Bom dia, Abel Braga (veja os gols do fiasco)

Bom dia, Abel Braga (veja os gols do fiasco)
Tira essa camisa e vai embora, Abel.
Tira essa camisa e vai embora, Abel.

Abel, eu tinha previsto. Olha só o que eu escrevi ontem ao meio dia no Facebook, horas antes de Chapecoense 5 x 0 Inter:

… acho que os erros e a entrega da partida para o Cruzeiro, no último sábado, desmotivaram todo o grupo de jogadores. Se o jóquei é cagão, o cavalo sente.

Sim, se o jóquei demonstra hesitação e medo, o cavalo toma conta e faz o que quer. Por exemplo, em vez de saltar sobre o próximo obstáculo, vê a porteira aberta e dirige-se para a sombra onde gosta de descansar. Na minha opinião, Abel, tu não és apenas cagão, tu estás certamente brigado com o grupo de jogadores. Pois nada explica o que segue:

1. Alex, protagonista absoluto do time nos últimos jogos, fica no banco contra o Cruzeiro.

2. D`Alessandro é retirado ontem no intervalo para dar entrada a Valdívia. Enquanto isso, Alan Patrick, uma das piores contratações nos últimos anos, permanece em campo.

3. Alan Patrick é escalado no lugar de Valdívia no jogo de ontem.

4. Paulão é titular, enquanto Ernando é reserva.

5. Aránguiz, um dos melhores jogadores sul-americanos, é colocado repetidamente fora de sua posição.

É óbvio que Abel está brigado com Dale e Alex e, provavelmente, em vias de ter um desentendimento com Aránguiz. Num mundo ideal, Giovanni Luigi se demitiria neste minuto e, num mundo que deseja corrigir-se, Luigi acabaria o ano e sua risível gestão sem Abel. Pois não dá mais.

O que Abel faz com seus jogadores comprova o que diz meu amigo Miguel Galbarino: ele não sabe porque estava vencendo e agora também não sabe o motivo das derrotas. Acho que nós não somos mais favoritos para o G-4. Ficaremos na TV, vendo o Grêmio divertir-se na Libertadores 2015, enquanto recebemos o Gauchão em nossa cama, de pernas abertas.

Ah, parabéns à Chapecoense, que viu e se aproveitou de nossas óbvias fraquezas. Foi 5 x 0 e poderia ter sido ainda mais.

http://youtu.be/1KmWuvxpYm0

Estádio Olímpico: as nossas melhores lembranças

Estádio Olímpico: as nossas melhores lembranças

Estádio-Olímpico-MonumentalA implosão do Olímpico está confirmada para janeiro de 2015. Comprarei charutos e espumantes para assistir a demolição. Eu, Mato Grosso e o Joca estaremos lá. Deus dá o estádio conforme o torcedor.

Quando a saudosa maloca for pelos ares, eu e meus amigos lá estaremos brindando. Imagine o filme que faremos. Haverá a explosão e, após o som tonitruante, veremos o pó subir com a trilha sonora da música do Canal 100. Para garantir a seriedade e o respeito aos gremistas, faremos uma homenagem a Hélio Dourado. Somos gente de respeito.

Com a terraplanagem do Olímpico, as conquistas do Grêmio serão resgatadas das fitas VHS e de outros meios mais obsoletos para o digital. Afinal, alguém tem que respeitar a história do chamado imortal. Imortais também são o bullying e as piadas prontas com que o tricolor nos abastece. Obrigado, Grêmio!

Acho que não gostaria de entender, nem de pensar a respeito

Acho que não gostaria de entender, nem de pensar a respeito
Flávio Tavares
Flávio Tavares

Do jornalista e escritor Flávio Tavares, autor de vários bons livros e importante figura na luta contra a ditadura militar, ao receber o titulo de Cidadão de Porto Alegre (citação retirada de ZH):

Recebi (o título) como homenagem às posições independentes, destituídas de fanatismo, intemperança ou rancor que tento manter ao longo de 80 anos de vida. Ao agradecer, frisei que me esforço para ser aberto e sem preconceitos, mas sem ser neutro ou impassível. Não há neutralidade quando o crime nos espreita a cada dia, quando se cultiva o individualismo egoísta e se abandona a solidariedade. Menos ainda quando se degrada a vida no planeta.

