A Hard Day’s Night completa 50 anos hoje

A Hard Day’s Night completa 50 anos hoje
A capa do disco de vinil. Clique se quiser ampliar.
A capa do original inglês de vinil. A edição brasileira trazia a mesma capa, só que com a cor vermelha substituindo o azul. Clique se quiser ampliar.

A Hard Day’s Night é o terceiro álbum dos Beatles. Seu aguardado lançamento aconteceu na Inglaterra em 10 de julho de 1964, acompanhando o lançamento do filme homônimo de Richard Lester.

O título da canção A Hard Day’s Night tem origem numa expressão criada por Ringo Starr em uma entrevista, daquelas bem bagunçadas. Ele disse ao disc jockey Dave Hull, no começo de 1964: “Tínhamos trabalhado um dia inteiro e mais a noite toda. Quando saímos do estúdio, eu pensava que ainda era dia e disse: “Foi um dia duro… mas olhei em torno e vi que estava escuro, então eu disse: foi a noite de um dia duro”. A Hard Day’s Night.

Correria
Correria

John Lennon escreveu a música em uma noite — desta vez sem trabalhar durante o dia –, e apresentou-a aos outros Beatles na manhã seguinte. A letra do manuscrito original pode ser vista na Biblioteca Britânica, rabiscada em caneta esferográfica nas costas de um cartão de aniversário.

Meus sete leitores devem saber que, apesar de assinarem juntos a maior parte das músicas do grupo, Lennon e McCartney raramente as escreviam juntos. Eles as faziam separadamente e depois discutiam alguma alteração. É simples identificar quem fez o quê. Basta ouvir o cantor principal. John cantava as dele e Paul as suas.

Saltos
Saltos

O filme lançado com o disco foi dirigido por Richard Lester. Dez ENORME sucesso. Mostrava, em preto e branco, a história de uma banda de rock que era perseguida por fãs histéricos. Após perseguições de fãs, entrevistas, e muitas piadas, a banda realiza um show na televisão. O filme mostra um pouco da realidade dos Beatles na época. No Brasil, o disco e o filme foram lançados pelo nome de Os reis do iê, iê, iê (a expressão “iê, iê, iê” deriva de “yeah, yeah, yeah”, presente no refrão da canção She Loves You).

Como se fazia na época, o álbum foi gravado em apenas nove dias não consecutivos, de janeiro a junho de 1964. Entre as sessões, os Beatles cumpriam seus compromissos de shows e da filmagem de A Hard Day`s Night. Durante a filmagem, John Lennon e Paul McCartney escreviam mais e mais canções. A maioria destas ficou fora de A Hard Day`s Night, indo para o seguinte, Beatles for Sale, lançado em 4 de dezembro do mesmo ano.

Descanso
Descanso

A Hard Day`s Night tornou-se seu primeiro álbum do grupo que continha material exclusivamente original, só com canções de Lennon e McCartney, ainda sem a participação de George Harrison como compositor.

Ouvi o disco novamente ontem e reforcei minha impressão. É um álbum bem diferente do que veio antes e do que virá depois. O motivo é simples. É o único disco dominado por canções de John Lennon. Isto o trona muito mais rápido, muito mais rock ‘n’ roll. A típica presença de Paul, muito mais lírico e melodioso, é notada em And I love her e Things we said today. O resto, com exceção de If I fell, são rocks rápidos.

Mais correria
Mais correria

Lennon foi o único compositor da faixa-título, juntamente com I Should Have Known Better, Tell Me Why, Any Time At All, I’ll Cry Instead, When I Get Home e You Can’t Do That. Ele também escreveu a maior parte de If I Fell e I’ll Be Back, e colaborou com McCartney em I’m Happy Just To Dance With You.

As contribuições de McCartney para o álbum foram discretas, porém excelentes: as clássicas baladas And I Love Her e Things We Said Today, bem como Can’t Buy Me Love.

A Hard Day’s Night é um dos três únicos álbuns dos Beatles para não contêm vocais por Ringo Starr. Os outros são Let It Be e Magical Mystery Tour.

O cartaz do filme de Lester
O cartaz do filme de Lester

As faixas de A Hard Day`s Night:

Lado A

A Hard Day’s Night
I Should Have Known Better
If I Fell
I’m Happy Just To Dance With You
And I Love Her
Tell Me Why
Can’t Buy Me Love

Lado B

Any Time At All
I’ll Cry Instead
Things We Said Today
When I Get Home
You Can’t Do That
I’ll Be Back

John Lennon: vocal, guitarra, violão, harmônica, tamborim
Paul McCartney: vocal, baixo, piano, sinos
George Harrison: vocal, guitarra, violão
Ringo Starr: bateria, congas, bongôs, tamborim
George Martin: piano

Produtor: George Martin, óbvio

O disco completo para meus sete leitores-ouvintes:

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O sucesso estrondoso dos shows do Monty Python mostra que o humor ainda é feito de inteligência

O sucesso estrondoso dos shows do Monty Python mostra que o humor ainda é feito de inteligência

Por Harold Von Kursk | No Diário do Centro do Mundo | A escolha dos esquetes foi do blogueiro

Nos anos 70, a série Monty Python Flying Circus ofereceu uma visão distorcida e absurda sobre o estado das coisas e rapidamente tornou-se um clássico cult. Os Pythons elaboraram um fluxo de consciência que criou momentos inesquecíveis de êxtase cômico. Qualquer busca rápida no YouTube vai encontrar clipes sublimes de seus melhores esquetes — a Loja de Queijos, o Ministério das Caminhadas Idiotas, a Canção do Lenhador, o Papagaio Morto etc.

Os Pythons são deuses imortais do riso. Eles levaram o humor a um estado de arte da mesma maneira que Jackson Pollock evoluiu do “gotejamento” para o expressionismo abstrato. Monty Python tornou-se um ponto de referência cultural, da mesma forma que iconoclastas como RD Laing, Louis Althusser, Albert Camus, Ali Farka Touré, Nina Simone, Andy Warhol, Pete Seeger. Ainda estão na vanguarda da nossa consciência depois de se separarem. O Monty Python foi originalmente concebido como um ataque frontal completo ao que era então conhecido, naquela era, como o “establishment”.

Como Timothy Leary, o professor de Harvard que se tornou um guru do LSD e aconselhou as pessoas a “se ligar, sintonizar e cair fora”, a gangue Python convidou-nos a olhar para a sociedade moderna como uma espécie de gigantesco hospício onde é difícil explicar por que é que nós fazemos o que fazemos. Tudo com inteligência e sem a vontade primeira de ofender, praga de 99% dos comediantes de hoje, que escondem sua falta de talento atrás do politicamente incorreto.

Este mês, os cinco Pythons restantes – John Cleese, Eric Idle, Terry Jones, Michael Palin e Terry Gilliam – estão se reunindo no palco da O2 Arena, em Londres, realizando seus primeiros shows ao vivo em mais de 40 anos. As cinco apresentações iniciais lotaram. Eles tiveram de marcar mais cinco (15, 16, 18, 19 e 20 de julho). O show do dia 20 será transmitido ao vivo para mais de 400 cinemas.

Os Pythons estão até mesmo invocando o fantasma de Graham Chapman (o rei Arthur de “Em Busca do Santo Graal”) através da holografia e convidaram a atriz Carol Cleveland, veterana do programa de TV, para a briga.

Há algo esplendidamente original sobre a marca Python na comédia. Em vez de tornar-se advogados, banqueiros ou burgueses gordos, o bando formado em Cambridge (Cleese, Chapman e Idle) e Oxford (Jones e Palin) desenvolveu uma filosofia em quadrinhos não ortodoxa e irreverente. Terry Gilliam foi o último a se unir ao grupo, um artista gráfico americano que criou o famoso pé roxo que esmagava as coisas na telinha e cujas imagens pop / psicodélicas acrescentaram uma dimensão extra à série (Gilliam viria a se tornar um diretor de cinema conhecido por “Brasil” e “Medo e Delírio em Las Vegas”).

O “Monty Python Flying Circus” passou na BBC entre 1969 e 1974. Seu humor era era tão surreal para os padrões normalmente sisudos que foi quase um milagre que eles atingissem um público de massa.

Os Pythons estavam à frente de seu tempo e ainda hoje o seu humor ressoa. Ninguém foi capaz de imitar ou capturar seu brilho. O Saturday Night Live chegou mais perto durante os anos dourados com Dan Aykroyd, John Belushi, Gilda Radner, Eddie Murphy e Bill Murray, mas não alçava vôos nas mesmas alturas.

O Monty Python capturou a desumanidade e a indecência da sociedade moderna. Odiavam a burocracia, a intolerância, o conformismo, o conservadorismo, a pompa, e o rolo compressor estéril de uma sociedade ocidental decadente que atropelava os valores humanos em prol do expansionismo corporativo. Em sua incursão no cinema, os Pythons amplificaram suas paródias macabras.

