E as coisas mergulhadas no sem-nome Da sua própria ausência regressadas Uma por uma ao seu nome respondiam Como sendo criadas
Sophia de Mello Breyner Andresen
O 31 de agosto de 2013 foi um dia de surpreendentes mudanças. Eu e ela estávamos muito deprimidos e machucados. Obedecendo minhas irmã e filha, eu estava quieto, proibido de contar tudo o que via, lia e de transcrever as conversas maravilhosas que tive. Enquanto isso, íamos lambendo as feridas um do outro e, naquele dia, resolvemos ir adiante por nós mesmos. Eu desejava isso há algum tempo e dizia isso de meu modo nada discreto. Um dia, meio bêbado durante um jantar, fui pretensioso o suficiente para pedir que ela me desse um pouco de tristeza para que eu pudesse devolvê-la na forma de boas lembranças. E ela terminou aceitando, numa estratégia para livrar-se do passado. Curiosamente, depois do dia 31, aqueles poucos sorrisos hostis de ironia — Salve, Paulinho da Viola, outro traído! — transformaram-se em esgares de ódio. E passei a amar a decadência, pois ela se manifestava de modo indiscreto, cumprindo meu papel de forma mais eficiente e autônoma.
Então, o 31 de agosto de 2013 foi o dia em que descobri que sobreviveria ao luto. Foi o dia em que vi iniciar um lento e novo processo, para o qual tínhamos exigências pragmáticas e potencialmente injustas. Desta vez, queríamos a qualidade de não precisar mudar muito para se adaptar um ao outro. Mas, apesar de rirmos demais quando juntos, estávamos mudados e esquisitos. Eu perdera a vontade de ler — coisa estranhíssima em mim –; ela, a vontade de tocar violino só por tocar, passando a manter apenas o estritamente necessário à sua profissão. A natureza do que nos acontecera cobrava sua conta e sempre voltávamos ao nosso começo de lamber feridas um do outro, pois a natureza é circular como este texto, além de não ser nada harmônica, mas caótica, predadora e violenta. E assim, indo e vindo, lentamente, fomos subindo como um casal de Chagall, observando o redemoinho no mar sob nosso voo. E, subindo, fomos adquirindo enorme confiança em nossos abraços e em nosso recomeço, nomeando-nos novamente como Elena e Milton, duas pessoas mais ou menos ímpares, frágeis e apaixonadas.
Estamos muito bem. Vivo um período inédito, realmente diferente de tudo o que vivi antes. Deve ser a felicidade possível, pois…
Tem alguma coisa me incomodando. Acho que sou eu. – WOODY ALLEN
Primeiro Movimento – Molto Vivace Paroxístico: É ridículo utilizar extrair a pasta de dentes apertando-se no meio do tubo, o correto é vir de baixo para cima. É ridículo tomar banho sem começar por cima, ou seja, pela cabeça, pescoço, tronco e assim por diante. É ridículo não se ouvir a-ten-ta-men-te todos os CDs que se compra ou ganha para só depois guardá-los. É ridículo não possuir uma montanha de livros sobre o criado-mudo. É patético ler sem uma caneta ou lápis na mão. É ridículo sair de casa sem antes dar uma olhada nos e-mails. É ridículo não comer tudo o que está no prato. É ridículo tomar vinho sem um copo d`água ao lado. É ridículo pôr o cinto de segurança com o carro parado. É equivocado não dizer todos os dias para a Elena que a amo. É ridículo não ficar cuidando o taxímetro (pois este pode disparar a qualquer momento como um ventilador). É ridículo não usar as roupas pela ordem – colocando embaixo a recém lavada e pegando sempre a de cima. É natural escrever o texto caminhando ou correndo e dizer que já está pronto, mesmo quando ainda não se passou para o computador. É maníaco achar que tenho que responder a todos os comentários. É reparação maníaca achar que toda a brincadeira pode ofender e que é bom fazer um agrado depois. É maníaco decorar fatos e datas, mesmo sem querer. É compreensível esconder algumas opiniões. É lógico pensar que as pessoas que não gostam de crianças são potencialmente más. É inteligente explicar para uma criancinha que estar doente e com dor não é uma punição. É maníaco acusar mentalmente todos os entediados de deprimidos. É maníaco achar que todos os deprimidos são muito chatos. É ridículo achar que todos os chatos têm pais chatos, apesar do que mostra a experiência. É lógico pensar que os de língua alemã são os melhores (Bach, Musil, Mann, Beethoven, Brahms, Bernhard, Kafka, Mozart, Goethe, Heine, Haydn, Handel, quem tem isso?). É lógico pensar que alemães podem ser também os piores. É paradoxal achar que uma mulher ou mostra parte das pernas ou parte dos seios. É ridículo pensar que se ela mostrar os dois estará denotando vulgaridade, principalmente quando se tem interesse em ver tudo. É paradoxal torcer apaixonadamente pelo Inter e achar estranho que alguém possa torcer da mesma forma por nosso adversário. É paradoxal achar docemente rídiculas as brincadeiras amorosas entre pais e filhos quando passamos nos gosmeando com os nossos. É paradoxal sonhar com a megasena quando nunca se aposta. É lógico pensar que os adultos que dizem não gostar de presentes estão negando sua infância. É ridículo fantasiar sobre jogos de futebol. É lógico que nos sentimos aliviados quando fazemos um personagem de ficção sofrer. É lógico pensar que o mundo é injusto. É lógico pensar que os melhores seres humanos normalmente se ralam. Mas será maníaco — ou é apenas experiência? — percorrer tantos caminhos mentais pouco menos que pré-moldados?