No que faço ou escrevo, nos livros e artigos de jornal, nos amores e dores, busco guiar-me pela máxima de austeridade de São Josemaría Escrivá: “Não criemos necessidades. Aquele que menos necessita, mais tem”. Feito isto, a recompensa será a vida.

Tudo bem se São Josemaría Escrivá não fosse o fundador da Opus Dei. Destituído de fanatismo? Sei lá. Sigo gostando do Flávio do passado..

Leia mais: Opus Dei, a prelazia pessoal do espanhol Josemaría Escrivá

Em noite de Ospa, fui para Roma, com (meu) amor

Em noite de Ospa, fui para Roma, com (meu) amor
Só no chuveiro
Fabio Armiliato: um cantor espetacular, mas só no chuveiro

Era uma noite de concerto da Ospa e já haviam me alertado que os ensaios de segunda e terça-feira tinham sido bons e que eu poderia elogiar alguns solos de inédita compreensão musical, mas, infelizmente, só posso comentar o que vi e ouvi, da forma como vi e ouvi. E, como a Elena estava em recuperação em casa, não fui, não vi nem ouvi. Mas vi um filme por indicação dela. Por ela e ele, fiquei em casa e ri, muito.

Para Roma, com amor é um filme de 2012 de Woody Allen que não tinha visto nos cinemas. É um exemplar que se destaca dos últimos filmes de Allen por ser extremamente engraçado. Nele, são contadas alternadamente quatro histórias. Numa delas, um casal americano, papéis de Woody Allen e Judy Davis, viaja para Roma a fim de conhecer a família do noivo de sua filha, cujo pai revela-se um extraordinário cantor de ópera, mas apenas quando sob o chuveiro. Outra história envolve um italiano comum, papel de Roberto Benigni, que se torna uma inexplicável celebridade. Um terceiro episódio retrata um arquiteto da Califórnia, Alec Baldwin, que visita a Itália com um grupo de amigos, vendo seu passado na pessoa de um rapaz que é seduzido por uma dessas mulheres que buscam, cheias de artifícios, a atenção sexual dos homens em torno. Por último, temos dois jovens recém-casados do interior da Itália. Tudo parece ir muito bem até que a moça se perde pela Roma histórica atrás de alguém que lhe arrume o cabelo. O filme foi um grande sucesso, tendo arrecadado 73 milhões de dólares.

Lembro que o filme irritou alguns italianos destituídos de uma das formas da inteligência, a auto-ironia. Bobagem. Talvez a mais hilariante das histórias seja a do produtor musical “à frente de seu tempo” Woody Allen. Ele resolve levar ao estrelato o cantor de banheiro. O conhecido tenor Fabio Armiliato vive este papel de forma absolutamente brilhante, trazendo para o filme todo o fanatismo dos italianos pela ópera, além da arte milenar dos cantores de chuveiro… Judy Davis está perfeita no papel da cética psiquiatra, esposa de Allen. Nesta história, aparece a primeira italiana típica: a indignada cuidadora do marido cantor e dos filhos. Na segunda história, Roberto Benigni é um burocrata sem graça, até que começa a ser perseguido pela praga romana dos paparazzi, presentes no cinema italiano desde Fellini. Nestas duas partes, temos mais dois arquétipos: a italianuda esbelta, peituda e gostosona e a que esposa que preserva seu casamento, não obstante… não obstante qualquer coisa. A mais internacional das histórias é a da moça cheia de artimanhas que conquista todos os homens que lhe aparecem pela frente. Voltamos à Itália na história do casal que se perde um do outro. É tão engraçada quanto a do cantor. Como muitas vezes ocorre, a mulher é muito mais esperta do que o homem, que casou virgem e que acaba envolvendo-se com uma prostituta vivida magnificamente pela mimética Penélope Cruz. A mulher do interior, coitada, provavelmente jamais será feliz com seu marido catolicão.

