Foto: Bernardo Jardim Ribeiro (ao fundo, à direita, Natália Karam).
Onde: no espetáculo Casa das Especiarias, dentro do Porto Alegre em Cena.
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Celebração, grande música e política no show de Tom Zé
AQUI, fotos da queima do inflável da Coca-cola na saída do show.
AQUI, fotos do show.
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O tom do show foi dado sem que nenhuma canção fosse apresentada. Quando o locutor anunciou o espetáculo que fechava a edição de 2012 do Porto Alegre Em Cena, a Prefeitura foi citada, recebendo imediatamente uma vaia. Logo depois, sozinho, Tom Zé entrou lentamente no palco carregando um maço de jornais. Começou a ler algumas manchetes, agradecendo aos jornalistas que organizaram suas — segundo ele — disparatadas respostas, tornando-as bonitas matérias. Quando chegou ao nome de Zero Hora, outra vaia. Então Tom Zé jogou longe seus jornais e ficou claro que o show teria enorme participação de um público que ama o cantor e compositor.
Antes mesmo da banda entrar, ele tratou de organizar o movimento, pedindo respeito aos seguranças e que as pessoas em pé na frente do palco se retirassem porque senão todo o Araújo Vianna seria obrigado a levantar. Todos colaboraram e o show começou, não sem antes ouvirmos a explicação para o rabo que Tom Zé trazia atrás de si. Ele ensinou que os faraós egípcios, quando visitavam a divindade, colocavam um rabo a fim de demonstrarem sua inferioridade em relação aos deuses. Com o mesmo, Tom queria deixar clara sua posição em relação a Caetano e Gil, os principais nomes da Tropicália.
Falta uma semana para Tom Zé completar 76 anos, mas ele parece ter 36. Canta com voz potente, dança as danças do nordeste erguendo os pés até quase a altura de sua cabeça e demonstra enorme felicidade de estar ali. Afinal, o mais anárquico e injustiçado membro da Tropicália recebe desde os anos 90 a contrapartida que não tivera antes. Como dissemos, o público o adora — todos os CDs trazidos pelo artista foram comprados antes da apresentação — , canta junto, aplaude muito e, entre as músicas, Tom lê os recados que recebe e ouve pedidos de canções. Um dos recados mais aplaudidos foi aquele que reclamava que o elevador da Casa do Estudante não funciona há um ano.
A base do show é seu último CD, Tropicália Lixo Lógico. As canções são efetivamente ótimas, altamente criativas, com destaque para Não tenha ódio no verão, O motobói e Maria Clara, Marcha-enredo da Creche Tropical e De-de-dei Xá-xá-xá. Entre elas, homenagens à Aristóletes e citações das Metamorfoses de Ovídio. Foi quando, ao final de uma canção, inesperadamente, foram subitamente desfraldadas faixas pela plateia. As faixas diziam “Praças Vendidas”, “Não ponha o toque de recolher na alegria” e outras palavras de ordem do movimento porto-alegrense Defesa Pública da Alegria. Um gosto vidro e corte perpassou a espinha deste comentarista que pensou estar voltando aos tempos da ditadura.
Sensível ao momento, Tom Zé foi até a margem do palco, pegou um papel e começou a ler o manifesto do movimento. Foi um episódio belíssimo e, a partir dali, o compositor passou a uma revisão de sua obra em ordem cronológica descendente. Nesta viagem ao passado, ele apresentou algumas de suas músicas inspiradas por avisos — as hilariantes Não urine no chão, Atenção passageiro, antes de entrar no elevador, verifique se o mesmo encontra-se parado neste andar — , até chegar ao clímax: a clássica 2001, imortalizada pelos Mutantes. No caminho passou por Augusta, Angélica e Consolação e muitas outras. O show foi encerrado por Xique-xique (“Sacode a cultura, sacode a cultura”). No bis, entre outras, Menina amanhã de manhã e Jimi Hendrix.
Sobre o novo Araújo há que dizer que a amplificação do som esteve bastante boa. Caminhamos por todo o auditório e não percebemos aqueles ecos e retornos de som do passado.
