Bamboletras recomenda 3 pequenos grandes livros

Bamboletras recomenda 3 pequenos grandes livros

A newsletter de quarta-feira da Bamboletras.

Olá!

Sim, três pequenos grandes livros.

O primeiro, Encaixotando minha biblioteca, é um canto de louvor ao livro escrito por Alberto Manguel. Gente, Manguel é um daqueles argentinos geniais que não dá para desconhecer, ainda mais que ele foi amigo de Borges e diretor da Biblioteca Nacional da Argentina.

Taxitramas é pura diversão de primeira linha. São as incríveis histórias que Mauro Castro colhe em seu táxi. O cara escreve muito bem, é realmente engraçado.

E a terceira sugestão é Cartas para minha avó, de Djamila Ribeiro, uma tocante memória da autora a respeito da sua infância, da avó e de tudo o que circunda uma infância sob o racismo brasileiro.

Abaixo, mais detalhes.

Boa semana com boas leituras!

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Encaixotando minha biblioteca, de Alberto Manguel (Cia. das Letras, 184 páginas, R$ 44,90)

Encaixotando minha biblioteca é uma grande declaração de amor aos livros e à leitura. Fala sobre a importância dos livros em nossa vida e como são fundamentais para o desenvolvimento da sociedade. No verão de 2015, Alberto Manguel se preparou para mais uma mudança: ele sairia de sua casa medieval no Loire, na França, e passaria a morar em um apartamento em Nova York. Sua biblioteca pessoal, com cerca de 35 mil volumes, teria que ser guardada. Nesse momento, o escritor começa a relembrar sua relação com os livros e as bibliotecas (públicas e privadas) que já passaram por sua vida, apresentando aos leitores uma elegia apaixonada. As reflexões de Manguel variam amplamente, desde as adoráveis idiossincrasias dos bibliófilos a análises mais profundas de eventos históricos, como o incêndio da antiga Biblioteca de Alexandria. Com perspicácia e carinho, o autor ressalta a importância dos livros e seu papel único em nossa sociedade.

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Taxitramas, de Mauro Castro (Evangraf, 136 páginas, R$ 39,90)

Uma gostosura em forma de livro. Quero ver você largar as histórias de Mauro Castro depois de começá-las. Entre centenas de personagens, um cardíaco em pânico, uma freira em fuga, uma mulher nua, um homem baleado, um passageiro querendo comprar as meias do taxista, uma mãe que esquece sua filha no banco traseiro, um bêbado distribuindo dinheiro, um sujeito querendo pagar a corrida com camarões, uma mulher violentada, uma vovó entalada, um ex-detento perdido, a busca por uma aborteira, a mulher do marido que foi deixado num motel telefona, a reação a um assalto… Uma sucessão eletrizante de situações engraçadas, trágicas ou bizarras, no limite do verossímil, mas todas baseadas em corridas reais. Respire fundo e embarque!

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Cartas para minha avó, de Djamila Ribeiro (Cia. das Letras, 200 páginas, R$ 34,90)

Um relato memorialístico pungente e sensível sobre ancestralidade, feminismo e antirracismo na criação de filhos. No mais pessoal e delicado de seus livros, a filósofa Djamila Ribeiro revisita sua infância e adolescência para discutir temas como ancestralidade negra e os desafios de criar filhos numa sociedade racista. O relato se dá na forma de cartas para sua saudosa avó Antônia – carinhosa e amorosa, conhecedora de ervas curativas e benzedeira muito requisitada. A cumplicidade que sempre houve entre avó e neta é o que permite que a autora rememore episódios difíceis, como a perda do pai e da mãe, as agressões que sofreu como mulher negra e os desafios para integrar a vida acadêmica. Djamila também fala de relacionamentos amorosos e experiências profissionais, das músicas, das leituras e das amizades que a acompanharam em sua construção pessoal – e da percepção paulatina de que a memória das lutas e das conquistas das pessoas negras que vieram antes de nós é a força que permite seguir adiante.

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Bamboletras recomenda dois livros fundamentais e uma novidade

Bamboletras recomenda dois livros fundamentais e uma novidade

A newsletter de amanhã da Bamboletras.

Olá!

Nossas sugestões para esta semana gelada são quentes. Ah… Duvida? Pensa que é só uma má frase de efeito? Pois então veja só.

Sugerimos a bela edição de todos os contos de Cortázar e um clássico da literatura brasileira, a obra-prima Crônica da Casa Assassinada. De quebra, uma surpresa: o livro Camaradas, de Jodi Dean. Quem o leu voltou elogiando muito.

Abaixo, mais detalhes.

E cuide-se com o frio. Além dos cuidados com a Covid, agasalhe-se. E, se puder, doe aquele capotão velho e fora de uso porque as ruas estão cheias de sem-teto.

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Todos os Contos, de Julio Cortázar (Cia. das Letras, 1144 páginas, de R$ 269,90)

Precisamos mesmo descrever este tesouro? Pela primeira vez no Brasil, são publicados todos os contos de Cortázar, reunidos em dois volumes de capa dura, numa caixa com projeto gráfico especial. A verdadeira revolução de Cortázar, sabemos, está nos seus contos e histórias curtas. Mas não se trata de uma reedição de todos os livros de contos do escritor, mas de novas traduções feitas por Heloisa Jahn e Josely Vianna Baptista. (Cá pra nós, aqueles velhos livros da Civilização Brasileira às vezes tinham traduções de cortar os pulsos, né?). Então gente, Bestiário, Todos os fogos o fogo, As armas secretas, Octaedro, Fim do jogo, Histórias de cronópios e de famas, todos os livros fundamentais de Cortázar estão aqui e mais. A edição conta ainda com os dois célebres ensaios do autor argentino sobre a escrita de contos, Alguns aspectos do conto, de 1963, e Do conto breve e seus arredores, de 1969, além de um estudo do crítico argentino Jaime Alazraki sobre o Cortázar contista.

Crônica da Casa Assassinada, de Lúcio Cardoso (Cia. das Letras, 560 páginas, R$ 84,90)

Este livro é um clássico absoluto da literatura brasileira. Publicado pela primeira vez em 1959, Crônica da casa assassinada conta a história da decadência de uma família tradicional mineira: cada geração se vê mais pobre que a anterior, dilapidando o patrimônio para sobreviver. Os Meneses, porém, continuam sendo respeitados na pequena comunidade onde vivem. A Chácara, a grande casa que gera orgulho mas que também aprisiona, é vista com reverência e desconfiança por todos que conhecem o clã. A história dos Meneses é contada através de diferentes narradores, que se enfrentam e se contradizem, mas que constroem com maestria um retrato profundo da vida familiar. A chegada de Nina — jovem carioca que se muda após se casar com Valdo, um dos irmãos — vai abalar a relação difícil entre eles. É uma história densa, não linear, cheia de ciúmes, rancores e perversões. Como dissemos, é narrado por várias vozes, incluindo membros da família Meneses e habitantes de Vila Velha, cidade onde vivem. Não devemos acreditar em tudo o que lemos ali. Fantasmagórico e envolvente, Crônica da casa assassinada surpreendeu em 1959, por trazer temas pouco comuns à época, como a homossexualidade e as relações incestuosas.