O filme é muito bom. Foi saudado tanto por minhas risadas quanto pelas da Elena, cuja cabeça encontrava-se no meu ombro.

A direita olha em quem vota?

A direita olha em quem vota?
Flagrante dos votos de Sartori chegando a Caxias
Flagrante da revoada de votos chegando a Caxias

Acho engraçado quando me chamam de petista. Sou filiado a um partido, mas ele tem mais letras. Então, sinto-me muito tranquilo para comentar que o súbito aparecimento de José Ivo Sartori na primeira colocação das eleições estaduais revela uma curiosa característica do anti-petismo do RS e no Brasil. O direitoso parece pensar mais ou menos assim: “Não interessa em quem eu voto, interessa apenas contra quem voto”. E atualmente o diabo é o PT. Não é surpresa que alguns candidatos apregoassem “Eu posso derrotar o PT”. Afinal, este é seu real objetivo, não o de nos governar ou legislar de forma a tornar melhores nossas vidas. Após as denúncias sobre as terras e o CC de Ana Amélia, os votos da direita voaram para a serra, onde estava o candidato mais próximo e não “de esquerda” nas pesquisas. Se as pesquisas dizem alguma coisa da realidade, a migração de votos deve ter tapado o sol em Caxias do Sul neste fim-de-semana.

Algo semelhante ocorreu após a derrocada de Marina. Seus votos sumiram e foram parar em Aécio.

Sartori, seu sorriso e sua polenta não parecem muito com Ana Amélia. Sartori parece mais com Germano Rigotto. Com ar de tiozão paz e amor, tem a pretensão de agradar a gregos e troianos, ou aos petistas e progressistas que amanheceram deprimidos hoje, após serem torpedeados por bem-endereçados peitos e coxas vindos das galeterias da serra. Leiam o que ele disse: “Não quero ser visto como inimigo dos eleitores de Tarso, mas também quero ser reconhecido pelos eleitores da Ana Amélia. Fizemos uma campanha limpa e propositiva. E não vamos entrar nessa de agredir esse ou aquele, agradar um ou outro. Vamos fazer uma campanha limpa. Os eleitores de Tarso não serão nossos inimigos”, repetiu.

O discurso de Sartori é esperto e demonstra bem o que é seu partido, o PMDB. O PMDB é um partido alongado e eclético, tolerante e atlético, que adere e corre ao lado de qualquer um, sempre com um sorriso nos lábios. É sem dúvida um terrível adversário para Tarso Genro, pois se metade dos eleitores de Ana Amélia aderirem a ele, o Sartori leva o estado. Na boa, tenho medo. Sempre espero o pior desses caras desconhecidos da direita e raramente me decepciono.

Burrice estadual

Burrice estadual
Pasmem, este é o  senador Lasier Martins | Foto: Luiz Munhoz
Pasmem, Lasier Martins é Senado de República | Foto: Luiz Munhoz

A eleição de Lasier Martins para o Senado Federal ficará marcada como uma das maiores máculas de nosso estado, de nosso estado tão politizado, politizadíssimo… Sem entrar em detalhes, afirmo que Lasier é simplesmente um ser humano de menor qualidade. Acho que o tratamento que ele deu àquele funcionário da PF basta para demonstrar o fato. Seu principal adversário, Olívio Dutra, era a melhor resposta do PT ao ex-comunicador da RBS, mas não era a melhor resposta ao anti-petismo. Diria que o Olívio era a melhor resposta do PT ao PT. Olívio sentia-se incomodado com os rumos do partido e apenas viu-se ressuscitado quando este notou claramente o perigo de perder a vaga de senador para Lasier, um bisonho e veterano comentarista político sem prévia experiência parlamentar A militância entusiasmou-se com o bigode, mas o anti-petismo permaneceu impermeável. Deste modo, quatro anos depois, Lasier repete Ana Amélia Lemos. Ambos comentaristas da repetidora da Globo no RS, ambos eleitos senadores.

