Kennedy. Durante uma festa na sede do Partido Democrata, ela cantou com voz inequivocamente lasciva (filme abaixo) o célebre Happy Birthday, Mr. President. Ela estava com um vestido que parecia ser pura pele e pérolas e, para qualquer bom entendedor, ficou claro o gênero de ligação que tinha com o presidente. John Kennedy quase cometeu um ato falho ao dizer: “Já posso me retirar da política após ter ouvido este Happy Birthday cantado para mim de modo tão doce e encantador.”

Isso ocorreu três meses antes da morte de Marilyn. Apesar de ninguém saber ao certo o que houve naquele 5 de agosto, seus amigos — como quase todo mundo — suspeitaram de uma assassinato. Os suspeitos de terem cometido ou mandado cometer o crime são Robert Kennedy (com quem ela também teve um caso), John F. Kennedy, o mafioso Sam Giancana, e também o FBI, a CIA e até seu psiquiatra, Ralph Greenson.

Robert Kennedy, Marilyn Monroe e John Kennedy logo após os famosos parabéns

Se muitos mistérios rondam a morte de Marilyn Monroe, sua vida foi tão vasculhada que se sabe de quase tudo: as idiossincrasias, a data de cada sessão de fotos, de cada cena filmada ou não filmada e por quê, de seus casos amorosos, de sua enorme insegurança — achava-se péssima atriz — , suas faltas, ausências prolongadas, internamentos, crises por causa dos remédios, por causa do alcoolismo, crises existenciais… Mas o resumo que pode ser formado a partir de tantas informações é a de que a mulher mais desejada de seu tempo passou toda a sua curta vida tentando encontrar um amor verdadeiro e tornar-se uma verdadeira atriz. De fora, pode parecer simples, mas a angústia nunca é simples. Marilyn era uma belíssima mulher e uma aceitável atriz. Foi dona de uma capacidade fotogênica miraculosa, imbatível carisma, beleza, sensualidade e simpatia. Realizou grande atuação em seu último filme, o citado Os Desajustados, onde fez muito bem um papel bastante complicado. Em sua defesa, pode-se dizer que seus outros filmes eram comédias românticas que não lhe exigiam grande coisa. Quando lhe foi exigido mais, como em Quanto mais quente melhor (Some like it hot, 1959), também respondeu à altura.

Uma das célebres cenas de O Pecado Mora ao Lado (1955)

Seu verdadeiro nome era Norma Jean Mortenson, mas logo foi mudado para Norma Jean Baker. Ela nasceu no dia 1º de junho de 1926 no County Hospital, em Los Angeles, e era a terceira filha de Gladys Pearl Baker. A confusão do nome deve-se ao fato de não se saber quem foi o verdadeiro pai biológico da atriz. O nome do pai, na certidão de nascimento, foi o Edward Martin Mortensen, mas este sempre negou a paternidade, pois quando ele se separou da mãe de Marilyn, em 1924, Gladys ainda não estava grávida. Mortensen viveu até os 85 anos de idade e, após sua morte, foram encontrados documentos que mostravam que ele pediu divórcio de Gladys em março de 1927, não em 1924, e Norma Jean nasceu em 1926. Ou seja, o caso não é claro, ainda mais que a Gladys teria um caso com Charles Stanley Gifford, um vendedor com quem ela trabalhou até ser levada a uma instituição psiquiátrica por problemas psicológicos. Gladys teria confidenciado a amigos que o pai de Norma seria Gifford.

Gladys Pearl Baker e Charles Gifford

Marilyn começou a carreira em alguns pequenos filmes — à exceção de uma boa participação em A Malvada (All about Eve, 1950), de  Joseph Mankiewicz — , mas seu notável charme, beleza e frequente presença em eventos levaram-na logo a conquistar papéis em filmes dos grandes estúdios. Mas isso toda candidata à estrela faz e não chega ao grau de notoriedade de MM. É que junto à sensualidade e intensidade, Marilyn transpirava vulnerabilidade e inocência, tornando-a querida no mundo inteiro, mesmo quando as notícias sobre seu estilo de vida eram divulgadas. Seu rosto e jeito eram uma explosiva combinação de menina frágil e inocente, dominante e sedutora.

Outra célebre cena de O Pecado. Como não cometê-lo?