Segundo Movimento – Adágio Periódico: Não há como fazer Milton Ribeiro ler ou folhear uma revista ou jornal da primeira à última página. Normalmente, a seção cultural e a esportiva estão no final e estes assuntos são os que mais me interessam. Daí, a mania. Irrita-me quando divido a leitura de uma publicação com outra pessoa e esta quer lê-la da página 1 para a 2 e assim por diante. Ninguém parece entender que tenho idéias claras e procedimentos rigorosos e que estes indicam que o correto é de trás para a frente. Melhor ler sozinho.
Terceiro Movimento – Surdo Assai: A música deve ser ouvida como se fosse ao vivo. Esta coisinha de música ambiente é para enfastiados e para cobrir silêncios em reuniões sociais. Se a orquestra soa ensurdecedora, devemos ouvir também assim em nossa casa. O mesmo vale para um grupo de rock ou samba. Mas não podemos ouvir um violoncelo solando de forma ensurdecedora, pois este nunca soa assim. Não devemos distorcer. Então, ouço intimamente as Suítes para Violoncelo de Bach — na gravação de Bruno Cocset, de preferência, pois Rostropovich e Bach não são miscíveis –, mas as obras sinfônicas são fruídas por todo o edifício. Gosto de me sentir no meio da orquestra. É lógico e cartesiano, não concordam?
Quarto Movimento – Allegretto de Funes: A memória é uma coisa que se treina, principalmente a musical. Nunca abandonei uma mania que adquiri com meu pai. Tínhamos um jogo que durou de minha adolescência até sua morte. Toda a vez que ligavámos na Rádio da Universidade — especializada em música erudita –, tratávamos de identificar o mais rapidamente possível qual era a música que estava sendo executada. Isto podia acontecer várias vezes ao dia. Com isto, sou, até hoje, super-treinado em descobrir tudo o que toca no rádio. Quando a obra terminava e o locutor dizia seu nome, comentávamos o resultado e desligávamos o aparelho para não ouvir o nome da próxima e seguirmos na luta. Nunca apostamos, ou melhor, apostamos muitas vezes, mas os valores eram de um real, um cruzeiro, um cruzado, etc. Como ficamos anos nesta briga… hoje mesmo liguei o rádio e disse rapidamente, para mim mesmo: “Sarabanda da Suite Nº 2 da Música Aquática de Handel”. Angustia-me muito não saber qual é a música ou, no mínimo, o compositor. Ele faleceu em 1993. Ainda estou disputando com ele..
(*) Os confusos conceitos de “mania” aqui externados, comprovam que meus conhecimentos da área psi são de farmácia. Espero que os profissionais mantenham-se longe, mas duvido muito. Sem pensar muito já encontrei quatro psicanalistas, psicólogos, psiquiatras, etc. entre meus sete leitores. Ainda bem que o método de retaliação preferido deles é o silêncio.
Eu acho altíssimo o número, quase 60, mas é impossível acordar e pensar nestas coisas de finitude e no vazio cada vez mais próximo quando, logo de manhãzinha, ouvimos isso:
— Feliz aniversário, meu menino querido. Que seja feliz e saudável por muitos anos.
O último ano foi muito bom. Em 19 de agosto do ano passado não estava nada bem. Alguém estava organizando um fracasso público para mim com o objetivo de se fazer de vítima. Deu tudo errado. Para o outro lado. Porém, doze dias depois do meu aniversário, tudo começou a virar de forma realmente cabal. Ou seja, se tirarmos esses doze dias, foi um ano no qual recebi um fluxo de carinho que me deixa realmente pensar que sou um jovem, um guri desses que passeia pelas ruas e parques abraçado em sua menina.
Não somos exatamente meninos, mas ainda estamos (ou somos) meio bobos. Os últimos meses foram marcados por tamanha intersecção de vontades e planos que houve espaço para pouca coisa mais. Ou seja, o ano em que tive 56 anos foi de notável sorte. Estou naquela situação de fazer tudo com cuidado para não estragar nada. Não que mude de atitude para me adaptar, só tento reprimir um pouco meu humor anárquico, já que, surpreendentemente, o espírito crítico é bem recebido.
