Erro de passe no meio de campo do Nacional, Patrick rouba a bola e avança até entregá-la na esquerda a Wellington Silva que costura lindamente para o meio e passa a Guerrero, que marca.
Isso é centroavante. O peruano teve duas chances — uma no primeiro tempo, outra no segundo — e marcou um gol.
Ontem à noite, Odair foi fundamental. Mudou de postura. Foi corajoso durante o jogo, não se intimidou com o estádio cheio e fez substituições que mostravam vontade de vencer. E venceu. Na verdade, o Odair medroso não foi a Montevidéu. Imaginem que tirou Rodrigo Lindoso para colocar Nonato, Nico para colocar Sóbis e D’Alessandro para colocar o ofensivo Wellington Silva. E foi um grande dia, não, Odair Hellmann?
Apesar de ter sido uma péssima noite para brasileiros. O Flamengo foi a Guayaquil e tomou de 2 a 0 do Emelec. Já o E o Athletico Paranaense recebeu o Boca Juniors e perdeu 1 a 0 no final do jogo.
Com a vitória, o Inter joga por empate no Beira-Rio, na próxima quarta-feira, para chegar às quartas de final da Libertadores.
O time não jogou bonito nem bem, jogou como se joga Libertadores, respondendo à marcação com marcação, pontapé com pontapé, chegada forte com chegada forte.
Numa linda entrevista concedida ao SporTV no início deste ano, Rafael Sóbis disse que a Libertadores era diferente de qualquer outro campeonato: o vencedor normalmente não é o melhor, mas quem sabe jogar melhor Libertadores. Ou seja, às vezes se ganha no grito e na coragem mesmo.
E ontem, a gente ganhou assim. E, como disse um narrador uruguaio ao narrar o gol de Guerrero aos 45 do segundo tempo: Todas las cosas que me ocurren no son apropiadas para los niños ecuchar… Sim, a Libertadores é cruel.
O único senão é manter Uendel no time. Ele é um furo atrás e uma inutilidade na frente. Como Natanael não impressiona, talvez devamos ter Bruno e Zeca nas laterais.
O Inter volta ao Brasileirão no sábado, contra o Ceará, provavelmente com time misto. Bem, os dois tempos finais do confronto serão disputados na próxima quarta-feira (31/07), no Beira-Rio, em confronto marcado para às 19h15.
Fizemos uma bela entrevista com Roberto Markarian, Reitor da Udelar, Universidade da República do Uruguai. Na entrevista, fica claro o que é uma ‘pátria educadora” e a dimensão humana de um sistema gratuito e laico de ensino. Foram 63 minutos de perguntas e respostas, mas a Elena disse que o conteúdo equivale a um livro. Pedi ajuda a vários amigos acadêmicos para melhorar minhas perguntas e o resultado foi estupendo.
Acho que vou dividir a entrevista em duas partes para que não seja cansativo para o leitor e lhe dê certo tempo para refletir sobre modelos totalmente diferentes — e mais racionais — dos nossos. Tive a sorte de conhecer o genial Markarian durante os anos 80 quando ele fazia mestrado em Porto Alegre após sete anos de prisão durante a ditadura militar uruguaia. A mim, resta agora ser digno de Markarian, dos amigos e da Elena, que me ajudou com fotos, sugestões 100% aceitas e também com alguns questionamentos..
Aqui, nós sempre erramos o tamanho do prato. Ou vem uma coisa diminuta — fato bem mais raro — ou vem o mundo. Isso ocorre sempre, com exceções que podem ser contadas nos dedos de uma mão, com sobras. Por mais que conversemos com os garçons, ficam faltando uma ou duas perguntas. Hoje, voltamos a um pequeno restaurante ao lado do Parque Rodó, o La Cocina del Parque. Pedimos uma Parrilla para dos. Impossível comer tudo, mal chegamos à metade mesmo tendo antes atravessando a cidade desde o Palácio Legislativo. Talvez seja este o mistério de tantos cães e cocôs pelas ruas da cidade. Sobra muita comida boa nos restaurantes.
Agora chove, são 16h15 de terça-feira e vamos às 19h30 ao Solís ver a Orquestra Filarmônica de Montevideo com o saudoso e excelente maestro Nicolas Rauss, que a Ospa deixou de convidar em função da tal oxigenação. O programa é foda:
Bélá Bartok: Concierto para Piano N°2
Bohuslav Martinu: Sinfonía N° 4
Nicolás Rauss
Sara Davis Buechner, piano
Certamente será ótimo. O problema será depois, quando formos a um restaurante. Bem, ao menos o tamanho do café será o esperado.
E, amanhã, em grave descumprimento laboral — pois em meio às férias — entrevistarei o Reitor da Udelar, Universidad de La República del Uruguay, meu amigo Roberto Markarian. Tenho um roteiro pronto e acho que o Sul21ganhará uma bela “entrevista de férias”. Já visitamos os Markarian e está tudo em ordem.