Quem pode esquecer quando o rei Arthur e seus seguidores se aproximam de um castelo para ser insultados, atormentados e perseguidos por guardas franceses arrogantes no filme “Em Busca do Santo Graal”? Pode haver algo mais insano do que a idéia de uma turma de cavaleiros gays desonestos e gigantes que habitam a floresta e que dizem “Ni”?

“A Vida de Brian”, que em seu lançamento foi denunciado por direitistas e teólogos, na verdade apresentou um retrato bastante preciso dos movimentos políticos da época. O filme segue um personagem fictício infeliz chamado Brian, que nasceu ao mesmo tempo em que Jesus e está, inadvertidamente, destinado a ser o messias. Recentemente, o Reverendo Professor Burridge, decano do King’s College de Londres, a quem o papa Francisco deu um prêmio por seus estudos, declarou que “a representação de movimentos messiânicos no filme, na Judeia do século I, ofereceu provavelmente um retrato mais preciso do contexto histórico do que muitos filmes de Hollywood sobre Jesus “.

Quem mais poderia encerrar o filme num clímax em que os revolucionários crucificados cantam e pedem para “sempre olhar para o lado mais alegre da vida?”

O mundo ama o Monty Python, tanto por sua capacidade de desafiar formas ortodoxas de pensar e de se comportar como por sua capacidade inigualável para celebrar as contradições fundamentais da existência. Com precisão cirúrgica, eles continuaram martelando nossos ossos até vermos como boa parte do que aceitamos como normal diariamente é de fato lixo absoluto.

Ao vivo, o Monty Python representa seus números clássicos com ajuda de telões e outros recursos modernos. Cantam e dançam. Está lá até o jogo de futebol de filósofos. A rigor, não há novidade. Mas essa é a sabedoria da trupe. Quem vai aos shows dos Rolling Stones esperando ouvir as canções do novo disco está no lugar errado. “O nosso grande problema agora é que a plateia conhece os scripts muito melhor do que nós”, disse John Cleese. No dia 20, o Monty Python estará definitivamente morto. Enterrado. Terá deixado de existir. Longa vida ao Monty Python.

O Monty Python, hoje
O Monty Python, hoje

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Para que ter dois olhos?

Para que ter dois olhos?

O excelente blog português O homem que sabia demasiado deu-se conta de que, algumas vezes, esse negócio de ter dois olhos parece que atrapalha. Esses caras abaixo, eram melhores realizadores só com um olho do que a esmagadora maioria com os dois:

Nicholas Ray (1911 – 1979) Nicholas Ray (1911 - 1979)   Raoul Walsh (1887 – 1980) Raoul Walsh (1887 - 1980)   John Ford (1894 – 1973) John Ford (1894 – 1973)   Fritz Lang (1890 – 1976) Fritz Lang (1890 - 1976)

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Kubrick e Spielberg: uma amizade improvável

Kubrick e Spielberg: uma amizade improvável

Sabiam que antes de gravar qualquer canção, Roberto Carlos consultava Tom Jobim a respeito? Só após o OK de Tom é que Roberto aprovava a divulgação de qualquer obra. O Rei ficou inconsolável com a morte de seu mentor em 1994. Ficou perdido no mundo. O mesmo aconteceu com Paulo Coelho e José Saramago. O mago só mandava seus escritos para o prelo se o português lhe dizia: tá bom, alquimista, vá em frente. Fernando Sabino fazia o mesmo com Clarice Lispector; se a autora de Água Viva e Laços de Família não lhe escrevesse “Alles klar. Clarice.”, estaríamos livres de Zélia, Uma Paixão.

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Claro que o parágrafo acima é inteiramente mentiroso. Mas o título deste texto é verdadeiro. Spielberg e Kubrick eram amicíssimos e se consultavam a respeito de seus filmes. Várias sugestões trafegavam e eram aceitas nos dois sentidos. O erudito mestre Stanley Kubrick prezava muito o mestre do entrenimento Steven Spielberg e vice-versa. Amo o cinema de Kubrick e nada tenho contra Spielberg, mas penso que dificilmente haverá dois amigos e colaboradores (mesmo que informais) mais diferentes entre si.

Steven Spielberg

A importância de Stanley Kubrick para o cinema mundial pode ser medida pela qualidade e variedade dos poucos filmes que produziu. Muito pensam que ele era inglês, mas ele foi um novaiorquino que produziu parte de sua obra na Inglaterra. Kubrick criou ficção científica, suspense, reconstituição histórica, filmes de guerra, filmes intimistas e comédia sempre com brilhantismo — com brilhantismo ofuscante, creio eu. Ele — que se definiu para Anthony Burgess como um maestro dei colore que lia bons livros, que gostava de boa música e que tentava trazer isto para seus filmes — produziu apenas 13 filmes em 46 anos de carreira. E eu garanto que você viu ou pelo menos sabe da existência de mais da metade deles. Quer comprovar?

1. Fear and desire (1953) – Que Kubrick rejeitava por ser péssimo.
2. A morte passou por perto (1955) – Idem
3. O grande golpe (1956) * – Suspense
4. Glória feita de sangue (1957) * – Guerra
5. Spartacus (1960) * – Épico romano
6. Lolita (1962) – Intimismo politicamente incorreto
7. Doutor Fantástico (1964) – Comédia
8. 2001- Uma Odisséia no Espaço (1968) * – Ficção Científica
9. Laranja Mecânica (1971) * – Futurismo anarquista
10. Barry Lyndon (1975) – Romance vitoriano de Thackeray, passado no século XVII
11. O Iluminado (1980) * – Terror
12. Nascido para Matar (1987) * – Guerra
13. De Olhos Bem Fechados (1999) * – Intimista, baseado na grande novela Breve Romance de Sonho, de Arthur Schnitzler

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Esta não é uma série de filmes clássicos, é apenas a obra de Kubrick. O que mais o distingue é a inteligência e o fato de sempre se propor a esgotar os temas aos quais se dedica, chegando, às vezes, a produzir três filmes contrastantes dentro de um só. É como se produzisse variações sobre um mesmo tema, ao estilo dos compositores eruditos. Fez isto no tríptico Laranja Mecânica — (1) Ultra-violência, (2) Tratamento Ludovico e (3) Retorno à sociedade –, em De Olhos Bem Fechados — (1) Amor, (2) Ciúme e medo e (3) Aventura mórbida — e em outros, como 2001.

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A surpreendente amizade com Spielberg só ganhou notoriedade quando da morte de Kubrick. A quem foi passada a tarefa de finalizar De Olhos Bem Fechados? Ora, a Spielberg, que era quem tinha conhecimento de todo o projeto. É sintomático que Spielberg, após este trabalho, voltasse a outro projeto de Kubrick: Inteligência Artificial. Porém, curiosamente, ao filmar a história que Kubrick filmaria a seguir, acabou realizando um tríptico típico do mestre: (1) Conhecendo e rejeitando o robô, (2) O robô solto no mundo e (3) Final açucarado para você chorar de emoção ou raiva. Esta característica musical de reapresentar o mesmo tema de diversas formas foi também assumida por Spieberg em seu filme seguinte, Minority Report. Porém, insisto…

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Caricatura retirada do The Simon Magazine, mais exatamente do artigo “Steven Spielberg’s Artificial Inheritance“, de Edward Patch.

Kubrick não se repetia, Spielberg fez 3 Indiana Jones e não sei quantos Parques dos Dinossauros. Kubrick era um erudito generalista ao estilo dos grandes homens do renascimento, Spielberg é o tarado da ação, mesmo que se declare um apaixonado pela literatura. Kubrick quase não dava entrevistas, Spielberg não para de falar. Kubrick sempre foi hostil às estéticas aceitas por hollywood e não ficou milionário, Spielberg aderiu e é produtor riquíssimo em hollywood. Kubrick realizava filmes secos, profundos, corrosivos e analíticos, Spielberg os faz normalmente divertidos, superficiais, açucarados e infantis. Kubrick fazia um filme a cada 4 anos, Spielberg faz um por ano. Um concentra, o outro dilui. Mas nada disto os impedia de discutirem seus respectivos projetos em detalhe e a resultante destas discussões poderia ser tão diferente quanto o são Parque dos Dinossauros, Indiana Jones, Nascido para Matar ou O Iluminado.

Seria respeito profissional? Admiração mútua? Amor ao que o outro tinha de inatingível? Não sei, apenas acho curioso.

(*) Filmes de Kubrick que, em minha opinião, qualquer um de nós deveria ver a fim de crescer mais alguns centímetros.

spielberg kubrick

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O velho Alfred Hitchcock em seu 13 de agosto

Publicado em 13 de agosto de 2013 no Sul21

Considerando que agosto é o mês do desgosto e que o número 13 é o numero 13, a data de nascimento de Alfred Hitchcock é a mais adequada possível. O único problema é que nem sempre é possível cair numa sexta-feira. Paradoxalmente, o londrino Hitchcock nunca teve azar. Além da existência longa e altamente produtiva, é dos poucos cineastas que podem se orgulhar de terem obtido imenso reconhecimento, aliado a tonitruante sucesso de público.

Hitchcock, ao menos quando falava, era amigo das simplificações. Dizia que seus filmes dividiam-se em dois grupos: os whodunits e os MacGuffins. Dificilmente poderia ser mais exato.