Um amigo hoje me disse que já se passaram duas vezes 57 anos desde o ano 1900. Putz. Minha irmã lembrou de nosso pai, que ficaria fascinado por alguém nascido em 1957 que faz 57 anos. Jogaria no bicho, na Megasena, sei lá. Números à parte, o importante é manter a boa forma intelectual e física. Sempre gostei dos velhos de espírito jovem e desejo ser — se já não sou — um deles.
Eu gosto de manter as 12 abas de meu Google Chrome organizadinhas… Elas sempre estão na ordem que segue: as 4 primeiras são as do Sul21 (post que está sendo trabalhado, capa, geração da capa, Sul21), depois vêm as dos blogs Milton Ribeiro e PQP Bach, PqpShare, Gmail, Feedly, Facebook, Gmail do PQP Bach e Google Calendar. Posso trabalhar com mais, mas estas 12 primeiras são fixas.
Só que frequentemente aparecia um xarope que, depois de meu horário de saída, esculhambava esta ordem de comprovada eficácia, apagando parte das abas ou todas. Então, coloquei um post-it no meu monitor ameaçando os invasores. Ele dizia: EU MATO QUEM APAGAR (EXCLUIR) AS ABAS DO GOOGLE CHROME!
Ontem, na minha ausência, meu pequeno post-it ganhou um desenho do Latuff. Ficou sensacional.
Ops! Não é bem uma resposta. Na verdade, ela me escreveu e eu escrevi para ela. Diria que as mensagens foram na mesma direção, quase no mesmo horário neste início de madrugada, em sentidos contrários.
Q u e r i d o Milton!
Meu primeiro “Feliz Dia dos Namorados” para você!
Já sabemos que fazer avaliações, resumir e concluir são alguns dos meus vícios… então.
Parece que não consigo escapar disso nem dando parabéns, desculpa.
Pois para mim também é o primeiro Dia de Namorados em estatuto de namorada no Brasil.
Sempre volto a lembrar como tudo começou. Nós dois, abandonados, traídos, desvalorizados até um ponto impossível, “tristes e descrentes deste mundo”, vivendo um desamor crônico. E depois, como uma mágica, tudo virou canção e descobrimos “o que é felicidade…”
Eu me sinto muito bem ao seu lado. Em Porto Alegre, Paris, Londres, Lisboa. Tenho certeza que vou me sentir muito bem ao seu lado num lugar qualquer do mapa, não importa a quantidade das atrações culturais e as condições. Só um abraço e já me sinto bem…
Quando a gente se entende tão bem, não existe assunto para se preocupar. E, ao redor, tudo se resolve mais fácil. E os obstáculos desaparecem sem menor esforço. E a gente não se faz questão de planejar tudo, porque o tempo “nosso” tem andamento diferente, de outra dimensão, e as coisas se organizam em outra ordem e se resolvem de outras maneiras.
E, se por alguma razão isso acabar, tenho certeza que só vamos lembrar coisas boas, esquecendo as “coisas bobas”.
Obrigada, meu caro Milton, por ser meu menino doce, meu homem amoroso, meu conselheiro, às vezes até minha baba e sempre meu travesseiro! Te adoro!
Parabéns para nós que estamos passando nosso primeiro Dia dos Namorados dividindo o mesmo ar, a mesma cama, o mesmo guarda-roupas, quase a mesma comida (a minha tem leite), os mesmos filmes, os mesmos (poucos) livros, os mesmos amigos, o mesmo TRI, as mesmas preocupações, as mesmas pernas e braços, nós que rimos das mesmas coisas, que discordamos sem asperezas e no outro dia acordamos conciliados, que caminhamos perigosamente pelas ruas (ontem podíamos ser encontrados às 20h no meio da Redenção), que não calculamos, que temos sotaques diferentes, que fizemos uma longa viagem (em vários sentidos inclusive o da foto), que já temos memórias, incrível, já temos memórias, nós que sabemos que cada um é um estranho ímpar, mas que nos ajudamos em tudo, que tentamos sempre e a cada dia ser um par, que vemos que tudo ainda pode ser melhor pois ainda estamos melhorando e que combinamos não trocar presentes no Dia dos Namorados, mas que vamos festejar, é claro. Elena, eu sempre estou com desejo de estar perto de ti. E quando não estamos, fico pensando no que estarás fazendo e meio que fico lento porque começo a querer muito te abraçar.
(Hoje, no almoço, ainda lembrei de como chovia naquela quarta-feira em que eu comprava roupas para usar no dia seguinte e ia de novo para aquele hotel. Tu me ligaste na hora mais oportuna para dizer que tinhas máquina de lavar e secadora e que eu não podia ficar todo molhado na rua. Eu fiquei muito sem jeito, mas tinha que aceitar, ainda mais quando tu disseste que eu seria teu convidado. Sim, passamos por muitas coisas. Tudo foi tão aventuresco como se estivéssemos num filme de roteiro muito complexo mas todo fechadinho, tão fechadinho que tudo acontecia na hora certa com o objetivo de pôr fim ao desamor).