Até meados da década de 80, Julio Cortázar (26 de agosto de 1914 – Paris, 12 de fevereiro de 1984), um gigante de quase dois metros de altura, era um escritor lido no mundo inteiro, era quase popular. O tempo e a reavaliação por parte da crítica e dos leitores, tratou de afastá-lo do lugar que ocupava naquela época, mas ainda é um escritor respeitado, principalmente em nosso país. Já fora do Brasil, principalmente na Argentina, Cortázar foi desconstruído primeiramente pela crítica, que jogou seu ácido sobre vários pedaços da ficção do autor, e depois passou a um segundo plano no gosto dos leitores. Hoje, é personagem secundário nas livrarias de Buenos Aires e Montevidéu, fato que não ocorreu com a maioria de seus pares.
Tal recuo não chegou a ser fatal para a memória do escritor, apesar da agressividade de alguns críticos hispano-americanos, mas o retirou da posição de escritor vanguardista para recolocá-lo mais atrás, num posto de autor de alguns grandes livros. O encolhimento de Cortázar deu-se principalmente no âmbito de que ele deixou de ser considerado um escritor revolucionário para acomodar-se numa poltrona mais conformista do ponto de vista estético. A internacionalmente respeitada Beatriz Sarlo foi uma das ensaístas que desmistificou a obra-magna de Cortázar, O Jogo da Amarelinha. Chamou-a de obra precocemente carcomida pelo tempo. Verdade. Sarlo diz que a possibilidade de ser lido em qualquer ordem de capítulos é um fato menor, até porque o sentido do livro não se altera se for adotada outra ordem, o que torna o expediente um acessório meramente pirotécnico.
Cortázar está longe de ser um embuste, mas boa parte da obra do autorpassou a ser considerada sob uma luz menos indulgente, na verdade sob a luz das repetições que afetariam seus romances e livros de contos escritos após de Todos os fogos o fogo. Com pouca margem de erro, pode-se projetar que o escritor argentino vá em futuro próximo fazer companhia a Hermann Hesse como autor de uma ou duas gerações.
As reavaliações artísticas não são novidade. Os contemporâneos de Balzac consideravam Eugène Sue o maior escritor francês de sua época. Quando comparamos os autores e ficamos sabemos que um dos principais intentos da vida de Balzac era o de desafiar a supremacia de Sue, passamos a desconfiar daquela contemporaneidade parisiense. O que pensavam? Sue é um escritor paupérrimo, certamente, mas sabia falar aos leitores europeus do século XIX. Balzac não está sozinho em sua luta contra a incompreensão da sociedade onde estava inserido. Quem era o maior compositor da época daquele que é hoje considerado o maior compositor de todos os tempos? Telemann. Sim, os contemporâneos de Bach não o reconheciam, mas amavam o hoje periférico Telemann. De alguma forma, Telemann, como Sue, sabiam o que o contexto onde estavam inseridos exigia. Não é pecado saber agradar a seus leitores imediatos.
A “queda” de Cortázar — um escritor considerado vanguardista em sua época — é um fenômeno. Ele não deve ser comparado a Sue em qualidade. Seu requinte formal, seu charme e suas histórias o colocaram na linha de frente dos ficcionistas mundiais de sua época. Basta dizer que seu conto A Autoestrada do Sul (de Todos os fogos o fogo) inspirou o filme Weekend (1967), de Jean-Luc Godard, e As Babas do Diabo (de As Armas Secretas), o clássico Blow-up (1966) de Michelangelo Antonioni. Ou seja, era um escritor que gozava de reconhecimento mundial. Na política, também era de vanguarda. Cortázar apoiou a revolução cubana, combateu as ditaduras argentinas, defendeu o Governo sandinista. Poucas vezes um escritor ousou entronizar um revolucionário como personagem de uma de suas narrativas como fez Cortázar com Che Guevara, o narrador asmático do conto Reunião, também de Todos os fogos o fogo.
Citamos três vezes Todos os fogos o fogo. Neste livro — que é uma espécie de súmula do Cortázar contista e é uma das últimas seleções de contos seus realmente boas — , já se nota sinais de repetição e cansaço. O clássico A Autoestrada do Sul, por exemplo, narra a história fantástica de um extraordinário engarrafamento numa rodovia que vai dar em Paris. Todos os carros parados. Por horas, dias, semanas, muda a estação e eles ali. Os gregos inventaram a “hipérbole”, que é a intensificação de um fato até o inconcebível, um superexagero que transforma os fatos em outra coisa. Os carros passam um ano inteiro parados na estrada. São criadas novas relações, um novo comércio, outra vida, outras disputas, outras formas de sobrevivência. Quando os carros voltam a andar, o leitor lamenta. Parece uma brilhante variação do também excelente A casa tomada, de 1951. Era 1966 e — pensa-se atualmente – a hora de Cortázar repensar sua literatura. Não foi o que aconteceu. Ele seguiu repetindo-se e publicando seus livros e uma velocidade cada vez maior.