O whodunit (ou “Who done it?” ou “Quem fez isso?”) é o gênero de filmes onde ao final se sabe quem foi o autor de algum ato ilícito ou, digamos, avassalador. O quebra-cabeças que nos leva ao autor é o principal ponto de interesse. Aos espectadores são fornecidos indícios, mas o final deve surpreender. Janela Indiscreta e Psicose são exemplos de whodunits.

Já o MacGuffin é um pouco mais complicado de explicar. O MacGuffin é aquilo que todos procuram, o que deve ser encontrado. É o elemento da trama que move todos os personagens. O aspecto definidor do um filme do gênero MacGuffin é que os personagens estão (pelo menos inicialmente) dispostos a qualquer sacrifício, independentemente do que seja, para alcançá-lo. São normalmente thrillers com mortes, lutas e correria. O MacGuffin pode ser apenas dinheiro, ou uma agenda, ou a obtenção de um testamento ou de algo que seja uma ameaça potencial. Normalmente o MacGuffin é o foco central da primeira parte do filme, depois diminui sua importância em razão das camadas de ficção que lhe sobrepõem e da rivalidade entre os personagens. Mas costuma retornar ao final.

Cortina Rasgada é o maior exemplo de MacGuffin, todos estão atrás da fórmula secreta. Em Interlúdio, há o urânio que os personagens principais devem encontrar antes que chegue às mãos nazistas. Segredos de estado de vários tipos servem como MacGuffins em filmes de espionagem, especialmente em O homem que sabia demais, Os 39 degraus e A Dama Oculta.

Quanto à criação dos filmes, Hitchcock tinha outras coisas a ensinar. Por exemplo, ele quase sempre se baseava em obras literárias menores. Ele tratava de melhorá-las, vencendo a comparação. Hitch, como era conhecido, sempre criticou uma de suas atrizes preferidas, Ingrid Bergman, por seu desejo de fazer filmes com grande temas (Joana d`Arc) ou com roteiros baseados em grandes obras (Por quem os sinos dobram). Ela queria imortalizar-se desta forma enquanto Hitch lhe advertia que tais filmes seriam vencidos ou pela história ou pelo livro associado. Tinha razão.

Ultraperfeccionista, costumava adaptar as más obras originais a seus critérios de qualidade. Fazia questão de absoluta verossimilhança. Quando Lars Torwald entra no apartamento do fotógrafo vivido por James Stewart em Janela Indiscreta, este não porta um revólver nem qualquer outro tipo de arma para defender-se que não seja o flash com o qual procura cegar o agressor. Afinal, poucos fotógrafos carregam muito mais do que seu equipamento. Mas na obra original, o fotógrafo John “Scottie” Ferguson era jornalista. Se a obra fosse conhecida, o diretor talvez talvez não pudesse subvertê-la.

Hitchcock era tão perfeccionista que por anos alternou os poucos atores considerava bons e que, principalmente, adivinhavam seus desejos. Como eram muito diferentes, havia os filmes para Cary Grant e os para James Stewart. Sedução, humor e façanhas físicas? Grant. Ironias, simpatia e inteligência? Stewart. As mulheres eram preferenciamente loiras, mas o mestre soube reconhecer em Ingrid Bergman uma das mulheres mais belas do cinema. Se não teve coragem de pedir a Bergman que pintasse o cabelo de loiro, pediu a outras. Hitchcock insistia que as loiras eram mais “simbólicas como heroínas”, além de serem “melhores como vítimas”. A mais perfeita de todas o traiu de forma mais radical do que Bergman em seu amor ao gradioso: a musa fria e inatingível Grace Kelly, ao tornar-se pricesa de Mônaco, deixou o cinema.

Todas as loiras pós Janela Indiscreta parecem aos espectadores tentativas de fazer retornar às telas a Princesa Grace, assim como as anteriores parecem uma busca de Kelly. Mas todas elas são distantes deusas de gelo sob cabelos cor de brasa.

Em Um corpo que cai (Vertigo), James Stewart manda Kim Novak pintar seu cabelo de loiro. Em O Inquilino (The Lodger), filme mudo de 1926, há um serial killer que persegue loiras. Outras notáveis mulheres loiras são Tippi Hedren em Os Pássaros e Marnie, Dany Robin em Topázio, Eva Marie Saint em Intriga Internacional, Doris Day em O homem que sabia demais, Kim Novak em Um corpo que cai, Marlene Dietrich em Pavor nos Bastidores (1950), Julie Andrews em Cortina Rasgada, Janet Leigh em Psicose e a perfeita Grace Kelly de Janela Indiscreta e Ladrão de Casaca.

Este extraordinário artesão de filmes de suspense era também habilíssimo marqueteiro. Costumava fazer aparições súbitas em seus filmes. Estes momentos eram tão aguardados pelos fãs que, em Psicose, teve que aparecer logo no início para não prejudicar o suspense do filme com seu aparecimento, fato que provocava risadas nas sessões de cinema. Também tratou de mostrar na TV sua linguagem diversa da grande maioria das séries de sua época.Numa série antológica que não dispunha de personagens e situações fixas, temos todo o tipo de crimes com uma novidade: numa época em que o herói precisava ser um bom moço, Alfred Hitchcock deu preferência a inocentes não tão simpáticos ou corretos e a mocinhos dubitativos e suspeitos. Mesmo nesta série, Hitchcock não utilizava textos escritos especialmente. Havia uma equipe que fazia a varredura do mundo da baixa literatura em busca de histórias para serem adaptadas. Foi assim que, num dia muito especial, encontraram uma história na qual a protagonista é assassinada durante o banho.

São apenas 45 segundos, mas neles há 78 cortes. A cena cerne de Psicose demorou uma semana para ser filmada. Foi construído um chuveiro com dois metros de diâmetro para que a câmera captasse cada jato. O filme foi realizado em preto e branco para que o vermelho do sangue sobre o branco da banheira não ficasse tão chocante e a cena foi colocada logo na primeira metade do filme para que causasse estranheza. Afinal, naquela época, a atriz mais conhecida e cara do elenco não costumava ser morta logo de cara. Era contra as regras.

O estilo de Hitchcock variava muito. O que não variava eram sua extrema minúcia e apuro técnico. Quem pensar que os cortes ao estilo de videoclipe do assassinato de Psicose eram seu habitual, engana-se. Em Festim Diabólico era simulado um único e longuíssmo plano-sequência sem cortes, ao estilo do Sokúrov de Arca Russa (na verdade, Festim tinha oito imperceptíveis cortes).

Hitchcock soube como poucos que o cinema não era teatro nem literatura e muito menos a junção de ambos. Desde a época do cinema mudo, soube que tinha linguagem muito própria e que tinha de utilizar outro arsenal de armas. Como o silêncio e a reversão de expectativas, por exemplo, ou o humor inesperado. Quando alguém contrapunha outra opinião, o velho Hitch começava uma longa argumentação que iniciava sempre pelo mesmo bordão: “Considerando-se que o cinema é uma arte estritamente visual…“.

Parte-se do pátio adormecido, depois se desliza para o rosto suado de James Stewart, passa-se para sua perna engessada, depois para uma mesa onde se vê a máquina fotográfica quebrada e uma pilha de revistas e, na parede, veem-se fotos de carros de corrida saindo da pista. Nesse único primeiro movimento de câmera, fica-se sabendo onde estamos, quem é o personagem, qual é sua profissão e o que lhe aconteceu.

François Truffaut, sobre a primeira cena de Janela Indiscreta

Sim, sem dúvida, uma arte estritamente visual.

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Três excelentes filmes no findi

Três excelentes filmes no findi

oloboatrasdaportaO Lobo Atrás da Porta, de Fernando Coimbra. Excelente filme, com um conflito muito bem construído pelo diretor Fernando Coimbra. Dentro de um filme de grande violência psicológica, seu único equívoco foi na escolha de Leandra Leal para um dos papéis principais. Estava sentindo alguma coisa estranha e a Elena Romanov matou a charada. Ela é classuda demais para uma história passada num subúrbio do Rio de Janeiro. Não funciona como amante de um funcionário de empresa de ônibus. Mesmo com roupas de segunda mão, ela parece uma princesa disfarçada. Elena não é alguém que apenas vê objeções, também sugere soluções! Então, indica Cleo Pires ou Débora Secco para o papel. Concordo que Leandra Leal não serve para ser chamada de gata, deusa, diva, pitéu, essas coisas. Insisto nisso só para deixar PERFEITO um filme que já é BONÍSSIMO. Há três cenas antológicas: a do cafezinho xexelento, a da agressão cometida por Bernardo e a da incompreensão do delegado sobre o não envolvimento emocional entre os amantes. Claro que RECOMENDO MUITO.