Não tenho grandes conhecimentos musicais, sou apenas um melômano, um desses caras que pode ouvir o amigo Phil cantar o segundo movimento da quinta de Prokofiev e sair em dueto com ele, como ocorreu ontem à noite. Ou um trio, porque a Elena acabou cantando junto. Cantamos o tema principal e aquele trecho dos 5min06 em diante. Sorte de vocês não terem ouvido. Abaixo, tenho uma versão melhor.
Voltando ao assunto inicial, tenho um bom conhecimento de repertório e um programa mal planejado é uma coisa que me afeta muito. Augusto Maurer deu a explicação técnica de minhas restrições ao programa da última terça-feira (03 de junho), citou fatos que sinto mas que não tenho capacidade para explicar, etc. Então, nesta quarta-feira em que poderia ser mais produtivo, escolho um tema preguiçoso para encher o saco de meus sete leitores.
Pois, de forma enviesada, a programação musical faz parte de minha vida, e talvez isso seja surpreendente para alguns. Tenho ideias de programas de concertos que vocês nem imaginam. Então, vamos comentar algumas coisas. Minha formação como ouvinte teve muito de meu pai, do Dr. Herbert Caro de quem era amigo, além de enormes doses da Rádio da Universidade dos anos 70, 80 e 90. Os méritos da rádio ultrapassavam em muito seus problemas técnicos e foi ali, com o compositor e ex-diretor da emissora Flavio Oliveira e com Rubem Prates, que aprendi que uma programação não era sorteio ou livre-associação. É notável como eles conseguiam ligar inteligentemente cada música à próxima, fosse por seu tema, por sua evolução na história da música ou pela pura sensibilidade desses dois conhecedores, que viam parentescos em coisas aparentemente díspares. Só através do ouvido – há outro jeito? — aprendi como, por exemplo, o estilo de composição de Johann Christian Bach foi receber tratamento de grande música apenas com Mozart e também que havia várias formas de subir na grande árvore da história de música. Explico: pela manhã, a rádio iniciava por um compositor de música antiga ou barroco, depois ia para um clássico, daí para um romântico, e assim por diante, nos mostrando sempre os caminhos e os diálogos que um compositor travava com seu antecessor. Foi a maior das escolas e ali aprendi as muitas derivações que cada compositor passava a seus sucessores e aquilo, após milhares (mesmo!) de dias como ouvinte, tornou natural a leitura das histórias da música que fiz depois. De forma misteriosa, estranha e certamente gloriosa, aqueles dois homens silenciosos já tinham me ensinado tudo, colocando as coisas na ordem certa para que meu ouvido entendesse.
Minha segunda escola foi uma coluna da revista inglesa Gramophone. Assinei-a por anos. Lá havia uma coisa que só no jornalismo inglês: era a sensacional coluna “Who`s Next?”, de título obviamente inspirado no lendário vinil do The Who. Ali, um dos críticos da revista criava uma fantasia. Ouvia um CD qualquer e algo nele — um timbre, um acorde, um tema — o fazia lembrar de outra música, a qual o fazia lembrar de outra, e de outra até o fim da coluna ou dos tempos. Na coluna, o cara ia de Mahler para Gabrieli, de Bach para Charlie Mingus com a maior naturalidade e argumentos. Era uma brincadeira que estava longe da livre-associação da programação da Ospa, era algo que tinha uma poesia. Nossa que saudades da minha coleção de Gramophone! Minha mãe jogou todas as revistas fora no início de sua doença (Alzheimer).
Tenho o costume de caminhar pela rua inventando concertos. Ontem, iniciei um com a Fantasia Wanderer de Schubert, mas não fui adiante. Fiquei preso naquela fuga.
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Com restrições — diferentes daquelas do concerto do dia 3 –, gostei do concerto da Ospa de ontem (10), principalmente do Ginastera final e do aquecimento do pianista André Carrara, tocando o Scherzo do Hammerklavier. Mas não estou a fim de escrever a respeito. A discussão da semana passada ficou lá longe com o meu “salário moral” sendo muito bem pago por uma longa série de importantes inboxes dizendo que eu tinha razão em reclamar do erros e da “dramaturgia da noite”. Pediram para eu tocar em frente, só que fiquei temporariamente de saco cheio da blitz dos defensores acríticos da… orquestra? Isto exige um compadrio ao qual não estou disposto. Gosto é de música, de literatura, do meu trabalho, dos meus amigos, filhos e da Elena, gente.
Brigar, fazer cara feia ou voltar o rosto não está entre as minhas prioridades. Mas sei que logo estarei disposto a rir destas coisas. E vou tirar um sarro.
A noite acabou maravilhosamente com zupa kapusta, mais pão, vinho, café e outros que tais, na casa da Astrid Müller e do Augusto. Minha ressaca de hoje e a citada cantoria de ontem é culpa deles. Nada a ver comigo, portanto. Zupa kapusta é uma sopa polonesa de carne de porco, salsicha, chucrute e repolho. Estava FANTÁSTICA!
