Jornalistas recebem treinamento do BOE sobre como devem atuar em manifestações

Jornalistas recebem treinamento do BOE sobre como devem atuar em manifestações

Publicado em 16 de junho de 2014 no Sul21

Por solicitação do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do RS (SINDJORS), a Brigada Militar mostrou como deve ser o comportamento dos profissionais de imprensa durante quaisquer manifestações, durante ou fora da Copa do Mundo. Além do presidente do Sindicato, Milton Simas Junior, estava presente um grupo de jornalistas convidados. O evento teve a duração de dois turnos, manhã e tarde, envolvendo uma parte teórica pela manhã, almoço e prática à tarde. O local escolhido foi o canil da Brigada, já que todos os outros espaços estavam ocupados por militares que vieram do interior.

Foto: Carlos Latuff
“Agora o inimigo é você” | Foto: Carlos Latuff

A instrução foi ministrada por três capitães — Araújo, Euclides e Bukowski. Bukowski fez uma apresentação do ponto de vista legal, revisando as atribuições e a lei que regula a atividade policial dentro do contexto das manifestações. Sua apresentação teve o auxílio de um PowerPoint que mostrava cenas de manifestações. Ele abriu a apresentação com uma imagem do filme Tropa de Elite que mostrava a frase “Agora o inimigo é você” e outras imagens de protestos retiradas das redes sociais.

Depois disso vieram os dois outros capitães, os quais fizeram uma abordagem do ponto de vista estratégico. Definiram, por exemplo, a sigla CDC (Controle de Distúrbios Civis) e explicaram como os jornalistas devem se portar diante de uma manifestação a fim de se proteger fisicamente. A teoria estendeu-se até a hora do almoço.

Foto: Carlos Latuff
Jornalistas fora do alvo | Foto: Carlos Latuff

Após o almoço, houve a apresentação das armas utilizadas para conter conflitos. Foram apresentados os armamentos da Condor, empresa do Rio de Janeiro, tais como lançadores de granada e diversos tipos de munições não letais.

Foto: Carlos Latuff
Parte da munição | Foto: Carlos Latuff

Depois, os jornalistas foram levados num micro-ônibus até uma pedreira próxima ao Quilombo dos Alpes. Ali, foram demonstradas cada uma das munições. Calibre 12 de curta, média e longa distância, quatro tipos de granada de efeito moral, gás lacrimogênio, etc. Depois de fazer demonstrações em três alvos  — silhuetas humanas de papelão –, os jornalistas foram convidados a participar.

Nem todos entraram na fila com a finalidade de experimentar as armas. Os que participaram deram tiros com vários tipos de munição. Alguns puderam jogar granadas também. Havia granadas para serem jogadas com a mão e outras para serem atiradas com um lançador. Depois disso, foi feita uma demonstração de como atua a formação clássica de um pelotão do choque. Então, surgiu um pelotão do BOE vestido exatamente como os que vão para as ruas, equipado, armado e em formação. A intenção era reproduzir a abordagem de aproximação contra manifestantes. No teatro montado, os manifestantes eram policiais à paisana que gritavam “Revolução! Não vai ter Copa!”. Ninguém atacou ninguém.

Então, foi proposto que os jornalistas se fizessem de pelotão de choque. “Agora, os policiais vão tirar seu equipamento e os senhores poderão usá-los para sentir o mesmo que a gente sente”. Com exceção de três jornalistas, o restante do grupo animou-se a fazê-lo. E passaram a vestir-se como policiais. Houve brincadeiras com aqueles que não aceitaram participar da simulação. “Vocês não vão receber o certificado de participação no curso…”.

Foto: Carlos Latuff
Os jornalistas encaram o inimigo e… | Foto: Carlos Latuff
Foto: Carlos Latuff
… vão ao ataque, recebendo frutas! |Foto: Carlos Latuff
O presidente do Sindicato dos Jornalistas do RS Milton Simas Júnior | Foto: Carlos Latuff
O presidente do Sindicato dos Jornalistas do RS Milton Simas Júnior | Foto: Carlos Latuff

O presidente do Sindicato ficou entre aqueles que colocaram os capacetes, escudos e o cassetetes. Eles fizeram a formação da polícia e foram atrás dos “manifestantes”. Quando chegaram a uma certa distância, os “manifestantes” começaram a atacá-los com frutas. Em meio à simulação — conforme fora combinado previamente com o comando do BOE — , o instrutor da PM aproximou-se por trás e soltou uma bomba real de gás lacrimogêneo, provavelmente do tipo “bailarina”. Esta não explode, somente esguicha o gás. Formou-se então uma nuvem branca no meio da tropa de jornalistas, que ficaram desnorteados. E o capitão gritou:” Mantenham a unidade! Não se dispersem!”. Como eles não tinham o treinamento adequado, dispersaram-se de qualquer maneira, começando a tossir. A assessora do Sindicato caiu, passando mal, e foi atendida por dois oficiais médicos que estavam lá.

Foto: Carlos latuff
Uma baixa na tropa de choque formada pelos jornalistas | Foto: Carlos latuff

Todos ficaram constrangidos durante o atendimento. O comando explicou que aquilo não estava dentro do previsto, mas que os médicos resolveriam o problema rapidamente. Após a assessora erguer-se e não sem antes tirar uma foto com fumaça colorida para guardar como lembrança do curso, todos dirigiram-se para o micro-ônibus de volta para o batalhão, onde foi servido um lanche de pão com salsichão. Foram entregues os certificados e houve mais falas, inclusive a do comandante geral do Batalhão. O presidente do sindicato sugeriu uma aproximação entre os jornalistas e policiais militares: “Espero que não aconteçam protestos como os do ano passado, mas, se houver, desejamos que os jornalistas possam trabalhar em conjunto com a Brigada”.

Depois disso, o representante do Sindicato entregou a cada um o guia da Copa da Volkswagen para jornalistas.

Para a posteridade | Foto: Carlos Latuff
Para a posteridade | Foto: Carlos Latuff

Segundo o cartunista e repórter fotográfico Carlos Latuff, presente no evento, a ideia era a de capacitar os profissionais da imprensa que cobrem manifestações para atuar com segurança. Mas o que se verificou, principalmente nesse momento da prática, foi uma aproximação dos jornalistas com a tropa de choque, com a polícia, através de jogos lúdicos. “Repare que o pessoal brincava com escopeta calibre 12, atirando bala de borracha. Aquela arma, aquela munição, é utilizada para atingir pessoas. Pessoas, inclusive, já perderam os olhos por conta dessas balas. O comando disse que havia diferença de precisão entre a munição fabricada no Brasil e a munição padrão americano. Disseram que o policial é treinado para atingir o manifestante do joelho para baixo, mas que estes muitas vezes os atingem mais acima em função da munição nacional não ser de boa qualidade. Nos Estados Unidos , palavras deles, “se você atira abaixo do joelho é abaixo do joelho que a munição vai”. No Brasil não. É curioso que o Brasil, através da Condor, exporta essa munição. O gás lacrimogêneo utilizado no Bahrein é feito pela Condor. O gás lacrimogêneo que é utilizado na Turquia é também produzido pela Condor. Não acredito que esses países comprariam produtos de má qualidade do Brasil”.

Segundo o jornal Versão dos Jornalistas, do SINDJORS, o presidente Milton Simas e o comando do BOE acenam com novas ações integradas entre as duas entidades. “Todos saímos do treinamento melhor instrumentalizados para cobrir protestos. A Brigada Militar deixa abertos seus portões aos jornalistas e isto pode significar uma nova edição do curso. Recebemos orientações importantes de como se portar e de como comparecer a estas manifestações. Por exemplo, poucos sabem que lentes de contato não combinam com gás lacrimogêneo e que há que ser cuidado até com a maquiagem”. O primeiro secretário do SINDJORS, Ludwig Larré, um dos idealizadores do treinamento, observa que a entidade assumiu uma responsabilidade que deveria ser das empresas, no sentido de promover a segurança dos trabalhadores jornalistas.  “Não podíamos protelar essa capacitação. O Sindicato tem que zelar pela integridade física da categoria. Se isso ocorrer por meio de ações conjuntas com as empresas, tanto melhor. Caso contrário, estaremos sempre buscando os meios para que esse serviço não deixe de ser prestado”, pondera Larré.

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Na beira da piscina ou no Beira-Rio, o Fabrício tem que se acalmar

Na beira da piscina ou no Beira-Rio, o Fabrício tem que se acalmar

Na beira da piscina…

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Ou no Beira-Rio…

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o Fabrício tem que se acalmar.

(Fazia tempo que eu não botava algo totalmente sem sentido no blog. Tava com saudades).

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Fabrício e seu chilique contra a tribo (com vídeo)

Fabrício e seu chilique contra a tribo (com vídeo)
Fabrício: fim da linha
Fabrício: fim da linha

Para se entender o futebol, há que se considerar sua dimensão tribal e ritualística, seu lado irracional. Há valores infantis, mas muito sérios, envolvidos. A camiseta, as cores, o símbolo, o clube, a fidelidade à tribo. Quando Fabrício ouviu as vaias ontem à noite, ele desistiu da jogada e virou-se para a arquibancada mandando-a tomar no cu com os dois dedos médios erguidos. Foi uma ofensa grave, mas um descontrole até perdoável após punição, pedidos de desculpas e geladeira de algumas semanas. Mas depois, quando foi expulso, ele fez mais. Ele pegou a camisa do clube, o chamado manto sagrado, e o jogou no chão. Naquele momento, descumpriu vários acordos tácitos de amor à tribo e tornou impossível o caminho da volta.

