Kammermusik, de Paul Hindemith

A série Kammermusik, de Paul Hindemith (1895-1963), tem estrutura semelhante aos 6 Concertos de Brandenburgo de Bach. Só que aqui são 7 Concertos de Câmara para os mais variados instrumentos. A Kammermusik Nº 1, Op.24 n.1 para 12 instrumentos solo (1921) é o cartão de apresentação do que virá em termos de inventividade. Notem, estamos em 1921. Hindemith já é parodístico como grande parte da música do século XX, mas sua sintaxe é barroca, contrapontística.

A seguir, a Kammermusik Nº 1 completa:

1º mvto: Sehr Schnell und Wild
2º mvto: Maessig Schnell Halbe
3º mvto: Quartett: Sehr Langsam und mit Ausdruck

Royal Concertgebouw Orchestra
Riccardo Chailly.

Os filmes apresentados são os seguintes:

“Le Retour a la Raison” di Man Ray (1923)
“Emak-Batik” di Man Ray (1926)
“Anemic-Cinema” Di Marcel Duchamp (1926)
“La Tour” di Rene Clair (1927)

4º movimento da Kammermusik Nº 1.

Obrigado, Wellesz!

Muito mais nervosa é a Kammermusik Nº 5, um vertiginoso Concerto para Viola, cujo primeiro movimento coloco abaixo…

San Francisco Conservatory of Music Orchestra

Jodi Levitz, viola
Andrew Mogrelia, conductor

e, para terminar, o segundo movimento acompanhado de imagens que não sei se agradariam ao autor:

Custo a acreditar que seja verdade, mas parece que é…

(Atualização feita 30 minutos após a postagem: trata-se mesmo de uma piada. Fica como registro.)

José Serra não gosta de mulher?

Engraçado, os tucanos já gostaram. O FHC tem até dois filhos fora do casamento… O que será que houve ?

Muito engraçado o post do Blog da Dilma:

Tucano não gosta de mulher

Representantes do PSDB nacional entraram semana passada junto ao TSE com um pedido de proibição da música “Eu gosto de mulher”, da banda paulistana Ultraje a Rigor, durante o período de campanha eleitoral.

A música, que fez sucesso a partir do final dos anos 80, faz em determinado momento a seguinte citação: “Mulher dona-de-casa, mulher pra presidente”.

O partido acredita que a música caracteriza propaganda para a candidata do PT à presidência, Dilma Rousseff, principal concorrente do partido tucano, e deve ser proibida de tocar nas rádios brasileiras durante o período de eleição.

“É um absurdo, temos que ficar de olho neste tipo de propaganda discreta” – disse Sérgio Guerra, presidente do PSDB – “é preciso ter atenção, pois detalhes como este ficam na mente do eleitor e influenciam no momento do voto”, completou em tom repreendedor.

Caso não consiga vetar a reprodução da música nas rádios, o partido pretende sugerir a substituição da frase por outra que não faça apologia a nenhum candidato – ou candidata – que dispute as eleições deste ano.

O PT se manifestou dizendo que não tem nenhuma ligação com a banda. Em nota à imprensa, o partido do presidente Lula e da candidata Dilma diz se tratar “de uma feliz coincidência”.

A música, que tem mais de 20 anos e fez sucesso a partir do final dos anos 80, faz em determinado momento a seguinte citação:

Não fosse por mulher eu nem era roqueiro
Mulher que se atrasa, mulher que vai na frente
Mulher dona-de-casa, mulher pra presidente…..

Fala Sérgio Guerra, isso que é ter medo de (ou da) mulher…

Com solo roubado de Khatchaturian (Dança dos Sabres)…

Em resposta, o PT deveria pedir a proibição desta marchinha de Carnaval…

Biko, de Peter Gabriel

Eu, soterrado em minha profunda ingenuidade, pensei que o show de abertura da Copa pudesse conter o hino mais importante anti-apartheid das manifestações. Mas a época é de Shakira e não de canções politizadas. Abaixo, a letra de Biko, inspirada no assassinato do ativista Steve Bantu Biko (18 de dezembro de 1946 – 12 de setembro de 1977). O show de Peter Gabriel (abaixo) é de 1986.

Biko

September ’77
Port Elizabeth weather fine
It was business as usual
In police room 619
Oh Biko, Biko, because Biko
Oh Biko, Biko, because Biko
Yihla Moja, Yihla Moja
-The man is dead

When I try to sleep at night
I can only dream in red
The outside world is black and white
With only one colour dead
Oh Biko, Biko, because Biko
Oh Biko, Biko, because Biko
Yihla Moja, Yihla Moja
-The man is dead

You can blow out a candle
But you can’t blow out a fire
Once the flames begin to catch
The wind will blow it higher
Oh Biko, Biko, because Biko
Yihla Moja, Yihla Moja
-The man is dead

And the eyes of the world are
watching now
watching now

Que orquestra! Fico taquicárdico.

São fragmentos, mas que fragmentos! Abaixo, a Orquestra Filarmônica de Berlim, regida por Pierre Boulez, dá um show no Finale da Música para Cordas, Percussão e Celesta de Béla Bartók.

E aqui, com Hélène Grimaud ao piano e sob a regência de Tugan Sokhiev, no Concerto para Piano e Orquestra em Sol Maior de Maurice Ravel:

Aqui, com o regente titular Simon Rattle, parte do Finale da Sinfonia Nº 1 de Brahms (notem sua felicidade ao reger uma das melodias mas belas jamais compostas e que foi utilizada no Fausto de Mann):

Novamente com Rattle na Sinfonia Nº 10 de Shostakovich:

E com Gustavo Dudamel na Sinfonia Nº 5 de Prokofiev:

Três peças de Carl Philipp Emanuel Bach

Hoje, há um belo esforço para a recuperação de C. P. E. Emanuel Bach como um dos principais compositores da história da música. Ele não tinha as qualidades de papai Johann Sebastian, um verdadeiro semideus, mas merece figurar nas mais exclusivas galerias. Carl Philipp foi imenso e imensamente injustiçado. Certamente, o motivo disto é o de ostentar o nome Bach e ser menor… Mas quem não é filho de Bach e menor?

Encravado naquele estranho período — o barroco tinha acabado e Haydn e Mozart ainda não tinham definido o “novo estilo clássico” — Carl Philipp demonstra notável originalidade e até antecipa Beethoven em seus temas curtos e afirmativos.

Abaixo, o registro de dois concertos. No primeiro, Christopher Hogwood dirige o Collegium Bach de Munique e o violoncelista David Adorjan em um Concerto para Violoncelo e Orquestra.

No segundo, a Orquestra Barroca e Coro da Universidade de Innsbruck mostra uma face bem bachiana deste Bach “menor”.

E aqui a linguagem já muda bastante. Estamos fora do barroco. Trata-se do oratório Die Auferstehung und Himmelfahrt Jesu com La Petite Bande, dirigida por Sigiswald Kuijken. O cantor é Stephan Genz.

Celebridades

Curioso o post de Augusto Maurer sobre celebridades na música. Achei cômica a frase de Mick Jagger que pode ser encontrada nos links do post: “Éramos jovens, bonitos e estúpidos. Agora somos só estúpidos”.

Jagger, assim como Paul McCartney, já disse que fazer rock é a coisa mais fácil que há no mundo. E eu acredito que seja mesmo. Eles entram na categoria dos que se consideram superestimados, enquanto que os artistas “de raiz” orgulham-se de serem mais ou menos obscuros e outros têm personal networkers (fabricantes de onipresença e de factóides em escala industrial).