the-lunchboxThe Lunchbox, de Ritesh Batra. um filme cheio de delicadeza que fala poeticamente sobre a solidão. Merece ser visto e que está lá na Eduardo Hirtz. É raro ver dois filmes tão bons em sequência. Acho que ambos — este e O Lobo Atrás da Porta — vão para lista de melhores de 2014. The Lunchbox recebeu, compreensivelmente, Prêmio do Público no Festival de Cannes de 2013. Uma tele-entrega equivocada coloca em contato uma jovem dona de casa com um desconhecido. Juntos, eles constroem uma relação baseada em bilhetes deixados nas marmitas nas quais as comidas são entregues. Utilizando temperos que misturam comédia e romance, a história tem como coadjuvante o velho, complexo e infalível sistema de entrega de marmitas de Mumbai. São os Dabbawallahs, que permitem que milhões de maridos possam saborear a comida de casa durante o expediente. Certo dia, uma dona de casa infeliz no casamento envia quitutes especiais para o marido. Quando este chega em casa, não comenta nada. No dia seguinte, ela envia um bilhete junto com a refeição e recebe outro, só que do estranho. Então, começam uma inusitada troca de conselhos. Filme encharcado em humanidade.

o-palacio-francesO Palácio Francês, de Bertrand Tavernier, é uma brilhante sátira a essas pessoas cheias de energia e irreflexão que são 80% (75%?) dos políticos. Infelizmente, são essas pessoas, normalmente dotadas de imensa capacidade de trabalho e ignorância, que mandam em todos nós. Sua cultura vem de manuais ou de citações, mudam de opinião a cada momento, apenas tratam da preservação de si mesmos e de seus auxiliares, os quais torturam em busca de mais e mais divulgação. Sim, 80% (75%?) são assim, basta ver a lista de nossos deputados estaduais. Apenas o personagem Maupas pensa — e ri — no filme de Tavernier, que tem um final brilhante (o qual retiro daqui a pedido de Elena). Um excelente filme desagradável, de ritmo alucinante. Recomendo. (E fica a pergunta: existe mesmo democracia?)

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O lado de Woody Allen

O lado de Woody Allen
Hoje, Allen tem 78 e Dylan 28.
A resposta de Woody Allen.

Depois de se pronunciar rapidamente contra as acusações de que teria molestado a filha adotiva, Dylan Farrow, Woody Allen falou novamente sobre o caso em uma carta publicada no jornal “The New York Times”.

Há 21 anos, quando eu ouvi pela primeira vez que Mia Farrow tinha me acusado de abuso sexual infantil, eu achei a ideia tão ridícula que eu não pensei duas vezes nisso. Estávamos envolvidos em um processo de separação terrivelmente amargo, com grande inimizade entre nós dois, e uma batalha pela custódia (dos filhos), lentamente reunindo forças. Sua maldade tão transparente me pareceu tão óbvia que eu sequer contratei um advogado para me defender. Foi o advogado que tratava dos meus trabalhos que me contou que ela estava levando a acusação à polícia e me disse que eu precisaria de um advogado criminal.

Eu ingenuamente achei que a acusação seria descartada porque, claro, eu não tinha molestado Dylan e qualquer pessoa racional iria ver a manobra para que eu fosse acusado. O bom senso iria prevalecer. Afinal, eu era um homem de 56 anos que nunca tinha sido (ou fui depois) acusado de abuso sexual infantil. Eu estava saindo com Mia por 12 anos e nunca, nesse meio tempo, ela sugeriu que eu tivesse qualquer coisa parecida com má conduta. Agora, de repente, quando eu tinha dirigido até sua casa em Connecticut em uma tarde para visitar as crianças por algumas horas, quando eu estaria jogando no campo do meu adversário feroz, com meia dúzia de pessoas presentes, quando eu estava nos felizes estágios iniciais de um novo relacionamento com a mulher com quem eu viria me casar – que eu escolheria este momento para embarcar numa carreira como molestador de crianças deveria parecer altamente improvável para uma mente mais cética. A pura falta de lógica de um cenário tão louco me pareceu que prescreveria.

Não obstante, Mia insistiu que eu tinha abusado de Dylan e a levou imediatamente a um médico para ser examinada. Dylan disse ao médico que ela não havia sido molestada. Mia então levou Dylan para tomar sorvete e, quando voltou, a criança tinha mudado sua história. A polícia começou sua investigação, uma possível denúncia pesou na balança. Eu, de bom grado, fiz um teste de detecção de mentiras e, claro, passei, porque eu não tinha nada a esconder. Pedi a Mia que fizesse o mesmo e ela não quis. Na semana passada, uma mulher chamada Stacey Nelkin, com quem eu tive um caso muitos anos atrás, foi à público para dizer que, quando eu e Mia tivemos nossa primeira batalha pela custódia, há 21 anos, ela queria que Stacey testemunhasse que ela era menor de idade quando nós saímos, apesar de isso não ser verdade. Stacey se recusou. Eu incluo esta anedota para que todos nós saibamos com que tipo de pessoa estamos lidando aqui. Dá para imaginar por que ela não quis passar por um detector de mentiras.

Nesse meio tempo, a polícia de Connecticut pediu ajuda de uma unidade especial de investigação especializada em casos do tipo, a clínica de abuso sexual infantil do Hospital Yale-New Haven. Esse grupo de homens e mulheres imparciais e experientes, a quem o promotor recorreu em busca de orientação quanto à possibilidade de abrir um processo, passou meses em uma investigação meticulosa, entrevistando todos os envolvidos e checando cada pedaço de evidência. Por fim, eles escreveram a conclusão que transcrevo aqui: “É nossa opinião, enquanto especialistas, que Dylan não foi molestada sexualmente pelo Sr. Allen. Além disso, acreditamos que as declarações de Dylan em vídeo e os depoimentos que ela nos deu durante nossas avaliações não se referem a fatos reais que teriam ocorrido no dia 4 de agosto de 1992… No desenvolvimento do nosso parecer, consideramos três hipóteses para explicar os depoimentos de Dylan. Em primeiro lugar, que as declarações de Dylan eram verdadeiras e que o Sr. Allen abusou sexualmente dela; em segundo, que o depoimento de Dylan não era verdadeiro, mas sim inventado por uma criança emocionalmente vulnerável, envolvida em uma família perturbada, em resposta a um ambiente estressante; e terceiro, que Dylan foi treinada ou influenciada por sua mãe, Sra. Farrow. Enquanto podemos concluir que Dylan não foi abusada sexualmente, não podemos definir se a segunda ou a terceira formulações são verdadeiras. Acreditamos que o mais provável é que a combinação dessas duas hipóteses explicam melhor as alegações de Dylan de abuso sexual”.

Poderia ser mais claro? Sr. Allen não molestou Dylan; provavelmente uma estressada criança de 7 anos foi orientada por Mia Farrow. Essa conclusão desapontou muita gente. O promotor esperava julgar o caso de uma celebridade e o juiz de custódia, Elliott Wilk, escreveu uma declaração muito irresponsável dizendo que, como se trata de abuso sexual, “nós provavelmente nunca saberemos o que aconteceu”.

Mas nós sabíamos, isso foi determinado e não havia equívoco sobre o fato de que nenhum abuso havia ocorrido. O juiz Wilk foi muito rude comigo e nunca aprovou meu relacionamento com Soon-Yi, filha adotiva de Mia, que estava com seus 20 e poucos anos. Ele me via como um homem mais velho explorando uma mulher muito mais nova, o que ultrajou Mia, a despeito do fato de ela ter tido um caso com um muito mais velho Frank Sinatra quando ela tinha 19. Para ser justo com o juiz Wilk, o público sentiu o mesmo desprezo sobre Soon-Yi e eu, mas apesar do que poderia parecer, nossos sentimentos eram autênticos e nós estamos muito bem casados há 16 anos com duas filhas maravilhosas, ambas adotadas (aliás, por causa do circo midiático e das falsas acusações, Soon-Yi e eu fomos cuidadosamente escrutinados tanto pela agência de adoção quanto pelos tribunais e todos abençoaram nossas adoções).

Mia ficou com a guarda das crianças e nós seguimos caminhos separados.

Eu estava com o coração partido. Moses estava com raiva de mim. Ronan eu mal conhecia porque Mia nunca me deixou chegar perto dele desde que ele nasceu e Dylan, que eu adorava e de quem eu era muito próximo, sobre quem Mia ligou para minha irmã num acesso de raiva e disse: “Ele tomou minha filha, agora eu vou tomar a dele”. Eu nunca mais a vi ou pude falar com ela, não importava o quanto eu tentasse. Eu ainda a amo profundamente e me sentia culpado que, por me apaixonar por Soon-Yi, eu a tenha colocado na posição de ser usada como um instrumento de vingança. Soon-Yi e eu fizemos inúmeras tentativas de ver Dylan, mas Mia bloqueou todas elas, acintosamente sabendo que eu a amava tanto, mas totalmente indiferente à dor e aos danos que ela estava causando em uma garotinha, apenas para satisfazer sua própria índole vingativa.