Estava agora pensando sobre como os velhos amigos — incluindo-se aí Mravinsky — foram um a um abandonando Shostakovich antes da estreia da 13ª Sinfonia. Até o poeta Evtushenko tratou de mudar os versos para se proteger da repressão soviética. E Shostakovich, trêmulo e doente, após viver anos esperando ser preso, foi até o fim com o novo amigo Kondrashin. Não precisava fazer isso. Mas há pessoas nas quais é sempre maior o amor pela arte e pela verdade.
Sim, é preconceito! Mas, por favor, não quero ouvir Snoop Dogg. Soube hoje que ele é um rapper de 32.148.597 curtidas no Facebook e que demonstrou bom gosto ao postar uma obra de arte do cartunista Carlos Latuff.
Vou contar um segredo para vocês, meus sete leitores. O Latuff gosta de discutir as charges que faz para o Sul21em nossa Redação. Ele chega aqui, a gente ri, briga um pouco e a coisa sai. Ele até já me propôs que eu assinasse uma ou duas junto com ele, mas, na boa, fiquei com vergonha. Eu não desenho uma linha, só complico. Essa aí teve a participação de toda a Redação e a genialidade do Latuff, que traduz nossas ideias confusas em imagens. Vejam essa charge que agora corre o mundo junto com o Sul21. Maior orgulho. Ah, tenho vários esboços dele na minha gaveta. Mas não vendo nem dou. São meus. A charge:
Latuff: Pepe Mujica, Osmar Terra e as diferentes abordagens sobre a maconha
A palavra russa acima tem o seguinte som: “parassionak”. Eu lhes digo que é um belo som. Vamos conferir lendo-a novamente e dizendo bem alto: “Parassionak”. Imagine o parassionak de seu país. Parece um grande personagem que ocupa uma presidência qualquer ou um cargo especial no STF. Ou talvez seja um aiatolá, sei lá. Imagine o parassionak de sua cidade… Será certamente alguém a ser saudado com fanfarras e que mora num palácio.
E se fosse a representação fonética de uma coisa não viva? Neste caso, certamente seria um transatlântico ou um gênero de limusine. Quem sabe o último modelo da Ferrari? “Hoje vi uma Parassionak B3, parece uma nave”.
Pois então você joga migalhas de pão por toda a cozinha e é chamado de parassionak. Bá, quanto orgulho senti! Eu, logo eu, um parassionak! E perguntei o que significava.
Sim, parassionak é apenas “porquinho”. A fonética é muito enganadora.
Mas gremistas, saibam: “azul”, em russo é “голубой”. A pronúncia é “galubói”, uma palavra de som horrível! Aqui, a fonética volta a revelar-se genial.
Já vermelho é “красный”, “krássny”. Digam bem alto: “Krássny”. E voltei a me apaixonar pela fonética. Tudo bem, sou um porquinho.
O Centro Peruano é um dos lugares mais finos da cidade. Mas, do ponto de vista material, não há nada de especial lá. Não é um lugar que rescenda ao chique gerado pelo dinheiro, de modo algum. Quando digo fino, falo sobre o tratamento que o Dr. Carlos Nevado e sua família dispensa aos clientes, assim como sobre a qualidade do que se come lá. Uma coisa não tem nada a ver com a outra, só que tal impressão fica mais consistente quando se entra num tal “Armazém”, em plena Padre Chagas, e nos chega às narinas um invencível e anti-higiênico fedor.
Ah, nesta semana batemos nosso recorde. Fomos 3 vezes comer cebiche…
Dica da semana:
“Antes de sair de casa, revise se está com as chaves. Esquecê-las dentro das calças que você recém tirou não é inteligente e causa problemas.
Pior ainda se o esquecimento ocorrer num domingo à noite e se estiver na companhia de alguém que confia em você”.
Fica a dica.
7 de abril:
Espero que o Luigi não seja pusilânime e confirme o Gre-Nal de domingo para o novo Beira-Rio. Se tem medo de quebra-quebra, retire as cadeiras e aumente o número de seguranças, ora. Ou ele ignora que quebramos lá também?
Um dos fenômenos mais interessantes é de que a ignorância não gera dúvidas, mas certezas. Outra coisa interessante é a criatividade do ódio. Há pessoas que, ao odiarem, criam personagens muito diversos do odiado. O odiado é um mutante, ou uma valise na qual cabe toda sorte de más qualidades. Mas seguimos.
Um beijo procê, George Orwell:
“Jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo o resto é publicidade.”
8 de abril:
Há pessoas que repetem e repetem os mesmos padrões, errando sempre. Mas nem lhes passa pela cabeça de que os errados são eles.
Quando
Quando o meu corpo apodrecer e eu for morta
Continuará o jardim, o céu e o mar,
E como hoje igualmente hão-de bailar
As quatro estações à minha porta.
Outros em Abril passarão no pomar
Em que eu tantas vezes passei,
Haverá longos poentes sobre o mar,
Outros amarão as coisas que eu amei.