Muito me surpreende o interesse do Augusto sobre o assunto. Ele — que é primeiro clarinetista da OSPA e professor universitário na UFRGS — é certamente o amigo mais inteligente que tenho ao vivo e a cores. Quando com ele, tenho sempre a impressão de que ele já entendeu o que recém estou introduzindo na conversa. E que já discordou ou não. E que já concebeu do quase nada uma teoria maior e para mim inatingível a respeito. Nunca pensei que ele se interessaria por isto.

Lily Allen: a que se considera “uma bobagem”. Provavelmente é mesmo.

3º Concerto de Brandenburgo de J.S. Bach

Não requer justificativa nem explicação. Interpretação da Orquestra Barroca de Freiburg, sob a direção musical de Gottfried von der Goltz — no vídeo, o terceiro violinista à esquerda. É um dos melhores grupos barrocos da atualidade. Não estranhem o adágio de 13 segundos, é assim mesmo. Creio que Bach não quis interromper a verve rítmica dos movimentos externos e… Por favor, quem sou eu (ou nós) para criticá-lo?

Béla Bartók – Danças da Romênia

Para uma plateia agitada e feliz, ao ar livre, em Amsterdam, Janine Jansen mostra seu virtuosismo neste série de belas danças do folclore romeno, recolhidas do esquecimento e rearranjadas por Bartók. Não esqueçam que Bartók, um de meus três compositores preferidos — os outros são Bach, Brahms e Beethoven — foi um grande pesquisador e o fundador da etnomusicologia. A inspiração cigana pega fundo em quem nasceu na Transilvânia, quando esta era húngara.

Adágio da Sonata K. 332 de Mozart e Masterclass da genial Maria João Pires

Não há boas ou más versões, elas são todas más porque não representam nem 1% do que é a música, elas são só uma ideia do que podemos fazer.

Maria João Pires, no início da masterclass abaixo

A portuguesa Maria João Pires é uma grande mestra do repertório clássico e romântico. Após ouvir suas interpretações, fico pensando no quanto ela, Maurizio Pollini e Nelson Freire já acrescentaram a um repertório visitado por todos os monstros do passado, e que apenas são mais formidáveis pelo fato de terem morrido.

Gustav Mahler – Sinfonia Nº 3 (Finale)

A Sinfonia Nº 3 de Mahler é a que mais gosto da série. Também é a mais longa, mas não a que usa maior efetivo orquestral. Mesmo assim a orquestra é imensa, exigindo, por exemplo, as 8 trompas que dão início à Sinfonia. Apresento aqui a parte final do Finale (6º movimento: “O que me diz o amor”) com o regente da moda, o venezuelano Gustavo Dudamel. A Dudamania é um fenômeno do YouTube, mas não é demérito nenhum para o maestro, que tem enorme carisma e é excelente. A orquestra é a do La Scala de Milão. Neste excerto, fica claro o estilo de Mahler de alternar grandes massas orquestrais com rarefeitos episódios solistas. É lindo.

Stravinsky e Pergolesi na OSPA

Tudo certo na Suite Pulcinella. Boa música de Stravinsky sobre temas de Pergolesi, orquestra animada, a pequena plateia feliz, divertindo-se.  Já no Pergolesi não. O efetivo enorme tornava o cravo e, às vezes, o sonolento soprano (sim, é substantivo masculino) inaudíveis. E sono pega, é incrível, apesar do bom desempenho de Angela Diel. Pessoal, quase toda música barroca é de câmara, Pergolesi incluído. A sonoridade pesada impedia que espreitássamos o Stabat Mater. Mais delicadeza, gente, por favor.

Delicadeza e sabor houve no excelente Bóris (esquina da Osvaldo Aranha com Santo Antônio). Idem, na conversa com o chef Pepe Laytano.

Programa de ontem:

I. Stravinsky/G. B. Pergolesi – Suite Pulcinella
II. G. B. Pergolesi – Stabat Mater

Elisa Machado (soprano)
Angela Diel (mezzo-soprano)
Orquestra Sinfônica de Porto Alegre
Guilherme Bernstein, regente

Meu caro amigo, as coisas estão melhorando

Por Daniel Cariello e Thiago Araújo, da revista Brazuca | Foto: Jorge Bispo

“Se tiver bola, eu dou a entrevista”. Essa foi a única exigência do nosso companheiro de pelada, Chico Buarque, numa caminhada entre o metrô e o campo. Uma bola. E eu acabara de informar que o dono da redonda não viria à pelada de quarta-feira. Éramos dez amantes do futebol, órfãos.



Sem saber se esse era um gol de letra dele para fugir da solicitação de seus parceiros jornalistas, ou uma última esperança, em forma de pressão, de não perder a religiosa partida, eu, que não creio, olhei para o céu e pedi a Deus: uma pelota!

Nada de enigma, oferenda ou golpe de Estado. Ele estava ali, o cálice sagrado da cultura brasileira, que sucumbiu ao ver não uma, mas duas bolas chegarem à quadra pelas mãos de Mauro Cardoso, mais conhecido como Ganso. A partir daí, nada mais alterou o meu ânimo e o da minha dupla de ataque-entrevista, Daniel Cariello. Apesar de termos jogado no time adversário do ilustre entrevistado, tomado duas goleadas consecutivas de 10 x 6 e 10 x 1, tínhamos a certeza de que ele não iria trair dois dos principais craques do Paristheama, e sua palavra seria honrada.

Mas o desafio maior não era convencer o camisa 10 do time bordeaux-mostarda parisiense a ceder duas horas de sua tarde ensolarada de sábado. O que você perguntaria ao artista ícone da resistência à ditadura, parceiro de Tom Jobim, Vinicius de Morais e Caetano Veloso, escritor dos best sellers “Estorvo”, “Benjamin”, “Budapeste” e “Leite Derramado”, autor de “A banda”, “Essa moça tá diferente”, “O que será”, “Construção” e da canção de amor mais triste jamais escrita, “Pedaço de mim”?

Admirado e amado por todas as idades, estudado por universitários, defendido por Chicólatras, oráculo no Facebook, onipresente nas manifestações artísticas brasileiras – sua modéstia diria “isso é um exagero”, mas sabemos que não é –, sua reação imediata ao ser comparado a Deus foi “em primeiro lugar, não acredito em Deus. Em segundo, não acredito em mim. Essa é a única coisa que pode nos ligar. Então, pra começo de conversa, vamos tirar Deus da mesa e seguir em frente”.

Enfim, ainda não creio que entrevistamos Deus, quase sem falar de Deus. Mas foi com ele mesmo que aprendi uma lição, talvez um mandamento: acreditar em coisas inacreditáveis. (Thiago Araújo)


Você assume que não acredita em Deus, mas existem trechos nas suas músicas como “dias iguais, avareza de Deus” ou “eu, que não creio, peço a Deus”. No Brasil, é complicado não acreditar em Deus?

Eu não tenho crença. Eu fui criado na Igreja Católica, fui educado em colégio de padre. Eu simplesmente perdi a fé. Mas não faço disso uma bandeira. Eu sou ateu como o meu tipo sanguíneo é esse.