A vitória de Lasier Martins passa por vários fatos que vão desde o antipetitsmo — que vota em qualquer um que possa derrotar o partido — até a falta de informação e cultura de nosso estado e do país. O problemático ex-centroavante Jardel dá entrevistas em que parece não saber bem sobre o que fala. Talvez já fosse assim quando jogador. Ele é um dos novos membros da Assembleia Legislativa de nosso estado, assim como Regina Becker, a fofa defensora dos animais. Seus 41 mil votos comprovam — contra os 36 mil de Pedro Ruas e os 23 mil de Fernanda Melchionna, apenas para dar exemplos –, que a informação e a educação política passam longe do RS. Acho estranho quando combatem minha tese de que o voto obrigatório é um erro, consistindo somente em mais uma obrigação banal para o cidadão brasileiro médio, que vai lá e faz bobagens. Se fosse facultativo, talvez tivéssemos o resultado das pessoas que se preocupam minimamente com política no estado e não a excrescência que vemos hoje, dia seguinte às eleições.

Por outro lado, o pasmo petista com sua baixa votação pode levar o partido a olhar seu próprio umbigo. O partido comunica-se mal com a sociedade. Por exemplo, faz sua publicidade sempre nos velhos jornais — cada vez menos lidos — que o combatem. A atitude reverente à RBS se parece com uma confissão de culpa. Trato mal o papai, mas lhe dou dinheiro. O PT nunca lançou mão de uma modesta arma que tinha: o de reduzir as verbas de publicidade para os grandes grupos de comunicação, destinando parte destas para os pequenos veículos. Nunca fez isso, seja em âmbito federal, seja em estadual. Outra coisa são seus quadros. Na Feira Ecológica da Redenção, ouvi uma conhecida candidata do partido garantir em voz altíssima a uma senhora idosa que “Era sim, cristã”. Ela tinha chegado à conclusão que ser cristã fazia alguma diferença, então largou o que parecia ser um bordão. Ora, se tivesse mais noção de seu papel, a candidata deveria contestar a importância do questionamento. Essas concessões e a indulgência do partido para com o senso comum desgastaram o PT. Conheço outra candidata do partido que nunca leu uma obra política, que é irremediavelmente desinformada e que foi colocada lá porque trabalha numa conhecida empresa de serviços. Obteve poucos votos, mas é trabalhadora, sorridente e um dia, para nossa infelicidade, acabará eleita.

Sim, essa lógica de pegar o comunicador, o vendedor de sorvetes ou de pneus mais conhecido pode funcionar, mas é uma mudança de rumos crucial para um partido baseado em ideologia. Tal fato só aumenta a burrice geral do estado.

Voltarei ao assunto, pois, na verdade, estou em pânico com os rumos estaduais.

Bom dia, Abel Braga, meu menino medroso (veja os gols e principais lances)

Bom dia, Abel Braga, meu menino medroso (veja os gols e principais lances)
Abel Braga: quem inventa é inventor.
Abel Braga: quem inventa é inventor.

Aprende Abel:

A obsessão de bloquear todos os caminhos do oponente também significa multiplicar o número de bolas de que ele vai dispor.