Não fui ao jogo de ontem. Cheguei em casa cansado e repassei meu ingresso ao coloradíssimo zelador do prédio onde moro. Não falei com ele depois. Mais tarde saí até um restaurante. O taxista, outro colorado, estava louco de ódio. Disse que só um cheirado, com o cérebro carcomido pela cocaína poderia agir daquela maneira. Mais: disse que o contrato deveria ser suspenso por justa causa (?). É claro que Fabrício, com seu excelente desempenho físico em campo, não é um viciado em drogas, é apenas um pavio curto que atacou o lado sagrado e religioso do clube. Não é um bom jogador, mas é um cara esforçado e, certamente, autodestrutivo. Que clube terá coragem de contratar um sujeito que pode agir assim? Vi o site do Inter com as (belas) fotos de ontem. Fabrício não está em nenhuma delas. Ele deixou de existir. Adeus, Fabrício.

Abaixo, o chilique:

https://youtu.be/m5QEsjnoNBE

Aguirre demonstrou classe: “Vamos deixar passar as horas e ver o que vai acontecer. Poderíamos estar aqui falando de futebol ou de minha demissão”.

Ontem, parece até que jogamos melhor e assumimos pela primeira vez a liderança do Gaúcho. Isso é que desespera a tribo azul. Chega no final e a gente está lá. Foi a quarta vitória consecutiva por 1 x 0. Estamos virando um time chato, mas pontuador.

https://youtu.be/Q6cRAgZs0Hc

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A Ospa numa noite de sonho no Theatro São Pedro

A Ospa numa noite de sonho no Theatro São Pedro

bach mais umaNa semana passada, tivemos o dia 21 de março de 2015, data no qual o mundo comemorava os 330 anos de Johann Sebastian Bach. E a Ospa, sempre ligada, fez o que se esperava, dedicando seu concerto à obras do Mestre de Eisenach, queridão pai de 20 filhos e de de uma obra interminável em número e tamanho.

Mas, Milton, não foi nada disso que acont… Cala a boca! Tudo começou quando adentraram o palco os 11 músicos que interpretariam o Concerto de Brandemburgo Nº 3, peça de abertura da noite. A concepção era antigo-moderna: 10 instrumentos de cordas mais o cravo de Fernando Cordella. Sobrava espaço no palco com esta formação rarefeita. Foi algo deste gênero:

Mas, pô, Milton, tu tá louco… Calado! Pois bem, foi um lindo e sensível começo de uma noite gloriosa, dedicada ao compositor preferido deste que vos escreve e do presidente da Ospa, Dr. Ivo Nesralla — segundo confidência feita há três anos no Instituto de Cardiologia. Depois, Cordella mandou bala no solo do Concerto Nº 5 de Brandemburgo, para cravo e orquestra.

Não, sete leitores, o pogrom, opa, o programa era outr… Depois, tivemos uma seleção de árias de Cantatas de Bach. Elisa Machado foi a primeira cantora convidada. O soprano cantou a famosa ária Bist du bei mir BWV 508, encantando o público do teatro. (Na verdade, ao que tudo indica, esta ária avulsa é de Gottfried Heinrich Stölzel, um aluno de Bach cuja ária foi copiada para Caderno de Notas de Anna Magdalena Bach, mas a tradição diz que é de Bach). O belo acompanhamento veio através do Quinteto de Metais da orquestra. Afinal, o maestro Sotelo é especialista em sopros. A coisa foi mais ou menos assim:

Milton, tu estás delirando. O concerto de ontem foi uma m… Continuando a noite, depois tivemos a mezzo-soprano Angela Diehl cantando a ária Erbarme dich, da Paixão Segundo São Mateus, acompanhada do maestro convidado, que empunhou o violino. (Bem, chega de exemplos, quem não conhece as árias que as procure no Youtube!).

Mas, caralho, Miton, para com is… Ora, para tu, eu é que escrevo, e dá trabalho. E estou fazendo a correção de um grave equívoco. Juremir Vieira foi o convidado seguinte. Ele esmerilhou na ária Der Ewigkeit saphirnes Haus, da Cantata Trauerode BWV 198. Logo após, Ricardo Barpp mostrou o esplendor de sua careca fechando a parte dedicada à música vocal de Bach. Ele elevou o público alguns centímetros do chão ao interpretar a ária inicial da Cantata Ich habe genug, BWV 82. Amigos, que noite!

Espere por mim, no final, eu vou dizer a verdad… Conforme a tradição da Ospa, a segunda parte dos concertos são de solo de batuta. Então, o de ontem foi finalizado com algumas fugas de A Arte da Fuga arranjadas para orquestra — versão de Karl Münchinger

— e com a Suíte Orquestral Nº 3. Um programa de enorme, de sonho, uma noite perfeita!

Deixa eu falar… Não ainda! Como bis, tivemos a Ária da Suíte Nº 3, ouvida entre suspiros do público. Agora sim, podes falar.

Na verdade, digo a vocês que foi um concerto bem diferente e pobre. Gente, a OSPA deu um concerto no dia dos 330 anos de nascimento de Bach e o programa foi de obras de Milhaud, Beethoven, Villani-Côrtes e Schubert! Há coerência. Afinal, no dia dos 50 anos de morte de Villa-Lobos, em 2009, a orquestra programou um Festival Mendelssohn.

Bem, o Milhaud foi excelente com um show do percussionista Douglas Gutjahr. Beethoven.. Putz, a Egmont pela 247ª vez? O Villani-Côrtes foi aceitável e o Schubert foi fraco, com direito a erro do maestro que entrou e desistiu, fazendo a orquestra parar sem entender nada. A quem estava sentado onde eu estava, num camarote bem em cima dos músicos, só restou rir. O melhor do concerto foram os solos de Klaus Volkmann e a cara de alívio de Emerson Kretschmer quando tudo acabou. Aliás, a cara dos músicos… Os violinos chegaram a fazer uma breve reunião no palco após o concerto, certamente para comemorar a rapidez com que reagiram à mancada do regente Dario Sotelo. Tudo o que o Milton descreveu seria totalmente possível e lindo, só que a criatividade e a ousadia andam tomando um pau que nem lhes conto.

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Com implacável pragmatismo, Inter humilha União Frederiquense

Com implacável pragmatismo, Inter humilha União Frederiquense
Paulão e a bola: uma relação difícil
Paulão e a bola: uma relação conturbada

Após vencer os perigosos Veranópolis e Avenida pelo elástico placar de 1 a 0, o Inter repetiu a façanha contra a terrível União Frederiquense no Estádio Ecológico Vermelhão da Colina. Todos os adversários que o Inter humilhou — vencendo-os sem jogar futebol, só para lhes mostrar quão ruins são — estão ou na zona de rebaixamento ou quase lá. Testemunhas do excelente e pragmático futebol apresentado pelo Inter, as árvores e os pássaros do outro lado das câmeras de TV não falaram a nossos repórteres.

O Inter tem colecionado um ramalhete de lesões musculares neste ano de 2015. Até agora foram Cláudio Winck (2 vezes), D`Alessandro, Nilmar, Bertotto, Alisson, Aránguiz, Juan, Anderson e Taiberson. (Lisandro López e Léo sofreram problemas articulares). Pois agora, para este jogo avassalador de Frederico Westphalen, Diego Aguirre ganhou mais uma rosa vermelha para seu buquê: as fibras rompidas dos músculos de Alan Costa.

Esta é nossa preparação para a Libertadores. Entrar em detalhes do jogo de ontem? Para quê?

O jogo não existiu. O Inter apenas demonstrou novamente como se vence sem jogar. Os destaques do antifutebol foram os craques Luque e Paulão. Luque demonstrou todo o seu desprezo e asco ao adversário ao escolher não jogar. Já Paulão, brindou-nos com uma colorida coleção de roscas, maus passes e hesitações. Não obstante, saímos de lá com os três pontos.

Fiel ao novo estilo colorado, Aránguiz não fez nada contra o Brasil, em Londres.

Parabéns, Diego Aguirre.

https://youtu.be/jr4qAWDB40o

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Estádio Chile, 1973 traz de volta Victor Jara, um homem armado de música

Estádio Chile, 1973 traz de volta Victor Jara, um homem armado de música

Publicado em 14 de setembro de 2014 no Sul21

Com o livro-reportagem Estádio Chile, 1973 – Morte e Vida de Victor Jara, a voz da Revolução Chilena (Editora Unijuí, 328 páginas), o jornalista Maurício Brum finaliza um projeto de três anos. Foram várias viagens ao Chile — passou lá seis meses, somados todos os períodos –, mais de 50 entrevistas e visitas aos locais onde viveu e morreu o compositor, cantor, diretor teatral e militante político Victor Jara. No livro, Maurício busca reconstruir a trajetória do artista e a multiplicidade de versões sobre sua morte. As entrevistas e relatos permitiram a elaboração de uma vasta crônica sobre a vida e morte de Jara, explicando não somente os fatos e as lendas, mas sua permanência na memória do Chile a da América Latina.

Maurício falou ao Sul21 no último 11 de setembro, dia dos 41 anos do infame Golpe Chileno.

Sul21: Qual foi a origem de Estádio Chile, 1973 – Morte e Vida de Victor Jara, a voz da Revolução Chilena?

Maurício Brum: Ao todo foram três anos de trabalho. Comecei a apuração das informações em meados de 2011 e a parte mais importante da pesquisa foram os seis meses que passei no Chile – somadas todas as viagens que fiz para lá. No Chile, pude obter um material muito rico. Ao todo, fiz cerca de 50 entrevistas, inclusive com pessoas que estiveram com ele no Estádio Chile, local onde ocorreu seu assassinato. Também coletei materiais na Fundação Victor Jara. O material era tão rico que me permitiu organizar não apenas tudo o que se sabe sobre sua morte, reconstituindo os acontecimentos no Estádio Chile, como quem era este personagem, escrevendo uma crônica de sua vida. Não tenho a pretensão de ter escrito a biografia definitiva, mas sei que no livro há muito do homem Victor Jara.