Camarada — Um Ensaio sobre Pertencimento Político, de Jodi Dean (Boitempo, 208 páginas, R$ 55,00)

No século XX, milhões de pessoas se dirigiram umas às outras como “camarada”. Hoje, em círculos de esquerda é mais comum ouvir falar em “aliados”. Neste livro, Jodi Dean insiste no fato de que essa mudança exemplifica o problema fundamental da esquerda contemporânea: a sobreposição da identidade política a uma relação de pertencimento político que precisa ser construída, sustentada e defendida. Neste ensaio com recortes e análises bastante originais, Dean nos oferece uma teoria da camaradagem. Camaradas são pessoas que se encontram de um mesmo lado de uma luta política. Unindo-se voluntariamente por justiça, sua relação é caracterizada por disciplina, coragem e entusiasmo. Analisando o igualitarismo da figura do camarada à luz das diferenças de raça e gênero, Dean recorre a um leque de exemplos históricos e literários. Eis um livro curto que articula história, psicanálise e filosofia num texto prazeroso de ler como ensaio de interesse geral.

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Bamboletras ensina a como remover um presidente e recomenda Tokarczuk e Schroeder

Bamboletras ensina a como remover um presidente e recomenda Tokarczuk e Schroeder

A newsletter de amanhã da Bamboletras.

Olá!

Escrever este “Olá” é sempre um desafio. Como encontrar pontos em comum entre os livros sugeridos? Bem, desta vez a gente não conseguiu, mas leia as sinopses abaixo porque não há nada que não seja excelente em nossas sugestões!

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Como remover um presidente, de Rafael Mafei (Cia. das Letras, 450 páginas, R$ 64,90)

Este é um completo e aprofundado estudo das dimensões políticas e jurídicas do impeachment e sua aplicação na lei brasileira. Desde os anos 1990, raramente a América Latina viveu um ano sem um impeachment consumado, ou ao menos sem a ameaça de um. Só no Brasil, houve mais de 250 denúncias de crimes de responsabilidade e o afastamento de dois presidentes. Em Como remover um presidente , o jurista Rafael Mafei reconstitui o desenvolvimento histórico do impeachment — seu surgimento na Inglaterra, sua importância para a Constituição americana e utilização no Brasil —, para então examinar a fundo não apenas os casos de Collor e Dilma, que marcaram o país após a redemocratização, mas também as tentativas contra Vargas, FHC, Lula e Bolsonaro. Um assunto muito atual e que retorna a cada governo, infelizmente.

Correntes, de Olga Tokarczuk (Todavia, 400 páginas, R$ 74,90)

Quem leu Sobre os ossos dos mortos sabe da alta qualidade da ganhadora do Prêmio Nobel de 2018 Olga Tokarczuk. Em Correntes, ela mescla vida pessoal com ficção num livro cheio de surpresas, que inclui relatos vários, comentários e contos que formam um movimentado diário de viagem. Olga é uma das escritoras que melhor explora a autoficção, em que vivências pessoais e ficções se fundem. O livro é composto de 116 pequenos capítulos. O roteiro passa por diferentes museus de anatomia da Europa e nos Estados Unidos. A narrativa é intercalada de observações sobre o ato de viajar, pessoas que a autora encontra no caminho, perrengues, pequenas histórias e imprevistos. Quando ela enviou os originais para seu editor, o caráter fragmentário da narrativa suscitou dúvidas e ele pensou que se tratava de um rascunho vitimado por confusões de “Ctrl C” e “Ctrl V”. A leitura atenta, porém, revela a óbvia concatenação entre os textos. Este é um dos méritos de Tokarczuk: conseguir misturar temas aparentemente isolados (como filosofia, higiene pessoal e Borges, por exemplo) de uma maneira inventiva, inteligente e cativante. E ela recebeu o Nobel, né?

As partes nuas, de Claudia Schroeder (Francisco Alves, 128 páginas, R$ 35,00)

Claudia Schroeder reúne poemas produzidos ao longo dos últimos quatro anos no livro As partes nuas, lançado pela Francisco Alves. Para montar o conjunto, a poetisa contou com a curadoria do poeta Pedro Gonzaga. Dividida em sete partes, a obra traz uma voz que se expressa sem medo, entre a ironia e a ternura, em versos que exploram as facetas de ser mãe, mulher e ser humano — com todos seus sentimentos e pulsões. De acordo com o português José Luís Peixoto, trata-se de um “livro-corpo”. Publicitária há 28 anos, Claudia Schroeder estreou na poesia com Leia-me toda (2010), faz parte da coletânea portuguesa A poesia é para comer (2011) e publicou o infantil A menina que descobriu o sol (2018).

Exemplares autografados pela autora.

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Bamboletras recomenda o último Bernardo Carvalho e duas boas biografias

Bamboletras recomenda o último Bernardo Carvalho e duas boas biografias

A newsletter de amanhã da Bamboletras.

Olá!

Duas biografias de grandes intelectuais — Hannah Arendt e Euclides da Cunha — e mais o último romance de Bernardo Carvalho — O último gozo do mundo — fazem a alegria desta semana tiritante.

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O último gozo do mundo, de Bernardo Carvalho (Cia. das Letras, 144 páginas, R$ 49,90)

A história de uma professora de sociologia que vê seu casamento desmoronar pouco antes do início de uma pandemia global. “O último gozo do mundo” é o décimo terceiro livro de Bernardo Carvalho. Presa de um tempo em que “a leitura do mundo tornou-se descontínua e episódica”, a protagonista desta novela parte, com o filho pequeno, numa jornada para um retiro no interior do Brasil. Lá, mora um homem que prevê o futuro depois de ter sobrevivido ao vírus ameaçador. Um rastro de perplexidade e de perguntas sem respostas vai sendo deixado para trás, numa narrativa enigmática, eletrizante e que se torna mais e mais perturbadora. Podemos distinguir as causas dos efeitos? Como damos sentido a uma narrativa? O que restou de humanidade num Brasil dominado pela morte?

Arendt, entre o amor e o mal: uma biografia, de Ann Heberlein (Cia. das Letras, 256 páginas, R$ 64,90)

Este perfil biográfico entrelaça a vida e a obra de Hannah Arendt, autora de obras fundamentais como Origens do totalitarismo e Eichmann em Jerusalém. Inclui posfácio de Heloisa Starling. A vida de Hannah Arendt se estende por um período imprescindível na história do mundo ocidental, que abrange não apenas a ascensão do regime nazista e as crises da Guerra Fria, mas a formulação de reflexões fundamentais sobre o valor e a culpa da humanidade diante desses episódios. Nesse sentido, suas contribuições intelectuais estão diretamente relacionadas à sua vida, marcada por experiências terríveis, mas também por amor, exílio e saudade.

Euclides da Cunha, uma biografia, de Luís Cláudio Villafañe G. Santos (Todavia, 432 páginas, R$ 89,90)

Euclides da Cunha viveu apenas 43 anos e foi militar, engenheiro, jornalista, cientista, literato e cartógrafo. A despeito da abundância de fontes, alguns episódios de sua vida continuam pouco conhecidos, como a expedição à Amazônia e a passagem pelo Itamaraty. Esta biografia traz ainda novas interpretações para eventos conhecidos, sublinhando contradições entre o discurso e os fatos, o que realça sua profunda humanidade.

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Bamboletras recomenda o novo livro de Daniel Galera e mais

Bamboletras recomenda o novo livro de Daniel Galera e mais

A newsletter de amanhã da Bamboletras.

Olá!