O professor de literatura latino-americana da Universidade de Tulane (EUA), Idelber Avelar, provocou a ira de muitos leitores brasileiros com uma crítica talvez demasiadamente acerba ao escritor argentino, mas que continha uma análise do esquema — ou fórmula — dos contos de Julio Cortázar que é difícil de rebater. Segundo Idelber, há uma:
(…) tediosa previsibilidade. Essa fórmula pode ser resumida em três ou quatro movimentos: 1) um personagem, sempre homem, topa-se com um lá-fora, um estrangeiro, um desconhecido: o réptil no zoológico em “Axolotl”, o acidente de moto em “La noche boca arriba”, a queda do avião em “La isla al mediodía”, a artista de cinema em “Queremos tanto a Brenda”, a Revolução Sandinista em “Apocalipsis en Solentiname” etc. 2) O choque produz no sujeito um desassossego que o descoloca, e instala uma esfera “fantástica” diferente da que estava presente na ordem anterior: o visitante do zoológico começa a transformar-se em réptil em “Axolotl”, o acidentado de “La noche boca arriba” começa a ter alucinações de que é um prisioneiro azteca, o passageiro do avião em “La isla al mediodía” passa a ter a visão perfeita da ilha, o fã começa a se fundir com a atriz em “Queremos tanto a Brenda”, as fotografias tiradas na Nicarágua começam a revelar uma realidade terrível que o protagonista não havia visto etc. 3) O conto conclui com a esfera “fantástica” coexistindo com ou substituindo a realidade anterior, enquanto o leitor sente que, catarticamente, passou por uma purgação, uma aventura através da qual a ficção lhe deu o vislumbre de uma outra dimensão. A execução desses passos é intercalada com pitadas de humor piegas à la María Elena Walsh, algumas piadas machistas e um ou outro comentário supostamente high-brow sobre alguma esfera da cultura de massas, em geral o jazz.
A previsibilidade é tal que basta ler sete ou oito contos de Cortázar – falo dos textos posteriores a Bestiário – para que se adivinhe, sem muitos problemas, como terminarão os outros relatos. Leia Todos os fogos, o fogo, e depois faça o exercício com As armas secretas. É muito mais fácil que adivinhar final de telenovela ou bang-bang.
Mas a época de Cortázar aprovava. Quando Idelber fala em comentários intelectuais sobre o jazz, lembramos que o aval de Cortázar era importante para muitos ouvintes iniciantes do gênero. O jazz foi tema e fonte em grande parte de sua obra literária de forma tão insistente que hoje o autor nos deixa a impressão de abraçar uma espécie de pedagogia jazzística. Tal postura sobre este e outros assuntos empurra-lhe um fardo que, há 30 anos, ninguém esperaria que Cortázar recebesse: o de escritor para adolescentes, a de um autor para pessoas em formação. É o que diz, por exemplo, o excelente ficcionista César Aira, que afirma que o que ficará de Julio Cortázar serão os livros de contos Bestiário e Todos os fogos o fogo.
Neste sentido, ocupa uma posição singular o livro Histórias de Cronópios e de Famas. Publicado em 1962, o livro oferece narrativas hilariantes dentro de um mundo dividido entre “cronópios”, “famas” e “esperanças”. Os cronópios são distraídos e poéticos. São indiferentes ao secular, sofrem acidentes, choram, perdem seus pertences, atrasam-se, viajam levando coisas inúteis. As narrativas dedicadas a eles torna-os irresistivelmente simpáticos e sedutores. Os famas são o inverso. Objetivos, são organizados, práticos e cuidadosos. Quando viajam, por exemplo, pesquisam preços e a qualidade dos lençóis de cada local onde ficarão. Na volta, fazem álbuns de fotografias. Suas histórias são as mais engraçadas por suas compulsões. Já as esperanças são a maioria silenciosa. Deixam-se levar. Este pequeno volume é hoje indicado em escolas hispano-americanas como uma hilariante introdução de jovens ao mundo da literatura. Ou seja, é encarado efetivamente de outra forma daquela com que era lido anos atrás.
Porém, no Brasil, o prestígio de Cortázar segue estranhamente inabalado. Espécie de novo Stefan Zweig, Cortázar segue com uma legião de entusiastas em nosso país. É um fenômeno brasileiro. Vindo de uma literatura cujo prestígio mundial iniciou com a descoberta de Jorge Luis Borges nos anos 60, principalmente pela França, que na época era um país capaz de consagrar um escritor, Cortázar, segundo Beatriz Sarlo, viu-se na ponta de lança da internacionalização da literatura latino-americana por duas razões: o primeira é o desenvolvimento da própria literatura da região e a segunda é a propaganda da Revolução Cubana. Autores que se identificavam com Cuba ganharam rápida repercussão internacional. Esse é exatamente o caso de Cortázar e do colombiano Gabriel García Márquez, mas não de Borges, de Juan José Saer, do mexicano Juan Rulfo ou do uruguaio Juan Carlos Onetti, que seriam, sem dúvida alguma, escritores muito maiores.
