Alguns pitacos sobre o Prêmio Camões concedido a Chico Buarque

Alguns pitacos sobre o Prêmio Camões concedido a Chico Buarque

1. Acho difícil comparar a situação atual com aquela do Nobel dado a Bob Dylan. O Nobel não ficou maior entregando seu prêmio de Literatura para Dylan, diria até que ficou menor. Já o Camões — que muitos desconheciam — ficou maior ao chamar Chico Buarque.

2. Sabemos que este prêmios muitas vezes são geopolíticos. Vários Nobéis foram dados a escritores menores porque estes faziam oposição a governos absurdos. Assim, a distinção para Chico Buarque chega para chamar a atenção das pessoas para o país, além de incomodar os fascistas ou ignorantes que elegeram um iletrado que, logo após a chegada ao poder, extinguiu o Ministério da Cultura como se fosse um penduricalho inútil.

3. Caberia também acrescentar que Chico sempre teve posições políticas claras, nada lisas ou duvidosas.

4. Chico é um representante importante da cultura nacional que está sendo atacada. Passou a vida entre Drummond, Bandeira, Vinícius, João Cabral, Tom Jobim e um monte de gente que o influenciou. Parece que João Cabral recebeu o Camões, mas mesmo assim vale a observação. Temos alguém mais importante?

Manuel Bandeira, Chico Buarque, Tom Jobim e Vinícius de Moraes

5. Li quase todos os livros de Chico. ‘Budapeste’ é excelente e ‘Leite Derramado’ é muito bom. E ele não faz o óbvio. Seus livros não são “para vender” por carregarem um autor conhecido. São originais e são literatura.

6. Como este governo precisa ver seus inimigos no chão, a ridícula ministra Damares, ao exibir para deputados, em tom crítico, num telão, algumas imagens de Lula, Marighella, etc., mostrou uma foto de Chico e disse, quando apareceu uma foto de Chico: “Eu acho que esse é um cantor, né?”. Ou seja, até a débil sentiu o golpe.

7. Interessa mesmo saber se o prêmio foi para o músico, para o autor ou para a figura pública? Talvez seja para o homem que transita como poucos entre o erudito e o popular, não?

8. Para finalizar, voltando a Dylan e às provocações: “E quem há de negar que Chico lhe é superior?”.

Negligência de governos destrói o Museu Nacional: acompanhe a sequência do corte de verbas

Negligência de governos destrói o Museu Nacional: acompanhe a sequência do corte de verbas

Um incêndio consumiu quase todo o Museu Nacional do Rio de Janeiro. Há apenas dois meses, a instituição tinha comemorado os 200 anos de sua criação.

O Museu foi fundado por Dom João VI em 1818 e possuía o quinto maior acervo do mundo, com mais de 20 milhões de peças, e era referência para pesquisadores de várias áreas. Suas obras contavam uma parte importante da história antropológica e científica da humanidade.

Lá estava o fóssil — com mais de 11 mil anos — de Luzia, a mulher mais antiga das Américas, cuja descoberta nos anos 1970 alterou todas as pesquisas sobre a ocupação da região.

Também havia a reconstrução do esqueleto do Angaturama Limai, o maior dinossauro carnívoro brasileiro, com quase todas as peças originais, algumas com 110 milhões de anos.

Foi queimado igualmente o sarcófago da sacerdotisa Sha-amun-em-su, mumificada há 2.700 anos e presenteada a Dom Pedro 2º em 1876, e que nunca tinha sido aberto. A coleção de múmias egípcias e a de vasos gregos e etruscos evidenciam o perfil mundial do acervo, que também abrigava o maior conjunto de meteoritos da América Latina.

Porém Bendegó, o maior meteorito já encontrado no país com mais de 5 toneladas, sobreviveu intacto.

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O Museu Nacional encontrava-se sob a guarda da UFRJ, ou seja, sofrendo com os cortes da Educação, recebendo apenas R$ 13.000 de manutenção mensal para seus 20 milhões de itens de História e Arte brasileira. Não me digam que o incêndio de hoje não é resultado das políticas da quadrilha — com Supremo, com tudo — que atualmente ocupa o Planalto, que não é resultado do Centrão que está destruindo o país há bem mais de um governo. Claro, o governo anterior igualmente não tratou nada bem a cultura — imaginem que o Museu teve de fechar as portas, em 2015, por falta de verbas para o pagamento dos funcionários, em pleno governo Dilma. Mas é agora que se orquestra um grande ataque à cultura. Os governos estaduais e municipais começaram a combater o meio cultural do país que não os apoia. Sartori e Marchezan estão fazendo o seu tanto do RS e em Porto Alegre, assim como Pezão e Crivella no RJ.

Aliás, no mesmo sentido, Bolsonaro defende a extinção do Ministério da Cultura… Ele pensa que uma secretaria seria o suficiente para tratar do assunto.

Vejamos: em 2014, ano em que as atenções estavam voltadas para as arenas da Copa do Mundo, foram repassados apenas R$ 427 mil para o Museu. Em 2015 foi ainda pior: R$ 257 mil. Subiu um pouco em 2016, R$ 415 mil. No ano passado, foram 246 mil e agora, no ano do bicentenário, somente R$ 54 mil. A estrutura apresentava sinais visíveis de má conservação, como fios elétricos expostos e paredes desencascadas, rachaduras na estrutura, sem falar na falta de dispositivos anti-incêndio. A Petrobras, através da Lei Rouanet, ajudou a manter o museu até a Lava a Jato. Com a crise da empresa, cessou o patrocínio.

Bem, o dinheiro destinado para a manutenção do Museu Nacional era equivalente a 10 auxílios-moradia do Judiciário. Agora, nem precisam mais ter esse gasto. Me apavora o fato de que o Theatro Municipal, o MAM, o Jardim Botânico, o Real Gabinete Português, a Biblioteca Nacional, etc., — para não falar em instituições de outros estados –, estejam sob as mãos de governantes como os nossos. Já o STF e o Congresso Nacional devem estar limpíssimos e conservadíssimos, ao menos seus prédios.

Foto: Mídia Ninja

Maria Bethânia terá R$ 1,3 milhão para criar blog (ou site)

A cantora Maria Bethânia conseguiu autorização do Ministério da Cultura para captar R$ 1,3 milhão a fim de criar um blog. A proposta é de que O Mundo Precisa de Poesia seja atualizado diariamente por um ano. O blog apresentaria, a cada dia, um vídeo da cantora interpretando grandes obras.

A direção dos 365 vídeos seria de Andrucha Waddington. Há três anos, Bethânia se envolveu numa polêmica ao ter um pedido de captação, de R$ 1,8 milhão para uma turnê, rejeitado pela área técnica do ministério.

Bem, captação de recursos é dinheiro nosso que, em vez de irem para o país na forma de impostos, beneficia a cultura. Maria Bethânia é uma artista bastante rica, como sua sobrinha @belovelloso confirmou no twitter. Ela irá se promover com o site, sem dúvida. Por que ela precisa captar?

Acho que a matéria é MUITO polêmica e duvidosa.