Hoje há uma volta de certos valores religiosos muito forte, acho que no mundo inteiro. O que é perigoso quando passa para posições integristas e dá lugar ao fanatismo. O Brasil talvez seja o pais mais católico do mundo, mas isso é um pouco de fachada. Conheço muitos católicos que vão à umbanda, fazem despacho. E fica essa coisa de Deus, que entra no vocabulário mais recente, que me incomoda um pouquinho. Essa coisa de “vai com Deus”, “fica com Deus”. Escuta, eu não posso ir com o diabo que me carregue? (Risos). Tem até um samba que fala algo como “é Deus pra lá, Deus pra cá – e canta – Deus já está de saco cheio” (risos).

Você já foi em umbanda, candomblé, algo do tipo?

Já, eu sou muito curioso. A mulher jogou umas pipocas na minha cabeça, sangue, disse que eu estava cheio de encosto. Eu fui porque me falaram “vai lá que vai ser bom”. Passei também por espíritas mais ortodoxos, do tipo que encarnava um médico que me receitou um remédio para o aparelho digestivo. Aí eu fui procurar o remédio e ele não existia mais. O remédio era do tempo do médico que ele encarnava (risos).

Já tive também um bruxo de confiança, que fez coisas incríveis. Aquela música do Caetano dizia isso muito bem, “quem é ateu, e viu milagres como eu, sabe que os deuses sem Deus não cessam de brotar.” Eu vi cirurgias com gilete suja, sem a menor assepsia, e a pessoa saía curada. Estava com o joelho ferrado e saía andando. Eu fui anestesista dessa cirurgia. A anestesia era a música. O próprio Tom Jobim tocava durante as cirurgias. Eu toquei para uma dançarina que estava com problema no joelho. Ela tinha uma estreia, mas o ortopedista disse “você rompeu o menisco”. Ela estreou na semana seguinte, e na primeira fila estavam o ortopedista e o bruxo (risos).

Uma vez, estava com um problema e fui ao médico. Ele me tocou e não viu nada. Aí eu disse “olha, meu bruxo, meu feiticeiro, quando ele apertava aqui, doía”. Ele começou a dizer “mas essa coisa de feitiçaria…” e atrás dele tinha um crucifixo com o Cristo. Daí eu perguntei “como você duvida da feitiçaria, mas acredita na ressurreição de Cristo?”. Eu acho isso uma incongruência. Gosto de acreditar um pouco nisso, um pouco naquilo, porque eu vejo coisas inacreditáveis. Eu não acredito em Deus, acredito que há coisas inacreditáveis.

De vez em quando você dá uma escapada do Brasil e vem a Paris. Isso te permite respirar?

Muito mais. Eu aqui não tenho preocupação nenhuma, tomo uma distância do Brasil que me faz bem. Fico menos envolvido com coisas pequenas que acabam tomando todo o meu tempo. Aqui, eu leio o Le Monde todos os dias, e fico sabendo de questões como o Cáucaso, os enclaves da antiga União Soviética, que no Brasil passam muito batidos. O Brasil, nesse sentido, é muito provinciano, eu acho que o noticiário é cada vez mais local.

Meu pai, que era um crítico literário e jornalista, foi morar em Berlim no começo dos anos trinta. Foi lá, onde teve uma visão de historiador, de fora do país, que ele começou a escrever Raízes do Brasil, que se tornou um clássico. A possibilidade de ter esse trânsito, de ir e voltar, eu acho boa. É como você mudar de óculos, um para ver de longe e outro para ver de perto.


Nesse seu vai e vem Brasil-França, o que você traria do Brasil para a França, e vice-versa?

Eu traria pra cá um pouquinho da bagunça, da desordem. Os nossos defeitos, que acabam sendo também nossas qualidades. O tratamento informal, que gera tanta sujeira, ao mesmo tempo é uma coisa bonita de se ver. Você tem uma camaradagem com um sujeito que você não conhece. Aqui existe uma distância, uma impessoalidade que me incomoda.

Para o Brasil, eu gostaria de levar também um pouco dessa impessoalidade. Da seriedade, principalmente para as pessoas que tratam da coisa pública. Não que não exista corrupção na França.

Outra coisa que eu levaria pra lá é o sentimento de solidariedade, que existe entre os brasileiros que moram fora. Isso eu conheci no tempo que eu morava fora, e vejo muito aqui através das pessoas com as quais convivo. Eles se juntam. Como se dizia, “o brasileiro só se junta na prisão”. Os brasileiros também se juntam no exílio, na diáspora.

Falando em exílio, tem uma história curiosa de Essa moça tá diferente, a sua música mais conhecida na França.

É. A coisa de trabalho (N.R.: na Itália, onde Chico estava em exílio político, em 1968) estava só piorando e o que me salvou foi uma gravadora, a Polygram, pois minha antiga se desinteressou. A Polygram me contratou e me deu um adiantamento. E consegui ficar na Itália um pouco melhor. Mas eu tinha que gravar o disco lá. Eu gravei tudo num gravador pequenininho. Um produtor pegou essas músicas e levou para o Brasil, onde o César Camargo Mariano escreveu os arranjos. Esses arranjos chegaram de volta na Itália e eu botei minha voz em cima, sem que falasse com o César Camargo. Falar por telefone era muito complicado e caro. Então foi feito assim o disco. É um disco complicado esse.


Você acabou de citar o
Le Monde. Para nós, que trabalhamos com comunicação, sempre existiu uma crítica pesada contra os veículos de massa no Brasil. Você acha que existe um plano cruel para imbecilizar o brasileiro?

Não, não acredito em nenhuma teoria conspiratória e nem sou paranoico. Agora, aí é a questão do ovo e da galinha. Você não sabe exatamente. Os meios de comunicação vão dizer que a culpa é da população, que quer ver esses programas. Bom, a TV Globo está instalada no Brasil desde os anos 60. O fato de a Globo ser tão poderosa, isso sim eu acho nocivo. Não se trata de monopólio, não estou querendo que fechem a Globo. E a Globo levanta essa possibilidade comparando o governo Lula ao governo Chavez. Esse exagero.


Você acha que a mídia ataca o Lula injustamente?

Nem sempre é injusto, não há uma caça às bruxas. Mas há uma má vontade com o governo Lula que não existia no governo anterior.

E o que você acha da entrevista recente do Caetano Veloso, onde ele falou mal do Lula e depois acabou sendo desautorizado pela própria mãe?

Nossas mães são muito mais lulistas que nós mesmos. Mas não sou do PT, nunca fui ligado ao PT. Ligado de certa forma, sim, pois conheço o Lula mesmo antes de existir o PT, na época do movimento metalúrgico, das primeiras greves. Naquela época, nós tínhamos uma participação política muito mais firme e necessária do que hoje. Eu confesso, vou votar na Dilma porque é a candidata do Lula e eu gosto do Lula. Mas, a Dilma ou o Serra, não haveria muita diferença.

O que você tem escutado?

Eu raramente paro para ouvir música. Já estou impregnado de tanta música que eu acho que não entra mais nada. Na verdade, quando estou doente eu ouço. Inclusive ouvi o disco do Terça Feira Trio, do Fernando do Cavaco, e gostei. Nunca tinha visto ou ouvido formação assim. Tem ao mesmo tempo muita delicadeza e senso de humor.

A música francesa te influenciou de alguma maneira?

Eu ouvi muito. Nos anos 50, quando comecei a ouvir muita música, as rádios tocavam de tudo. Muita música brasileira, americana, francesa, italiana, boleros latino americanos. Minha mãe tinha loucura por Edith Piaf e não sei dizer se Piaf me influenciou. Mas ouvi muito, como ouvi Aznavour.