A América espanhola parece concordar com estas palavras. O Brasil é que não.
Duas cidades que adoro. A gente ouve aqui e depois aqui. iTunes, seu lindo, como funciona bem! Hoje de manhã, a disputa estava duríssima entre as duas: Mozart, Hummel, Brahms, Bartók e Villa-lobos na Clasica deles. Coisa séria.
Há 31 anos, num 9 de julho, morria o poeta Vinícius de Moraes. O poetinha – apelido dado por Tom Jobim – era um boêmio, fumante, amante dos bons uísques e das mulheres. Casou-se nove vezes. Apesar disso, teve tempo de criar obra literária, musical e teatral. Foi parceiro de toda uma geração de grandes músicos brasileiros como o citado Tom, além de Chico Buarque, Toquinho, Baden Powell, Carlos Lyra, Edu Lobo e João Gilberto, dentre outros.
Marcus Vinícius da Cruz de Mello Moraes nasceu em 1913 no Rio de Janeiro, na Gávea, filho de um funcionário da prefeitura e de uma dona de casa que era também pianista amadora. Em 1930, ingressou na Faculdade de Direito do Catete, hoje integrada à UERJ. Na chamada “Faculdade do Catete”, conheceu o romancista Otavio Faria, que o incentivou na vocação literária. Vinícius de Moraes graduou-se em Ciências Jurídicas e Sociais em 1933, aos 20 anos. Após um período na Inglaterra, fez concurso para o Ministério das Relações Exteriores. Na primeira vez foi reprovado, mas na segunda tentativa acabou aprovado, sendo enviado para Los Angeles como vice-cônsul.
Chico Buarque, Tom Jobim e Vinícius de Moraes
Depois, Vinícius de Moraes atuou no campo diplomático em Paris e em Roma, onde costumava realizar animados encontros na casa do escritor Sérgio Buarque de Holanda. A carreira de diplomata fui subitamente interrompida pelo AI-5, através de uma aposentadoria compulsória. O motivo alegado foi a boemia. Em entrevista, o presidente João Figueiredo explicou as causas da demissão: “O Vinícius diz que muita gente do Itamaraty foi cassada por motivos políticos, por corrupção ou por pederastia. É verdade. Mas no caso dele foi vagabundagem mesmo. Eu era o chefe do Serviço Nacional de Informações, o SNI, e recebíamos constantemente informes de que ele, servindo no consulado brasileiro de Montevidéu e ganhando 6 000 dólares por mês, não aparecia por lá havia três meses. Consultamos o Ministério das Relações Exteriores, que nos confirmou a acusação. Checamos e verificamos que ele não saía dos botequins do Rio de Janeiro, tocando violão, se apresentando por aí, com copo de uísque na mão. Nem pestanejamos. Mandamos brasa.”
Hoje, ninguém se incomoda com seu mau comportamento funcional. Afinal, o ganho cultural foi muito mais importante.
Vinícius de Moraes é conhecido pelo grande público muito mais por sua música e por seu trabalho como letrista do que por sua obra literária. Porém, estes estão de tal forma interligados com a vida do autor que certamente não é muito inteligente separá-los. Nos anos 40, Vinícius era um poeta lírico de linguagem simples que muitas vezes enveredava pelo social. Os poemas desta época certamente não lhe garantiriam nenhuma “imortalidade”e ele era mais conhecido por sua atuação como jornalista e crítico de cinema.
O manuscrito de “Soneto da Separação”
Só em 1953 o poeta começou a abrir espaço para o letrista e músico. Naquele ano, Aracy de Almeida gravou “Quando Tu Passas Por Mim”, primeiro samba de sua autoria. Escrito com Antônio Maria, o samba marcava, na vida pessoal do poeta, mais um fim de casamento. No ano seguinte, Aracy de Almeida voltou a gravar outra música com letra de Vinícius.
Em 1954, foi publicada sua coletânea Antologia Poética, ao mesmo tempo em que finalizava sua peça teatral Orfeu da Conceição, premiada no concurso associado ao IV Centenário de São Paulo, cidade por ele apelidada de “o túmulo do samba”. Dois anos depois, quando andava atrás de alguém para musicar a peça, um amigo indicou-lhe um jovem pianista e arranjador chamado Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, de 29 anos. O encontro entre Vinícius e Tom, entre Tom e Vinícius, deveria ser saudado com fanfarras não fosse a bossa nova tão avessa a estas barulheiras. Ali nascia uma das mais fecundas parcerias da música brasileira, uma que a marcaria definitivamente. Os dois compuseram a trilha sonora para Orfeu e seguiram compondo uma vertiginosa sucessão de clássicos que acabaram na criação da bossa nova juntamente com João Gilberto. Se Todos Fossem Iguais A Você, Eu e Você, A Felicidade, Chega de Saudade, Eu sei que vou te amar, Garota de Ipanema, Insensatez, entre outras belas canções canônicas.