Foi a performance em Niagara (Torrentes de Paixão, 1953), de Henry Hathaway, que a tornou uma grande estrela. Marilyn fez o papel de uma jovem e bela esposa que planeja matar seu velho e ciumento marido. O sucesso de Niagara lhe rendeu, no mesmo ano, os papéis principais em Os Homens Preferem as Loiras (Gentlemen Prefer Blondes, 1953), de Howard Hawks, onde divide o protagonismo com Jane Russell, e Como Agarrar um Milionário (How to Marry a Millionaire, 1953), de Jean Negulesco. A revista Photoplay votou em Marilyn como melhor atriz iniciante de 1953 e, aos 27 anos de idade, ela era sem dúvida a loira mais amada de Hollywood.

Marilyn saudando as tropas americanas na Coreia. Adivinhem se não houve uma enorme confusão?

No dia 14 de janeiro de 1954, Marilyn casou com seu namorado, o jogador de beisebol Joe DiMaggio. Durante a lua de mel em Tóquio, Marilyn fez uma performance para os militares que serviam na Coreia. A sua presença causou quase um motim, e Joe se mostrou claramente incomodado com aqueles milhares de homens desejando sua mulher. E seguiu se incomodando após o assédio da Coreia. Ela era muito cobiçada, sua beleza chamava atenção e, na verdade,  isso causou brigas e ciúmes com todos os homens com quem se relacionou.

Não era muito fácil manter uma relação amorosa com mulher tão desejada

Nove meses depois, separaram-se. Em 1955, logo após o imenso sucesso de O Pecado mora ao Lado (The Seven Year Itch, 1955), de Billy Wilder, Marilyn desejou livrar-se da imagem de furacão loiro. Queria seguir com seriedade a carreira de atriz e mostrar que era mais que uma mulher que atiçava o imaginário masculino. Ela mudou-se de Hollywood para Nova York a fim de estudar na escola de atores de Lee Strasberg. Em 1956, Marilyn abriu sua própria produtora, a Marilyn Monroe Productions. A empresa produziu os filmes Nunca Fui Santa (Bus Stop, 1956), de Joshua Logan e O Príncipe Encantado (The Prince and the Showgirl, 1957), dirigido e estrelado por Laurence Olivier. Não eram ainda filmes satisfatórios nem “sérios”, mas em 1959 Marilyn brilhou em Quanto Mais Quente Melhor (Some Like It Hot), de Billy Wilder — uma comédia altamente satisfatória sob qualquer ângulo,  onde estava ao lado de Jack Lemmon e Tony Curtis — , tendo seu trabalho reconhecido ao vencer o Globo de Ouro de “Melhor Atriz de Comédia”.

A excelente atriz de Os Desajustados era muito insegura como atriz e jamais dispensava sua “treinadora”

No dia 29 de junho de 1956, Marilyn casou-se com seu novo namorado, o dramaturgo Arthur Miller. O próprio confessava que ela o deixava de “joelhos bambos”. Enquanto estavam casados, Miller escreveu o papel de Roslyn Taber de Os Desajustados, especialmente para Marilyn. Segundo Fernando Monteiro, este talvez seja o melhor roteiro já escrito para o cinema, com um argumento tão perto da vida que o espectador parece poder tocá-la com a mão. A história dos quatro perdedores dirigidos por John Huston e estrelados por Clark Gable e Montgomery Clift, acabou sendo o último filme completo de Marilyn e a despedida das telas de Gable.

Cinquenta anos depois de sua morte, o fascínio que Marilyn Monroe exerce sobre as pessoas não para de crescer. É curioso que uma atriz que tinha tão pouca auto-estima profissional — ela chegava ao ponto de possuir uma espécie de professora ou treinadora (Paula Strasberg) que a acompanhava e orientava em todas as cenas e que entrava em conflito com os diretores de seus filmes — seja hoje o maior ícone do cinema em todos os tempos. Mas o que matou Marilyn não foram seus filmes. Sua morte, foi, provavelmente, resultado de uma mágica que ela sempre soube possuir e que nós podemos comprovar até hoje, vendo-a cristalizada numa foto ou movimentando-se num filme. Só que Marilyn, em sua opinião, jamais conseguiu unir tal facilidade com sua noção ideal de amor.