Sul21: Essas entrevistas foram com amigos, músicos…

Maurício Brum: Sim, com pessoas que conviveram com ele, seja na Escola de Teatro, seja como músicos, companheiros de partido, integrantes do Quilapayún, do Inti-Illimani — que foram grupos da Nueva Canción Chilena, movimento do qual ele participou. Também conversei com a viúva Joan Jara Turner, amigos pessoais e outros que se encontraram com ele na prisão política. É um grupo de personagens distintos que cruzaram com ele e que eu procurei juntar. Então, a primeira parte do livro é sobre a vida de Victor Jara e a segunda sobre a prisão política e a morte. Os músicos me ajudaram muito na biografia, mas, obviamente, contribuíram menos para a descrição dos acontecimentos dos dias de prisão, pois não estavam lá.

Sul21: Vamos falar sobre a prisão? O golpe foi na manhã de 11 de setembro, há exatos 41 anos… 

Maurício Brum: Pois é, neste horário os militares estavam entrando no Palácio. Talvez Allende já estivesse morto.

Mauricio Brum, colunista do Sul21
Mauricio Brum, autor do livro

Sul21: Como aconteceu a prisão?

Maurício Brum: Na manhã do dia 11, havia uma convocação da CUT chilena — não se imaginava que o Golpe ocorreria, é claro — para que os trabalhadores ocupassem seus postos de trabalho. E eles atenderam ao chamado. Victor Jara foi até a UTE (Universidade Técnica do Estado), pois tinha um compromisso lá. Naquela manhã, Salvador Allende iria ao campus, abriria uma exposição sobre os riscos de uma Guerra Civil e os meios da esquerda pensavam que ele, o presidente, convocaria um plebiscito para definir a continuidade ou não de seu governo. Quando se soube que não haveria o discurso, todos permaneceram na UTE em parte por causa desse chamado da CUT e em parte por causa do toque de recolher imposto pelos militares. Eles ficam o dia inteiro e a noite lá. O campus é cercado e atacado pelos militares. Na manhã do dia 12 eles são presos. As mulheres são quase todas liberadas, mas os homens permanecem detidos e depois são levados para Estádio Chile — que, apesar do nome, é um ginásio, hoje chamado Victor Jara. As mulheres, mesmo liberadas, foram deixadas no centro de Santiago sob toque de recolher. Ou seja, sem transporte, tinham que correr para casa de qualquer maneira passando o risco de serem mortas ou novamente presas. O Estádio Chile era um dos recintos que eles improvisaram como prisão política, era próximo do campus. Dá menos de um quilômetro. Eles foram levados de ônibus e em caminhões.

Sul21: Victor Jara foi logo reconhecido?

Maurício Brum: Sem dúvida! Victor Jara era uma pessoa extremamente conhecida, um cantor popular. Suas fotos estão em todos os lugares. Primeiro ele tenta se livrar da carteira de identidade. Ele a joga no chão para dificultar a identificação, mas não dá certo. Logo na entrada ele já é identificado e apartado dos demais prisioneiros. E ali mesmo já começa a ser golpeado. Os relatos que temos é que já na fila os militares batiam em Victor Jara. Foram para trás da porta do ginásio e vinham coronhadas, de golpes de fuzil, chutes… Aí ele é isolado e permanece dois ou três dias num corredor interno do Estádio que fica atrás da quadra. Neste período, ele é levado ao menos uma vez por dia aos porões — na verdade os vestiários do ginásio –, onde aconteciam os interrogatórios e as torturas. Em torno do dia 13 ou 14, não se sabe precisamente, há uma chegada grande de prisioneiros que ocupa os militares. Então Jara fica sozinho no corredor. É o momento que os detidos da arquibancada dão um jeito de carregá-lo para as arquibancadas e tentam enfim disfarçá-lo com o que é possível. Cortam seus cabelos com cortadores de unha e tentam que ele passe desapercebido. Era uma tentativa desesperada, claro. É nesse convívio nas arquibancadas que surge a maior parte das versões e lendas que depois ficaram famosas. Ele teria tido suas mãos cortadas em frente aos demais prisioneiros. Nada disso aconteceu.

A família Jara: as filhas, Joan e Victor
A família Jara: as filhas, Joan e Victor

Sul21: Na autópsia posterior, ele tinha as mãos, mas quebradas, certo?

Maurício Brum: Sim, ele teve as mãos quebradas provavelmente pelas coronhadas, pelos chutes, pelas pisadas. Era chutado e humilhado o tempo todo. Havia tremendo ódio em relação à figura dele. Era um personagem importante da esquerda e ele serviu de exemplo para mostrar aos outros até onde o regime estava disposto a ir. Se alguém como Victor Jara não estava imune, o que dizer do prisioneiro comum? E ali onde ele estava com os demais prisioneiros, ele pede um pedaço de papel e escreve seu último poema (*), que ficou inacabado — obviamente com as mãos ainda não totalmente quebradas. E aí a versão talvez seja um pouco romanceada, mas são os relatos que eu consegui: ele estava escrevendo o poema, compondo as últimas linhas e os militares descobrem que ele está ali e o levam novamente para os vestiários e ele não sai de lá com vida. Há relatos de que foi feito um jogo sórdido de roleta russa e que depois todos descarregaram suas armas sobre o cadáver. A última vez que ele foi visto com vida foi no dia 15 de setembro. No dia 16, seu corpo é jogado na rua de um bairro popular de Santiago para dar exemplo. Porém, na própria tarde do dia 16, os militares voltam e recolhem o corpo, que segue para o necrotério. Ele teria se tornado um desaparecido político, mas um funcionário do registro civil que estava como voluntário no necrotério identifica o corpo de Victor Jara, descobre onde ele vivia e consegue a informar a viúva, Joan Turner. E eles obtêm um enterro improvisado assistido por 3 pessoas: Joan, o funcionário e mais um amigo dela.

Sul21: A viúva contribuiu com informações para o livro? Ela vive em Santiago?

Maurício Brum: Ela vive em Santiago. Ela é responsável pela Fundação Victor Jara.

Sul21: Ela sofreu algum tipo de repressão?

Maurício Brum: Não, teve que se exilar, mas não foi presa. Ela retornou secretamente ao Chile nos anos 80 a fim de realizar as entrevistas para seu livro, que é a biografia mais famosa de Victor Jara. No Brasil, o livro é chamado Canção Inacabada. Depois ela voltou pra Inglaterra e só se fixou no Chile ao final dos anos 80.

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Sul21: Voltamos a Jara. Sua formação era como ator, certo? Ele nasceu onde?

Maurício Brum: Isso. Ele nasceu no sul, no interior. Seus pais eram trabalhadores rurais. Eram arrendatários, ou inquilinos, como eram chamados os que trabalhavam na terra de outra pessoa. Logo na primeira infância, eles mudam então para um lugar mais próximo de Santiago. O casal briga bastante, se separa e a mãe dele se muda pra Santiago. Na metade dos anos 1950, ele ingressa na escola de teatro da Universidade do Chile. Ali ele inicia de fato a carreira artística. Primeiro ele estuda atuação e depois direção teatral. Vai trabalhar quase só como diretor. Era o final da década de 50, é quando o Partido Comunista sai da ilegalidade no Chile. O Partido passara 10 anos ilegal. O Canto Geral do Neruda fala muito a respeito deste período muito efervescente para a juventude de esquerda chilena. Então, muitos colegas de Victor Jara começam a se filiar ao Partido, o que acaba por ocorrer também com Victor. Ele passa a integrar as Juventudes Comunistas.

Sul21: Foi o período em que ele entrou em contato com o folclore chileno?

Maurício Brum: Exato, é nesta época que ele começa a viajar pelo interior do Chile com a finalidade de conhecer o folclore do país, de coletar suas histórias e canções. A mãe dele era cantora, ela se apresentava no interior do país; ou seja, ele tinha música em casa. Quando um bebê morria, por exemplo, era realizada uma cerimônia fúnebre durante a madrugada que incluía um “canto ao divino” e um “canto ao humano”. Ela cantava nestes rituais que permitiam que o bebê ascendesse aos céus. Havia esta influência. Quando Victor ingressa no teatro, passa a viajar com amigos pelo interior e, de certa forma, acaba por complementar o que Violeta Parra já vinha fazendo: ele recolhia canções. Então, entra num grupo da universidade que cantava e dançava estas músicas e, pouco a pouco, vai se encaminhando para a música, escrevendo também canções próprias.

Victor e o Cuncumen
Victor e o Cuncumen

Sul21: E começa a participar de grupos que ficaram famosos.

Maurício Brum: Sim, ele passa a fazer parte dos Cuncumem, que em mapucho significa “Murmúrio das águas”. Neste grupo, no início dos 60, durante uma excursão à União Soviética, em Moscou, ele faz sua estreia como cantor solista. Tudo porque a cantora titular sucumbira a uma gripe… E, aos poucos, ele vai assumindo o papel de cantor até chegar a uma carreira solo. E ele chega a um dilema, pois gosta mais de ser diretor teatral, só que atinge muito mais pessoas mostrando suas composições e cantando. Desta modo, para ser mais útil à causa de Salvador Allende e do Partido, ele acaba por abandonar o teatro.

Sul21: E se torna figura nacional.

Maurício Brum: No começo, ele fez pesquisas, chegando a um tipo de música folclórica muito diferente daquilo que a cidade de Santiago pensava ser o folclore do país. Aliás, Violeta Parra também chegara a um gênero muito diferente do daquelas canções para turista que eram “o folclore chileno”. Porém, Jara e Parra não apresentavam o folclore como peças de museu. Eles se apropriaram do folclore, passando a produzir novas canções, normalmente de temática social, política. Na metade dos anos 60, Victor Jara e Violeta Parra são os grandes e mais polêmicos artistas populares do Chile, por serrem excelentes e por estarem identificados como “cantores de protesto”, rótulo que Jara rejeitava, preferindo ser chamado de “cantor revolucionário”.

