McCabe & Mrs. Miller, de Robert Altman (1971)

Robert Altman fez dezenas de filmes, alguns muito bons, outros lastimáveis. Como a maioria das pessoas, tenho grande admiração por suas histórias polifônicas como Short Cuts, Nashville, O Jogador, O Casamento, etc., mas meus preferidos são aquelas obras que ficaram perdidas lá nos anos 70, Como McCabe & Mrs. Miller (Onde os homens são homens), Brewster McCloud (Voar é com os pássaros) e Três Mulheres.

McCabe & Mrs. Miller é um falso western. Dentro de uma narrativa melancólica, Warren Beatty é um fanfarrão covarde e sonhador, que chega a um remoto lugarejo do oeste americano com a finalidade de montar o primeiro puteiro da comunidade. Mrs. Miller, vivada por uma lindíssima Julie Christie, é a cafetina que vai recrutar moças e garantir pelo gabarito do salão… Como era de se esperar, o local torna-se um sucesso, chamando a atenção de forasteiros que desejam adquirir a casa. Beatty não se dá conta de que a violência é habitual de naquele povoado onde não se dá muita importância a seu charme e carisma. Quando vi No country for old man (Onde os fracos não têm vez), dos irmãos Coen, logo pensei numa longínqua inspiração neste “western” de Altman. Acredito ter razão.

É o mais úmido e barrento dos filmes. Há uma névoa sobre todas as tomadas externas. É como se aquele não fosse um bom lugar para alguém que tão narcisista, cheio de si e “civilizado” como o personagem de Beatty. A trilha sonora de Leonard Cohen sublinha notavelmente o ambiente.

Deve ter em DVD. Saudades.

McCabe and...
McCabe and…
Mrs. Miller
Mrs. Miller

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  1. Lembro-me de ter visto este filme numa decada distante no século XX, quando eu gostava dos filmes de Altman devido ao desacerto dos personagens dele com a paisagem e o mundo humano (com suas exigências de enquadramento e normatização) que era como eu me sentia na época, como todo jovem cheio de platitudes, pretensões e exatamente igual aos outros. Com o tempo, o encanto de Altman desceu até a indiferença e um sentido de superestimação de suas obras, principalmente as polifônicas, desde Mash e passando por Nashville, até as mais recentes e extremamente supervalorizadas.

    Eu me achava a cara (e a sensibilidade) de Bud Cort em “Voar é com os pássaros”, que hoje me soaria como uma abordagem onírica bobalhona sobre uma época bobalhona sob o olhar de viés contracultural, porém made in USA.

    Uma coisa que me ficou patente é a completa inverossimilhança de uma puta tão extremamente bela quanto Julie Christie naquele lugarzinho desgraçado, mas talvez (ou certamente) isso se devesse ao fato de que o Oeste do cineasta, como aliás ocorre em 99% dos westerns, é um território basicamente cinematográfico e mítico, um palco para a expressão da americanidade nascente, seus valores e seus sonhos, que logo virariam pesadelos para o mundo inteiro.

    A névoa é fácil de entender: simples efeito da maconha que Altman fumava em quantidades industriais.

      1. Ah, nem sempre as atrizes são bonitas demais para seus papéis (a Giulietta Massima fez papel de puta num registro perfeito), sí na maioria dos subprodutos hollywoodianos (ou filmes de grande orçamento pelo mundo afora) e até nos seus alternativos, como Altman (cinema alternativo nos EUA é 99% engodo), pois todos pensam no cinema como um espaço de glamourização da realidade, mesmo a mais torpe.

        Acontecem coisas engraçadas: em um filme francês sobre Sartre & Simone, toda vez que falam da Beauvior mencionam sua feiúra, e ela própria refere a si mesma assim, só que, no filme, a atriz que a faz é belíssima. Fica tão escroto quanto na ópera, em que são cantadas as virtudes e inimaginável beleza de uma personagem, mas quando ela surge é uma senhora duns 100 quilos, como a Caballé fazendo a Salomé.

        Nada contra a beleza, mas a favor de uma credibilidade maior de quem se preocupa em fazer arte, e não item de bilheteria.

  2. Assisti a este filme há incontáveis décadas atrás, nos tempos do vídeo cassete. E realmente o que me chamou a atenção foi aquela frio desgraçado, a neve derretida … e claro, a Julie Christie.

  3. Vi Voar é com os pássaros nos anos 70, aqui em Porto alegre, no cinema. Nunca revi. Tenho até medo de rever – na minha lembrança o filme é fantástico, hilariante.

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