Durante o show, Tom Zé mostrou um dos cartazes trazidos pelo público, o qual dizia “Praças vendidas”. Ao final do show, um grupo pôs fogo em um inflável da Coca-cola. Também alguns manifestantes sentaram no gramado ao lado do prédio — cercado por grade desde a reabertura — , e foram retirados do local com truculência, segundo relatos. A Brigada Militar informa que não houve registro de nenhuma ocorrência, seja sobre o protesto, seja sobre a queima do inflável.
Júlia (ou Senhorita Júlia), de Christiane Jatahy
Senhorita Júlia é um texto clássico de August Strindberg de 1888. Em Júlia, a diretora carioca Christiane Jatahy realiza uma brilhante adaptação do texto para o Brasil dos dias de hoje. Quem quiser manter contato facilmente com o texto original, pode ver o bom filme de Alf Sjöberg, de 1951. O texto não perdeu nada de sua atualidade, fato que facilita e aumenta a responsabilidade da adaptação. Trata-se da história do envolvimento de uma jovem (muito jovem, tanto que algumas traduções chamam o texto de Menina Júlia) de familia aristocrática com um ambicioso serviçal. No original, é uma noite de festa de São João, na adaptação é apenas uma festa. Júlia provoca e provoca sexualmente um dos criados, noivo da cozinheira da casa. Este, à princípio, tem medo, depois aceita e passa a sonhar e fazer planos com o novo amor. Levados pelo desejo e pelo vinho, eles relembram vivências inteiramente diversas e falam do abismo social que os separa. Brigam. O que seria somente “sexo casual” para ela e “caso” para ele, transforma-se em uma tensa disputa de classes e de interesses.
Infelizmente, este post chega tarde, pois a peça ficou em cartaz em Porto Alegre de 6 a 8 de setembro. Destaque para a brilhante atuação da Júlia que faz o papel da Senhorita Júlia, a atriz Julia Bernat. Infelizmente, a peça ganhou parte de sua fama pela nudez — nada gratuita — da atriz. A montagem avança fundo num experimentalismo de bons resultados. Projetadas em duas telas que podem juntar-se e alternar-se, há cenas pré-filmadas e cenas filmadas ao vivo que se integram. Olha, pena que saiu de cartaz…
Francisco Marshall sobre "A Flauta Mágica" de Peter Brook (copiado de seu Facebook):
Eu queria ter um blog como o do Milton Ribeiro para postar minha crítica da versão de Peter Brook para A Flauta Mágica de Mozart e Schikaneder. Como não tenho, vou cortar em fatias e publicar aqui mesmo. Thanks, Zulken, thanks, readers.
E eu, Milton, li e conversei sobre isso na sexta-feira [23] e depois esqueci…
— Eu nem deveria criticar, pois ganhei o ingresso do dileto amigo e genial dramaturgo e empreendedor Luciano Alabarse. Liguei no último minuto e ele me cedeu o último ingresso. “Tem sempre um VIP desgarrado!”, disse ele a um desgarrado muito grato, algo chato e pouco vip.
Milton Ribeiro interrompe no Facebook — Olha, se quiseres postar no blog do Milton Ribeiro, posso falar com ele.
— Não, lá é lugar de sínteses e ironias sacrossantas, não me atrevo. Deixa eu escrever!
Milton Ribeiro desiste temporariamente — OK, OK, adiante!
— A montagem apresenta-se como “versão de Peter Brook”, ou livre adaptação. Na verdade, é uma versão pocket, com a orquestra reduzida ao piano e com o corte de várias partes.
— Misteriosamente, somem partes belíssimas, o que é compreensível em versão pocket, mas aparece uma inclusão arbitrária. Mesmo que bonita, a fantasia em ré menor está sobrando na economia musical. Sobram músicas na própria flauta, não precisa ir à prateleira.
— Aliás, não tem flauta em momento algum, só piano e mimos.
— Figurinos e cenografia seguem o facílimo e baratésimo esquema minimalista. Pés descalços e túnicas, nada de cenários, apenas umas hastes e um carrinho, que são movimentados de modo simples. Iluminotécnica enxuta, monocromática.
— O pianista é excelente, os cantores ótimos, as performances musicais convencem, animam, são muito bonitas e boas, tecnicamente.