Sul21: Aparece o viés político da Nueva Canción Chilena.

Maurício Brum: Sim, dele, de Violeta Parra, Rolando Alarcón, Patrício Manns, de Angel e Isabel Parra (filhos de Violeta), do Quilapayún, Inti-Illimani, etc. A liderança do grupo era de Violeta, mas o suicídio dela em 1967 colocou Victor como protagonista.

Edmundo_Pérez_ZújovicSul21: E o movimento cresceu.

Maurício Brum: Sim, houve um incidente muito significativo em junho de 1969. Acontecera um movimento de pobladores (pessoas que saem dos campos e realizam ocupações nas cidades) em Puerto Montt que foi brutalmente reprimido pela polícia. Nove pessoas morreram e Victor Jara imediatamente escreveu uma canção chamada Preguntas por Puerto Montt onde acusava o governo pela repressão. Mais exatamente, ele acusava o Ministro do Interior Edmundo Pérez Zujovic. E ele pergunta ao Ministro: “Você deve responder / Senhor Perez Zujovic / porque ao povo indefeso / responderam com fuzil”. Então, ele foi ao Saint George`s College, em Santiago, um colégio de elite, um colégio inglês, exatamente aquele que é retratado no filme Machuca. Além de educar a elite, este colégio católico fornecia bolsas de estudo para alguns pobladores e jovens de baixa renda. Ali se formara um grupo de esquerda que organiza um seminário para discutir a reforma da educação no Chile. E convidam o Victor Jara para lá cantar. E ele canta as Preguntas. Só que, dentre os alunos, estava o filho de Pérez Zujovic, que tinha se armado de pedras junto com outros colegas. Quando Victor entoa a canção, começam a voar pedras. Ele teve que se proteger com o violão. O show acaba na maior briga.

nueva_cancion1Sul21: Houve repercussão?

Maurício Brum: A princípio, nada. Passaram-se vários dias e nenhuma notícia. Os jornais conservadores esperaram uma semana e deram a notícia justo no dia da estreia do Festival Nueva Canción Chilena. A manchete do El Mercurio era Incidentes por Infiltração Marxista em Colégio Católico. Talvez seja este o momento em que fica claro para todos que Victor Jara é um artista marxista. Ele será uma figura cada vez odiada para direita até o Golpe.

Sul21: Um Festival seguido de eleições. 

Maurício Brum: Sim. A Nueva Canción Chilena ganha este nome em 1969 a partir do Festival. Antes o grupo não tinha um nome que os caracterizasse. O Festival é vencido por Victor Jara com Plegaria a un labrador. E no ano seguinte vem as eleições e ele se torna o cantor mais identificado com a Unidade Popular. No dia da vitória do Allende, este discursa e logo depois vem um show do Quilapayun, grupo do qual Jara não faz mais parte, mas de que fora diretor artístico. Então, o envolvimento da Nueva Canción Chilena com Salvador Allende é total.

"El dia que ganó Allende": show do Quilapayun
“El dia que ganó Allende”: show do Quilapayun

Sul21: E começa um governo de minoria.

Maurício Brum: Sim, Allende jamais teve maioria. Venceu com 36 % dos votos. E a Nova Canção, que só obtinha espaço no jornal do Partido Comunista, El Siglo, e só gravava na Discoteca del Cantar Popular, também do Partido, ganha novos espaços – havia algumas rádios progressistas – e realmente passa a ser popular e a apoiar o governo. Claro que permanecia sem espaços na grande imprensa. A NCC torna-se não somente a voz artística do governo, como os cantores passam a ser embaixadores culturais do país. Os grupos viajaram o mundo divulgando o folclore chileno e sua pauta de temáticas sociais. O Quilapayún e o Inti-Illimani tiveram a sorte de estarem na Europa como embaixadores culturais quando do Golpe de 73.

Sul21: Victor Jara denunciava o golpismo?

Maurício Brum: Certamente ele fez canções que só podem ser identificadas como panfletárias, mas que eram cantadas e ouvidas como toda a arte da esquerda chilena naquele momento. O próprio Pablo Neruda escreve naqueles anos Incitación al Nixonicidio y alabanza a la Revolución Chilena, denunciando a atuação da CIA e as iniciativas golpistas. A polarização entre direita e esquerda era fortíssima. A greve dos caminhoneiros de outubro de 72 foi financiada pela CIA. A CIA já tentara impedir a posse do Allende. Pensava-se que a tradição democrática do Chile impediria o Golpe, mas o risco era real, como se viu depois.

victor jara

Sul21: Como o Victor Jara se tornou um símbolo?

Maurício Brum: Depois do golpe, todas as músicas foram censuradas e seus discos queimados. A ditadura chilena queimou discos e livros. Ele torna proscrito no Chile e divulgadíssimo no exterior. Um disco que ele tinha deixado gravado saiu em 74 no exterior. É o disco de Manifiesto. Ele se torna um símbolo porque era, obviamente, uma das pessoas mais conhecidas que pereceram na prisão política do Chile.

Sul21: A ditadura o usava como exemplo de até onde a ditadura pode ir e o mesmo vale para a resistência.

Maurício Brum: Sim, aí se criam algumas lendas, como a morte romanceada dele cantando o hino da Unidade Popular, o corte das mãos e o fato de Allende ter morrido lutando, quando todos hoje sabem que ele se suicidou. Toda a resistência precisa de heróis e Victor Jara serviu como um deles. Até hoje, quando se fala no Golpe, sua figura é relembrada. Até porque não se fez justiça. No Museu da Memória dos Direitos Humanos do Chile, dedicado à repressão e à Ditadura, bem na entrada, está, em letras gigantescas, o poema que ele escreveu na prisão política.

Sul21: E quem o matou?

Maurício Brum: Ninguém sabe. Nenhum prisioneiro viu ele ser morto. E, com todos os subterfúgios legais, jamais se saberá. Além disso, a Lei da Anistia do Chile é semelhante à nossa. Mas foi encontrada uma brecha na Lei: para o caso dos desaparecidos, o crime não prescreveu e então alguns foram condenados. Para o caso dos mortos, há a Anistia.
victor jara

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(*) Introdução de Joan Jara: “… Quando mais tarde me trouxeram o texto do último poema de Víctor, soube que ele queria deixar seu testemunho, seu único meio de resistir ainda ao fascismo, de lutar pelos direitos dos seres humanos e pela paz”.

Somos cinco mil 

nesta pequena parte da cidade. 
Somos cinco mil.
Quantos seremos no total, 
nas cidades e em todo o país? 
Somente aqui, dez mil mãos que semeiam 
e fazem andar as fábricas.

Quanta humanidade 
com fome, frio, pânico, dor, 
pressão moral, terror e loucura!

Seis de nós se perderam 
no espaço das estrelas.

Um morto, um espancado como jamais imaginei 
que se pudesse espancar um ser humano.

Os outros quatro quiseram livrar-se de todos os temores 
um saltando no vazio, 
outro batendo a cabeça contra o muro, 
mas todos com o olhar fixo da morte.

Que espanto causa o rosto do fascismo!

Colocam em prática seus planos com precisão arteira, 
sem que nada lhes importe.

O sangue, para eles, são medalhas.

A matança é ato de heroísmo.

É este o mundo que criaste, meu Deus? 
Para isto os teus sete dias de assombro e trabalho?

Nestas quatro muralhas só existe um número 
que não cresce, 
que lentamente quererá mais morte.

Mas prontamente me golpeia a consciência 
e vejo esta maré sem pulsar, 
mas com o pulsar das máquinas 
e os militares mostrando seu rosto de parteira,
cheio de doçura.

E o México, Cuba e o mundo?

Que gritem esta ignomínia! 
Somos dez mil mãos a menos 
que não produzem.

Quantos somos em toda a pátria?

O sangue do companheiro Presidente 
golpeia mais forte que bombas e metralhas.

Assim golpeará nosso punho novamente.

Como me sai mal o canto 
quando tenho que cantar o espanto!

Espanto como o que vivo 
como o que morro, espanto.

De ver-me entre tantos e tantos 
momentos do infinito 
em que o silêncio e o grito 
são as metas deste canto.

O que vejo nunca vi,
o que tenho sentido e o que sinto 
fará brotar o momento…”

(Victor Jara, Estádio de Chile, Setembro 1973).

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Grande novidade… Estudo aponta que pessoas de esquerda são mais inteligentes que as de direita

Grande novidade… Estudo aponta que pessoas de esquerda são mais inteligentes que as de direita

Do Jornal GGN

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Um estudo realizado por acadêmicos da Universidade Brock, em Ontário, no Canadá, afirma que pessoas com opiniões políticas de esquerda tendem a ser mais inteligentes do que aquelas com visões de mundo de direita. A pesquisa, que inclui dados coletados por mais de 50 anos, também aponta que crianças com menores índices de inteligência tendem a desenvolver pensamentos racistas e homofóbicos na idade adulta.

O trabalho de pesquisa ouviu mais de 15 mil pessoas, comparando o nível de inteligência na infância com seus pensamentos políticos como adultos. Os dados analisados são do Reino Unido, entre os anos de 1958 e 1970. Para realizar o estudo, os pesquisadores mediram a inteligência de crianças com idade entre dez e 11 anos e voltaram a analisar suas posições políticas aos 33 anos de idade.

“As habilidades cognitivas são fundamentais na formação de impressões de outras pessoas e a ter a mente aberta. Indivíduos com menores capacidades cognitivas gravitam em torno de ideologias conservadoras que mantêm as coisas como elas são, porque isso lhe dá um um senso de ordem”, dizem no estudo publicado no Journal of Psychological Science.

Preconceito burro

A equipe concluiu, então, que menores níveis de inteligência estão relacionados a pensamentos de direita, porque esses os fazem se sentir mais seguros no poder – o que pode se relacionar com o seu nível educacional, inclui o jornal britânico. Além disso, ao analisar dados de um estudo de 1986, nos Estados Unidos, sobre o preconceito contra homossexuais, os pesquisadores descobriram que pessoas com baixa inteligência detectada na infância tendem a desenvolver pensamentos ligados ao racismo e à homofobia.