Será o mesmo brilho a mesma festa,
Será o mesmo jardim à minha porta,
E os cabelos doirados da floresta,
Como se eu não estivesse morta.
Sophia de Mello Breyner Andresen
E então eu cheguei em casa às 19h carregando um cansaço maior que eu e Elena me sugeriu dormir por uma hora. E eu sonhei que estava em Londres na casa de Virginia Woolf e que traduzia para o português o Between tha Acts. Eu viajara para que ela me explicasse algumas passagens. Depois dos esclarecimentos, ela me fez um chá e sentamos à mesa. E então eu, com a maior intimidade, perguntei sobre suas crises de depressão. E Virginia olhou para mim, deu um meio sorriso, começou a falar e eu acordei.
Coisa sem graça.
10 de abril:
A gente dorme com uma loira e acorda com outra de cabelos castanho-claros.
Ficou bonito, Elena.
Já imaginaram o que deve doer um beijo no coração? Além do mais, é pouco asséptico.
11 de abril:
Acerta o TJD da Federação Gaúcha de Futebol ao rebaixar o Esportivo para a Segunda Divisão em razão das ofensas racistas sofridas pelo árbitro Márcio Chagas em Bento Gonçalves. Racismo não é caso para relativizar e tergiversar, é caso para se extirpar. Por isso, lamento que a votação pela punição tenha tido o resultado apertado de 5 x 3, o que comprova que nossa sociedade não tem lá muita segurança se deve punir tais casos de hedionda boçalidade.
Segundo o Google Analytics, meu blog recebeu, ontem, 154.898 visitas. Sim, em um só dia.
Segundo outro contador, o JetPack, ele teve 78.839 page views.
(Não perguntem nada sobre contadores, OK? Só digo que notei, pela lentidão e rumores no Facebook e no Twitter, que estava acontecendo uma super-visitação).
Ah, se me pagassem pelos acessos…
O que puxou o número para cima foi uma série de postagens: aquela sobre religião foi o carro-chefe, mas também Sophia de Mello Breyner Andresen, narrativas de viagens, críticas de livros e até contos! Entre as dez mais “lidas” não havia nenhum post da série “Porque hoje é sábado”.
Ou não. Talvez seja tudo novo, isso sim, pois não consigo lembrar de algo parecido em minha vida e olha que tenho boa memória. Tenho voltado feliz pra casa em meio ao calorão que nos assola. Caminhando na canícula, fico até envergonhado de meu meio sorriso. Sou o único feliz. É claro que, descontando uns outros aí, és meu primeiro amor. Tudo me parece tão inédito ou estava tão escondido e afastado no tempo que nem lembrava mais de como era. Meu único trabalho tem sido o de tentar retirar quaisquer objetos incômodos, oferecendo-te as horas calmas. E assim vamos atrás do que há para ser alcançado, que é a hora seguinte e que sempre chega a tempo. Tudo tem sido tão, mas tão bom e simples que estou pasmo, Elena. Talvez seja estranho agradecer, mas é o que tenho vontade de fazer.
O termo daltonismo deriva de John Dalton, um cientista inglês que estudou teoria atômica, autor da lei de Dalton (algo sobre pressão, se não me engano) e que foi o primeiro a estudar a anomalia de que sofria. Atualmente, o termo mais utilizado não é mais daltonismo e sim Color Blindness ou Cegueira para Cores. Uma vez que esse problema está geneticamente ligado ao cromossomo X, ocorre mais frequentemente entre homens pois, no caso das mulheres, seria necessário que os dois cromossomos X contivessem “gens daltônicos”.
Curiosamente, os daltônicos muitas vezes apresentam genitália avantajada. Seus filhos, não.
Você reconhece um daltônico quando ele, ainda adolescente, morando na casa da mãe, sai de casa bem arrumado para alguma ocasião especial trajando estranhas combinações, como calça verde e camisa vermelha. No meu caso, a Dra. Maria Luiza Cunha Ribeiro dizia para mim:
– Pelo amor de Deus, muda de roupa, Miltinho. Tu mais pareces um periquito – não estranhem, minha mãe sempre falou um português perfeito, com todos os verbos bem conjugadinhos…
E o periquito voltava para seu quarto, acompanhado de sua mãe, dentista e consultora cromática, a fim de trocar de roupa. Mas nunca o fazia na frente dela, pois tinha vergonha de mostrar a característica secundária que os daltônicos carregam consigo.
Outra forma de identificar um daltônico é quando pedem a ele um objeto mais ou menos assim:
— Vai lá no quarto e pega a caixinha lilás.