A mais fotogênica das mulheres — sem exagero, são milhares de fotos perfeitas

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Escolhemos várias opções de capa para esta matéria. Não resistimos a colocá-las abaixo:

Amor à Literatura

Recebi uma intimação para responder este questionário. Na verdade, acho um saco estes pedidos e sempre os ignoro, mas como é sobre literatura, vamos lá. Tentei descobrir o primeiro autor das perguntas, mas entreguei os pontos.

1. Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro quererias ser?

Esta pergunta é sobre que livro gostaríamos de SER. Interessante. Então, desejaria ser alegre. Sugeriria tornar-me a Modesta proposta para evitar que as crianças da Irlanda sejam um fardo para os seus pais ou para seu país de Jonathan Swift. Opcionalmente poderia ser o irresistivelmente cômico Uma Confraria de Tolos de John Kennedy Toole ou quem sabe — tornando-me mais reflexivo, sutil e elegante — os esplêndidos Contos de Machado de Assis. Em qualquer um dos casos, porém, seria muito solicitado pelos ouvintes; seria popularíssimo, sem dúvida.

Quem não leu Fahrenheint 451 ou não viu o filme de mesmo nome de François Truffaut, ficará sem entender a última frase do parágrafo anterior… ou talvez tudo.

2. Já alguma vez ficaste apanhadinho(a) por um personagem de ficção?

Sem dúvida, este questionário veio de Portugal. Apanhadinho é igual a “ficar caidinho” ou “ficar apaixonado”.

Uma vez, numa roda de amigos discretamente alcoolizada, uma das mulheres perguntou aos homens presentes quais teriam sido as mulheres de suas vidas. Por azar, coube a mim ser o primeiro a responder. Sou dono de proverbial franqueza, de lendária sinceridade e, depois de olhar para minha insegura cara-metade da época, declarei: a mulher de minha vida é certamente alguém que quis e nunca tive e da qual só imagino delícias, perfeições, calma e carinho. É alguém de quem não conheço os defeitos. A mulher de minha vida é… E disse um nome conhecido daquelas pessoas que quedaram-se boquiabertas.

Hoje, fiquei pasmo ao ver que as “mulheres de livros” pelas quais me apaixonei têm igualmente amores irrealizados. A primeiríssima é Sílvia, que aponto polemicamente como a maior personagem de Erico Veríssimo. Ela é a principal habitante de O Arquipélago, terceiro volume da trilogia O Tempo e o Vento. Sílvia é casada com outro, mas seu grande amor é Floriano, com quem apenas dialogava, trocava cartas e a quem escrevia um diário. A segunda é Sarah Woodruff, do romance de John Fowles A Mulher do Tenente Francês e a terceira é Leen do romance Casa sem Dono, de Heinrich Böll. A história de Sarah é muito conhecida, ainda mais depois da indicação de Meryl Streep ao Oscar, no papel de Sarah. Já Leen é obscura. Ela morre aos 19 anos, na página 124 de minha edição, após morar um ano com Albert, personagem principal do livro de Böll. O vendaval de sua entrada e saída em Casa sem Dono destroçou temporariamente minha vida.

3. Qual foi o último livro que compraste?

(Anotação: nunca fazer esta pergunta à Caminhante.)

Foram dois, ambos comprados num sebo: Os Duelistas de Joseph Conrad e A chuva antes de cair, de Jonathan Coe.

4. Qual o último livro que leste?

Foram dois.  A Borra do Café de Mario Benedetti e A chuva antes de cair de Jonathan Coe.

5. Que livros estás a ler?

Estou clássico. Leio Ensaios de Montaigne e Os Duelistas de Conrad.

6. Que livros (5) levarias para uma ilha deserta?

Penso que nunca mais me apaixonarei por livros como na juventude. O que lia durante a adolescência e até os vinte e poucos anos marcou-me muito mais do que qualquer coisa lida depois. Todos os meus livros vêm de lá:

Contos de Machado de Assis (relidos depois);
Contos de Anton Tchekhov (relidos depois);
Grande Sertão: Veredas de Guimarães Rosa;
Doutor Fausto de Thomas Mann (relido depois);
Dom Quixote de Cervantes.

Bem, se a fiscalização da ilha fosse camarada, acrescentaria um Manual de Sobrevivência…