A pedra fundamental da bossa nova veio com o LP Canção do Amor Demais, gravado por Elizeth Cardoso. Além da faixa-título, o LP trazia ainda com outras músicas da parceria, como Luciana, Estrada Branca, Outra Vez e a indiscutível Chega de Saudade, em interpretações vocais intimistas, bastante estranhas ao comum da época — o da voz empostada e do berro. No ano seguinte, era lançado o LP João Gilberto que trazia como música de abertura a mesma Chega de saudade gravada por Elizeth e abria definitivamente o período da bossa nova. Aliás, é importante dizer que a famosa batida do violão de João Gilberto já se fazia presente no disco de Elizeth.
Tom e Vinícius
Mas Vinícius ainda teria outras participações fundamentais na história da MPB. Em 1965, o “I Festival Nacional de Música Popular Brasileira” (da extinta TV Excelsior) consagrou Arrastão (composta em parceria com Edu Lobo) como vencedora. O segundo lugar foi a Valsa do Amor que Não Vem , do mesmo Vinícius com Baden Powell, defendida por Elizeth Cardoso.
Em 1966, uma nova parceria com Baden Powell gerou “Os Afro-Sambas”, uma brilhante coleção de canções de influência africana que recebeu sua maior homenagem há poucos anos, com a regravação feita por Mônica Salmaso e Paulo Bellinati. No mesmo ano, lançou o livro de crônicas Para uma menina com uma flor.
Entre um parceiro e outro, eram criadas uma série de obras-primas da MPB. Samba da Bênção, com Baden; Marcha da Quarta-feira de Cinzas, com Carlos Lyra; Valsinha e Gente Humilde, com Chico Buarque; a lista é imensa.
Toquinho e Vinícius
Depois de 1970, foi a vez de encetar outra longa parceria, talvez a mais duradoura e prolífica delas, aquela com o violonista e compositor Toquinho. Formavam uma dupla bem diferente em qualidade das atuais. Também era diversos na postura: Toquinho empunhava um violão e Vinícius um copo de uísque. O primeiro LP já trazia Na Tonga da Mironga do Kabuletê, Testamento, Tarde em Itapoã, Morena Flor eA Rosa Desfolhada. Em 1972, eles lançaram o álbum São Demais os Perigos Dessa Vida, contendo — além da faixa-título — grandes canções como Cotidiano nº 2, Para Viver Um Grande Amor e Regra três.
Em 1979, participou de leitura de poemas no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo (SP), a convite do líder sindical Luiz Inácio Lula da Silva. Voltando de viagem à Europa, sofreu um derrame cerebral no avião. Perderam-se, na ocasião, os originais de Roteiro lírico e sentimental da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.
No dia 17 de abril de 1980, é operado para a instalação de um dreno cerebral. Morre na manhã de 9 de julho, de edema pulmonar, em sua casa na Gávea, em companhia de Toquinho e de sua última mulher.
O poetinha em 1977
A poesia de Vinícius, seja na música ou nos livros de poesia, transpira paixão. Paixão pela mulher, paixão pelo divino, paixão pelo prazer transitório e pela dignidade humana. Outra palavra fundamental de seu léxico é a busca. Busca da religião que logrou encontrar na África, busca das inumeráveis musas — mulheres reais ou inventadas — e a busca do perdão para tantas infidelidades. Poeta entre o viril e o terno, entre o metafísico e o carnal, fez de sua poesia um local de encontros e de despedidas. Morreu como uma reeencarnação de Dioniso. Era o rei das festas, o mais saudado, o poeta do fumo, das religioões afro-brasileiras num tempo em que isso era quase escandaloso, da irresponsabilidade, da insânia e, sobretudo, da intoxicação — através do amado uísque — que une o bebedor com a deidade. E, para nossa alegria, ainda deixou-nos uma grande obra que, se não chega a ser a de um Drummond, a de um João Cabral, a de um Murilo ou a de uma Cecília, chegou mais facilmente ao coração do povo através da música. Vinícius, velho, saravá!
~o~
O dia da criação
Macho e fêmea os criou.
Gênese, 1, 27
I
Hoje é sábado, amanhã é domingo
A vida vem em ondas, como o mar
Os bondes andam em cima dos trilhos
E Nosso Senhor Jesus Cristo morreu na Cruz para nos salvar.
Hoje é sábado, amanhã é domingo
Não há nada como o tempo para passar
Foi muita bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo
Mas por via das dúvidas livrai-nos meu Deus de todo mal.