O que me tocou muito foi Jacques Brel. Eu tinha uma tia que morou a vida inteira em Paris. Ela me mandou um disquinho azul, um compacto duplo com Ne me quitte pas, La valse à mille temps, quatro canções. E eu ouvia aquilo adoidado. Foi pouco antes da bossa nova, que me conquistou para a música e me fez tocar violão. As letras dele ficaram marcadas para mim.

Eu encontrei o Jacques Brel depois, no Brasil. Estava gravando Carolina e ele apareceu no estúdio, junto com meu editor. Eu fiquei meio besta, não acreditei que era ele. Aí eu fui falar pra ele essa história, que eu o conhecia desde aquele disco. Ele disse “é, faz muito tempo”. Isso deve ter sido 1955 ou 56, esse disquinho dele. Eu o encontrei em 67. Depois, muito mais tarde, eu assisti a L’homme de la mancha, e um dia ele estava no café em frente ao teatro. Eu o vi sentado, olhei pra ele, ele olhou pra mim, mas fiquei sem saber se ele tinha olhado estranhamente ou se me reconheceu. Fiquei sem graça, pois não o queria chatear. Ele estava ali sozinho, não queria aborrecer. Mas ele foi uma figuraça. Eu gostava muito das canções dele. Conhecia todas.

Falando de encontros geniais, você tem uma foto com o Bob Marley. Como foi essa história?

Foi futebol. Ele foi ao Brasil quando uma gravadora chamada Ariola se estabeleceu lá e contratou uma porção de artistas brasileiros, inclusive eu, e deram uma festa de fundação. O Bob Marley foi lá. Não me lembro se houve show, não me lembro de nada. Só lembro desse futebol. Eu já tinha um campinho e disseram “vamos fazer algo lá para a gravadora”. Bater uma bola, fazer um churrasco, o Bob Marley queria jogar. E jogamos, armamos um time de brasileiros e ele com os músicos. Corriam à beça.


Vocês fumaram um baseado juntos?

Não. Dessa vez eu não fumei.


E essa sua migração para escritor, isso é encarado como um momento da sua vida, já era um objetivo?

Isso não é atual. De vinte anos pra cá eu escrevi quatro romances e não deixei de fazer música. Tenho conseguido alternar os dois fazeres, sem que um interfira no outro.

Eu comecei a tentar escrever o meu primeiro livro porque vinha de um ano de seca. Eu não fazia música, tive a impressão que não iria mais fazer, então vamos tentar outra coisa. E foi bom, de alguma forma me alimentou. Eu terminei o livro e fiquei com vontade de voltar à musica. Fiquei com tesão, e o disco seguinte era todo uma declaração de amor à música. Começava com Paratodos, que é uma homenagem à minha genealogia musical. E tinha aquele samba (cantarola) “pensou, que eu não vinha mais, pensou”. Eu voltei pra música, era uma alegria. Agora que terminei de escrever um livro já faz um ano, minha vontade é de escrever música. Demora, é complicado. Porque você não sai de um e vai direto para outro. Você meio que esquece, tem um tempo de aprendizado e um tempo de desaprendizado, para a música não ficar contaminada pela literatura. Então eu reaprendo a tocar violão, praticamente. Eu fiquei um tempão sem tocar, mas isso é bom. Quando vem, vem fresco. É uma continuação do que estava fazendo antes. Isso é bom para as duas coisas. Para a literatura e para a música.

Tanto em Estorvo quanto em Leite derramado o leitor tem uma certa dificuldade em separar o real do imaginário. Você, como seus personagens, derrapa entre essas duas realidades?

Eu? O tempo todo, agora mesmo eu não sei se você esta aí ou se eu estou te imaginando (gargalhadas).

Completamente. Eu fico vivendo aquele personagem o tempo todo. Entrando no pensamento dele. Adquiro coisas dele. Você pode discordar, mas chega uma hora que tem que criar uma empatia ou uma simpatia. Você cria uma identificação. E alguma coisa no gene é roubado mesmo de mim, algumas situações, um certo desconforto, não saber bem se você é real, se você está vivendo ou sonhando aquilo. Por exemplo, agora que ganhamos de 10 a 1 (referência à pelada que jogamos três dias antes), eu saí da quadra e falei: “acho que eu sonhei. Não é possível que tenha acontecido” (risos).

Você é fanático por futebol?

Não sou fanático por nada. Mas eu tenho muito prazer em jogar futebol. Em assistir ao bom futebol, independentemente de ser o meu time. Quando é o meu time jogando bem, é melhor ainda, pois eu consigo torcer. Agora mesmo, no Brasil, tinha os jogos do Santos.

Mas eu vou menos aos estádios. Eu não me incomodo de andar na rua, mas quando você vai a alguns lugares, tem que estar com o cabelo penteado, tem que estar preparado para dar entrevistas. Aqui, eu estou dando a minha última (risos). Aqui, é exclusiva. Fiz pra Brazuca e mais ninguém. Eu quero ver o pessoal jogar bola. Então eu vejo na televisão. E quando não estou escrevendo, aí eu vejo bastante.


É verdade que um dia o Pelé ligou na sua casa, lamentando os escândalos políticos no Brasil, e disse “é, Chico, como diz aquela música sua: ‘se gritar pega ladrão, não fica um meu irmão’”?

É verdade (risos). Eu falei “legal, Pelé, mas essa música não é minha”. O Pelé é uma grande figura. Nós gravamos um programa juntos. Brincamos muito. Conheci o Pelé quando eu fazia televisão em São Paulo, na TV Record, e me mudei para o Rio. Os artistas eram hospedados no Hotel Danúbio, em São Paulo. O mesmo onde o Santos se concentrava. Então, eu conheci o Pelé no hotel. E sempre que a gente se encontra é igual, porque eu só quero falar de futebol e ele só quer saber de música. Ele adora fazer música, adora cantar, adora compor. Por ele, o Pelé seria compositor.

E você, trocaria o seu passado de compositor por um de jogador?

Trocaria, mas por um bom jogador, que pudesse participar da Copa do Mundo. Um pacote completo. Um jogador mais ou menos, aí não.

Você ainda pretende pendurar as chuteiras aos 78 anos, como afirmou?

Não. Já prorroguei. Tava muito cedo. Agora, eu deixei em aberto. Podendo, vou até os 95 (risos).

O Niemeyer está com 102 anos e continua trabalhando. Aliás, não só trabalhando como ainda continua com uma grande fama de tarado (risos).

Ele me falou isso. Eu fui à festa dele de 90 anos e ele me disse: “o importante é trabalhar e ó (fez sinal com a mão, referente a transar)”. Aí eu falei “é mesmo?” e ele respondeu “é mesmo”.

Falando nisso, o Vinícius foi casado nove vezes. Você acha a paixão essencial para a criação?

Sem dúvida. Quando a gente começa – isso é um caso pessoal, não dá pra generalizar – faz música um pouco para arranjar mulher. E hoje em dia você inventa amor para fazer música. Se não tiver uma paixão, você inventa uma, para a partir daí ficar eufórico, ou sofrer. Aí o Vinícius disse muito bem, né? “É melhor ser alegre que ser triste… mas pra fazer um samba com beleza, é preciso um bocado de tristeza, é preciso um bocado de tristeza, senão não se faz um samba não”.