“As ideologias conservadoras representam um elo crítico por meio do qual a inteligência na infância pode prever o racismo na fase adulta. Em termos psicológicos, a relação entre inteligência e preconceitos podem ser derivadas de qual a probabilidade de indivíduos com baixas habilidades cognitivas apoiarem ideologias de direita, conservadoras, porque eles oferecem uma sensação de estabilidade e ordem “, acrescentou. “No entanto, é claro que nem todas as pessoas pessoas prejudicadas são conservadoras”, disse a equipe de pesquisa.

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Bom dia, Diego Aguirre (veja os “melhores lances”)

Bom dia, Diego Aguirre (veja os “melhores lances”)
Aguirre: tudo bem uma merda
Aguirre: tudo bem uma merda

Acho que tu estás brincando, Aguirre. Pense comigo. O Inter jogou contra um time que provavelmente será rebaixado no Costelão 2015 com três zagueiros, dois laterais e dois volantes. Ou seja, jogou com sete jogadores cujas maiores aptidões são defensivas. Para viver, respirar ar puro e sonhar, tinha apenas Alex, Taiberson e Sasha.

Tu falaste em preparar a equipe para a Libertadores, mas nós vamos simular um jogo fora de casa, contra La U, durante um mês? Simularemos isso em seis jogos? O jogo contra a Universidade do Chile será dia 16 de abril e, uma semana depois, em 22 de abril, já teremos o The Strongest em Porto Alegre, quando teremos de ser ofensivos como NÃO fomos ontem. Como nunca treinamos.

Não seria o caso de entrosar também uma formação mais ofensiva? Desculpe dizer isso, Aguirre, mas tu estás sendo muito burro.

Ontem, foi cômica a forma como o Avenida nos acuou. Sem jogar muito, apenas avançou e nossos sete defensores recuaram, esperando eles virem. É do DNA dos caras que estavam em campo. Eles marcam. Às vezes mal, como Fabrício. E, se não fosse o Alisson, com suas duas defesas milagrosas, hoje todos estariam falando na tua saída do clube. Sabes que um empate contra um quase-lanterna não acrescentaria muita coisa a teu currículo.

E acho que William tem que estar na lista de jogadores para a próxima fase da Libertadores, se lá estivermos. O Léo é ruim demais, simples assim. E o teu 3-5-2 é ridículo, Aguirre.

https://youtu.be/X07pD6VNuYw

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A Ospa trouxe o pterodáctilo para o paraíso

A Ospa trouxe o pterodáctilo para o paraíso
A Tempestade de Tchai chegando...
A Tempestade de Tchai chegando…

A noite era perigosa. Era necessário todo o cuidado. Concertos em igrejas deixam nossas bundas quadradas e as costas doendo. Sei por experiência própria que a Igreja do Colégio Anchieta tem cadeiras especialistas nestes quesitos. Acho que elas foram compradas do DOPS nos anos 80. O sofrimento foi amenizado pela presença amiga do Gustavo Melo Czekster, que pegava fogo — suando com um condenado — no banco atrás de mim. Ele tinha dois desconfortos; eu, inexplicavelmente, não sentia calor. Pingando, ele me disse que estas crônicas que escrevo sobre a Ospa são a continuação natural dos concertos e que ele as lia sempre. Como veem, um cara de bons hábitos. Mas, minha nossa, sei que nem todos gostam disso aqui!  Ele completou dizendo que apreciava as descrições do ambiente e eu pensei: como não fazer isso se aquele ventilador ali à esquerda mia como um gatinho faminto?

A última vez que tinha visto o Réquiem de Fauré fora na Saint-Martin-in-the-Fields em fevereiro de 2013. Saudades daquela viagem com a Bárbara. Mas não pensem que a versão ospiana da peça estava pior. Talvez estivesse até melhor que a versão londrina. O Coro Sinfônico da Ospa e o trabalho do pequeno efetivo orquestral utilizado garantiu uma bela viagem pelo peculiar universo de Fauré. Seu Réquiem não é nada desesperado e indica o caminho de um descanso eterno no paraíso. O Coro foi magnífico em toda a peça, mas especialmente na abertura do último movimento In Paradisum, quando anjos nos levam para lá pela mão. Não é um Réquiem para ser gritado e tal concepção da obra foi respeitada. O soprano Elisa Machado esteve um degrau acima de seu partner Daniel Germano. Elisa foi perfeita, demonstrando compreensão do estilo do Réquiem. Discreta, a orquestra esteve impecável.

No intervalo, a situação era a que segue: ainda embalados pelo Réquiem e em pé, tentando fazer nossas bundas retornarem a seus formatos originais. Tudo era alívio. Então, o paraíso foi invadido, mas não por trombadinhas fazendo um arrastão na praça de alimentação de um shopping, mas por algo muito mais primitivo e agressivo.

O maestro Manfredo Schmiedt, tão mansinho e compreensivo na primeira parte do concerto, começou a mexer os braços chamando os pterodáctilos para invadirem o paraíso. A tal Fantasia Sinfônica A Tempestade, Op. 18,de Tchaikovsky, era inédita em Porto Alegre. Deveria ter permanecido assim para sempre. Trata-se de bombásticos temas russos batendo firme nos personagens da última peça de Shakespeare. Pobre Próspero, pobre Miranda, coitado de Ferdinand, só o deformado Calibã pode ter gostado. Fiquei pensando que a tempestade que trouxera Alonso e Antônio para a ilha de Próspero talvez estivesse na música, mas não, nunca, a magia de Próspero e nem, jamais, nunca, haveria espaço para a gloriosa frase dita pelo pai de Miranda: Nós somos feitos da mesma matéria de que são feitos os sonhos; com nossa curta vida cercada pelo sono. Ou, em tradução mais completa e competente que a minha: Esses atores eram todos espíritos e dissiparam-se no ar, sim, no ar impalpável. Um dia, tal e qual a base ilusória desta visão, as altas torres envoltas em nuvens, os palácios, os templos solenes, e todo este imenso globo hão de sumir-se no ar como se deu com esse tênue espetáculo. Somos feitos da mesma substância dos sonhos e, entre um sono e outro, decorre a nossa curta existência. 

Onde estava o genial Próspero, Tchai?

No final do concerto, estava com desejo de música, claro. O Tchai tinha me matado. A noite acabou no Café Fon Fon, na festa de aniversário da Isolde. Bem tarde, com o bar quase vazio, acomodados naquele ambiente tranquilo, largado e risonho de fim de festa, a Elena foi sentar-se no lugar da Bethy Krieger para tocar — sim, no piano —  Beatles (Here, there and everywhere e Because) e, a meu pedido, de Bach, o BWV 639, Ich ruf zu dir, Herr Jesu Christ, que ela toca maravilhosamente e que deixo para vocês com a Lisitsa:

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Bom dia, Diego Aguirre (com o gol de ontem)

Bom dia, Diego Aguirre (com o gol de ontem)
Três bons meninos: Willaim, Taiberson e Allison Farias
Três bons meninos: William, Taiberson e Alisson Farias

Ver o o Inter jogar com este time de reservas é uma bobagem em termos de análise da evolução do grupo. O time muda tanto e é tão desentrosado que só podemos analisar valores individuais. William, Rodrigo Dourado, Alisson Farias e Taiberson foram destaques da partida deste domingo contra o Veranópolis, vencida por 1 x 0. Os dois últimos mudaram a partida. Acho que William e Dourado já podem disputar posições no time da Libertadores. William está jogando mais do que o desatento e inábil Léo e que Winck, o que não marca. Mas não está inscrito nesta fase da Libertadores… Dourado está. Infelizmente, não vejo o lateral esquerdo Géferson como uma possibilidade de titularidade. Espero estar errado. A surpresa: Jorge Henrique jogou muito bem como volante.

Aguardamos os titulares na próxima quarta-feira.

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Novak Djokovic 2 x 1 Roger Federer. Se Nole permanecer mais 15 semanas como nº 1, passa à frente de Nadal em número de semanas no primeiro lugar do ranking. Nadal tem 141 semanas, Djokovic, 127. Será merecido, pois o sérvio é mais tenista do que Nadal jamais foi. Já Federer… Este é o melhor de todos os tempos, com inalcançáveis 302 semanas na liderança. Aos 33 anos, ainda joga esplendidamente e mantém a segunda colocação no ranking.

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Vamos conferir as previsões da Folha de São Paulo para 2010?

Vamos conferir as previsões da Folha de São Paulo para 2010?

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Recital de clarinete e piano com Diego Grendene e Olinda Allessandrini no StudioClio

Recital de clarinete e piano com Diego Grendene e Olinda Allessandrini no StudioClio
Chovia ontem no Studio Clio
Choveu boa música ontem no StudioClio

Introdução nada a ver tudo a ver. Quando sento no proscênio do Theatro São Pedro — onde se fica literalmente uns três metros sobre os instrumentistas — ou ouço atentamente os músicos aquecerem antes de um concerto da Ospa, tenho a impressão de que ela é um grupo muito heterogêneo. Exemplos positivos são gente como o pianista André Carrara, que numa noite dessas atacou uma Hammerklavier cheia de estilo na Assembleia, ou Elieser Ribeiro, que aquecia para o musical Chimango realizando o solo inicial do Concerto em Sol Maior para piano de Ravel com enorme leveza. Há muitos outros exemplos positivos de músicos praticando o que vão tocar logo depois, mas há também alguns que beiram o constrangedor. Digo isso porque acho que os músicos adultos da cidade — os que trafegam longe da faixa do tatibitate — devem dar sua contribuição a fim de movimentar a música de câmara da cidade. Existe algo melhor do que a música de câmara? Ainda mais na excelente acústica do StudioClio, nosso Wigmore Hall?