Hoje é sábado, amanhã é domingo
Amanhã não gosta de ver ninguém bem
Hoje é que é o dia do presente
O dia é sábado.
Impossível fugir a essa dura realidade
Neste momento todos os bares estão repletos de homens vazios
Todos os namorados estão de mãos entrelaçadas
Todos os maridos estão funcionando regularmente
Todas as mulheres estão atentas
Porque hoje é sábado.
II
Neste momento há um casamento
Porque hoje é sábado.
Há um divórcio e um violamento
Porque hoje é sábado.
Há um homem rico que se mata
Porque hoje é sábado.
Há um incesto e uma regata
Porque hoje é sábado.
Há um espetáculo de gala
Porque hoje é sábado.
Há uma mulher que apanha e cala
Porque hoje é sábado.
Há um renovar-se de esperanças
Porque hoje é sábado.
Há uma profunda discordância
Porque hoje é sábado.
Há um sedutor que tomba morto
Porque hoje é sábado.
Há um grande espírito de porco
Porque hoje é sábado.
Há uma mulher que vira homem
Porque hoje é sábado.
Há criancinhas que não comem
Porque hoje é sábado.
Há um piquenique de políticos
Porque hoje é sábado.
Há um grande acréscimo de sífilis
Porque hoje é sábado.
Há um ariano e uma mulata
Porque hoje é sábado.
Há um tensão inusitada
Porque hoje é sábado.
Há adolescências seminuas
Porque hoje é sábado.
Há um vampiro pelas ruas
Porque hoje é sábado.
Há um grande aumento no consumo
Porque hoje é sábado.
Há um noivo louco de ciúmes
Porque hoje é sábado.
Há um garden-party na cadeia
Porque hoje é sábado.
Há uma impassível lua cheia
Porque hoje é sábado.
Há damas de todas as classes
Porque hoje é sábado.
Umas difíceis, outras fáceis
Porque hoje é sábado.
Há um beber e um dar sem conta
Porque hoje é sábado.
Há uma infeliz que vai de tonta
Porque hoje é sábado.
Há um padre passeando à paisana
Porque hoje é sábado.
Há um frenesi de dar banana
Porque hoje é sábado.
Há a sensação angustiante
Porque hoje é sábado.
De uma mulher dentro de um homem
Porque hoje é sábado.
Há a comemoração fantástica
Porque hoje é sábado.
Da primeira cirurgia plástica
Porque hoje é sábado.
E dando os trâmites por findos
Porque hoje é sábado.
Há a perspectiva do domingo
Porque hoje é sábado.
III
Por todas essas razões deverias ter sido riscado do Livro das Origens, ó Sexto Dia da Criação.
De fato, depois da Ouverture do Fiat e da divisão de luzes e trevas
E depois, da separação das águas, e depois, da fecundação da terra
E depois, da gênese dos peixes e das aves e dos animais da terra
Melhor fora que o Senhor das Esferas tivesse descansado.
Na verdade, o homem não era necessário
Nem tu, mulher, ser vegetal dona do abismo, que queres como as plantas, imovelmente e nunca saciada
Tu que carregas no meio de ti o vórtice supremo da paixão.
Mal procedeu o Senhor em não descansar durante os dois últimos dias
Trinta séculos lutou a humanidade pela semana inglesa
Descansasse o Senhor e simplesmente não existiríamos
Seríamos talvez pólos infinitamente pequenos de partículas cósmicas em queda invisível na terra.
Não viveríamos da degola dos animais e da asfixia dos peixes
Não seríamos paridos em dor nem suaríamos o pão nosso de cada dia
Não sofreríamos males de amor nem desejaríamos a mulher do próximo
Não teríamos escola, serviço militar, casamento civil, imposto sobre a renda e missa de sétimo dia,
Seria a indizível beleza e harmonia do plano verde das terras e das águas em núpcias
A paz e o poder maior das plantas e dos astros em colóquio
A pureza maior do instinto dos peixes, das aves e dos animais em cópula.
Ao revés, precisamos ser lógicos, freqüentemente dogmáticos
Precisamos encarar o problema das colocações morais e estéticas
Ser sociais, cultivar hábitos, rir sem vontade e até praticar amor sem vontade
Tudo isso porque o Senhor cismou em não descansar no Sexto Dia e sim no Sétimo
E para não ficar com as vastas mãos abanando
Resolveu fazer o homem à sua imagem e semelhança
Possivelmente, isto é, muito provavelmente
Há duas ou três semanas atrás não pude ir à Montevidéu. Minha mulher tinha um compromisso lá e meu gasto se resumiria às passagens. Tinha combinado minha ausência com a chefe, só que no ínterim ela pediu demissão e, quando notei que criaria um belo problema se mantivesse a viagem, preferi ficar em Porto Alegre sem avisar ninguém. Foram-se parte de minhas milhas, mas a verdade é que gosto tanto do lugar onde trabalho que nem me importei tanto. O único problema foi criado por uma narrativa de minha mulher. Em Montevidéu, ela assistiu a uma peça que eu realmente queria ter visto. Oh, pecado, pecado, vou mais à teatros de Montevidéu do que de Porto Alegre e os motivos são, via de regra, literários. Vejamos.