Quando eu falo que você inventa amores, você também sofre por eles. “E a moça da farmácia? Ela foi embora! Elle est partie en vacances, monsieur!”. E você não vai vê-la nunca mais. Dá uma solidão. Eu estou fazendo uma caricatura, mas essas coisas acontecem. Você se encanta com uma pessoa que você viu na televisão, daí você cria uma história e você sofre. E fica feliz e escreve músicas.

Pra finalizar. Se você fosse escrever uma carta para o seu caro amigo hoje, o que você diria?

Volta, que as coisas estão melhorando!

MAIS

A entrevista foi publicada originalmente na revista Brazuca, uma publicação bilíngue sobre cultura brasileira que circula em Paris e Bruxelas. A partir de 3 de maio, a degravação completa estará disponível no site de Brazuca. Também lá, é possível baixar em pdf, desde já, a edição completa de março-abril (inclusive com as fotos de Chico…)

Canção "Der Hirt auf dem Felsen", de Franz Schubert

Belíssimo lied de Schubert. Para minha supresa, foi um pouco difícil de encontrar no YouTube e tive de apelar para o concerto de graduação de um certo Paul Miller (clarinetista). Há falta de sincronia entre imagem e som na segunda parte, mas não é nada grave. Enjoy!

Paul Miller, clarinet
Rebekah Kenote, soprano
Lisa Spector, piano

Concerto no StudioClio – Trio Sonata da Oferenda Musical e Bist du bei mir

O primeiro concerto da Sociedade Bach de Porto Alegre foi muito satisfatório. Talvez, em seu material de divulgação, o StudioClio tenha explorado pouco a rara característica de ser um concerto com instrumentos originais, para o bem e para o mal. Sou suficientemente purista para preferir a utilização de instrumentos autênticos, mas há problemas — são instrumentos difíceis de controlar, principalmente quando a temperatura muda. Lembrem que os primeiros dias outonais ocorreram nesta semana. Por exemplo, o cravo do excelente Fernando Cordella estava falhando e causando preocupação a ele e ao público. Só que, meus amigos, faz parte do jogo, o som não vem sozinho. O mesmo deve ter ocorrido com Carlos Sell, mas nada ocorreu com o imparável Artur Elias, de espetacular atuação na Sonata Trio da Oferenda Musical. Artur parecia meio zonzo ao final do concerto, algo do gênero “”onde estava indagorina?” ou “eu fiz isso mesmo?”. Fez. Também Ângela Diel esteve muito bem.

A propósito de Ângela: ela repetiu a ária Erbarme dich no bis, saindo-se muito melhor do que antes. Fico pensando no Mal de Porto Alegre. Analisemos: o concerto foi preparado para apenas uma récita. Imaginem se tivéssemos público para várias sessões. Neste caso, este grupo de músicos estaria no ponto lá pelo terceiro dia, rendendo tudo o que indiscutivelmente sabem.

A sala principal do Studio Clio acomoda 100 pessoas. Seria esperar demais uma demanda de 300 pessoas para um concerto deste nível? Não, né? Moramos numa cidade de mais de 1 milhão de pessoas. Somemos os ouvintes da Rádio da Universidade, mais os músicos, mais os estudantes de música, mais os curiosos, mais os apaixonados como eu, mais os namorados ou namoradas de todos, quantos dá? Raciocino desta maneira porque acho criminoso o notável esforço despendido para ensaiar obras tão importentes e difíceis somente para um recital. Acho um crime o que esta cidade comete contra si. Há que serem criados novos hábitos, nem que seja à fórceps.

Bem, como sempre posto músicas no fim-de-semana, deixo com vocês a Trio Sonata da Oferenda com o Musica Antiqua de Köln e um curioso filme com Bist du bei mir incompleta. Vale a pena ver e ouvir tudo!

Programa de sexta-feira no StudioClio:
Johann Sebastian Bach (1685 – 1750)

Sonata em Sol menor para Flauta e Cravo obligatto, BWV 1020
– Allegro
– Adagio
– Allegro
– Presto

Paixão Segundo São Mateus, BWV 244
– Erbarme dich (ária)

Missa em Si Menor BWV 232
– Agnus Dei (ária)

– Bist du bei mir, BWV 508 (Nota do Milton: na verdade esta ária avulsa é de Gottfried Heinrich Stölzel)

Suite Francesa para cravo solo em Sol Maior, BWV 816 (excertos)
– Allemande
– Sarabande
– Gavotte

Aria em Sol Maior das Variações Golgberg, BWV 988

Oferenda musical, BWV 1079
Sonata Sopr’ Il Soggetto Reale a Traversa, Violino e Continuo
– Largo
– Allegro
– Andante
– Allegro
– Canon Perpettus

Angela Diel (mezzo-soprano),
Artur Elias Carneiro (traverso barroco),
Carlos Sell (violino barroco) e
Fernando Turconi Cordella (cravo).

Musica Antiqua Köln:
Wilbert Hazelzet (traverso)
Reinhard Goebel (violino)
Phoebe Carrai (cello)
Andreas Staier (cravo)

Ingrid Kertesi, soprano

Beethoven – Sinfonia Nº 7, Op.92, 4º mvto, Allegro con brio

Durante esta semana, escrevi que faltava elã à OSPA (Orquestra Sinfônica de Porto Alegre), que a postura da orquestra era desidiosa e desmotivada, fato talvez causado por enormes e repetidos equívocos de repertório, os quais obrigam, por exemplo, a orquestra a comemorar repetidamente os 200 anos de Schumann e quase ignorar os 150 de Mahler, compositor, aliás, esquecido pela orquestra há anos… Coisa triste. Então, vamos ao outro extremo: o primeiro comentário a este vídeo do YouTube é They sure are having fun!! (…) Great Berlin Philharmoniker!!

160 estações de rádio tocando música erudita 24h por dia, 7 dias por semana

Já que estamos no terreno da música… Vamos a um post informativo. O site com a lista e links das estações está no final do texto. Por exemplo: encontrei uma rádio polonesa que toca exclusivamente Bach, sem parar nunca. Confira a explicação, retirada da página da emissora:

Przez 24 godziny na dobę, 7 dni w tygodniu oferujemy twórczość Jana Sebastiana Bacha. Słowo “Bach” w języku niemieckim oznacza strumień, potok i takim nurtem muzycznym nadaje nasze Radio B.A.C.H. W zależności od nastroju wybierz kanał, który najlepiej “nastroi” twoje samopoczucie.

Claríssimo, não? Godziny deve ser “horas”, não? E dni , “dias”, é claro. Tygodniu seria semana? Oferujemy deve ser “oferecemos”; muzycznym seria talvez “música”, “músico” ou “compositor”; strumie obviamente não é “estrume” e sim “instrumentos” e kanał, “canal”. Entendemos tudo! Viram como sei polonês? Nem tomarei processo dessa vez! (Epa, rimou). Mas tergiverso…

Tenho certeza absoluta de que o mestre, um austero trabalhador e pai de vinte filhos, detestaria ser chamado de Jana Sebastiana — nome de comadre paraibana. (Epa, de novo). Mas sacanagem é colocarem nele um sobrenome de economista tucano.

E aqui, nesta página, está a relação de 160 estações de rádio espalhadas pelo mundo. Todas disponíveis na rede e dedicadas aos eruditos. Boa navegação!

Com especial predileção e amor por esta aqui.

Milton Ribeiro entrevista PQP Bach

MR: Como começou o blog PQP Bach?