Pois é. Recebemos o novo livro de Daniel Galera, O deus das avencas. Ele é composto de três novelas e quem já leu voltou falando muito bem dele. Não muito longe, mas com um viés mais realista, recomendamos Uma vontade inadiável de acabar com este mundo, coletânea de dez narrativas de outro Daniel, o Ricci Araújo. Para finalizar, Afropessimismo, um esplêndido estudo sobre o circuito permanente de escravidão que insiste em definir a experiência da negritude.

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O Deus das Avencas, de Daniel Galera (Cia. das Letras, 248 páginas, R$ 54, 90) 

O deus das avencas traz três novelas reunidas neste livro. Na primeira novela, a que dá título ao livro, um casal se fecha em casa à espera do nascimento do primeiro filho, e mergulha numa incerteza crescente, tanto pelo destino deles quanto pelos rumos do país. Em Tóquio, Galera abandona a narrativa mais realista ao retratar a vida de um homem solitário, obrigado a enfrentar o passado em um mundo que atravessou um desastre ambiental e tecnológico. E, por fim, em Bugônia, ele dá um passo além ao recriar a história de uma comunidade pós-apocalíptica em simbiose com a natureza, que, pressionada pelas ameaças externas de um planeta devastado, precisa se transformar de forma radical. O deus das avencas é um livro especulativo e por vezes sombrio, mas extremamente humano.

Uma vontade inadiável de acabar com este mundo, de Daniel Ricci Araújo (Quatorze Vinte Um, 172 páginas, R$ 40,00)

Uma vontade inadiável de acabar com este mundo é uma coletânea com dez narrativas curtas na qual ficção e realidade criam uma trama que envolve e revolta. A tônica das histórias é a crítica à sociedade contemporânea, com seu deslustre e sua virtude. Como uma moeda, que sempre tem duas faces, Daniel Ricci Araújo nos confronta com temas que estão no dia a dia dos noticiários como xenofobia, racismo, relações familiares, drogadição, a violência urbana. Ele também nos apresenta o outro lado, ao falar de solidariedade, compaixão e cumplicidade. Em alguns dos contos, Daniel se afasta da nossa realidade para mergulhar em um cenário distópico, por meio da ficção científica, e nos apresentar situações nas quais a ética e o bom senso parecem não mais existir. A obra é um convite à reflexão sobre o papel e a responsabilidade de cada um com o hoje e o amanhã.

Afropessimismo, de Frank B. Wilderson III (Todavia, 400 páginas, R$ 84,90)

Por que a questão da raça permeia grande parte do nosso universo moral e político? Por que um ciclo perpétuo de escravidão — em todas as suas formas: política, intelectual e cultural — continua a definir a experiência da negritude? E por que a violência contra os negros é um traço predominante em todo o mundo? Essas são apenas algumas das questões que este livro levanta. Wilderson apresenta, nesta obra, as bases de um movimento intelectual — o afropessimismo — que vê a negritude pelo prisma da escravidão perpétua. A partir de clássicos da literatura, do cinema, da filosofia e da teoria crítica, ele mostra que a construção social da escravidão, vista pelas lentes da subjugação dos negros, não é uma relíquia do passado, mas um mecanismo que alimenta nossa civilização. Sem a dinâmica senhor-negro escravizado, sustenta o autor, um dos pilares da civilização mundial iria a colapso. Mais do que qualquer outro grupo, os negros serão sempre vistos como escravos em relação à humanidade. Afropessimismo fala ainda da infância do autor em Minneapolis e do racismo que ele sofre — seja na Califórnia dos anos 1960 ou durante o apartheid na África do Sul, onde ele se junta às fileiras do Congresso Nacional Africano. Este livro não apresenta solução para o ódio que está por toda parte, mas Wilderson acredita que reconhecer essas condições históricas é um gesto de autonomia em face de um mundo social essencialmente racializado.

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Chegou o Vol. 2 de Escravidão, de Laurentino Gomes, na Bamboletras, mas não apenas ele

Chegou o Vol. 2 de Escravidão, de Laurentino Gomes, na Bamboletras, mas não apenas ele

A newsletter de amanhã da Bamboletras.

Olá!

Hoje é o Bloomsday, mas não teremos nada de Joyce em nossas recomendações, mas sim três livros com importantes pontos de contato.

O primeiro é a segunda parte de Escravidão, de Laurentino Gomes, uma importante e estarrecedora obra que traça um cenário bastante completo do que foi a escravidão em nosso país. Infelizmente, é uma história contada por pessoas brancas, mas a documentação levantada pelo autor dá uma visão muito ampla da desumanidade da escravatura. A obra será uma trilogia.

Outra sugestão é o recente lançamento da nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, autora dos já clássicos Hisbisco Roxo e Americanah. Desta vez, Chiamamanda chega com Notas sobre o Luto, uma narrativa que descreve e extrapola a história da morte do pai da autora por covid-19.

Para finalizar, sugerimos E se as cidades fossem pensadas por mulheres?, livro que demonstra como as cidades foram pensadas para homens brancos e propõe soluções para que as mulheres se sintam melhor em nossas urbes.

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Escravidão (Volume II), de Laurentino Gomes (Globo, 512 páginas, R$ 59,90)

Neste segundo livro, Laurentino concentra-se no século XVIII. O período representou o auge do tráfico negreiro no Atlântico, motivado pela descoberta das minas de ouro e diamantes no Brasil e pela disseminação, em outras regiões da América, do cultivo de cana-de-açúcar, arroz, tabaco, algodão e outras lavouras marcadas pelo uso intensivo de mão de obra cativa. Nenhum outro assunto é tão importante e tão definidor da nossa identidade nacional quanto a escravidão. Conhecê-la ajuda a explicar o que fomos no passado, o que somos hoje e também o que seremos daqui para a frente. Em um texto impactante que inclui imagens e gráficos, Laurentino Gomes lança o segundo volume de sua obra, resultado de 6 anos de pesquisas, que incluíram viagens por 12 países e 3 continentes.

E se as cidades fossem pensadas por mulheres?, Org. de Laura Sito e Mariana Felix (Zouk, 142 páginas, R$ 41,00)

Considerando que as cidades se constituem como um espaço masculino e branco, no qual diferentes grupos sociais vivem de formas distintas e com oportunidades desiguais, o presente livro visa mostrar o olhar plural das mulheres que compõem a cidade: mulheres periféricas, mulheres universitárias, mulheres trans, mulheres negras, mulheres gestoras públicas, mulheres educadoras, mulheres de movimentos sociais, mulheres jovens, velhas. Dessa forma, contribui para pensarmos em que medida a ação dos movimentos de mulheres, intelectuais e feministas pode auxiliar os(as) gestores(as) públicos(as) a planejar as cidades com uma perspectiva de gênero? Como podemos avançar? Como podemos construir uma sociedade feminista, antirracista e inclusiva?

Notas sobre o luto, de Chimamanda Ngozi Adichie (Cia. das Letras, 144 páginas, R$ 32,90)

De uma das mais importantes vozes da literatura contemporânea, esse livro é um relato não apenas sobre a morte de um pai amado, mas também sobre a memória e a esperança que permanecem com aqueles que ficam. O livro foi escrito após a morte do pai de Chimamanda Ngozi Adichie em junho de 2020, durante a pandemia de covid-19, o que mantinha distante a família Adichie, Notas sobre o luto é um relato forte sobre a dor da perda e as lembranças e resiliência trazidas por ela. Consciente de ser uma entre milhões de pessoas sofrendo naquele momento, a autora se debruça não só sobre as dimensões familiares e culturais do luto, mas também sobre a solidão e a raiva inerentes a ele. Com uma linguagem precisa, Chimamanda junta a própria experiência da morte de seu pai às lembranças da vida de um homem forte e honrado, sobrevivente da Guerra de Biafra, professor de longa carreira, marido leal e pai exemplar.