Depois de me contar a coisa, ela escreveu no Facebook:
… vi o monólogo Mi Querida, de Tchékhov, no teatro Circular (super-interessante a experiência, cabiam uns 60 expectadores e estes tomavam chá e comiam biscoitos servidos pela personagem enquanto ela contava sua vida)…
Eu sei que ela não fez isso para acabar comigo, mas… Porra, logo me dei conta de que se tratava do conto Queridinha, Minha Querida ou O Coração de Olenka. Mais, notei que era uma grande ideia levar o texto ao palco e que uma atriz que servisse biscoitos salgadinhos e chás ao público seria perfeito, pois Olenka apenas preocupa-se com os outros, em amar e servir e adotar as opiniões de alguém. E fui ficando cada vez mais entusiasmado achando que não fora apenas um grande ideia mas algo Genial passar para o teatro o notável conto de Tchékhov que tantos títulos recebeu nas traduções brasileiras. É uma coisinha simples, daquelas que a gente, quando descobre que alguém realizou, logo pensa: “Mas isso estava caindo de maduro!”.
Não vou contar a tristíssima história do contista, novelista e dramaturgo russo, nem vou dar spoilers que prejudiquem a leitura de quem não conhece este conto perfeito, mas o detalhe das bolachas e do chá servido aos assistentes é arrasadoramente significativa. Tanto que fui buscar em jornais uruguaios os detalhes.
O que li em três ou quatro lugares foi mais ou menos isto: a atriz Isabel Schipani traz o monólogo Mi Querida, obra da dramaturga argentina Griselda Gambaro. Mi Querida é baseada em uma história de Anton Tchékhov. Uma mulher idosa olha para trás em sua vida, uma dessas vidas simples que os grandes personagens da Rússia mantém permanentemente entre a ansiedade e o humor (boa observação). Mi Querida é um convite para partilhar um chá na casa de Olga (Olenka), a mulher que quer contar como não pode viver sem amar a alguém e muito menos pode aceitar a solidão. “Sem amor eu não existo”, diz Olenka. O texto fala calma e delicadamente do sofrimento de quem vive a necessidade de sempre se apegar a alguém ou a algo, e de como sua visão do mundo é alterada ao longo da existência em função do amor. No conto, tudo é descrito na forma de um retrato condensado do cotidiano desta criatura. Gambaro demonstra que a essência do homem é sempre a mesma. Griselda Gambaro — muito prazer! — ,aliás, é uma das figuras centrais da escrita dramática platina e sua peça é um espelho para muitos. Para o que queremos e não queremos ser. Tudo numa reunião à hora do chá.
OK, dito isso, vou ali no cantinho me matar.
Queria deixar o conto disponível para meus sete leitores, mas só encontrei isso aqui, que está QUASE completo.
Muitos gaúchos conhecem ambas. Para nós é simples ir a Montevidéu: há passagens de avião por R$ 200,00 para Montevidéu ou podemos ir de carro ou ônibus. A estrada é reta, um convite ao sono, mas vale a pena. Ir a Buenos Aires é pouca coisa mais complicado. O avião é mais caro, o ônibus é inviável — faz o contorno por Uruguaiana em vez de descer direto — e é uma maravilha ir de carro visitando ambas as cidades, apesar da travessia entre os portos ser bastante cara se você não puder deixar seu amado veículo numa garagem de Colonia (há muitas, são seguras). Não sei quanto custa o Buquebus hoje, mas lembro ter consultado e ter desistido do carro. Bem, chega de bancar o guia turístico!
Buenos Aires é orgulhosa e, gostemos ou não, tem razões para sê-lo. Afinal, a cidade é muito bonita e tem o perfume do tango em cada esquina. O tango não é o folclore cultivado dentro de uma cidade cheia de roqueiros e rappers, o tango é vive, desenvolve-se e é ouvido em todos os cantos, turísticos ou não. É aquilo que Piazzolla queria chamar de “Musica Popular Contemporánea de la ciudad de Buenos Aires” na época em que lutava contra os tangueiros tradicionais. Adoro caminhar tanto no centro como nos bairros de Buenos Aires, não obstante o fato de a cidade não ser exatamente segura. Já fiz caminhadas inacreditáveis pela cidade, uma das últimas de uns 10 Km, com a Claudia, entre as 2 e 4 da manhã. O que fazer se as grandes cidades são lindas vazias, à noite, úmidas de madrugada? A Claudia concorda, mesmo que no final estivéssemos caminhando dormindo, em silêncio, rindo muito de vez em quando, sem motivo. Realmente, não existe companheira de viagem como minha mulher. Topa e se interessa por tudo. O único problema é que não empresto.