Marcelo Bielsa

Abel, agora leia o que o Igor Natusch escreveu ontem em resposta a uma postagem minha no Facebook:

Hoje o Abel foi, para usar o termo técnico, cagão. E burro. O Inter não é um time veloz, isso até os vazamentos do Gigantinho sabem. Um time lento não pode jogar atrás contra um adversário mais forte, porque vai acabar sendo encaixotado; tem que jogar mais à frente, mantendo o controle da bola do meio do campo para frente, sempre o mais longe da própria meta quanto possível. No primeiro tempo, o Inter ficava com a bola na defesa e TROTAVA em direção ao ataque, carregando a bola ao invés de fazê-la rodar em campo – nada mais natural, já que o time todo estava atrás da linha da bola e inexistiam jogadores capazes de ocuparem posições ofensivas com rapidez. Foi só botar Alex e o time melhorou: teve a bola mais tempo, carregou o jogo de forma mais produtiva. Perder para o Cruzeiro fora de casa é normal, mas Abel dificultou as coisas para si mesmo.

Ora, toda a América Latina sabe a posição correta de Aránguiz — um dos maiores jogadores do continente — num time de futebol. Tu, Abel, não sabes e insistes num erro que, aliás, já tinha cometido e corrigido. Com a repetição do erro, isto é, com a colocação de três volantes, tu chamaste o Cruzeiro para o teu campo, “multiplicando o número de bolas à disposição” do adversário. Tu deste a bola para o melhor time do Brasileiro, Abel. Desculpe, mas que burrice.

O mais incrível é que fizeste uma substituição correta — a de Sacha, machucado, por Valdívia –, porém, de graça, pela mais pura covardia, colocaste o volante Willians em campo no lugar de Alex, que vinha sendo o protagonista de várias vitórias recentes do Inter. Incrível! Quase saí da frente da TV quando vi tua novidade. Tu és inventor, inventor, inventor, tolo, cagão e burro.

Quando Alex entrou em campo no intervalo no lugar de um dos volantes… Que coisa, né? O time começou a enfrentar o Cruzeiro de igual para igual, marcando um gol e podendo até empatar. Posso te resumir? Abel, tu és um bom técnico, sabes dar dinâmica a um time, mas fazes péssimas alterações antes e durante os jogos, quando tua fantasia e teus medos desenfreados remexem teus intestinos. Tu precisas de um auxiliar mais corajoso ou, como dizemos um tanto preconceituosamente aqui no RS, mais macho.

Cara, desculpe, mas tu é muito frouxo.

Como escreveu o Emilio Carlos Baino, “acho que o campeonato [a luta pelo título] acabou. Inter, São Paulo, Atlético-MG, Grêmio e Corinthians disputarão as vagas remanescentes para a Libertadores. Do Bahia para baixo, haverá luta sangrenta para o rebaixamento. O Cruzeiro está em outro patamar futebolístico”. E, para piorar, ainda há técnicos vice-líderes que têm medinho da Raposa. Aí acabou mesmo.

http://youtu.be/8ZfNiLVbawE

É sempre bom lembrar: O VIAGRA É UM PRODUTO AUTENTICAMENTE BRASILEIRO E EXISTE DESDE O SÉCULO XIX!!!

É sempre bom lembrar: O VIAGRA É UM PRODUTO AUTENTICAMENTE BRASILEIRO E EXISTE DESDE O SÉCULO XIX!!!

O escritor Bernardo Guimarães (1825-1884), nascido em Ouro Preto e cuja notável austeridade pode ser apreendida na foto abaixo, escreveu A Escrava Isaura. OK, mas comecemos a leitura de seu clássico poema Elixir do Pajé.

O ínclito Bernardo Guimarães
O ínclito Bernardo Guimarães

Que tens, caralho, que pesar te oprime
que assim te vejo murcho e cabisbaixo,
sumido entre essa basta pentelheira,
mole, caindo pela perna abaixo?

Ao mesmo tempo em que escrevia o citado romance e também O Seminarista, O Garimpeiro e O Ermitão de Muquém – todos romances medíocres filiados à vertente regionalista da ficção romântica brasileira -, Bernardo….

Nessa postura merencória e triste
para trás tanto vergas o focinho
que eu cuido vais beijar, lá no traseiro,
teu sórdido vizinho!

…criou uma obra poética dotada de dimensão crítico-humorística incomum em meio aos indianismos, arroubos de eloquência e subjetividades lacrimejantes do romântismo brasileiro. (Flora Sussekind).