PQP: Olha, o PQP começou como um spam para os amigos. Eu sempre fui um distribuidor de música e livros… Na adolescência, uma admiradora me chamava de “o guri dos discos” porque eu estava sempre levando discos para alguém ou trazendo de volta para casa. Então, alguém me pedia um CD e eu convertia para mp3 e mandava. Depois, passei a mandar para um grupo de conhecidos interessados em música. Alguns poucos agradeciam, outros silenciavam. Mas dois dias depois, eu ia no rapidshare e via que mais de 20 tinham baixado o CD. Era uma popularidade incrível (risadas…). Aí, pensei que seria legal deixar disponível para a blogosfera, apesar da blogosfera ser pouco musical…

MR: A blogosfera não é musical?

PQP: O mundo é muito pouco musical. Ou raramente ouve música de qualidade, óbvio. A porcaria grassa.

MR: Espere! Vamos por partes. A gente já falou superficialmente sobre popularidade e já estamos na qualidade. Voltemos à popularidade. 20 downloads em 2 dias?

PQP: Isso naquela época. Hoje, há 20 downloads em duas horas. Sei lá como os caras descobrem as postagens. Talvez pelo RSS. O que sei é que os caras se atiram em cima. Chego a me sentir mal quando não postamos um CD por dia. Temos que alimentar essa gente! Hoje, postamos mais de um por dia, em média.

MR: Por que vocês fazem este, digamos, serviço?

PQP: Sinceramente, não sei. Desconheço o motivo de algumas pessoas fazerem blogs anônimos para distribuir a música que gostam. Nunca ganhei nada fazendo isso. Talvez seja uma manifestação de minha culpa por possuir uma obscena quantidade de discos de vinil, uns 1200, uma cedeteca enorme e gigas de mp3. É nojento e obsceno ser dono de tudo isso. Dou muitos de meus CDs com músicas repetidas e que acho que não vou mais ouvir. É necessário e, para ser politicamente correto, ecológico reaproveitar esse material precioso, muitos deles fora de catálogo. Mas, internamente, eu não vejo a coisa pelo lado da generosidade ou da solidariedade. Talvez a coisa toda se resuma na necessidade que tenho de conversar e dialogar com pessoas que tenham interesses parecidos. Então, ofereço o que tenho e os caras aparecem.

MR: Então os comentários são fundamentais ao blog.

PQP: Pô, sem dúvida. Eu quero e busco o papo. Temos que nos unir de alguma forma. Acho que a cultura relevante está se tornando coisa de especialista. E isto também na literatura. Os amantes da literatura de primeira linha tem que ir ao blog do Sérgio Rodrigues ou a alguns outros poucos para ler algo mais atualizado sobre o movimento editorial. É irritante. Não há uma crítica literária ou musical que seja pública. Os cadernos de cultura estão tomados por uns caras chatos pra caralho – exceção feita à Rascunho. Parecem uns acadêmicos precisando de mais titulação. Ninguém fala para o leitor comum nem para o conhecedor. Quem lê aquela merda mesmo?

MR: Sei lá. Meu maior ídolo literário é Tchékhov. Conheço profundamente o cara. Dia desses, li um sujeito que tornava Tchékhov um chato, ou que parecia… parecia que suas teses sobre Tchékhov poderiam se aplicar a qualquer outro escritor. Era um troço dificílimo de ler, todo verboso e intrincado. Mas, quando reli e tentei entender… era uma idiotice sem conteúdo, sem direção, merda pura. O cara não dava opinião, parecia um tucano em cima do muro. Era “correto”.

PQP: Sim, o vazio intelectual está presente também na música. Procuro escrever de forma sempre compreensível, ou copio caras que escrevem de forma clara e também meio irreverente e acessível. Porque Beethoven e Bach e Mozart e esses gênios não foram pessoas reverentes ou politicamente corretas. A partir do momento em que alguém tem algo a dizer — e eles tinham, como pensar que não? — , algo para expressar, eles vão provocar concordância ou não, consonância ou dissonância. Só a mediocridade provoca reação nenhuma. E hoje ser controverso é uma ofensa. O bom é ser incontroverso, ou seja, comum, medíocre, produtor de coisinhas inodoras.

MR: É, você tem razão. Mas como surgiram seus companheiros de blog?

PQP: Olha, não conheço nenhum deles pessoalmente… E um é de Porto Alegre, veja só. Primeiro veio o FDP Bach, um cara de Blumenau que conheci no Orkut. O que eu apreciei logo nele é que ele gostava da música que para mim é quase nada, a romântica. Ele vinha com os Chopins, Rachmaninovs, Liszts e assemelhados da vida e via transcendência naquilo… Quando vi que não daria conta das postagens quase diárias que hoje fazemos, pensei nele. Eu não queria um segundo eu que postasse as mesmas músicas. Queria outra personalidade, queria um diálogo com alguém diferente. E ele é um cara perfeitamente maduro, compreende que somos diferentes. O Blue Dog veio pela enorme capacidade que o cara tinha de descrever música. Uma vez, pedi que o Blue Dog desse uma noção de jazz para meu filho. Passou uma semana e o cara me mandou um e-mail com mais de 20 páginas e mais dois CDs pelo correio. Uma coisa brilhante que o cara fez improvisadamente, na hora. Um absurdo a inteligência e capacidade do cara. Não tive outra escolha. Adoro jazz, claro, e o Blue Dog gosta de meu ídolo Charlie Mingus. Era uma escolha lógica. Este foi o núcleo inicial. Depois, dentro do mesmo critério, vieram o CDF Bach – música moderna – , o Ciço Villa-Lobos – música brasileira –, o Marcelo Stravinsky e o Carlinus – tudo e mais um pouco – e o Avicenna, que faz um belo e inédito trabalho sobre a música colonial brasileira. Todos partem destes pontos, mas podem postar o que quiserem.

MR: Vai entrar mais gente aí?

PQP: Não sei. Provavelmente sim.

MR: Podemos voltar à questão da qualidade?

PQP: Sim, como?

MR: (risadas) Ora, como vocês escolhem as obras? Há uma coerência? Um plano?

PQP: Não, de modo algum. A regra é agir sem estresse. Ninguém corre para atender pedidos e nem para postar. Faz quando quer. Meu critério é o de postar o que ando ouvindo. O PQP não é um curso de música ou uma sistematização para formar uma discoteca básica para nosso público (risadas), faço uma bagunça mesmo. Não me preocupo com os pedidos, a não ser que o cara acerte em cheio ou perto a música que estou ouvindo. Acho que os outros também agem assim.

MR: Então vcs só ouvem música de qualidade?

PQP: Olha, talvez sim. Posso falar por mim: não sou mais um jovenzinho, não posso perder tempo com porcaria.

MR: Pois é, isso é incrível. Dia desses, um amigo me pediu para ler o Marcelino Freire, uma bosta de escritor nascido nos blogs. Eu não quis ler. Disse que preferia seguir lendo a obra de Bolaño e Freud.

PQP: Ah, é óbvio. Sim, eu li aquela menina gaúcha. Blogueira, Clara….

MR: Averbuck?

PQP: Sim, li um livro dela e uma tradução que ela fez de Swift.

MR: Bem, você é masoquista. Isto é uma novidade. Os ouvintes do PQP jamais imaginariam…

PQP: (risadas) É, era tão ruim que fiquei fascinado… Nem chega a ser kitsch, é pré-kitsch, pré-escrita, pré-antigo, pré-rupestre.

MR: Mas, voltemos à questão da qualidade e de vcs ouvirem só boa música.