— A acústica do Bourbon é uma catástrofe. Quem projetou aquilo desdenhou mediocremente a grande ciência acústica desenvolvida pelos gregos e fez cacaca. Nós fazemos com a democracia e a filosofia gregas, tá na média. Moral, os músicos cantam para as filas 1 a 3. Os outros pensam que ouvem, sonham, imaginam…
— Peter Brook, um cineasta importante, poderia considerar o que Ingmar Bergman fez ao abordar a Flauta Mágica. Não o fez, logo não cabe a comparação.
— A obra original, de Mozart e Schikaneder, transborda humor e imaginação. Foi composta para um teatro popular, onde todo o tipo de efeito cenográfico e dramatúrgico era aproveitado. A Flauta Mágica é sobeja em possibilidades dramatúrgicas, toda elas desdenhadas por Brook, que joga um manto minimalista arbitrário sobre esta obra prima. Este manto minimalista não é nem “contemporâneo” como linguagem, nem tem a ver com a obra. A que vem, então? Vem para economizar?
— Ao final, todos saem com a alma leve, felizes. Este é o milagre de Mozart. Uma música com tal grau de pureza, com tal poder de comunicação, que resiste a tudo, até mesmo a esta violação narcisista e pobre. Valeu, Mozart e Schikaneder, eternamente!
— O público pôs-se a aplaudir de pé imediatamente. O poder do ícone!
— Eu fui na quarta-feira, 21/09/2011.
Milton Ribeiro, o chato, retorna — Cara, eu vou juntar e roubar esse txt. Fui assitir a uma peça lastimável que foi APLAUDIDÍSSIMA. Estou em estado de choque a uma semana. O ícone era Marco Nanini.
— É, eu li tua crítica. Junta mesmo. Resistência ecológica.
Neva, peça uruguaia apresentada no Porto Alegre Em Cena
No dia 9 de janeiro de 1905, um dos mais importantes da história do século XX, Olga Knipper e mais dois atores, Masha e Aleko, estão num teatro de São Petersburgo. Olga, viúva de Anton Tchékhov, morto seis meses antes, é uma pessoa de rigorosa frivolidade, ao contrário do ex-marido. Verdade, ela era mesmo assim. Era domingo, dia em que as tropas czaristas massacraram um grupo de trabalhadores que viera fazer um protesto pacífico e desarmado em frente ao Palácio de Inverno do Czar. O protesto, realizado após a missa e com a presença de muitas crianças, tinha a intenção de entregar uma petição — sim um papel — ao czar, solicitando coisas como redução do horário de trabalho para oito horas diárias, assistência médica, melhor tratamento, liberdade de religião, etc. Os trabalhadores não sabiam, mas o czar nem estava no Palácio. A resposta à petição foi dada pela artilharia, que matou mais de cem trabalhadores e feriu outros trezentos. Os Romanov acharam natural.
Porém, dentro do teatro, bem em frente ao rio Neva, Aleko e Masha ajudam Olga, a diva, a ensaiar O Jardim das Cerejeiras enquanto aguardam o diretor de peça, ou a Revolução, ou alguma outra coisa desconhecida. Olga quer apenas o reconhecimento de seu talento, Aleko é conservador e deseja que o mundo permaneça como está e Masha faz discursos inflamados de que mundo mudará para melhor com a Revolução. Mas não é tão simples. Após ensaiar por diversas vezes a morte de Tchékhov com Olga e Masha, Aleko às vezes parece encarnar o autor, agindo de forma diferente do habitual, caindo fora de seu ideário.
A peça Neva — absolutamente notável — é uma montagem uruguaia sobre texto do chileno Guillermo Calderón. É falada, evidentemente, em espanhol. Amigos, que atores e que texto! Nesta pequena anotação, é importante lembrar que o espetáculo traz, em 1h15, um contexto completo: há uma profunda reflexão sarcática a respeito da arte teatral, há a vida privada com foco nas vaidades dos atores e há o drama popular da revolução nascente.