Que é feito desses tempos gloriosos
em que erguias as guelras inflamadas,
na barriga me dando de contínuo
tremendas cabeçadas?

O Elixir do Pajé, assim como o extraordinário A Origem do Mênstruo, só teve impressões clandestinas em folhetos de poucas páginas.

Qual hidra furiosa, o colo alçando,
co`a sanguinosa crista açoita os mares,
e sustos derramando
por terras e por mares,
aqui e além atira mortais botes,
dando co`a cauda horríveis piparotes,
assim tu, ó caralho,
erguendo o teu vermelho cabeçalho,
faminto e arquejante,
dando em vão rabanadas pelo espaço,
pedias um cabaço!

Um escritor da época, Artur Azevedo, nos revela que “de todos os livros de Bernardo Guimarães, o escrito mais popular é um poema obsceno intitulado Elixir do Pajé, que nunca foi impresso com o nome de seu autor. Porém é raro o mineiro que não o saiba de cor. Há na província um sem-número de cópias desse Elixir inútil e brejeiro.”

Um cabaço! Que era este o único esforço,
única empresa digna de teus brios;
porque surradas conas e punhetas
são ilusões, são petas,
só dignas de caralhos doentios.

A edição oficial das “poesias completas” de Bernardo Guimarães pelo Instituto Nacional do Livro, com data de 1959, omite sem (ou com) pudor alguns de seus poemas e mantém uma atitude de incompreensão diante de sua veia satírica e humorística.

Quem extinguiu-te o entusiasmo?
Quem sepultou-te neste vil marasmo?
Acaso para teu tormento,
indefluxou-te algum esquentamento?
Ou em pívias estéreis te cansaste,
ficando reduzido a inútil traste?
Porventura do tempo a dextra irada
quebrou-te as forças, envergou-te o colo,
e assim deixou-te pálido e pendente,
olhando para o solo,
bem como inútil lâmpada apagada
entre duas colunas pendurada?

Mas além de banir a produção satírica e humorística de Bernardo, os critérios românticos também não se ajustavam à sua lírica, nem sempre em consonância com os padrões da época.

Caralho sem tesão é fruta chocha,
sem gosto nem cherume,
linguiça com bolor, banana podre,
é lampião sem lume,
teta que não dá leite,
balão sem gás, candeia sem azeite.

Coube a Haroldo de Campos, em linhas sumárias mas decisivas, apontar de modo pioneiro a importância deste novo e ignorado Bernardo Guimarães.

Porém não é tempo ainda
de esmorecer,
pois que teu mal ainda pode
alívio ter.

…..

Terá Bernardo descoberto um Viagra indianista e romântico?

Eis um santo elixir miraculoso,
que vem de longes terras,
transpondo montes, serras,
e a mim chegou por modo misterioso.

…..

Com mais de cem anos de clandestinidade e antecipação, o Elixir impõem-se como a manifestação mais integral e debochada daquele indianismo às avessas que Haroldo de Campos teria visto em Oswald de Andrade.

Esse velho pajé de piça mole,
com uma gota desse feitiço,
sentiu de novo renascer os brios
de seu velho chouriço!

…..

No Elixir, uns dos alvos de Bernardo é o ritmo e a retórica de Gonçalves Dias em poemas como I-Juca-Pirama e Os Timbiras. E olha o ritmo do I-Juca-Pirama chegando aí, gente!!!

E ao som das inúbias,
ao som do boré,
na taba ou na brenha,
deitado ou de pé,
no macho ou na fêmea
da noite ou de dia,
fodendo se via
o velho pajé!

…..

E, na sátira ao indianismo, o índio vira sátiro.