Aqui eu cito Moses Farrow, na época com 14 anos: “Minha mãe martelou para que eu odiasse meu pai por ter separado a família e molestado sexualmente minha irmã”. Moses está com 36 anos e é terapeuta familiar por profissão. “É claro que Woody não molestou minha irmã”, ele disse. “Ela o amava e esperava para vê-lo quando ele vinha visitar. Ela nunca se escondeu dele até nossa mãe conseguir criar uma atmosfera de medo e ódio contra ele”. Dylan tinha 7, Ronan tinha 4 anos e isso foi, de acordo com Moses, a história contada, ano após ano.

Faço aqui uma pausa rápida para comentar a situação de Ronan. Ele é meu filho ou, como Mia sugere, filho de Frank Sinatra? É verdade que ele se parece bastante com Frank, com os olhos azuis e os traços faciais, mas se for verdade, o que isso diz? Isso quer dizer que Mia mentiu sob juramento durante a audiência de custódia, apresentando falsamente Ronan como nosso filho? Mesmo que ele não seja filho de Frank, a possibilidade que ela levanta indica que ela estava secretamente envolvida com ele durante o tempo em que ficamos juntos. Isso sem mencionar todo o dinheiro que eu paguei de pensão para a criança. Eu estava cuidando do filho de Frank? Mais uma vez, eu quero chamar atenção para a integridade e a honestidade de uma pessoa que conduz sua vida desta maneira.

Agora, 21 anos depois, Dylan apresentou novamente as acusações que os peritos de Yale investigaram e deram como falsas. Com mais alguns toques criativos que magicamente apareceram durante os 21 anos em que ficamos sem nos falar.

Não que eu duvide que Dylan acredite que foi molestada, mas se, aos 7 anos, uma criança vulnerável foi levada por uma mãe forte a odiar seu pai porque ele é um monstro que abusou dela, é tão inconcebível que depois de tantos anos de doutrinação esta imagem que Mia queria estabelecer para mim tenha criado raízes? Não é de se admirar que os especialistas de Yale tenham apontado o aspecto de doutrinação maternal 21 anos atrás? Até mesmo o local onde o abuso sexual fabricado teria acontecido foi mal escolhido, mas interessante. Mia escolheu o sótão de sua casa de campo, um lugar que ela deveria ter percebido que eu jamais iria porque é um lugar fechado, minúsculo e apertado, onde dificilmente alguém consegue ficar em pé, e eu sou um grande claustrofóbico. Uma ou duas vezes em que ela me pediu para ir lá procurar alguma coisa eu o fiz, mas tive que sair rapidamente. Sem dúvida, a ideia do sótão veio da canção de Dory Previn, “With my daddy in the attic” (“Com meu pai no sótão”). É do mesmo disco da música que Dory compôs sobre Mia ter traído sua amizade de forma insidiosa ao roubar seu marido, André, “Beware of young girls”. Devemos nos perguntar: Dylan escreveu mesmo a carta ou foi, no mínimo, guiada por sua mãe? Será que a carta realmente beneficia Dylan ou simplesmente avança com a agenda de vingança de sua mãe? Isso é para me machucar. Há até mesmo a tentativa idiota de me causar danos profissionais ao envolver estrelas de cinema, que cheira muito mais a Mia do que a Dylan.

Depois de tudo isso, se falar era realmente uma necessidade de Dylan, ela já havia se manifestado meses antes na “Vanity Fair”. Aqui eu cito Moses Farrow novamente. “Sabendo que minha mãe costumava nos usar como peões, eu não posso confiar em nada que foi dito ou escrito por qualquer um da família”. Finalmente, Mia realmente acredita que eu molestei sua filha? O bom senso deve questionar: será que uma mãe que acredita que sua filha de 7 anos foi sexualmente abusada por um molestador (um crime muito horrível) aceitaria aparecer em um clipe usado para homenagear o criminoso no Globo de Ouro?

É claro que eu não molestei Dylan. Eu a amava e espero que um dia ela entenda como foi impedida de ter um pai amoroso e explorada por uma mãe mais interessada em sua própria raiva purulenta do que no bem-estar de sua filha. Ser ensinada a odiar seu pai e ser levada a acreditar que ele a molestou já teve um custo psicológico sobre esta encantadora jovem, e Soon-Yi e eu esperamos que um dia ela entenda quem realmente fez dela uma vítima e se reconecte conosco, como Moses fez, de uma forma amorosa e produtiva.

Ninguém quer desencorajar as vítimas de abuso a falar, mas é preciso ter em mente que às vezes há pessoas que são falsamente acusadas e que isso também é uma coisa terrivelmente destrutiva. Este texto vai ser minha palavra final sobre o caso e ninguém mais vai responder em meu nome quaisquer outros comentários feitos sobre ele por qualquer parte envolvida. Pessoas suficientes já foram magoadas.

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O caso Woody Allen: abuso não se relativiza, mas há que provar

O caso Woody Allen: abuso não se relativiza, mas há que provar

Provavelmente, as acusações de abuso que feitas a Woody Allen sejam mesmo verdadeiras, que o diga seu casamento. Abuso é uma coisa que não pode ser relativizada — é uma violência inaudita, é crime e ponto. Não me venham com papos de que o(a) menor estava pedindo e outras explicações, etc. A responsabilidade é sempre do adulto. Não posso afirmar com certeza, é claro, mas apostaria que Allen é um escroto do gênero abusador.

Estas questões são muito complicadas. Aqui e ali, ouço relatos do gênero “fui abusada(o)” desde que me conheço por gente. Todos feitos por adultos. Sabe-se que a criança abusada raramente acusa. A maioria sente-se impotente para fazê-lo, até porque muitas vezes trata-se de alguém conhecido ou muito próximo. Na maioria das vezes, o abusador é uma pessoa normal, até mesmo querida pelas crianças e pelos adolescentes. A vítima tem a impressão de estar errada, de ser ela o problema e poucos casos são denunciados no momento em que ocorrem. Parece algo auto-imune.

Hoje, Allen tem 78 e Dylan 28.
Hoje, Allen tem 78 e Dylan 28.

Tive a sorte de ter passado longe de tudo isso, mas, como dizia, ouvi relatos dolorosos e verdadeiríssimos e outros que são realmente difíceis de acreditar. Na verdade, não acredito em apenas um. A pessoa tinha o vício de ser vítima em todas as situações e só anos depois dei-me conta de que as circunstâncias narradas eram absolutamente impossíveis, dado o ano a que “o conto” remetia. (Havia uma situação-chave cujo contexto simplesmente não existia no final da década de 70, início dos 80…). Mas a narradora parecia acreditar inteiramente no que dizia e chorava enquanto falava. O filme A Caça mostra que a questão do abuso tem de ser comprovada, que não basta apenas a acusação.

Tais complicações também existem na família Allen-Farrow: a loucura não está ausente nela. Acho que Mia Farrow não cabe em nenhum modelo de normalidade e guarda enorme ódio a Allen. Mas é mãe da vítima, que fora adotada pelo casal. Também acho que Allen não cabe no citado modelo, mas nunca foi a um tribunal se explicar, né? Ele apenas nega o fato como “falso e vergonhoso”. Apesar do que suponho, nada do que dizem dele foi provado. O que se sabe é que Dylan diz que houve um episódio horrível e nós sabemos que era uma casa de malucos. Então, o linchamento de seu nome é meio irresponsável, não?

Depois, quando eu digo que o mundo é complexo…

Tenho a cabeça aberta sobre sexo. Eu não estou acima de qualquer suspeita, quando muito, estou abaixo delas. Digo, se eu fosse pego num ninho de amor com 15 garotas de 12 anos de idade amanhã, as pessoas iam pensar: é, eu sempre soube disso a respeito dele.

Woody Allen, na revista People em 1976.

.oOo.

Saiu agora no Uol (05/02/2014, 15h30) o que reproduzo abaixo:

Filho de Allen e Farrow defende o pai e diz que mãe o fez odiá-lo por anos

Moses Farrow, filho adotivo de Woody Allen e Mia Farrow, se pronunciou a respeito das declarações de sua irmã Dylan, que, em carta aberta ao “New York Times”, acusou o pai de ter abusado sexualmente dela quando ela tinha sete anos de idade. Em entrevista à revista “People”, Moses defendeu Allen e culpou a mãe por toda a situação.

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Eliane Brum sobre Ninfomaníaca: tô fora, briguem com ela, por favor

Eliane Brum sobre Ninfomaníaca: tô fora, briguem com ela, por favor

(Claro que concordo com cada palavra do artigo de Eliane Brum abaixo. Porém, se há uma coisa da qual enchi o saco é de apreciar cada filme de Lars von Trier — com exceção de Manderlay e restrições aqui e ali — e ser atacado por isso. Então, gente, tudo o que von Trier faz é uma completa bobagem. É um autor sem voz ou criatividade que surfa na própria crise autoral. Trata-se apenas de um bom marqueteiro (o que ele também é). Ele quer ser Tarkovski, Bergman, Dreyer, só que é um engodo. A chateação é tanta que estou fazendo de conta que não vi Ninfomaníaca — Volume 1. Mas, saibam, vi e estou louco pela continuação.

É óbvio que A Grande Beleza é o melhor filme deste início de ano, mas Ninfo não é nada, mas nada insatisfatório.

Ah, reclamações para o e-mail de Eliane Brum, ao final do post. Tô fora, já disse).