E chegamos à noite de ontem. Diego Grendene de Souza, músico da Ospa, poderia ficar na zona de conforto, entre a vida tranquila de funcionário público com o salário a ser parcelado pelo Sartori e os cachês, mas resolveu aventurar-se por um belo e complicado repertório de obras do século XX para clarinete e piano junto com Olinda Allessandrini. Fez bem. A dupla saiu-se maravilhosamente e o público retirou-se eufórico da sala.

O programa:
— Leonard Bernstein (1918-1990): Sonata para Clarinete e piano (1941-42)
— Carlos Guastavino (1912-2000): Sonata para Clarinete e piano (1970)
— Gerald Finzi (1901-1956): Five Bagatelles, op. 23 (1940-41)
— Francis Poulenc (1899 -1963): Sonata para Clarinete e piano (1962)

Olha, foi um recital realmente esplêndido. A conhecida sonata de Bernstein poderia soar mais jazzy. Penso que o piano de Olinda não acompanhou o humor da peça, mas mesmo assim a dupla foi soberba. Complicado de aguentar foi o romântico tardio Guastavino que ameaçou melar o Clio com seus favos. Não acredito muito nisso, mas o Diego me disse que pensou em mim durante a execução. A coisa teria sido mais ou menos nestes termos: o Milton deve estar detestando tanto romantismo… É verdade, mas também é verdade que ele é uma pessoa gentil.

A coisa melhorou muito com o para mim desconhecido inglês Finzi. Suas bagatelas formam um mosaico tristonho, mas há joias na peça, como os dois últimos movimentos, Forlana — o preferido da neocolorada Elena — e Fughetta.

Mas o melhor ficou para o fim: a Sonata de Poulenc dedicada a postumamente a Arthur Honneger e que Benny Goodman estreou. Muito pessoal, tem uma estrutura que foge do padrão rápido-lento-rápido das sonatas tradicionais, tanto que o primeiro movimento –, que recebe o título um tanto paradoxal de Allegro tristamente — é ele próprio dividido nas três seções descritas. Como outras obras de Poulenc, a sonata parece incontrolável, sempre em movimento, mas, curiosamente, ela mantém o sentimento de luto. Como? Realmente não sei.

O segundo movimento , Romanza, é claro e violento. A melodia do clarinete é simples e sombria mas perde a compostura ao fazer o clarinete gritar desesperadamente, lembrando a ausência de Honneger. O terceiro movimento é delicioso e a gente esquece da morte. Diego e Olinda estiveram perfeitos numa peça que exige expressões variáveis e nada triviais ou comuns.

Foi uma bela noite de música de câmara. Ao final, atopetados na entrada, ninguém queria ir embora do StudioClio. Que outros músicos repitam e mostrem suas caras! E repito: existe algo melhor do que a música de câmara? Ainda mais na excelente acústica do StudioClio, nosso Wigmore Hall?

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A importância de Steve Biko e do Movimento de Consciência Negra na África do Sul

A importância de Steve Biko e do Movimento de Consciência Negra na África do Sul

Publicado em 7 de setembro de 2014 no Sul21

Biko
Biko, 22h de tortura

Stephen Bantu Biko, ou Steve Biko, nasceu em 18 de dezembro de 1946 e morreu em 12 de setembro de 1977, aos 30 anos, após ser preso e torturado. Ativista anti-apartheid da África do Sul na década de 1960 e 1970, Biko não faz somente parte da memória política da África do Sul, mas também da memória da cultura ocidental. O Movimento da Consciência Negra de Biko agregou para si o slogan Black is Beautiful, que nos Estados Unidos destinava-se a dissipar a noção de que as características físicas dos negros — como cor da pele, detalhes do rosto e cabelos — seriam feias. O movimento também incentivava homens e mulheres a pararem de esconder seus traços afros alisando o cabelo, clareando a pele, etc. Porém, na África do Sul, a luta análoga era outra, muito mais básica, e o Black is Beautiful de Biko significava algo como “você tem que olhar para si mesmo como um ser humano e aceitar a si  mesmo como você é”.

A música brasileira homenageou o movimento norte-americano através da belíssima canção homônima dos irmãos Marcos e Paulo Sérgio Valle, famosa na versão de Elis Regina.

O roqueiro inglês Peter Gabriel foi mais direto e escreveu Biko, verdadeiro hino cujas primeiras palavras são September ’77 / Port Elizabeth weather fine / It was business as usual / In police room 619.

Mas tais referências culturais são apenas ornamentos para a vida de um grande mobilizador da população negra sul-africana. As muitas organizações fundadas por Biko iam no caminho inverso das lições de inferioridade racial ministradas aos negros por ordem do governo da África do Sul. Ele desejava que os negros tivessem consciência de suas capacidades, que pudessem ocupar cargos destinados apenas aos negros, além do fim da educação limitada, pois muitas disciplinas simplesmente não podiam ser ministradas aos negros do país.

Em 18 de agosto de 1977, Biko foi preso em uma barreira policial e interrogado por oficiais da polícia. Esse interrogatório ocorreu na sala de polícia nº 619 do Edifício Sanlam em Port Elizabeth. O interrogatório durou 22 horas e incluiu tortura e espancamentos, resultando em coma. Ele sofreu graves ferimentos na cabeça e, após as torturas, foi acorrentado às grades de uma janela durante um dia inteiro.

Biko
Biko, a grande liderança e mobilizador da população negra.

Dias depois, em 11 de setembro de 1977, a polícia resolveu levá-lo, nu e algemado, para uma prisão com instalações hospitalares, mas ele morreu logo após chegar, em 12 de setembro. A polícia divulgou que sua morte foi resultado de uma prolongada greve de fome, mas a autópsia revelou múltiplas contusões e escoriações. Seu fim deveu-se a uma hemorragia cerebral. O jornalista Donald Woods, editor e amigo de Biko, e Helen Zille, mais tarde líder do partido político da Aliança Democrática, expuseram a verdade sobre sua morte.

A notícia espalhou-se rapidamente. O funeral foi assistido por mais de 10 mil pessoas, incluindo numerosos embaixadores e outros diplomatas da Europa Ocidental e dos Estados Unidos. O mesmo Donald Woods fotografou seus ferimentos no necrotério. Woods foi mais tarde forçado ao exílio, passando a fazer campanha contra o apartheid na Inglaterra. Também foi autor do livro Biko, mais tarde transformado no filme Cry Freedom, de Richard Attenborough, com Denzel Washington no papel de Biko.

Em 1978, a Justiça sul-africana decidiu que não havia provas suficientes para acusar os oficiais de homicídio. Faltariam testemunhas. E, em outubro de 2003, o Ministério da Justiça Sul-Africano anunciou que os cinco policiais acusados de matar Biko não seriam processados também em razão de insuficiência de provas.

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Biko
Biko, fundador e unificador de diversas organizações

Steve Biko nasceu em Ginsberg, bairro de King Williams Town. O nome do bairro é o do dono da fábrica de velas instalada no local no início do século 20. Ginsberg não gostava que seus empregados fossem muito longe quando não estavam na fábrica. Então, conseguiu que a administração municipal mandasse construir em torno dela as primeiras casas do futuro bairro.

Foi em uma dessas casinhas que Steve Biko cresceu. Foi criado pela mãe Alice, cozinheira no hospital vizinho. Inteligente e com grande capacidade de liderança, Biko estudava medicina quando foi expulso da Universidade da Província de Natal, no ano de 1972, em razão de suas atividades políticas. No ano seguinte, foi “banido” pelo governo do apartheid. A punição era incrível: ele não estava autorizado a falar com mais do que uma pessoa de cada vez. Também não podia escrever publicamente ou falar com a imprensa. Esta também foi proibida de citar qualquer coisa que ele dissesse.

Steve Biko tinha grande preocupação com o desenvolvimento de uma consciência negra. Pensava que tal desenvolvimento teria duas fases: a primeira seria de “libertação psicológica” e a segunda de “libertação física”. A bibliografia aprecia fazer a ligação entre Biko e a não-violência de Gandhi e Martin Luther King, mas ele sempre entendeu que a libertação física só se daria fora das realidades políticas do apartheid. Ou seja, havia antes que derrubá-lo. Outro fato que costuma ficar oculto são suas posições políticas. “Racismo e capitalismo são faces da mesma moeda”, dizia.

Cartaz do BPC
Cartaz do BPC

Em 1972, Biko foi um dos fundadores da Black Peoples Convention (BPC). Trabalhava em projetos de melhorias sociais nos arredores de Durban. Com o tempo, o BPC acabou por reunir cerca de 70 diferentes grupos de consciência negra e associações como o South African Student’s Movement (SASM), que desempenhou um papel significativo na Revolta de Soweto de 1976, a National Association of Youth Organisations e a Black Workers Project que apoiaram os trabalhadores cujos sindicatos não foram reconhecidos sob o regime do apartheid. Biko foi eleito o primeiro presidente do BPC e, como recompensa, recebeu a citada expulsão da escola médica.

Sobrou-lhe trabalhar em tempo integral para o BCP. Mesmo banido pelo apartheid, Biko ajudou a criar Zimele Trust Fund, fundo de assistência financeira a presos políticos e a suas famílias. Steve Biko era considerado perigoso pela habilidade para organizar a população e porque procurava investir nas comunidades e inspirar a juventude negra do país.

As circunstâncias brutais da morte de Biko tornaram-no um mártir e um símbolo da resistência negra ao regime de apartheid. Logo após seu assassinato, o governo sul-sfricano proibiu que uma série de pessoas falassem — incluindo Donald Woods — e fechou várias organizações, especialmente os grupos da Consciência Negra associados a Biko. O Conselho de Segurança das Nações Unidas respondeu com um embargo de armas contra a África do Sul.