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Bamboletras recomenda Doramar, o novo livro de Itamar Vieira Junior, e mais

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A newsletter de amanhã da Bamboletras.

Olá!

Torto Arado vendeu mais de 100 mil exemplares. Para o Brasil, isto é um fenômeno muito significativo, ainda mais se considerarmos a alta qualidade e a poesia da prosa do baiano Itamar Vieira Junior. Agora, ele retorna com seu segundo livro, Doramar ou A Odisseia: Histórias que recomendamos sem medo de errar e por já termos lido uma das histórias.

Coincidentemente, Pequena Coreografia do Adeus é também o segundo livro da paulista Aline Bei, que fez uma linda estreia com o esplêndido O Peso do Pássaro Morto. A história do livro é muito boa, importante e comum a muitos de nós. Leia a sinopse!

De quebra, recomendamos outro livro notável: Nomadland.

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Doramar ou A Odisseia: Histórias, de Itamar Vieira Junior (Todavia, 160 páginas, R$ 49,90)

Quem se deslumbrou — isto é, quase todo mundo — com a maestria narrativa de Torto Arado, romance que converteu Itamar Vieira Junior em um dos nomes centrais da nossa literatura contemporânea, vai encontrar neste Doramar ou a Odisseia ainda mais motivos para celebrar a ficção do autor. Num diálogo permanente com nossas questões sociais e a tradição literária brasileira, Itamar enfeixa um conjunto de histórias a um só tempo atuais e calcadas na multiplicidade de culturas que formam o país. Lidas na sequência, atestam a vitalidade de um escritor que encontra uma boa parcela de inspiração em personagens que desafiam os limites que lhes foram impostos e abraçam a existência em toda a sua plenitude.

Nomadland, de Jessica Bruder (Rocco, 304 páginas, R$ 59,90)

No interior dos EUA, empregadores descobriram uma nova força de trabalho educada, disposta e de baixo custo, composta em sua maioria por pessoas mais velhas e sem endereço fixo. Muitos deles estão afundados em dívidas, sem poder pagar um aluguel ou uma hipoteca, e com uma aposentadoria que mal dá para o básico. Resultado da recessão econômica de 2008, essa parcela invisível da sociedade ganhou as estradas em trailers, ônibus e vans, formando uma crescente comunidade de nômades, que não aceitam o rótulo de “sem-teto”, são simplesmente “sem-casa”. Eles têm um lar e este está sobre quatro rodas, acompanhando-os para onde forem (geralmente o próximo trabalho mal remunerado, sem direitos trabalhistas e em condições duvidosas). Nesta reportagem sensível e impressionante, Jessica Bruder segue as rotas mais usadas dos que trabalham em empregos temporários e conhece gente de todo tipo: um ex-professor, um ex-executivo do McDonald’s, um ministro de igreja, um policial aposentado e veteranos de guerra, entre muitos outros. E a protagonista — a garçonete-caixa-empreiteira-avó Linda May.

Pequena Coreografia do Adeus, de Aline Bei (Cia. das Letras, 264 páginas, R$ 49,90)

Julia é filha de pais separados: sua mãe não suporta a ideia de ter sido abandonada pelo marido, enquanto seu pai não suporta a ideia de ter sido casado. Sufocada por uma atmosfera de brigas constantes e falta de afeto, a jovem tenta reconhecer sua individualidade e dar sentido à sua história, tentando se desvencilhar dos traumas familiares. Entre lembranças da infância e da adolescência, e sonhos para o futuro, Julia encontra personagens essenciais para enfrentar a solidão ao mesmo tempo que ensaia sua própria coreografia, numa sequência de movimentos de aproximação e afastamento de seus pais que lhe traz marcas. Escrito com a prosa original que fez de Aline Bei uma das grandes revelações da literatura brasileira contemporânea, Pequena Coreografia do Adeus é um romance emocionante que mostra como nossas relações moldam quem somos.

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Três excelentes livros brasileiros são as sugestões da Bamboletras

Newsletter de 19 de maio de 2021

Olá.

As sugestões da semana são bem diferentes entre si. A biografia da arquiteta modernista e Lina Bo Bardi é luminosa e guarda um imenso leque de surpresas. Andarilhos é uma reinvenção do pampa, quase um faroeste tardio. E uma nova biografia, desta vez da filósofa, escritora e ativista antirracismo Sueli Carneiro. Ela é fundadora e diretora do Geledés — Instituto da Mulher Negra e considerada uma das principais autoras do feminismo negro no Brasil.

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Lina – Uma Biografia, de Francesco Perrotta-Bosch (Todavia, 575 páginas, R$ 89,90)

Poucas figuras públicas foram mais brasileiras do que a arquiteta italiana Lina Bo Bardi. Chegando ao Brasil logo após a Segunda Guerra, ela se afeiçoou à cultura brasileira de tal maneira que se tornou uma de suas principais intérpretes, capaz de uma leitura das tradições locais ao mesmo tempo rigorosa e abrangente. Crítico de arquitetura e ensaísta de mão-cheia, Francesco Perrotta-Bosch examina a trajetória dessa artista brilhante à luz da seguinte questão: para além de sua participação política, como uma estrangeira foi capaz de enxergar tanto de um país que não era o seu, a ponto de traduzi-lo para os próprios brasileiros?

Andarilhos, de R. Tavares (Zouk, 200, páginas, R$ 46,00)

Andarilhos já pode ser considerado um novo clássico da literatura regional brasileira. Tavares traz frescor e contemporaneidade a um dos gêneros mais amados pelos brasileiros – mostrando a força e a representatividade das pessoas que moram no vasto território campesino da América Latina.

 

 

 

Continuo Preta, de Bianca Santana (Cia. das Letras, 286 páginas, R$ 59,90)

Sueli Carneiro é uma das maiores intelectuais públicas do Brasil, referência histórica do movimento negro, biografada por uma das mais promissoras vozes da nova geração. Em mais de quarenta anos de ativismo, ela vem combinando escrita, academia e intelectualidade para qualificar uma luta política que enegreceu o feminismo no Brasil e, ao mesmo tempo, colocou as mulheres como protagonistas do movimento negro.

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A Idiota, os Russos e o Rei são as dicas da Bamboletras

Newsletter de 26 de abril de 2021

Olá!

A Todavia chega com Roberto Carlos, uma figura da qual nem todo mundo gosta, mas que desperta paixões a favor e contra. A Cia. vem com “A Idiota”, um livro cômico que poderia se chamar “Retrato da artista quando jovem”. E temos um belo ensaio sobre a literatura que todos nós amamos: a russa.