Só a cena com Uma Thurman vale o ingresso
Só a cena com Uma Thurman vale o ingresso

“Preencha todos os meus buracos”

Em Ninfomaníaca – parte 1, o polêmico diretor dinamarquês Lars Von Trier faz um filme delicado e de extrema beleza sobre o mistério da sexualidade feminina. E entedia parte da plateia. Por quê?

Por Eliane Brum

(Se você não assistiu à Ninfomaníaca e prefere não conhecer detalhes do filme antes de vê-lo, pare por aqui.)

“Preencha todos os meus buracos” é a penúltima frase do final de Ninfomaníaca, o mais recente filme de Lars Von Trier. Do final da primeira parte, já que a segunda está prevista para estrear nos cinemas brasileiros somente em março. A versão completa, sem cortes, com cinco horas de duração, será exibida neste mês no Festival de Berlim. Joe, a protagonista, pela primeira vez faz sexo com amor. Quando ela iniciava sua busca (pelo quê?), começando uma ininterrupta série de relações sexuais com homens variados e aparentemente aleatórios – no trem, no escritório dela, no deles, no hospital onde seu pai morre, em qualquer lugar, até na cama –, sua melhor amiga havia lhe sussurrado: “O amor é o ingrediente secreto do sexo”. Joe não acredita na frase, ela despreza o amor. Joe e suas amigas fazem uma guerrilha contra o amor, é proibido transar com o mesmo homem mais de uma vez. Mas, em algum ponto de sua busca incansável, ela ama. E, ao fazer sexo com o homem que ama, Joe pede: “Preencha todos os meus buracos”.

Lembrem-se. Esta é a penúltima frase. Ela é seguida de outra, mas essa só alcançaremos mais adiante.

Ninfomaníaca é um filme delicado, de extrema beleza, sobre a sexualidade feminina. O que Joe busca, ao se deixar penetrar por tantos pênis diferentes? Mais do que se deixar dominar, ela acredita dominá-los. Os pênis de todas as cores, formatos e tamanhos são objetos que fazem o que ela quer quando se enfiam dentro dela. Fazem o que ela quer inclusive quando ela permite que façam o que querem. Indiferente, ela os manipula, os engole e os cospe. Por quase duas horas de filme a vemos se mover com o membro de tantos dentro de si, mover-se mecanicamente.

Joe se deixa penetrar para provar que não pode ser penetrada

No marketing esperto que antecipou Ninfomaníaca, os atores apareciam em cartazes com os rostos contorcidos pelo orgasmo. Era uma esperteza, mas também uma ironia. Quem vai ao cinema para se estimular com cenas excitantes, em geral decepciona-se e entedia-se. Ninfomaníaca não é nem pornográfico nem erótico, o sexo feminino está como aquilo que não pode ser apreendido nem decifrado. Ao identificar-se como “ninfomaníaca”, Joe não diz nada sobre si. Dizer que ela é obcecada por sexo é continuar não dizendo nada.

Vivida na juventude pela bela atriz Stacy Martin, com seu corpo esguio, seios pequenos e perfeitos, Joe seduz como uma Lolita. Mas, para provocar tesão naqueles que a espreitam da poltrona do cinema, ela precisaria fingir que está se divertindo. Mais do que isso. Joe precisaria fingir que está completa, que aquele pênis a satisfaz inteiramente e que nada lhe falta. Mas no filme, onde a vida se dá para além do marketing, ela é aquela que tem um pinto enfiado na vagina, nove, dez vezes por dia, mas não está lá. Isso talvez seja bem desestabilizador para quem está na plateia, ao ser obrigado a lembrar que, com mais frequência do que admite, seu parceiro/parceira não está lá. E às vezes somos nós que não estamos lá.

Joe, linda e jovem, parece reeditar a cada relação sexual a impossibilidade do encontro. Ela se deixa penetrar para provar que não pode ser penetrada. Cada pênis a encontra vazia. A seu comando preenche a sua vagina. Mas, se a toca concretamente, no mais fundo de seu corpo, ao mesmo tempo não a toca. O pênis escorrega para fora de cada um de seus buracos sem deixar marca de sua passagem. E Joe segue, em abissal solidão, uma mulher não marcada.

Razão e cultura aparecem como tentativas de enquadrar a sexualidade, dar-lhe limites, controlar o incontrolável.

Dia após dia, por anos. Dezenas, centenas de vezes, ela repete esse ritual iniciado quando era uma menina de colégio. Ao alcançar a puberdade, a virgindade perturba Joe. Ela precisa se livrar dessa porta fechada que dá acesso ao seu lado de dentro. Um hímen é também um aviso de uma barreira que pode ser transposta. E, ao ser transposta, lançá-la no incontrolável do encontro com o outro. Ao mesmo tempo que Joe não acredita nesta possibilidade, ela também a teme. Teme tanto que precisa se livrar logo dessa ameaça. E então provar que sua inviolabilidade não depende de um hímen.

Aparece diante do garoto mais velho e popular, um que tem uma moto, com suas meias soquetes e roupa de colegial. Jerome, precisamos lembrar esse nome. Pede-lhe que tire sua virgindade. O garoto é o primeiro a provar a veracidade da crença de Joe: para além da barreira do hímen, há apenas buracos, buracos que jamais poderão ser preenchidos. Não apenas a vagina, mas também a boca e o ânus. Ele a trata como uma portadora de buracos nos quais ele pode meter seu pênis. Oito estocadas – ela registra o número. Três na vagina, cinco no ânus. E está tudo terminado. Só que nem começou.

Em seguida, Jerome (Shia LaBeouf) volta para a moto, e Joe sai cambaleando, tão sozinha como sempre e agora também machucada. Ela pediu, ele fez o que ela pediu.Ofereceu-se a ele como um buraco que ainda tinha uma incômoda barreira, ele a tratou como a portadora de um buraco e eliminou a incômoda barreira. Uma negociação honesta, nem por isso menos terrível, já que nenhum encontro é possível nesses termos. Mas Joe o odeia por isso, odeia o garoto da moto porque ele foi o primeiro a obedecê-la. Ainda assim, deve restar uma dúvida dentro de Joe, porque ela precisa renovar a certeza de não ser tocada dia após dia, com todos os homens que puder. Uma dúvida ou, quem sabe, uma esperança.

Lars Von Trier é mais uma vez brilhante ao construir a narrativa de Joe enxertando razão e cultura nas cenas de sexo. Joe fazendo sexo oral, Joe sentada sobre um pênis após outro, Joe fingindo o maior de todos os orgasmos. Uma obra de Bach, uma história de Edgar Alan Poe, a fórmula de Fibonacci nas oito estocadas que supostamente lhe tiram a virgindade. Números para contabilizar o desempenho de Joe. Razão e cultura como o que também são: tentativas de normatizar o inormatizável da sexualidade feminina, o incontrolável que escapa. Ao longo de toda a primeira parte do filme, razão e cultura aparecem como contrapontos às pulsões, a sexual e a de morte. Como uma tentativa de enquadrar a sexualidade, explicá-la e dar-lhe limites. Mente e corpo, a falsa dicotomia que a modernidade ocidental acolheu com tanto prejuízo para todos nós.

Esse embate alcança seu ápice quando Joe testemunha o morrer do pai, em uma das cenas mais belas do filme. Ela amava o pai, um médico, um homem da razão. Na primeira conversa entre os dois, na cama do hospital, o pai está sereno. Ele já testemunhou muitos morrerem, ele sabe o que acontece com a fisiologia do corpo, ele sabe quais são as etapas até a sua morte, ele sabe de que drogas seus colegas dispõem e quais usarão. Ele sabe. Está preparado, está no controle. O pai de Joe (Christian Slater) recita Epicuro: “A morte não é nada para nós, pois, quando existimos, não existe a morte. E, quando existe a morte, não existimos mais”.

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Não cuidaram do cinema ontem

Não cuidaram do cinema ontem

O dia de ontem, 2 de fevereiro, um domingo, marcou a morte de dois grandes artistas do cinema: o diretor brasileiro Eduardo Coutinho e o ator norte-americano Philip Seymour Hoffman. Coutinho, 81, foi morto a facadas pelo filho Daniel, que sofre de esquizofrenia e que também tentou matar a mãe, que está internada em estado grave, e matar-se. É o cineasta de documentários fundamentais como Cabra marcado para morrer e Edifício Master, além da obra-prima Jogo de Cena, onde utilizou-se de mulheres anônimas e atrizes como Marília Pera e Andréa Beltrão. Chamá-lo o cineasta do humano não é nenhum exagero. Coutinho tinha carinho e compaixão por seus retratados. Foi também um intenso e interessado entrevistador.

ECEnquanto isso, em Nova Iorque, morria Philip Seymour Hoffman, 46. Ruivo, gordinho e imenso ator, ele era o preferido de P.T. Anderson. Realizou trabalhos incríveis em Boogie Nights (1997), Magnólia (1998), O Mestre (2012), sem esquecer de filmes que fez com outros diretores, casos de Dúvida (2008), Capote (2005) e Antes que o Diabo Saiba que Você Está Morto (2007). Segundo o Wall Street Journal, o ator tinha uma agulha de seringa no braço e envelopes com heroína ao seu redor.