PQP: Não, eu não ouço só música de qualidade. Há muita porcaria e eu posto no mesmo jeito. Digo que não gostei, posto porque alguém pode gostar ou querer conhecer. Não sou politicamente correto, não fico só elogiando. O politicamente correto implica, NECESSARIAMENTE, em concessão.

MR: As gravações vêm do teu acervo de CDs comprados?

PQP: Sim, uns 70%. Apesar do preço absurdo, ainda compro CDs. A Amazon vende usados. É uma boa e sou um pouco fetichista. Gosto de girar o CD nas mãos enquanto ouço. Gosto de ler os libretinhos, as opiniões, a história, as circunstâncias, o escambau.

MR: Daí, o acervo, a tal cedeteca.

PQP: Claro.

MR: O PQP tem textos.

PQP: Sim, e é o que mais gosto nele. A música se consegue. Uma opinião, mesmo uma bem imbecil, vale muito, principalmente se o leitor conhece pouco, se não tem vivência. Acredito que se aprende a ouvir com os outros, com o contato. O contato motiva, certo?

MR: Certamente. Cria um ambiente propício. Deixa a pessoa mais ligada, talvez.

PQP: Sim.

MR: Onde você aprendeu tanto sobre música?

PQP: Veja bem, eu não sei nada. Não leio partituras nem toco nenhum instrumento. Sou um fenômeno do século XX e XXI: sou um ouvinte. Um cara que pode ficar 12 horas ouvindo continuamente música, um gênero de pessoa impossível nos séculos passados. Aprendi muito sobre história da música — consulto muito pouco quando escrevo minhas pequenas introduções, gasto um tempo mínimo — , aprendi lendo e ouvindo. Mas os músicos elogiam o blog deste ignorante. De tanto ler e ouvir, posso ter desenvolvido alguma sensibilidade. Já não sei onde aprendi isto ou aquilo, onde aprendi e reconhecer isto ou aquilo, devo estar sempre pecando contra o rigor e a precisão, cometendo absurdos, mas os leitores são bonzinhos e deixam passar… Mas meus erros provém de convicções desenvolvidas ao longo dos anos, de meus gostos e sentimentos, então são convincentes! Tá pensando o quê?

MR: É importante ser convicto, mesmo que equivocado! (risadas) E a questão das interpretações com instrumentos autênticos?

PQP: Olha, cada época tem seus instrumentos e sua forma de interpretar. O importante não é utilizar os instrumentos de acordo, mas não misturar. O Celibidache toca a Missa de Bach e é brilhante, tudo com instrumentos atuais. Ele tem o direito, ele tem o que dizer sobre a Missa. E ele, assim como qualquer outro, não está proibido de tocar, desde que possua senso de estilo e que saiba “criar beleza”, por assim dizer. Assim como as interpretações do Leonhardt, do Harnoncourt e do pessoal do Musica Antiqua, que só usam instrumentos originais. O que não pode é o cara que usa instrumentos atuais fazer uma coisa hesitante e sem estilo, como o Karajan fazia quando tocava Bach ou Vivaldi. E nem pode o cara da instrumentação original pensar que está livre de interpretar a música. Normalmente, a gente é indulgente com o sujeito que respeita a sonoridade de época. É ridículo! O executante tem que tentar tornar a coisa interessante sempre!

MR: Sim, e é muito empobrecedor para nossa época pensar que não podemos renovar e demonstrar novas riquezas na música do passado.

PQP: Claro, isto é o mesmo que dizer que Glenn Gould era um inútil. Ele passou a acentuar notas e coisas que eram antes ignoradas. Ele acabou com a Landowska… Ele, com um piano moderno, virou tudo de cabeça para baixo. Ele criou a interpretação monumental do Hantaï para as Goldberg. Ou seja, ele criou o cara que veio a superá-lo. É óbvio.

MR: Mais diálogos.

PQP: Sim, claro. Tudo é assim. A gente sobe nos ombros dos visionários, como dizia Newton. Não tu, falo do Newton com “N”. Do Isaac.

MR: Um epígono dos muitos que tenho…

PQP: (risadas) Por falar em epígonos, fomos copiados no PQP.

MR: Ah, eu vi. Um guri copia o post inteiro para seu blog e não diz quem é o autor.

PQP: Pois é. É a putaria da Internet. Não custa nada fazer um link dizendo: olha, copiei daqui.

MR: Para terminar, e os muitos links expirados?

PQP: Olha é impossível manter mais de 1500 posts com os links ativos. As gravadoras mandam tirar. Não podemos ser um repositório ou uma biblioteca de música. As pessoas têm de baixar logo. É uma caçada, a gente deixa disponível ali; então, vêm uns caras vindos do éter e detonam com parte da coisa. É horrível.

MR: Bom, vamos acabar o papo. Podemos fazer aquela frescura do Questionário do Proust?

PQP: Bernard Pivot? Tu gosta daquele questionariozinho… Putz, mas não garanto nenhum brilhantismo.

MR: Qual é o defeito que você mais deplora nas outras pessoas?

PQP: A incapacidade de colocar-se no lugar de outro. A falta de empatia.

MR: Como gostaria de morrer?

PQP: Sonhando.

MR: Qual é seu estado mental mais comum?

PQP: Um tumulto generalizado. Muitas coisas por fazer. Atraso. Preocupações. Estresse.

MR: Qual é o seu personagem de ficção preferido?

PQP: Adrian Leverkühn ou eu mesmo.

MR: Qual é ou foi sua maior extravagância?

PQP: Não sou nada extravagante. Mas acho que uma biblioteca ou uma cedeteca grande é uma extravagância, não?

MR: Qual é a pessoa viva que mais despreza?

PQP: Desprezo são algumas atitudes, omissões. Ninguém é 100% desprezível.

MR: Qual é a pessoa viva que mais admira?

PQP: A mesma coisa, admiro atitudes, posições. Não existe alguém 100% admirável!

MR: Se depois de morto tivesse de voltar, em que pessoa ou coisa retornaria?

PQP: Num CD Player ou numa daquelas luzinhas de ler à noite. Ou em qualquer cara rico, heterossexual e de bom gosto.

MR: Em quais ocasiões costuma mentir?

PQP: Eu exagero as histórias que conto. Elas se tornam outra coisa.

MR: Qual é sua idéia de felicidade perfeita?

PQP: Um jantar com Mônica Bellucci; ao fundo, as suítes para violoncelo de Bach. Depois do jantar, em local mais confortável e horizontal, uma Cavalgada na Valquíria, mas sem a música, só com o espírito dela.

MR: Qual é seu maior medo?

PQP: O de tornar-me um peso para os outros.

MR: Qual é seu maior ressentimento?

PQP: Tenho ressentimento contra a injustiça do tempo, de não ter tempo para tudo, de envelhecer, de cansar.

MR: Que talento desejaria ter?

PQP: O de adivinhar os pensamentos das mulheres. (risadas)

MR: Qual é seu passatempo favorito?

PQP: Ouvir música, ora.

MR: Se pudesse, o que mudaria em sua família?

PQP: Daria um velho riquíssimo e moribundo à minha mãe. Bem moribundo e apaixonado. E, fundamentalmente, generoso.

MR: Qual é a manifestação mais abjeta de miséria?

Dizer que os miseráveis não sofrem tanto, que se acostumam a sua situação. E deixar assim.

MR: Onde desejaria viver?