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A Idiota, de Elif Batuman (Cia das Letras, 488 pág., R$ 99,90)

Neste romance finalista do prêmio Pulitzer, acompanhamos o amadurecimento de uma jovem universitária nos anos 1990 que se descobre como escritora enquanto vive as agruras e as delícias do primeiro amor. Selin, filha de imigrantes turcos, começará seu primeiro semestre em Harvard. O ano é 1995 e a internet, uma novidade. Ela se inscreve em matérias de que nunca ouviu falar, faz amizade com a carismática e cosmopolita colega sérvia, Svetlana, e começa a se corresponder por e-mail com Ivan, um estudante de matemática húngaro, mais velho. Selin falou pouco com Ivan, mas a cada e-mail que trocam, o ato de escrever parece assumir significados novos e cada vez mais misteriosos.

Como ler os russos, de Irineu Franco Perpetuo (Todavia, 304 pág., R$ 69,90)

Feito para todos que se interessam por literatura russa, este ensaio busca responder uma pergunta: por que seguimos, ao longo de décadas, lendo, discutindo e admirando os russos? Dos precursores até a literatura pós-soviética e dos emigrados, abordando teatro, prosa e poesia, Irineu Franco Perpetuo nos conduz por séculos de criação artística, iluminando e contextualizando a obra de autores como Púchkin, Dostoiévski, Tolstói e Tchékhov.

 

 

Roberto Carlos — Por isso essa voz tamanha, de Jotabê Medeiros (Todavia, 512 pág., R$ 84,90)

Ninguém na música brasileira foi – e ainda é — mais popular do que Roberto Carlos. As dezenas de milhões de discos vendidos, a onipresença na televisão desde os anos 1960, os hits que marcaram gerações, os dramas pessoais, a figura pública reservada, as brigas na justiça – todos esses fatos são públicos e notórios. Mas são poucas as fontes acessíveis capazes de traçar, sem arroubos de tiete ou cores sensacionalistas, o percurso desse artista singular. Publicada no momento em que o artista completa 80 anos, esta biografia de Jotabê Medeiros consegue justamente isso. Autor de consagrados livros sobre Belchior e Raul Seixas, Jotabê se aprofunda na formação musical do artista, desde a infância em Cachoeiro do Itapemirim e os primeiros passos cantando à moda de João Gilberto, até a explosão como líder do incipiente rock nacional e os hits que ao longo de décadas emplacou entre os mais ouvidos do país.

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Só rico lê? Federici, um clássico moderno e um romance brasileiro são as dicas da Bamboletras

Newsletter de 12 de abril de 2021

Olá!

Numa semana em que a Receita Federal declarou que “só rico lê”, devemos apontar o desconhecimento que esta tem de nossa “elite”.

O estudo ‘Retratos da leitura no Brasil’, realizado pelo Instituto Pró-Livro, mostra que as pessoas leem mais hoje do que em 2007 e 2015.

O interesse crescente pela leitura no conjunto da população apenas cai justamente entre os entrevistados definidos como “classe A”, conforme a faixa de renda.

Nesse grupo, que reúne os mais ricos, os que “gostam muito” de ler eram 48% em 2015, e caíram para 42%. Os que gostam “um pouco” eram 42%, e passaram a 41%. E os que não gostam saltaram de 10% para 17%.

Ademais, se os ricos lessem, não estaríamos na situação em que estamos.

Francamente…

Mesmo aos trancos e apesar do governo, a Bamboletras segue e seguirá. E ainda dando dicas. Confira abaixo.

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O Jardim dos Finzi-Contini, de Giorgio Bassani (Todavia, 280 pág., R$ 69,90)

Um clássico moderno. O destino de parte dos protagonistas deste livro está anunciado nas primeiras páginas: os campos de concentração nazistas. Mas tudo se passa num enorme jardim na cidade italiana de Ferrara. À medida que a Segunda Guerra desponta, a relação da jovem Micòl Finzi-Contini com o narrador deste livro mostra suas limitações. Mas são essas mesmas limitações que fazem desse caso de amor não correspondido um dos mais pungentes da literatura moderna.

 

 

O Patriarcado do Salário, de Silvia Federeci (Boitempo, 208 pág., R$ 49,00)

‘O patriarcado do salário’, da filósofa italiana Silvia Federici, traz ao leitor uma série de artigos que abordam a relação entre marxismo e feminismo do ponto de vista da reprodução social. Retomando diversas discussões presentes nas obras de Karl Marx e Friedrich Engels, a autora aponta como a exploração de trabalhos como o doméstico e o de cuidados, exercido sem remuneração pelas mulheres, teve e tem papel central na consolidação e na sustentação do sistema capitalista. Revisitando a crítica feminista ao marxismo e trazendo para o debate perspectivas contemporâneas sobre gênero, ecologia, política dos comuns, tecnologia e inovação, Federici reafirma a importância da linguagem, dos conceitos e do caráter emancipador do marxismo.

Os tais caquinhos, de Natércia Pontes (Cia. das Letras, 144 pág., R$ 64,90)

Faltava muita coisa no apartamento 402. Mas sobravam muitas outras: caixas de papelão, bandejas de isopor, cacarecos, baratas, cupins, muriçocas, poeira, copos sujos. Abigail, Berta e Lúcio formam um trio nada convencional. Duas adolescentes dividem o apartamento com o pai, um homem amoroso, idiossincrático, acumulador, pouco afeito à vida prática, que torce para que a morte venha logo lhe buscar e dá conselhos incomuns às filhas: “É muito bom sentir fome”. Os tais caquinhos é um romance de formação trágico e comovente, capaz de arrancar risos nervosos. Ao descrever o dia a dia de uma família simbiótica em meio a uma cordilheira de lixo que só faz crescer, Natércia Pontes desenha um fascinante romance.

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As surpreendentes sugestões da Bamboletras desta semana

Newsletter de 29 de março de 2021

Olá!

Basta ler as sinopses abaixo para se notar estamos diante de três livros muito originais. Mas há muito mais. Consulte-nos! Fique à vontade para compartilhar esta newsletter com outras pessoas, e faça seu pedido com a gente!

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O Som do Rugido da Onça, de Micheliny Verunschk (Cia. das Letras, 166 pág., R$ 54,90)

Em 1817, Spix e Martius desembarcaram no Brasil com a missão de registrar suas impressões sobre o país. Três anos e 10 mil quilômetros depois, os exploradores voltaram a Munique trazendo consigo não apenas um extenso relato da viagem, mas também um menino e uma menina indígenas, que morreriam pouco tempo depois de chegar em solo europeu. Em seu quinto romance, Micheliny Verunschk constrói uma poderosa narrativa que deixa de lado a historiografia hegemônica. Com uma prosa embebida de lirismo, este é um livro sem paralelos na literatura brasileira ao tratar de temas como memória, colonialismo e pertencimento.

Klara e o Sol, de Kazuo Ishiguro (Cia. das Letras, 336 pág., R$ 59,90)

Do ganhador do Nobel Kazuo Ishiguro, autor dos livros ‘Não me abandone jamais’ e ‘O gigante enterrado’, um novo romance sobre o que significa ser humano. Klara tem habilidades de observação impressionantes e estuda com cuidado o comportamento de todos que passam pela vitrine. Do lugar onde foi designada para ficar na loja, ela espera que uma dessas pessoas a escolha como companheira. Contudo, quando surge a possibilidade de sua vida mudar para sempre, Klara é aconselhada a não apostar suas fichas na bondade humana.

 

A Visão das Plantas, de Djaimilia Pereira de Almeida (Todavia, 88 pág., R$ 49,90)

Com esta meditação sobre o bem e o mal, e como a natureza parece indiferente à nossa moralidade, Djaimilia Pereira de Almeida construiu um romance que encanta pela beleza de suas frases e fascina pela profundidade com que Celestino, este homem a um só tempo brutal e delicado, é desenhado. Um livro arrebatador.