Para nós, uma caixinha lilás ou marinho ou azul ou cor-de-burro-quando-foge é exatamente o mesmo. Ou, melhor dizendo, são diferentes, bem diferentes, o que não significa que eu saiba qual é especificamente a lilás (cor especialmente complicada). Quando eu não sabia que era daltônico, pensava que era apenas idiota, impressão que até hoje não se desfez inteiramente. Concluí que era incapaz de aprender as cores e ficava mal-humorado quando via algum mapa cheio de legendas coloridas no livro de geografia. Enchia os livros de flechinhas e anotações…
Porém, meu colega de daltonismo, fique sabendo que a culpada é sua mãe e desta forma ela não pode ficar irritada quando você não pega as meias nem as toalhas certas ou ameaça explodir a casa se errar aquela ligação elétrica identificada por fiozinhos coloridos. Neste momento, você deve mandá-la examinar seu cromossomo X — que você herdou exatamente dela — ou a puta que a pariu. Tudo depende do contexto.
Mas depois você casa e sua mulher lhe grita do banheiro para pegar no quarto a calcinha rosa e você lhe traz uma igual só que verde azulada, na opinião dela. E ela vai lhe dizer mui compreensivamente:
— Que má vontade, hein? Pegaste a primeira que te apareceu na frente! Isso demonstra teu desinteresse por mim — sem imaginar que você quase morreu dentro daquela gaveta colorida e que, de tão angustiado, esqueceu de mergulhar o nariz nela (no meu caso, um nariz igualmente avantajado).
Mas observem a imagem acima. À esquerda, está a imagem normal; à direita, as pessoas que não são daltônicas verão a imagem que nós, daltônicos avantajados, vemos. Pois é, dizem que para nós o mundo é mais feio, mas você só diz isso porque você não revisou em detalhes nossa anatomia.
A mesma mágica acima. A do lado esquerdo é a sua; a do direito, a nossa. Minha mulher tirou esta foto de minha filha para mostrar que eu não vejo o vermelho, cor do Sport Club Internacional, minha maior paixão. Diz ela que, à esquerda, o sofá é vermelho e, à direita, é outra coisa que esqueci. Talvez não esteja mentindo; afinal, aprendi a distinguir os gremistas por seu comportamento. Eles nem sempre estão fantasiados com seus pijamas.
Acima, foto de meu filho com sua ex-namorada Carol. Bernardo e Carol, aos 16 anos (isso em 2007), são certamente virgens – nem imagino outra hipótese! Acontece que dizem que o verde dos daltônicos (lado direito) é uma coisa desmaiada e seca, fato que nos torna mais concentrados, desligados do mundo exterior, das coisas materiais, mais reflexivos e inteligentes. Além, claro, de termos aquilo que vocês, pessoas espertas, já sabem.
Voltamos ao infeliz tema do vermelho. Agora, em nova e elegante referência subliminar ao casalzinho anteriormente citado, vemos uma maçã ainda intacta, claro. Ao lado direito está a maçã normal… Não brincadeirinha, a do lado direito é a nossa, a do esquerdo é a de vocês.
Eu adoro quindim. A simples visão de um, mesmo num bar de beira de estrada, mesmo que este seja imundo e pouco freqüentado, com milhares de quindins esperando uma meia dúzia de clientes diários, mesmo que haja mofo no doce vizinho, eu como com enorme prazer. Simplesmente amo e você não vai dizer que o quindim que vejo (foto à direita) não é bem amarelo.
Em pé, da esquerda para a direita: Filipe (sobrinho), Iracema (irmã) e Bárbara (filha). Agachados: George Clonney e Bernardo (filho).
Esta foto lamentável de colorados foi tirada por uma gremista. Vejam como ficamos feios e fora de foco. E iríamos mandá-la para um amigo português que encontrou a certidão de nascimento de meu avô em Lisboa, o que nos permitirá a dupla cidadania. Pois mesmo nesta foto de agradecimento por parte dos beneficiários da gentileza de um bom amigo, manifestou-se o ruindade gremista. Ela tremeu, desconfigurou a câmera e deixou-nos horrorosos, com caras de néscios sifilíticos. Resultado: ainda não mandei a foto, nem os mimos para o amigo. Não conte com gremistas para nada.
Vemos perfeitamente o azul. É importante reconhecer claramente…
… o inimigo.
Abaixo, o teste de Ishihara para identificar homens de genit… vocês sabem.
Obs: o software que transforma as fotos foi tirado daqui. E o teste do japa daqui.
Na Rússia, o Natal é comemorado no dia 7 de janeiro e o Ano Novo na noite de 13 para 14 de janeiro de cada ano. O motivo dos 13 dias de diferença é a divergência entre os calendários gregoriano e juliano. Eles usam o juliano. Hoje, na Rússia, tanto a data ocidental quanto a adotada pelo país são consideradas, o que aumenta o número das festas. Para fugir do comércio, sugeri à Elena que adotássemos o calendário juliano para trocarmos nossos presentes de Natal. Deu certo. Nada de correria ou atrapalhações. O que não esperava é que minha bielorrussa preparasse ontem à noite uma ceia saudando o novo ano. Foi uma coisa bem íntima, simples e secreta. Ficamos discretamente bêbados. Não havia foguetes, nada. E hoje, “primeiro do ano”, não nos quedamos esquecidos, aquecendo nossas bochechas no travesseiro. Eu saí para trabalhar; ela foi revalidar seu passaporte. Mas foi a melhor virada, garanto.