Representando este homem também interessado por artes, educação e desenvolvimento econômico, a família Biko recusou a ideia de construir um mausoléu. Um túmulo grandioso talvez o retirasse da companhia de camaradas enterrados, como ele, em modestos pedaços de terra.

Nelson Mandela disse a respeito de Biko: “Eles tiveram que matá-lo para prolongar a vida do apartheid“.

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Em quem caberá este chapéu?

Em quem caberá este chapéu?

A tanta gente, né?

Foto: Margarida Araújo
Movimento dos Indignados em Barcelona | Foto: Margarida Araújo

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Bom dia, Diego Aguirre (veja os gols de Emelec 1 x 1 Inter)

Bom dia, Diego Aguirre (veja os gols de Emelec 1 x 1 Inter)
Não aguento mais ver essa merda de time jogando mal...
Não aguento mais ver essa merda de time jogando mal…

É óbvio que nós não fomos ao Equador para jogar bem, fomos especular e um ponto estaria de bom tamanho. Afinal, entramos com três zagueiros (Juan, Réver e Ernando) e três volantes (Freitas, Nilton e Aránguiz). Sobram dois laterais em crise técnica (Leo e Fabrício) e apenas duas esperanças de bom futebol (Alex e Sacha). Ou seja, era para marcar bem e jogar mal e foi o que fizemos, ao menos até a expulsão de Lastra, quando nos tornamos péssimos.

O Emelec achou um gol no primeiro tempo. Digo “achou”, porque tratou-se da única chance dos equatorianos e foi um lance bastante estranho, improvável mesmo. O jogo virou em 1 x 0 para o Emelec. No início do segundo tempo, o Emelec ficou com dez jogadores e o Inter logo empatou o jogo com Vitinho, que entrara no intervalo no lugar de Aránguiz. (Aliás, quando é que o chileno voltará da Copa do Mundo?). O incrível foi que, após o empate, começamos a tomar um baile dos dez remanescentes deles. Não conseguimos em momento nenhum ameaçar o gol de Dreer. Com onze em campo, o negócio era avançar sobre o adversário na base da troca de passes, mas como fazê-lo se não acertamos três passes consecutivos, Aguirre? E os laterais conseguiram o difícil milagre de errarem TODOS os cruzamentos. Acho que gostaram de ver o goleiro Dreer erguer os braços sozinho em sua pequena área para pegar cada um deles.

Uma coisa, Aguirre. Nosso próximo jogo na Libertadores 2015 será só no dia 16 de abril, em Santiago, contra a Universidade do Chile. Até lá, precisamos de um time mais compacto e com melhor toque de bola. É impossível continuar com esse futebol deficiente. Nossa defesa ontem foi novamente muito mal contra um time desfalcado. Não vamos longe desse jeito. Aliás, para bom entendedor, foi o que disseste ontem nas entrevistas pós-jogo. Vamos com os titulares no Gauchão ou seguirás preservando-os? Pensam que eles devam jogar e jogar. Estamos em março, o preparo físico já deve ter chegado e está na hora de eles demonstrarem a que vieram.

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Ospa visita faz bela visita à ilha dos mortos e outra não tão boa a uma exposição

Ospa visita faz bela visita à ilha dos mortos e outra não tão boa a uma exposição

Gentileza gera gentileza. Antes do concerto, já num camarote lateral do Theatro São Pedro, fiz questão de abrir lugar na frente para uma pessoa que sentara atrás. Ele disse que não precisava coisa e tal, mas agradeceu e sentou. Ao final do concerto, dei-me conta de que tinha perdido minha caneta. Não é uma caneta valiosa do ponto de vista financeiro, mas fera um presente de meu pai, falecido em 1993. Como já tive recentemente roubado o relógio de bolso (de ouro) Omega de meu avô, de 1923, além de outras coisas que me foram afanadas, estava irritadíssimo com mais esta perda que me deixaria mais longe daquilo que foi minha nada nobre origem (mas minha). Chamando-me de idiota, retornei aos dois camarotes de onde assistira o concerto, vasculhei ambos e, na volta, quando passava novamente pelo saguão do teatro, lá estava a pessoa para qual abrira lugar. Ele estava me procurando com uma caneta na mão. Agradeci muito, mas esqueci de perguntar o nome daquele rapaz de camiseta azul.

O programa do concerto era bastante curioso, parte dele baseado em artes plásticas. Explico abaixo. O programa:

Hector Berlioz – Les Nuits d´eté, op. 7
Sergei Rachmaninoff – A Ilha dos Mortos, op. 29
M. Mussorgsky / M. Ravel – Quadros de Uma Exposição

Regente: Rodolfo Fischer
Solista: Denise de Freitas (mezzo-soprano)

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Les Nuits d’ été (As Noites de Verão), Op. 7, é um ciclo de canções de Hector Berlioz baseado em seis poemas de Théophile Gautier. Há diversos arranjos do próprio Berlioz para as peças. O original era para piano, claro. O título da coleção de música é uma homenagem ao título francês de Sonho de Uma Noite de Verão de Shakespeare. O mezzo-soprano Denise de Freitas tem voz e musicalidade espantosas. É uma baita cantora e foi um enorme prazer ouvi-la, mas seria ainda melhor se Berlioz não fosse o chato que é. As águas profundas e limpas trazidas por Denise não caíram bem na estagnação berliozana.

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Quinta versão de 'A Ilha dos Mortos', de Arnold Böcklin (1886)
Quinta versão de ‘A Ilha dos Mortos’, de Arnold Böcklin (1886)

Em 1906, tentando fugir da agitação política do czarismo agonizante, buscando um local onde pudesse compor com tranquilidade, Rachmaninoff mudou-se com todo o seu tamanho e mãos acromegálicas para a Alemanha. Foi para a bela Dresden. Lá, um editor sugeriu-lhe a composição de um poema sinfônico sobre o quadro A Ilha dos Mortos, de Böcklin (acima). Ele sabia que Rachmaninoff compunha quase sempre inspirando-se em um livro, um poema ou um quadro.

O pintor suíço Arnold Böcklin (1827-1901) teve uma vida marcada por perdas familiares, depressão e pobreza. Como era de se esperar, tantas desgraças criaram uma arte sombria e funérea. Em 1880, em Florença, uma sonhadora viúva encomendou-lhe um quadro que possuísse uma atmosfera de sonho. Então, Böcklin pintou-lhe sua obra mais famosa, a ultra soturna A Ilha dos Mortos.

Rachmaninoff vira uma reprodução do quadro, em preto e branco, no verão de 1907. Quando, no início de 1909, o editor Struve sugeriu-lhe uma composição inspirada em A Ilha dos Mortos, Rachmaninoff logo aceitou, pois aquela imagem o perseguia. Ao saber que uma das versões do quadro encontrava-se em Leipzig, a cem quilômetros de Dresden, ele foi conhecê-la. Mas… “Eu não me senti tocado pela cor da pintura. Se eu tivesse visto o original antes, talvez não tivesse composto A Ilha dos Mortos. Eu prefiro em preto e branco”. O estranho é que Hitler, Lênin, Freud, Dalí e Strindberg também amavam o quadro de Böcklin.

A versão em 50 tons de cinza, como gostava Rachmaninov
A versão em 50 tons de cinza, como gostava Rachmaninov

A coisa é sombria mesmo. E boa. Para meu gosto é a maior obra de Rachmaninov. Não há nada ali que chegue perto do romantismo melado que o autor tanto praticou. Quem conhece poderá ouvir na música fragmentos do tema gregoriano do Dies irae, que por séculos foi utilizado na Missa de Réquiem. O regente Fischer e a Ospa deram excelente interpretação à fantasmagórica obra, totalmente destituída de felicidade.

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A primeira edição de Quandros de uma Exposição
A primeira edição de Quandros de uma Exposição

Quadros de uma Exposição é uma suíte para piano por Modest Mussorgsky. Viktor Hartmann, arquiteto e pintor, grande amigo de Mussorgsky, havia falecido recentemente, aos 39 anos de idade, nos idos de 1873. No ano seguinte, aconteceu uma exposição de seus quadros numa galeria de São Petersburgo. Após visitá-la, o compositor resolveu prestar uma homenagem ao amigo. Escolheu dez dentre os quadros expostos e compôs uma música para cada um deles. Uniu-os através de um tema comum (o “Promenade”). Era o passeio, a caminhada do flâneur de um quadro a outro. (Importante: os quadros de Hartmann foram perdidos). As melodias são mega nacionalistas e o estilo de piano é inovador em sua austeridade sartoriana.

Tudo isso era muito estranho, pois estávamos numa época em que o piano era instrumento de brilho virtuosístico. Deste modo, a suíte foi deixada de lado por um bom tempo. Mas Claude Debussy era admirador de Mussorgsky e estudou bastante esta suíte. E Ravel fez mais e melhor.

No verão de 1922, atendendo a um pedido de Serge Koussevitzky, Ravel orquestrou a peça. E salvou Mussorgsky do limbo eterno. Só que Ravel fez tudo do seu jeito. Com sua incrível habilidade de arranjador, soube extrair intenso colorido da obra, dentro do espírito dos temas.

Para deixar a obra ainda mais célebre, no ano de 1971, o grupo de rock progressivo Emerson, Lake and Palmer, gravou ao vivo uma versão rock da suíte. Mostrei esta versão hoje para a Elena, que ficou muito surpresa…

A interpretação da Ospa teve bons momentos, como os solos de trompete de Elieser Ribeiro. Mas o fraseado e sofisticação de Elieser não foram acompanhados pelo restante da orquestra, que respondiam em estilo bem mais simples. Contrariamente ao Rach, Fischer nos ofereceu uma versão indulgente, opaca e descuidada da obra. Uma música tão vivaz apresentada daquela forma?