 

 

 

 

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Um Nobel, um gaúcho e um ensaio fundamental nas sugestões desta semana da Bamboletras

Newsletter de 22 de março de 2021

Olá!

Estas são as nossas sugestões desta terça-feira, mas há muito mais. Consulte-nos! Fique à vontade para compartilhar esta newsletter com outras pessoas, e faça seu pedido com a gente!

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Morte na Água, de Kenzaburo Oe (Cia. das Letras, 456 pág., R$ 99,90)

Conhecido pela profunda humanidade de seus personagens, Kenzaburo Oe (Nobel de Literatura de 1994) é um dos principais romancistas contemporâneos. Em “Morte na Água”, acompanhamos o escritor Kogito Chōkō — alter ego do próprio Oe — em sua busca de inspiração para seu próximo livro, que o leva de volta à sua cidade natal em busca de informações que expliquem melhor a morte de seu pai. A intenção de Kogito é escrever um romance a partir do que coletar, mas ele acaba se vendo em meio a questões muito mais complexas que envolvem desde traumas pessoais até descobertas que remontam à Segunda Guerra Mundial.

A Nota Amarela, de Gustavo Czekster (Zouk, 238 pág., R$ 50,00)

A cellista Jacqueline du Pré sobe ao palco para o concerto mais emblemático de sua vida. Enquanto executa o Concerto para Violoncelo de Elgar – regido pelo maestro Daniel Barenboim, com quem recém havia se casado –, Jacqueline mergulha no labirinto da própria mente, atravessando claridades e escuridões à procura da perfeição. O cello, vivo junto ao corpo, por vezes é a tábua de salvação que a impede de se afogar; por outras, o traidor que aponta o caminho mais perigoso entre as pedras e as ondas. O livro cumpre uma das mais importantes funções da literatura: trazer a palavra para dentro do vazio das imagens. Depois daquela tarde em 1967, a violoncelista mais famosa do mundo, que tocava para reis e presidentes, entenderia as consequências de sua busca pela nota impossível.

A Era do Capitalismo de Vigilância, de Shoshana Zuboff (Intrínseca, 800 pág., R$ 99,90)

Obra-prima em termos de pensamento original e pesquisa, “A era do capitalismo de vigilância”, de Shoshana Zuboff, apresenta ideias alarmantes sobre o fenômeno que ela nomeia capitalismo de vigilância. Os riscos não poderiam ser maiores: uma arquitetura global de modificação comportamental ameaça impactar a humanidade no século XXI de forma tão radical quanto o capitalismo industrial desfigurou o mundo natural no século XX. Zuboff chama a atenção para as consequências das práticas de empresas de tecnologia sobre todos os setores da economia. Um grande volume de riqueza e poder vem sendo acumulado em sinistros “mercados futuros comportamentais”, nos quais os dados que deixamos nas redes são negociados sem o nosso consentimento e a produção de bens e serviços segue a lógica de novas “formas de modificação de comportamento”. A ameaça não é mais um estado totalitário simbolizado pelo Grande Irmão da literatura de George Orwell, mas uma arquitetura digital presente em todos os lugares, agindo em prol dos interesses do capital de vigilância.

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Bamboletras segue com telentrega e tem sugestões para você

Newsletter de 8 de março de 2021

As Inseparáveis, de Simone de Beauvoir (Record, R$ 39,90)

Quase 70 anos depois de ser escrito, chega ao Brasil o romance inédito de Simone de Beauvoir. Escrito em 1954, cinco anos após a publicação de O segundo sexo, As inseparáveis é o romance autobiográfico que conta a história da amizade passional que uniu Sylvie (Simone de Beauvoir) e Andrée (Élisabeth Lacoin, a Zaza). Sylvie e Andrée se conhecem aos 9 anos no colégio Desir, numa Paris em meio à Primeira Guerra Mundial. Andrée é divertida, impertinente, audaciosa; Sylvie, mais tradicional e tímida, logo se sente irremediavelmente atraída por ela. No entanto, por trás da postura rebelde, Andrée tem de lidar com uma família católica fervorosa que, com suas tradições muito rígidas e ambiente opressor. Juntas, elas trilham o caminho para se libertar das convenções de sua época e das expectativas asfixiantes, mas não fazem ideia do preço trágico que terão de pagar pela liberdade e pelas ambições intelectuais e existenciais.

Necropolítica, de Achille Mbembe (N-1, R$ 44,00)

«Neste ensaio, propus que as formas contemporâneas que subjugam a vida ao poder da morte (necropolítica) reconfiguram profundamente as relações entre resistência, sacrifício e terror. Tentei demonstrar que a noção de biopoder é insuficiente para dar conta das formas contemporâneas de submissão da vida ao poder da morte. Além disso, propus a noção de necropolítica e de necropoder para dar conta das várias maneiras pelas quais, em nosso mundo contemporâneo, as armas de fogo são dispostas com o objetivo de provocar a destruição máxima de pessoas e criar “mundos de morte”, formas únicas e novas de existência social, nas quais vastas populações são submetidas a condições de vida que lhes conferem o estatuto de “mortos-vivos”. — Achille Mbembe

As 29 Poetas Hoje – Org.: Heloísa Buarque de Holanda (Cia das Letras, R$ 69,90)

Quarenta e cinco anos depois do lançamento de 26 poetas hoje — antologia que marcou época e se tornou um documento incontornável dos anos 1970 ―, Heloisa Buarque de Hollanda se perguntou: quem está fazendo a poesia de agora? Ao se dar conta da surpreendente presença das mulheres, cada uma com sua dicção e seu estilo, Heloisa reuniu vozes de uma geração pulsante e combativa, que impressiona pela força, pela coragem e pelo talento. “As 29 poetas hoje” é uma antologia que fala sobre identidade, sexo, amor, fúria, política e o Brasil de agora.

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Poemas Escolhidos, de Sophia de Mello Breyner Andresen

Poemas Escolhidos, de Sophia de Mello Breyner Andresen

Poemas Escolhidos Sophia de Mello Breyner AndresenLeio pouca poesia e nem fui aquele tipo de adolescente que volta e meia cometia um poema. Hoje, de vez em quando, consigo parir umas coisinhas bem ruins, mas só quando estou muito angustiado ou apaixonado. Mas, é claro, li Bandeira, João Cabral, Drummond, Pessoa e o Gullar dos anos 60 e 70.

Este livro da poeta portuguesa Sophia de Mello Breyner Andresen foi comprado na Flip de 2004 e simplesmente ignoro o motivo que me levou a fazer tão boa compra. Volta e meio o folheava deliciado, mas só nestes dias li o livro de cabo a rabo. Se a apreciação crítica parte da satisfação que um livro nos dá no momento que o fechamos, posso dizer que este Poemas Escolhidos (Cia da Letras, 286 páginas,  2004) é excelente.

Trata-se de uma seleção dos poemas de Sophia realizada por Vilma Arêas. Como em toda a seleção, perde-se a unidade que haveria em cada livro, mas ganha-se na visão geral. Então, sem ler a fortuna crítica da poeta portuguesa, divido seus poemas em poemas do mar e da natureza, poemas da cidade, poemas político-filosóficos e poemas gregos (ou clássicos), pois a moça adorava uma citação a eles.