PSH

Não cuidaram do cinema ontem.

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Tarkovski e Bach arrasando em Solaris

E Lars von Trier resolveu “roubar” a escolha de seu mestre em Ninfomaníaca

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Ricardo Darín num tempo em que alguns mudam subitamente suas convicções…

Ricardo Darín num tempo em que alguns mudam subitamente suas convicções…

Ricardo Darín foi entrevistado por Alejandro Fantino no programa Animales sueltos. Durante a conversa, o apresentador perguntou:

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Fantino: ¿Es cierto que vos rechazaste una oferta para filmar en Hollywood con Tarantino?.-

Darín: Sí, claro.-

F: Y ¿Por qué?.-

D: Porque me ofrecieron el papel principal pero tenía que hacer de narco mexicano, y yo le pregunté a su productor por qué los mexicanos tienen que seguir haciendo de narcos si los que más consumen merca a nivel planetario son los Yankees.-

F: ¿Y qué te contestó?.-

D: Bueno… a ver… la respuesta que me dio me molestó tanto que afirmó que estaba en lo correcto no filmar con Tarantino. Me dijo: “Entonces es una cuestión de plata, diga cuánto más quiere que se la pagamos, usted ponga la cifra”. Es decir, no pueden llegar a ver ni comprender que hay códigos por fuera del dinero que algunos todavía portamos, ¿me explico?.-

F: Mmm… no… la verdad que no.-

D: ¿Cómo que no?, Ale, vos sos un tipo piola, tenés que comprender de qué te hablo.-

F: Pero podrías haber tenido más plata.-

D: ¿Más plata? ¿ser millonario?… y… ¿Para qué?.-

F: ¿Cómo para qué?… para ser feliz!.-

D: ¿Feliz con más plata?, ¿De qué me hablás?.-

F: Bueno… todos quisiéramos tener más plata y ser felices.-

D: Ale, yo tengo plata, tengo un auto importado de alta gama. Desayuno, ceno y almuerzo lo que quiero y puedo darme dos duchas calientes al día ¿vos tenés idea de cuánta gente del mundo puede darse dos baños calientes al día?, muy poca gente puede darse ese gusto. Y como no me considero un excelente actor, siempre digo que lo mío fue pura suerte ¿me entendés? En este mundo capitalista salvaje yo soy un tipo de muchísima suerte. Yo soy un privilegiado entre millones de personas, y además tengo la suerte de poder ver eso en mí, que me permite tener una buena cuenta bancaria y no creérmela. Yo me puedo ver desde afuera y me digo “Puta, loco, qué suerte que tuviste”.-

F: Pero hubieras filmado en Hollywood… y no podés negarme que de Tarantino al Oscar hay un paso.-

D: Creo no me sé explicar bien… yo ya estuve en la ceremonia de los Oscar y no me gustó, todo es de plástico dorado, hasta las relaciones entre las personas. Fui, la pasé lindo, lo disfruté… pero ese mundo no es lo mío, no es lo que yo elegí en esta vida.”

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Sensacional: as locações de A Laranja Mecânica, hoje

Via Fernando Guimarães

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Breve nota sobre Laranja Mecânica

Breve nota sobre Laranja Mecânica

Na última sexta-feira, assisti pela, sei lá, décima vez o filme Laranja Mecânica, de Stanley Kubrick. Estava com minha filha, admiradora incondicional da obra do diretor. Novamente me maravilhei e caí fascinado por Alex. É óbvio o gênero de identificação que este charmoso vilão exerce sobre nós. Certamente o personagem encarna nosso inconsciente desejo de violência e morte. Quem nega o fato de que grande parte da longevidade do filme depende de Alex e de seu trio de drugos foi invadido pela distorção que o politicamente correto cria sobre algumas pessoas mais limitadas, as quais deixam de perceber que não há consciência e nada de razoável na inconsciência. E que esta existe e existirá sempre. Já ouvi pessoas falarem de Alex como se estivessem na presença do corruptor. Humbert Humbert, de Lolita, sofre do mesmo mal. É como pensar que Deus possa existir sem o Diabo, sem notar que ambos são, afinal, parte do mesma lenda e que, sem um, o outro não existe.

De outra parte, que cenas belíssimas, que planos bem desenhados, que boas ideias de Kubrick. O que é a cena da loja de discos com a visita ao quarto de Alex? E a utilização da música? Obra-prima, obra-prima.

Vestido como Beethoven, Alex aborda as meninas.
Vestido como Beethoven, Alex aborda as meninas na loja de discos.

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Cena de Fahrenheit 451 (1966), clássico de François Truffaut

Cena de Fahrenheit 451 (1966), clássico de François Truffaut

Com Julie Christie e Oskar Werner. Baseado no romance homônimo de Ray Bradbury (1920-2012) que apresenta um futuro onde todos os livros são proibidos, opiniões próprias são consideradas antissociais e hedonistas, e o pensamento crítico é suprimido. O personagem central, Montag (Werner), trabalha como “bombeiro” (o que na história significa “incendiário de livros”). O número 451 é a temperatura (em graus Fahrenheit) da queima do papel, equivalente a 233 graus Celsius.

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Fonte das imagens: o blog O homem que sabia demasiado.

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Porque hoje é sábado, assista a um Grande Clássico com Milton Ribeiro

Porque hoje é sábado, assista a um Grande Clássico com Milton Ribeiro

Milton Ribeiro faz tudo por você. Primeiro, ele mostra o cartaz do filme.

Sim, Janela Indiscreta! Então, ele pega sua mão, você entra e… Silêncio, vai começar!

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L.B. “Jeff” Jeffries: I get myself half killed for you and you reward me by stealing my assignments.

Gunderson: I didn’t ask you to stand in the middle of that automobile racetrack.

Tradução: L.B. “Jeff” Jeffries: Eu me peguei metade morto e ganhei de prêmio um pé quebrado, porra. Gunderson: Eu não perguntei se tu precisavas ficar no meio da pista bem na frente do automóvel.

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Gunderson: It’s about time you got married, before you turn into a lonesome and bitter old man. Jeff: Yeah, can’t you just see me, rushing home to a hot apartment to listen to the automatic laundry and the electric dishwasher and the garbage disposal and the nagging wife… Gunderson: Jeff, wives don’t nag anymore. They discuss. Jeff: Oh, is that so, is that so? Well, maybe in the high-rent district they discuss. In my neighborhood they still nag.

Tradução: Gunderson: É sobre o tempo que não comes ninguém, quem não come ninguém acaba como o Reinaldo Azevedo. Jeff: Sim, como você e os justos da veja. Não quero que minha libido ouça a Grace Kelly dizer automaticamente “Querido, leva o lixo na rua?”. Gunderson: Mulheres não discutem, elas mandam, porra. Jeff: E se tomam uma porrada a discussão acaba com eles na Delegacia da Mulher. E na minha vizinhança ainda, né?

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Jeff’s rear window characters:

Tradução: Os caracteres da janela do Windows de Jeff:

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Miss Torso, the ballet dancer

Tradução: Uma dançarina gostosa que vai se apaixonar por um baixinho.

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Mr. Lars Thorwald and his nagging wife

Tradução: O vizinho assassino com a esposa entrevada, né?

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the newly-wed… all of which comment on Jeff-Lisa relationship or reflect its possible future

Tradução: Os recém-casados fofos… Que ficarão todo o tempo fazendo aquilo que Lisa (Grace Kelly) quer fazer com Jeff (James Stewart), apesar de ele só quer saber de fotografia e de coçar o pé.

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Stella: Look, Mr. Jeffries, I’m not an educated woman, but I can tell you one thing. When a man and woman see each other and like each other, they oughta come together–wham!–like a couple of taxis on Broadway, and not sit around analyzing each other like two specimens in a bottle. Jeff: There’s an intelligent way to approach marriage. Stella: Intelligence! Nothing has caused the human race so much touble as intelligence. Ha, modern marriage! Jeff: Now we’ve progressed emotionally. Stella: Baloney! Once, it was see somebody, get excited, get married. Now, it’s read a lot of books, fence with a lot of four-syllable words, psychoanalyze each other until you can’t tell the difference between a petting party and a civil service exam.

Tradução: — Eu não sou educada, por isso quero ver sexo neste filme e não masturbações sobre vizinhos. — O casamento é um jeito inteligente de acabar com o sexo. — Inteligência. Os sionistas são mais educados e inteligentes e olha o que eles fazem na Palestina. — Eles são mais desenvolvidos. — Por isso que fodem com os coitados. Ficam excitados. Depois vão para um psicanalista ou um rabino e não sabem mais a diferença entre uma exposição de filhotes e um exame para entrar a serviço do exército.