Porém, prefiro Montevidéu. É mais próxima de Porto Alegre em tamanho e em espírito, é mais próxima do que seria Porto Alegre se os gaúchos fossem cultos e interessantes, e é mais próxima fisicamente. Pois Montevidéu tem livrarias aos montes na avenida principal. E teatros. E possui um centro ativo, que não vende só baratilhos. É uma cidade que saudavelmente reage contra a padronização dos shoppings. Há “Dias do Centro” nos quais as lojas dão descontos e a gente vai ficando por ali, esquecido da vida sem charme dos shoppings. É tranquila e, OK, menos arrebatadora do que sua vizinha, só que os uruguaios são mais gentis, merecedores de boa pontuação num campeonato de slow life. Come-se barato e maravilhosamente em Montevidéu, principalmente fora do roteiro turístico e ela só perde para Buenos Aires nos táxis, lá incompreensivelmente acessíveis. Outra coisa legal em Montevidéu são os preços dos antiquários. Imagine que dá para comprar um rádio Spica em perfeito estado por menos de R$ 50,00!!!
Vou ouvir o jogo nele, pois hoje estas duas cidades — rivais desde que o samba é samba — se enfrentarão. Nem imagino como ficará a praça que circunda o Estádio Centenário. Haverá um Uruguai x Argentina que poderá ser fatal para um dos dois se o Chile não fizer sua parte. Na melhor das hipóteses, o resultado fará com que um dos países jogue uma humilhante repescagem para poder ir à Copa do Mundo de 2010. Claro, sou uruguaio desde o berço. Mas não gostaria de ver Argentina fora de uma Copa do Mundo. Há sempre algo de escandaloso e dramático nos portenhos… Eles não podem ficar fora da Copa. Ainda mais com aquele técnico de opereta. Eles que joguem a repescagem!
O comentário de Luís Augusto Farinatti sobre Montevidéu merece vir aqui para o post:
Fui só uma vez a cada cidade. E não me perdoo por não ter ido mais. Pretendo corrigir isso em um futuro próximo.
Milton, Montevidéu é, mesmo, a própria slow life. Terei lido em algum lugar que Hemingway dissera que a Espanha era o último lugar civilizado do mundo? Pois agora é Montevidéu.
Fomos até lá de carro, em dezembro de 2007. Passamos por léguas e léguas de campo vazias, e pela estupidez dos mares de eucalipto e pinus da Botnia.
Comemos um filé com chimichurri inacreditável no trevo de Tacuarembó, a cidade das lambretas.
Depois de 2 horas sem cruzar com um único carro, chegamos a um posto de pedágio. A funcionária parou de ler e nos atendeu. Provavelmente foi ilusão de ótica, mas ela parece ter se surpreendido.
Emprego perfeito para uma escritora, comentei com minha mulher.
Fiquei encantado passando ao largo de Durasno. Olhei para as ruas com árvores altas, casas antiquíssimas dando direto na rua e as pessoas colocando cadeiras para sentar na calçada ao entardecer. Parecia minha pequena cidade de infância. É por isso que o Uruguai não vai para a frente. Ele é feito para a memória.
Em Montevidéu, todos andam com garrafas térmicas e as pequenas cuias de mate debaixo do braço. Eu disse TODOS: os velhos, os homens de terno e gravata, as colegiais adolescentes.
Saí do prédio da Universidade, onde estava em um congresso. Entrei na primeira livraria que vi aberta. Encontrei um livro clássico de um grande historiador uruguaio dos anos 80. O rapaz da livraria aproximou-se e me disse: “Gosta do Livro? Quer conhecer o autor?”. E me levou até um canto iluminado, onde um velhinho estava sentado, lendo.
Apontou para o velho: este é o grande historiador. Foi corrigido imediatamente: “já fui… agora apenas assombro livrarias”. Conversamos por mais de uma hora.
Fui ao museu do Torres Garcia e não comprei uma gravura. Sou uma besta. É fato.
Fiquei olhano o Rio da Prata, com minha mulher, que também não negocio. Por horas.
De Buenos Aires não vou falar hoje. Gosto demais da cidade e, inclusive, dos habitantes. Mas hoje se trata de futebol. Aí não tem jeito…
Ah…
E o bisavô da minha mulher era uruguaio. Migrou para o interior de uma cidade da Campanha Gaúcha.
Lá era tido por louco, pois tinha modos estranhíssimos: lia e escovava os dentes. Todos os dias.
Quando começou a dizer que os americanos e russos estavam construindo aeronaves para ir à lua, o povo deu o caso por perdido. Era só esperar o velho arrancar as roupas e começar a jogar pedras nas pessoas.