Vassoura terrível
dos cus indianos
por anos e anos
fodendo passou,
levando de rojo
donzelas e putas,
no seio das grutas
fodendo acabou!
E com sua morte
milhares de gretas
fazendo punhetas
saudosas deixou…

José Veríssimo declarou que a metrificação de Bernardo é em geral mais rica, mais correta e mais variada que a de outros românticos. E completa dizendo que a forma é também mais clássica, mais simples, mais calma e mais fria. Sintam a calma do próximo trecho.

Feliz caralho meu, exulta, exulta!
Tu que aos conos fizeste guerra viva,
e nas guerras de amor criaste calos,
eleva a fronte altiva;
em triunfo sacode hoje os badalos;
alimpa esse bolor, lava essa cara,
que a Deusa dos amores,
já pródiga em favores
hoje novos triunfos de prepara,
graças ao santo elixir
que herdei do pajé bandalho,
vai hoje ficar em pé
o meu cansado caralho!

Só em Oswald de Andrade (O Santeiro do Mangue) e Gregório de Matos, encontra-se algo próximo a esta grossa prosa de palavrões, erotismo satírico e escatológico, tramada em tão inventiva poesia antipoética.

Vinde, ó putas e donzelas,
vinde a mim abrir as vossas pernas
ao meu tremendo marzapo,
que a todas, feias ou belas,
com caralhadas eternas
porei as cricas em trapo…
Graças ao santo elixir
que herdei do pajé bandalho,
vai hoje ficar em pé
o meu cansado caralho!

…..

Sem mais interrupções, deixo vocês com o final da epopeia.

Este elixir milagroso,
o maior mimo da terra,
em uma só gota encerra
quinze dias de tesão…
Do macróbio centenário
ao esquecido marzapo,
que já mole como um trapo,
nas pernas balança em vão,
dá tal força e valentia
que só com uma estocada
pôe a porta escancarada
do mais rebelde cabaço,
e pode um cento de fêmeas
foder de fio a pavio,
sem nunca sentir cansaço…

Desculpa, tive que interromper novamente. Quinze dias de tesão? O Cialis dá umas 6 horas, o Viagra menos!

Eu te adoro, água divina,
santo elixir da tesão,
eu te dou meu coração,
eu te entrego minha porra!
Faze que ela, sempre tesa,
e em tesão sempre crescendo,
sem cessar viva fodendo,
até que fodendo morra!

Sim, faze que este caralho,
por sua santa influência,
a todos vença em potência,
e, com gloriosos abonos,
seja logo proclamado
vencedor de cem mil conos…
E seja em todas as rodas
d`hoje em diante respeitado
como herói de cem mil fodas,
por seus heróicos trabalhos,
eleito – rei dos caralhos!

Os fragmentos do Elixir aqui publicados foram copiados do livro “Poesia Erótica e Satírica” de Bernardo Guimarães (Imago, 1992). Esta edição tem organização e prefácio de Duda Machado, do qual roubei algumas interrupções que fiz ao clássico Elixir.

A Ospa, Mozart, Brahms, um piano sem tampa e o motel da UFRGS

A Ospa, Mozart, Brahms, um piano sem tampa e o motel da UFRGS
Nada de espelhos no teto nem tampa de piano.
Nada de espelhos no teto nem tampa de piano.

O concerto de ontem foi utilizado para homenagear os 119 anos do Correio do Povo. Se Juremir Machado da Silva teve o bom gosto de dar um discurso curto, a empresa responsável pelos espumantes servidos na porta do Salão de Atos da UFRGS poderia ter sido mais feliz. Havia muita gente rindo e reclamando da beberagem. Rindo porque a cavalo dado não se olha os dentes e reclamando porque, pô, caiu mal no estômago. Tão mal que quase não pude rir da citação laudatória de Juremir a Erico Verissimo, escritor com o qual ele contraiu conhecidos problemas póstumos.

