Sábado, de Ian McEwan

Sábado, de Ian McEwan

SABADO_1374967917PComo se imaginaria, a ação de Sábado ocorre em um sábado, mas não num sábado rotineiro. Henry Perowne inicia seu dia insone, andando pela casa de madrugada quando vê pela janela um estranho corpo em chamas rasgar o céu de Londres. Perowne é um neurocirurgião, um homem de ciência que desconfia das pretensões literárias da filha, assim como do filho músico. Vive com a mulher Rosalind, advogada, em uma confortável casa.

Se o dia iniciara diferente — depois ele receberia notícias tranquilizadoras sobre o objeto voador em chamas –, havia um programa tranquilo a cumprir: uma grande manifestação em Londres contra a invasão do Iraque — a qual ele não iria por ser contra Saddam –, um jogo de squash contra um colega de hospital, compras para o jantar, um ensaio de seu filho músico e o próprio jantar, onde a família receberia o pai de Rosalind, um poeta que vive na França, e a filha Daisy, que estava lançando seu primeiro livro. Mas há fatos que atrapalham seus planos e que não contarei aqui.

A rotina e as motivações de Perowne são dissecadas minuciosamente na lenta e eficiente narrativa de McEwan. Porém, seu mundo baseado em pressupostos científicos mostra-se frágil em diversos pontos, principalmente na violenta discussão com a filha sobre a Guerra do Iraque e nas ruas, onde nosso homem cai inadvertidamente numa bela confusão.

Vou ser vago sobre a história narrada, pois certamente estragaria este excelente livro de pequena e exemplar trama contemporânea. Mas digo que gosto de narrativas lentas, detalhistas e simétricas, e também dos acasos e viradas surpreendentes. Por isso, Sábado me agradou me cheio.

Da classe de uma senhora

Da classe de uma senhora

Detesto a palavra classe, até porque uma dos piores chagas de nossa sociedade é o preconceito de classe, mas vá lá. Aqui cabe.

Eu e Elena fomos ao cinema no último sábado à tarde para ver o excelente Pedalando com Molière. Compramos os lugares E08 e E09. Na hora de sentar, a Elena pensou que nosso lugar estivesse ocupado. Porém, estava errada e a senhora de cabelo brancos que ocupava a cadeira, sorriu e mostrou seu ingresso, dizendo:

— O meu é o E10.

Ao ouvir aquela voz, fui remetido a não sei quantos anos atrás, talvez 40. Era a voz de Jacqueline ou Jaqueline Monteiro, uma das maiores amigas de minha mãe. Olhei para a ela, era uma senhora muito bonita, como a tia Jac sempre fora. Analisando o rosto, só podia ser ela. Sentamos ao lado e eu disse para a Elena, que me incentivou a fazer minha apresentação. Fiquei tímido e confuso por dois minutos — não queria dar para ela a notícia da morte de minha mãe no ano passado –, mas depois tomei coragem e perguntei se o nome dela não era Jacqueline. Ela me olhou com um belo sorriso de surpresa.

— Ah, sim, não tinha te visto… Não. Meu nome é Jacquely, com ípsilon no final, e tu deves ser o filho da Maria Luiza, não?

— Sim. Sou o Milton.

— E eu sou a tia Jac, que era como tu e tua irmã Iracema me chamavam.

Introduzi a Elena na conversação e o encantamento que a tia Jac ficou ao saber que ela era violinista talvez só tenha sido superado pelo meu ao ver que pusera em funcionamento duas pessoas da mais alta elegância e educação. E cultura. Não sei como, chegaram logo ao último filme do Woody Allen, sobre o qual a tia Jac parecia saber tudo (e de uma forma bastante crítica), e depois aos Quintetos de Schubert. Só me restava observar — além de dizer que o Quinteto de que elas estavam falando era aquele com dois violoncelos –, porque, se sou um silvícola perto da Elena, com aquelas duas juntas passo a visigodo. Não saberia me comportar. Senti que o momento de ela se referir a minha mãe estava chegando… Ela perguntou:

— Talvez a Maria Luiza já tenha infelizmente falecido…? — e, ao ver que eu confirmava com a cabeça, continuou.

— Vi-a há uns dez anos e ela estava confusa. Acho que não me reconheceu, que estava apenas sendo gentil. Telefonei algumas vezes e as notícias não eram boas. Deve ter sido doloroso para vocês.

Claro que ela sabia da morte. O vínculo com minha mãe estava estampado no português perfeito, com todas as conjugações certinhas, o mesmo de minha mãe. Mudou de assunto, dizendo que eu era parecido com os meus dois pais, uma mistura deles. É óbvio que me orgulhei de que a tia Jac — que demonstrara em cinco minutos elegância ímpar, vida cultural ativa e excelente memória — fora uma pessoa que convivera com minha mãe, cada vez mais irreconhecível em seus últimos anos de vida.

O filme — que se revelou extraordinário — começou. A Elena se aconchegou a mim e me disse no ouvido:

— Que senhora agradável! Ela é o máximo! Viu como eu estava certa?

Claro que estava. No final do filme, comentamos a três sobre o brilhantismo da história sobre o ator aposentado que é convidado a voltar aos palcos e entra em confronto com quem tenta contratá-lo. A tia Jac desceu as escadas segurando-se no corrimão, mas depois acelerou, caminhando na mesma velocidade que nós. Permanecemos sob o seu efeito.

(Voltamos para a casa a pé. Eu pensava na influência que as pessoas têm umas sobre as outras e no que dissera o queridíssimo Arthur, filho de dez anos do meu amigo Augusto Maurer:

— Com a classe da Elena, o Milton ficou muito mais educado).

Como não tenho fotos da Tia Jac, eu e Augusto Maurer
Como não tenho fotos da Tia Jac, eu e Arthur Bertuol Maurer | Foto: Augusto Maurer

Porque hoje é sábado, as 10 mulheres mais belas dos últimos 100 anos

Porque hoje é sábado, as 10 mulheres mais belas dos últimos 100 anos

A excelente Revista Bula publicou a lista cujo nome está edição do PHES. Participaram do levantamento as publicações: “Vanity Fair” “Empire” “Life”, “Ranker”, “The Guardian”, “Los Angeles Times”, “Vogue”, “Der Spiegel”, “Telegraph”, “Playboy”, “Askmen” e “Listal”.

As dez são as que seguem — aqui em outras fotos, à exceção de Claudia Cardinale:

1. Grace Kelly

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2. Catherine Deneuve

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3. Charlize Theron

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4. Marilyn Monroe

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5. Monica Bellucci

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6. Audrey Hepburn

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7. Brigitte Bardot

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8. Sophia Loren

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9. Claudia Cardinale

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10. Jennifer Connelly

jennifer connelly

Desculpe, mas uma lista sem:

Ingrid Bergman

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Ava Gardner

AVA-gardner

Marlene Dietrich

marlene-Dietrich

Juliette Binoche e

juliette-binoche

Eva Green

Eva-Greennão pode ser levada a sério. Deem um jeito de acomodar!
(Sugiro começar pela retirada de Connelly e Hepburn da lista inicial).