O concerto valeu, e muito, pelo Rachmaninov. É incrível que eu diga isso — costumo detestar Rach! –, mas foi o que achei. O resto foi ornamento pobre, só que saí de lá satisfeito com a música e com minha caneta.

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Porto Alegre e o muro: a beleza oculta e a que dói de ver

Porto Alegre e o muro: a beleza oculta e a que dói de ver

Meu amigo Carlos, um paulista que nunca tinha visitado Porto Alegre, veio trabalhar aqui por alguns dias. Foi difícil conciliar nossos horários. Porém, lá por quinta-feira, ele me telefonou para dizer que passaria também o fim-de-semana na cidade e que desejava combinar um encontro em que eu teria de explicar-lhe umas coisinhas sobre a cidade. Marcamos para conversar na sexta-feira à noite, no Bar do Beto lotado, em meio ao maior barulho.

— Milton, me diz porque eu andei por todo o lado desta cidade e não vi o rio. Esta porra é um porto ou não?

— Olha, comecemos do começo, bem do começo. Parece que não somos banhados por um rio e sim por uma lagoa.

— ?!

— Pois é, na minha época de estudante, diziam que o Guaíba era um estuário, que é um tipo de foz mais larga que o normal. Mas agora virou lagoa… É que aqui deságuam vários rios que vão dar na Lagoa dos Patos…

— Não entendi nada, mas me diz porque eu não vi o rio.

— Não o procuraste direito.

— Mas eu andei pelo centro, pelo tal Mercado Público que devia estar na frente do porto e não vi nada.

— É que houve uma enchente em 1941 que inundou o centro da cidade, então construíram um enorme muro para evitar uma nova enchente, só que ela nunca ocorreu e, bem, ficamos com uma muralha que nos impede de ver do rio. Para vê-lo tem que entrar por uns portões. Dá para ver o muro do Mercado Público.

— Acho que vi. Mas como é que foi inundar a cidade se a água vai para uma lagoa que deságua no mar?

— Não sei, talvez os ventos tenham represado as águas por aqui.

— Pode ser. Mas você acha normal que construam um muro bem na frente daquele que seria potencialmente o cartão postal da cidade?

— Não, é totalmente anormal. Temos uma relação difícil com o rio.

— Lagoa.

— Sim, lagoa. Tens que ir mais longe para vê-lo, ou vê-la, desculpe.

— E o porto?
— Fica escondido atrás do muro.

— E por que o estádio Beira-rio tem este nome se fica ao lado de uma lagoa?

— Não sei. Provavelmente por ignorância e porque todo mundo chama o Guaíba de rio.
— E por que a rua principal do centro chama-se Rua da Praia, se não tem praia?

— É que havia antes, mas aí poluíram tanto que hoje só dá para olhar. É “imprópria para banhos”.

— Olhar? Com o muro na frente?

— É, já disse, é difícil de olhar, tem que caminhar um pouco.

— E as pessoas tinham que contornar o muro para tomar banho?

— Antes do muro não, né? Só depois. Mas no final da Rua da Praia não há muro.

— Ah.

— E por que todo mundo chama de Rua da Praia se o nome é Rua dos Andradas?

— Antigamente, há uns 50 anos, era Rua da Praia.

— Mas ninguém diz Andradas?
— Não, ninguém. Sabes que o nome da Av. Beira-rio é Av. Edvaldo Pereira Paiva?

— É?

— E que a Rua da Ladeira chama-se Gen. Câmara?

— Hum… Subi a ladeira. Há boas livrarias ali.

— E que o Estádio Olímpico, do Grêmio, tinha este nome devido aos Jogos Olímpicos de Porto Alegre?
— Que nunca aconteceram!

(risadas)

— E o rio, a lagoa, é bonitinha?

— Sim, muito. Tem um desenho de ilhas bem aqui na frente que é muito interessante.

— Só que não se vê.

— Sim, só se vê o desenho delas do alto de alguns edifícios..

— Vocês são uns neuróticos.

Naquele momento, passou uma morena equipada com um rosto e sorriso lindos. Meu amigo quedou-se mesmerizado.

— De onde saiu esta maravilha, Milton? Me explica isto! Estou estupefato. A beleza doeu fundo em mim. A beleza dói quando é excessiva. É injusto. É injusto para quem apenas vê sem tocá-la.

Ficou alguns segundos em recuperação.

— E as mulheres, como são?

Em 2011, foi feito um painel fotográfico de 45 metros de largura mostrando a vista que as pessoas teriam caso o muro não estivesse lá
Em 2011, foi feito um painel fotográfico de 45 metros de largura mostrando a vista que as pessoas teriam caso o muro não estivesse lá

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A Autocensura

A Autocensura

Dia desses, tomei uma mijada por escrever posts tão pessoais quanto este. Levei bastante a sério a advertência — em geral, costumo receber bem as críticas — porque vinha de um querido amigo, mas não vou permitir mais autocensura.

No meu blog, eu me coleciono, para o bem e para o mal. Como isso aqui é uma especie de retrato meu, não consigo levá-lo tão a sério. Publico o que me dá na veneta, sendo às vezes muito pessoal. Ou seja, os posts de foro íntimo seguirão. E a vida já está difícil, o gênero confessional já foi a regra deste blog. Os posts em que falava sobre meu umbigo já foram muito mais numerosos e vão continuar aqui e ali. Acho que já convivo com demasiada autocensura. Sabem onde há autocensura? Vou tentar explicar abaixo.

autocensura

Como um dos editores do Sul21, não me sinto mais com toda aquela liberdade do passado. Não posso tirar sarro de forma escrachada de alguém que vamos entrevistar um dia, por exemplo. Os repórteres reclamariam de mim: Pô, Milton, o cara estava de má vontade por tua causa. Os assuntos políticos também ficaram mais raros, claro, pois há alguns assuntos que evito. Por exemplo, sabem que eu paguei R$ 11.257,00 para a Mônica Leal em 2014, por conta de uma publicação e de um juiz de direita? Isso intimida e gera mais autocensura. Tive de pagar porque era a única forma abrir o inventário de minha mãe. Só não pedi ressarcimento pelo Catarse porque uma amiga me prometeu fazer voltar cada centavo a meu bolso quando vencer outra ação.

Não gostaria de agregar mais autocensura e deixo para meu amigo dois poemas nos quais pensei enquanto escrevia.

Um de Drummond (os primeiros versos de Mundo Grande):

Não, meu coração não é maior que o mundo.
É muito menor.
Nele não cabem nem as minhas dores.
Por isso gosto tanto de me contar.
Por isso me dispo, por isso me grito,
por isso frequento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias:
preciso de todos.

E outro de Chico Buarque (esse uma óbvia vingança por ter sido ameaçado de não poder falar de meu amor por Elena). É o final de Juca::

Juca ficou desapontado
Declarou ao delegado
Não saber se amor é crime
Ou se samba é pecado
Em legítima defesa

Batucou assim na mesa
O delegado é bamba
Na delegacia
Mas nunca fez samba
Nunca viu Maria [leia-se Elena].

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Bom dia, Dilma Rousseff e Giovanni Luigi

Bom dia, Dilma Rousseff e Giovanni Luigi
Luigi: risadinha que me f...
Na engenharia, tive um professor que ria assim. Nós, seus alunos, chamavam-no de “risadinha que me f…”

Isso não diminui a notável coleção de erros do PT, porém, se os protestos eram contra a corrupção, por que só vi cartazes contra o PT? E o PP, o PMDB, o PSDB? E o religioso Eduardo Cunha, e Renan Calheiros, presidentes da Câmara e do Senado? E os outros? E, bem, falar em intervenção militar, reclamar de bolivarismo, por favor… Aí já é muita tolice.

Dilma não foi nada inteligente ao ser votada pela esquerda para depois tentar governar com a direita. Desagradou todo mundo que não encara o PT como seu time de futebol. Perdeu seus formadores de opinião e, agora, as ruas.

O resultado é que doravante vamos ter que nos ver com a massa cheirosa. E ainda temos a bancada religiosa no poder. Boa parte deste pessoal de amarelo tem ideias muito primárias e esses evangélicos… Não vou conseguir lhes contar que grande merda de ano será 2015.

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Falei em futebol ali? Pois é. Segunda é dia de futebol neste blog. Como o Gauchão só interessa mesmo na fase final e olhe lá, vamos tratar de um enorme buraco, um rombo recorde.

Meus sete leitores sabem que eu detesto Giovanni Luigi Calvário (seu nome completo) tanto quanto o Roberto Siegmann. Discordo da forma como Luigi pensa, age, fala, caminha, do jeito que ele escova os dentes. Um líder sem ideias tende a cercar-se de outros incompetentes e foi o que ele fez por quatro anos. O organograma parecia uma árvore de incapazes. Quase deixei de pagar a mensalidade do clube quando Luigi  se reelegeu sem ir para o pátio. Aquele mês, em mais de duas décadas, foi a única vez em que atrasei o pagamento. Mas pago e, por isso, posso falar.

Daqui alguns dias, Luigi vai entregar o balanço do ano passado. Já se sabe que o déficit será de R$ 49 milhões. Isso só no ano passado. Um resultado verdadeiramente vermelho. O Inter gastava os tubos em contratações, contratos longos e trocas de técnicos, enquanto o futebol era uma verdadeira piada em campo. Tentativa e erro, tentativa e erro, sem uso do cérebro e da observação, sem um projeto.

Claro que isso chegará ao futebol. Os efeitos da administração Luigi durarão anos. Espero que não se tornem nossa Arena.

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O Gauchão segue como se espera. No início de março, com a dupla igualada ao restante dos times no quesito preparo físico, sua qualidade aparece e até o time de reservas do Inter vai a Pelotas e bate o Brasil. É muita diferença, não é um campeonato entre iguais. É Grêmio x Inter, só. Esses regionais…

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Eu não aguento mais o calor, que venha imediatamente o inverno!

Eu não aguento mais o calor, que venha imediatamente o inverno!

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