Sobre a frase acima, espero que tenha copiado corretamente a saudação usada pelo russos: “Feliz Velho Ano Novo!”.
Observação: Rodrigo Cardia explica com clareza exemplar no Facebook: “O calendário juliano é usado pelos cristãos ortodoxos para suas celebrações. Tem uma defasagem de 13 dias em relação ao nosso, o que explica a confusão com as datas da Revolução Russa (a Revolução de Outubro, por exemplo, começou em 7 de novembro, só que pelo calendário juliano era 25 de outubro)”.
Para mim foi um ano de acontecimentos gigantescos: enormes decepções, enormes dúvidas, enormes decisões, enormes responsabilidades, enormes bizarrices, enormes mudanças, enormes surpresas, enormes tristezas e enormes alegrias. Agradeço à vida por este ano e vou pedir ao bondoso Papai Noel só uma coisa para o ano de 2014: por favor, menos. Se for possível, claro. Feliz Natal e um ótimo 2014 para todos! Abraços!
Elena Romanov em seu Facebook
Este é o melhor resumo de 2013 também para mim, que convivi boa parte dele — infelizmente bem menos da metade — com Elena. Do ponto de vista pessoal, acrescentaria “enorme gratuidade” imediatamente após as decepções, pois houve muito disso. Com a palavra, não quero dizer que tenha sido um ano em que não paguei nada, muito pelo contrário. Uso gratuidade no sentido daquilo que não é justificado, do que é natural e espontâneo em outrem, do que é gratuito na acepção de infundado.
Mas não reclamo do ano. Afinal, todos os amigos e minha pequena família estão aí alive and kicking; o trabalho idem e a saúde surpreende após um ano tão maluco. Em junho e outubro parecia que ia me dar um piripaque, mas até o colesterol, no meu caso sempre nas nuvens, apareceu no mês passado em inéditos 169. (Obrigado, seu Lípitor!)
E 2013 foi o ano da felicidade minimalista. Nada grandiosa, nada estável, mas muito satisfatória até aqui. Tanto assim que vamos fazendo planos. Li hoje uma frase incrivelmente verdadeira e aparentemente nada a ver com o que escrevo: a de que só agora estamos aprendendo a ser contemporâneos de James Joyce. Estamos chegando cada vez mais perto dele e um dia alcançaremos e entenderemos o sublime, genial, neologista, poliestilista e desbocado autor de Ulysses. O fato acontece casual ou inexoravelmente à medida que o tempo passa. No passado, lembram?, alcançamos os últimos quartetos de Beethoven, que dizia com toda a razão a seus críticos: “No futuro, entenderão”. No meu caso, 2013 foi o ano em que aprendi muito a meu respeito — mais do que a respeito de outros. E mudei um pouco. Na base da porrada, me parabenizei por alguns méritos e quase me destruí identificando defeitos. Acho que fiquei mais silencioso, mais amante da lentidão. De alguma forma muito secreta, me aproximei alguns centímetros não sei do quê. Mas é assim mesmo, a gente vai mudando de forma contínua e imperceptível, só que as crises catalisam as alterações, mesmo que não garantam rumos. Então, sejamos lentos na vida e nos passeios de fim de tarde pela Redenção, certo, Elena?
De tudo isso, a única tristeza absoluta é a de ver menos a Bárbara, mas a gente dará um jeito, imagina se não.
Eu e Elena somamos cem anos. Eu tenho 83; ela uns 17, claro, quem imaginaria outra coisa? Então, são cem anos, um século. Acho que já somei números maiores, mas, desta vez, iniciamos nossa história de maneira centenária. Minha mãe dizia que, na sua época, os homens dependuravam as chuteiras entre os 40 e os 50 anos. Hoje, eu e meus companheiros desbravadores não queremos nem saber — ainda estamos ainda marcando, armando e buscando o jogo, desafiando o técnico e o tempo. Como o Índio. Se há motivos para sê-lo, este é um dos motivos pelo qual não sou apocalíptico — se é certo que o homem destrói o mundo, também é certo que ele é extremamente egoísta e se trata.
Não reclamo da vida, tenho muita sorte, na verdade. E penso diariamente na morte. Todos os dias. E me acalmo. Ignoro se a idade me deixou mais sábio ou se pensar na morte revela sapiência, medo ou desespero, o que sei é que estou em período de gostar da vida e até de seus problemas. Quando me separei, meses atrás, a Elena me aconselhou cultivar a tranquilidade. Faço isso todo o dia. Eventualmente a coisa escapa, porém, até o momento, não houve o dia em que ambos se encontravam nervosos ou, pelo menos, sempre um de nós estava pronto para puxar o outro a um patamar mais acima.
Sorte, certamente. Bem, foi o que me ocorreu escrever neste tablet emprestado que não sei mexer. O problema agora é passar o textinho para o blog. Qual o trabalho que terei até esta coisa improvisada chegar a meus sete leitores é o que verei agora.