PQP: Numa Porto Alegre mais culta e menos quente. Numa cidade com mais teatros, música e literatura. Numa cidade que mereça esta denominação.

MR: Qual a virtude mais exagerada socialmente?

PQP: A inteligência. Pois a pessoa precisa ser mais completa, né?: deve ser um pouco inteligente, um pouco solidária, um pouco atenta aos outros, não deve mudar demais face às circunstâncias nem ser egoísta, deve ter reações adequadas e calmas, etc. Mas o cara que é só inteligente é o mais admirado.

MR: Qual é qualidade que mais admira num ser humano?

PQP: A serenidade, como tu escreveu dia desses. Ela é alegria, tranqüilidade, clareza e… E?

MR: Sabedoria.

PQP: Tudo numa só palavra.

MR: Foi Marcelo Backes quem escreveu isso. Não fui eu. Concordo com ele. Qual é a maior das músicas?

PQP: Hoje, a Oferenda Musical de Bach. Amanhã, pode ser outra.

MR: E os cinco maiores compositores?

PQP: Meu pai, Brahms, Beethoven, Bartók e Mahler.

MR: Quando e onde você foi mais feliz?

PQP: Acontece muito quando ouço música.

MR: Acabou.

PQP: A entrevista? Nem doeu muito.

MR: Ótimo.

Fossati deve ser racista!

É a única explicação que encontro para a não-titularidade de Andrezinho. D`Alessandro, Giuliano, Edu… todos branquinhos. O time ganha vida cada vez que Andrezinho entra em campo. Ou será que Fossati não viu Inter 2 x 0 Ipiranga? Andrezinho é o única cara contundente naquele time delicado.

Preconceito (Orlando Silva)

Eu nasci num clima quente
Você diz a toda gente
Que eu sou moreno demais
Não maltrate
O seu pretinho
Que lhe faz tanto carinho
Que no fundo é um bom rapaz

:¬)))

Tudo em doses homeopáticas, até a cerveja

Há noites em que nada acontece e há outras em que tudo acontece no mesmo horário. Ontem, eu receberia uma pessoa aqui em casa às 19h, neste horário começaria um debate sobre a ficção de gênero na Palavraria. Meu compromisso caseiro acabou logo e corri para o debate. Nossa, estava ótimo — em outra faixa, pude comprovar meio constrangido a popularidade deste espaço…, algumas pessoas quase fizeram tietagem, fiquei feliz demais, imagina se não? — , o Xerxenesky, o Samir e o Carlos André Moreira conhecem literatura, são bem-humorados e sabem se expressar, o que nem sempre ocorre com escritores. Só que eu tinha prometido ir ao concerto da OSPA com minha mulher, o qual começaria às 20h30. Saímos (sumimos) à francesa e chegamos am cima da hora na OSPA. Credo, a primeira noite dedicada aos 200 anos de nascimento de Schumann absurdamente chata, realizada por músicos sem o menor tesão. Salvou-se a Sinfonia Nº 4 na segunda parte do Concerto, mas eu estava com uma fome de anteontem e só pensava no jantar com o Branco e a Jussara, muito mais legais do que aquilo que acontecia no palco.

Resultado: chegamos em casa muito tarde para uma terça-feira e a cerveja Bluehead foi a culpada de eu começar o dia de hoje com uma hora de atraso. Ah, por falar em musica, deixo-vos com duas resenhas alucinadas de P.Q.P. Bach, do blog erudito de mesmo nome, ambas publicadas nesta semana.

J. S. Bach (1685-1750): Bach Attributions

Por uma dessas coisas inexplicáveis, a obra para órgão de Bach está fora de moda. Algumas pessoas acham que o som do órgão é tão irritante quanto os padres pedófilos de Ratzinger — o qual parece preferir sexo com crianças do que entre adultos — , mas é bem no órgão que Bach realiza suas maiores experimentações. (Ah, acharam que eu ia fazer uma piada com o órgão sequiçual, né?) Mas retornemos ao que interessa: o que há de peças amalucadas na Orgelwerke é uma grandeza! E eu gosto. Muito! Este CD é sensacional por diversas razões.

(1) O organista é do caralho (ou do órgão, como queiram);
(2) O repertório, apesar de evitar os experimentalismos, está longe dos lugares-comuns;
(3) A produção da Hyperion é fodal;
(4) O CD está fora de catálogo até em Marte e
(5) Fique tranquilo, você não terá de ouvir a Toccata e Fuga em Ré Menor de novo.

E ah, vocês sabem como era a nossa família. Vinte filhos e aquele entra e sai de alunos, todos interpretando peças de sua preferência e criando outras. Então, alguns historiadores de ejaculação precoce pegaram tudo isso e disseram que era de Johann Sebastian, mas nem sempre era… Neste disco há peças de vários Bachs, de outros agregados que tentavam comer minhas irmãs e de todo o tipo de gente que queria a cerveja de meu pai. Havia por lá um certo Ratz que só se interessava pelos meninos e meninas de menos de dez anos… Bem, era uma zona e até isso se reflete neste baita CD.

CD IM-PER-DÍ-VEL !!!! (como diria o véio Ratz observando um pré-púbere)

Béla Bartók (1881-1945): Sonata for Solo Violin / Leoš Janáček (1854-1928): Violin Sonata / Claude Debussy (1862-1918): Violin Sonata / Serguei Prokofiev (1891-1953): Violin Sonata Nros 1 e 2 / Igor Fyodorovich Stravinsky (1882-1971): Divertimento

Viktoria Mullova é um das preferências absolutas deste filho de Bach, que também a acha bonita, apesar da notícia que FDP Bach me passou: ela agora estaria jogando em nosso time, disputando as moças. Como provavelmente não iria comê-la mesmo, tanto faz. Mas a sonoridade desta moscovita é coisa de louco.

A peça de Bartók é uma peça de Bartók, isto, é, é esplêndida e o mantém entre os 3 maiores Bs da música erudita, os quais permanecem como os maiores mesmo quando se usa todas as outras letras do alfabeto. Quem são os três? Ora, Bach, Brahms, Beethoven e Bartók.

A peça de Janáček é igualmente sensacional. Música bem eslava, sanguínea e cheia de surpresas e belas melodias, combinando perfeitamente com Bartók.

Depois a gente brocha. Debussy… Debussy… Debbie…, o que dizer? Claude, apesar do tremendo esforço que fez para movimentar-se no primeiro movimento, é um gordo. Portanto, é meio estático. Para piorar, é também extático. Bem, hoje faz um lindo dia e dizem que é o Dia do Beijo, o que significa que eu deveria ir para a rua ver o que consigo. (Mas, olha, foi das melhores coisas que já ouvi do gordo Debbie).

Prokofiev! Ah, Serguei é outro papo. Já de cara ele mostra quão fodão é naquele tranquilo Andante assai e no furioso Allegro brusco que o segue. Sem dúvida, é um cara que valoriza o contraste… Nós também detestamos o total flat, a gente gosta tanto dos mares piscininha quanto das descidas vertiginosas; afinal, os acidentes geográficos é o que faz a beleza da paisagem, né? As duas Sonatas de Prokofiev são notáveis.

Stravinsky… Sei que meus pares aqui no blog são admiradores do anão russo e adoro provocar, só que não dá, o cara é bão demais, raramente erra. Será que o gordo Debbie escreveu alguma coisa chamada “Divertimento”? Ele se divertia com o quê?

IM-PER-DÍ-VEL !!!!