Minha lista de melhores livros brasileiros do século XXI

Minha lista de melhores livros brasileiros do século XXI

Sem tentar ser politicamente correto, aí vai minha lista de melhores romances brasileiros do século XXI, em ordem alfabética. Lá vai:

Budapeste, de Chico Buarque
Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios, de Marçal Aquino
Leopold, de Luís Antônio de Assis Brasil
Minúsculos Assassinatos e Alguns Copos de Leite, de Fal Azevedo
O Avesso da Pele, de Jeferson Tenório
O Cheiro do Ralo, de Lourenço Mutarelli
O Drible, de Sérgio Rodrigues
Os Supridores, de José Falero
Pornopopeia, de Reinaldo Moraes
Um Defeito de Cor, de Ana Maria Gonçalves

Onde enfiar Torto Arado?

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Leopold, de Luiz Antonio de Assis Brasil

Leopold, de Luiz Antonio de Assis Brasil

Para um amante da música, dificilmente a literatura brasileira oferecerá um banquete melhor servido do que este Leopold. Li o livro em voz alta para minha mulher Elena e Assis Brasil quase destruiu minha garganta com seus longos capítulos, parágrafos e frases, prova de nosso envolvimento com a narrativa. Era difícil interromper a leitura. AB ajustou sua prosa para que o discurso transmitisse uma ideia crível e realista do pensamento de Leopold Mozart durante toda uma viagem de volta a Salzburg após visitar seu filho em Viena. É um longo fluxo de consciência raramente interrompido e sem as ousadias formais que costumam acompanhar este gênero de narrativa. No começo da leitura, há também a surpresa com a fala em primeira pessoa de uma figura histórica pertencente a uma cultura alienígena.

Bem, se você não sabe, o filho de Leopold chamava-se apenas Wolfgang Amadeus Mozart e, se você não sabe quem é, talvez não devesse estar lendo este texto.

Durante a leitura, pensava que AB fizera uma pesquisa de mais ou menos uma década. Porém, o autor afirma no posfácio que trabalhou apenas 4 anos no projeto, mas que W. A. Mozart era (é) uma paixão antiquíssima e que “caso me candidatasse nesses concursos de televisão que aferem o conhecimento da pessoa acerca de qualquer assunto, eu teria ficado milionário respondendo sobre a vida e obra de Wolfgang Amadeus Mozart.” Ou seja, considerando a parte Mozart (a partir de agora, quando escrever Mozart, estarei me referindo a Wolfgang Amadeus), talvez tenha sido uma pesquisa informal de toda uma vida. E a citada paixão deve apontar também que Leopold seja o opus magnum do autor. E é.

1785. Mozart tem 29 anos, Leopold tem 66 e viaja numa diligência acompanhado de um casal adormecido. Atribui-lhes nomes e, sussurrando ou não — para não acordá-los — passa a narrar sua vida de pai de um gênio. A história se desdobra como nossos pensamentos, a coisa vai e volta, às vezes sem direção — artifício perfeito para quem conta uma história para ninguém, para quem conta uma viagem interior durante uma viagem –, às vezes de forma atônita com o talento do próprio filho.

Leopold demonstra ser uma pessoa autoritária, centralizadora e difícil, que desejava e procurava impor aquilo que via como melhor para seu Mozart: uma postura mais pragmática a fim de que este alcançasse a segurança financeira, uma esposa adequada e, sob sua orientação, a chegada ao Olimpo de melhor compositor de todos os tempos. Mas então Haydn, o grande Haydn, derruba a fantasia do pai ao dizer que Mozart era um compositor melhor do que ele próprio e o maior da Europa.

E o mundo de Leopold vai ao chão, pois o que ele teria a ensinar a seu filho se Haydn dissera aquilo? E, se Mozart era melhor do que Haydn, o que sobraria para Leopold ensinar? Ele se vê esvaziado. Nos últimos tempos, vivendo em Salzburgo afastado do filho em Viena, Leopold mandava-lhe cartas com instruções e exercícios… Mas claro que Mozart fazia o que bem entendia há muito tempo. E Leopold finalmente vê-se frente a si mesmo, como alguém que não escreveu uma obra digna de imortalidade, apenas um Método de Violino. Como alguém consciente de que, no futuro, o nome Mozart seria sempre utilizado para designar Wolfgang Amadeus e que ele sempre precisaria de um Leopold antes para saber de quem se tratava.

Neste jogo entre ser pai, mentor, professor e também compositor é que Leopold tem que se virar. Só que sendo um catolicão com aspirações iluministas na pequena Salzburgo, um empregado do arcebispo, a coisa não é tão simples. E esta é uma das universalidades do livro. Muitos de nós somos pais e mães que se tornam perfeitamente inúteis para os filhos. E a presença próxima de um imortal parece acentuar a impressão de finitude do pai e também da irmã… Mas tergiverso. Termino dizendo que o final do livro é muito bonito.

Saibam que Assis Brasil chegou lá. Escreveu um tremendo romance, uma consistente obra de arte que aponta para as intercertezas mais importantes da vida — envolvendo amor, arte, deus e morte.

Recomendo fortemente a leitura.

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Só uma coisa, meu caro Luiz Antonio, sou bachiano de quatro costados e não gostei muito desse negócio de ficar repetindo que o maior de todos é outro, tá?

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Compre o livro na Livraria Bamboletras, na Av. Venâncio Aires, 113. Ah, não mora em Porto Alegre? Use o WhatsApp 51 99255 6885. A gente manda!

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