O programa do concerto era o seguinte:

W. A. Mozart: Concerto para piano nº 22, K. 482
Johannes Brahms: Sinfonia nº 2, Op. 73
Regente e solista: Ira Levin

Tinha assistido o ensaio da Ospa na segunda-feira à noite. Nela, o concerto de Mozart já fora tocado de forma esplêndida pelo dublê de maestro e pianista Ira Levin. E ontem à noite, ele repetiu a dose, acrescentando ainda mais qualidade ao que fizera no dia anterior. A nova dosagem não foi excessiva, até tomaríamos mais dela, e serviu para que esquecêssemos um pouco o espumante da entrada. Mas houve emoção, e como!!! O pessoal do Salão de Atos resolveu brincar com a luz enquanto Levin esmerilhava na cadência do primeiro movimento. Como se estivéssemos numa versão de Mozart para motéis, a luz foi diminuiiiiiiiindo até que, no palco, víssemos apenas a silhueta de Levin ao piano — pois a orquestra já sumira antes, pudicamente. Depois, a luz retornou forte para voltar a diminuir lentamente mais umas duas ou três vezes. Ou seja, parecia que um casal estava regulando a luz para que esta servisse de catalisadora de prazeres ainda maiores. Olhei para o teto na expectativa de que surgissem espelhos, procurei preservativos e nada. Realmente, o serviço da noite não era de primeira qualidade.

Por falar em cadenzas, Ira Levin deve ter escrito suas próprias, pois estas eram longas, muito interessantes e originais, passando longe do padrão Paul Badura-Skoda, adotado pela maioria dos pianistas. O Concerto Nº 22 não é tão famoso quanto os dois que o antecederam (ele compôs o 20º, o 21º e o 22º de enfiada) possivelmente porque ele não possui os temas marcantes deles. Mozart não escreveu cadências para esses concertos ou, se as fez, foram perdidas. Não obstante as peripécias com a luz, a interpretação saiu pra lá de boa, com destaque para o solista e para a segurança do trompista Alexandre Ostrovski, tranquilo condutor de bons momentos da orquestra.

Após os aplausos ao concerto de Mozart, Levin não se fez de rogado e brilhou intensamente num bis complicado: São Francisco de Paula caminhando sobre as ondas, de Franz Liszt. Era adequado para a noite. Afinal, chovia.  Ah, o piano estava sem tampa. Por quê?

Se a primeira sinfonia de Brahms — minha obra preferida no gênero — é uma obra tensa e poderosa, a segunda é uma leve pastoral. E como os críticos são chatos, meu deus! A primeira sinfonia de Brahms foi denominada por alguns destes incompreensivos senhores de “a décima de Beethoven” e a segunda foi comparada com a sexta, a Pastoral, também do mestre de Bonn. Para piorar, Brahms escreveu a composição no campo… Porém, na verdade, todas as sinfonias citadas têm pouco a ver. E, bem, com exceção de seu adágio, a 2ª de Brahms é cheia da contida e densa felicidade típica do compositor. Curiosamente, sua maior preocupação era a de que o terceiro movimento não fosse confundido nem dançado como uma valsa…

A Ospa foi pra cima de Brahms com entusiasmo. Comentei com alguns músicos como a orquestra “gritava” a fim de tentar “molhar” a acústica seca do Salão de Atos. Tal artifício deixou especialmente claro o baixo número de violoncelos da orquestra. Os caras me pareceram no limite, por assim dizer. E o papel do naipe era importantíssimo na apresentação de temas no primeiro e segundo movimentos. Mas é impossível reclamar do comportamento do sexteto de cellos. Eles fizeram, literalmente, chover, como comprovamos na saída do teatro. Outro destaque foi novamente o trompista Ostrovski, sempre afinado e espécie de dono da noite ao lado de Levin. Só o citado adágio me decepcionou. Achei chocha a abordagem. Em compensação, a curta coda deixou todo mundo feliz e louco para aplaudir com a presença de fanfarras que utilizam o segundo tema do movimento final.

Como inútil recado final, digo que a Ospa deveria marcar seus concertos a cada duas semanas, com os programas devidamente ensaiados sendo apresentados mais de uma vez. Nada de realmente artístico amadurece em uma semana.