Lembra alguns dos primeiros filmes de Nikita Mikhálkov, principalmente Olhos Negros e Peça Inacabada para Piano Mecânico, mas com muito mais peso. Aqui temos menos humor e muito mais sarcasmo. A peça também se utiliza de grandes fatias da realidade social e da vida pessoal de Olga e Anton. Conhecendo um pouco da história da Rússia e sendo Tchékhov um de meus autores preferidos, dá para notar claramente que o dramaturgo foi fundo na investigação das biografias e da época. As várias versões apresentadas para a morte de Anton são os momentos onde Olga é mais atacada. Indiretamente. O artifício de se fazer teatro dentro do teatro resultou muito eficaz.
A montagem de Neva é despojadíssima. São três personagens, um banco, uma janela por onde passam revoluções e ironias e iluminação mínima que sai de um spot manipulado pelos próprios atores. Os atores são Bettina Mondino, Paola Venditto e Moré.
Olha, recomendo fortemente. A peça ainda estará em cartaz hoje e amanhã, às 22h, no Teatro de Câmara Túlio Piva. Ontem estava quase lotado, o que significa que há ingressos disponíveis.
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Antes das 22h, assistimos à primeira parte do Concerto da OSPA. A Sinfonia Nº 82 de Haydn e a Abertura Coriolano de Beethoven estiveram maravilhosas. Deu dó de sair no intervalo. Mas valeu a pena.
Porto Alegre Em Cena abre em clima de celebração
Publicado originalmente no Sul21.
Com um estupendo show do sérvio Goran Bregovic and His Wedding & Funeral Band foi iniciado ontem à noite o Porto Alegre Em Cena 2010, que vai até o dia 27 de setembro.
Filho de um croata e de uma sérvia, Bregovic é um bósnio de curiosa trajetória no mundo da música popular de seu país. Originariamente violinista, trocou o violino pela guitarra e, nos anos 70, influenciado pelo Led Zeppelin e Black Sabbath, participou de um grupo de rock do qual era a grande estrela. Depois, foi lentamente se aproximando da música dos Bálcãs, tornou-se um importante compositor para filmes – escreveu várias trilhas para Emir Kusturica – e hoje diz ser o maestro de um Frankenstein, fazendo uma mistura de música cigana e de tudo o que há nos Bálcãs.
Bregovic descreve sua obra atual como “feita nos Bálcãs, dirigida aos Bálcãs”. Conforme a célebre frase de Tolstói – “Se queres ser universal começa por pintar a tua aldeia” – , o maestro que era uma celebridade roqueira em seu país, só tornou-se universal ao focar sua obra em suas origens.
A formação da Wedding & Funeral Band diz muito sobre a sonoridade da música de Goran. São 18 músicos: Bregovic na guitarra, um cantor-baterista, um naipe de 5 metais (2 trompetes, 2 trompas e sax), um coral masculino de 5 vozes, duas extraordinárias cantoras búlgaras e mais um quarteto de cordas (2 violinos, viola e violoncelo). Só esta descrição já demonstra o gênero de Franskestein montado. O resultado é uma música exuberante, de ritmos empolgantes, dançantes e nada simples.
Misturando temas do CD Alkohol com anteriores – Karmen with a happy end, Underground, Tales & Songs from Weddings and Funerals, Queen Margot e da liturgia leiga My heart has become tolerant – , Bregovic dá uma ampla noção do caráter e da grandeza de suas composições. Aliás, o maestro costuma avançar lentamente em sua discografia apresentando, a cada CD, seis ou sete canções novas e outras tantas releituras de canções já apresentadas, sempre em versões inteiramente modificadas e às vezes radicalmente ampliadas. Foi o caso do show de ontem em que mesmo suas mais conhecidas melodias receberam nova roupagem.
A música de Bregovic pode ser quase erudita em alguns momentos, mas basicamente é feita para a dança e a bebida. Como ele mesmo diz, a música dos Bálcãs não nasceu para acompanhar a religião ou o trabalho em campos de algodão, mas para servir de acompanhamento à bebida e, como tal, é feliz, exagerada e louca. O tamanho do concerto também revela a imoderação balcânica: ontem, tivemos 2h50 de música sem intervalos. Como disse a atriz Mirna Spritzer à saída do Bourbon Country ontem à noite: “Depois disso, assistir o quê? Só não sei como eles aguentam tocar todo esse tempo…”.
Importante: apesar do anúncio de “lotado”, havia cortesias à venda por R$ 20,00 ontem, minutos antes do concerto. É de graça.
