Confinada, de Leandro Assis e Triscila Oliveira

Confinada, de Leandro Assis e Triscila Oliveira

Confinada é um grande livro de quadrinhos. Fran é uma influencer com milhões de seguidores que dispensa duas de suas três empregadas no início da pandemia, ficando apenas com Ju. Ou seja, do trio de servidoras, uma fica. Também conhecida como “musa gratiluz”, Fran quer parar de pagar as que foram dispensadas durante o período de confinamento… Mas vamos sem spoilers. Enquanto isso, em suas lives, instagrams, etc., ela diz estar aproveitando o confinamento para fazer “um balanço”, para “crescer” e para “tornar-se melhor”. E para vender um monte de produtos para seus seguidores, claro.

Ela anuncia, por exemplo, um “pack” com duas máscaras a 147 reais, sendo que, na aquisição, uma cesta básica irá para uma “família favelada”: “Você faz caridade, não morre e fica estilosa”, comemora. Na camufla, ela até organiza festas. Fran e seus amigos têm aquele comportamento usual de boa parte da dita elite que, pelo fato de ter dinheiro, se sente superior. Riem do que consideram piadas, embora sejam ofensas. Debocham dos mais pobres, dizem que os negros são inferiores, zombam de seus hábitos e mesmo suas características físicas, como a “cabeça chata” dos nordestinos e, obviamente, a cor. Recusam-se a cumprir regras, como mostrar a identidade na guarita que controla a entrada num condomínio, pois esta é solicitada por uma pessoa de origem humilde. É o velho e conhecido preconceito de classe misturado com racismo. Para eles, os negros só podem estar em espaços ou ambientes frequentados por brancos se estiverem a serviço. Obedientemente.

Com belos desenhos e um texto afiado e duramente atual, Confinada deixa clara a hipocrisia e o racismo da elite brasileira. Mais: as desigualdades sociais são plenamente justificadas por Fran e sua irmã em tristes (e hilariantes) “telefonemas explícitos”. Sim, é o papinho bolsonarista. Para nós não é nenhuma novidade, mas a arte potente de Assis e Oliveira deixa tudo mais cruel, divertido, e ridículo. A influencer Fran é mais daquele mesmo que temos engolido diariamente. Ela até se arrepende de ter votado no Bozo! Diz que anulou o voto no segundo turno!

Ao final, fica clara a certeza de que muitas Frans estão entre nós. Bem, se não estivessem, teríamos menos casos de racismo e um governo mais decente.

Leandro Assis e Triscila Oliveira

 

Em cinco minutos, a paciência de Stephen Fry perante a estupidez de Bolsonaro

A risada histérica ao final, que parece se autoelogiar pela estupidez absoluta, é uma das coisas mais apavorantes que eu já vi na vida. Aqui, o contraste com a elegância de Stephen Fry destaca — como caricatura bizarra — a ideologia desprezível desse homem público que em plena era da informação e da tecnologia ainda tem seguidores fiéis e fanáticos, mas a gente vê isso toda hora por aí, em menor escala… pratica-se toda sorte de humilhação contra o outro, depois soca “kkkkkkk” na frente que tá tudo certo, né? NÃO TÁ NÃO.

Somos o mundo que as nossas ideias projetam.

Fabrissa Valverde, em seu perfil do Facebook.

Trecho de um comentário no Youtube:

Não existe homofobia no Brasil
Não existe racismo no Brasil
Não existe abismo social no Brasil
Não existe perseguição religiosa no Brasil…
Eu ainda digo que os que apoiam esse cara são assassinos em potencial…

A ignorância de Marco Aurélio estampada em Zero Hora

Marco Aurélio, chargista e celetista de Zero Hora, não deveria ilustrar nem jornal de grêmio estudantil, tais as tolices que comete. Ontem, ele conseguiu bater um recorde ao fazer uma “piada” sobre, presumivelmente, o Dia da Consciência Negra. Dias após escrever que “impeachment” era uma palavra francesa, o ilustrador principal de Zero Hora estampou a figura abaixo.

É engraçado? Não, né? É poético? Não. A mão azul significaria nossa nobreza, nosso “sangue azul” ao ajudar os negros? Bem, isto seria efetivamente uma piada de humor negro. É o Grêmio ajudando o Inter? Se fosse, a mão negra deveria ser vermelha, já que a gremista é azul. Mas há mais: ao escrever Leonardo como seu parceiro, provavelmente refere-se a Leonardo da Vinci, correto?

Abaixo, A Criação de Adão, obra que se encontra desde 1510 no teto da Capela Sistina. O autor, meu caro Marco Aurélio, é Michelangelo Buonarroti. Michelangelo, para os íntimos da cultura mais basicazinha da humanidade.

Outros chargistas se manifestaram:

Kayser: Mas o fato de ele assinar “& Leonardo”, como se o pobre do da Vinci tivesse algo a ver com o referido rabisco até é o de menos. O que esse imbecil quis dizer com o garrancho?!? O que é essa mão negra e a mão azul?!? É o Inter (já que colorado é sinônimo de negro para o idiota) sendo ajudado pelo Grêmio? É o Doutor Manhattan que bateu uma punheta para o afrodescendente? Mais um mistério da obra marcoaureliana…

Santiago: Vocês viram a charge do Marco Aurélio de hoje onde ele usou a figura da criação de Michelangelo e escreveu que era do Leonardo??? Que o cara é um tipo ignorante todos sabem, mas podia dar uma olhadinha no GÚguel e o editor chefe podia avisar o cara para o jornal não passar vergonha. Outro dia ele botou impeachment como palavra francesa.