A vertente de que menos gosto é a clássica, até porque me falta bagagem para entendê-los completamente, mas mesmo neles ficam claras as notáveis qualidades de Sophia. Seus diálogos com outros poetas também são esplêndidos, como os que faz com Bandeira e Murilo Mendes, entre outros:

Manuel Bandeira (1967)

Este poeta está
Do outro lado do mar
Mas reconheço a sua voz há muitos anos
E digo ao silêncio os seus versos devagar

Relembrando
O antigo jovem tempo quando
Pelos sombrios corredores da casa antiga
Nas solenes penumbras do silêncio
Eu recitava
“As três mulheres do sabonete Araxá”
E minha avó se espantava

Manuel Bandeira era o maior espanto da minha avó
Quando em manhãs intactas e perdidas
No quarto já então pleno de futura
Saudade
Eu lia
A canção do “Trem de ferro”
e o “Poema do beco”

Tempo antigo, lembrança demorada
Quando deixei uma tesoura esquecida nos ramos da cerejeira
Quando
Me sentava nos bancos pintados de fresco
E no Junho inquieto e transparente
As três mulheres do sabonete Araxá
Me acompanhavam
Tão visíveis
Que um eléctrico amarelo as decepava.

Estes poemas caminharam comigo e com a brisa
Nos passeados campos de minha juventude
Estes poemas poisaram a sua mão sobre o meu ombro
E foram parte do tempo respirado.

Carta de Natal a Murilo Mendes (1975)

Querido Murilo: será mesmo possível
Que você este ano não chegue no verão
Que seu telefonema não soe na manhã de Julho
Que não venha partilhar o vinho e o pão

Como eu só o via nessa quadra do ano
Não vejo a sua ausência dia-a-dia
Mas em tempo mais fundo que o quotidiano

Descubro a sua ausência devagar
Sem mesmo a ter ainda compreendido
Seria bom Murilo conversar
Neste dia confuso e dividido

Hoje escrevo porém para a Saudade
— Nome que diz permanência do perdido
Para ligar o eterno ao tempo ido
E em Murilo pensar com claridade —

E o poema vai em vez desse postal
Em que eu nesta quadra respondia
— Escrito mesmo na margem do jornal
Na Baixa — entre as compras do Natal

Para ligar o eterno e este dia

Dentre os poemas do mar, há constantes referências ao passado de Portugal e aos navegadores. Vejam a beleza deste:

Mundo nomeado ou A descobertas das ilhas

Iam de cabo em cabo nomeando
Baías promontórios enseadas:
Encostas e praias surgiam
Como sendo chamadas

E as coisas mergulhadas no sem-nome
Da sua própria ausência regressadas
Uma por uma ao seu nome respondiam
Como sendo criadas

Como exemplo de poema de cidade, leiam a belíssima prosa poética abaixo:

Caminho da manhã (1962)

Vais pela estrada que é de terra amarela e quase sem nenhuma sombra. As cigarras cantarão o silêncio de bronze. À tua direita irá primeiro um muro caiado que desenha a curva da estrada. Depois encontrarás as figueiras transparentes e enroladas; mas os seus ramos não dão nenhuma sombra. E assim irás sempre em frente com a pesada mão do Sol pousada nos teus ombros, mas conduzida por uma luz levíssima e fresca. Até chegares às muralhas antigas da cidade que estão em ruínas. Passa debaixo da porta e vai pelas pequenas ruas estreitas, direitas e brancas, até encontrares em frente do mar uma grande praça quadrada e clara que tem no centro uma estátua. Segue entre as casas e o mar até ao mercado que fica depois de uma alta parede amarela. Aí deves parar e olhar um instante para o largo pois ali o visível se vê até ao fim. E olha bem o branco, o puro branco, o branco da cal onde a luz cai a direito. Também ali entre a cidade e a água não encontrarás nenhuma sombra; abriga-te por isso no sopro corrido e fresco do mar. Entra no mercado e vira à tua direita e ao terceiro homem que encontrares em frente da terceira banca de pedra compra peixes. Os peixes são azuis e brilhantes e escuros com malhas pretas. E o homem há-de pedir-te que vejas como as suas guelras são encarnadas e que vejas bem como o seu azul é profundo e como eles cheiram realmente, realmente a mar. Depois verás peixes pretos e vermelhos e cor-de-rosa e cor de prata. E verás os polvos cor de pedra e as conchas, os búzios e as espadas do mar. E a luz se tornará líquida e o próprio ar salgado e um caranguejo irá correndo sobre uma mesa de pedra. À tua direita então verás uma escada: sobe depressa mas sem tocar no velho cego que desce devagar. E ao cimo da escada está uma mulher de meia idade com rugas finas e leves na cara. E tem ao pescoço uma medalha de ouro com o retrato do filho que morreu. Pede-lhe que te dê um ramo de louro, um ramo de orégãos, um ramo de salsa e um ramo de hortelã. Mais adiante compra figos pretos: mas os figos não são pretos: mas azuis e dentro são cor-de-rosa e de todos eles corre uma lágrima de mel. Depois vai de vendedor em vendedor e enche os teus cestos de frutos, hortaliças, ervas, orvalhos e limões. Depois desce a escada, sai do mercado e caminha para o centro da cidade. Agora aí verás que ao longo das paredes nasceu uma serpente de sombra azul, estreita e comprida. Caminha rente às casas. Num dos teus ombros pousará a mão da sombra, no outro a mão do Sol. Caminha até encontrares uma igreja alta e quadrada.

Lá dentro ficarás ajoelhada na penumbra olhando o branco das paredes e o brilho azul dos azulejos. Aí escutarás o silêncio. Aí se levantará como um canto o teu amor pelas coisas visíveis que é a tua oração em frente do grande Deus invisível.

A política e a filosofia podem estar presentes de forma menos clara

Porque

Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

Ou claros como este:

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Os 50 maiores livros (uma antologia pessoal): VI – A Vida e as Opiniões do Cavalheiro Tristram Shandy, de Laurence Sterne

Obs.: não encontrei a capa de edição nacional para colocar ao lado…

Beethoven gostava de temas curtos e afirmativos. O crítico Otto Maria Carpeaux também, até demais. Beethoven repetia seus temas à exaustão, mas não enchia o saco. Carpeaux não os repete, mas larga aqui e ali juízos curtos, afirmativos e terríveis que às vezes me deixam louco. A literatura não prescinde de justificativas mais, digamos, alongadas. Eu gosto de Beethoven e de Carpeaux, só que o austríaco tem uma capacidade de me irritar que o alemão só utilizou n`A Batalha de Wellington e na Pastoral. Pobre do grande LAURENCE STERNE: na História da Literatura Ocidental, o maravilhoso amansa-burro de 2300 páginas de Carpeaux, ganhou a curta e grossa má vontade do mestre:

Não é romancista, e não compreendemos como seus contemporâneos puderam dar o nome de romance a esse aglomerado de conversas, digressões e anedotas, sem ação novelística, que é o Tristram Shandy.

Que equívoco! Fico curioso sobre o que diz Carpeaux sobre outro livro notável, também quase exclusivamente um aglomerado de conversas e digressões filosóficas: O Homem Sem Qualidades, de Robert Musil. Consulto e ele demonstra coerência, fazendo questão de chamar a obra-prima inacabada de romance-ensaio. OK. Romance-ensaio é mais que um aglomerado de conversas e digressões, porém Carpeaux sempre ensina muito e conta com minha INDULGÊNCIA.