Goran Bregovic está em Porto Alegre e a terra vai tremer
Pois é. Goran Bregovic fará hoje e amanhã, 8 e 9 de setembro, a abertura do Porto Alegre Em Cena de 2010. Ele já veio a Porto Alegre, todo mundo que eu conheço parece tê-lo visto, menos eu… Eu apenas tenho todos os discos. Mas, desta vez, já tenho garantido meu ingresso e os de toda a família. Vamos vê-lo hoje.
O show é Alkohol, cuja história já foi contada neste post. Bregovic vem com grande banda, a Wedding & Funeral Band — são os habituais metais, a guitarra, os tambores, o sexteto de vozes masculinas e as tais loiras búlgaras de cujas vozes meus amigos tanto falam. Sua chegada a um hotel qualquer de Porto Alegre poderá não ser tão feliz quando esta…
Al llegar al hotel en Buenos Aires me dieron un sobre que me habían dejado de parte de Sábato. Contenía un libro, Sobre héroes y tumbas, y una carta en la que me pedía disculpas por no acudir al concierto. Me explicaba que mi música le había salvado en momentos de depresión. Lo curioso es que cuando hice el servicio militar en Nis, en la época comunista, robé de la biblioteca del cuartel un ejemplar de ese libro. Lo tuve en mi casa de Sarajevo durante años y lo perdí. Con la guerra perdí todo, también mi biblioteca. Puedes empezar dos veces tu vida, pero no puedes empezar dos veces una biblioteca. Todas las cosas grandes que me han pasado están guiadas por cosas pequeñas que se vuelven grandes, como el libro de Sábato.
… mas espero que todo o enorme grupo tenha chegado bem e animado. Além das músicas de Alkohol, Bregovic e sua banda, em show de 2h30, vão tocar músicas de discos anteriores como A Divina Comédia: Inferno, o livro da alma e Karmen com Final Feliz.
Domingo, ele esteve em Brasília. O que houve? Ora…
Alguns juram ter sentido um tremor de terra na região do Museu da República na noite de domingo (5/9). O epicentro do fenômeno era a agitação de cerca de 6 mil pessoas pulando durante a performance do músico sérvio Goran Bregovic. O show de encerramento do Cena Contemporânea 2010 começou com Gas, gas, gas, do álbum Alkohol. Daí para a frente, a performance de Bregovic oscilaria entre momentos festivos até a bela eloquência de uma ópera. “Vamos executar algumas coisas que fiz para o cinema, ópera e músicas dos meus discos. Espero que gostem do meu show”, declarou em inglês.
Acompanhado da Orquestra para Casamentos e Funerais, formada por sete cantores, cinco instrumentistas de sopro, três violinos e um violoncelo, o músico segurou uma apresentação de mais de duas horas de duração. “Nós podemos nos apresentar em funerais de um político ou de gente comum. Mas não morra. Nosso cachê é mais alto em funerais”, brincou Bregovic. Em Kalashinikov, a plateia era convidada a gritar em coro: “Atacar!”. Momentos instrospectivos também tiveram espaço como em In the deathcar, do filme Arizona dream – Um sonho americano, uma das várias trilhas sonoras assinadas pelo músico para o cineasta conterrâneo Emir Kusturica.
Pela primeira vez em Brasília, o sérvio se apresentou justamente no dia mais seco do ano, com a umidade relativa do ar a 12%. “Eu ainda não pude fazer um passeio. Mas é quase um milagre que essa cidade exista. Não existe nada parecido no mundo”, concluiu. Como todo músico estrangeiro, Bregovic fez uma observação. “Venho ao Brasil sempre para saber que os músicos brasileiros são muito bons. Bem melhores do que eu”, declarou ainda no camarim.
“Para vocês, pode parecer que o nosso repertório é tradicional. Mas o que faço é música contemporânea”, comentou o artista sobre o próprio trabalho adotado por DJs do mundo inteiro. Na plateia, o músico Vavá Afioni analisava a apresentação. “Apesar do clima festivo, eles têm canções com cadências bem complexas. Todos são exímios instrumentistas”, observou. Mesmo depois do fim da apresentação, o público não arredou pé do museu.
Hoje, a Terra vai tremer em Porto Alegre.