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Lisa…

Tradução: Que fotografia, que nada…

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Carol…

Tradução: Quero é te lamber inteirinho…

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Tabu, de Miguel Gomes

Tabu, de Miguel Gomes

Eu simplesmente adorei Tabu (Portugal, 2012). O filme se passa no sope do fictício Monte Tabu. Minha companhia acrescentou que é um monte e é um tabu, e eu acrescento que Tabu também é uma homenagem à obra de Murnau de 1931 e o 28 de dezembro, primeira data que aparece no filme, é o dia da fundação do próprio cinema pelos irmãos Lumière. Mas essas referências — propositais ou não — ficam opacas frente à qualidade da narrativa e do tema.

Aurora e Santa no Paraíso Perdido
Aurora e Santa no Paraíso Perdido

Tabu é, aparentemente, uma história de amor. Um ou dois pensamentos depois já é um filme sobre as coisas que, sob a passagem do tempo, passam a existir como memória, como quase ficção. Dividido em três partes (uma curta introdução, Paraíso Perdido e Paraíso, em ordem cronológica inversa), Tabu joga informações nas duas primeiras partes e as explica na terceira, uma curiosa e longa seção onde nenhum personagem é ouvido. Há apenas o som ambiente e a narração, em off, do próprio diretor Gomes. As pessoas falam umas com as outras, mas não as ouvimos. Com este efeito simples, ele obtém uma mistura de fantasmagoria e realidade, criadas sobre ruídos e excelente música. Não, não pensem que é uma obra experimental. É um filme de sabor clássico, mas que utiliza brilhantes artifícios. Miguel Gomes explica que, na terceira parte, o Paraíso a que me refiro, atirou fora o roteiro e os atores não sabiam o que iam fazer. “Como tudo na vida, corremos o risco de nos vermos frustrados. Improvisamos muito. Como a vida, o cinema é um jogo”.

Não vou dar spoilers, tá? Pilar é vizinha de Aurora, uma anciã demenciada que vive sob os cuidados da uma empregada cabo-verdiana chamada de Santa. A filha de Aurora não quer saber da mãe e paga para ficar longe dela, enquanto a velha reclama de Santa e busca auxílio em Pilar. Então Aurora morre para que o filme receba um de seus amigos, aquele que vai narrar para Pilar a aventura de sua amiga na África de pouco antes do início da Guerra Colonial Portuguesa. E então tudo ganha sentido através de imagens.

A fotografia em preto e branco, no formato do cinema mudo, registrada em película da extinta Kodak, mostra os últimos dias de um período da história portuguesa e moçambicana. É extinção por todo lado. Como o Tabu de Murnau todos parecem assombrados por uma cultura que é incompreensível para o Ocidente, apesar de manterem-se cantando seus rocks, procurando ignorar a realidade.

Mas o mais importante de Tabu não é a nesga de painel africano que ele mostra, é a lenta reconstrução de um sonho (ou de um paraíso) para o qual não há ponte de acesso, a não ser algumas imagens na memória. Como último destaque desta resenha nada planejada, sublinho a alta qualidade poética do texto narrado em off em Paraíso.

Aurora e Gian-luca no Paraíso
Aurora e Gian-Luca no Paraíso

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Só para quem leu ‘O mestre e Margarida’ (ou gosta de Sympathy for the Devil)

Só para quem leu ‘O mestre e Margarida’ (ou gosta de Sympathy for the Devil)

Maiores detalhes, aqui. As imagens são da minissérie russa homônima, baseada da obra de Bulgákov. O autor do vídeo abaixo colocou como trilha sonora Sympathy for the devil, dos Rolling Stones, canção cuja letra é baseada no livro. Ele tentou fazer uma sincronia entre letra e imagens. Muitas vezes conseguiu, claro. No show dos Stones que o Multishow recentemente apresentou, Mick Jagger adentrou o palco para cantar Sympathy… vestido como um enorme gato preto. Letra e tradução estão abaixo.

Sympathy For The Devil

Please allow me to introduce myself
I’m a man of wealth and taste
I’ve been around for a many long years
Stole many a man’s soul and faith

And I was ‘round when Jesus Christ
Had his moment of doubt and pain
Made damn sure that Pilate
Washed his hands and sealed his fate

Pleased to meet you
Hope you guess my name
But what’s puzzling you
Is the nature of my game

I stuck around St. Petersburg
When I saw it was a time for a change
Killed the czar and his ministers
Anastasia screamed in vain

I rode a tank
Held a general’s rank
When the blitzkrieg raged
And the bodies stank

Pleased to meet you
Hope you guess my name, oh yeah
Ah, what’s puzzling you
Is the nature of my game, oh yeah
(woo woo, woo woo)

I watched with glee
While your kings and queens
Fought for ten decades
For the gods they made
(woo woo, woo woo)

I shouted out,
“Who killed the Kennedys?”
When after all
It was you and me
(who who, who who)

Let me please introduce myself
I’m a man of wealth and taste
And I laid traps for troubadours
Who get killed before they reached Bombay
(woo woo, who who)

Pleased to meet you
Hope you guessed my name, oh yeah
(who who)
But what’s puzzling you
Is the nature of my game, oh yeah, get down, baby
(who who, who who)

Pleased to meet you
Hope you guessed my name, oh yeah
But what’s confusing you
Is just the nature of my game
(woo woo, who who)

Just as every cop is a criminal
And all the sinners saints
As heads is tails
Just call me Lucifer
‘Cause I’m in need of some restraint
(who who, who who)

So if you meet me
Have some courtesy
Have some sympathy, and some taste
(woo woo)
Use all your well-learned politesse
Or I’ll lay your soul to waste, um yeah
(woo woo, woo woo)

Pleased to meet you
Hope you guessed my name, um yeah
(who who)
But what’s puzzling you
Is the nature of my game, um mean it, get down
(woo woo, woo woo)

Woo, who
Oh yeah, get on down
Oh yeah
Oh yeah!
(woo woo)

Tell me baby, what’s my name
Tell me honey, can ya guess my name
Tell me baby, what’s my name
I tell you one time, you’re to blame

Oh, who
woo, woo
Woo, who
Woo, woo
Woo, who, who
Woo, who, who
Oh, yeah

What’s my name
Tell me, baby, what’s my name
Tell me, sweetie, what’s my name

Woo, who, who
Woo, who, who
Woo, who, who
Woo, who, who
Woo, who, who
Woo, who, who
Oh, yeah
Woo woo
Woo woo

Simpatia Pelo Diabo

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Dossiê Jango, de Paulo Henrique Fontenelle

Dossiê Jango, de Paulo Henrique Fontenelle

“Tudo que pensamos ser verdade um dia muda”, diz uma voz em off na abertura de Dossiê Jango. Talvez para as pessoas de minha geração — nascidas ali pelo final dos anos 50, início dos 60 — , a estranha morte de João Goulart e as repetidas acusações de Brizola de que Jango fora assassinado fossem há muito conhecidas, mas nunca é tarde para fundamentar tais suspeitas, ainda mais em época de Comissão da Verdade, mesmo que de mentirinha.

O excelente filme de Fontenelle inicia com uma contextualização de uns 40 minutos. Claro que ela é necessária, considerando-se o nível heterogêneo de informação dos espectadores. Ela não incomoda em nada, é elegante e interessante. Depois o filme entra de forma consistente na questão da morte de Jango. Não vou contar aqui o desfecho porque também Fontenelle faz uma espécie de suspense até revelar o motivo e o calibre das suspeitas. Mas, olha, é chumbo grosso, não são palavras ao vento. Os milicos viam três figuras como muito ameaçadoras nos anos 70: o rei posto João Goulart, o ex-presidente Juscelino Kubitschek e Carlos Lacerda. Não foi por acaso que o trio morreu em datas tão próximas, assim como mais 15 importantes políticos argentinos e uruguaios. Como morriam? Vejam o filme.

O filme  não somente confirma o talento do cinema brasileiro para o gênero documentário, como deveria ser obrigatório para estudantes secundaristas. Afinal, tenho visto muita gente que parece não saber bem o que é uma ditadura.

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Sobre Nietzsche e “O Cavalo de Turim”, obra-prima de Béla Tarr

Sobre Nietzsche e “O Cavalo de Turim”, obra-prima de Béla Tarr

Philip Gastal Mayer escreveu o que segue em seu Facebook. E me mandou ler, escrevendo apenas Milton Ribeiro. Maiores detalhes sobre o filme aqui. O Philip, além de bom amigo e excelente violoncelista da Ospa, é um grande leitor de Nietzsche e chega matando a pau.

Elena Romanov, esse é o trecho que te falei do eterno retorno de Nietzsche, é do livro “A Gaia Ciência”, foi o que me veio à cabeça quando assisti o filme:

“E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: “Esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e sequência – e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez, e tu com ela, poeirinha da poeira!”. Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasses assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal, em que lhe responderías: “Tu és um deus e nunca ouvi nada mais divino!” Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te triturasse: a pergunta diante de tudo e de cada coisa: “Quero isto ainda uma vez e inúmeras vezes?” pesaria como o mais pesado dos pesos sobre o teu agir! Ou, então, como terias de ficar de bem contigo e mesmo com a vida, para não desejar nada mais do que essa última, eterna confirmação e chancela?” – F. Nietzsche

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