Mas creio que Carpeaux, se se alongasse um pouco mais, não ousaria falar mal da espetacular prosa de Sterne. Seu principal romance (ou não), A Vida e as Opiniões do Cavalheiro Tristram Shandy, é uma de minhas melhores lembranças literárias. Este livro extravagante, publicado em capítulos entre os anos de 1759-67, tem importantes admiradores. James Joyce, Luigi Pirandello, Samuel Beckett e MACHADO DE ASSIS, que o cita com conhecimento, foram alguns dos escritores que se declararam influenciados pelo irlandês Sterne, um pároco muito bem sucedido e amante de intermináveis digressões pontuadas de anedotas escabrosas e alusões cínicas. Agrada-me intensamente a forma como Sterne decepciona seus leitores ao não dar seguimento às ações que esboça, coisa que Roberto Bolaño se esmera em realizar (ou não).

A cena inicial nos conta sobre o nascimento de Tristram. Seu pai costumava fazer duas coisas no primeiro domingo do mês. A primeira era dar corda no relógio da sala; a segunda era cumprir seus deveres conjugais. Porém, num destes domingos, sua mãe, JÁ PENETRADA mas sem o menor interesse, pergunta repentinamente (a pontuação, sempre originalíssima, é puro Sterne):

– Por favor, meu caro, não te esqueceste de dar corda ao relógio? ————-Por D—–! gritou meu pai, lançando uma exclamação, mas cuidando ao mesmo tempo de moderar a voz. ——–Houve jamais mulher, desde a criação do mundo, que interrompesse um homem com pergunta assim tão tola?

Com a interrupção, o velho Shandy, desconcertado, descuidou-se de fazer outra coisa: o coitus interruptus. E é desta forma que nasce o HOMÚNCULO ou, para nós, o feto daquele que seria o protagonista da “ação”. A piada fez enorme sucesso e por anos não apenas as prostitutas da Inglaterra perguntaram a seus candidatos QUERES DAR CORDA EM MEU RELÓGIO?, como as senhoras de respeito deixaram de comprar relógios para suas casas com receio dos comentários que tal ato poderia provocar… Que os comprassem os maridos!

É também notável o momento em que Shandy desiste de narrar sua própria vida – o livro é escrito na primeira pessoa. Isto acontece lá pela página 80 de um livro de 600 páginas. Ele observa que gastou alguns meses escrevendo a respeito das primeiras horas de sua vida. Constata assim que demora muito mais para escrever do que para viver e que os acontecimentos narrados estão afastando-se mais rapidamente do que a narrativa avança… Impossível alcançar. Conclui que o melhor é parar de perseguir a si mesmo e conversar com os leitores. A vida de Tristram segue seu curso e Sterne, bem, Sterne sabe e declara-se consciente de que a literatura existe primeiro para SATISFAZER O AUTOR… Danem-se os leitores.

Tudo é desrespeito neste romance moderno com raízes no Quixote. Riso e melancolia brincam sob a batuta de Sterne. Como se não bastasse ser um excêntrico romance sobre quem escreve um romance, Tristram Shandy apresenta uma série de artifícios antes nunca vistos: uma página inteiramente pintada de preto, tentativas de desenhar graficamente a evolução do romance, alguns capítulos em branco (em que nada é escrito) e uma página também em branco, limpinha, para que o leitor desenhe sua amada.

Acima, Sterne nos brinda com o esquema gráfico da história do tio Toby…

Hoje, poucos lêem o descontrolado e desprogramado Tristram Shandy, mas os estragos causados por ele fez foram grandes: Joyce adorava seus jogos de palavras e trocadilhos ab-so-lu-ta-men-te malucos, Beckett — “Nada tenho a dizer, mas somente eu sei como fazê-lo” — deliciava-se com o fato de Sterne ter, por assim dizer, inviabilizado seu próprio romance e Machado de Assis aprendeu com ele a dialogar frequentemente com o leitor e a brincar com aqueles pequenos capítulos em que nada, mas nada mesmo, acontece. Aliás, há cenas de Memórias Póstumas de Brás Cubas que demonstram toda a admiração de Machado por Tristram.

Li este livro em 1985, na brilhante tradução de José Paulo Paes em edição da Nova Fronteira, depois reeditada pala Cia. das Letras e despeço-me com mais um trecho do Tristram Shandy. A pontuação é a do autor, claro:

O que é a vida de um homem! Pois não é um rolar daqui para lá?——–De infortúnio em infortúnio?—— Abotoar uma ca(u)sa de aflição!—–e desabotoar outra?

(…)

—Entrementes, tenho umas poucas coisas a fazer—uma coisa a nomear—uma coisa a lamentar—uma coisa a esperar, uma coisa a prometer, e uma coisa a ameaçar.—Tenho uma coisa a imaginar—uma coisa a declarar—uma coisa a esconder, e uma coisa por que rezar. ——A este capítulo chamarei, portanto, o capítulo das COISAS——e o capítulo a ele subsequente, isto é, o primeiro do volume seguinte, se eu viver o bastante, será o capítulo das SUÍÇAS, a fim de manter algum tipo de nexo entre as minhas obras.

A coisa que lamento é terem as coisas se apinhado de tal modo sobre mim que não consegui chegar àquela parte de minha obra a que visei durante todo o caminho com tamanha ansiedade, qual seja a parte das campanhas, e mais especialmente a dos amores do tio Toby; os acontecimentos e eles respeitantes são de natureza tão singular e de cunho tão cervantino que se eu conseguir transmitir a outro cérebro as impressões que as ocorrências suscitam por si sós em meu próprio cérebro—garanto que o livro abrirá caminho no mundo muito melhor do que nele abriu seu autor.—Oh Tristram! Tristram! poderá jamais acontecer, uma vez que seja—que o prestígio de que venhas a desfrutar como autor compense os muitos infortúnios que te afligiram como homem?—Festejarás o primeiro—quando tiveres perdido toda a sensação e lembrança dos outros!—

Não estranha eu estar tão inquieto por chegar a estes amores.—Eles são o acepipe mais refinado de toda a minha história! E quando eu chegar enfim a eles—asseguro-vos, boa gente,—(não me importam os estômagos delicados aos quais possa desgostar) que não serei nada cuidadoso na escolha das minha palavras;—a coisa que tenho a DECLARAR——–é que receio não poder chegar-lhes ao fim em apenas cinco minutos—e a coisa que ESPERO é que vossas referendas senhorias não se ofendam—se vos ofenderdes, podeis contar, minha boa gentry, que no próximo ano eu vos darei algo com que de fato vos ofenderdes—assim o faz minha querida Jenny—mas quem seja a minha Jenny—e qual a extremidade certa e a extremidade errada de uma mulher, essa é a coisa a ser ESCONDIDA—ser-vos-á contada dois capítulos após meu capítulo acerca das casas de botão—e em nenhum outro capítulo anterior.

E agora que chegastes ao fim destes quatro volumes—a coisa que tenho a PERGUNTAR é, como estão vossas cabeças? A minha dói horrivelmente—quanto às vossas saúdes, sei que estão bem melhores…

Estão mesmo, Laurence, ao menos a minha está.

 A descrição da morte de Yorick: uma página preta, de luto.

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